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segunda-feira, junho 30, 2025

Totalmente de acordo com o combate a sério à evasão fiscal anunciada pelo Governo e totalmente de acordo com o apontado por Vital Moreira

 

Desde que por aqui ando que falo disto: em Portugal, quem paga impostos paga mais do que deve, especialmente quem ganha um pouco acima da média, e isto porque há muita gente que deveria pagar (ou pagar mais do que paga) e não paga.

A partir de certo ponto, a carga fiscal é sentida como um esbulho. Taxar como se fossem milionários pessoas que são classe média  -- e, em vários países europeus, classe média baixa -- é dissuasor para quem pode ir trabalhar para outro país ou para quem pode fugir ao impostos.

A cena do IRS jovem é falaciosa, creio que até absurda. Qual é o jovem que opta por Portugal porque até aos 35 anos tem IRS baixo, sabendo que, quando fizer 36, o fisco lhe vai cair em cima? Nenhum. Se o tema for impostos, ele vai olhar para o que vai descontar à medida que progredir profissionalmente e aí vai ver que em Portugal se impede que alguém ganhe um pouco mais, pois metade do que ganha vai direitinha para impostos e contribuições. 

Isto do lado do que é preciso fazer na redução de impostos como arma de combate à evasão fiscal.

Mas depois há os casos especiais que igualmente carecem de combate.

O caso de que já aqui falei inúmeras vezes das personalidade coletiva (pseudoempresas unipessoais ou familiares) como expediente de fuga ao fisco, em que incorre um bom número de profissionais liberais (advogados, médicos, etc.) é para mim chocante e, num primeiro momento, eu incidiria muito claramente nesta vertente. Claro que muitos deputados, provavelmente muitos governantes (antes de estarem no Governo -- espera-se) recorrem a essa habilidade pelo que terão o rabo mais que preso e, portanto, motivação nula para irem atrás disso.

Mas, reconheça-se que, se a legislação o permite e se a alternativa é deixar ficar uma parcela enorme de rendimentos na mão do Estado, a tentação pode ser quase inescapável. 

Por isso, ao mesmo tempo que se vá atrás disso, volto a dizer: baixem-se os impostos, baixem-se de forma palpável, reduzam-se os escalões, torne-se tudo mais aceitável.

Já aqui falei que tenho muitos amigos médicos e os que já atingiram a idade da reforma e têm gosto por continuar a exercer apenas trabalham um ou dois dias por semana pois dizem que mais que isso é para ser comido pelos impostos. Portanto, os que não têm a dita empresazinha para ser encharcada de custos e para fugir ao fisco, fazem a optimização fiscal não trabalhando. Isto, numa altura em que a escassez de médicos é brutal. E isto é um exemplo pois cada um tem os seus motivos e argumentos para estar revoltado com o esbulho fiscal a que é sujeito.

Outra situação é a dos senhorios e da "enorme percentagem de arrendamentos não declarados". O que não falta são as situações de arrendamentos 'por fora' ou 'por baixo da mesa'. Só não digo que conheço vários casos em que assim é para não me virem pedir que os denuncie. Os senhorios põem as suas casas ao dispor de pessoas que não conhecem, pessoas que lhes podem trazer problemas, os senhorios têm que fazer a manutenção das casas, têm que pagar IMI, têm que pagar o seguro da casa, têm que pagar o condomínio, e, no fim, têm que pagar um imposto que é francamente dissuasor. Conheço pessoas que preferem ter uma trabalheira a manter casas antigas a que não dão uso apenas porque acham que não lhes 'compensa' se forem pagar os impostos mas não querem entrar numa situação irregular. Por isso, optam por não arrendar as casas. Com a falta de casas que há, para além de serem precisas mais casas, em especial casas para os muito pobres e para os 'remediados', habitação social, portanto, da responsabilidade do Estado, há que conseguir pôr no mercado mais casas para a classe média. E a maneira sensata será baixar os impostos sobre as rendas, mas baixá-los consideravelmente, e, em simultâneo, criar incentivos fiscais para os inquilinos que declarem as rendas através de contratos registados nas Finanças. Só assim se incentivará os senhorios a arrendarem casas a que hoje pouco ou nenhum uso deem e, ao mesmo tempo, se incentivará a que declarem fiscalmente os contratos.

O caso "do setor dos restaurantes, bares e estabelecimentos similares, onde é percetivel uma elevada evasão", também referido por Vital Moreira, é outro que merece destaque. O número de vezes em que vou a uma churrasqueira buscar frango assado ou a uma pizzaria ou a um qualquer restaurante em que, ao pagar, me dão o ticket do pagamento e o ticket da 'registadora' (no qual está escrito que é para conferência e não substitui a fatura) é impossível de quantificar. Quanto peço a fatura, até ficam a olhar para mim como se fosse uma excêntrica: 'Ah quer...?'. Confesso que nos locais de maior afluência em que, mal me despacham, se viram para atender o seguinte, até para não atrapalhar a cadência, acabo por deixar passar. Mas é indecente, é escandaloso. Impunidade total. Isto já para não falar que em muitos destes sítios só aceitam pagamento em dinheiro, ou seja, nem fica rasto. A AT não deveria regularmente andar em cima destes estabelecimentos? Deveria, deveria. Muitos impostos deveriam ser colectados se houvesse auditorias ad hoc, ie, de surpresa.

É que por haver tanta, tanta, tanta gente a não pagar impostos ou a pagar muito menos do que devia, andam outros, os que gostam de fazer as coisas by the book, a pagar muito mais do que seria razoável.

