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sexta-feira, julho 29, 2016

FMI, uma vez mais, bate com a mão no peito e reconhece que errou na obnóxia receita que aplicou a Portugal.
E eu daqui pergunto aos viris Pafiões que quiseram ir ainda para além do prontuário da troika:
Já está claro que a receita do mata e esfola foi, sob todos os pontos de vista, uma cavalice e uma inútil humilhação para Portugal?
Já está claro que a política seguida durante os humilhantes 4 anos, a mando da troika e dos seus sabujos representantes em Portugal, foi completamente errada?
Já...?
É que, se ainda não, então ouçam as explicações do ex-cheerleader da troika, o impagável mano Costa






No dia em que o omnipresente e caleidoscópico Presidente Marcelo apareceu a espetar alfinetes nos balões da crise que o pafiano Láparo e amigos para aí têm andado a encher (Crise? Qual crise? Se havia, evaporou-se -- riu o tal catavento, escarninhamente), aparece o relatório do multicéfalo FMI a dizer que a receita aplicada aquando do so-called resgate a Portugal parece exercício académico feito por inexperientes totós. Que não resulta, que não atacaram a raiz dos problemas, que, ao exigirem objectivos inantigíveis, humilharam inutilmente os pobres portugueses que não tinham mesmo como alcançá-los -- e por aí fora.



Como tenho um certo lado de menina marota, ao ler isto, só me apeteceu ir pôr-me à frente do intelectualmente pouco dotado láparo ou do ex-irrevogável e de todos quantos andaram a esporear os portugueses -- e gozar com eles mas gozar mesmo, esfregar-lhes na cara o relatório do FMI, obrigá-los a engolir, uma a uma, cada página até as conclusões lhes saírem pelos olhos. Depois pensei que não, pronto, nada de vinganças, coisa mais feia. Devia, isso sim, arranjar uns quantos capangas para conseguir obrigá-los a confessarem, em público, que foram burros, sabujos, e anti-patriotas. Obrigá-los a pedirem desculpas aos portugueses. Isso sim.

Qualquer pessoa que tenha olhos de ver e que conheça minimamente a realidade do país percebe que Portugal tem problemas estruturais sérios e que nenhum deles foi objecto de intervenção por parte do esgazeado governo cujo objectivo foi ir além da troika.

Refiro alguns desses problemas:

Portugal não tem capitalistas. Eu gostava de saber que dinheiro ou que património livre (livre de garantias, penhoras, etc) têm, de facto, os mais ricos de Portugal. Vivem bem, sim, ok, mas dinheiro mesmo seu? Casas em seu nome? Que impostos pagam? Ok, são accionistas de empresas valiosas. Mas... e qual a dívida dessas empresas? Se quiserem investir, têm capitais próprios que não sejam activos já alocados como garantia a financiamento alheio? Pergunto.

O que temos, sobretudo, são empresas endividadas até ao tutano. Daí que, por muito bem que o patriotismo fique na lapela, quando a crise aperta os nossos soi-disant capitalistas vendem ao primeiro que apareça (angolano, chinês, omanita, francês, fundos apócrifos, whatever).

Ora, num país em que nem os capitalistas têm dinheiro, em que a classe média estava endividada a pagar a casa e pobres, mesmo que envergonhados, eram (e são) mais do que muitos só pela cabeça de gente muito burra é que passava a brilhante ideia de que a receita para a crise consistia em secar a pouca liquidez circulante, cortando nos rendimentos e aumentando a eito os impostos.

Depois não temos indústria a sério. Temos um ou outro pólo industrial - coisa sem grande expressão. Parte da pouca indústria foi vendida a estrangeiros cujos centros de decisão estão lá na terra deles. Não ter indústria forte é sinónimo de importação em força e de débeis exportações, ou seja, é sinónimo de uma economia frágil.

Se Portugal precisava (e precisa) muito de alguma coisa é de um forte apoio à reindustrialização. Com a reindustrialização principal vêm as empresas fornecedoras, vem o emprego qualifificado, vem o ensino e a investigação para suporte à diferenciação.

Um apoio intensivo na identificação de oportunidades, de modernização das redes logísticas a começar nos portos, um apoio intensivo aos centros de investigação e desenvolvimento e um apoio forte ao ensino a todos os níveis -- isso, sim, Portugal precisava e precisa como de pão para a boca. Mas a receita da troika passou por aqui...? Passou, passou. Como cão por vinha vindimada.

A agricultura é marginal. Não são as hortas das tias que animam um sector que, em tempos (nos vis anos do reinado do tal das cagarras), foi apoiado para pôr as terras de lado (a chamada política do set aside). 

Temos uma administração pública ainda, em parte, antiquada que consome muitos recursos dando, em alguns sectores, pouco em troca. O programa Simplex foi asininamente parado pelos pafiosos. Não apenas não fizeram qualquer reforma como, estupidamente, pararam o que estava em curso. Felizmente a Maria Manuel Leitão is back e com ela as reformas são de fundo e a sério.

Portugal tem ainda um outro problema grave (e só porque estou a escrever depois da meia-noite, deitada num sofá e mais para lá do que para cá é que coloco um problema desta natureza a meio do texto, quando deveria ser um dos primeiros): a definhante demografia.

São necessários apoios sérios e integrados de apoio à natalidade. É indispensável que os portugueses sintam confiança no futuro e sintam que serão apoiados na criação dos seus filhos. Os troikanos e seus discípulos perceberam isto e actuaram...? Então não...? Fizeram foi tudo ao contrário.

A dívida é imensa e impossível de pagar? Ah pois é. Tem que ser renegociada, os prazos dilatados. E tem que ser percebido que a dívida é uma consequência, não um objectivo primário.

Se for encarado como um objectivo primário como o foi por parte do FMI, congéneres da troika e membros do trágico governo PSD/CDS, acontece o que aconteceu em Portugal: se for necessário, correm-se com os portugueses de Portugal, corta-se a reforma aos mais velhos, atira-se com milhares de empresas para a falência e com centenas de milhares de portugueses para o desemprego para chegar ao fim de cada ano e verificar que a dívida tinha aumentado e que o país estava cada vez mais arrasado.
Broncos do caraças. Quando penso nisto, sinto cá uma raiva.
Quando se ouve a cambada a lamentar que o actual governo reverta as reformas estruturais, só me pergunto: mas referem-se a quê?

Que me lembre a única reforma que conseguiram levar por diante foi a laboral. Leia-se: foi precarizarem o trabalho. Como se algum empresário ou gestor que se preze, daqueles que trazem desenvolvimento ao país, gostasse de vulnerabilizar a segurança dos trabalhadores e, apesar de não ter dinheiro, fosse investir só pelo gozo de poder explorar à vontade os trabalhadores.

