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sábado, dezembro 21, 2019

Quase Natal na companhia da família e do Norman F***ing Rockwell




Estou completamente desconcentrada. A minha filha está sentada ao meu lado no sofá, a conversar, a mostrar-me cenas no computador e eu, apesar de querer escrever, não resisto a ver o que ela está a ver. Coisas fantásticas. Só visto, ninguém o diria.

Os meninos dormem e só espero que não nos acordem muito cedo. Presumo que não pois já são autónomos e, além disso, deixei-lhes uma tigela grande de papas de aveia, um frasco de mel, fruta. Quando me levantar logo preparo um segundo pequeno-almoço. Ou eu ou o avô. Vêm a contar comer torradas com azeite e tomate, ovos mexidos, queijo fresco. Faz parte do package.

Jantaram cá -- e se jantaram... nem percebo como conseguem comer tanto. Depois brincaram, jogaram à bola, levantaram pesos, depois cearam (leite, bolachas) e, finalmente, deu-lhes o sono.


Este sábado junta-se-nos o resto da turma. O pior é o mau tempo. Tanta gente fechada em casa com um bando de crianças cheias de energia e sem ter muito por onde gastá-la dá sempre granel e chinfrim. Pode ser que nos ocorra algum sítio onde ir apesar da Elsa e do Fabien.

Sempre ouvi uma coisa que é assim: 'Ó Elsa! Vais presa?'. 'Não, vou dormir com o Chefe'. E sobre isto da tempestade Elsa era dessa Elsa que eu me lembrava. No entanto, no carro, ouvi que, quando se fala em Elsa, toda a gente se lembra logo do Frozen. Até me senti mal, credo. Nem de tal me lembraria. A menos que a Elsa do Frozen também costume dormir com o Chefe da Polícia. Mas acho que não, a Elsa não me parece moçoila para tais andanças, diz que é de gelo.

Bem.


Já fiz as compras todas e isso deixa-me aliviada. Ou melhor, não. Ainda não comprei o presente da minha filha mas tem que ser comprado com ela. Por isso, amanhã de manhã vamos as duas às compras. Com o meu filho, a coisa fia mais fino. Disse que queria o último do Le Carré e mais nada. E eu sei que não gosta mesmo de receber coisas de que não precisa. E não quer coisas para a casa, sejam enfeites sejam utilidades. Não quer. É frugal e minimalista.

Mas este ano, mesmo para os meninos seguimos à risca o que recomendaram: uma coisa para cada um. Para além disso comprei mais um pijama e um fato de treino para cada um mas isso nem é bem presente. Aliás, os que estão cá a dormir já estão com o pijama vestido, mesmo sem ser lavado. Mas na loja tinham alarme preso, não dava para ter sido provado. Portanto, supostamente sujos não estavam. Quando soube que eu tinha cá os pijamas e que tencionava dá-los antes do dia de Natal, a minha filha aproveitou logo para não vir carregada com pijamas.


Tirando isso o que posso dizer é que antes deles chegarem, fui à pressa buscar luzinhas, o pai natal trepador e mais um para pôr na porta da rua, uma árvore de natal mínima com umas luzinhas pinini, duas árvores de natal alternativas sobre a lareira. E este natal, finalmente, tenho um presépio decente. Para dizer a verdade, acho-o mesmo bonito. Simples mas bonito. Se amanhã me lembrar, fotografo as minhas decorações nataleiras para vos mostrar. Nada que se recomende mas, enfim, quem mostra o que tem a mais não é obrigado.

De resto, não tenho mais nada a acrescentar pois é tarde e sendo o tema o da chuva e dos leitos de cheia e dos leitos dos rios todos a transbordarem, não me arrisco a enfiar-me por tão escorregadio tema não vá o meu pingado blog meter ainda mais água do que é costume e, assim sendo, se não se importam vou mergulhar num outro leito, menos molhado e mais quentinho.

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A música que se ouviu pertence ao que o The Guardian considera o melhor álbum de 2019. Lana Del Rey soma e segue.

