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terça-feira, novembro 19, 2019

A autofobia ou o medo da solidão: o novo mal do século?




Cedo começámos a fazer festas que incluiam sessões dançantes. Formou-se um grupo que durante anos se manteve unido e, por uns motivos ou por outros, o que interessava era que houvesse pretexto para dançar. Vários rapazes vieram a dar engenheiros e, talvez por vocação, desde miúdos, havia iluminação especial e instalação sonora a acompanhar a selecção musical. Coisa a preceito. Alguns de nós morávamos em moradias que tinham garagens, outros em grandes andares nos quais parte da casa era transformada em discoteca.

Havia um, franzino, apagado, que era muito atilado, filho de figura institucional da cidade, homem distante e austero, e de uma mãe também muito senhora, pais mais velhos do que a maioria dos pais, que viviam numa moradia antiga, solarenga. Contudo, na mais pura contradição dos termos, não apenas arranjou uma namorada mais alta, mais forte e muito mais desempoeirada que ele como organizava as mais desopilantes festas. Em casa da namorada dele, minha grande e divertida amiga, filha muito mais nova de três irmãos, as festas também era à solta. Se a mãe dele ainda aparecia para nos receber e cuidava de arranjar belos lanchinhos para os amigos do filho, aos pais dela nunca conheci. Conhecia os irmãos mas os pais não estavam nem aí. Foi através dela que vieram os primeiros ensinamentos sexuais, os quais ela colhia junto de irmãos e primos.

Outra era a minha melhor amiga. Eram também três irmãos e vários primos. O pai era um bon vivant e a mãe, triste pelo comportamento do marido e cansada pela agitação da miudeza, também se refugiava na sua marquise ensolarada ou numa estufa que havia no jardim e deixava-nos na maior largueza.

Portanto, quase todos os fins de semana havia festa. A partir do que hoje é o décimo ano passámos também a ter os convívios no liceu, supostamente para angariarmos dinheiro para a excursão de finalistas. 


Entre nós, havia vários casais. Eu estava apaixonada por um enfant terrible e ele por mim mas, já o disse várias vezes, éramos tão temperamentais que grande parte do tempo estávamos arreliados, eu a fazer-lhe ciúmes como vingança por achar que ele não me cortejava o suficiente, ele zangado comigo por eu supostamente andar a dar atenção ou a achar graça a outros. Mas, seja como for, éramos empolgados namorados, e de tal forma que nos chamavam o Romeu e a Julieta. A seguir chegou outro que cantava e fazia poemas para mim, deixando o legítimo desvairado. E, entre um e outro, eu não tinha mãos a medir -- emocionalmente falando, claro. Mas isto para dizer que, durante as festas, eu tinha sempre par para dançar. Claro que dançávamos em grupo e sozinhos mas o grande apelo era dançarmos a par, slowzinhos bons, abraçadinhos, a sentirmos como o nosso corpo tinha vontade própria. E mal a música começava, logo um ou outro me vinha buscar para dançar.

Eram outros tempos. Hoje já nada disto faz sentido. Mas, na altura, apesar da nossa liberdade e de estarmos ali por nossa conta, havia o costume de serem os rapazes a irem 'buscar' as raparigas. E havia geralmente duas ou três raparigas que ficavam para o fim. A mim custava-me muito isso. Muitas vezes, estávamos todos a dançar e elas ali sentadas ou encostadas e uns dois ou três rapazes, feitos mongas, de roda da música ou das luzes ou a arranjarem desculpa para não as irem buscar. Doía-me ver como elas ficavam a disfarçar, tentando fingir que não se importavam. Muitas vezes eu pegava naqueles panhonhas e ia eu levá-los até elas. Tirava-me a alegria olhar para elas e pensar que deveriam sentir-se peças sobrantes. Naqueles dias de zanga entre mim e o meu grande e tumultuoso amor, acontecia ele estar amuado e não me vir buscar; e os outros, sem saberem se o campo estava livre, hesitavam e eu, por breves momentos, sentia o que seria a sensação de ficar a sobrar. Nunca sobrava pois, na perspectiva de algum outro se antecipar, ele chegava-se à frente e, se esperava demais, era eu que tomava a dianteira e desafiava algum outro.