Portanto, apoio completamente que o Governo crie medidas efectivas, fáceis de implementar e de controlar para combater a evasão fiscal. E apoio que se simplifiquem as regras fiscais e se baixem os impostos. No caso do IRS, defendo que se reduza, pelo menos para metade, o número de escalões e que se reduza significativamente as respectivas taxas. 

No caso da habitação, como forma de alavancar a oferta de casas para arrendamento, que se baixem capazmente os impostos na tributação autónoma e se criem incentivos aos inquilinos que tenham recibos emitidos pelas Finanças.

Tal como nos malfadados tempos da troika ataquei ferozmente a política de austeridade porque asfixiou a economia e empobreceu as pessoas e o País, agora continuo a defender que a economia precisa de liquidez para se movimentar e para crescer. Libertar mais rendimento (por redução da carga fiscal) só aparentemente empobrece os cofres do Estado pois, havendo mais liquidez circulante, há mais consumo, há mais investimento, há mais emprego, há mais poupança. E, em qualquer dessas vertentes, incidirão os impostos, fazendo com que a colecta se fortaleça (não por via das taxas mas da base sobre a qual se aplicam).

Sei bem que haverá quem diga que lá está a minha costela liberal a manifestar-se. É verdade. Tenho uma costela liberal, já o disse muitas vezes. Liberal (qb) na economia e liberal (qb) nos costumes sociais. Quando disse há tempos que se o Partido Socialista não souber reinventar-se e trazer de novo para os seus valores os da social-democracia que estão na sua origem, há lugar para um partido novo, progressista, democrático, humanista, moderno, venerando a cultura e o planeta, liberal.

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A imagem lá em cima, muito primariazinha, foi o que saiu via IA.
Se fosse mais cedo, tentava coisa mais apurada. Assim, peço que aceitem as minhas desculpas

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

sexta-feira, abril 25, 2025

25 de Abril sempre.
Para sempre

 

Dispensam-se discursos cheios de tacticismos. Leitura de poesia seria preferível. Dispensam-se cortesias e pró-formas. O melhor mesmo é encher ruas e praças, atirar foguetes e fogo de artificio, tocar tambor, cantar e dançar nas avenidas, andar com crianças pela mão, às cavalitas ou em carrinhos, exibir cartazes coloridos ou flores.

A liberdade não pode ser espartilhada, condicionada, ajustada ao calendário. A liberdade tem que ter a cor e o som e o cheiro e o sabor e o toque da felicidade. 

25 de Abril sempre

quinta-feira, agosto 15, 2024

As surpresas desta vida.
Putin, Trump, Kamala Harris, Zelensky

 

Desde que criei o Um Jeito Manso até a Rússia cobarde e barbaramente invadir a Ucrânia, eu mudava periodicamente o aspecto do blog: alterava a imagem de abertura, mudava as cores. Várias vezes por ano, mudava tudo. 

Mas, quando a Ucrânia se viu atacada, invadida, destruída, resolvi vestir o blog com as cores da Ucrânia e colocar, na abertura, a imagem de uma criança, corajosamente confiante na reconquista da tranquilidade e da paz em solo ucraniano.

Claro que já mil vezes me apeteceu mudar. A novidade e a vontade de mudança está-me nos genes. Mas neste caso não mudo. Deixar de aqui ter as cores da Ucrânia seria aceitar que já não vale a pena continuar, seria assumir algum cansaço, uma certa desesperança. 

Não. Aqui continuarão até que a Ucrânia vença esta guerra, até que a Rússia retire as patas ensanguentadas do solo ucraniano. Mesmo abdicando do que, creio, era a imagem de marca do meu blog, manter-me-ei firme a mostrar o meu apoio à Ucrânia e a minha convicção de que a vitória será sua. Sua e do mundo civilizado.

Os segismundos, as estátuas salgadas e demais comunas ressabiados bem podem chamar-me lunática, bem podem vir para aqui destilar o seu fel contra a democracia e contra quem gosta da liberdade, e assegurar que a Rússia tem um poderio desmesurado e, que, quando quiser, pisará de vez a Ucrânia, que a mim tanto se me dá. A mim não me convencem. Sei que a (grande) coragem dos que resistem e a (pequena) coragem dos que os apoiam irão derrotar o ditador, o tirano, o psicopata Putin e os que o apoiam. Sei. Tenho a certeza.

Ao fim deste tempo todo, Putin ainda não conseguiu o que queria. Pelo contrário, têm sido desaires atrás desaires e agora é o que sabe: a humilhação de ter a Ucrânia a causar beliscaduras em solo russo.

Há muita gente que ainda não aprendeu que o primeiro milho é para os pardais e que o bem, por muito que custe e por muito que dure a atingir, acaba sempre por prevalecer.

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Numa outra geografia e numa outra escala mas havendo pontos de intersecção, Trump. O obtuso, populista, trambolho, troglodita Trump.

Quando se pensava que, com Biden a soçobrar, a patinar e a não querer desistir, Trump já lá estava... eis que, de repente, há uma reviravolta. O panorama seria terrível para todo o mundo se Trump voltasse a ser presidente dos Estados Unidos.  Trump está mais próximo de Putin, de Xi e de Kim do que mundo democrático e isso é um risco para o mundo.

Podem os Estados Unidos estar carregados de gente bronca -- bronca e burra e estúpida a ponto de apoiar Trump --, mas há muita gente inteligente, informada, culta, bem formada, amiga e defensora da democracia e da liberdade.

