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sábado, novembro 20, 2021

Onde é que pega, a idade?

 


Uma vez, teria eu uns quarenta e picos, um colega disse, com ar irredutível, que quem dissesse que depois dos quarenta estava fisicamente tão bem quanto antes estava a mentir. Eu, admirada: 'A mentir?!. E ele: 'Com os dentes todos'. Na altura, bati três vezes na madeira e disse, de fininho, que, por acaso, eu não tinha tido, até ao momento, razões de queixa. Nestas coisas não gosto de me gabar. É aquilo de que não acredito em bruxas mas lá que as há, há. Nunca fiando. A gente gaba-se e, parece que não, parece que atrai. Portanto, mesmo que a gente se sinta bem, deve ir com calma na constatação.

A verdade é que, nessa altura, me sentia toda tão em igual condição ao que sempre me tinha conhecido que nem me dava conta da idade a passar. 

Quer a nível emocional, quer a nível físico sentia-me para as curvas. 

Onde é que os quarentas já lá vão... 

Havia médico na empresa e uma vez por ano havia chek up a sério e, sempre que tinha alguma coisa, constipação, dor de cabeça ou afim, eu descia até ao consultório e a coisa resolvia-se. Dizia-me sempre: Está óptima. E, como eu me sentia óptima, acreditava que estava óptima. Dava-me muito bem com o médico. Acabávamos sempre na risota. De todas as risotas, lembro-me em especial da história da tia que, depois de um AVC, acordou a falar espanhol. Portuguesíssima, sem amigos espanhóis que se lhe conhecessem, ninguém conseguia explicar o fenómeno. A imitação que ele fazia da tia era de ir às lágrimas. Dizia que a tia falava um espanhol fluente e não se espantava com o facto. Quando lhe perguntavam porque é que estava a falar em espanhol ela admirava-se como se fosse essa a sua língua nativa. Veio depois a descobrir-se que, em criança, tinha tido uma ama espanhola.

Mas isto para dizer que me sentia tão medicamente acompanhada que nem me ocorria fazer outro tipo de exames. Até que um dia uma colega apareceu com uns nódulos no seio. Quando eu disse que nunca tinha feito uma mamografia, ela insistiu que eu fosse fazer. E eu própria assimilei que o devia fazer.

Mas fui na maior descontração. Quando me deitei, em tronco nu, para o médico me fazer a ecografia mamária e ele me perguntou se tinha dores nos seios, fiquei admirada: porque pergunta? Ele tinha posto as películas junto à luz. Disse-me: é que tem alguns quistos.

Lembro-me bem. Fiquei siderada. Não fui capaz de dizer nada. Mutismo absoluto. Ele deve ter percebido o estado de pânico em que eu tinha ficado e esclareceu: eu disse quistos, não disse tumores. Perguntei se quistos não era coisa grave. Ele riu-se, disse que não. Quando levei os exames ao ginecologista e perguntei outra vez se os quistos eram pacíficos ele também se riu, disse que grande parte das mulheres os têm. E acrescentou que se os quistos fossem luminosos, as ruas iriam parecer estar com iluminações de natal. 

Como eram interiores, nunca dei por eles. Depois da menopausa parece que sumiram. Até que um levantou suspeitas. Apanhei um grande susto, teve que ser feita uma biópsia. Dolorosa, amedrontadora. Felizmente não era nada de mais. 

Depois foi um joelho. Doía-me. De vez em quando, para aí uma ou duas vezes por ano, inchava. Depois passava, passavam-se meses em que nada tinha. Em especial quando íamos para fora, eu passava os dias inteiros a caminhar pelas ruas, a ver exposições, a ver lojas, a ver a vida nas ruas. Ou, por cá, palmilhávamos cidades, vilas e aldeias. Nada me cansava, nada me doía. Até que, do nada, no ano seguinte, lá me aparecia a dor no joelho. 

O médico disse que o melhor era fazer uma artroscopia. Outros médicos disseram que não viam qualquer razão para isso. Mas, como o ortopedista me disse que aquilo era só fazer três furinhos e que no dia seguinte saía do hospital a andar, até fui na cantiga de que, já que ia ser anestesiada, espreitava era logo para os dois joelhos.

Foi um disparate. Com os dois joelhos intervencionados ao mesmo tempo, a recuperação foi complicada. Quando um mês depois fui de férias para o Algarve e caminhei na areia e andei a nadar e a mergulhar, convencida que estava curada para todo o sempre, o joelho voltou a inchar. Fiquei desiludida a triste. Afinal não deveria ter esforçado pois ainda não estava completamente bem.

