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domingo, junho 01, 2025

Rui Rio foi à jugular do Marques Mendes (e à de Marcelo e, de certa forma, à do Montenegro).
Rui Rocha descurtiu e vai dar banho ao cão.
Eu, pela parte que me toca, prefiro defender as buganvílias e maravilhar-me com as efusivas rosinhas

 


Eu já tinha tapetes de Arraiolos antes de me dar a veneta de os fazer. Portanto, como desatei a produzi-los, fiquei com muitos. A minha mãe também os tinha com fartura. Ora, quando tive que tirar as coisas de casa dela, não era coisa de que me desfizesse. Trouxe-os. Portanto, agora até na cozinha tenho um tapete, ou melhor, uma carpete de Arraiolos pois cobre quase todo o chão. Por acaso até é confortável especialmente no inverno quando ando descalça e a pedra do chão está fria. 

Este sábado, dia de calor, foi dia dele ir à barrela. É uma coisa que gosto de fazer em dias em que secam bem: no terraço junto à cozinha, com agulheta no máximo, omo, vassoura forte, descalça, lavo-os e esfrego-os que é um mimo. 

No entanto, o tempo virou um bocado e não ajudou: pouco depois, o céu como que se encobriu e a temperatura baixou um pouco. Por isso, à noite ainda não estava bem seco. Espero que amanhã seque de vez pois tapetes de lã que não secam logo correm o risco de ficar a cheirar a mofo.

Também andei de mangueira a regar vasos de um lado e do outro da casa. Gosto de regar. Gosto de tudo o que mexa com águas.

Como sempre, pasmo com o que tudo cresce. 

As sardinheiras estão robustas, frondosas, cheias de flores. Umas suculentas crescem sem parar. A roseira que está junto a um dos portões tem crescido de uma forma inacreditável. Já vai no muro e já trepou para uma árvore que está perto. Agora já há rosinhas penduradas na cerejeira japonesa. E as buganvílias estão uma maravilha. O meu marido anda doido para avançar com o corta-sebes elétrico. Como não o deixo, faz chantagem, diz que o meu filho vai protestar, vai dizer que também tem que andar todo dobrado para não andar a levar com as flores na cabeça. Creio que é um falso problema, basta que se desviem. Uma delas, então, mais que todas, estão uma loucura, um cortinado de flores. 

O meu marido diz que qualquer dia não se consegue estar na mesa que lá está debaixo, que precisa mesmo de ser cortada. Explico que é um caramanchão, que é mesmo assim. Mas vejo, pela maneira como olha para ele, que qualquer não vai resistir. A única coisa que deve estar a travá-lo é que sabe que, se fizer isso, estará a pisar uma linha vermelha, linha essa fortemente minada.

Hoje, quando vínhamos da caminhada da tarde, reparámos que uma delas, do outro lado, já passou para o lado dos vizinhos e já está a enfeitar o telheiro deles. Também uma das glicínias, uma loucura de glicínia, uma avalanche de glicínia, já vai no muro que separa do vizinho e já enfeita o lado de lá. Claro que poderão cortá-la, se o quiserem, claro. Mas, pelos vistos, gostam.

Mas esta fartura de fertilidade tem um senão. Temos dois vasos, bem bonitos, que têm aloé veras. Mas os aloés estão estão grandes, reproduziram-se de tal maneira que as raízes já não cabem nos vasos, já estão a subir, e os aloés estão a querer definhar. Já falei com o meu marido que vamos ter que tomar uma resolução. Para tentar não destruir os vasos, não vejo outra maneira senão deitá-los de lado e puxar pelos aloés, tentando que se desprendam. E depois teremos que encontrar uns locais, fazer uns buracos grandes e plantar as plantas directamente na terra. O meu marido diz que não está a ver que seja tão simples assim e não lhe vejo qualquer vontade de se atirar à tarefa. Mas temos que tentar pois, se não fizermos nada, os aloés acabarão por ficar ressequidos. Neste momento são uma espécie de ilustração do Princípio de Peter. Cresceram, cresceram até atingirem o ponto em que se constata que, a partir daí, será para pior.

Com tanta flor e com as árvores também todas cobertas de folhagem, a passarada está sempre em festa, uma alegria de chilreios que é uma delícia. E há um perfume bom no ar. Estive lá fora a ler e a sentir-me feliz até já não haver luz. 

Entretanto, estou preocupada pois a rega não arrancou. Temos a rega programada para funcionar de noite e eu gosto de estar aqui a escrever e a ouvir os esguichos da água e a sentir o cheiro molhado da terra e das flores. E hoje não está a funcionar e não faço ideia porquê. Chatice. A minha vontade era ir lá fora ver o que se passa mas o meu marido já dorme e eu tenho um certo receio de andar lá fora sozinha a desoras. Além disso, o dog a esta hora dorme descansadamente e não quero sobressaltar toda a gente a abrir portas e a acender luzes.

Tirando isso, vi que houve mais um dano colateral do terramoto eleitoral: também o Rui Rocha saltou fora. Se vier a Mariana Leitão será bom pois há poucas mulheres na política. Claro que não deixará de ser curioso que, sendo tão poucas, logo sejam as duas Marianas. Mas acho que é mais genuína e mais atilada que a Mortágua. Pelo menos, parece-me. 

E, sem que nada o fizesse esperar, o Rui Rio foi à jugular do Marques Mendes, o que não deixa de ter piada. Imagino o Marcelo, o Marques Mendes e o Montenegro todos de cabeça à roda. Quanto ao inSeguro e ao desVitorino o melhor que têm a fazer é manterem-se na toca. Entretanto, fiquei a saber que um conhecido nosso está a pensar candidatar-se, parece que já anda a recolher assinaturas. Só visto.

E, pronto, é isto. Vou descansar que já vão sendo horas.

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As imagens foram feitas com recurso à minha inteligência natural

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, maio 27, 2023

Alô, alô Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa!
Quem votou em si espera que exerça o seu mandato de uma forma muito diferente da que está a exercer agora.
Por favor, perceba bem o que está a acontecer no nosso País

 

Caro Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,

Nas legislativas votei no PS e votei consciente, racional e exigentemente. Face ao desempenho do Governo em funções continuo satisfeita e a considerar que o PS está a honrar os seus compromissos perante o eleitorado.

E tenho razões muito objectivas e inequívocas para o meu contentamento.

  • O reduzido défice
  • O baixo desemprego
  • A acentuada redução da dívida pública
  • O crescimento económico acima do previsto
  • A atenção dada a quem mais precisa
  • ......

Tudo vai no bom caminho. E vai comprovadamente. Não são 'bocas' nem suposições. Não. São dados concretos, estatísticos, reconhecidos.

Claro que nestas coisas da economia há sempre um tempo que medeia as acções e o seu efeito no terreno. É mesmo assim. Quem perceba um pouco destas coisas não terá dúvidas de que, com a conjugação destes factores, as melhorias junto da população vão começar a surgir a curto prazo. A boa gestão das contas públicas traduz-se em maior folga orçamental e isso terá reflexos directos nas condições de vida das pessoas.

Aliás, esses reflexos já estão a surgir.

Há muita gente que ainda está a sofrer os efeitos da crise internacional (custos dos combustíveis e da energia mais elevados, inflação e a consequente significativa subida das taxas de juro, etc) mas também há cada vez mais pessoas a viver despreocupadamente. 