Por isso, tenho também para mim que Kamala vai ser a próxima presidente dos Estados Unidos. 

E um dia vamos acordar com o Putin apeado e com a Ucrânia livre do pesadelo terrível por que está a passar.

Tenho esperança de ainda viver tempos de paz no mundo, tempos felizes, tempos de desenvolvimento.

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A propósito:

Jon Stewart on Why Trump Wants Biden Back So Badly He's Reusing His Old Attacks
| The Daily Show

Donald Trump thought he was cruising to victory against Joe Biden, but now he's facing a hard fight against Kamala Harris. Jon Stewart looks at Trump's half-hearted attempts to adjust to the new challenge and wonders if he's hatching a devious plan to help Biden take back the nomination, January 6th style


Peace and love

quinta-feira, maio 02, 2024

Um cravo é um cravo é um cravo

 

No outro dia vieram cá umas amigas. Estando nós a atravessar o cinquentenário do 25 de Abril, acordei nesse dia a pensar que queria oferecer-lhes um pregador (não sei porquê mas não me dá jeito dizer broche) com o formato de cravo.

Pensei, na minha ingenuidade, que era coisa que deveria haver a pontapé. Portanto, nesse dia, antes que elas chegassem, resolvi ir, num instante, a um centro comercial, daqueles em que há todas as lojas, pois poderia comparar os diferentes formatos e trazer o ou os mais indicados. Uma das minhas amigas tem uma personalidade algo boémia e outra é a serenidade e equilíbrio em forma de gente. Portanto, ou era um cravo adaptado a cada uma ou era um que fosse ambivalente.

Pois, pasme-se: nem um. Corri todas as lojas de bijuteria que se possa imaginar, t-o-d-a-s, nada, depois passei para as lojas de vestuário que também vendem adereços, nada, segui para as lojas que vendem pedras preciosas ou semi-preciosas, nada, e, por fim, já estava a espreitar ourivesarias. Nada. N-a-d-a. 

Não houve uma alma, uma, que se tivesse lembrado de fazer um pregador em forma de cravo, seja ele gráfico, realista, seja metafórico, metafísico, intemporal, abstracto. Nada. Zero.

Acabei por escolher umas florzinhas meio desmaiadas, levemente encarnadas, mais para as margaridas coradas do que para os rubros carnations. Tinha metido aquela na cabeça, não poderia recebê-las sem um flor para porem ao peito.

E, pensando no assunto, pasmo. Não sei como não se transformou já o cravo em símbolo, quiçá a par do Galo de Barcelos ou outros como o das Caldas. Deveria haver peças alusivas ao cravo sejam Bordalo Pinheiro ou Vista Alegre, sejam peças em prata, ouro, plástico, qualquer coisa,  sejam ímans, sejam bugigangas para todos os gostos. E, que eu saiba, nem a grandiosa Joana Vasconcelos se inspirou para produzir uma hiper-mega peça em forma de cravo libertário.

Fiquei com vontade de comprar papel plastificado encarnado, tule encarnado, coisas com que eu própria faça peças para oferecer a quem venha visitar-me e para eu própria ter aqui em lugar de destaque.

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O vídeo abaixo tem legendagem em inglês mas também se pode escolher a tradução automática para português. 

Portugal - Cravos contra a Ditadura

Portugal: Carnations against Dictatorship | ARTE.tv Documentary

In April 1974, left-wing factions in the Portuguese military staged a coup against the authoritarian regime which had been in power for half a century. The uprising was largely peaceful and went down in history as the Carnation Revolution. But the path to a democratic Portugal was not easy and not without obstacles.


sexta-feira, abril 26, 2024

Foi bonita a festa, pá
25 de abril sempre

 

Um imenso mar de gente em festa, em família, entre amigos. Uma festa intergeracional mas, arriscaria dizer, com uma inédita e inacreditável massa de jovens e de crianças. 

Todas as ruas iam dar ao Marquês. Os relvados da avenida e da rotunda cheios de gente. Muita cor, muita alegria. Gente a cantar, a rir, a abraçar-se, a festejar, a gritar gritos de ordem: um hino à liberdade cantado a muitos milhares de vozes.

Muita emoção, uma emoção contagiante, uma vontade de que as ruas nunca percam a alma, que continuem cheias de gente, que não seja só nos 25 de Abril. As ruas querem-se vivas e alegres. É na rua que as pessoas se encontram, se abraçam, se vêem a rir, que cantam em uníssono. Não é na solidão das redes sociais. É nas ruas. É na partilha, no contacto, na felicidade de estar com os outros que a liberdade e a democracia se mantêm vivas e pujantes.

Em boa hora o meu marido se lembrou de que devíamos ir para a avenida. Estou muito feliz por lá ter estado. 