E se ela pode invocar o grande Norman Rockwell, eu também posso e, por isso, as ilustrações que aqui se vêem são dele.

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E desejo-vos um bom sábado. Tudo de bom para vocês.

[No outro dia recebi um postal de natal digital que dizia: brindemos há vida. Deitei as mãos ao alto mas depois percebi que me precipitei. Um lapsus de nada que só prova a falta que uma vírgula faz. Cá para mim, o cavalheiro quis dizer Brindemos: há vida.]

domingo, fevereiro 25, 2018

O mundo em guerra e nós continuamos a dançar


Não é que goste especialmente da Lana Del Rey ou que ache as canções que ela canta umas obras de arte. Mas acho que os as montagens a partir de filmes estão bem feitas e que a sua conjugação com as canções está interessante. Eu, pelo menos, agora que estou aqui a descansar depois de mais uma tarde de árdua labuta campestre, estou a gostar de ver. O fogo na salamandra dá um calorzinho bom, vesti uma roupa também quentinha e, enquanto estou nisto, vou deitando uma espreitadela ao noticiário.

E é bem verdade: passam na televisão imagens tenebrosas do que se passa na Síria e eu, aqui, serenamente ouvindo música e vendo vídeos.

O planeta Terra é habitada por esta espécie que é contraditória, pouco solidária, fútil e louca. Mas talvez haja alguma inteligência nisto tudo.

Mas não sei se há se não há nem me parece que este seja tema que deva ser chamado para aqui.
Portanto, ficamos assim.



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segunda-feira, março 02, 2015

Infoexcluída me confesso. Nem Facebook, nem Twitter, nem Instagram. Nem gatinhos. Só gatos. E, de preferência, tal como Mario Testino os regista, nuzinhos, só com uma toalhita. Alô, alô Rosa Pinto: concorda que estes são de uma beleza universal, intemporal, obras de arte perfeitas?


No post abaixo já falei de dois ladrões honestos. Ou arrependidos. Ou amedrontados. Ladrões que, voluntariamente, devolveram o fruto do seu furto. Não foi ao Passos Coelho que me referi, é claro, longe de mim. Referi-me, sim, a dois ladrões cujos actos darão certamente filmes. Ora, como é sabido, Passos Coelho para artista não tem jeito (lembremo-nos da nega que recebeu do La Feria).

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Se ontem confessei alguns dos meus segredos, hoje continuo numa de confissões e falo das minhas debilidades cognitivas. 

É que ele há coisas que eu não percebo. E são muitas.


Cauã Reymond por Mario Testino


Do filme The Great Gatsby, numa interpretação de Lana Del Rey: Young and Beautiful


Por exemplo, não percebo: 

  • Porque é que a maioria das pessoas quando está a ser fotografada se põe de lado, abre a boca e, não raramente, levanta uma perna, quase como se simulasse que está a cair?
  • E porque é que tanta gente acha graça a fotografar-se a si própria? Mais: porque é que tanta gente acha graça a divulgar fotografias de si própria? 
  • E, mais intrigante ainda, porque é que é tão importante para as pessoas e para as empresas terem likes no facebook? Se nas pessoas eu ainda posso atribuir a uma questão de carência afectiva, já no caso das empresas acho que é entrar num registo de futilidade quando seria expectável que se funcionasse num registo de seriedade.
Marcelo Boldrini por Mario Testino
  • E porque é que há tantas tricas em volta da utilização do facebook?
No outro dia, num dos espaços de open space que não fica muito perto do meu gabinete, ouvi vozes mais altas que o costume. Pensei que naquele dia haveria mais efusividade do que o costume já que, em regra, nada se ouve. Mas depois a coisa foi subindo de tom, já parecia uma altercação. Intrigada, assomei à porta e vi duas, alteradas, a discutirem e os outros em volta a tentarem acalmá-las.
Quando, algum tempo depois, fui à copa buscar um dos meus múltiplos chás diários, vinha uma outra ainda corada. Perguntei: Então o que é que se está a passar? Ela respondeu: Nada que interesse Doutora, parvoíces, coisas que não deviam acontecer no local de trabalho, mas deixe, elas agora já estão mais calmas. Eu não disse nada mas ela deve ter percebido que eu não estava a ver o alcance da coisa pois clarificou: É a M que se passa com coisas de que ela é a única culpada.
Nikolai Danielsen por Mario Testino