Veja-se, por exemplo, a quantidade de concertos, a preços elevados, que existe em Portugal: esgota tudo, tudo. Vejam-se os restaurantes quer durante a semana quer ao fim de semana: cheios. Vejam-se os estádios de futebol: cheios. Etc.

Portanto, querer escamotear os indícios de que parte significativa da população vive cada vez melhor é cegueira ou cinismo.

E, não tenhamos dúvidas, com a muito expectável descida do IRS, mais dinheiro haverá em circulação, multiplicando o efeito benéfico de uma economia saudável.

E há cada vez mais empresas portuguesas a exportar produtos de valor acrescentado. Portugal é cada vez mais reconhecido como um parceiro fiável, detentor de fortes capacidades tecnológicas. E isso é daquelas coisas que tem um efeito multiplicador sustentável.

E, quanto ao turismo, os resultados não poderiam ser melhores. Já não é um turismo apenas de Verão ou apenas de praia, nomeadamente do Algarve. Não. Portugal tem, durante todo o ano e praticamente em todo o País, uma vasta oferta turística, desde a cultural, à gastronómica, à vinícola, à de montanha, à fluvial, etc.

O País está melhor organizado, melhor infraestruturado, modernizado. Toda a população beneficia de tudo isto.

Portugal é hoje considerado um dos países do mundo onde é bom viver e em que a democracia é vivida com qualidade.

Portanto, dizer que o Governo não está a governar bem é coisa de gente mal intencionada, gente mentecapta ou mal informada.

Que a direita mais trauliteira, de braço dado com a ala mais ignorante e mais estúpida da Comunicação Social ande a montar um circo inventando que o Governo não está a governar bem, não será de espantar. Mas que o Presidente da República pareça apadrinhar esta torpe campanha já parece mais complicado.

Veja-se este episódio do Galamba.

Um assessor do ministro tem comportamentos estranhos e o ministro demite-o. Nada de mais.

Mas, então, o ex-assessor desenvolve um conjunto de acções ainda mais estranhas e condenáveis tais como:

- Depois de demitido vai, a correr, fora de horas, ao local onde já não trabalha

- Vai buscar um computador que não lhe pertence e que contém informação sensível

- Quando as funcionárias tentam impedir o roubo, agride-as

Face a isto, que deve ser investigado, a que é que a ala direita, populista e arruaceira, de braço dado com os pseudo-jornalistas e comentadores-a-metro, presta atenção? Pasme-se. Em vez de condenarem veementemente a actuação do ex-assessor, não senhor, desataram a querer incriminar, nem se percebe de quê, o ministro e as pessoas do Gabinete. É vergonhoso. 

Ora, porque é que o Presidente da República se cola a esta gente (que parece estar do lado de quem age à margem do que é razoável e legítimo) e não de quem tenta defender a informação sensível do ministério?

Acontece que o dito ex-assessor acabou mesmo por levar o computador para casa, tendo ficado com ele, ao que parece durante umas horas. A ser verdade, o que é que ele fez? Apagou documentos? Apagou correspondência? Eliminou provas de alguma coisa? O quê? E porque o fez?

Isto parece-me potencialmente grave. Ora alguém se mostra preocupado com isto que, de facto, tem que ser escalpelizado com rigor? Não vejo. E também não vejo o Presidente da República a dizer palavra que seja sobre isto.

Parecer-me ia lógico e necessário que o Presidente Rebelo de Sousa, perante o que se passou. dissesse o seguinte:

- Um ex-assessor, depois de demitido, foi buscar um computador que era propriedade do Estado e que continha informação sensível

- O ex-assessor fez mal. Ninguém se pode apropriar de bens alheios e isso é tanto mais grave quando se trate de um equipamento que poderia conter informação classificada e sensível

- As pessoas do Ministério tomaram as devidas providências, nomeadamente comunicaram o evento, e bem, às entidades competentes.

- Face a isso, nada mais há a comentar a não ser que se deve investigar tudo o que se passou (não esquecendo o insólito comportamento do ex-assessor bem como o que se passou com o computador quando esteve abusivamente nas mãos).

E mais nada, mesmo mais nada. Não é andar a deixar indirectas, a fazer saber que queria que se demitisse o ministro (a que propósito, senhores?), não é agora andar a alimentar a confusão frisando datas que só alimentam conversas da treta nas televisões, não é andar a dar a entender que está ali para fazer a vida negra ao Governo.

Se o Senhor, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, é Presidente da República, a mim também o deve. 

Mas se acho que não desperdicei o meu voto quando votei no PS, tenho pensado muitas vezes que se calhar o desperdicei quando votei em si. E, a continuar como tem sido nos últimos tempos, estou convencida que não sou só eu. Muito mais gente critica, e muito, a sua actuação. 

Não é isso que esperávamos de si nem é isso que se espera de um bom Presidente da República.

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NB: Estas rosas são do meu jardim e ilustram o que é o meu sentir socialista.

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Um bom sábado

Saúde. Discernimento. Serenidade. Bom senso. Paz.

segunda-feira, setembro 12, 2022

Um domingo tranquilo na despedida do verão



Tenho a dizer que tive um domingo bem tranquilo. No sábado tinha ido sair com a minha mãe, demos um belo passeio ao sol, à beira rio, depois pela cidade e acabámos a lanchar numa esplanada.

Antes já tinha lavado a roupa, tinha arrumado a casa. Tempos houve em que a roupa transitava da máquina de lavar para a de secar. Desde que esta se avariou voltámos ao são hábito de secar a roupa ao ar, no estendal. Dá mais trabalho mas prefiro. 

Mas, portanto, o domingo nasceu sem compromissos. 

Dormi até que o sono me quis, tomei o pequeno almoço nas calminhas. Coisa boa.

Depois, caminhámos e estava um sol bem bom que quase me arrependi de não me ter protegido com o meu sprayzinho SPF 50.

Para o almoço, fiz legumes estufados ao de leve, qualquer coisa a meio caminho entre os simplesmente cozidos e os lightly guisados. Coisa soft. Em cima, escalfei dois ovos pois adoro ovos escalfados com o sabor do molho em que cozinham. Desta maneira os legumes ficaram não-binários, talvez na versão fluida. Ou seja, a ideia é que os legumes dessem quer para acompanhar o peixe do almoço quer carne amanhã. 

Ao lado, numa frigideira, em azeite alourei cebola às rodelas, dentes de alho (aos quais não tiro a casca), louro, uns pezinhos de perfumado alecrim. 

Quando estava tudo já bem lourinho, quase caramelizado, coloquei por cima lombos altos de atum. Por cima dos lombos deitei pedrinhas de sal e raspa da casca de uma lima. Depois, para reforçar, cortei a dita lima às rodelas e coloquei-as na frigideira. Virei os lombos para não ficarem passados. Douradinhos nas superfícies mas rosadinhos por dentro.  Nem sempre é fácil. Com medo que os lombos fiquem crus, frequentemente deixo-os passar do ponto. Mas, desta vez, interceptei-os a tempo. Ficaram au point.

Depois de almoço, estendi-me lá fora a ver se dormia. Mas deu-me vontade de procurar umas coisas na net e passou-me o sono. (Ando com umas ideias e, para não tentarem demover-me, fui procurar às escondidas).

Depois fomos passear para a zona nova da Expo. Ainda lhe chamo Expo porque me parece mais mignon que Parque das Nações. Prédios muito bonitos, todos iguais, uma disposição e uma dimensão equilibradas, bem pensadas. Toda aquela zona tem uma organização muito interessante, com parques infantis, máquinas de desporto, espreguiçadeiras de madeira à beira rio, passeios largos e jardins muito bonitos. 