Desejo que o 25 de Abril se mantenha vivo, cada vez mais festivo, cada vez mais enraizado e pujante, cada vez mais um balão de oxigénio que alimente os nossos quotidianos. E desejo que daqui por 50 anos os meus filhos, os meus netos, os meus bisnetos e trinetos continuem a sair à rua a festejar o dia da Liberdade e da Democracia no nosso querido país.

















































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Nota: Caso algum dos que aparecem nas minhas fotografias aqui não quiser estar, peço o favor de me contactar identificando a fotografia que logo a retirarei

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Galeria de Fotografias do Guardian: clicar (link abaixo) para ver todas

Portugal commemorates the Carnation Revolution – in pictures

Thousands in Lisbon celebrated the 50th anniversary on Thursday of Portugal’s Carnation Revolution, which toppled the longest fascist dictatorship in Europe and ushered in democracy. The almost bloodless revolution was conducted by a group of junior army officers who wanted democracy and to put an end to long-running wars against independence movements in African colonies
Guy Lane
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25 de Abril sempre

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

Coragem
- Dasha Navalnaya, a filha de seu pai, olha de frente os assassinos e os cobardes que, disfarçados de pombinhas da paz e enchendo a boca de adversativas, os desculpam

 

O vídeo que aqui partilho tem quatro meses mas mantém-se tristemente actual. Sem meias palavras, com a coragem intelectual física que o pai demonstrou até ao fim, a mesma que a mãe tem também demonstrado, a jovem Dasha, bela como os progenitores, é bem a menina de seus pais. O seu pai foi assassinado, depois de perseguido, envenenado, torturado, privado da liberdade. Mas Dasha não se calará.



Uma família corajosa, aqui em dias felizes

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Podem ser activadas as legendas em português

Lessons from My Father, Alexey Navalny | Dasha Navalnaya | TED

Dasha Navalnaya is the daughter of Alexey Navalny, the politician and leader of the Russian opposition to Vladimir Putin. Sharing the story of her father's poisoning, persecution and current imprisonment, she details what it was like growing up under the watchful eye of government surveillance as her father led a decade-long investigation into the corruption of Putin's regime — and shows why paying attention to what happens in Russia matters to everyone, everywhere.


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Um dia feliz

Saúde. Coragem. Paz.

sábado, setembro 09, 2023

Born in the wild.
Selvagem

 

Há um perfume de homem que sempre me levará nas asas da memória até um longínquo verão em Angola. 

À medida que o tempo mais passa mais eu vou percebendo como foi de charneira na minha vida a minha viagem a Angola, um mês de total liberdade, quase vinte e quatro horas por dia junto de jovens da minha idade, grande parte deles até então meus desconhecidos.

Não havia telemóveis e, porque andávamos de um lado para outro, praticamente nem telefones dos outros. Não Tínhamos, portante, que telefonar nem esperar por telefonemas. Andávamos à solta, num outro continente. Portanto, foi quase como se tivéssemos cortado o cordão umbilical à família, ao mundo onde antes vivíamos.

A magnífica largueza de horizontes daquelas paisagens, o clima que convidava ao quase desnudamento, os dias longos, quentes, os maravilhosos pores de sol, aquelas praias em que apetecia estar até ser bem tarde, a descontração de toda a gente, a boa comida, a boa companhia, tudo, tudo eram mil maravilhas que eu avistava e desfrutava através daquela porta aberta que eu podia transpor sem ter que pedir autorização, sem ter que me justificar.

As amizades que nasceram, o afecto que se ia fortalecendo dia após dia, a alegria que uma certa pessoa que aparecia de manhã, cabelos molhados, sorridente, brincalhão, desafiador, e perfumado com Eau Sauvage, me trazia (e, creio, trazia a todos) não se esquecem. 

O tempo passa, passa muito rapidamente, mas há coisas que a erosão não leva.

A Dior escolheu, e bem, Johnny Depp para dar corpo ao espírito da Eau Sauvage. Leio que:

Sauvage Eau de Parfum smells citrusy, musky, and spicy giving the wearer a feeling of being fresh after the shower. The main notes are ambroxan, bergamot, and Sichuan Pepper with a lasting power of 8 – 10 hours with a very good projection.

Johnny Depp for Dior sauvage 2023



terça-feira, abril 25, 2023

O 25 a caminho dos 50

 

Não me apetece agora contar onde é que estava no 25 de Abril. Já o contei. Está contado. 

Se fosse hoje, curti-lo-ia com uma emoção bem mais acentuada. Mas, se fosse hoje significaria que teria passado grande parte da minha vida em ditadura e isso é daqueles pesadelos que ninguém merece. 

Devia haver nas escolas aulas de teatro em que se encenasse o que é a ditadura para que as crianças e os adolescentes percebessem bem o que é a ausência de liberdade. 

Seja de esquerda ou de direita, uma ditadura é uma ditadura é uma ditadura -- e qualquer ditadura deve ser abolida.

Não vou festejar este 25 na rua. Festejá-lo-ei em círculo mais restrito. 

Não vou ver pela televisão os discursos pois estarei ocupada com outras coisas. 

Mas espero que Marcelo puxe a conversa para o que interessa. 

  • Uma democracia saudável tem que ser vivida no respeito pelas regras e pelas instituições. Não se dissolvem assembleias nem se apeiam governos por dá cá esta palha nem isso deve ser banalizado como se fossem tremoços ao lado dos copos da cerveja. As coisas sérias não devem ser vulgarizadas, nem se deve falar disso como se fosse uma piadola sem consequências.
  • Também não é saudável que, para que as televisões e as rádios tenham matéria picante para comentar, discutir, polemizar, guerrear e, em suma, animar a malta e, de passagem, aumentar o share, se empole tudo o que é minudência e se transformem os governantes em sacos de pancada.
  • Não deve ser subestimado o perigo do populismo nem deve ser relevada a propaganda gratuita e permanente exposição que os meios de comunicação social proporcionam  a pessoas sem escrúpulos como o Ventura e seus apaniguados.