E estas coisas começaram a fazer-me perceber que, se calhar, o meu corpo já não estava igual a quando tinha vinte anos.

Este ano foi aquilo do coração. Ainda há dias fiz mais um exame que durou cerca de sete horas. Li o relatório e não percebo bem. Parece-me que nada de mais mas que, se bem interpreto aquilo, qualquer coisa que não sei se é coisa, se é coisita.

Numa das vezes em que queria perceber se havia relação com a vacina (pois aconteceu no dia em que levei a vacina) disseram-me que, só por ter sido no mesmo dia, não se poderia estabelecer a correlação e que poderia ser simplesmente coisa da idade.

Num outro exame, ao ver para ali num exame o que me parecia ser uma irregularidade, outra pessoa disse que era normal pois com a idade o corpo vai-se alterando e que certamente eu não esperaria que o meu corpo estivesse sem quaisquer marcas da idade.

A minha mãe, que já está a aproximar-se dos noventa, tem as mesmas perplexidades. Quando tem alguma dor nas costas ou alguma coiseca, diz com espanto: mas o que é isto? Sempre estive tão bem e agora isto?

Aí sou eu que lhe pergunto se acha que ainda podia ter a coluna igual a quando tinha dezoito anos.

Mas é uma chatice, isto. 

A mim o que me preocupa quando percebo que alguma coisa já não está exactamente igual ao que estava quando eu fazia aqueles despreocupados checkups iniciais é recear que vá de mal a pior, é recear que seja qualquer coisa degenerativa. É que se for só algum desconforto menor e ocasional e que se trave ou controle com caminhadas e comida saudável, está tudo bem. Agora se uma pessoa vai para velha a sério, a sentir-se velha, com achaques, com falta de vontade de se mexer, sem disposição para se rir e mandar tudo o que é preconceito e treta para o quinto dos infernos, aí, sim, deve ser uma seca das valentes.

E é isto o que me apraz dizer sobre a idade a nível físico. Das rugas ou cabelos brancos não vale a pena falar. É secundário, irrelevante.

A nível intelectual e emocional, para já -- e deixa cá bater três vezes na madeira -- so far so good. Pelo menos que eu dê por isso. Às tantas estou toda para aqui toda optimista julgando-me ainda escorreita das ideias e, afinal, os outros já andam a cochichar pelos cantos: 'coitadinha, tão gagá que já está...'

Enfim. 

Resumindo: o importante nisto tudo é gostar de viver, é querer aproveitar o tempo e a vida que temos, é sentirmo-nos agradecidos pelo acaso que fez com que tivéssemos a oportunidade de viver esta aventura. E o resto são trocos.

Bola para a frente.

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Mas nada como dar a palavra a quem a sabe toda: as Avós da Razão

O que mais pega na velhice?


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Desejo-vos um belo sábado
Chova ou faça sol, venha daí um big smile.

quinta-feira, dezembro 17, 2020

A gente não vai para nova

 




Lá está, é aquilo que se diz: a gente não vai para nova. 

Parece -- e é -- um déjà lu mas é a verdade: o meu dia foi carregadinho de cabo a rabo. Quando as máquinas são postas em movimento, chegam a um ponto em que ganham embalagem e não há quem as pare. Portanto, levantei-me cedo e foi de então até agora. Em dias assim é garantido: não me sobra cabeça para tema. Se nem sei a quantas ando e, pelo meio, ainda tenho que arranjar espaço para rever um documento necessário para a faena de amanhã, muito menos sou agora capaz de inventar prosa capaz. Não sou. 

