Tsipras é dos poucos estadistas que ainda conserva um pingo de dignidade nestes tempos de atoleiro, intimidação, chantagem e vergonha.
Miseráveis são os contabilistas armados em estrategas, os fiscalistas especializados em penhorar gambas panadas, os cobardes disfarçados de gente importante, ministros e ministras que mais não são do que isildas, rastejantes ricamente aperaltados, camaleões bem falantes, lacoisas, cavacos de toda a espécie, incompetentes servis, láparos, aldrabões e alcoólicos que governam esta europa pequenina -- deixando o terreno livre para toda a espécie de abutres e esquecendo a união entre os povos e o mais elementar respeito pela dignidade humana.
Bem podem palrar os camelos camilos, os gomes f., os das neves e outros fala-baratos, ilustres avençados, lacaios, acéfalos, papagaios e míopes, e todos esses campeões da verdade a la minute que acham que isto é uma questão de idade da reforma, de iva, de bugigangas dessas. Bem podem. Coveiros, ignorantes e zombies que não sabem o que é a liberdade, a democracia, a dignidade.
Não sei qual será o resultado do referendo na Grécia, não sei qual será o desfecho de tudo isto. Mas é um acto de afirmação e de dignidade este de convocar um referendo para, em poucos dias, obter a opinião do povo.
Quando se faz planeamento e controlo de gestão, olham-se para os números de forma abrangente e compreensiva, tentando perceber as tendências, como é que as variáveis externas impactam nas internas, a origem dos problemas, a razão de ser dos desvios face ao expectável, etc, etc. Geralmente olham-se com mais atenção os grandes números, que são os que influem decisivamente na condução das organizações, e não se perde tanto tempo com miudezas já que o esforço de as olhar em detalhe não paga o tempo que com elas se gastaria.
Em contrapartida, os contabilistas devem garantir que as contas estão certas ao cêntimo, que não há verbas transviadas, mal classificadas, etc. Apenas com uma contabilidade certa, correctamente balanceada, as pessoas do planeamento e do controlo de gestão podem focar-se com acuidade nas 'gordas', descansadas por saberem que, se quiserem ir aos peanuts, as verbas lá estarão devidamente arrumadas e conferidas.
Ora bem, vendo o disparate que desde há uns cinco anos se passa na gestão da crise financeira europeia, concluo que a Europa está entregue a gente com espírito de contabilista. Não estou a menosprezar os contabilistas, note-se. Mas os contabilistas devem fazer contabilidade, não gerir a União Europeia.
O assunto deve ser analisado por gente com visão, com uma visão holística, estratégica, humanista, gente que perceba o que correu mal na aplicação do ideal europeu e saiba corrigir a rota da condução desta União, gente que saiba o que é a Política.
Não é possível que se esteja a arrastar tamanha crise, uma crise que envergonha quem tenha dois dedos de testa, por causa de trocos. É que o que está em causa na crise financeira grega são amendoins. Houve lá excessos? Claro. Onde é que não houve? Houve lá, como houve em todo o lado, em especial em países com economias vulneráveis e que, ao longo de anos, serviram para alimentar os negócios alemães (no material de guerra, então, foi uma festa! de tudo os alemães venderam). A correcção dos desequilíbrios deve ser feita de forma inteligente, respeitando a dignidade dos povos, pugnando pelo desenvolvimento e pelo equilíbrio.
O que está a ser feito, a querer impor castigos à viva força, só me faz lembrar aquela senhora e o movimento por si capitaneado, uma tal Isilda Pegado que, em conjunto com os PaFs, querem que as mulheres que abortam não apenas paguem taxa moderadora como vejam antes a ecografia e a assinem. Gentinha mesquinha, má, má, que gosta que os outros ajoelhem vergados sob o peso da culpa. Uma vergonha.
Ora aquilo a que assistimos é que parece que na condução dos destinos da Europa se juntaram os contabilistas, as isildas, os láparos desta vida, os chernes e seus derivados, e, ainda, os agentes escusos que se ocupam dos jogos de poder e falhanço (porque, não nos esqueçamos, há sempre alguém que muito ganha quando alguém muito perde) - e o sarilho é infindável, uma teia cada vez mais ensarilhada, uma cambada de estarolas mentecaptos que não sabe sair do labirinto onde se enfiaram. E, claro, os abutres estão à espreita.