O que esta cambada pafiana conseguiu foi que se banalizassem os ordenados de 500 euros e a precaridade de tanta e tanta gente que trabalha para empresas que são subcontratadas por outras que, por sua vez, são subcontratadas de outras. O que conseguiram foi ferir a dignidade de quem dá o melhor de si para chegar ao fim do mês e receber trocos que mal chegam para o mês inteiro. É assim que se projecta o futuro de um país!?

Cambada.

Outra coisa que me dá uma raiva do caraças é o desplante de uns caras-de-pau militantes. Então, não é que acabo de ver o Ricardo Costa, na SIC, todo videirinho, a falar do mea culpa do FMI e falando como se os erros fossem óbvios e como se  ele próprio não tivesse feito outra coisa nos 4 anos da dupla Láparo&Irrevogável do que denunciar os clamorosos erros...? Que topete. Se houve opinadores que tivessem andado aos balcões da televisão a pregar a favor da receita troikiana e, com ar douto, a explicar que ou aquilo ou o dilúvio, foi ele e todos os que, tal como ele, andam pela trela.

Muito do que é a microcefalia ou, mesmo, a acefalia de parte da população portuguesa  se deve ao excesso de lavagens cerebrais que toda a espécie de apaniguados e papagaios avençados fazem a toda a hora na comunicação social.

Teria ficado bem ao mano Costa olhar de frente os espectadores e reconhecer que se enganou quando defendeu o FMI, a troika e o Governo de Passos Coelho. Em vez de se pôr, como esta noite, a lavar a imagem dessa trupe, dizendo que era a primeira vez e que, pronto, não se conhecia bem como funcionavam aqueles mecanismos, deveria ter dito que ele próprio tinha acreditado acefalamente, não dando ouvidos aos piegas que alertaram que a coisa não ia correr bem. Ricardo Costa devia ter pedido desculpa por ter induzido os portugueses em erro ao fazê-los acreditar que estavam a ser sugados e tratados como indefesas cobaias mas que era para seu bem já que, no fim, viriam radiosas e cantantes amanhãs.


Mas não o fez. Uma vez mais falou como se os portugueses fossem estúpidos.

Os amigos da TINA

E eu, quanto a isso, o que tenho a dizer é que Ricardo Costa e os que o secundam ainda acabam por levar à falência os órgãos de comunicação social por onde deixam essa sua sonsa matreirice.
É que já não há paciência para tanta chico-espertice. Não há paciência! Uma pessoa não tem outro remédio senão fugir sempre que os vê.

Para acabar, que isto já vai para além de longo, uma palavrinha relativa ao cherne: boa malha a da Goldman Sachs ao terem a soldo um acéfalo que se enganou tão redondamente em tudo em que se meteu. 


Porque não nos esqueçamos: nisto das medidas da troika, ao lado da galinha bronzeada do FMI, que dá pelo nome de Lagarde, esteve sempre, inútil e esponjiforme, o cherne Durão. 


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.
Dias felizes para todos.

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terça-feira, dezembro 22, 2015

Ensaio sobre a Cegueira revisited. Ou 'o que está Carlos Costa a fazer no Banco de Portugal?' Alguém me diga porque eu ainda não consegui perceber. Isto a propósito do Banif e não só. E o mea culpa do FMI que acha que foi um erro que não se tivesse feito a reestruturação da dívida portuguesa. E, face a tudo isto, qual a reacção do PSD e do CDS? Pois bem: continuam na deles. Não perceberam, não percebem e nunca perceberão nada de nada. Ou, então, percebem bem demais e nós é que somos parvos. Ou eles ou nós somos ceguinhos.



Os bancos, tal como acontece com as demais empresas, são regularmente auditados. Os auditores têm a obrigação de analisar minuciosamente as contas e fazer recomendações. Para além disso, os bancos em Portugal, por via da crise financeira, foram obrigados a efectuar testes de toda a espécie e feitio -- devido à brilhante intervenção da troika, Portugal foi obrigado à vigilância continuada sobre os bancos, obrigando-os a reforçar capitais para corresponderem aos rácios mínimos.

Acresce que existe uma coisa que se chama Banco de Portugal, braço armado do BCE e regulador das entidades bancárias neste rectângulo tuga de tão brandos costumes.

Contudo, apesar de tanta vigilância e de tantas entidades (principescamente pagas e premiadas), mais um melro foi à vida. Desta vez foi o Banif. E, portanto, durante todos os anos em que o Banif alegremente se descapitalizava, decorriam auditorias e vigilâncias e análises por parte do Governo e do Banco de Portugal. E durante todo esse tempo, o Governo e o Banco de Portugal asseguravam que estava tudo bem.


Ora bem, sabemos agora que foi deliberadamente e com conivências várias que esta situação foi encoberta -- para forjar um sucesso que não existiu, para maquilhar uma saída que se apregoou como limpa, quiçá para ajudar nas eleições.

Nada disto seria espectacular (porque que no anterior governo existiam mentirosos compulsivos e que no Banco de Portugal ou andam a dormir ou andavam com o Passos Coelho, a Albuquerque e o Cavaco ao colo, já nós estamos fartos de saber) se não estivesse em jogo o dinheiro dos contribuintes e se isso não tivesse efeito nos fundos disponíveis para a economia real.

Passos Coelho e Maria Albuquerque agora já não estão em funções em que possam continuar a fazer estragos. Resta-lhes, enquanto responsáveis pelo que se passou, prestar contas -- e a sua actuação deve ser cuidadosamente analisada.

Mas com Carlos Costa a situação é mais bicuda: ele ainda está em funções. Continuamos, pois, em risco de que continue distraído, sem perceber o que se passa, a manipular ou a esconder mais alguma informação relevante. Desde que está em funções no BdP a sua actuação tem sido um desastre. E não é um desastre qualquer: é um desastre que já vai em vários mil milhões de euros. Não sei se é competente, se é inteligente, se é sério - pode ser isso tudo e não ter jeito. Ou não ter sorte. Não sei. 
Sei apenas que os resultados do seu desempenho têm sido desastrosos. Uma pessoa que exerça funções de tal responsabilidade não pode sistematicamente mostrar que é uma nulidade. Manter-se em funções uma pessoa assim é um risco para o País.
Não podendo ser demitido pelo Governo, não sei como podemos ver-nos livres de tal encosto mas alguma maneira há-de haver. 

Contudo, se Carlos Costa tivesse um pingo de vergonha ou soubesse o que é dignidade profissional, saía pelo seu próprio pé.


