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segunda-feira, junho 28, 2021

Um Blue Prince a acompanhar de alto uma bela sardinhada

 


A Bromélia branca, que eu achava tão bonita, começou a ficar branca demais. Até as folhas começaram a passar de verdes a esbranquiçadas. Fui informar-me. Em tempos consultava livros de jardinagem. Agora googlo. As bromélias daquele tipo não gostam de muita luz directa e eu tinha-a posto no lugar com mais luz do jardim. 

Tirei-a de lá. Passei-a para o vaso sem história mas bonitinho que trouxe na sexta-feira. Está numa zona mais resguardada, no degrau acima daquele em que pus o vasinho verde onde coloquei a hortênsia, entretanto renascida.

No vaso exposto ao sol coloquei uma echeveria perle von nurnberg. Os nomes das flores são todo um programa. Não estou certa de que este seja o melhor sítio para a ter mas vale a pena tentar.

E arranjei outra floreira, uma rectangular, onde juntei uma blue prince e restinhos e estacazinhas de outras. O prazer que isso me dá talvez não seja fácil de perceber por quem me lê. Até para mim isto é novidade.

Antes, eu vivia num apartamento no alto de um prédio e tinha o rio na minha janela. Não sentia vontade de ter plantas aprisionadas. Não tinha vasos. Preferia, ao fim de semana ou nas férias, dedicar-me às árvores e aos arbustos do campo. Tinha, desde sempre, um sonho: inventar um bosque, criá-lo do nada, fazê-lo nascer num lugar em que parecia impossível, ver as árvores crescer, caminhar à sua sombra. 

Agora, nesta casa, mantendo o jardim que aqui encontrei e que é fruto de anos de dedicação e amor por parte dos anteriores proprietários e que, por isso mesmo e porque me identifico perfeitamente com a estética e o romantismo do lugar, tento introduzir o meu cunho mas sem desvirtuar o equilíbrio que aqui reina.

E, de repente, eu que era toda azinheiras, cedros, aroeiras, orégãos, rosmaninho e alecrim, descubro-me curiosa por toda a espécie de flores, com vontade de conhecê-las, de saber como se cuidam. Sempre me tinha visto como não tendo especial sensibilidade para as subtilezas das flores. Receava que me morressem sem que eu percebesse porquê. As flores eram para mim assim como os gatos: se não interagem nem mostram que percebem as nossas dúvidas ou vontades, como lidar com eles?  Mas, afinal, descubro, com algum alívio, que as flores que cá estavam têm mostrado que se dão bem comigo e que as que tenho plantado têm vingado e estão bonitas. Só uma begónia soçobrou, não sei porquê. Mas como foi só uma não me senti desmoralizada. 

Ando, pois, muito contente com as minhas flores. Aquelas onde a mangueira chega são regadas todos os dias, um chuveirinho ligeiro. As outras, as que têm que ser regadas a regador, são mais problemáticas pois não arrisco o regador dos dez litros, não vá dar para aqui algum mau jeito e, então, vai uma quantidadezinha mais leve que me obriga a várias idas e vindas. Mas é de gosto. O meu marido zanga-se, que é um disparate tanto vaso, ter que andar sempre a regar. Digo-lhe que também ele come todos os dias e não me ouve protestar contra isso. Acha a comparação um disparate mas eu digo-lhe: 'olha que não... olha que não...'

Tirando isso, poderia falar da festa que houve na casa aqui ao lado. Mas não vou entrar em pormenores, e isso por vários motivos.

Estava, no sábado, lá fora, a ler os contos da Silvina Ocampo e a ouvi-los, divertidos, bem comidos e, creio, melhor bebidos. Um dia conto, mais tarde, para que não se perceba que é deles que estou a falar. 

Por vezes parece que voltei aos tempos da minha infância e adolescência. Vivíamos numa moradia, aquela em que a minha mãe ainda vive. Chamamos quintal ao jardim das traseiras, onde chegámos a ter uma pequena horta mas que depois foi relvado e tem um limoeiro, duas laranjeiras e flores, e jardim ao da frente, o que sempre teve flores. Da casa vêem-se os outros quintais e jardins e, se as pessoas falarem mais alto e estiverem na rua e nós também, ouve-se o que dizem.

Na cidade, o apartamento era sonoramente estanque e morávamos no último piso. Não se ouvia nada de nada dos outros apartamentos. E no campo é como se estivermos no céu.  Estava, portanto, habituada a não ouvir nada da vivência dos vizinhos. Aliás, mal os conhecia. Aqui não. Aqui, quando se está no jardim, ouve-se o que dizem nos jardins adjacentes. É uma coisa bizarra. Mas aqui ninguém se importa com nada disso. É normal ver pessoas em fato de banho, a apanharem banhos de sol, e nós irmos a fazer a nossa caminhada e passarmos muito perto -- e tudo tranquilo. 