A turma da minha filha já lá estava. Quando o urso felpudo os viu ficou doido de alegria. Salta para um, salta para outro, abraça um, abraça outro, uma euforia. É um extrovertido.

Na marina, vimos uma coisa que nos deixou cheios de ideias: casinhas-flutuantes. São casinhas e são barcos. Cada uma tem um terraço com zona de lounge, com bicicletas, e, em cima, um outro terraço com espreguiçadeira e cama de rede. Tem motores e volante. Os meninos, habituados a velejar, diziam que devia ter âncora e cabos (ou correntes?) e, perante a perspectiva dos avós saírem pelo rio sem estarem habituados às manobras marítimas, ofereceram-se para ir numa outra casinha para nos irem dando apoio. Mas escusam de se preocupar, não sou de me afoitar mar adentro. 

Se experimentasse era para me manter acostada, só para sentir a leve ondulação, para experimentar dormir sobre as águas e acordar envolta em maresia. Contento-me com pouco.

No regresso, fui ao supermercado fazer as compras da semana.

Para o jantar, comprei massa não de farinha de trigo mas de lentilhas. Trouxe também salmão fumado, bolinhas de mozzarela, salada de alfaces, coentros. O meu marido partiu ainda tostas aos bocadinhos lá para dentro. Croutons, pois então. Temperei a minha salada com molho de manga e lima, um molho que lá vi num frasquinho e que me pareceu que faria pendant com a salada que tinha em mente. O meu marido não vai nas minhas aventuras e temperou com azeite e ketchup. 

E depois de arrumar a cozinha e de pôr mais comida na tigela do cão, desloquei-me até este meu poiso, o sofá onde me sento a escrever estas conversas vadias.

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Como faço sempre que ligo o computador, espreito o que o YouTube tem para me oferecer. Há dias em que abro um vídeo, abro outro. Acontece que o sono que não dormi a seguir ao almoço está agora aqui a puxar-me pela pestana e, por isso, vi o primeiro e gostei o suficiente para ficar por ali. E vou partilhar pois o que é bom para se ver.

Marieta Severo abre sua casa no Rio e mostra coleção de arte popular brasileira | Lar

Em episódio da série documental "Lar: Vida Interior", a atriz Marieta Severo abre as portas de sua casa no Rio de Janeiro e mostra sua coleção de arte popular brasileira. A paixão pela cerâmica começou ainda na década de 70, e só cresceu ao longo dos anos junto com o número de itens. Com obras de artesãos como Roque Santero e Tiago Amorim, a coleção se expandiu tanto que Marieta chamou uma museóloga para catalogar cada obra. Dê play e conheça esse verdadeiro tesouro que a atriz guarda em sua casa!

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As flores nasceram das mãos de Van Gogh e pela mão dos Tindersticks vem For The Beauty

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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, maio 09, 2022

Dias em família -- e eu à espera de um milagre
(e não me refiro a arranjar um amante mais novo)

 




O Verão chegou antecipadamente, todo ele calor, corpo a pedir pouca roupa, cheiro a terra quente e cheiro a mar, meninos em cima uns dos outros, adultos numa boa onda, todos na brincadeira, dias a crescerem, o ursinho felpudo a brincar e a receber carinho, uma luz doce no ar.

Estive com todos, cozinhei para eles, vi-os a comer de gosto, sentei-me à sombra, ouvi os passarinhos, vi as flores, vi como os meninos crescem de dia para dia, vi como o afecto entre eles se mantém.

E passeei com a minha mãe à beira mar, e fomos às compras e conversámos. Está cada vez mais jovem, veste-se agora como não se vestia quando tinha trinta anos: calças frescas, túnicas claras, ténis brancos, bolsinha no tom. Viu um casaquinho todo aberto em verde entre o alface e o pistachio e logo o agarrou, o provou e comprou. Gosta agora de se vestir com cores alegres e luminosas. O meu marido admira-se por desatarmos a falar quando nos encontramos e seguimos conversando até que nos despedimos. Acho que mais ela que eu. E espanta-se porque isso também acontece entre mim e a minha filha. Não percebe como temos sempre assunto. Ele pergunta: 'Tudo bem?' e, pela resposta -- que pode ser apenas 'tudo' -- ele já se dá por contente. E a verdade é que percebe se é mesmo 'tudo' ou não. Mais do que isto já lhe parece conversa a mais. Outras vezes o cumprimento é ainda mais minimalista: diz apenas o nome da pessoa. Mas a verdade é que às vezes presta atenção à minha conversa com os outros pois ao fim do dia ou no dia seguinte vem perguntar-me o que é que estávamos a dizer sobre algum assunto. Mas é assim. Como espectador à distância ainda vá que não vá. Para mais do que isso já não tem muita paciência.

O urso felpudo a andar em duas patas para tentar ver o cão que ouve na casa dos vizinhos do lado


No sábado a minha filha organizou com a miudagem um Taskmaster. Uma das várias tarefas que foi inventando era ver qual deles me punha a rir mais depressa. Só dela ter essa ideia já me deu vontade de rir. Ainda eles não tinham tentado já eu me desfazia a rir. O que me deu mais vontade de rir foi eles verem-me a rir ainda eles não tinham feito nada. E só de pensar nisto já estou a rir-me. 

Não tentem perceber. Não há explicação. Rio-me só de pensar que queriam fazer-me rir e que, antes de terem começado, já eu estava quase a chorar de rir -- o que os deixou desconcertados sem saberem como superar a prova. E isto dá-me imensa vontade de rir (que querem que eu faça...?)

Portanto, desistiram. Então a minha filha teve uma nova ideia: não era fazerem-me rir a mim, era fazerem rir o avô. E aí a coisa fiou mais fino. O que me ri. Eles a contarem piadas, a fazerem palhaçadas... e  o avô impávido e sereno. Por fim lá assomava um sorriso. E eles queriam que ele risse mesmo. A minha filha disse que o sorriso chegava, que era o máximo que iam conseguir dele. O que me ri...

No outro domingo eu tinha-lhes dado a grande novidade: tínhamos descoberto um programa e tínhamos ambos estado o tempo todo a rir. Claro que eu rio e ele sorri mas, lá está, isso para mim é igual a riso. O Taskmaster. E eles todos: 'Mas está já a acabar! Isso já dá há umas semanas. Não perdemos um episódio. Fartamo-nos de rir.' -- e isto quer do lado da casa da minha filha quer da do meu filho. E, portanto, pelos vistos toda a gente conhecia o programa menos nós dois. Vimos a semana passada e vimos esta, de facto o último episódio. A ver se vem aí nova série pois é divertidíssima. Também tem a ver com o sentido do humor dos participantes. Estes eram mesmo boa onda.