Mas, enfim, pode ser que um dia destes, algum desses palhaços ganhe tenência ou que comecem a aparecer Políticos (com maiúscula), inteligentes, honestos, corajosos, e que este regabofe acabe.
Nesse dia, só espero que haja festa rija, bailes na rua, alegria, esperança, balões pelo ar.
Ora, nem de propósito recebi, de um Leitor a quem muito agradeço, um vídeo extraordinário. Melhor que o fogo de artifício da Madeira, que os balões de S. João, melhor do que tudo o que já se viu. É na Tailândia e é do além. E é o que deveria haver quando a Europa voltar a ser um espaço de liberdade, democracia, desenvolvimento e respeito pelas pessoas.
Giant Circular Rocket
(Para dias de festa rija)
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As imagens acima usadas para enfeitar o texto, que revelam o sentido de humor de quem as produziu, são da autoria do grego Manos Kaperonis (@manoskaperonis)
Há quem diga que, para compreender os outros, nada como nos calçarmos com os sapatos desses outros (sou uma desmiolada com os ditados, e isto que escrevi não me está a soar nada bem; deve ser outra coisa mas, enfim, agora não me ocorre nada melhor).
Ora, aqui a ideia é mudar de cabelo (ou de cabeça, mantendo o cabelo) a ver se compreendem os assuntos com a cabeça dos outros: a sonsa da Merkel a perceber o entalado do Tsipras e o cabelo da sabuja da Lagarde(Lacoisa)** com a cara do pedaço do Varoufakis**.
Enfim, mesmo que não produza efeito prático, tem graça. Ao menos isso, que os gregos e os europeus em geral não percam o gosto pela alegria de viver.
[** As palavras Lacoisa e o pedaço do outro (pedaço do outro salvo seja, claro) não é de minha lavra: ver por favor, comentário abaixo da sempre inspirada Leitora Rosa Pinto]
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Recebi também, por mail, um outro vídeo que aqui divulgo, desejando que o povo grego que se vê como que enclausurado numa jaula com um leão, e quase parecendo que de lá não vai conseguir sair com muita saúde, tenha a presença de espírito e a coragem que Charlot teve.
(E quem diz o povo grego diz toda a gente que se vê aflita, metida num sarilho dos grandes, aparentemente sem razão para ter esperança: há sempre razões para acreditar). Por exemplo, eu tenho esperança. Apesar das sondagens, acredito que o povo português, nas eleições, vai fazer aos PaFs o mesmo que Jara fez ao Cavani* -- e, portanto, haja esperança, minha gente).
Charlie Chaplin na jaula do leão
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* Dizia eu que, apesar da aparente falta de assertividade de António Costa, que está a custar a arrancar, (e apesar do ar desbotado e infeliz dos cartazes do PS...), ainda estou convencida que, entre o PS, o PCP, o BE e o Livre, os portugueses vão fazer aos PaFs o que o Jara fez ao Cavani.
Aos que não acompanham estes gestos de salão, explico. E que me desculpem as pessoas finas que frequentam o Um Jeito Manso. Eu também sou fina, ora essa, mas, meus Caros, às vezes tem mesmo que ser.
A jogar em casa, o Chile eliminou os uruguaios, detentores do título, num jogo carregado de polémica e com duas expulsões na seleção do Uruguai. Uma delas, a de Cavani, foi crucial no desfecho da partida e está a correr mundo devido ao gesto do defesa chileno Jara, que provocou o avançado uruguaio ao introduzir um dedo no rabo do avançado.
Nem mais.
(Temos pena.) ...
Resumindo e baralhando: Está mais do que na hora de nos vermos livres de pró-chernes, ácaros, pinókias, vice-portas, cães com pulgas, schäubles, lagardes rastejantes, hollandes pastelões, vírus, láparos e bicheza ruim de toda a espécie.
Neste caso, do láparo, (como nos restantes): lixo com ele.
E a seguir, toca de lavar as mãos com um bactericida dos valentes.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.
Aliás, todas as sexta-feiras são de uma beleza estonteante. Belas e boas, boas, boas.
No post abaixo já partilhei uma anedota sobre o inteligente C-rato. Enviou-ma um Leitor e eu fiz-me eco dela porque acho que retrata bem a figurinha.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, prossigo com humor.