Adiante.

O meu marido andava a dizer-me que não arranjasse nenhum programa para este domingo. Queria ver o futebol descansado. Isto apesar do jogo ser às oito. Mas diz que já sabe como é e, portanto, que me abstivesse de combinações. 

Contudo, o meu filho sugeriu uma sardinhada e pareceu-me uma ideia simpática: andava mesmo com vontade de umas belas sardinhas, gordas e boas. Além do mais, o programa pareceu-me compatível. O meu marido, quando soube, ficou logo impaciente e pôs como condição que acabasse às seis para irmos levar a minha mãe, e poder, no regresso, instalar-se sem stress, com tempo, com calma, disponível para ver o jogo desde o início. Tem sempre receio de apanhar trânsito ou qualquer outra contrariedade que o impeça de estar postos bem antes do apito de arranque.

Fomos buscar a minha mãe antes de almoço. O meu filho trouxe as sardinhas, douradas e carvão biológico e assou tudo, eu cozi as batatas de pele vermelha conforme ele pediu, fiz salada de tomate maduro com orégãos. Ele assou também pimento. A minha mãe trouxe cerejas e bolo de chocolate, a minha filha trouxe queijadas vindas dos Açores.

Um peixinho bom, uma bela almoçarada, cada grupo em sua mesa mas as mesas perto umas das outras, sempre na rua, a animação habitual. A trupe do meu filho, pelo sim, pelo não, ainda fez o teste rápido na farmácia antes de vir. E, sempre que andamos a circular por entre o pessoal, andamos de máscara. Não se pode facilitar já que apenas a minha mãe tem as duas doses. O meu marido ainda só tem uma e eu não digo enquanto não estiver esclarecido se o que me aconteceu teve a ver com o estupor da vacina ou não. De resto, ainda mais ninguém está vacinado.

De tarde, a rapaziada foi andar de bicicleta e eu fiquei a maquilhar e a pentear a minha princesinha mais linda. Fiz-lhe um penteado à Frida, com buganvílias e tudo. 

Depois houve vólei, houve lutas, houve brincadeiras sobre um sofá insuflado que, em vez de ser para relax como era suposto -- e cujo enchimento foi um complicado desafio apenas transposto pela menina mais engenhocas da família -- foi mais uma fonte de brincadeira. 

E depois lanche e, quando parte já tinha ido, ainda espaço para massagem ao rapazinho que pouco antes andava a voar a atirar-se ao tio como se fosse um ninja, depois uma massagem mais breve ao mano mais crescido e... depois... às seis lá fomos levar a minha mãe. 

E conseguimos estar cá mais do que a tempo e horas e... foi com tristeza que vimos que Portugal ficou pelo caminho. Sei a expectativa com que os meninos estavam e imagino a desilusão. Mas faz parte da aprendizagem perceber que há sonhos que são curtinhos mas que isso não tem mal pois todos os dias nascem sonhos novos.


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Uma boa semana feliz a começar já por esta segunda-feira

sábado, abril 03, 2021

Suculentas et al.
[E a bela casa da Beata Heuman]

 



De manhã o meu marido perguntou qual era o programa. Disse-lhe que era ir comprar suculentas e uma taça. Torceu-se, que me deixasse disso. Protestei: não basta não irmos a lado nenhum, ainda protesta quando quero fazer uma coisa de nada. Disse que não lhe apetecia usar máscara. Bela desculpa... Mas fomos. Gosto imenso de ir aos viveiros. Contudo, acho que só me satisfarei quando for sozinha. Aquilo é enorme, têm imensas plantas, algumas que desconheço.  Ele fica impaciente quando me vê a cirandar. Quer que eu me limite a ver aquilo que quero e, depois de ter escolhido oq ue quero, acha que é pagar e desandar. Eu, por mim, ficava a ver tudo e mais alguma coisa e, se alguma coisa despertasse a minha atenção, não me faria rogada. Ele é o oposto. E tem sempre pressa mesmo que por nenhuma razão em particular.