A minha menininha mais linda tinha descoberto uma app que via o match entre um casal. Pensava eu que seria por signos, por algum questionário, qualquer coisa. Mas não, apenas a partir do nome. E, então, estava a mostrar à tia como era e a fazer o exercício com casais conhecidos. No meu caso salvo erro deu oitenta e tal por cento com o avô. Pareceu-me bem. E, por acaso, até acho que os nomes são relevantes. O meu primeiro namorado tinha o mesmo nome que o terceiro, aquele com que me casei. Dois grandes amores. O do meio tinha um nome que não me dizia grande coisa. Ou melhor: que feria a minha sensibilidade. E, no entanto, é um nome normal. Mas uma pessoa com aquele nome não podia ter sido feita para mim. No caso do meu marido, quando a namorada dele da altura estava a descrever o namorado, pela descrição, achei que só poderia estar a falar daquele que me trazia enfeitiçada. E quando lhe perguntei o nome dele e ela o disse, tive a certeza que era ele. Na verdade, ao tê-lo visto e ao ter pensado que era o homem da minha vida, sempre soube que não poderia ter outro nome. Por isso, e não quero cá saber de coisas, também acho que os nomes são determinantes na vida de uma pessoa e na probabilidade de alguma coisa vir a dar certo entre duas pessoas. 

Com estes esoterismos e conversas malucas pode parecer que estou a renegar a minha vida de pessoa racional, dada à ciência e a rigores. Mas não estou. Simplesmente há coisas que não têm explicação.

Tirando isso, já é dia 9 e vamos ver o que nos traz. O que eu queria que trouxesse não posso aqui dizer até porque é coisa impossível. Mas gostaria que trouxesse um milagre. Não acredito em nossas senhoras encavalitadas em cima de azinheiras ou coisas assim. Mas acredito em milagres verdadeiros, sim. Existirmos, cada um de nós, é um milagre. A vida das flores é um milagre. Eu estar a pensar e escrever e vocês aí desse lado a saberem destes meus pensamentos sem saberem quem sou e sem me verem ou ouvirem é um milagre. Tantos milagres. Porque não acontecer um milagre bom que salve vidas e abra espaço para a reconstrução do futuro de todos quantos perderam tudo? 

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Mas, enfim, não dormi muito nem descansei muito neste fim de semana (e a semana tinha sido obra) pelo que passo já para a apresentação de um filme que deve ser uma graça: o amor entre uma mulher digamos que já com alguma vida vivida e um homem bem mais novo. A ver se consigo descobrir como ver este filme.

Se eu, por uma birra qualquer, me separasse do meu marido 

(coisa que me parece improvável pois toda a vida tivemos birras e sempre me esqueço delas na meia hora seguinte. Às vezes tenho a vaga impressão que teria razão para estar chateada com ele mas já não me lembro exactamente porquê. E na hora seguinte nem disso me lembro. Poder-se-ia dizer que é demência, coisa da senilidade. Mas acho que não, sempre foi assim)

e fosse uma separação para valer, acho que, para arranjar novo namorado, teria que ser bem mais novo, talvez uns vinte anos a menos. Senão mais valia fazer as pazes e voltar a aturar o velho, ou seja, o actual.

Les Jeunes amants

Shauna, 70 ans, libre et indépendante, a mis sa vie amoureuse de côté. Elle est cependant troublée par la présence de Pierre, cet homme de 45 ans qu’elle avait tout juste croisé, des années plus tôt. Et contre toute attente, Pierre ne voit pas en elle “une femme d’un certain âge”, mais une femme, désirable, qu’il n’a pas peur d’aimer. A ceci près que Pierre est marié et père de famille.

 

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Fotos feitas cá em casa, aqui na companhia de Ludovico Einaudi com The Water Diviner

Nota: Tentarei responder aos comentários durante o dia de amanhã

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Paz. Esperança. Um milagre

segunda-feira, abril 25, 2022

25 de Abril.
Nome do meio: Liberdade

 


Estes meus dias, o sábado e o domingo, foram dias muito bons. Estive com a família, com os meus meninos. O meu coração abre-se num abraço quando estou com eles. 

Sinto-me feliz e agradecida e gosto de ver que eles também se sentem bem. 

Os primeiros que chegam perguntam sempre pelos outros. Neste domingo não estiveram ao mesmo tempo. Os que vieram na parte da manhã tinham, logo a seguir ao almoço, um programa de festas apertado e que começava cedo. Por isso, quando os segundos chegaram já os primeiros tinham saído. Ficaram com pena. Mas, apesar disso, quer os da manhã quer os da tarde estiveram felizes da vida. Gostam de cá estar. 

Agora, para além dos primos e tios e avós há também este ser felpudo, amalucado e meigo, que fica doido de alegria quando os vê.

Brinca, brinca, deita-se para receber mimo, anda no meio de nós recebendo carinho de uns e de outros. 

Este domingo, o menino mais crescido -- que vai ter teste de português esta semana --, para treinar a composição, escreveu um texto (por sinal muito bem escrito e imaginativo). Eu li o texto, elogiei embora tivesse ressalvado um erro ortográfico e umas vírgulas fora do sítio, e a mãe leu-o também e também fez os seus comentários. Às tantas, vimos a pequena fera de composição na boca. Com tantos comentários, deve ter querido saber se também aprovava. Então, o menino dizia: 'Senta' e ele parava de correr e sentava-se. O menino dizia: 'Fica' e a fera ficava. Então o menino aproximava-se e dizia: 'Larga'. E a fera desatava a correr como se não houvesse amanhã, a composição na boca.

O mano dizia que o seu amigo felpudo era terrível, se calhar saía ao padrasto. 'Ao padrasto...?!'. A mãe perguntou: 'Ao padrinho?'. Sim, era isso, confirmou ele, o padrinho da fera.

De manhã, ao abraçar e beijar o mais novo, disse-lhe: 'Meu menino mais lindo'. E ele disse: 'Os meus pais nem sempre estão de acordo'. Assim, de repente, não percebi. 'Não estão de acordo com quê?'. Ele encolheu os ombros e disse: 'Que eu seja um menino lindo. Eu às vezes sou maroto...'. Abracei-o ainda mais, 'Meu marotinho mais lindo'.

Enquanto isso, a menininha ajudava-me na cozinha e confessava que adora cozinhar mas coisas complicadas, dizia. O irmão do meio, também a ajudar, refutava: 'Mas, mana, se tivermos que fazer o jantar, temos que saber fazer o básico, arroz, mexer um ovo'. E ela, na base do dahhhh...: Ó mano, claro que sei fazer isso tudo...

Todos eles me surpreendem, encantam e divertem, cada um à sua maneira. 

Apontamentos de momentos de maravilhamento e boa disposição. Tomara que sempre os retenha na minha memória e eles na deles.

Mas não me sinto apenas feliz por vivê-los: sinto-me também agradecida. 

Vivo num país lindíssimo, acolhedor. O clima é aprazível. O ambiente é luminoso e descontraído, as pessoas são afáveis e bem dispostas.

Antes espantava-me quando, nos outros países, via as pessoas deitadas ao sol, na relva, em jardins públicos, algumas em fato de banho. Ou pessoas cantando na rua, outras fazendo acrobacias. Pessoas andando de barquinho a pedais em lagos, as esplanadas cheias, gente cantando ou rindo em voz alta. Em contrapartida, por cá, as praças estavam vazias, ninguém se deitava na relva em parques públicos, quase não havia esplanadas e, nos restaurantes, falava-se sempre à boca pequena. Talvez fosse ainda o lastro do regime anterior, soturno, ensimesmado. As pessoas viviam viradas para dentro de casa e para dentro de si próprias. Havia ainda a psicose do que os outros pensavam ou deixavam de pensar. As pessoas tinham medo de se expor pois temiam a censura alheia.

Felizmente a nossa democracia foi amadurecendo. Desinibimo-nos, aprendemos a divertir-nos. E ninguém leva a mal.

Agora somos um país aberto aos outros e à diferença, as ruas estão cheias de vida e de diversidade, há alegria e vontade de partilhar e de conviver com a natureza e com os outros.