Não sei de novidades e, assim de repente, acho que apenas vi um passarinho. Mas, de tal forma estou, já nem sei se foi hoje, se foi ontem. Sei que choveu. Aliás estou num dilema. Há vasos muito grandes e impossíveis de mover que têm pratos de barro por baixo. Com a chuva, não apenas a terra está ensopada como os pratos estão cheios de água. Não sei se não é água a mais. Mas não sei como resolver isto sem partir o prato. Também saí, mesmo à chuva, para ir apanhar três laranjas que estavam caídas na relva. Estão muito sumarentas, ficam pesadas. Não se dá conta delas. No outro domingo foi o meu filho que levou uma sacada, neste foi a minha filha. Penso sempre que boa ideia mesmo era pôr-me a fazer compotas e geleias. Ou farripas de casca de laranja envoltas em chocolate. Imagino o cheirinho bom que haveria de se espalhar pela casa. Frasquinhos de doce resplandecente de cor e luz. Caixinhas de guloseimas. Mas tudo tem açúcar e se, em tempos, podia comer bolos na maior descontração que tudo se evaporava sem deixar rasto, agora é o contrário, só de aspirar o rasto já eu vou aumentando de peso. Tenho que jejuar de quando em quando para me manter nos eixos, coisa a que, de resto, já me habituei. Até porque o meu jejum é relativo, não é? Um chá, uma fatiazinha de queijo com trufa, uma maçã, um quadradinho de chocolate preto. Coisa simples. Quiçá um ou outro caju e arando misturado na boca com o chocolate. Não me perco.

Mas, então, dizia eu que a gente não vai para nova. Ninguém vai para novo. Que me lembre só mesmo o Benjamin Button. E não tenho ideia que fosse coisa boa. Imagina uma pessoa a perder idade, a perder sagesse, toda se rejuvenescendo a caminho de uma luminosa jeunesse e depois a caminho da childwood  e a ver a coisa a evaporar-se até voltar ao já eras. Ou melhor, ao ainda não és nada. Ninguém está contente com o que tem, essa é que é essa. Idade é sabedoria, é generosidade, paz interior, é paciência para aturar maluco, marado, sei lá. E é. Mas é também coisa chata, e esta de uma pessoa ficar toda cheia de formas só de desejar comer coisa doce é uma delas.

Tirando isso. Pus a mesinha onde me alojo a trabalhar mais junto à janela. Gosto mais assim. Mas acontece que, em frente, está um espelho. Volta e meia não consigo deixar de dar de caras comigo. O que vale é que sou míope. Ainda assim ajeito o cabelo se percebo algum desalinhamento. Mas cabelo desorientado é coisa conjuntural. Pior mesmo é ruga que isso, sim, é estrutural. No outro dia estava em casa da minha mãe e estava a dar uma porcaria e, enquanto atendi um telefonema, ela fez zapping. Foi parar a uma cena em que as mulheres estavam todas alteradas. Quando acabei de falar, indaguei mas que raio de coisa era aquela para as mulheres serem todas beiçudas e mamalhudas. Ela disse que era tudo assim. Parece que era um casadas à primeira vista num país qualquer. Diz a minha mãe, sabes lá, faz-se zapping e só aparece disto, bocas inchadas, bochechas e mamas redondas e insufladas. E eu espantada: mas estas são novas. Pensava que eram só as velhas que se recauchutavam daquela boa maneira. Diz a minha mãe: não, nem penses nisso, novas e velhas. No outro dia, também eu estava eu aqui a fazer zapping e dei com uma que quase que só conheci pela voz. Repuxada, repuxada, mal mexe a boca. Comentavam personagens do BB. Mudei logo porque aquilo estava a ponto de ferir a minha sensibilidade: não se percebia nada do que dizia e, quando a câmara mostrou os outros, foi o anti-climax. Gente estranha. Um mundo estranho.

Agora, enquanto escrevo e antes de ir parar às Terras Extremas, passei pela SIC, pela Arrastadeira Vermelha, e estava uma loura estranhíssima, platinada, ultra-pintada e com uma daquelas bocas que levou mais enchimento que um pneu. E toda ela deve ter sido injectada. Pintada até mais não poder. Não imagino como seja quando acorda, desmaquilhada, despenteada. E como será quando tiver mais vinte ou trinta anos em cima. Fico beige com estas coisas. Não percebo, sinto-me deslocada, incapaz de enfrentar esta realidade macaca, capaz é de ir eremitar-me.

Bem. Isto tudo para dizer que, estando eu para aqui sem cabeça de qualquer espécie, fui zanzando no desinteresse até aportar ao primeiro vídeo que o meu bff algoritmo tinha para me oferecer. Glória Pires e Marcos Frota se emocionam ao relembrarem Mulheres de Areia. Lembrei-me desse nome. Naquela altura as novelas da Globo eram coisa que não se podia perder. E a Glória Pires aparecia muito. Não era muito bonita mas era interessante e boa actriz. Fui no play sem hesitar. E fiquei sem saber como agora descrever. Apanhada de surpresa, talvez, com uma certa pena, também. Estupidez a minha. Não a via há tanto tempo que agora me espantei mas, lá está, espantei por mera desatenção minha. Envelheceu, ela... Mas como não haveria de ter envelhecido se não a via talvez há vinte ou mais anos? Envelheceu mas envelheceu bem. Está grisalha. Está com a pálpebra um pouco caída de lado. Era tão inteira, um cabelo tão bonito, e agora está uma senhora. Numa casa muito bonita, a Glória Pires é agora uma senhora distinta. 