Devo ter sorrido com ar de quem, sendo assim, já estou mais descansada mas, se sorri, fiquei-me pelo sorriso. 
Mas toda a gente devia saber a causa de tal situação insólita pois, nessa tarde, uma pessoa veio dizer-me, com naturalidade, Ela comenta o que não deve junto de outras pessoas, de que é que ela estava à espera?
Não percebi. Explicou-me: Põe-se a fazer comentários sobre o que as outras escrevem ou sobre as fotografias, e isto tudo se sabe. Limparam-na do Face. De que é que ela estava à espera? E depois foi tomar satisfações? Claro, ouviu umas verdades.
Continuei a não perceber. Limparam-na do Face?
Ela deve ter percebido que a minha insuficiência intelectual era severa e, portanto, traduziu: Sim, do Facebook.
Romulo Neto por Mario Testino

Pensei: ó caraças, que mundo paralelo este que, como o próprio nome indica, me passa todo ao lado. 
E a que foi limpa deve ser mulher para uns 60 anos, imagine-se! E, portanto, pelos vistos, toda aquela gente tem conta no facebook, e devem lá colocar pensamentos, selfies de boca aberta, e todas se devem comentar umas às outras e, às tantas, pelos vistos, zangam-se, amuam-se, entram em despiques. 
Ou seja, isto do Face pelos vistos até pode transformar mulheres urbanas em vizinhas de bairro, daquelas que se pegam umas com as outras por causa do diz que diz que, feitas fofoquentas, mariazinhas.
Claro que não será toda a gente assim, se calhar a maioria mantém o nível e sente-se mais acompanhada ou realizada tendo muitos amigos no Face e muitos likes, e sente que está mais em cima do que interessa. 
Com esses e outros argumentos, muita gente me tem incentivado a arregimentar-me. Mas eu não, obrigada, prefiro sentir-me outsider, quase como se quisesse preservar o lado de boa selvagem que ainda subsiste em mim.

Cara Delevingne por Mario Testino

  • Mas depois ouço que toda a gente acompanha as fotografias de um e outro também no Instagram e até pelo DN fico a saber que o Mario Testino divulga fotografias no Instagram e eu, que gosto tanto de fotografias e tenho milhares delas, não tenho conta no Instagram, não sei bem qual a diferença entre pôr fotografias lá ou pôr aqui e receio que, se aderir a isso e a tudo o resto, às tantas não dê mãos a medir que tempo é o que já me falta; mas, se não aderir, parece que estou cada vez mais à margem do mundo que a maioria das pessoas já habita.

Tanta coisa da qual passo ao lado.

  • E a história dos gatos? Em tempos li que o tipo de imagem mais visto na internet é o que se refere a gatos. Fiquei perplexa. Gatos? Porquê?


A propósito das novas pinturas de rua de Bansky em Gaza, em que pintou um ternurento gatinho a brincar com destroços de guerra, ele explicou que o fez porque as pessoas adoram imagens de gatinhos, parece que se deixam prender sobretudo por imagens de gatinhos fofos.

Under the photograph of the large mural, Banksy wrote on his website: “A local man came up and said ‘Please – what does this mean?’ I explained I wanted to highlight the destruction in Gaza by posting photos on my website – but on the internet people only look at pictures of kittens.”

by Banksy

(e eu sei que não deveria misturar a destruição de Gaza com frioleiras mas, que querem?, Levezinha é o meu nome do meio)

É certo que já fotografei alguns gatos vadios no Ginjal mas, enfim, faço-o porque acho eu que são animais que, naquele contexto, têm um potencial estético interessante. Mas daí até perceber porque é que os gatos são o principal motivo de interesse global no visionamento de imagens na internet já vai um grande passo. Tanta gente fotografa os seus gatos e com eles enche páginas e páginas de sites, blogues, facebooks e instagrams, porquê? Porque tem procura? Meio mundo anda à cata de gatos na internet?
Todas essas imagens estão armazenadas em computadores algures por aí (nas nuvens) e, se um dia alguns seres extraterrestres tentarem perceber que mundo é este, vão ficar surpreendidos, provavelmente vão achar que os gatos são os seres dominantes na Terra. (E, de resto, quem sabe não são mesmo? Sábios têm eles ar de ser).