Vivermos num lugar assim -- um lugar tranquilo, luminoso, pacífico, cheio de sol e de mar e de jardins e serras e em que se vêem pessoas de todas as cores falando todas as línguas, vestidas das maneiras mais inesperadas, fazendo as coisas mais bizarras -- é uma felicidade.

E, se me sinto feliz por poder viver e testemunhar esta sorte, a verdade é que sei bem o quanto tudo isto é frágil.

Desejo que seja perene e que deixe boas memórias em quem vive estes momentos bons mas não me iludo: de um momento para o outro tudo pode mudar, tudo se pode perder.

Há cerca de dois anos fomos todos mandados para casa porque um vírus ameaçava a nossa vida normal, obrigando-nos a uma adaptação repentina a outros hábitos, longe uns dos outros, sem contacto físico, receando contagiar-nos uns aos outros.

Pelo meio o meu pai morreu e não apenas não pudemos velar o seu corpo (o que não me custou muito pois penso que me teria custado mais estar numa capela rodeada de gente sabendo que o seu corpo frio estava ali, ausente, destituído daquilo que ele tinha sido) como foi muito triste ver chegar a carrinha com o caixão envolto em película aderente e estarmos cá fora, poucos, todos meio abandonados. Pensar que o meu pai estava ali e nós a despedirmo-nos dele tão pouco condignamente causou-me muita tristeza. Mas tudo é relativo. Na morte e nas despedidas há sempre tristeza, de uma forma ou de outra.

Ao fim de dois anos, agora que a pandemia está a dar mostras de acalmia, acontece a invasão de um país por outro que o quer anexar e que, para o conseguir, o bombardeia, assassina pessoas, destrói cidades e obriga a expatriar milhões de pessoas. Famílias inteiras destroçadas. Uma tragédia infinita e imperdoável.

Estou feliz, a minha casa íntegra, a minha família unida. E a primavera aí está, florida, renascida, cheia de flores e canto de passarinhos. 

E eu ando deleitada, fotografando tudo e todos, olhando cada coisa como se fosse a primeira ou a última vez.

Mas sei que tenho sorte e que nada é garantido. 

Mas é bom enquanto dura e sempre farei o que está ao meu alcance para que sejamos felizes, livres, donos do nosso destino. 

E Macron venceu em França e a Ucrânia há-de manter-se um país livre e independente e tenho esperança que conseguiremos voltar a acreditar num mundo sem muros, sem guerras, sem mal.

(E não quero saber se isto soa a ilusão sem sentido. Quero acreditar que será possível sonhar com isso e isso chega-me)

Não tenho cravos para aqui festejar Abril. Mas Abril é um mês que não apenas acolhe todas as vozes como todas as flores e, por isso, termino o texto com uma flor de que gosto muito. Para todos os que por aqui passam.


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25 de Abril sempre

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Um dia bom
Generosidade e afecto. Liberdade. Paz. 

quinta-feira, janeiro 27, 2022

Eleições Legislativas 2022 - Votos e Bandidos

E umas perguntas muito concretas ao João Lisboa

 



Sobre o que escrevi ontem, recebi um mail e uma mensagem. E, com a devida autorização do estimado Leitor que me enviou o mail e pressupondo que o meu filho não se vai aborrecer que eu refira o reparo que me fez, aqui segue então, em primeiro lugar o texto do mail (que agradeço):


Votos

Bom dia UJM. Faço meus os seus votos, por mil e uma razões !

Há aproximadamente 2 anos foi diagnosticada uma doença degenerativa à minha Mulher. Durante os 2 ou 3 anos anteriores, foi seguida no Hospital da Luz por uma especialista que cobrava honorários a peso de ouro. Um dia pedi-lhe um relatório médico que me foi solicitado pelo Centro de Alcoitão, para iniciar terapia da fala. A dita médica, depois de muita insistência minha, escreveu meia dúzia de linhas manuscritas de difícil compreensão. A técnica do CRA, classificou  o dito relatório, "no comments". Ao mesmo tempo, a dita médica, recomendou a realização de um exame no HL, sendo que o mesmo teria que ser com internamento de 3 noites. Aí eu desconfiei ....

Realizámos o dito exame da Ressonância magnética num laboratório conhecido, a preço muito acessível, e decidimos recorrer aos serviços do SNS no HEM.

Tudo mudou desde então. A abordagem pluridisciplinar que se impunha, começou a funcionar em pleno. Sabemos que é uma doença progressiva, contudo, para minimizar os impactos temos contado com uma equipa excepcional  do HEM e HSFX que tem agido de forma integrada. 

Várias vezes tenho referido aos membros da equipa, a nossa gratidão. Sinto que a equipa dos médicos, também aprecia a manifestação do nosso reconhecimento.

Interrogo-me e preocupa-me o que irá acontecer com o hipotético regresso ao poder dos que propõem a privatização do SNS.

Desculpe-me não publicar este meu testemunho no espaço dos seus comentários. (...) Se achar relevante, pode transcrevê-lo.

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Do meu filho recebi um reparo, primeiro por mensagem e depois, mais tarde, por telefone. Dizia-me ele que. se António Costa conseguiu formar Governo e governar bem durante seis anos e se foram feitos alguns avanços significativos em algumas áreas, tal se deve ao apoio dos 'bandidos' a que a avó se tinha referido.

Do que lhe conheço, ao falar nos ditos bandidos, a simpatia dele vai mais para Jerónimo de Sousa. Não lhe conheço qualquer simpatia para com o Bloco. Também eu sinto respeito pelo velho moicano. E também eu, desde o minuto zero, achei bem que António Costa governasse com o apoio da esquerda. E, apesar da frequente queda da Catarina e das Mortáguas (com o Cardeal na rectaguarda) para a traição, passei por cima disso e foquei-me no importante: a defesa de políticas justas, de desenvolvimento, de salvaguarda dos direitos dos que mais precisam de apoio. Mas quando Catarina Martins, o ano passado, num gesto de arrogância, de irresponsabilidade política e de ânsia por protagonismo, chumbou o Orçamento e quando este ano, um ano tão difícil, com um Orçamento equilibradíssimo e com inúmeros pontos de convergência com as pretensões desses dois partidos, resolveu chumbar o Orçamento, juntando-se ao seu companheiro de percurso PCP e juntando-se à direita reunida, PSD, ao CDS e ao Chega, a minha posição mudou. Mudou mesmo.

O meu filho diz que em democracia devemos aceitar que os partidos se manifestem. Claro que sim. Em ditadura, quem se manifesta contrariamente aos cânones é perseguido, detido. Em democracia não: em democracia os ajustes de contas fazem-se nas urnas. E é nas urnas que desejo que quem antes votou no PCP e no Bloco agora lhes vire as costas pela irresponsabilidade e pela traição.

O Bloco e o PCP podem fazer o que quiserem, são livres de o fazer. Claro que sim. Mas ao quererem agradar aos seus militantes mais fundamentalistas esqueceram os interesses do País. E, com isso, revelaram que lhes falta o sentido de Estado.

Ao argumentar assim ao telefone com o meu filho, ele lembrou-me que, há seis anos, contra um longo historial de aversão aos socialistas por parte dos comunistas, Jerónimo de Sousa aproximou-se de António Costa e, com esse gesto, viabilizou um Governo socialista.