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Sei que, no FMI, parece que não há uma cadeia de comando: enquanto uns publicam estudos num sentido, outros implementam soluções em sentido oposto; enquanto uns reconhecem que austeridade a mais é contraproducente, outros carregam na dose. 
E Christine Lagarde -- ou porque nunca recupera do jet leg ou do excesso de solário -- tão depressa aponta num sentido, como no contrário. 
É outra que me desiludiu e que cedo revelou que, apesar de parecer ter testosterona que a levaria a ombrear a nível testicular com muito tubarão, padece do irremediável mal das cabecinhas de vento.

Agora, uma vez mais, os técnicos do FMI vêm fazer um mea culpa em relação aos programas de ajustamento impostos aos países intervencionados: FMI assume que Portugal devia ter reestruturado a dívida.


Transcrevo uma parte:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) assumiu ontem que países como Portugal teriam beneficiado de uma reestruturação da dívida pública, feita de forma significativa, logo no arranque dos seus programas de ajustamento. A conclusão foi assumida por Vivek Arora, director do Departamento de Análise Estratégica e Política do FMI, numa conferência de imprensa sobre um relatório técnico de avaliação aos programas de ajustamento da crise.

“Não temos um ponto de vista específico sobre Portugal, mas temos uma visão geral: se os países têm um rácio de dívida elevado ou se a sustentabilidade da sua dívida não pode ser assumida categoricamente, então a reestruturação da dívida à cabeça é uma solução desejável”, explicou Vivik Arora, quando questionado sobre o caso português.

Poderia perguntar-se aos capachos do anterior governo português e aos seus papagaios avençados que por aí andaram, pelas televisões, rádios e jornais, a pregar que este era o remédio certo (leia-se: sugar a economia, massacrar o povo, vender ao desbarato empresas, casas, terrenos, forçar a emigração, e etc) se, agora que uns tiram o cavalinho da chuva, outros assumem o erro, e as porcarias escondidas debaixo dos tapetes começam a aparecer, ainda acham que fizeram um trabalhinho asseado.

Poderia perguntar-se se achássemos que vale a pena. Mas não vale. Embora o mais elementar sentido de decoro aconselhasse que se mantivessem calados, que emigrassem para bem longe, que abrissem um buraco no chão e lá enfiassem a cabeça até a gente se esquecer deles, não senhor. Por aí andam a espalhar patacoadas, a revelarem que, para além de mentalmente indigentes, são ainda descarados e recidivamente mentirosos.

Ligo a televisão e lá anda um rapazolas qualquer do PSD e aquele oleoso do CDS a mostrarem o pior que a política partidária tem dado ao País: gente inculta, impreparada, incompetente, incapaz de relacionar as causas com os efeitos. Ou, se não é isso, é gente com falta de vergonha, falta de respeito, que quer fazer dos outros parvos. 

Esta gente não percebe que o País já não os leva a sério? Esta gente não fica de bico calado porquê?!?!

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As ilustrações provêm do saudosíssimo blog We have Kaos in the garden.
O fantástico penteado da fotografia que abre o post é obra do cabeleireiro Guido Palau.

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Tenho um outro post, mais pessoal, praticamente pronto mas tenho que ajeitar as imagens e agora já não consigo, tenho muito sono que estes dias não me andam nada fáceis. Vou tentar finalizá-lo logo de manhãzinha ou à hora de almoço.
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De qualquer forma, vou já desejando que tenham, meus Caros Leitores, uma terça-feira muito feliz.

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sexta-feira, fevereiro 13, 2015

As 50 sombras de Varoufakis ou o escaldante encontro entre ele e Christine Lagarde. O efeito FMI parece ter-se transferido de Strauss-Kahn para a Lagarde. Depois da carga erótica que as fotografias revelam, não sei onde é que a coisa vai acabar mas só pode acabar bem.



Varoufakis e Christine, a ternura entre o FMI e a Grécia, a atracção dos opostos

e o admirável mundo das fifty shades of money







Bronzeada, feroz no seu cabedal, poderosa e in black, sorriso deleitado a prenunciar aquilo a que estava disposta, Christine Lagarde nem disfarçou.

Provavelmente com cinto em metal, talvez uma corrente com dupla utilização, com certeza com lingerie em tigresse et noir, com certeza com bota de cano alto e salto agulha, a ninguém passou despercebida a química revestida a alta voltagem que ali se gerou.


Ando arredada de notícias pelo que não sei se é conhecido o teor da conversa mas não me chocaria que logo ali tivessem combinado uma sessão em privado.

Se a coisa foi de tipo tranche strip, por cada tranche de amortização da dívida desfasada salta uma peça de roupa, isso não sei.

Se a coisa meteu promesssa de venda nos olhos também en noir, também em cabedal, algemas, chibatinha, e outros apetrechos, isso também não faço ideia.

Agora que o climinha esteve armado, ah, lá isso esteve. Não sei se pintou, se rolou, mas se ainda não, será uma questão de tempo. Varoufakis todo engatatão, ela toda prontinha para o flirt ou, quando a coisa aquecer, dominatrix ela, dentinho arrebitado ele, só de vê-los todo o mundo percebeu que a coisa tem tudo para prometer ser em grande estilo. 

Ela é um pouco mais velha e deve ter toda a escola FMI. Com certeza que Strauss-Khan deve ter feito shadowing com a sucessora, passando-lhe todos os dossiers, todas as boas práticas.

Tudo coisas capazes de intimidar qualquer calcinha mas nada que assuste um campeão como o Varoufakis, que tem ar de ter competência para lidar com a alta e a baixa finança.

Pelo ar dele, todo olho no olho, todo ele cumplicidade, as sombras a misturarem-se, os sorrisos já mergulhados um no outro, não dá é para perceber como não houve logo ali uma cena de beijo na boca.

Na volta, a seguir à sessão de fotografias, foram para uma salinha para acertarem uns pormenores relativos ao serviço da dívida e não perderam tempo, anda cá, Yanis, que és meu, e tu também, Chris, anda cá que és minha.





Mas uma coisa há: agora que os vejo juntos, acho-os parecidos, o mesmo nariz, a mesma boca, o mesmo sorriso. Se ele pusesse uma cabeleira igual à dela e se ela rapasse o cabelo para ficar com aquela cabeça malandreca até poderiam inverter os papéis. Ele de fio dental e bota alta, blusão de cabedal e chibatinha na mão, ela carregadinha de testosterona a avançar para ele, algemas na mão, sorriso castigador na ponta dos dentes. Aí ainda as coisas poderiam ser mais calientes, prometendo uma verdadeira desbunda retro-erotic.