No entanto, apesar de ter sido grande namoradeira e de ter sempre um belo grupo de amigos, nunca prescindi do meu tempo. Mesmo nesses tempos de grande euforia adolescente, à noite, depois de estar com os meus pais na sala a vermos televisão, eu ia para o meu quarto e lia até tarde. Precisava de estar sozinha. Sempre precisei de silêncio, sossego, tempo meu, alguma solidão. Mas era solidão voluntária e isso faz toda a diferença.

Uma outra recordação: não gosto de tomar refeições fora sozinha. Lembro-me de quando andava na faculdade. O primeiro ano foi uma seca. Gente marrona, pouco dada a festas, a distrações. Uma tremenda desilusão, aqueles primeiros meses na faculdade. Andando o meu namorado noutra faculdade, quando não conseguia almoçar  comigo -- e não tendo eu ainda arranjado amigos novos -- quando ia almoçar na cantina, acontecia-me estar sozinha. Detestava. Felizmente havia sempre alguém que se juntava e eu acabava sempre por ter companhia. Aliás, foi assim que arranjei um grande amigo, alguém que vinha de um outro mundo, que me trazia vivências para mim totalmente desconhecidas. Passava horas à conversa com ele. Horas. Ouvia-o fascinada. Vivia numa residência, tinha muito pouco dinheiro, pouca roupa e nitidamente roupa pobre, os pais tinham uma pequena mercearia no interior do país, tinha uma irmãzinha pequena de quem gostava imenso e a quem comprava presentinhos para levar quando ia a casa de visita. Emocionava-se quando falava da menina. Tinha uma fotografia dela na carteira, uma menina loura como ele e, como ele, com aquele ar saudável da província. E depois havia aqueles estudantes africanos, negros retintos, com corpos extraordinários, e que tinham uma simpatia desconcertante por mim. E eu achava-lhes graça, achava graça ao que eles gostavam do meu cabelo, achava graça à sua inocência ao virem oferecer-me iogurtes como se fossem presentes valiosos. Por isso, por um ou outro motivo, eu acabava sempre rodeada de gente divertida ou curiosa, a ouvir histórias que me pareciam exóticas.


Mas via pessoas solitárias, sozinhas, a olharem para o vazio. Se por vezes tentava aproximar-me, notava que eram pessoas que tinham alguma dificuldade em interagir. Não me parecia que gostassem simplesmente de estar sozinhas mas, pelo menos parecia-me, não sabiam bem como interagir, faltava-lhes naturalidade. Ficava com a sensação que sentiam alguma timidez, algum embaraço por não terem companhia, mas conviver não era natural para elas.

E assim, por um ou outro motivo, sempre havia pessoas desirmanadas, sozinhas, ar vagamente perdido.

Hoje tudo isto seria impossível: ou porque já não é assim que funciona ou porque todos os instantes são preenchidos com o telemóvel ou com o tablet ou computador. Em qualquer circunstância em que alguém está sozinho, salvo raras excepções, está a ver ou a interagir com um destes dispositivos. Será o horror ao vazio, à solidão, será a necessidade absoluta e permanente de parecer acompanhado, a interagir com 'amigos'. Estar simplesmente a olhar para ontem é coisa que já não existe. 


Mesmo em reuniões, tenho colegas que estão com o computador ligado e sempre a verem qualquer coisa, a escreverem. Dir-se-ia que têm assuntos urgentes a tratar, dir-se-ia que gostam de passar a imagem de alguém a quem os outros ou as circunstâncias não dão tréguas. Mas, sempre que vejo o que fazem, constato que estão simplesmente a manter-se ocupados com tretas que poderiam esperar: ou mails banais ou notícias.