É verdade. Foi um gesto corajoso e digno de um verdadeiro estadista. Louvo-o por isso. Louvei-o na altura e, ainda hoje, reconheço o valor e valentia do gesto

Mas critico-o por agora ter saltado fora na votação na generalidade deste Orçamento (que, na especialidade poderia ainda ser melhorado), juntando-se à direita trauliteira e revanchista que sempre fez de tudo para denegrir a Geringonça e o Governo apoiado pela esquerda.

O meu filho recordou-me que o chumbo do Orçamento não implicaria a dissolução da Assembleia e que, aí, quem se precipitou foi o Marcelo.

Concordo. Algumas vezes aqui o tenho dito: Marcelo precipitou-se. Também ele é refém do seu forte apelo pelo auto-protagonismo.

Mas, tendo ele anunciado que, se o Orçamento chumbasse, a Assembleia seria dissolvida, já não havia recuo possível. Portanto, o PCP e o Bloco, ao votarem como votaram, sabiam a crise que iam abrir no País. 

Faltou-lhes sentido de Estado, faltou-lhes o sentido de lealdade, sobretudo lealdade perante os portugueses. E a quem faz isso (pela 2ª vez) não deve ter servida de bandeja a oportunidade de o fazer uma terceira vez.

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Entretanto, num comentário, o João, reportando-se ao que escrevi sobre as virtudes do PS e de António Costa enquanto governante, pergunta-me pelo Cabrita, pelo ministro da Educação, pela fraca intervenção cultural, pelas cativações*. Percebo-o. Tem razão. Mas, João, há soluções perfeitas? Quadros em que são todos umas sublimes, excelsas e não-pecadoras criaturas só aquelas pinturas com santinhos sobre as nuvens, uma virgem (a tal do imaculado pipi) e passarinhos iluminados por abençoados raios. 

[Eu não incluiria as cativações nos episódios menos felizes. Cativações são procedimentos normais na gestão económico-financeira. O facto de estar previsto em orçamento não tem que significar que são verbas automaticamente disponíveis para gastar pois as circunstâncias podem mudar e há que ir aferindo da oportunidade ou da necessidade de se gastar]

Na vida real, seja em que situação for, há sempre o que não é tão bom como o demais. Mas há que sopesar cada aspecto, olhar para o conjunto, avaliar alternativas. 

Imagine, João, que não ganha o PS. Aí, vamos pensar no que acontece no dia seguinte. Ganhando o Rui Rio, vamos ver quem é que ele poria na Administração Interna. Na Defesa já sabemos que põe o Chicão. Coisa esperta, não é? Na Administração Interna, imagino que não vá repescar o Ângelo Correia. Mas vai buscar quem? O Silvano? Credo. A Mónica Quintela? O Rangel...? Susto... E na Educação? Quem? Qualquer nome que me ocorra é para ser um susto ainda maior... E na Cultura? Quem é que o PSD tem para pôr na Cultura... Aqui nem consigo imaginar. Que ideias é que o Rui Rio tem para a Cultura...? Sabemos o que foi o reinado dele na Câmara do Porto. Um desastre absoluto.  E na Economia? O José Gomes Ferreira...?

Ou seja: pensando numa equipa governativa liderada por Rui Rio, o João consegue perspectivar melhor equipa do que uma equipa que António Costa possa formar? 

Por isso é que acho que nem vale a pena a gente pensar muito. Mesmo que não se ame o PS de paixão nem se  se idolatre o Costa, há que reconhecer que, neste momento, as alternativas a um governo PS são de mal a pior, são para a desgraça. 

Portanto, mesmo que não seja por total convicção, mesmo que seja um mero voto útil (quimicamente puríssimo), qualquer pessoa que goste do País e dos portugueses e que se preocupe com o futuro, o seu e o do País, não tem grande alternativa. Por isso, espero que os hesitantes e os sonhadores e os distraídos caiam na real e vão votar. No PS.


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Desta vez as belas rosas fotografadas por Nick Knight vêm ao som de Silêncio e tanta gente de Maria Guinot

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Desejo-vos um dia muito bom

Muitas rosas e muitos sorrisos para todos

quarta-feira, janeiro 26, 2022

Um Governo chefiado por um troca-tintas, um mangas de alpaca retrógrado e preconceituoso...? Com um puto medroso, palavroso e oco como Ministro da Defesa...?
Ná... Não posso acreditar... Não pode acontecer.

E, para que se ouça, loud and clear, aqui fica explícito qual o meu voto.
E também o da minha mãe...

 



Neste sábado, ao passearmos, a minha mãe voltou a dizer que 'esta gente' que provocou a queda do Governo -- e põe no mesmo saco PCP, BE, PSD e CDS -- é uma 'cambada de irresponsáveis'. Depois entristece-se, quase como se fosse ela a ser vítima de injustiça. Diz: 'Com o que este Governo tem feito, o que tem aguentado...Não há direito...O que eles têm lutado, o que têm penado... E agora o que estes aldrabões para aí andam a dizer... Não há direito... Para que são estas eleições? Uma vergonha.'  para logo rematar, já enfurecida, naquele registo informal de quem sabe que o que diz à filha não é testemunhado por terceiros: 'Se estas bestas vêm outra vez para o poder, sempre quero ver. Já não basta o que fizeram antes... Alguma vez eles são capazes de fazer o mesmo que estes? Alguma vez...? Uma cambada! Nem quero pensar!'. 

Quando se refere ao que 'fizeram antes', penso que se refere ao Passos Coelho; mas também pode ser ao Cavaco, que ela detesta. Não fala do Rio. Para ela, o Rio é apenas uma representação dos outros. Não o reconhece sequer como ser autónomo e capaz. 

Não sonhando que as suas palavras seriam aqui reproduzidas, enfurece-se ainda mais ao falar do Bloco ou do PCP: 'Bandidos. Eles é que têm dado espaço para esse Ventura, esse porco. Nem consigo vê-los, quando aparecem mudo logo de canal. Bandidos.'.

E acrescenta: 'Desde o 25 de Abril que não estou tão preocupada com umas eleições. Vou votar logo à abertura. Estou mesmo preocupada com isto'. Pergunta-me a que horas abrem as urnas. Digo-lhe que acho que é às 8 da manhã. Diz que vai antes para votar logo que abram.

Nunca, nestes anos todos, lhe perguntei em quem votava. Nem a ela nem ao meu pai. Mas creio que, em geral, terá sido no PS. Neste caso, agora, não há dúvidas pois di-lo explicitamente. Gosta muito do António Costa tal como gosta bastante da Marta Temida.

De resto, quer a minha avó quer o meu tio, irmão dela, sempre mostraram ter o coração devidamente implantado: à esquerda. 

Um dos seus tios, irmão dessa minha avó, tio que eu ainda conheci quando era muito pequena, antes do 25 de Abril esteve preso e foi deportado creio que para São Tomé. Mais tarde, já por cá, viveu clandestinamente e lembro-me de o ver uma vez à noite em casa da minha avó e de o ter encontrado uma vez no mercado do peixe. Estava com a minha mãe e ela deu de caras com ele. Lembro-me de ter sido um encontro estranho, meio a correr e a disfarçar. Nunca se sabia por onde andava. Tenho ideia que morreu pouco antes do 25 de Abril pois a minha avó lamentava que aquele irmão não tivesse desfrutado a liberdade pela qual tanto tinha lutado.

Do lado dessa minha avó sempre foram uns resistentes e houve um primo da mãe dela que foi Presidente da República, uma pessoa da cultura.