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E, agora que já me alinhei com a comunidade invocando as 50 sombras de Grey, já posso dizer o que acho disto tudo: obviamente a Grécia vai sair-se bem. Aliás: já está a sair-se bem.

Se há láparos e seguidores que gostam de andar de gatas ou de perna aberta, é lá com eles. Agora uma coisa é certa: já pouca gente há que não despreze esta gente que se deixou pisar por bardajonas e que não faz outra coisa senão pedir mais.

Angela Merkel, uma coisa já fora de prazo,
prontinha para ir chatear outros, levando consigo a laparada que já ninguém aguenta

Alexis Tsipras e as mulheres.


E se a matrafona está capaz de arrumar as botas,
em contrapartida, veja-se o sucesso da rapaziada grega,
 gente com tudo em cima, sorridentes, atraentes,
 sexys à brava, porra.








E viva a Grécia e viva o Varoufakis e viva o Alexis
e viva quem está vivo e viva quem quer viver com esperança no futuro
e viva o humor. E viva a sedução e viva o amor.

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Não tenho os livros das sombras, não os li, não vou ler, não vou ver o filme. Do que folheei na livraria e do que vi na apresentação do filme, parece-me coisa infantilóide, fantasia de adultos literariamente pouco evoluídos e sexualmente muito acorrentados (a preconceitos, claro).



Parece que o público feminino predomina, embora o público masculino aparentemente não lhe fique indiferente. Talvez seja uma espécie de libertação, acredito que algumas mulheres, lendo cenas pretensamente mais ousadas, se sintam arrojadas, libertárias. Nada contra, cada um é como cada qual.

Mas o actor que escolheram para fazer de Mr. Grey parece apanhado em verde, incapaz de qualquer coisa que se aproveite, uma variante de ronaldinho. Haverá anastácias desta vida que caiam de quatro perante um copinho de leite, um pãozinho se sal destes? Duvido.


As Cinquenta sombras de Grey - Trailer

com Jamie Dornan e Dakota Johnson





Um dia destes dispo-me de preconceitos e invento eu aqui um conto à maneira, coisa para adultos mesmo. A ver se não empolgo mais as hostes do que a E.L. James! Tenho é que impedir os meus filhos de lerem o blogue nesse dia e depois, no dia seguinte, retiro logo o conto de circulação. Como personagens, para a coisa ter ainda mais pimenta, usarei autores de blogues que costumo ler. Me aguardem...

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E é isto. O cansaço está a dar-me com força. Tenho tido uns dias mesmo muito esgotantes (e emocionalmente um bocado stressantes) e, por isso, hoje não consigo partir para um segundo post nem consigo desenvolver mais, tenho mesmo que ir descansar.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira 
e vamos esperar que, daqui para a frente, de cada vez que Passos Coelho ou Cavaco digam nova inconveniência lhes caia um dentinho. 
Em directo.
 (Rapidamente vão ficar completamente desdentados, ainda mais impróprios para consumo do que já são)

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quinta-feira, outubro 31, 2013

Compreender a dívida pública - os truques com que nos trocam as voltas; o que está por detrás de tudo aquilo por que estamos a passar.


Depois de nos dois posts seguintes ter falado do Guião de Paulo Portas, agora aqui peço uns minutos da vossa atenção, por favor.

Convém perceber-se minimamente o que está por detrás da hecatombe que assola os países a quem a austeridade cega está a matar. 

Estes dois pequenos filmes explicam de forma bastante compreensível o que se passa. 








quinta-feira, setembro 19, 2013

Olivier Blanchard do FMI continua a alertar para o erro que é continuar a apostar na austeridade. Não é de hoje esta posição de Blanchard. Desde o final de 2011 que, aqui no Um Jeito Manso, me tenho feito eco das suas posições, sempre expostas com bastante frontalidade e coerência. Mas caíu tudo em saco roto. Até que agora que, como estamos em vésperas de eleições, dá jeito mudar de conversa e é vê-los: os pequenos Marco Antónios desta vida a virarem o discurso do avesso, armados em virgens ofendidas, a pedirem contas ao FMI. Patético. Com uma miséria de gente destas a tomar conta do País, não há-de o rating estar em risco de cair uma vez mais!


 


Olivier Blanchard é economista, francês, nasceu em 1948 e tem um aspecto que me faz lembrar o Clint Eastwood. Professor reputado, agora de licença, é também Director do Departamento de Investigação do FMI.


As suas exposições são sempre claras e não foge a formular questões incómodas.

Espanta-me o destaque que só agora está a ser dado às suas posições. Há algum tempo que ele vem alertando para o que agora defendeu: o ajustamento através de uma travagem brusca, ou seja, através de um corte acentuado do rendimento disponível, desgraça a economia deixando-a incapaz de gerar fluxos que permitam estancar o crescimento da dívida. Alerta, pois, para que o ajustamento não seja feito desta forma. Aconselha ele que haja prudência e moderação na aplicação dos curativos.




Bastará aceder à página em que estão os seus textos para o comprovar. Não foi apenas agora que ele acordou como, ouvindo a comunicação social, somos levados a crer.

Já em 2011, aqui, no Um Jeito Manso me mostrei animada com um artigo seu. Achava eu, na altura, que quando uma pessoa como Blanchard publicava de forma tão clara a sua opinião, o Governo português e a Comissão Europeia, já para não falar nos departamentos operacionais do FMI, iriam seguir as suas orientações. Enganei-me. 

O que se passa, no terreno, com os operacionais do FMI que parecem seguir uma agenda diferente da de Blanchard e até da de Christine Lagarde, é para mim um mistério. Muitas vezes me interrogo se será mesmo assim ou se há por aí muita manipulação da informação.  


Já o que se passa na Comissão Europeia não me admira. Aquilo é uma babilónia entregue a gente de quinta escolha. Quando alguém não presta nas políticas nacionais, chutam-no para Bruxelas. Aconteceu com o cherne Barroso e com quase todos os outros. Não havendo lideranças carismáticas, os funcionários burocratas fazem a União Europeia arrastar-se sem um rumo estratégico. Uma desgraça. 

Por outro lado o BCE padece dos mesmos males. Sem um enquadramento claro, o BCE move-se conservadoramente, sem energia, sem grande autonomia. Se pensarmos em Vítor Constâncio, talvez uma excelente pessoa mas uma nódoa como governador de um banco central (lembremo-nos do que se passou no Banco de Portugal, nas suas barbas, sem que ele mexesse uma palha: diz que não viu, não ouviu. E nem desconfiou). Mario Draghi tem estado a portar-se relativamente bem mas não chega. Toda a sua actuação é tardia e titubeante - mas, se pensarmos bem, no caldo amorfo que é a UE será que ele poderia fazer muito mais?