Mesmo em sociedade ou em família o que não faltam são pessoas que, a meio do convívio, estão a ver o que outros postam no facebook ou no instagram, colocando comentários ou smiles. Parece que há a obsessão pela conexão, pelo preenchimento total de cada instante. Na paragem de autocarro, na mesa do restaurante, na sala de espera, na fila de supermercado, mesmo enquanto andam, são raras as pessoas que não estão a ver o telemóvel. No outro dia, alguém estava com ar muito compenetrado, muito atarefado. Quando vi que estava a fazer um jogo de cartas, fiquei estupefacta. Dá ideia que ninguém quer ser apanhado em flagrante delito de solidão


E se hoje estou a recordar cenas minhas ou a referir estes temas é porque li um artigo que achei interessante e cuja leitura recomendo a quem consiga entender-se com a língua francesa. 

(...) ce serait «pour ne pas entendre. Ne pas entendre le vertige qui nous saisit lorsque l’on pense ! Ne pas être seul, c’est ne pas avoir à négocier avec nos peurs, notre culpabilité et notre responsabilité. La solitude impose une posture de lucidité, la lumière crue. Ne dit-on pas "Ne reste pas seul" dans une période délicate ? Être seul est une épreuve métaphysique. Or, nous vivons une période si angoissante que beaucoup ne peuvent plus supporter cette épreuve. Et puis, la solitude n’est pas très instagrammable ! Sauf si on ajoute un plaid, un livre, un chat et un thé chaud !» (...)

São os tempos que vivemos. Vivermos sem internet disponível em todo o lado já nos pareceria coisa  insuportável, própria de desertos e inóspitas lonjuras, ou, então, hábito dos ctónicos, esses seres misteriosos dos quais descendo e que só hoje fiquei a saber que têm este intrigante nome.

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Cá para mim as fotografias que aqui hoje coloquei não têm muito que ver com isto mas também não sei porque haveriam de ter. São da autoria de Terry O'Neill e grande parte delas obtive-as no The Guardian. E vêm ao som do violoncelo de Yo-Yo Ma e da voz de Alison Krauss que tentam aqui introduzir o tema do Natal que, parecendo que não, já por aí anda nas iluminações, nas montras e por todos esses novos lugares de culto. 

Era para ter optado pela Janis Joplin que, para sempre, associarei a essas dias iniciáticos da minha adolescência mas depois reconsiderei: afinal o tema deste post não é sobre essas eternas tardes dançantes mas, sim, sobre um dos grandes males dos tempos presentes, o pavor da solidão -- e, vá lá saber porquê, apeteceu-me condimentar as minhas palavras com um cheirinho a natal.

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E a si, a si em especial, desejo uma feliz terça-feira. 

sexta-feira, julho 06, 2018

Aquelas belas italianas





Quando eu era menina e moça, jovem púbere, no liceu tínhamos que usar bata. Uma bata branca de um feitio pré-definido. Uma coisa que hoje me parece estranhíssima. Mas era assim. Os rapazes não, só as raparigas. À distância, tudo naquela altura me parece aberrante. E, tirando nós mesmos, tudo era mesmo aberrante. 

Por essa altura, eu andava perdida de amores por um colega que também se perdia de amores por mim. Mas, como todos os grandes amores entre gente pequena, a coisa, ao princípio, não era completamente explícita.


Eu tinha uma grande amiga que eu achava muito bonita, de quem gostava muito e de quem era inseparável. Mas, de vez em quando, tinha ciúmes dela. Parecia-e quase impossível que ele não se sentisse atrído por ela. Aparentemente não tinha mas eu, se calhava vê-los juntos, logo sentia aquela pontada (que, diga-se em abono da verdade, foi o máximo que, desde que me conheço, consegui a nível de ciúme). Uma vez zanguei-me com ele (o que acontecia frequentemente) e ele em vez de sair do liceu comigo, saíu com ela. Fiquei roída. Uma afronta sem perdão. No entanto, não deixei de gostar menos dela porque sempre achei que ela não tinha culpa de ser tão bonita. A minha fúria era com ele. No dia seguinte vinguei-me dele, fiz-lhe toda a espécie de ciúmes. Para ele não ser parvo. Mas, à tarde, já eu estava arrependida de ser eu tão parva porque na véspera a culpada tinha sido eu e nada justificava que persistisse, agora fazendo-lhe ciúmes escusados. Então, toda humilide, arranjei maneira de lhe dizer que, gira como ela era, compreendia que ele se interessasse por ela. Olhou para mim admirado como se tal coisa nunca lhe tivesse passado pela cabeça. Disse-me que a ela lhe faltava qualquer coisa, que andava com os braços colados ao corpo, que não levantava a cabeça, que parecia que lhe faltava vida. Fiquei espantada com isso. Nunca tinha reparado em tal coisa. Achava que uma cara bonita e um corpo bem feito bastavam para que um rapaz achasse piada a uma rapariga. Mas ele disse-me, com sentimento, que gostava era de mim. E eu perdoei-lhe tudo, mesmo aquilo que ele não tinha feito. 