Há pouco, ao chegar a casa, já tarde, liguei a televisão enquanto nos preparávamos para jantar (felizmente a comida estava já feita). Vi o Rio a aconselhar o Costa a acabar a sua vida política com dignidade. Senti um enjoo, um incómodo profundo. 

Os portugueses não podem ser irracionais ao ponto de trocar uns bons governantes, como os que temos tido nestes últimos anos, por gente que não lhes chega aos calcanhares. 

Nem acredito que achem que o Costa tem governado bem o País e, por qualquer enviesada razão, vão votar noutro qualquer, abrindo a porta para o Rio, para o Chicão, para o Ventura.

Não acredito. 

Só espero é que quem pense que a melhor solução para o País passa por ter um governo liderado por António Costa se chegue à frente e o afirme a plenos pulmões. E vote. No PS.

Eu, pela parte que me toca, é o que aqui estou a fazer. Vou votar no PS e creio que praticamente toda a minha família mais directa vai fazer o mesmo. Nenhum de nós é filiado. Nem somos de ir a comícios, arruadas ou coisas do género. Mas concordamos numa coisa: nenhum outro partido tem mostrado a sensatez, a abertura de espírito, a visão de futuro, preocupações humanistas e intergeracionais, espírito inclusivo, apetência cultural, capacidade de pôr o país a crescer assente num equilibrado modelo económico, no poder da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico, sempre com sentido de Estado e pés na terra como o Partido Socialista. E reconhecemos António Costa não apenas como um competente e digno líder socialista como um excelente governante.

Espero muito sinceramente que ninguém fique em casa nem vote com os pés: vamos votar e vamos votar com a cabeça. Se não queremos a direita, votemos em quem melhor lhe consegue barrar o caminho e em quem melhor governará o país: no PS.


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As rosas foram fotografadas por Nick Knight ao som de do tema do Cinema Paraíso de Ennio Morricone na interpretação de Renaud Capuçon
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Desejo-vos uma boa quarta-feira
Bons pensamentos. Muitas rosas. Esperança. Força.

sexta-feira, junho 04, 2021

O segredo das rosas

 


Dia feriado e, só por isso, bom. Os meus dias já não são exactamente o que eram. Agora com qualquer coisa já acho que está bem assim. De manhã fomos ao supermercado. Dantes odiava. Agora gosto. Para além das utilidades, sucumbi às flores. Três. Duas cristas-de-galo, uma em fúcsia intenso e outra em amarelo, e uma begónia. Escuso dizer que o meu marido tenta impedir-me, diz que não temos onde pô-las. Nem respondo. Como não temos? Claro que temos. É como para mais um sorriso ou um bombom de chocolate: há sempre lugar. A minha mãe diria: o coração das mulheres é muito grande, há sempre lugar para mais um. Neste caso, uma.

Vim para casa feliz da vida.

De tarde, fomos ao Leroy. O tema era puxadores de porta. Mas trouxe três vasinhos brancos para as flores novas e uns suportes. A ideia de ter vasos suspensos anda a agradar-me muito. Queria um que lá estava que tem uma pega para pendurar mas estava numa prateleira a que não chegávamos. Tirei senha para pedir a um empregado mas nunca mais chegava a minha vez. Tanta gente... Vi lá uma outra flor linda mas sem o vasinho com a pega fiquei sem saber bem onde a poria. O meu marido fica em transe quando vê muita gente e me vê a querer trazer coisas que ele acha inúteis. 

Fui também ver de uma coisa da qual andava atrás há algum tempo: uma escarificadora manual. Têm estado esgotadas. Ainda não descobri uma como aquela máquina que aqui me foi recomendada em tempos, de nos montarmos em cima dela, ideal para os meninos fazerem exercício. Esta é das simples,. Quando vi uma fiquei toda contente. Mas a alegria não foi consensual. Por pouco, ele não acabou ali mesmo com o casamento. Que eu não pensasse que ele ia andar com aquilo. Eu disse que eu é que ia andar. Não acredita, diz que não tenho disciplina nem paciência para aquilo, que quero é que ele faça as coisas mas que tire isso da cabeça. Tive que lhe dizer que estava em público, que controlasse o mau feitio. Como não consegui ver o preço, disse que ia levar até à caixa e, se fosse cara, não trazíamos. Trouxemos. Estou desejando de ter tempo e de estar melhor do joelho (já marquei consulta) para me ir pôr a escarificar a relva. Não sei se o conceito se aplica à relva ou à terra mas, seja a escarificar a planta ou o leito em que se deita, tanto faz. Hei-de escarificar tudo. Só o verbo já é interessante e, quer-me a mim parecer, há-de prestar-se a boas metáforas. . 

Quando chegámos a casa, estive a transplantar as florzinhas novas para os vasos. O meu marido no outro dia trouxe uma ponta para a mangueira que tem várias posições. Gosto muito de usar a posição de chuveiro para regar os vasinhos que estão pendurados no gradeamento que separa o terraço da cozinha do jardim. A água escorre de uns para outros. Está tudo viçoso e quando rego ao pôr-do-sol, em contraluz, fica tudo muito bonito.

As taças de suculentas no pequeno terraço junto à outra porta estão a ficar muito bonitas. Estão ao pé daquela maravilhosa Brugmansia suaveolens que afinal tem tanto de tóxico quanto de bonita

Quem diria que uma planta com aquela beleza pode ser tão perigosa? E a magana que, pela tarde, se perfuma como uma tentadora allumeuse...? Um perfume... Só visto (e cheirado). É o perigo das sedutoras: mais vale que os incautos se mantenham longe. Caso contrário, os que se se afoitam demais logo caem nos seus encantos e ficam fatalmente agarrados.

As nêsperas também estão uma tentação: carnudas de boas. Como-as imoderadamente e, pior, sem sentimento de culpa. É o que dá não ter ligado muito à catequese. Peco sem querer saber se estar a pecar, ignorando a culpa.

Tenho ainda a dizer que ontem li um artigo que me deixou alegre e vitoriosa. Fiz até questão de o ler em voz alta ao meu marido. Aquilo pelo qual tanto tenho batalhado afinal ali, em letra de forma, no Guardian: The brilliance of brown lawns: why your grass shouldn’t always be greener. Ainda no outro dia o meu filho dizia que a relva não estava grande coisa. Eu achava que estava óptima. O meu marido cantou de galo, sentindo apoio na sua luta. Em algumas zonas a relva estava maior e eu gostava de a ver assim. Não tem que estar rapada. E se houver uma ou outra zona em que está mais seca, acho que é uma questão de escarificar e ir regando.  Não gosto de ver o jardim como se fosse uma coisinha muito bem comportada. O meu marido e o meu filho acham que relva, por definição, é relva aparada e regular. Neste particular não nos entendemos, portanto.

Pois bem. Relvas pipis, aqui sentenciado e sacramentado pelo Guardian, são relvas que anulam a biodiversidade. Deixá-la crescer um pouco, deixar que algumas florzinhas se aventurem, tudo isso me parece saudável e bonito -- e é. Atrai insectos, atrai pássaros, estimula a reprodução selvagem (e afins). Ou seja, aquilo pelo qual tenho sido tão contestada, afinal, não apenas não é ideia assim tão disparatada como é o melhor para a natureza. Pimbas.