Até não há muito, quem me via não me vendo há muito tempo, exclamava: ah, está na mesma... Mas, se calhar, um dia destes, vou começar a perceber que quando falam de mim dizem que é que estou uma senhora. Caraças é que sou uma senhora. Não tenho vocação para senhora. As senhoras são baças, chatas, datadas. Eu não.

Mas isso era a Glória Pires. Mas depois o Marcos Frota. Pelo nome não estava a ver quem fosse. Havia um que era que era pornô da pesada que era Frota mas esse acho que esse não era Marcos. Quando apareceu aquele velho barbudo ali no vídeo, cabelo branco, não vi quem era. Mas depois, pela voz, tive um lampejo. Quando apareceu em novo fiquei até emocionada, quase tanto quanto ele ao recordar aquele tempo e aquele amor tão grande, tão incondicional.

Gostei de revê-los e, vistas bem as coisas, ainda bem que envelheceram: é sinal que estão vivos e isso é que interessa, olarilas. E dizer isto é um daqueles lugares comuns que não fazem falta nenhum? Ah pois é, bebé. (Agora soa-me bem dizer isto)



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Os gordos do Botero fazem-se acompanhar pelas  MonaLisa Twins com When I'm sixty-four

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Saúde. Sorte. Amor.

quinta-feira, julho 11, 2019

Chris Kläfford para A Kullervo -- Imagine


Gosto de ser surpreendida e, no outro dia, o Leitor A Kullervo surpreendeu-me com um comentário bem interessante. E hoje, ao ver a interpretação do Imagine que abaixo partilho convosco, não pude deixar de pensar nele. 

Não tenho conhecimentos que me permitam fazer comparações, se este cover é melhor que este, aquele ou o outro. Sei apenas que gosto. Mais do que interpretar o Imagine, Chris Kläfford reinterpreta-o e, em meu entender, o Imagine renasce.

A coisa deu-se há menos de um dia e já conta com mais de três milhões de visualizações.



segunda-feira, junho 24, 2019

Velhos não são os que têm muitos anos mas os que não entraram a tempo no comboio dos seus filhos


[daqui]


Ao ler a crónica de Gabriel Garcia Márquez em que fala dos Beatles, 'Sim, a nostalgia continua a ser como dantes', fiquei a pensar que sou uma desnaturada. Por muito que goste de um escritor, de um compositor, de um pintor, de um escultor -- e há tantos de que tanto gosto -- se quiser referir o meu preferido não consigo. Não há nenhum de que consiga dizer de que gosto muito mais do que de muitos outros. Pior: se quiser provar que gosto muito de muitos, começo por bloquear. Parece que não consigo enunciá-los com receio de me esquecer dos mais importantes. Parece que precisaria de um mês inteiro para me ir lembrando, para ir fazendo selecções. E isto parece-me grave: como não ter preferências? Como não ter nomes na ponta da língua?

Claro que gosto dos Beatles. Mas, se quiser escolher qual a música deles que prefiro, assim de repente, nem me lembro. Por facilidade, mero facilitismo, talvez dissesse o Imagine. Mas sei lá se é a que prefiro. Não me lembro é, agora, de uma dúzia delas para as pôr por ordem. E nem sei se a que preferisse seria preferível a algumas de Simon & Garfunkel. Por exemplo, adorava o Bridge over troubled water. E de tantas outras. Ou da Janis Joplin. Adorava. Adorava dançar ao som da Janis, uma loucura. Ou do Bob Dylan. Ou sei lá de quantos mais, tantos.

[daqui]

E porque estou a falar daqueles que me acompanharam quando era menina e moça e não dos que ainda me acompanham, dos que descubro e tanto gosto? Não sei. Se não sou dada a nostalgias, mas é que nem pó, porque é que agora fui atrás da dica e me pus a enunciar gente de quando eu era novinha? Devia era pôr-me para aqui a falar dos de agora, dos que nem ouço na rádio tão desconhecidos ainda devem ser. Mas, lá está, vou dizer um ou dois quando são tantos?