Por essa altura, o meu corpo já estava a ganhar formas. Eu não estava segura de que o meu corpo fosse bonito. Pelo contrário, achava o corpo dessa minha amiga muito mais elegante que o meu. Toda ela era mais longilínea e isso parecia-me a perfeição. Isso e o cabelo. O cabelo dela era fininho, liso, esvoaçava quando lhe dava o vendo, parecia seda. O meu era uma juba revolta. A minha mãe dizia que não fosse parva, que tomara ela ter o cabeço farto e forte que eu tinha mas isso não me convencia nem fazia diminuir a admiração que eu tinha por aquele cabelo sempre penteado, sempre com ar elegante. Mas o corpo. Os meus seios cresciam, as minhas ancas arredondavam-se. A minha bata ficava justa. Uma vez eu queixava-me, que a bata estava a ficar-me apertada, que parece que ficava melhor às outras do que a mim, que detestava ver-me de bata. E, então, ele disse uma coisa surpreendente: 'Eu gosto. És tipo viola'. Fiquei sem perceber mas não pareceu grande elogio. 'Tipo viola? O que é isso?'. E ele, jovenzinho adolescente, fez um ar meio tímido e com as mãos fez aquele movimento de um homem a contornar as curvas de uma mulher. Foi a primeira vez que vi aquele gesto. Não percebi bem a lógica e a beleza da coisa mas passei a aceitar melhor as minhas curvas e intuí que ele estava a ficar um homem.


Entretanto, comecei a prestar mais atenção à forma como o meu pai, os meus tios e amigos falavam das estrelas italianas da altura. Uma vez mais, eu olhava as fotografias delas nas revistas e não achava pingo de piada. Pareciam-me matrafonas, formas exuberantes demais, feições marcadas demais, maquilhagem a mais, tudo exagerado. Lembro-me de achar a Sofia Loren horrível, uma boca que não acabava. À Monica Vitti achava-a eu horrível, uma cara estranha. Achava a Claudia Cardinale bonitinha mas vulgar. A Gina Lollobrigida parecia-me uma mulherzinha baixinha, corpinho ridículo de tanta curva e contra-curva, com os seios estupidamente espevitados. Sobre a Alida Valli ouvia eu sempre falar com uma admiração especial, como se fosse alguém num patamar à parte. Eu olhava e não percebia qual a diferença entre ela e qualquer outra mulher bonita que se visse na rua.


Só já bem mais tarde, eu já mulher feita, vendo a Monica Belucci, comecei a perceber o conceito. Sobretudo é a sensualidade que transpira das mulheres italianas, cheias de curvas, vibrantes, de bem com o seu corpo e com Eros.


Mas, naquela minha tenra idade, para mim beleza era a Françoise Hardy, a Brigitte Bardot, essas que, a meus olhos tinham um ar moderno, natural, descarado, pouco convencional. Nada como aquelas outras italianas, muito mulherzinhas, todas anquinhas, todas muito penteadinhas.


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Moral da história

O que se passa é que o que a gente vê é função dos olhos com que a gente vê. E e capacidade de visão dos nossos olhos varia com a idade, com o ambiente, com tudo. Hoje olho aquelas belas italianas e acho-as fenomenais. E custa-me até a perceber como até não há muito tempo eu não via isso. Mas é a vida. Acho que vamos percebendo melhor as coisas.

