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segunda-feira, abril 20, 2015

Umberto Eco rodeado de livros, signos e segredos








Rodeia-o a sua biblioteca. Está toda aqui.

Sobretudo aqui – perto de 30 mil volumes – mas também na minha casa de campo. E no meu escritório na universidade e num pequeno apartamento em Paris… Todos juntos devem ser à volta de 50 mil. (…)

Há por aí muita gente estúpida que quando entra no meu apartamento exclama: ‘Oh, tantos livros! Leu-os todos?'


O que responde?

Há três respostas. A primeira é: ‘Li muitos mais’. A segunda é: ‘Não li nenhum, senão porque os guardaria?’. E a terceira é: ‘Não, mas tenho de os ler na próxima semana’. Uma biblioteca não é um repositório dos livros que já lemos. É também o lugar onde guardamos os livros que iremos ler.


Então, tem a ver com o futuro?

Tem a ver com o futuro. Uma biblioteca é um mistério. Há livros que nunca tínhamos lido e um dia dizemos: ‘Deveria lê-lo’. E quando o abrimos percebemos que sabemos tudo sobre ele. O que aconteceu? Existe uma explicação mágica segundo a qual, ao tocarmos um livro, o espírito de todos os livros viaja para a nossa mente. Outra explicação é: pensávamos que não o tínhamos lido, mas ao longo de 30 anos fomo-lo abrindo e lendo partes dele. Existe ainda outra: pelo meio, acabámos por ler imensos livros que falam desse livro. É uma das surpresas que a biblioteca pode reservar. No meu caso, tenho muito boa memória. Sei onde está cada livro, mas se alguém da família encontrar um que deixei num determinado sítio e o mudar de lugar é uma tragédia. Perco-o para sempre.

(...)


Porque tem tantos livros sobre ocultismo?

Sou fascinado por eles, mais do que por livros 'sérios'. Peguemos num autor como Athanasius Kircher, um jesuíta do século XVII que escreveu imensos livros sobre todos os assuntos. À excepção do primeiro, muito difícil de encontrar, tenho-os todos. São livros maravilhosamente ilustrados, porque falam de coisas que o autor nunca viu e teve de inventar. As mentiras são mais fascinantes do que a verdade. A 'Ilíada' é mais atraente do que uma reportagem no Iraque. Não é por acaso que me dediquei à semiótica, a teoria e filosofia dos signos. O que torna os signos interessantes não é servirem para dizer a verdade, mas poderem ser usados para mentir ou falar de coisas que nunca vimos. Uma linguagem revela a sua importância quando é usada para referir coisas que não estão lá. Na minha colecção não vai encontrar Galileu, mas sim Ptolomeu, porque estava errado.

(...)

'A harmonia não está na extensão do fôlego, mas na regularidade com que se respira'. Num texto o ritmo é essencial?

Respirar é essencial. Ler o texto, lê-lo em voz alta, muitas vezes, para controlar o ritmo. O ritmo muda de livro para livro. Os meus romances anteriores, de 500 páginas, são como sinfonias de Mahler, enquanto este último, 'Número Zero', é como o jazz. Por vezes digo aos meus tradutores: 'Estás a explicar demasiado e a perder o ritmo'.

(...)


[Excertos de uma entrevista de Luciana Leiderfarb a Umberto Eco, publicada na revista E do Expresso de sábado passado]

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Já agora,

Signs & Secrets: The Worlds of Umberto Eco



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Para quem consiga tempo:

The Library as a Model for Culture: Preserving, Filtering, Deleting & Recovering


 This is a lecture by renowned Italian author and scholar Umberto Eco, which he delivered at the Yale University Art Gallery on Friday, Oct. 18, 2013.




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A música lá é Pure & Simple - John Taylor

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Permitam que vos convide a descer até ao post a seguir para verem como as flores e as árvores estão em festa in heaven. 

Mais abaixo ainda mostro alguns rostos das ruas de Lisboa. Tudo ao som de Sara Serpa.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira. 
E que estes dias sejam dias de paz, harmonia, afecto. 
E saúde (e dinheiro para os trocos, claro).