Enfim, coisas que vão para além da minha compreensão. Presumo que, por isto, quase me possa considerar infoexcluída e estou certa que, muitos de vós, a maioria talvez, tem conta nessas coisas e só vê vantagens nisso. E talvez saibam tudo antes de mim, porque as redes sociais propagam a informação de forma viral e tudo isso.

Mas, de cada vez que leio como estas empresas seleccionam as informações a divulgar nos murais de cada pessoa de forma a manipular a sua disposição emocional, ou adoptam políticas moralistas, puritanas, mais me convenço a deixar-me de fora do maravilhoso mundo novo em que todos sabem tudo, todos divulgam tudo, todos consomem tudo.

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As beldades desnudadas fazem parte da Towel Series de Mario Testino (assim até eu não me importava nada de ser fotógrafa profissional).

Ilustram este texto como forma de resposta à Leitora Rosa Pinto que, num comentário ao post abaixo, me desafiou: Beleza, aquela que é universal não deve depender de gostos pessoais e de modas. Desafio UJM para pensar e partilhar algumas dessas belezas.


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Relembro: no post abaixo falo de dois ladrões honestos ou enfastiados que, nos últimos dias, deixaram meio mundo de queixo caído. 

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quarta-feira, agosto 06, 2014

Cabelos, maquilhagem, toilettes e acessórios para o Verão 2014 - as escolhas da 'Jeitosa mais Mansa' (para o menino e para a menina). E ainda uma revelação de Hillary Clinton testemunhada pelo talentoso André Carrilho.


No post abaixo já falei das minhas dúvidas e perplexidades a propósito do caso BES, dos poderes absolutos do Carlos Costa-o-mau, de toda esta atitude de quero-posso-e-mando por parte de quem parece que andou a dormir na forma durante quase um ano, da ausência do homem da manta rota, e dos accionistas que ficaram limpos como se tivesse sido vítimas de um arrastão e, ainda, de mais umas quantas coisinhas como, por exemplo, do Mr. Rato.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.



It's all for you...




Se pensam que por aqui se fala apenas em economês ou que há alguma pendência contra os maraus do governo e arredores, estão muito enganados. Dito de outra maneira, se pensam que, para terem coisa leve, levezinha, têm que ir a blogues de pipoquinhas mais doces, estão muito enganadinhos. 

Aqui a Jeitinho tem um lado muito fresco e fofinho que pode não ser muito divulgado mas que é do melhor que há.

Falemos pois de Verão.

Meninas do meu País: nada de andarem por aí todas mal enjorcadas. Andar à vontade não é sinónimo de se albardarem com o primeiro trapo que tiverem à mão, com cara de quem acabou de se levantar da cama, com o cabelo à balda e os olhos mal amanhados. Não senhor. E nada de desculpas porque não é precisa muita mão-de-obra nem muito carcanhol. 

Ora então vamos lá a umas dicas:


Cabelos e maquilhagem para peles claras


Cabelos despenteados, olhos inocentes, sombreados a azul-marinho, lábios nus

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Corte de cabelo e maquilhagem para morenas


Corte de cabelo acima dos ombros, estruturado, olhos sombreados com malícia e profundidade marron, lábios nus

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Peças de vestuário e acessórios versáteis para levar para férias e para andar na cidade - o estilo moderno e desconstruído

Peças que permitem utilizações variadas, assimétricas, coloridas ou não: é o street chic para quem tem a juventude na alma


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O Street Casual (com óculos de aviador) - o estilo mais clássico e arrumadinho


Fica sempre bem: jeans ou calças justas, camisa branca, casaquinho branco, carteira branca: bem em qualquer situação, em qualquer idade, dando sempre a ideia de que quem assim veste não parte um prato. Pois, pois.