E esta conversa toda só porque estava, na preguiça, aqui a passar os olhos pela Vogue francesa e dei com um espaço dedicado às Les plus belles actrices italiennes de tous les temps. E, vendo-as, lembrei-me do que vos acabo de contar.

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E, para terminar, um striptease: aquela tal que eu achava horrível despe-se para um encabulado Mastroianni


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E, agora, para os que calhem estar interessados no meu umbigo, um convite: queiram descer um pouco mais. Fica aqui um pouco mais abaixo.

quinta-feira, setembro 01, 2016

O cinema e o topless
- ou quando o cinema (e a sociedade) não era moralista e os seios das mulheres não eram maldição a evitar


 Brigitte Bardot e Jane Birkin no filme Don Juan 73 ou si Don Juan était une femme, 1973





Se já soube que havia um Dia do Topless esqueci-me. Pois se nem o dia da mãe eu tenho de memória quando é, fará isto, o dia do topless. Mas parece que há e que já foi.


Leio um artigo e gosto do que leio: por estética, transgressão ou desinibição as mulheres descobrem os seios, em especial no cinema.

Sofia Loren em La Traite des Blanches, 1952
(naõ sei o nome original ou, se passou cá, qual a tradução)

Mas cada vez se vê menos pois as redes sociais parece que vieram para estimular o lado mais populista e primário dos seus aderentes que, sendo aos milhões, se tornam efectivamente numa imensa mole, informe, de moralismo e força de pressão.

Aqui no Algarve, por onde ando, é raro ver alguma mulher em topless, muito menos a fazer nudismo. Circulo por estes dias entre gente que notoriamente não tem nada a ver com os alternativos de Sagres ou o com o de tudo um pouco de Lagos. Aí o topless não é raridade e, em alguns recantos de algumas praias mais solitárias, também se podem ver, com toda a naturalidade, pessoas nuas. Parece-me ser tão normal que uma mulher desnude os seios que aqui me espanto com a sua ausência.

Charlotte Rampling no filme Portier de Nuit, 1974.

Nas televisões - e ainda no outro dia mostrei como a estupidez americana já vai ao ponto de desfocar ou tapar a imagem de seios em obras de arte, mesmo em obras abstractas - já é raro vê-los de forma natural. Por outro lado, por cá - em alguns canais de cabo - passam filmes que são pura pornografia. 

Pois bem, é quase com alívio que, circulando por uma revista online dou com uma homenagem a alguns chamados filmes de culto no qual as mulheres mostraram, orgulhosas, os seus seios.

O dia do topless já foi no dia 28 de Agosto mas penso que os meus Leitores relevarão o meu atraso já que isto das férias me traz alguma indolência suplementar.

Poderão ver toda a escolha aqui mas, para que conste, cá estão cinco magníficas portadoras de cinéfilos seios. A preto e branco, que sempre têm mais patine,

Monica Bellucci no filme Malena, 2000.
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Algum de vocês, meus Caros Leitores, se sente chocado com estas imagens?

Se se sente, lamento (que se sinta).

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quinta-feira, março 03, 2016

Gainsbourg, ou como um homem muito feio e muito desregrado atraiu várias mulheres muito belas


Vou repetir-me outra vez mas, desta vez, para disfarçar, parafraseio Vinicius: os muito feios que me perdoem mas beleza é fundamental. 

Até hoje, que me lembre, nunca nenhum homem muito feio me atraíu. Acho que a fealdade distrai e eu acho que, nos homens, nada deve distrair a atenção da sua essência. Por exemplo, se vejo um homem todo aperaltado, fatinho à maneira, imaginemos cinzento escuro, boa gravata, nó bem dado, camisa a propósito, digamos que branca, e, de repente, reparo nos sapatos e vejo uns sapatos bons, bem tratados, em castanho, como é de bom tom entre os queques, então logo são os sapatos que captam a minha atenção e dou por mim a pensar, olha, um cagãozinho, e, vá lá saber porquê, parece que já nada do que o pobre faça ou diga fará mudar a minha opinião: um pipi armado em carapau de corrida. E sou assim com tudo. Horrível, isto. Sempre fui assim. As minhas amigas diziam: diz onde é o teu caixote do lixo. E estavam certas: muito homem capaz foi, directinho, para o meu caixote do lixo. E o drama é que, por muito que faça, dificilmente de lá sai.