Hoje, quando íamos a sair para o supermercado, ele apontou para o chão e disse: olha um malmequer. Fiquei contente. A reacção dele já foi resultado da leitura de ontem. Senão teria dito: é no que as tuas teorias dão, até já flores nascem no meio da relva, se não se trata rapidamente, não tarda isto está uma m...

Debrucei-me. Era mesmo. Uma florzinha linda, pequenina e atrevida. Talvez uma mini-margarida. Não a arrancámos, como é óbvio. O que leio no artigo é que há florzinhas que se podem aparar como a relva, que não morrem. O meu marido não convive bem com esta minha abertura de espírito, tenta restabelecer a ordem. Diz: não lhe podes é chamar relva, é outra coisa.

Esteve cá a anterior dona da casa. É sempre uma lufada de boa disposição. Olha em volta, vê as flores. Ficou espantada com a abundância de rosas. Cachos de rosinhas encarnadas. Mostrei-lhe aquelas que, ainda há pouco, eram grandes, amarelas, cor-de-salmão, brancas e disse: veja, estão outra vez pequeninas, encarnadas. Ela fez um ar desconcertado. Sempre foram assim como estão agora, pequeninas, encarnadas. Nunca tive rosas amarelas... Pois, que é misterioso é. Por isso ainda mais gosto delas, mutantes, inexplicáveis.

Apanhei um pequeno cacho e coloquei na jarrinha pequenina que coloquei no parapeito da janela que está junto à mesa onde tomamos as refeições.

E andei a fotografá-las. Little red roses. Tão, tão bonitas, tão, tão difíceis de justificar. 

Não sei se, aí onde estão, sentem a vibração da sua cor e a beleza do seu perfume. Gostava que sim.


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Andei à procura de uma canção com rosas vermelhas, sem desgostos ou frescuras. Não encontrei. Optei pela La vie en rose na voz da Melody Gardot, e optei apenas porque sim. Depois, para compensar, apeteceu-me ter rosas em palavras ditas. Mas também não tive paciência para grandes pesquisas. Partilho convosco: A red red rose por Robert Burns (lido por Tom O'Bedlam) e o Soneto 130 de Shakespeare (lido por Alan Rickman)
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Desejo-vos um dia feliz

quarta-feira, maio 19, 2021

Sobre a entrevista do Tony Carreira com o Goucha. Sobre o resto da televisão portuguesa.
E sobre as minhas rosinhas.

 


Desando de canal em canal e só consigo parar longe dos canais mais mediáticos. Hoje o que vi foi uma reportagem sobre trenós na Lapónia. Neve, cães, um senhor sorridente: bem bom. Não vi do princípio, não sei a que propósito vinha mas gostei.

Ontem, para meu espanto, passámos por uma entrevista do Goucha ao Tony Carreira. Não conseguimos ver. O meu marido, tal como Mestre Plúvio, também perguntou: 'Mas o que o leva a dar esta entrevista?  Não se percebe. Aceita dar uma entrevista para falar da filha que morreu?'. Não encontrei resposta. Achei que aquilo tinha tudo para ser indecoroso. Desandei. Passado um bocado, intrigada com a situação, disse: Deixa lá ver, se calhar não é o que estamos a pensar. Admiti que se calhar estava a ser preconceituosa: um pai que perde uma filha não tem vontade de dar entrevistas. Digo eu. E lá fui espreitar. Nem um minuto me aguentei. Qualquer coisa ali me pareceu uma perversa e macabra forma de exibicionismo.

Não tenho dúvidas que o entrevistado, como qualquer pai normal que perde um filho, deve estar devastado. Mas o que leva um pai devastado a dar uma entrevista na qual o entrevistador apela ao sentimento, à dor, à lágrima? Sujeitar-se àquilo porquê? Foi o Goucha mas podia ter sido a Cristina Ferreira. A obscenidade por ali não tem limites.

E já não sei se foi ontem ou hoje, nem sei a que horas foi, estava a fazer zapping, passei por um canal em que estava aquele que não sei se já foi inspector da judite ou o quê. Hernâni Carvalho. Sempre que passo por ele, está com ar incrédulo a perguntar o que leva um filho a matar o pai, a mulher a matar o marido, a namorada o namorado, a Segurança Social a não pagar a reforma, o tio a violar o sobrinho. Sempre indignado, sempre com ar de ingénuo surpreendido. Não sei a que horas ou em que canal. Aliás, acho que sei. Acho que na SIC mas não sei em que canal da SIC. Nunca consegui ver mais do que dois ou três minutos. Desencanta crimes, histórias tenebrosas, quanto mais escabrosas melhor, e por ali fica a foçar. Passo e fujo ou, outras vezes, ouço uns segundos a ver se tem melhoras. Não tem. Só lhe falta desenterrar mortos.

Está agora a faltar-me o nome para esta gente: aqueles bichos que comem animais mortos. Necrófagos, acho. Capaz de ser isso. Necrófagos.

As televisões portuguesas andam de desgraça em desgraça. Os que perderam tudo, os que  estão metidos em toda a espécie de trabalhos, os que padecem de doenças incuráveis, os que perderam uma perna, os que se auto-mutilam, os que passam e usam droga nas cadeias, os que ficaram perdidos nos labirintos da mente. Sei pelas apresentações ou de passar por lá. Não consigo deter-me em nada disto. Tenho saudades dos programas sobre jardins. Se apanho a Paula Moura Pinheiro também fico a ver. De resto vejo o House. Sou viciada nele. E na música da banda sonora. 

A programação das televisões portuguesas, pelo menos nos canais principais e pelo menos nos horários que costumo querer frequentar, é uma lástima.

Anos e anos a fio a destilar veneno, a visitar desgraças, a ouvir denúncias e queixumes, a dizer mal de todos e de tudo só pode causar uma deformação na personalidade colectiva do pessoal que assiste -- para além de abrir a porta aos populistas desta vida. Uma verdadeira lástima.

Tirando isso, posso dizer que a minha roseira descarada, depois de dar rosas escandalosas de tão cor-de-rosa, amarelas, cor-de-salmão e brancas, está agora transformada numa bem comportada roseira que dá cachos de rosinhas encarnadas. Das anteriores encarnações nem vestígios. Se não tivesse fotografado eu própria duvidaria. Chocante. A outra, a que sempre só deu rosinhas encarnadas, agora não apenas está cheia delas, rosinhas, encarnadas, como tem algumas que não são bem rosas muito menos encarnadas.

Não sei explicar isto. Aliás, começo a pensar que o que é inexplicável mas belo é melhor que assim permaneça. As coisas são mais belas se permanecerem inexplicáveis. 

E, de relevante, acho que hoje não fiz nada a não ser transplantar uma espécie de bonsai do vasinho em que estava para um vaso maior, um que o meu marido teimou em não trazer dizendo que não tinha nada a ver com os outros mas que eu insisti pois acreditei que ele só estava a dizer aquilo para não estar na fila para pagar. Acho que ficou bonito. A ver se amanhã fotografo para vos mostrar.

De resto foram reuniões pegadas, tantas, tão prolongadas e tantos telefonemas que acabei a ter que despachar as coisas aqui até às quinhentas. E não é que goste de reuniões longas...(bem tenho lido os comentários) mas não sou a única e há sempre quem tenha muito que dizer. Nem sou viciada em trabalho (embora possa parecer). Simplesmente parece que não consigo sacudir de cima de mim o que parece que teima em chover-me em cima. Uma coisa do meu destino, só pode ser.

Enfim. 


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Dance for me Wallis

Abel Korzeniowski


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Um dia feliz