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Finalmente, para não me acusarem de ser sexista, aqui vão uns modelitos para cavalheiros


Para os malandros de qualquer idade e condição social


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As quatro primeiras fotografias são da Harper´s BAZAAR. A última é do The Sartorialist

A música é Video Games pela Lana d'El Rey.

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Como brinde tenho ainda uma outra coisinha. 

Não sei se sabem que temos um ilustrador cujo mérito já anda pelos corredores da fama. Chama-se André Carrilho e trabalhos seus podem ser vistos a ilustrar artigos da prestigiada Vanity Fair. Agora está em destaque num artigo com alguma piada intitulado Hillary Clinton Crosses the Bridge


I am always being asked, “Will you run for president in 2016?”

- The honest answer to that question is I haven’t decided yet.


Palavras de Hillary Clinton, ilustração de André Carrilho


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Relembro: para coisas besantinas que me atentam o juízo (porque não as consigo entender), desçam por favor até ao post seguinte. E se souberem explicar-me que coisa foi esta que o Carlos Costa fez - mas como se explicassem a uma criança de 4 anos ou a uma loura muito, mas mesmo muito burra - por favor estejam à vontade.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.



terça-feira, janeiro 31, 2012

A inutilidade de mais uma Cimeira Europeia; a surpreendente Judite de Sousa; Lana del Rey, a curiosa nova grande voz; as fotografias de Mario Testino e a poesia de Ana Duarte


Cansada, mal dormida, hoje de nada me apetece escrever. As poucas notícias que ouvi em nada contribuem para me animar. Para lá andam a brincar às coisas impossíveis, às cimeiras europeias de que história que se preze alguma vez rezará. Estabelecer para todos os países, por decreto, limites inatingíveis é forçar alguns a saltarem fora. Merkel continua pôr e a dispor e toda a gente a balir atrás. Quase todos, melhor - porque parece que os dois rebeldes do costume disseram que não brincam às uniõezitas. Um défice de 0,5%. Quando? Em quantos anos? Quem é que consegue isto todos os anos? Olha, Portugal, até aqui acho que nunca oa conseguiu. 

A UE transformada numa turma da catequese. Não tenho paciência para isto.

Noemie Lenoir por Mario Testino

Quando há pouco cheguei a casa, deitei-me no sofá e instantaneamente caí num sono profundo; só acordei, e a custo, à força. Ora isso teve um lado bom: não tive a desagradável sensação de ouvir o Relvas ou o Passos Coelho, ao menos fui poupada a essa provação. 

E depois, do pouco que ouvi, é só desgraças, só gente a morrer sozinha, gente desempregada, empresas a fechar, e eu hoje não consigo ouvir mais falar disso, nem falar destes dramas. Não. Que apareça, por favor, gente divertida, gente maluca, que digam coisas imprevistas, que me façam rir, que me despertem, que me façam ficar boquiaberta com palavras nunca antes ditas.

por Mario Testino

Mas não, só banalidades, só coisas mil vezes repetidas, mil vezes irrelevantes. Neste momento, vejo o Prós e Contras e nada que se aproveite. Toda a gente reclama e muito justamente mas tantas vozes, tanto ruído e ninguém que saiba transformar as reclamações em concretizações válidas e justas. E a Fátima Campos Cunha tão excessivamente afirmativa, às vezes com um tom de voz tão chato, fala muito alto, cansa-me. Gente que fala muito ou que fala muito alto cansa-me.

E inquilinos e senhorios e todos se queixam e todos têm razão e a ministra Cristas, coitada, que culpa tem ela se a puseram em ministra?, sabe lá ela alguma coisa destas vidas complicadas?

Acho que a Arquitecta Helena Roseta é a única que diz coisa que se aproveite mas o que é uma voz no meio de tanta barafunda?

Mas estou para aqui a queixar-me e até nem é verdade que não me pareça uma alma que me deixe especada. Há pouco aconteceu, até peguei a correr na máquina.