E, se isto é com sapatos ou uma camisa disparatada ou relógio amaricado ou coisa do género, imagine-se o que é com uma cara de meter medo ou um corpinho mal jeitoso. E não vale a pena virem dizer-me que ninguém tem culpa e que ser feio não é problema. Sei disso. Aliás dou-me lindamente com toda a espécie de camafeus. O que digo é que, numa perspectiva de atracção sexual ou amorosa, digamos, comigo não dá. 

Mas os muito feios que não se entristeçam: é que, se eu sou de má boca - para mim só filet mignon - o que não falta são mulheres que parece que, quanto mais feios, melhor.


(La Decadanse: muito dancei eu ao som disto)


Fez esta terça-feira, dia 2 de Março, 25 anos que Serge Gainsbourg (nascido Lucien Ginsburg) se foi. Tinha 62 anos e uma vida preenchida, transbordante. Escandaloso, polémico, excessivo, foi também uma pessoa extremamente talentosa. Compôs cerca de 550 canções e os sucessos foram inúmeros, tal como inúmeros têm sido os covers a partir dos seus originais.


E feio. Feio, feio todos os dias, e um corpinho franzino, sem história, todo ele mal amanhado. E, contudo, como acontece a tantos homens assim, com uma fenomenal saída junto das mulheres. Mas que, quem não conhece a história, não pense que foram as muito feias, ceguinhas e vencidas da vida que, à falta de melhor, não tiveram outro remédio senão resignar-se a ficar com os restos. Nada disso: mulheres belíssimas, cortejadíssimas, caíram sob o efeito do seu sex-appeal (por muito escondido que, à vista desarmada o sex-appeal estivesse, a verdade é que consta que o homem era uma bomba). As fotografias mostram-no feiozinho, coitadinho, e ao seu lado, belas e cobiçadas mulheres que podiam escolher o que quisessem. Fumava uns atrás de outros, os dedos já queimados, uma chaminé a céu aberto, a toda a hora com um cigarro nos dedos; e bebia, bebia até cair para o lado -- e as mulheres sempre a olharem-no com paixão, doidas por ele.

(Foi o coração que o atraiçoou mas falava-se também de cirrose.)

Mostro, então, as principais mulheres da vida de Serge Gainsbourg


(por facilidade, vou buscar algumas das fotografias legendadas que aparecem no Madame Le Figaro).

Com Juliette Gréco para quem numa noite, em 1959, escreveu a célebre La Javanaise

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Françoise Pancrazzi, a segunda mulher (a primeira foi Elisabeth Levitsky): tiveram dois filhos e divorciaram-se em 1964 pois Françoise não suportava o comportamento de Serge, tinha ciúmes e ciúmes mais que fundados. 
[E eu olho para a fotografia e pasmo: como era possível? Ela linda e ele um feio deslavado]
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France Gall que ganhou o festival da canção com Poupée de Cire, Poupée de Son, composta por ele. Gainsbourg compôs outras canções para ela, tal como Les Sucettes, canção cujo teor erótico ela diz que apenas compreendeu mais tarde, já mais crescidinha. 



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Brigitte Bardot, um amor interdito (já que ela era casada). Sobre a relação que os uniu, confessou ela mais tarde:
« La beauté c'est quelque chose qui peut être séduisant un temps. Ça peut être un moment de séduction. Mais l'intelligence, la profondeur, le talent, la tendresse, c'est bien plus important et ça dure beaucoup plus longtemps. »
Para ela, compôs ele várias canções, entre as quais Je t'aime moi non plus e Initials B.B.


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Com Jane Birkin, o grande amor. Começaram por detestar-se. Depois tornaram-se inseparáveis. Jane torna-se a sua inspiração, a sua musa, e com ela ao lado, os sucessos sucedem-se. Faz uma nova versão de Je t'aime.. moi non plus. Para ela faz também, entre outras, 69 Année Erotique



Com a filha, Charlotte Gainsbourg, em 1971, em Londres

Com a filha Charlotte Gainsbourg, ainda uma miúda, faz um dueto que deixou quase toda a gente escandalizada com a canção Lemon Incest (1984). Compreende-se.