Refere o Gabo aquilo de os melhores músicos serem aqueles cujo nome começa por B. Bach, claro. Beethoven, Brahams, Bartók. Claro. Mas não tenho sequer cabeça para discutir se sim, se não, se os Bs são melhores que os Ms, por exemplo. Li divertida sobre os outros que devem ser arregimentados para o inspirado clube dos Bs. Mas só me lembrei deles depois de ler os seus nomes. Mas, de resto, nem sei se faz sentido ter pódios. Para quê?

E quem diz músicos, diz escritores, diz todos os artistas. E tantas vezes me acontece numa dada fase da minha vida não apreciar um autor e anos decorridos ficar estupefacta com a minha insensibilidade de então.

[daqui]

Por exemplo: uma vez, adolescente, ouvi uma música de um tal Bob Dylan e fiquei surpreendida, referindo-o ao meu namorado da altura. Vai ele, no meu aniversário, ofereceu-me o último LP dele. E disse: 'Eu gosto e resolvi oferecer-te porque percebi que ficaste surpreendida mas não sei se vais gostar'. E pôs a tocar. E, de facto, eu voltei a ficar surpreendida, mas fiquei, outra vez, sem perceber se gostava ou não. Alguns anos depois, fiquei surpreendida foi por, na altura, não conseguir perceber se gostava ou não. E isto tem-me acontecido com tudo, escritores, pintores, escultores, bailarinos.

Agora uma coisa é certa: se por vezes sinto nostalgia de algumas coisas como, por exemplo, de dançar apaixonadamente ao som da Janis, de cantarmos todos em coro o Dia de Domingo com a Gal e o Tim Maia, vários amigos a cantarem a plenos pulmões, ao domingo, em casa do Luís que foi o primeiro a ter esse LP, se recordo com alguma saudade a descoberta de Abelaira, de Rodrigues Miguéis, se tudo isso e muito mais, a verdade é que o meu pensamento está sempre mais desperto é para descobrir gente nova, coisas novas. Mesmo que a 'coisa' nova seja um livro velho de um autor que já não está entre nós, como é o caso deste livro que tenho andado a ler e do qual extraí a expressão que usei para dar o título a este post.



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E escolhi a Eleanor e a Lucy apenas porque Garcia Márquez as refere na crónica acima referida.

Mas poda ter escolhido qualquer outra coisa como, por exemplo, do Devendra Banhart o desconcertante: Für Hildegard von Bingen



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E queiram descer um pouco mais caso queiram saber o que penso da Libra, do CaLibra e todas essas gracinhas do senhor Zuckerberg


segunda-feira, maio 19, 2014

Cafeína, álcool e um pouco de peso a mais podem ser aconselháveis para se viver com qualidade até depois dos 90 anos. Estas são algumas das conclusões do THE 90 + STUDY


No post abaixo, mostro-vos como chegar até uma ferramenta (chamemos-lhe assim, pois, na verdade, é mais um teste), onde, respondendo a um conjunto de questões abrangentes, poderão ver com que partido mais se identificam (claro que isto não entra em linha de conta com conceitos como voto útil, voto de protesto, etc). Enfim, à falta de campanha eleitoral, qualquer coisa serve para nos proporcionar um pensamento um pouco acima da mediocridade doméstica que estes candidatos têm exibido. De caminho, mostro-vos ainda as estatísticas que as votações neste quiz permitem obter, e a respectiva comparação com o que foram as votações efectivas dos eurodeputados. Não sei se é rigoroso mas pode ser que seja. Nem sei se é de grande ajuda mas também pode ser que seja.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.


(Os 64 de há umas décadas são, para aí os 84 de hoje)






Qual de nós não gostaria de ter uma vida longa e feliz? Ou, pelo menos, longa e saudável?

Penso que isso é um desejo comum e, de uma forma ou de outra, todos temos uma certa curiosidade em saber o segredo da longevidade.

O programa 60 minutes mostrou, no outro dia, os resultados de um trabalho científico da responsabilidade da Dr. Claudia Kawas da University of California, Irvine, conduzido durante anos junto de um grupo significativo de pessoas com mais de 90 anos. Chama-se The 90 + Study.