Por outro lado, por cá, a miséria é idêntica. A classe política instalada no poder, PSD e CDS, deve estar para cumprir uma qualquer encomenda a mando de não se sabe quem e não há quem a detenha. Despacha as maiores empresas públicas, lança ataques soezes aos pilares do Estado Social, arruina a economia, atira com milhares de pessoas para o desemprego e ataca os direitos de quem trabalha ou já trabalhou e, de caminho, aumenta a dívida. E mantêm-se nesta senda haja o que houver, provem-se os erros que se provarem, constatem-se os resultados que se constatarem.

E a corte de papagaios (comentadores, jornalistas, avençados, assessores, consultores, etc) que os rodeia e que, de alguma forma, beneficia desta governação incompetente e mal intencionada, ao longo deste tempo tem, também, ignorado olimpicamente os alertas de Blanchard.




Perto do final de 2012 voltei, de novo, aqui a dar conta de novos avisos de Blanchard que, dessa vez, até foram usados por Cavaco Silva para sugerir (daquela forma meio ínvia e inconsequente que costuma usar) que o ajustamento à bruta seguido por Passos Coelho era reconhecidamente errado.

Nada. Ouvidos de mercador. Prego a fundo na austeridade. Cortar é que é bom, portámo-nos mal, temos que expiar os pecados. Sofrer, empobrecer, emigrar, é que é bom.

Pois bem, foi preciso que passassem dois anos para que a opinião pública acordasse e viesse clamar justiça. Foram preciso dois anos de muita desgraça, de muito sofrimento, de falências, de desemprego, de sopa dos pobres, de dívidas na farmácia, para que as incongruências e a ausência de pensamento da gente desta fraca coligação fossem notórias - hoje até aquele coiso, o Marco António, apareceu a criticar a duplicidade do FMI (leio no Expresso: Marco António Costa acusou hoje o Fundo Monetário Internacional de "hipocrisia institucional", por fazer "proclamações em relatórios" onde reconhece excesso de austeridade). Pudera, aproximam-se as eleições e há que tirar o cavalinho da chuva. E qual o espanto? Não é sobejamente conhecida a falta de decoro destas figurinhas da politicazinha nacional?


O PSD é aquele saco de interesses, patos bravos, arrivistas, jotas armados em justiceiros, ignorantes encartados, burros armados em doutores, em que apenas uns quantos se salvam (sendo rapidamente ostracizados). E portanto, mal a coisa começa a cheirar a fim de festa, os seus principais intervenientes começam a sacudir o pó, a mudar de casaca, a ajeitar o discurso. Vergonha é coisa que não lhes assiste.

Mas como a liderança de Passos Coelho é uma anedota, enquanto uns pedem clemência, outros continuam a pedir sangue. É o caso da pinókia que ainda há pouco vi na televisão a defender que a austeridade deve continuar, que o caminho é para prosseguir.

Parece uma tropa fandanga, desafinada, uma cambada.

Uma desgraça. Que raiva que tudo isto me mete.

terça-feira, agosto 27, 2013

Sobre António Borges, o economista que não tinha razão


No post abaixo falo das birras literárias entre críticos, editores e tudo o que vagamente tenha a ver com conversas e negócios à volta da literatura. O que me leva a escrever sobre isto é o espalhafato de vizinhas entre Arnaldo Saraiva e Filipe Delfim Santos, que quase os está a levar a andar ensarilhados no meio do chão a arrepelarem os cabelos um ao outro - e tudo, imagine-se, a propósito do livro de correspondência entre Jorge de Sena e João Gaspar Simões.

Mas, enfim, isso é a seguir. Aqui a conversa é outra.


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Não sei bem porquê, porque não gosto de escrever obituários, acho hoje que deverei dizer qualquer coisa sobre a morte de António Borges.


Há já algum tempo, seguramente há bem mais de um ano, um amigo estava a contar-me que tinha estado a ouvir António Borges aí numa 'cena' e que, antes e depois, tinham estado a trocar uma prosa. Comentei a sua magreza que, à vista desarmada, era de mau agoiro, ao que o meu amigo me disse, 'ele tem cancro no pâncreas, coisa séria, mesmo séria, está no caminho descendente. Mas continua com uma agenda como se estivesse para dar e durar'.

Fiquei admirada pois estávamos numa altura, com esta coisa de ele ser o ministro oculto mas, de facto, talvez o mais poderoso, em que as polémicas sistematicamente se incendiavam em volta dele. Estando assim tão mal, para que andava metido nisto, envolto em controvérsias, em vez de aproveitar o tempo que lhe restava, em tranquilidade? 

O meu amigo contou que eu nem imaginava, que tranquilidade era coisa que não existia na vida dele, que as viagens em trabalho ao estrangeiro eram regulares, que inclusivamente fazia viagens intercontinentais, coisas de dia inteiro, e reuniões e mais reuniões de trabalho e que identicamente mantinha reuniões e almoços para amigos em casa e que ninguém percebia aquela vontade de fazer parecer que nada se estava a passar.


Perguntei ao meu amigo: mas que explicação encontra para o facto de ele, sabendo que tem pouco tempo de vida, em vez de descansar, ler, estar com a família, andar nessa correria e sempre com bocas polémicas, provocatórias?

O meu amigo também se mostrava admirado mas adiantou uma possível explicação: sabe? pessoas assim acham que tudo na vida é uma questão de vontade, que, querendo, sempre se consegue, que na vontade é que está o segredo do sucesso, penso que talvez ele ache que é superior a isso, que vai ultrapassar. Tal como acredita que se vai vencer esta crise, que se vai ultrapassar a crise da dívida, o défice, isso tudo.


António Borges: a vida é breve


Depois disso, eu, ao vê-lo na televisão, impressionantemente magro, pose arrogante, desafiador, mostrando-se superior à plebe, e sempre a acreditar que os mercados é que mandam e que, mesmo num cenário desregulado como é aquele em que vivemos, os mercados haveriam de encontram um equilíbrio racional, interrogava-me: como é que um sujeito que toda a gente diz que é inteligente dá tantas provas de que o não é - e toda a gente continua a dizê-lo brilhante?

Sempre achei que quase tudo o que ele defendia estava errado. Se fosse inteligente, ele deveria ver que, tal como o seu próprio corpo lho estava a demonstrar - com as células malignas multiplicando-se descontroladamente -, tem que haver regulação e, além disso, tem que haver uma força moral a sobrepôr-se à força bruta dos mercados ou da matéria.