A seguir, faz um filme, também com a filha, Charlotte Forever, que causa igualmente a maior perplexidade (digamos assim). Em vez de um excerto do filme, partilho convosco uma entrevista em que se pode ver a timidez de Charlotte e o polémico pai. Desconcertante, no mínimo.


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Depois da ruptura com Jane, segue-se Catherine Deneuve que o ajudou a esquecer o seu grande amor.
Para ela e para o filme Je vous aime, compôs Dieu fumeur de havanes


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Caroline Paulus, mais conhecida por Bambou, a última mulher. Com ela teve o 4º filho
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Com Vanessa Paradis em 1990, a última musa, para quem compôs, para além de uma outra, Tandem


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Para terminar, uma emocionante homenagem que reuniu alguns dos seus devotos. 
Em 1990, perto do fim.


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Em 2011 saíu um filme sobre a sua vida

Gainsbourg: A Heroic Life 




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Repesco as palavras de BB -- não é a beleza ou o breve instante da sedução: são a inteligência, a profundidade, o talento, a ternura que perduram. Deve ter sido isso que fez com que elas o amassem tanto. E, de resto, admito, a beleza tal como o amor e tantas outras coisas são una cosa mentale.

[NB: Centrei o texto na relação dele com as mulheres mas, bem entendido, o talento de Gainsbourg foi e é apreciado enquanto multi facetado e talentoso artista]
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E agora, se ainda não viram, desçam, por favor, até ao post seguinte: aí se pode ver o hábito que Pablo Iglesias, o líder do Podemos, tem de beijar na boca os seus correlegionários. Pelo que se vê, ele beija qualquer um em qualquer lugar, incluindo no Parlamento. Os cartazes humorísticos começam a surgir e eu imaginei casais que gostaria de ver a cumprimentar-se assim na nossa Assembleia e até me ocorreu uma forma original dos nossos deputados do sexo masculino se despedirem do ainda Cavaco.

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quinta-feira, outubro 31, 2013

Paulo Portas e o Guião da Reforma para um 'Um Estado Melhor', guião que nunca mais nascia, nunca mais nascia e que, afinal, ao ser dado à luz, é coisa nenhuma (confira aqui o Documento completo). Face a isso, por comiseração, daqui lhe envio algumas dicas do que é necessário para Portugal voltar a ser um País credível. Read my lips, senhor vice Paulo Portas. ..//.. E para que os meus Leitores não fiquem aborrecidos com a aridez do tema, aqui lhes deixo uma notável interpretação de 'O mio babbino caro' por parte de uma menina holandesa de 9 anos no programa 'Holland's Got Talent', Amira Willighagen.

No post abaixo falo-vos da minha opinião sobre o conjunto vazio, do mais vazio que há, que é o célebre Guião da Reforma de Estado do Paulo Portas dado à luz ao início da noite desta quarta feira, dia 30 de Outubro do ano da graça de 2013. Na melhor das hipóteses (na melhor? qual na melhor: na pior) a cerca de 1 ano e picos de se irem embora, agora é que aparece este artista a dizer o que gostavam de fazer. Uma gestação de cerca de dois anos e meio para dar nisto: uma vacuidade absoluta.


Para ver o documento completo, de seu nome 'Um Estado Melhor', clicar aqui.


Se Paulo Portas é inteligente - coisa de que até já começo a duvidar - porque se deixa andar sistematicamente enredado nas armadilhas que o Coelho lhe estende? Dá para perceber? 

A mim o que já me começa a parecer é que, na volta, o mais espertalhaço e maquiavélico é o frio e vingativo ex-Doce. 

Tudo isto poderia ser visto como uma novela de mau gosto, feita de traições, cinismos, hipocrisias, ardis, faltas de moral. Mas o drama é que aquilo a que estamos a assistir é mais do que isso: é a nossa carne a ser devorada a sangue frio, é o nosso país a ser esvaziado, vendido, fragilizado. Portugal entregue a um bando de incompetentes, do mais incompetente que há. Mas daqueles incompetentes perigosos: bem falantes, a apelarem sistematicamente aos sentimentos de culpabilização tão arreigados na matriz cultural portuguesa, a serem capazes de dizerem uma coisa e o seu contrário com cara de quem é do mais coerente que há. Uns farsantes. 