Recebi, por mail, duas imagens, uma relativa ao boletim de voto na Grécia e outro com a Merkelassos, um ser que resulta da transmutação do láparo na matrafona. Isso deu-me vontade de procurar mais cartoons sobre a Grécia. Muito à pressa - que hoje a minha noite está um autêntico sprint - descobri alguns.
Porque é que os novos ministros gregos não usam gravata?
A maratona grega
O mito de sísifo dos tempos modernos
Uns de pé, com coragem, ouros agachados. Portugal de perna aberta.
Alemanha - sempre a querer chuva na eira e sol no nabal
(e, custe o que custar, mais e mais euros no seu quintal).
Depois disto, para que lado vai pender o euro?
A Grécia para a Merkel: está bem, está...
Como era o boletim de voto grego
E, para finalizar, a nossa Angela de trazer por casa, o laparangelo ou a merkeassos.
Ou, melhor, o híbrido mal enjorcado de seu nome Laparangelo Merkelassos.
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Relembro que no post abaixo poderão ver uma anedota sobre as espertezas saloias do C-rato.
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Hoje tenho que me ficar por aqui porque não tarda tenho que estar a pé para dois dias fora de casa numa maratona que não vai ser moleza. E a ver se esta terça à noite consigo fazer qualquer coisa aqui no UJM porque terei um jantar e não sei bem a que horas regressarei ao quarto de hotel nem se terei capacidade para escrever. E na quarta-feira idem: imagino que devo vir com a cabeça feita em água pelo não sei se chego com tino para escrever. Ou seja, se não der as caras, não se admirem. Mas vou tentar.
E, ainda por cima, já vi que lá para as bandas para onde vou está um frio do catano. Fogo!
(... and sorry for my french.)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.
Num mundo que anda às arrecuas, em que a humanidade é desprezada em detrimento da eficiência económica, em que em nome de uma tal de meritocradia se enaltecem os medíocres, em que a saúde e a própria vida humana são factores secundários quando se fazem contas numa folha excel, em que se aceita que uns quantos doentes fiquem sem tratamento, outros morram, ou que uma família após outra entregue a casa, perca a guarda dos filhos e sei lá que mais, eis que um grupo de pessoas se ergue e caminha em direcção à boca dos tubarões, dos senhores da austeridade, dos burocratas não eleitos ou dos arautos do sacrifício humano.
Varoufakis e Tsipras andam a suar as estopinhas percorrendo as capelas todas, tentando evitar o calvário a que os querem votar, tentando evitar mais uma humilhação. Mas nas ruas de Atenas milhares de pessoas desfilaram em silêncio mostrando o seu apoio àqueles que foram eleitos para, em nome do povo grego, tentar recuperar a dignidade para o País.
E eu só espero que Tsipras e Varoufakis aguentem o medo, se mantenham fortes, afirmem a valentia do povo grego na defesa da sua vontade soberana.
Ouvi já mais do que uma vez que, se a dívida grega fosse perdoada, cada português teria que contribuir com cem euros. Nada mais errado a todos os títulos. Por um lado, o que está em cima da mesa é a dilatação do prazo e a renegociação das amortizações tentando indexá-las ao crescimento. Mas, por outro, admitamos que se obriga a Grécia a pagar cada fatia de dívida a que está obrigada. Como a Grécia não tem excedentes que lhes permita satisfazer o serviço da dívida, sempre que o faz endivida-se de novo ao abrigo dos programas de resgate. Ou seja, paga por um lado e endivida-se por outro. Portanto - se a coisa fosse tão simplista como o dinheiro ir da bolsa do contribuinte de um país para a banca de outro país - o que se verifica é que os gregos pagam por um lado aos países mas os contribuintes desse país mandam para lá mais dinheiro. Ou seja, um faz de conta de soma nula. Só não é soma nula para os gregos pois há a agravante de a dívida grega ir aumentando por via dos juros que paga aos bancos.
Portanto, mais vale deixá-los respirar, reequilibrar a economia, e, então, depois, regularizar o pagamento das dívidas.
E aplica-se à Grécia como a Portugal (a Portugal que por aí anda, na boca do láparo e dos duartes vírgulas marques, armado em bom, pondo-se do lado dos que querem sangrar os povos - como se nós, Portugal, não estivéssemos a sofrer em macas nos corredores dos hospitais, a perecer sem medicamentos, e tantos, tantos desempregados sem esperança de voltar a trabalhar, tantos sem saber como sobreviver quando o subsídio de desemprego se acabar, tantos que emigraram para Angola e agora a verem-se na contingência de voltar para a pobreza sem esperança).