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segunda-feira, novembro 25, 2013

Escrever, pintar, sonhar, trabalhar. A palavra aos artistas. Amoz Oz em entrevista a Luciana Leiderfarb e Helena Almeida em entrevista a Clara Ferreira Alves. No Actual do Expresso.


Amoz Oz

Quando percebeu que queria ser escritor?

Muito cedo.
Mesmo quando não tinha a certeza de querer sê-lo,
passava o tempo a contar histórias.
Aos 5 anos já inventava histórias de detectives e de ficção científica
para os meus amigos e para impressionar as raparigas.
Eu não era um rapaz bonito,
não era bom nos desportos nem era brilhante na escola.
A única forma de impressioná-las era a contar histórias,
o que faço ainda hoje.

(Nota minha:
podia não ser muito bonito aos 5 anos mas, aos 74, é um gato).
As suas motivações para escrever devem ter mudado com os anos.

Tornei-me cada vez mais curioso sobre a natureza humana, sobre as pessoas. penso que a minha urgência de escrever tem a ver, sobretudo, com a curiosidade. A curiosidade é uma virtude moral. Uma pessoa curiosa é melhor pessoa, melhor vizinho, melhor pai, até melhor amante do que alguém que o não é.

(...) para um escritor, o centro do universo é onde vivemos. Não é preciso conhecer o mundo, é preciso olhar para as pessoas que nos rodeiam.


Toda a história pessoal tem um lado universal.

O mundo está cheio de histórias. Ainda hoje, se tiver que esperar numa clínica ou num aeroporto, não leio os tablóides, ouço as conversas dos outros. Observo as expressões, as roupas, os sapatos - os sapatos contam sempre muitas histórias. tento adivinhar quem são, de onde vêm, que tipo de vida vivem...


[Entrevista de Luciana Leiderfarb a Amos Oz no Actual do Expresso de 23 de Novembro de 2013.]


*


Helena Almeida parece-me por vezes um pássaro,
um desses pássaros raros que esvoaçam e logo desaparecem,
dotados da velocidade das coisas precárias.

Olho para ela e vejo uma mulher bonita.
em jovem, tinha uma cara belíssima, fortíssima.
O problema é que anda tudo a dormir. As pessoas nunca dizem o que pensam. Ou então estão mortos e não sabem que estão mortos. (...) Nunca há escândalo.

O meu mundo é outro, preciso de estar sozinha, a desenhar, e é o que me dá prazer. Fazer o que quero, ser livre, não ter gente à volta. Ter a cabeça livre. 


Ao mundo exterior vai buscar tudo o que lhe interessa, e interessa-lhe tudo. `


Às vezes, é uma pessoa que passa e diz uma frase. Por exemplo, 'Banhada em Lágrimas' eram duas mulheres que iam a falar: 'Ela anda banhada em lágrimas'. Ficou-me a trabalhar. Pode ser uma coisa vulgar, um vestido, uma pessoa, uma sombra nos objectos do meu ateliê... E por ali vai o resto'


Admiro e tenho muito respeito pelos artistas, é um trabalho muito difícil.
Mesmo os que não são bons, respeito.
É uma profissão muito solitária. É preciso paciência.
Para mim, tem sido uma bênção. Mas não se pode esperar recompensa.


[Excertos da excelente entrevista de Clara Ferreira Alves a Helena Almeida também no Actual do Expresso a pretexto da exposição 'Andar, Abraçar'. Em boa hora o Expresso vem voltando a dar mais palco a Clara Ferreira Alves, uma grande jornalista.] 


*

Se deslizarem até ao post seguinte, poderão saber o que David Nunes, congressista nos EUA, e Pedro Marques Lopes, no DN, pensam das privatizações levadas a cabo por Passos Coelho, esse modelo de patriotismo de faz de conta. 

Descendo ainda um pouco mais, conto-vos sobre o filme que fui ver este domingo: Malavita. A não perder.

E ainda vos convidar a virem visitar o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Por lá hoje tenho o violista Benjamin Schmid a interpretar Bach (ou jazz?). E a Maria do Rosário Pedreira aparece para me levar a confessar a minha solidão revoltada.

*

E, por hoje, já chega. 
Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.