Aparentemente o que querem, ou dizem que querem, é reconquistar a confiança dos mercados, é recuperar a soberania - coisas do género.

Mas, ignorantes encartadados como são, julgam que é com patacoadas escritas em letra de tamanho garrafal para encher o olho e parecer que o documento tem uma dimensão respeitável, que conseguem enganar alguém.

Uma infantilidade.

Mas, enfim, para que não digam que sou bota-abaixo, enquanto não adormeço, aqui deixo (porque até me dá dó) alguns conselhos a Paulo Portas e a todos quantos queiram mesmo recuperar a confiança dos mercados:





1. Saiam do Governo. Já.

2. Se não souberem onde está a porta de saída, então limitem-se a brincar uns com os outros às estátuas. Quietinhos. Sem fazer nada.

3. Se não forem capazes de estar sossegadinhos, então entretenham-se a fazer legos ou a brincar às cabeleireiras ou aos doutores ou ao papai e mamãe - o que quiserem desde que sejam brincadeiras adequadas à vossa idade mental.

4. E, enquanto isso, percebam uma coisa: o que qualquer investidor precisa para ter confiança é de ser capaz de fazer planos, é de saber quais as regras, impostos, etc, para os próximos anos. O que qualquer investidor teme é pôr o seu dinheiro num país em que mudam as regras a meio do jogo, onde o governo é formado por um inqualificável rebotalho político, em que tomam medidas sem avaliarem as consequências, em que tudo o que fazem é para atentar contra a economia, em que não têm noção nenhuma de coisa nenhuma.  


Ora, como já demonstraram à saciedade que a única coisa que sabem fazer é desestabilizar tudo, fazendo porcaria por onde passam, por favor, deixem-se estar quietos. Até que o Cavaco ou a população corra convosco, não toquem em mais nada.


Se os sacrossantos mercados perceberem que, apesar de Portugal estar entregue a gente sem noção nenhuma do que está a fazer, os ministros estão apenas a legislar sobre cães e gatos e o chefe dos ministros não tem cabeça para agir sozinho, talvez resolvam acreditar que, no dia em que vocês, suas abéculas, levem uma corrida em osso, Portugal será capaz de se reerguer e, portanto, talvez ponham cá o dinheiro a juros decentes ou talvez cá voltem a investir.

Por isso, senhor irrevogável vice Portas, conceda-se um favor: não faça mais nada, não volte a aparecer em público a fazer tristes figuras. Reserve-se, antes, para, em privado, convencer os seus colegas a limitarem-se a respirar. Quietinhos, bonitinhos. Se for preciso, até lhes vou aí levar uma chupeta. Todos quietinhos a chucharem na chucha, entretidinhos, caladinhos. Se necessário for, podem ficar deitadinhos no chão, enroscadinhos uns nos outros (isto se tiverem frio, claro). Por mim, está tudo bem.

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E agora vou dormir que isto me dá sono. 




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Mas, antes de ir dormir, permitam que aqui vos deixe um presente para ver se compenso a aridez dos temas com que vos tenho andado a maçar.

Vejam, por favor, Amira Willighagen, uma menina holandesa de 9 anos a interpretar 'O mio babbino caro' a famosa ária de Giacomo Puccini. Isto passou-se numa sessão de Holland's Got Talent e é digno de ser visto.




Espantoso!

*

A mulher fotografada lá mais acima é, escusava de dizer, Brigitte Bardot, a célebre BB.

*
Relembro: se quiserem conhecer mais em pormenor a minha opinião sobre o conjunto vazio que é a palha com que Paulo Portas pretende enganar o freguês, é, por favor, descer até ao post seguinte. O Nítido Nulo (obrigada jar!) na sua mais triste evidência.

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E, por hoje, nada mais. Resta-me, portanto, desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.