O Insead, que ele dirigiu, é uma das grandes escolas de gestão, é certo, mas é a escola onde se ensina(va) aos gestores que gerir bem é criar valor para o accionista e ponto final (e acreditem: sei do que falo). Sobre o que isso tem de redutor e o que isso desgraça a economia já aqui falei antes. Criar valor para o accionista é fundamental  sim, mas tem que ser um dos parâmetros - um dos, não o principal ou, mesmo, o único.


É que foi isso, associado ao facto de os Governos estarem manietados pelas Goldman Sachs desta vida (Goldman Sachs à qual ele também pertenceu), que fez com que as políticas fiscais dos países mais vulneráveis favoreçam o não reinvestimento dos lucros. Em vez disso, as políticas fiscais favorecem que se recorra a financiamento bancário (pois isso, aumentando os juros, aumenta os custos e, aumentando custos, reduzem-se os lucros e, reduzindo lucros, paga-se menos impostos e, portanto, maiores os lucros líquidos - e, lá está, maior o valor criado para o accionista).


Ora isto, que foi um excelente negócio para todo o sector financeiro, foi a desgraça para as empresas (que se endividaram até ao tutano). E não foram apenas as empresas privadas, foram também as do Estado cuja gestão emulou a gestão privada.

E assim chegámos à dívida colossal que destruiu a economia e colocou o país nas mãos dos bancos e do sector financeiro em geral.

Esta é a política liberal defendida por António Borges e seguida acefalamente pelo Governo de Passos Coelho.


  • Já agora, um pouco sobre isto, recomendo a leitura deste lúcido artigo de Viriato Soromenho Marques, um dos homens inteligentes e sérios deste país (e que tive o privilégio de conhecer antes dele ser publicamente conhecido - mas quando já era, porque sempre o foi, uma pessoa diferente, interessada, informada)



Que sabendo o que acima referi (porque, sendo inteligente como diziam que era, António Borges tinha forçosamente que o saber), ele tenha defendido que a solução para o País era vender ao estrangeiro as suas maiores empresas, baixar os salários dos trabalhadores portugueses e outras imperdoáveis falácias é coisa que nunca consegui digerir. Quem defende isto não pode amar o País. Ou então não é inteligente.


Por isso, por sempre ter achado isto, não é agora, que ele se foi, que vou mudar de ideias.

Mas isso é uma coisa e outra muito diferente é regozijar-me com a sua morte. Era um homem com família e a família deve ter sofrido a perda do seu familiar querido. Custa-me ler o que tenho lido por aí, muita maldade irracional, muito fel inútil, uma agressividade latente e desfocada.

Eu queria que o Governo do meu país não o tivesse contratado ou que não seguisse as suas ideias, só isso.

E isso é muito diferente de querer a sua morte. Uma vez mais, a responsabilidade por o ter escolhido e por seguir as suas ideias - apesar delas se terem revelado a causa dos problemas do País (do nosso, tal como também de todos os que vêm caindo nas mesmas malhas) e apesar de se ver que as soluções que continuava a defender se mostravam inequivocamente erradas - era e é de Passos Coelho. Foi nele que as pessoas votaram e é ele o responsável pela (des) governação de Portugal. 

(E, obviamente, também não desejo a morte de Passos Coelho, nem pouco mais ou menos, apenas quero que deixe de ser primeiro ministro de Portugal. Apenas isso. E será muito)

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Permitam que relembre: sobre as cenas de faca e alguidar entre Arnaldo Saraiva e Filipe Delfim Santos é só descerem um pouco mais.

terça-feira, julho 16, 2013

O que é que o público tem a ver com a vida privada das pessoas que têm uma vida pública? Nada. Nada! E, no entanto, na hora de julgar, as virgens ofendidas saltam todas para exigir a punição daqueles que 'pecam'. Vem isto a propósito da entrevista de DSK concedida à CNN: Dominique Strauss-Kahn, ex-director geral do FMI, (actual presidente do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento Regional da Rússia), a esta hora poderia ser Presidente de França ou continuar à frente do FMI, não tivesse sido a dificuldade em controlar a sua pulsão sexual e não fosse a consequente crucificação na via pública. Faz isto algum sentido? Pergunto. [texto revisto]



Eu também sou assim: homens inteligentes são uma tentação. E, como, geralmente, com a inteligência vem o sentido de humor, ainda mais me encanto. Adoro que me façam rir. E, se for um homem inteligente a fazer-me rir, então, que coisa agradável que é. E se a isso os homens juntarem uma pitada de irreverência, então, a coisa começa a ganhar um picante quase irresistível.

Sempre fui mais de bad boys do que meninos certinhos. 

O meu primeiro namorado era um caso complicado de bad boy, um malandro, um desafiador, um menino-família que se portava muito mal, muito, muito mal, e as duas noites passadas na esquadra eram, para mim, um feito que o faziam instalar-se definitivamente no meu coração. Andávamos volta e meia de candeias às avessas, a paixão era excessiva, mas, da mesma forma incendiária como nos desentendíamos, da mesma maneira logo fazíamos as pazes e era uma ternura sem fim, um amor eterno. Era de uma inteligência fulgurante, fazia-me rir, fazia-me tremer com as suas provocações e maus comportamentos, fazia com que o meu corpo se revolteasse só de o ver vir na minha direcção.

O namorado que se seguiu era o oposto, bem comportado, muito educado, um encanto para as tias e avós, não me lembro que tenha feito alguma vez um único disparate. Era inteligente, tinha sentido de humor mas era muito by the book, não sabia o que era a irreverência. Não correu bem, como é claro.

O terceiro que chegou como quem chega do nada - e eu não sabia mesmo quem era, como se chamava, ao que vinha - era um revolucionário. Desmedido, provocador, sedutor. Inteligente, sempre a surpreender-me, sempre a fazer-me rir, sempre a desafiar convenções, regras, sempre disposto a correr todos os riscos. Fiquei com ele, está bom de ver.

Mas isto são os homens para meu uso privado.

No entanto, para uso público, é ainda assim que eu os prefiro: inteligentes, com sentido de humor, criativos, irreverentes, desafiadores.

Vem isto a propósito da excelente entrevista à CNN que DSK concedeu há dias e de que as televisões têm passado excertos.




DSK, um homem inteligente por quem os franceses
não se importarão de esperar


O homem é um touro, basta vê-lo a andar, basta vê-lo a conversar com uma mulher, todo ele um sorriso feito de malícia. E sabendo-se da sua inteligência auto-confiante, imagine-se o efeito sobre as mulheres. Contam os testemunhos: uma libido heterodoxa, o gosto pela conquista, a falta de censura interna sempre que o hiperactivo pénis fala(va) mais alto. Festas, orgias, tentativas pouco oportunas - diz-se de tudo. Não sei se é verdade, se há exagero. Mas admito que há um fundo de verdade em tudo o que se diz.