Em contrapartida, como fonte de motivação, inspiração e orgulho, deverá passar a ser dado realce permanente a:

  • A trabalhos de investigação, 
  • a conquistas tecnológicas, 
  • ao desenvolvimento de novos produtos e serviços, 
  • a novas metodologias de aprendizagem,
  • à criação artística
  • às belezas naturais e à história e hábitos de cada recanto do nosso país.

tal como deve prestada séria e urgente atenção a questões críticas como 

  • a necessidade de inverter a tendência demográfica do país
  • a necessidade de identificar profissões em que há falta de recursos, verificando ASAP como colmatá-las
  • a necessidade de regular e enquadrar a Inteligência Artificial
Identicamente deve ser dada grande atenção ao desenvolvimento do interior do país, criando focos de atração e fixação de pessoas, seja por:
  • acarinhar o teletrabalho, nacional e internacional,
  • por dinamizar o turismo cultural ou gastronómico, 
  • seja por criar novos modelos de negócio sustentável e de âmbito regional, que, por sua vez, suscitarão a criação de empregos nos domínios dos serviços. 

Resumindo: se o discurso de Marcelo se elevar e se situar num patamar de defesa do superior interesse do país numa lógica não apenas de curto mas também de médio e longo prazo talvez eu depois veja o discurso à noite.

Senão, não vale a pena. 

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Pinturas de Alfredo Luz

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E viva o 25 de Abril. 

Sempre.

quinta-feira, outubro 06, 2022

Pela liberdade
Jin, Jiyan, Azadi
Women, Life, Freedom

Mulher, Vida, Liberdade

 


Não sou ninguém nem o meu cabelo, inteiro ou cortado, tapado ou à vista, tem qualquer significado ou importância. Mas, ainda assim, é um gesto. Perante o preconceito absurdo, a ditadura da moral e dos costumes, a tirania da impostura sobre o corpo e sobre a vontade das mulheres, muitas iranianas se têm arriscado cortando os cabelos na rua, desafiando a repressora ordem vigente.

E, um pouco por todo o mundo, muitas mulheres têm manifestado o seu apoio às mulheres que, no Irão, são obrigadas a viver atrofiadas, como se o seu mundo tivesse recuado ao tempo das trevas -- ou melhor, como se os homens que governam o seu país tivessem saído das trevas.

Duas semanas depois da morte de Mahsa Amini, Juliette Binoche, Marion Cotillard, Angèle, Isabelle Adjani, Isabelle Huppert, Juliette Armanet, Jane Birkin, Charlotte Gainsbourg, Julie Gayet e outras são algumas das artistas francesas que se juntam no seu apoio às mulheres iranianas, cortando o seu cabelo em público.


Também:
Uma eurodeputada sueca cortou o cabelo durante um discurso no Parlamento Europeu, em solidariedade com as mulheres iranianas e com os protestos das últimas semanas, que começaram na sequência da morte de uma jovem detida pela chamada “polícia da moralidade” e se tornaram a maior onda de contestação ao regime dos últimos anos.

“Até que o Irão seja livre, a nossa fúria será maior do que a dos nossos opressores. Até que as mulheres do Irão sejam livres iremos apoiar-vos”, disse Abir Al-Sahlani, que nasceu no Iraque, num discurso em Estrasburgo, França, na terça-feira.

Em seguida, cortou o cabelo que tinha apanhado e disse em curdo: “Jin, Jiyan, Azadi” — Mulher, Vida, Liberdade.

no Público: Eurodeputada corta cabelo durante discurso para demonstrar solidariedade com iranianas

 Moment Swedish lawmaker cut her hair in protest against Iranian regime during EU assembly


Pela liberdade das mulheres
Pela liberdade

sexta-feira, setembro 16, 2022

Emily em Nova Iorque

 

Não há nada mais comovente do que uma mulher corajosa. Nem há nada mais inspirador do que uma mulher que dá um pontapé para o ar em tudo o que são preconceitos, tabus, baias, e caminha de cabeça erguida e olhar destemido.

Se um homem rompe barreiras e deixa para trás algumas ortodoxias, a ideia que dá é que há nos seus gestos alguma coisa de provocador, alguma beligerância, quase como se quisesse afirmar-se através do desafio, através dos outros.

Se uma mulher avança com orgulho e valentia, quebrando barreiras e enterrando medos e censuras alheias, ela fá-lo por si mesma, por sentir que tem direito ao seu espaço, à sua vontade, à sua liberdade e felicidade.

Emily Ratajkowski tem 31 anos, mede 1,70m, tem um filho e acabou de avançar para o pedido de divórcio. Na sua primeira aparição pública depois desse passo importante na sua vida, Emily surgiu com um look sensual, um penteado desalinhado e ousou a toilette mais impudica do desfile de Tory Burch  em Nova Iorque. 

E eu acho isso uma maravilha. Não apenas gosto do vestuário, das transparências, das sobreposições, das cores mas também da coragem de Emily ao avançar orgulhosa e elegantemente como se estivesse a traçar o seu caminho. E está.

Aliás não foi apenas Emily que vestiu transparências ou sobreposições. Houve outros modelos também bastante bonitos e, mesmo, houve uns outros mamilos que também se afoitaram.

Abençoada liberdade e abençoada coragem. Salve Emily e salve todas as mulheres que não receiam as opiniões censoras ou os próprios medos.


Mas não é apenas na moda que Emily mostra que sabe o terreno que pisa. Emily é uma mulher que sabe o que quer, que empunha cartazes, que eleva a voz, que se arrisca a bem do direito sobre o seu próprio corpo e da defesa da liberdade e da democracia:


Salve Emily!