Ainda me lembro de quando trabalhava num sítio no tempo em que havia telefonistas. Aquela telefonista era uma figura. Uma verdadeira Miss Piggy: baixa e bem fornecida, perna torneada, anca bem redonda, seios generosos sempre quase a saltarem dos indiscretos decotes, salto alto, cabelo aos cachos pintados de louro espalhados pelas costas. Ela gostava de mim e eu dela. Belas conversas que tínhamos. Metade do tempo eu estava de boca aberta e a outra metade a rir. Surpreendia-me com as suas revelações. Sabia de tudo. Não havia movimentações que lhe passassem despercebidas. Era telefonista e recepcionista  em simultâneo. Era tão maliciosa, tão brejeira, tão atrevida que os homens até tinham medo das saídas dela. Mas falo dela pois naquela altura o meu marido, se queria falar comigo, passava por ela. Havia telemóveis mas devia ser para ocasiões especiais pois ele ligava para o geral e ela é que transferia a chamada para mim. Para gozar com as pressas dele, ela imitava-o. Não vou reproduzir na íntegra pois quase se limitava ao meu nome e não vou dizer aqui o meu nome mas era assim, a abrir: 'Nome Apelido, se faz favor', mas tão à pressa era que comia metade das sílabas. Ela contava que bem queria meter conversa, cumprimentá-lo, mas que ele não dava abébia. Quando eu lhe contavaele não ligava patavina e dizia: 'Ia pôr-me na conversa com ela...'. Não tem paciência para conversas. Bem o ouço nas suas reuniões habituais. Cumprimenta as pessoas assim: 'Está tudo bem, não está?' e passa à frente. Já lhe disse mil vezes para perguntar: 'Está tudo bem? e esperar pela resposta. Diz que não, não vá a resposta ser longa ou requerer comentário.

Portanto, lá fomos. Até não há muito eu desconhecia a designação 'suculentas' e confundia-as com cactos e, na minha cabeça, cactos eram aqueles bichos com folha gorda e picos, coisa imprópria para ter numa casa com crianças. Por isso, ignorava-as. Até que, há pouco, as descobri. E ando encantada. Já aqui tinha plantado quatro numa taça e tão bonitas elas se estão a fazer que fiquei com vontade de ter mais. No outro dia, quando fomos comprar um vaso de terracota, trouxe logo a taça à espera das plantinhas.

Uma tentação. Trouxe umas quatro de tamanhinho pequeno e depois descobri uns mini vasinhos com umas mini mini. Trouxe cinco dessas. Pensei que, assim, precisaria de outra taça. Só que as taças que tinha eram grandes demais. Vi um tabuleiro em cerâmica esmaltada em bordeaux mas pareceu-me baixo e, sobretudo, caro demais.

Pensei que este sábado iríamos à loja dos vasos. O meu marido detesta lá ir. Há sempre muita gente, uma certa confusão para estacionar. A caminho de casa, ele a dizer que não ia e eu a dizer que tínhamos que ir. E então diz ele: 'Vi lá uma taça redonda parecida com o tabuleiro'. Pedi que descrevesse. Pareceu-me bem. Então demos meia volta e voltámos. Afinal não gostei, era grande demais, achei deselegante. Pedi que desse a opinião sobre o tabuleiro. Como já estava impaciente e sobretudo não queria ir à loja dos vasos, trouxemo-lo.

A seguir ao almoço, estivemos no jardim ao sol, a conversar, a ouvir os pássaros. 

Depois, estivemos a mudar os vasos. O tabuleiro é baixo, é usado para bonsais. Espero que não seja baixo demais para as minhas suculentinhas. Ficou em cima da mesa que está ao pé de dois cadeirões no terraço pequeno de lado. A outra taça ficou no chão, de um dos lados.

Gosto tanto de plantar, de regra, de aconchegar a terra às plantas...

Ao fim da tarde, veio a anterior proprietária. Estivemos a conversar. Estive a mostrar-lhe as suculentinhas. Gostou. Estivemos a ver as árvores, as flores. É um jardim romântico, disse ela. É isso. Nunca tinha pensado nesses termos mas é mesmo. 


Para o jantar mandámos vir uma pizza feita em forno de lenha, daquelas de base fininha e estaladiça. O meu marido, lembrou-se das mostardas que a filha lhe tinha dado no cabaz de petiscos com que o presenteou pelos anos. Abrimos o da mostarda em grão. Óptima. Depois lembrou-se da compota de figo e vinho do Porto. Melhor ainda. Pus um pouco de cada no prato e passava cada bocado de pizza por ambos antes de o degustar. Delícia.

É o que ontem dizia: parece que estou de férias. Bem bom.

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Antes das suculentas mostro as glicínias para o Amofinado lhes sentir o perfume e as frésias virginais.

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Entretanto, em vez de notícias, continuo a ver vídeos de jardins, decoração ou coisas do género.
Se me permitem, partilho dois convosco.

A casa de Beata Heuman 




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Um bom sábado