E, no entanto, não me sinto chocada e, muito menos, acho que, por isso, deve pagar e perder as chances de ser presidente de França, director geral do FMI ou o que quer que seja.

Claro que assumo que, apesar de ser um touro sempre pronto a entrar em acção, DSK não é um violador ou um perigoso assaltante da virgindade feminina ou que não compra silêncios com dinheiro. Se fosse, deveria estar na cadeia. Mas creio não ser esse o caso (pelo menos está em liberdade, creio que ilibado das acusações). Será um libertino e isso, francamente, não me incomoda. Dará um fantástico personagem do filme que rodarão sobre ele e, olhando-o como um elemento no meio da ficção, as pessoas apaixonar-se-ão por ele.

DSK era casado com uma mulher cosmopolita, Anne Sinclair, que certamente sabia as coisas de que o touro insubmisso era capaz. Assunto lá deles.




Anne Sinclair, a bela ex-mulher de DSK


O que não vejo, mas não vejo mesmo, é em que é que os desacatos penianos de DSK podiam prejudicar quem quer que fosse (para além dos envolvidos ou respectivos cônjuges). Decerto, depois das suas aventuras estaria muito mais feliz e motivado para trabalhar melhor. Tenho conhecido grandes profissionais que não se ensaiam nada para dar uma pulada de cerca e isso em nada prejudica o seu desempenho profissional - muito pelo contrário.

Não estariam a França e a Europa bem melhores se fosse ele o presidente e não com o Hollande? Ou se a sua visão e liderança ainda se fizessem sentir no FMI?

Por isso, foi com gosto que, na entrevista na CNN, o vi assumir com frontalidade, peito feito, sorriso confiante no olhar, o que lhe sucedeu. Problema com mulheres? pergunta o entrevistador. Nenhum. Claro.

Claro que também gostei de o ouvir dissertar sobre a globalização e de como a Europa não se soube preparar para ela, dissertar também sobre a austeridade, sobre as fracas lideranças da Europa - e é de uma lucidez e de uma frontalidade assim que andamos bem precisados. 

Mas disso talvez fale noutra altura. 


Hoje a conversa aqui tem a ver com este nosso mundo de devassa,

  • em que os serviços secretos dos países espiolham as caixas de correio, as chamadas telefónicas e os sms, os facebooks e os twitters e o que mais lhes aprouver,
  • e tudo sem regulação, e tudo sem que ninguém se preocupe;
  • em que se aceita que gente sem moral ou escrúpulos empobreça os países e destrua futuros de muita gente, 
mas que, depois,

  • se aceita que uns quantos, armados em moralistas, não descansem enquanto não afastam quem apenas se limita a ter uma vida privada pouco ortodoxa, pouco iconoclasta, mas que não prejudica ninguém.


Porque é assim, com mentalidade de sacristia, com a mediocridade à solta, com moralismos bafientos fora das gavetas, com ânsias persecutórias, com os media a darem voz aos novos inquisidores e papagaios para todo o serviço, que se vão triturando e rejeitando os melhores.

Acabam por sobrar apenas os Tozés deste mundo, os Hollandes, os Passos de Massamá, os Rajoy. Muito diferentes entre si, é certo, uns com as mãos sujas, ou com os bolsos atafulhados, outros com esqueletos no armário, outros limpinhos e inocentes como meninos do coro. Mas, em todos, a mesma ausência de visão estratégica, de liderança forte, de rasgo, de golpe de asa. Terão em comum o serem sexualmente contidos. Mas, caramba, o que é que o mundo ganha com isso?


DSK à CNN: I have no problem with women


E eu que sou mulher, pessoalmente, também não tenho nenhum problema com o DSK. Pelo contrário, acho um desperdício para a União Europeia que ele esteja agora a trabalhar para a Rússia

E vejam-se os motivos da contratação que os próprios enunciam:

O ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn,  presidirá o Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento Regional da Rússia, órgão pertencente à maior empresa petroleira do país, a Rosneft. Especialistas do setor financeiro disseram que a figura do executivo tem um importante valor para a instituição, pois, mesmo tendo renunciado à direção geral do FMI por denúncias de abuso sexual contra uma camareira de hotel, representará uma garante de estabilidade e respeitabilidade perante o mundo.


Ele há com cada paradoxo...!


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E por aqui me fico agora. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.

segunda-feira, junho 24, 2013

1. Marcelo Rebelo de Sousa diz que a estapafúrdia reunião do Governo de Passos Coelho no Mosteiro de Alcobaça, toda pompa e circunstância, foi coisa nenhuma, uma reunião às escuras, mais um tiro nos pés. // 2. A troika entra em crise devido às tensões entre Bruxelas e o FMI // 3. Durão Barroso é o carburante da FN", diz um ministro francês // 4. E, enquanto tudo isto se passa, Angela Merkel, a guru dos luso-talibãs da austeridade, promete dar mais subsídios e não aumentar impostos. // E agora, em que ficamos, ó grandes defensores da austeridade e do empobrecimento?!?!?!?


Para reflexão, aqui deixo quatro pontos que, de certa forma,  ilustram o estado das coisas.


1.


Marcelo Rebelo de Sousa, habitualmente uma no cravo, outra na ferradura,
uma verdadeira bailarina em pontas,
já sem conseguir disfarçar o incómodo que lhe causa a incompetência  absoluta deste desGoverno


Sobre o inexistente desGoverno de Passos Coelho que, ou não faz nada ou, quando actua, ataca ferozmente a população, tentando destruir o futuro do país, transcrevo da boca de um ex-secretário geral do PSD e influente comentador:

Marcelo Rebelo de Sousa teceu este domingo fortes críticas ao Governo por causa da reunião do conselho de ministros de sábado em Alcobaça, considerando que foi «uma reunião às escuras» e que se traduziu em «mais um tiro nos pés» do Executivo.


No habitual espaço de comentário na TVI, o antigo líder do PSD disse que a reunião, organizada «com pompa e circunstância» para assinalar os dois anos do Governo e para discutir o guião para a reforma do Estado elaborado por Paulo Portas deu em nada.

«Cada cavadela sua minhoca! O que é que aconteceu? Nada!», exclamou.


2.



A troika desavinda: os desastrosos efeitos da política de austeridade
(que, ó senhores!!, é coisa diferente de 'rigor')
estão a pôr a nu a incompetência desta gente que tem feito de pessoas de verdade autênticas cobaias



Sobre a qualidade e validade da droga de políticas que têm estado a ser postas em prática, já todos, incluindo os que as têm posto em prática, reconhecem a porcaria que está a ser feita. 