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Um dia bom
Saúde. Elegância. Coragem. Paz.

quinta-feira, julho 14, 2022

A desmontagem da história da carochinha (ie, da nato e dos nazis) e a explicação de como chegámos até aqui, se calhar ao início de uma diferente maneira de vermos as coisas

 


Na verdade, a canalhice de Putin foi um separar de águas. É pena que tantos mortos, tanta destruição, tanta expatriação, tantas vidas destroçadas tivessem que acontecer para que olhássemos o mundo e uns aos outros de uma outra maneira.

Alguns, avessos à clareza, virão falar das muitas sombras, para as diferentes tonalidades de cinzento. Há quem não queira ver o branco e o preto, apenas os cinzentos.

E depois há os outros, nos quais me incluo, que vêem os cinzentos mas também, e muito claramente, o branco e o preto. Há coisas que são inequívocas. Quem começou a guerra. Quem invadiu outro país. Quem, tendo invadido outro país, o está a destruir. Inequívoco. 

Virão os que gostam de se pôr do lado dos agressores, dos violadores. Dizem que os ucranianos se puseram a jeito: não quiseram ceder território à Rússia, quiseram ter a protecção da Nato, querem ser europeus de pleno direito.

Como se essas razões:

1 - não fossem legítimas (... e são!)

2  - fossem o motivo para que Putin levasse a cabo os crimes (... e não foram)

Pois bem. Todas as evoluções recentes desmontaram essa torpe e cobarde narrativa. A Rússia já veio dizer que não está nem aí para que a a Suécia e a Finlândia entrem para a Nato tal como há muito que deixou cair a história da carochinha nazi. Desde há muito que a Rússia o diz com todas as letras: quer alargar o seu território à Ucrânia, quer refazer-se da desonra da quebra da União Soviética. Desde há muito que Putin o diz à boca cheia: o que a move são os seus ímpetos imperialistas.

E é este ditador, protector de oligarcas, imperialista e criminoso que ainda tem quem o defenda. Podem sentir algum rebuço e, então, disfarçam-se de pacifistas. Mas, ainda assim mostram-se como pacifistas tendenciosos pois, para que haja paz, não defendem que Putin pare a guerra que começou. Não, querem que o povo ucraniano se renda, capitule, aceite ser russo. 

Contudo, no meio da desgraça podem vislumbrar-se alguns aspectos positivos. 

Fica mais claro quem defende a liberdade, a democracia, o respeito pelo direito internacional e quem, pelo contrário, defende tiranos, ditadores, corruptos, dementes, mentirosos, atrasos de vida.

Fica mais claro quem defende a paz. A paz baseada no respeito pela liberdade, pela democracia. Fica mais claro como a Europa é um conceito e um lugar de liberdade, de democracia.

A Europa tem defeitos? Tem. E tem, por isso, um longo caminho de melhorias a conquistar. 

A Europa fica fortalecida com a barbárie de Putin.

Fica também claro que é importante que os estados livres e democráticos tenham meios efectivos para se defenderem de intuitos criminosos e, claro, não apenas de intuitos mas, sobretudo, de actos criminosos.

Há a China, há a Índia? Claro que sim e de que maneira. Alguém ignora a relevância destes pesos pesados? Claro que não. Mas a forma como as peças agora se jogam no grande tabuleiro da geopolítica agora é outra. E cada vez o será mais.

O vídeo que aqui partilho é, em minha opinião, bastante bem feito, muito claro. Ian Bremmer fala sobre o assunto em mais um vídeo da Big Thing. 

How Russia’s war in Ukraine is birthing a new global order | Ian Bremmer

“This is much deeper than just ‘let’s figure out how we can get both sides to get along.’”


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As pinturas não têm nada a ver com nada. Escolhi-as apenas porque sim. São da autoria de Lee Jung Seob.

Sheku Kanneh-Mason interpreta Elégie, Rachmaninov

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Abertura de espírito. Paz.

terça-feira, maio 10, 2022

Zelenskyy, para o futuro e pro memoria

 

Os dois vídeos que aqui tenho não serão novidade para quem por aqui passa. Contudo, neste caso, é para mim que aqui os deixo. Deixo-os para que não caiam no meu esquecimento ou para que, daqui por algum tempo, quando quiser mostrar aos meus netos o que é um homem inteiro e intrinsecamente livre, o tenha aqui, presente. Deixo-os para que eles possam ver um homem que foi eleito para defender o seu país e os seus habitantes e tem honrado os votos que recebeu arriscando a própria vida, dando a voz a todos quantos também dão ou deram a vida para continuarem a ser ucranianos, para poderem decidir por si, para continuarem a sentir que são livres.

Por todos os que já morreram, perderam familiares e amigos, perderam os empregos e as suas casas, Volodymyr Zelenskyy, agora com 44 anos, mantem-se de pé, nas ruas, dando a cara, tendo sempre as palavras adequadas a cada situação, falando para os seus e para o mundo, interpretando a vontade dos seus conterrâneos. 

Zelenskyy foi eleito para ser presidente da Ucrânia, para defender a liberdade e a democracia, para combater a corrupção. E é isso que tem feito. No meio de bombardeamentos e de tentativas de assassinato, longe da família, sabendo que a sua terra natal está a ser atacada, assistindo à destruição do seu país, correndo todos os riscos, ele mantem-se determinado e corajoso. Não cederá território, não desonrará o sangue dos que deram a vida por um país íntegro e livre.