Ou seja: não vale a pena exigir a um pedinte que nos pague o dinheiro que lhes emprestámos. Não tem esse dinheiro. Mais vale arranjar-lhe emprego, ajudá-lo a trabalhar e, então, com a vida equilibrada, querer que nos devolva o que lhe emprestámos.
Parece-me fácil de perceber, é uma coisa tão simples.
Por isso, só espero que a Grécia saiba conviver com a boca dos tubarões, sem medo, e que, qual indefeso gato, mostre ao jacaré que não é nenhum láparo que tirite de medo, oferecendo-se ao sacrifício.
Eu, se fosse à Merkel, também tinha medo de me reunir a sós com o Alexis. Ele ri-se muito, tem ar de bom rapaz, tem uma mulher toda gira, respira confiança, tem ar de não ter medo nenhum de bardajonas e, sobretudo, tem ar de não suspirar de véspera só de pensar nos abraços e beijos dela como acontece com os Hollandecos desta vida.
A Europa da era Merkel e Barroso
a assistir ao efeito da austeridade
Ela, luterana matrafona, deve interrogar-se: e se ele, numa de desconcerto, me aparece com uma gaiola com um papagaio morto lá dentro, a devolvê-lo à procedência, e me diz que o papagaio morto é a austeridade cega que lhes andei a impingir?
Eu posso arreganhar-lhe o dente e dizer-lhe que se ele quer despejar dinheiro em cima dos pobres que nos venda primeiro as ilhas, as ruínas e os museus. Mas... e se ele me manda ir catar macacos? Ná. Tenho medo. Claro que não posso confessar medo que me iam todos cair em cima, tudo no gozo. Poderia armar-me em sargentona como sempre fiz com os outros castrati que por aí têm andado, e dizer-lhe que, se ele não engole a troika de volta, o obrigo a lamber o chão que eu piso. Mas e se ele me diz que, a bardajonas como eu, ele não lambe o chão mas besunta-o de óleos perfumados para eu me estatelar ao comprido? Ná, com ele a sós ninguém me apanha.
Isto diria eu se fosse a Merkel. Mas, como não sou, não digo.
E se eu fosse eu, que diria eu ao Alexis?
Ora bem, diria muito justamente que faz ele muito bem em pôr a economia a rodar, que faz bem em tentar melhorar o nível de vida da população porque a economia precisa de um rastilho, precisa de catalisadores, que todos os europeus fariam bem em incentivar que o BCE oferecesse de mão beijada mil euros a cada grego porque isso iria fomentar a procura interna, estimular a confiança, e com a economia a mexer há impostos enquanto que com miséria e estagnação nem vê-los. E sem impostos não há receitas e sem receitas não há amortização de dívida, apenas há juros que se somam à dívida.
[Ou os sociais-democratas croatas são uns líricos? Claro que não, são apenas inteligentes e com sentido prático.]
Isto diria eu se eu fosse eu (eu filha-de-santo de Clarice).
Confesso que pouca televisão tenho visto e poucos jornais tenho lido.
O fim de semana passou a correr, tão preenchido foi - no sábado, a tarde foi dedicada à terceira idade e a noite ao marisco e este domingo foi à família toda, todos reunidos para a alegria do costume (de tarde, depois de um almoço de cozido e à vinda, enregelados, de um curto passeio, e ansiando pelo retemperador chá das cinco, passámos num chinês para comprar disfarces de carnaval para os miúdos e acabaram por vir também umas longas cabeleiras louras, umas encaracoladas costas abaixo e outras lisas, longas e quase platinadas, que fizeram a delícia das mulheres da casa; e só não vos mostro as nossas fotografias para não ficarem preocupados com a sanidade mental do sector feminino da minha família).
Por isso, é apenas de relance que me vou apercebendo da saloice por parte dos tuga-espertos da coligação e respectivos papagaios de serviço.
Ontem dei-me conta que o jota-rapaz das vírgulas tresmalhadas, um tal que não diz coisa com coisa e que nem a pouca coisa que diz se aproveita nem no estilo nem na substância, ia escrever (ou já escreveu) uma carta para o governo grego.
Pelo Natal há cá uma iniciativa dos CTT dirigida às crianças, que as incentiva a escrever uma carta ao Pai Natal. Pois este pobre, por algum retardamento, ainda está nessa, vai escrever uma carta para a Grécia, certamente a ver se recebe algum presente de volta. Até dá dó.