Todos?!?! Ou disse todos?? 

Enganei-me. Ainda há uns quantos indivíduos de cuja inteligência já poucas dúvidas temos, que ainda não perceberam e continuam a defendê-las, Ou então, parvinhos, acham que podem manter a mesma política e limitar-se a mudar o palavreado que as envolve (consenso, esperança, investimento, bla, bla, bla). transcrevo um excerto::


As tensões que têm vindo a público entre Bruxelas e o FMI, devido aos problemas nos resgates a vários países, podem ditar o fim da troika, noticia este domingo o diário espanhol El País.


Na manchete do jornal lê-se «A troika entra em crise devido às tensões entre Bruxelas e o FMI», com o jornal a citar várias fontes comunitárias para quem a equipa constituída por Comissão Europeia (CE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) tem os dias contados.

Segundo «fontes próximas do FMI», a Europa «continua em Estado de negação com a Grécia», que necessita de uma nova reestruturação da dívida, e também «com Portugal e Irlanda», que vão precisar de outro tipo de apoios e «algo mais no caso português». Quanto ao Chipre, diz a mesma fonte, está no «caminho do desastre».


«Morte à troika» resume de forma mais dura um alto funcionário de Bruxelas, que diz que este vai ser o resultado dos erros cometidos nos resgates aos países da periferia europeia, sobretudo na Grécia e no Chipre e, em menor medida, em Portugal e na Irlanda.

Por estes motivos, diz o El País, o casamento entre Bruxelas e o FMI está à beira do divórcio, talvez porque começou mal.

Em 2010, explica o jornal, com a Grécia em graves problemas, a Comissão Europeia apresentou aos Estados-membros o esboço de um Fundo Monetário Europeu para gerir resgates, mas a Alemanha negou de imediato. Berlim não confiava na CE devido à sua inexperiência em resgates e receava os riscos de politização.

No entanto, lê-se no El País, a excelência técnica da troika acabaria por não surgir o que levou recentemente a acusações mútuas entre a CE e o FMI, com o BCE a estar semiausente da discussão

No início de junho, o FMI fez mea culpa, num relatório em que admitiu «erros notáveis» na abordagem do programa do primeiro resgate financeiro à Grécia (2010), o que foi visto como um ataque a Bruxelas.

O Fundo veio ainda dizer que é impossível lidar com uma miríade de primeiros-ministros, ministros das Finanças, comissários, funcionários do Eurogrupo e falcões do BCE e que o programa de ajustamento feito em Atenas se baseou em pressupostos irrealistas.

Bruxelas não gostou da deslealdade e, a 7 de junho, o comissário europeu para os Assuntos Económicos acusou o FMI de «lavar as mãos e deitar a água suja para os europeus».

Apesar destas palavras duras, em público, Olli Rehn continua a afirmar que os programas seguem no bom caminho, mas já em privado, escreve o El País, fontes comunitárias assumem que o resgate à Grécia «não funciona» e preveem uma nova reestruturação da dívida como pede a instituição liderada pela francesa Christine Lagarde. E dizem que também os resgates de Portugal e da Irlanda deixam muitas dúvidas.


3.



Durão Barroso:
a mulher chamou-lhe cherne,
os franceses chama-lhe camaleão,
a Merkel chama-lhe incompetente,
outros dão a entender que não passa de moço de recados
e todos o mandam ir dar uma grande volta


Sobre a opinião que começa a generalizar-se sobre a actuação da Comissão Europeia, em particular sobre a actuação do cherne-camaleão, transcrevo:

A votação na extrema-direita ronda os 47 por cento numa eleição legislativa parcelar e os franceses andam com os nervos à flor da pele. 


"Durão Barroso é o carburante da FN", disse esta tarde o ministro francês da Indústria, Arnaud Montebourg, a propósito da polémica sobre as declarações do presidente da Comissão europeia sobre os "reaccionários" que defendem a excepção cultural nas negociações comerciais entre a UE e os EUA.


O ministro francês acha que a principal causa da subida da FN em França não são os escândalos, nem a subida do desemprego, nem os problemas com o poder de compra, nem os escândalos, nem os conflitos provocados pelas religiões. "A UE exerce uma pressão considerável sobre os Governos democraticamente eleitos, é inaceitável, temos um presidente da Comissão que diz 'todos os que são contra a mundialização são reacionários'... temos uma UE imóvel, que não mexe, que não responde às aspirações populares dos europeus, que dá força aos partidos nacionalistas, aos anti-europeus da UE", explicou Arnaud Montebourg.


4.


Angela Merkel:
incensada, amada, odiada
Perante os nabos e servis que encontra pela frente, ela vai fazendo o que quer


E para ver se os palermas e parvinhos que ainda não perceberam o que se passa e continuam a achar que austeridade, aumento de impostos e ser pobrezinho é que é bom, aqui vai um valente balde água fria. Merkel, a guru dos luso-talibãs da austeridade, promete dar mais subsídios e não aumentar impostos. Ouviram, seus parvalhões que para aí andam a dar cabo da vida a toda a gente a troco de coisa nenhuma? Transcrevo uns excertos, para ver se percebem.:

A chanceler alemã, Angela Merkel, prometeu aumentar os subsídios para os agregados familiares e restabelecer as reformas das domésticas, em caso de vitória nas eleições legislativas de 22 de setembro.


No documento, de cerca de 130 páginas intitulado «juntos pelo êxito da Alemanha», a União Cristã-Democrata (CDU) e o pequeno partido irmãos da Baviera, a CSU, definiram também que o modo de cálculo do imposto sobre os rendimentos deverá beneficiar progressivamente as famílias com crianças, apesar de não esquecer o rigor orçamental.

Para a líder conservadora, que vai lutar por um terceiro mandato de quatro anos, a família constitui «o coração da sociedade» alemã, comprometendo-se a não aumentar os impostos, garantindo que este programa eleitoral «não implicava uma nova carga suplementar nem para os cidadãos, nem para o mundo económico».


«Acreditamos que ao motivar o nosso setor das Pequenas e Médias Empresas, ao motivar as nossas famílias, a possibilidade de chegar a um aumento dos rendimentos fiscais são maiores, do que se criarmos a desmotivação através de um aumento dos impostos», garantiu.



A chefe do governo alemão lembrou também os cinco milhões de desempregados quando chegou ao poder, em novembro de 2005. «Hoje temos menos de três milhões (de desempregados)», disse.

Angela Merkel, que goza de uma popularidade recorde, vai ser ser o centro da campanha eleitoral dos conservadores alemães.

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As imagens, inspiradas como sempre, provêm do blogue We Have Kaos in the Garden

(A ver se ainda cá consigo voltar hoje)