E com essa coragem que impressiona, ele e todos os ucranianos têm conseguido, apesar de tudo, travar a sanha assassina e depravada (concordo com John Kirby quando usou a expressão) de um doido varrido e da seita que o apoia. E, mesmo sem água, sem gás, sem eletricidade, quase sem comida, debaixo de tortura e violações, a brava gente ucraniana tem conseguido travar o rápido avanço russo e, mesmo, recuperar algumas terras que os russos lhes tinha roubado.

A Ucrânia, de uma forma ou de outra, mais tarde ou mais cedo, ganhará esta guerra absurda, injustificável e selvagem e voltará a ser um país desenvolvido e pacífico. É inevitável. 

Contra todos os que, hipocritamente apregoando a defesa da paz, apelam à rendição, Zelenskyy, tal como todos os ucranianos que arriscam tudo pelo seu país, mantem-se de pé e destemido, defendendo a integridade e a liberdade do seu país. Ficará para a história como uma das mais carismáticas e corajosas criaturas, alguém com enorme carisma e indómita coragem, alguém que se bate contra um psicopata mitómano corrupto e assassino que se porta como um nazi com ímpetos imperialistas.

Zelensky releases video on day of remembrance: 'We hear "never again" differently'

Ukraine’s President Volodymyr Zelensky released a video statement on May 8, the UN’s designated “Time of Remembrance and Reconciliation for Those Who Lost Their Lives During the Second World War,” in which he reflected on the phrase “never again”.


Um homem desarmado 
(em vez de um homem cercado de tanques de guerra)

Address by Zelenskyy on the Day of Victory over Nazism in World War II

We are fighting for our children freedom, and therefore we will win. We will never forget what our ancestors did in the World War II, which killed more than eight million Ukrainians. Very soon there will be two Victory Days in Ukraine. And someone won't have any.

We won then. We will win now. And Khreshchatyk will see the victory parade – the Victory of Ukraine! 
Happy Victory over Nazism Day!
Glory to Ukraine!

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Slava Ukraini

sexta-feira, abril 22, 2022

A história da velhinha e dos escuteiros explicada ao PZP

 

Tenho-me lembrado desta adivinha a propósito do negacionismo e da inacreditável posição do PZP a propósito da invasão e da destruição da Ucrânia por parte da Rússia.

Pergunta: Porque é que são precisos pelo menos seis escuteiros para ajudar uma velhinha a atravessar uma rua?

Resposta: Porque a velhinha não quer atravessar a rua.

Os comunistas têm engendrado a mais inqualificável narrativa para defender os actos criminosos de Putin: que os ucranianos também foram uns filhos da mãe com os russos na Crimeia, que os ucranianos é que provocaram a guerra querendo aderir à UE e à Nato. Sei lá.

Ou seja, os comunistaz portugueses parece que ainda não perceberam uma coisa: os ucranianos não querem deixar de ser ucranianos, não querem ficar sob o jugo russo. N-ã-o   q-u-e-r-e-m!

Os ucranianos são cidadãos de um país que se quer independente e livre e, como tal, querem ter o direito a decidir como entenderem e a fazer o que querem dentro das suas fronteiras.

Se os russos, a mando de um criminoso, pensam o contrário e, contra todas as normas do direito internacional, invadem a Ucrânia, os ucranianos têm todo o direito a defenderem-se como podem. Poderiam defenestrar os vendidos, os miguéis de vasconcelos e os pachecos desta vida, poderiam correr com os invasores à espadeirada, poderiam ser como a nossa padeira de Aljubarrota ou como a valorosa Joana D'Arc -- e, se calhar, têm feito um pouco de tudo isso. Perante as mais tenebrosas ameaças, há quem tenha a coragem de fazer o que pode para defender o país e a liberdade. E felizmente há heróis que, perante os golias, continuam a lutar, a dar a vida até à última pinga de sangue pelo seu país.

O nosso PZP não percebe isto? Não percebe que os ucranianos querem ser ucranianos e querem ser livres?

O que advoga o PZP? 

Defendem que os ucranianos deveriam ter-se deitado no chão para as tropas de Putin passarem por cima? Que servissem cafezinhos aos russos? Que se pusessem todos à janela a acenar com lencinhos brancos para receber os invasores? Ou o PZP acha que quem fale russo deve ser russo? É isso?

Felizmente não falo russo senão ainda seria condenada pelo PZP se me defendesse (apedrejando os bandidos ou fazendo o que estivesse ao meu alcance), caso os russos resolvessem destruir-me a casa ou dar-me tiros à queima-roupa por eu não querer ser russa.

Pasmo com isto. Estou muito desiludida com os nossos comunistas. Nunca pensei assistir a isto. Tinha-os, globalmente, em relativamente boa conta. Um bocado (ou bastante) politicamente autistas mas, ainda assim, gente de boa cepa.

Agora, com as cobardes e hipócritas posições que os vejo a tomarem, já ponho toda a minha ideia sobre eles em perspectiva. Acho até que quem assim pensa é gente perigosa. Aparentemente serão os primeiros a render-se e a vergar caso o país seja invadido e agredido, serão os primeiros a trair os mais sagrados valores da democracia. E, pelo que tenho observado -- vendo-os a usar os argumentos mais insanos e vendo a agressividade que usam na sua argumentação -- até admito que seriam capazes de denunciar aos russos todos os que não se vendessem ou não fossem alistar-se nas milícias pró-russas.

Caraças. 

Como é que não percebi antes que era gente capaz de tanto ódio à liberdade e tanta submissão perante a tirania?