Não sei se naquela cabeça vazia passa a ideia peregrina de alguém vai abrir a carta e levá-lo a sério. Uma anedota. Um coitado a quem a comunicação social deveria ter feito a caridade de não divulgar tal palermice.
Li também que o catraio Mendes no sábado, na missa semanal na SIC, deu os seus palpites convencido que a sua influência chega até à Grécia; e este domingo à noite ouvi, durante um bocado, o datado Marcelo, pondo sempre a opinião na boca de outros para depois sentenciar uma inutilidade do alto da sua cátedra.
Até dá vontade de rir, tamanho é o desfasamento temporal.
E agora dei um rápido giro (desculpem a expressão mas é que ainda estou sob o efeito da cabeleira loura costas abaixo) e a coisa esteve fraca.
Dei com uns quantos e umas quantas a rodarem a bolsinha no trottoir, tudo tecendo considerações sobre os excessos de Varoufakis e sobre a aproximação de Tsipras à Rússia e rebéubéu pardais ao ninho.
Pois eu só tenho uma coisa a dizer sobre esta rajada de novidade que se desencadeou na Grécia e ameaça sair da periferia para vir por aí fora: por enquanto para já, há aqui uma situação de base zero. Tudo novo. E o que é novo não deve ser visto com lentes velhas e relhas.
Ou seja, o que eu vejo é uma coisa a nascer do nada e que acho que deve ser vista com atenção, tentando perceber o que se está a passar e como poderemos fazer com que resulte. Pior do que estava não pode ser. Portanto, o benefício da dúvida, pelo menos, deverão merecer.
Parece-me gente inteligente, determinada, com uma generosidade grande e uma vontade genuína de fazer bem ao seu País.
E, portanto, parecendo-me ver isto, calo-me e desejo que tenham sorte.
Pasmo quando vejo alguns artolas e anhucas portugueses, que não sabem fazer uma conta e para quem a matemática é uma ciência oculta, a sentenciarem que não há dinheiro para as medidas que o governo grego começou por tomar. Como se eles, pobres matematico-excluídos, percebessem de macro-economia ou de sistemas complexos. Ora, por outro lado, quer o ministro das finanças quer o primeiro-ministro são pessoas informadas, com formação de base na área dos números, gente com provas dadas. Qualquer deles não precisa que os nossos servis gravatinhas, calcinhas e catatuas lhes dêem explicações de aritmética.
Também acho que à frente da Comissão, do Parlamento e do BCE estão pessoas que não têm muito a ver com as lesmas da era Durão que quase deixaram implodir a Europa sem serem capazes de reagir, de calças na mão, sempre prontos a porem-se de gatas logo que a bardajona Merkel lhes lembrava que ali só ela falava grosso.
Por isso, acho que a atitude sensata é esperar para ver e apoiar, no que for possível.
Quanto à história da dívida (o PSD já fez saber que não quer nem saber da Conferência sobre a Dívida), desde o início da crise que acho que o ataque que houve às dívidas soberanas e ao disparo das taxas de juro para valores estratosféricos deveria ter tido, desde o início, uma reacção forte e concertada. Se todos os que estavam a sofrer o ataque se tivessem unido - em vez de, quais virgens, se porem aos gritos em cima da cadeira, ai, ai, um rato! e ai, ai, que não temos nada a ver com a Grécia! - a esta hora não estávamos onde estamos, uma dívida muito superior ao que era, a economia arrasada, um desemprego absurdo, uma demografia de lástima, a sociedade desmotivada e apática.
Mas não.
Passos Coelho não percebeu na altura, não percebeu durante e ainda não percebeu. Será banido da História sem ter percebido nada do que se passou.
Só espero é que saia rapidamente de cena porque me envergonha. Tudo o que ele diz e a falta de maneiras com que o diz envergonha-me.
É ele e o Cavaco. Estão bem um para o outro: para mal dos nossos pecados, são, sob todos os pontos de vista, uns zeros à esquerda. Não, corrijo: são um sinal negativo. Subtraem valor ao País. Uma lástima.
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Isto do novo Governo Grego que dá os seus primeiros passos tentando fazer um caminho novo faz-me lembrar o cachorrinho que tenta voltar para casa. E eu só espero que a Europa se una para os ajudar e não para os devorar. O vídeo abaixo mostra isso. E é uma ternura.