As conclusões, em alguns aspectos, são um pouco inesperadas face a alguns mitos, embora estejam em linha com uma outra pesquisa (esta mais de índole jornalística, creio) de que há anos já tinha tido conhecimento, sobre o segredo da incrível longevidade dos habitantes de algumas zonas do mundo, The Blue Zones.

Claro que a alimentação que deve ser saudável, claro que o tabaco que deve ser suprimido. Claro.

Mas, para além disso, vejamos o que este estudo mostra como mesmo relevante:


  • Ter amigos, manter uma vida social, ter actividades lúdicas ou intelectualmente estimulantes e ler ou falar sobre livros é fundamental. A prática de cada um destes aspectos prolonga a vida e aumenta as perspectivas de que seja uma vida de qualidade.
  • Fazer exercício é fundamental. Deve ser exercício moderado e a duração ideal será à volta de 45 minutos por dia. 
  • A obesidade não ajuda ninguém a chegar aos 90. No entanto, ter peso médio ou mesmo ligeiramente acima da média oferece vantagens. Quando se tem já alguma idade, ser magro não é do melhor que há.
  • Se gosta de uma ou duas bebidas alcoólicas por dia, saiba que isso ajuda a prolongar a sua vida. Pessoas que o fazem têm entre 10 a 15% de viverem mais tempo (e não tem que ser vinho tinto embora o vinho tinto tenha a vantagem dos anti-oxidantes mas, aqui, é mesmo de álcool que se fala, independentemente da bebida em que aparece).
  • O mesmo se pode dizer em relação ao café.
  • Aquilo que em cerca de 40% parece Alzheimer é, de facto, apenas o resultado de pequenos AVCs


Resumindo: para se ter uma vida longa e feliz nada como comer e beber bem (embora sem excessos), fazê-lo de gosto, sem sentimentos de culpa, curtir a vida, andar ao ar livre, conviver, puxar pela cabeça, e pôr o coração ao largo. 






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Já agora um vídeo sobre o que acima referi, a longevidade em zonas em que as pessoas vivem para além do normal, as chamadas Blue Zones.





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Relembro: descendo até ao post seguinte, poderão ver como fazer um teste que vos poderá ajudar a perceber qual o partido que melhor representa a vossa opinião. Ou poderá levantar questões que desconheçam, levando-vos a tentar saber um pouco mais sobre isso. 

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E, por agora, fico-me por aqui. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda feira. 
Saúde e bons momentos é o que vos desejo.

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quinta-feira, julho 18, 2013

Já que o Cavaco resolveu estragar o verão às cagarras e aos portugueses em geral, venho também fazer alguns apelos à união nacional, à salvação das almas e aos acordos selados com beijo de língua. Vivam os grandes negociadores que vão salvar Portugal! Vivam!!!!


Não tenho visto as notícias. Quando, aqui no quarto, se liga a televisão e aparecem debates ou comentários sobre a crise, sobre a negociação e mais não sei o quê, o meu marido desliga a televisão ou muda de canal e eu já estou como o outro: não tenho força anímica para lhe fazer frente.

Aliás, acho que uma cena destas no pino do verão é cá um disparate... Aquele Cavaco não devia era ter ido mais cedo para as Selvagens e estado um mês inteiro lá no meio das cagarras, em vez de aparecer com esta agora do acordo? É como quando lá no trabalho, estando eu já sem paciência nenhuma para coisas complicadas, me aparecem pedidos de reuniões, coisas para resolver. Só me apetece dizer para me deixarem em paz, que façam o que quiserem. Gente chata, credo.

Este Cavaco não tem mesmo savoir faire nenhum: é lá altura para andar a lançar uma coisa destas? E a propósito: já se percebeu sobre o que é que é suposto chegarem a acordo?

Numa semana, será que PS, PSD e CDS vão conseguir fazer a quadratura do círculo e porem-se de acordo sobre questões estruturantes? Se o PSD continuar a querer o que tem querido até aqui (que é sacar o dinheiro todo aos contribuintes para pagar juros agiotas, reduzir pensões e direitos e cortar ordenados para que, quem compre as empresas portuguesas, o faça a preço de uva mijona, com os trabalhadores à mercê de qualquer esmola e com medo de piarem pois saberão que o pio lhes pode ser fatal), se o CDS se mantiver como até aqui (com uma perna a empernar com o PSD e, com a outra, encostada à parede, de mini-saia, a ver se atrai o eleitorado descontente), como será possível fazerem algum acordo com o PS?