Desonram o seu passado. Desonram os que deram a vida pela liberdade. 

Não serão todos, acredito. Acredito que muitos se desliguem do partido. Acredito que muitos, por honrarem o seu passado, se demarcarão do que o PCP hoje representa.

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Os desgraçados que se vêem nestas fotografias são os belicistas desta história? São!? 

Vejam bem, demorem o tempo de que precisarem, e depois respondam. Mas respondam ao espelho, a olharem-se nos olhos.









Fotografias da Reuters: A city destroyed: Scenes of devastation in besieged Mariupol

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No vídeo abaixo, Putin dá ordem ao seu Ministro da Defesa de não deixar passar nem uma mosca num local onde estão, isoladas, milhares de pessoas (militares e civis), decretando assim que morram à sede e à fome, sem água, sem luz, sem comunicações.

Mas Putin não está a dar ordens para o seu Ministro actuar dentro das fronteiras do seu próprio país: não, está a esmagar, a pulverizar um outro país, condenando ao êxodo os que conseguem sair e condenando à morte os que não conseguem. 

É isto que o PZP defende?

São belicistas os ucranianos que ficam sem casa, sem familiares, que se refugiam seja onde for e que, em alguns casos, são deportados para campos (de concentração?) na Rússia? São belicistas os que lutam até à morte?

Que vergonha, senhores comunistas, que vergonha, que vergonha tão grande. 

Russian troops to blockade Mariupol 'so that a fly can’t get through' says Putin


É isto que defendem, senhores e senhoras que não são capazes de condenar Putin?

Pela parte que me toca, quando agora vejo alguém do PCP na televisão a pôr-se ao lado de ditadores, criminosos e facínoras, mudo de canal. É mais forte que eu: sinto-me nauseada com as suas palavras, não aguento.

segunda-feira, abril 18, 2022

Um grande homem

 

Fala como um homem normal mas o que diz é sábio, inspirador e comovente. Há nele uma coragem enorme. Mas não é uma coragem feita de bravatas, é uma coragem alicerçada no amor aos outros e no respeito pelo amor do povo do seu país à liberdade. E não se vê ali prosápia. Face a tudo o que se passa, face aos riscos que tem corrido, face à incrível resistência que tem surpreendido o mundo, poderia haver nas suas palavras alguma jactância. Mas não. Não há ostentação. Pelo contrário, todas as palavras são muito terrenas e humildes. Sente-se que são palavras que sofrem com a tragédia, com o sofrimento. Mas as palavras não vergam e a coragem também não.

Ouço-o e, uma vez mais, penso que estava, antes, tão estupidamente errada, tão indesculpavelmente mal informada. Também preconceito. Pouco ou nada sabia mas, na minha ignorância, era alguém com um curriculum feito exclusivamente na televisão, um cómico armado em político, alguém na base do tiririca. 

Também andava desatenta quanto à Crimeia. Lembro-me de alguns desencontros de ideias, uns a dizerem que os russos tinham ido buscar o que era deles e eu, sem perceber bem, 'mas era deles porquê?' mas, ao mesmo tempo, um bocado desinteressada. A gente, às vezes, tem tamanhos problemas ou redemoinhos na nossa vida que parece que algumas coisas nos passam ao lado. Talvez tenha sido isso. 

Agora fico perplexa como não me apercebi do mau prenúncio que foi aquilo da Crimeia nem das sérias ameaças afinal tão evidentes que vinham dos lados do Putin. Quando me penitencio, o meu marido diz: não era a ti que competia aperceberes-te, era aos serviços secretos.

Mas mesmo quando, recentemente, os americanos alertavam para o risco iminente de invasão da Ucrânia pela Rússia, eu achava um exagero, um nonsense, uma conversa da treta a que as televisões, que gostam de drama, andavam a alimentar. Não sei onde tinha eu a cabeça. Estava tão longe de que uma alarvidade destas fosse possível -- que um país invadisse outro, que um mitómano psicopata ousasse destruir cidades, matar pessoas e querer impor a sua rendição -- que não prestava atenção.

E que um tiririca desta vida se elevasse e fizesse um valente manguito a Putin e não vergasse perante as suas ameaças terroristas, que soubesse estar à altura da vontade do povo que dá a vida pela liberdade do seu país, foi coisa que não apenas me surpreendeu como, desde o primeiro minuto, me comove.

Sabendo do risco de vida que corre, com uma ímpar coragem física e anímica, Zelenskyy consegue manter-se informado, consegue falar todos os dias aos ucranianos e ao mundo, consegue ter o discernimento para falar perante os parlamentos deste mundo, consegue dar entrevistas, consegue sorrir, consegue manter a esperança e a coragem. Vê-se que está cansado, mal dormido. Mas a vontade de manter a honra ucraniana é inabalável.

Está a lutar pela sua Ucrânia mas está a lutar por todos os que amam a democracia e a liberdade. Devemos-lhe -- a ele e a todos os que perderam tudo o que tinham e estão determinados a continuar a lutar, a todos os que perderam filhos, irmãos, maridos, pais e que, apesar disso, continuam firmes, a todos os que perderam a vida -- o nosso agradecimento. Lutam por nós, por todos os que amam a democracia, o humanismo, a liberdade.

No vídeo abaixo, Zelenskyy fala dos filhos e fala do que o move. Uma trecho muito interessante --- e muito humano -- da entrevista.

Zelenskyy speaks about his children

Desejo-vos uma boa semana

Agradecimento. Respeito pela liberdade.