Judite de Sousa na TVI 24

Judite de Sousa no seu programa com Medina Carreira a quem ela trata como se ele fosse um velhinho senil ou, outras vezes, como se estivesse deslumbrada e infantilizada perante um professor ancião, ou nem sei, nem consigo classificar aquele tom de voz suplicante, 'mas ó sô tôr ...mas então ó sô tôr...', mas, dizia eu, a Judite hoje deixou-me de boca aberta.

Com um penteado à Marie Antoinette, cheia de ganchos e travessões brilhantes, com uma pintura espectacular, com um vestido que tinha ao ombro umas fitas que não consegui compreender, unhas azuis e um cachucho brutal num dos dedos! Ali andei  de pé, de roda da televisão, a tentar perceber o que era aquilo. Mas até estava gira! Fica-lhe bem. Estas coisas espampanantes valorizam-lhe a assimetria.

E até gostei daquele tom de voz soava surreal, com aquela produção versailliana: tudo aquilo era uma coisa digna de ser vista e ouvida, uma performance improvável, mesmo como eu estava a pedir.

Claro que Medina Carreira, com um senhor bem informado de que não captei o nome (apanhei o programa já quase no fim), me deixaram um pouco mais preocupada pois concluíram que o mal de Portugal é a desindustrialização e a dependência energética, coisas estruturais e que não se ultrapassam de um dia para o outro. E que este é também o mal de grande parte da Europa. E é verdade. Nisto radica todo o mal profundo deste país. Desindustrializou-se, tornou-se dependente. Um drama só superável com uma grande visão e compreensão da dimensão real da tragédia, com gente culta, abnegada, experiente, bem preparada. Gente de outro mundo, portanto.

Mas, olhem, hoje não estou para isto. Deixem-me procurar imagens loucas, imprevistas, quero ser surpreendida.

Mario Testino para a Vogue

Está difícil. Não me aparecem sonhos materializados em pássaros coloridos e enormes, cantando e gritando aqui à minha frente, não descem dos céus bailarinos de fogo dançando em roda desta minha mesa cantares do fim da terra, batendo palmas e rindo, não me aparecem anjinhos dando cambalhotas nos ares enquanto entoam os violinos. Já dei tempo mais que suficiente para isso e nada. Nem a lua desceu do céu para vir bater no meu peito. Nada.

Não havendo nada disso, queria que me aparecesem aqui os homens que, à noite, saem das cavernas, cobertos de peles, meio despidos, sedentos, olhos suplicantes.

Fur Men por Mario Testino

Mas não. Talvez porque não tenho aqui uma fogueira para se virem aquecer, os homens das grutas hoje  passaram por aqui e logo seguiram. Queria que aqui se deixassem ficar, desfilando, lentos, carentes, belos, queria-os aqui em silêncio à volta desta minha mesa coberta de livros, mas nada. Foram em busca das raparigas de caras pintadas, vozes loucas, alegres, dançarinas frenéticas, mulheres livres que dançam com grandes pássaros emplumados.

Kate Moss por Mario Testino

Por isso, como a festa hoje se faz por outras paragens, vou-me embora. Talvez vá ver se descubro onde  andam esses cuja companhia hoje me apetece, que eu hoje só me apetecem coisas incomuns, gente com horror ao cinzento, quero luzes, cores, cantos, saltos, voos, risos, futuros.


Lana del Rey, grande voz - ouçam-na, por favor

[.]


E poemas?, perguntem-me lá vocês... Não podemos enfrentar o dia sem um poeminha - digam-me lá...

Ok, assim seja, então (um poeminha bom para as minhas leitoras decorarem e surpreenderem os seus compagnons de route quando eles menos esperarem, está bem? Mesmo as de fraca memória vão conseguir que ele é bem pequenino, vão ver):


Das tuas mãos saem
coisas maravilhosas
 - por exemplo,
os meus seios.



[ 'Das tuas mãos', poema de Ana Duarte em Criatura]

.&.

Pronto, é desta, vou-me deitar.

Tenham, meus Caros, uma bela terça-feira.
 E que viva a vida cheia de cor!