A menos que, numa de Paulo Portas, todos virem as casacas, e dêem o dito por não dito... Já não me admirava nada.

Não tenho fé nenhuma nestas coisas instantâneas, artificiais. Li agora na net que até há um manifesto assinado por individualidades a pedir que os partidos cheguem a acordo. 

Está certo que pedir não custa. Pelo que vejo, de repente, toda a gente esqueceu as trapalhadas que aquela seita para aí andou a fazer e, como se não os conhecesse de lado nenhum, acreditando na regenaração a la minute das almas, se focou nisto: queremos acordo! queremos acordo! 


Passos Coelho e Paulo Portas, os fofinhos que nos calharam na rifa:
ora dá cá um
 e depois mais outro,
dá mais um beijinho
que só dois é pouco


Toda a gente a pedir o acordo até faz lembrar aquela coisa: Beija! beija! beija!

E, portanto, como agora o que parece ser politicamente correcto é ser acriticamente ferveroso do dito acordo, junto-me à festa e formulo também os meus votos: que, de repente, todos os burros se ponham inteligentes, que todos os palermas fiquem idóneos, todos os frouxos virem líderes, que todos os vendidos se tornem impolutos. 

Não era tão bom? Gostava mesmo que isso acontecesse. Vamos lá todos torcer... 

E, quiçá, até, assinar um manifesto. 

[música, por favor)




Que todos se dêem as mãos, que todos se beijem na boca. 

All we need is love.

  • Que o Portas beije a Maria Luís, 
  • que o Poiares beije o Lombinha (ah, não, que isso já ele faz todos os dias, deixem-me pedir uma mais improvável: que o coisinho maduro beije a Fernanda Câncio), 
  • que o Carlos Moedas beije o José Lello,
  • e que a Tegy Caeiro beije o Marques Mendes,
  • que o Cavaco beije o Liberato (ah, não, enganei-me outra vez, que esse já ele pega ao colo e senta nos joelhos todos os dias, tem que ser outro: que o Cavaco beije a Teodora Cardoso, em representação do Carlos Costa do Banco de Portugal). 

Nuns casos pode ser beijo de língua, noutros aconselho algum recato (por exemplo, no que se refere à Tegy - com os gostos do marido por ir à caça e às touradas, nunca se sabe o que ele seria capaz de fazer ao Professor Karamba Mendes, caso a mulher se aventurasse pela boca do Ganda Nóia).

Já agora, se basta pedir, também gostava que a água do mar amanhã estivesse mais quentinha. Não é que esta quarta feira tenha estado fria mas devia subir uns grauzitos para ver se me custa menos entrar.

Ah, e mais: meu querido pai Natal, gostava ainda de mais uma coisa: que apesar de andar a comer tanto e até tantos doces (agora são os docinhos de figos e alfarrobas, uma tentação - e o risotto ai quattro formaggi do jantar também não ajudou nada) que não engorde muito. 



Bem, é que se continuo a comer sardinhas assadas como se não houvesse amanhã,
caldeirada à algarvia, pizza de salmão alimado, risotto e outros petiscos
 e a rematá-los com doces, não tarda estou mesmo assim, ai estou, estou...


Por isso, meu querido Pai Natal, se já se podem fazer pedidos ao longo de todo o ano, não se esqueça de atender também os meus, está bem?

E por aqui me fico que o meu marido voltou a barafustar: 'É pá, isto assim não pode ser'. O que vale é que deu meia volta e parece que já está a dormir outra vez. Mas eu também estou quase a dormir... Nem vou reler pelo que, por favor, relevem as trocas de letras e outros acidentes...

*

Desejo-vos uma bela quinta feira! 

Beijinhos e abraços!

domingo, fevereiro 10, 2013

De manhã um blackbird no Ginjal disse-me que se colhesse uma rosa albardeira ela morria; depois, à tarde, vi um inocente cordeiro, luminoso como se fosse imortal - da beira do rio para o campo in heaven na companhia de Ruy Belo (antevendo um belo portugal futuro)




O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível




e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe de infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável





Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que chamarem
portugal será e lá serei feliz




Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz





À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira mar
pode o tempo mudar será verão




Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro


*

O poema tem como título 'O Portugal futuro' e é de Ruy Belo. Faz parte do livro 'Homem de Palavra(s)' mas, para aqui, retirei-o do último número da Revista Ler. 

*

Tenham, meus Caros Leitores, um belo, belo domingo.