2015 Budweiser Super Bowl Commercial “Lost Dog”
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As imagens usadas para enfeitar o texto mostram obras de Paula Rego, a fantástica pintora e mulher Paula Rego que eu tanto admiro.
A propósito: a revista Connaissance des Arts (734 - Fevrier 2015) tem um suplemento dedicado à Arte em Portugal, onde (por ocasião do seu 80º aniversário) se inclui justa referência à obra de Paula Rego. Dedica ainda generosas páginas à maravilhosa Azulejaria Portuguesa e a muito mais (como, por exemplo, a Helena Almeida de quem não sou grande fã - mas isso não interessa). E eu agradeço ao Leitor que tão generosamente mo fez chegar.
Um a um, todos vão ao beija-mão aos esquerdistas radicais que tanto encanitam o láparo (a ponto de se tornar inconveniente) e que despertam no Ricardo Costa o grande educador da classe política que há dentro dele (a ponto de já estar a dar palpites e a antever desgraças).
Eu cá, por mim, não sei o que vai acontecer na Grécia mas, seja o que for, é de certeza melhor do que a indignidade a que têm estado a ser sujeitos e, mesmo que venham a sofrer alguns sobressaltos, eles serão menos graves do que o verem-se despidos de soberania e esperança, como aconteceu até aqui. A expectativa que agora atravessam vale bem um ou outro susto; e, de resto, só se deixa ficar de gatas com medo do bicho mau quem é um grandesíssimo cobarde ou uma sensível princesinha.
Velhinhas e mariquinhas assustadiços que ao mínimo sopro vão logo a correr tirar o dinheiro dos bancos nacionais para os irem depositar nos bancos alemães ou suíços há em todo o lado. Não sei quantos milhões voaram de lá mas hão-de voltar e as velhinhas e os mariquinhas hão-de voltar a ficar sossegados.
O que eu vejo é que, aos poucos, o paradigma está a mudar e o mundo parece respirar de alívio por alguém ter ousado avançar noutra direcção.
Esta austeridade cega que afunda os países no lodo onde só se sentem bem láparos, ratos e um ou outro verme, já mostrou ao mundo que este não é o caminho para controlar a dívida nem para nenhuma coisa decente.
Contudo ninguém sabia bem o que fazer, como fazer. Agora, se estes malucos dos gregos não se importam de partir a loiça e, afoitos, não se importam de avançar às cegas, o mundo agradece e vai dar uma ajuda, nem que seja à socapa.
No meio disto quem é que vai ficar isolado? O láparo e os seus apaniguados. Até a Merkel teve a decência de lhes desejar força e felicidades. Só o láparo, o de lima, o camelo e um ou outro papagaio que ainda não virou o bico ao prego é que ainda não perceberam que um sopro de mudança começou a varrer a Europa.
"Tive uma discussão construtiva e aberta" com o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse em Atenas Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, depois da reunião que ocorreu entre ambos esta quinta-feira. Schulz é o primeiro alto responsável europeu a reunir com o novo governo helénico saído das eleições de domingo, ganhas pelo Syriza, o partido liderado pelo atual primeiro-ministro.
Schulz deu uma tónica otimista e procurou reduzir a crispação que surgiu nos últimos três dias e que influenciou negativamente os mercados financeiros . "Há a impressão dentro da Europa que o novo governo grego irá seguir um caminho separado. Mas descobri hoje que esse não é o caso", disse o presidente do Parlamento Europeu, segundo o diário "Kathimerini".
O político alemão adiantou, ainda, que houve acordo em muitos pontos, "enquanto outros necessitam de mais discussão". O jornal grego sublinha que houve concordância em dois temas: no combate à evasão fiscal e na avaliação da austeridade que "não consegue fazer emergir a Europa da sua crise". Schulz terá concordado na ideia que o programa de investimento público grego deverá ser excluído dos cálculos do défice orçamental.
O jornal grego, com base em fontes, adianta que o presidente do Parlamento Europeu terá pressionado Tsipras para que obtenha uma extensão do programa de resgate e que apresente exemplos concretos de medidas que criem receitas, antes de pressionar para o alívio da dívida.
Esta sexta-feira é esperado em Atenas o ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselboem, presidente do Eurogrupo (reunião dos ministros das Finanças da zona euro), que reunirá com Yanis Varoufakis, o novo ministro das Finanças grego, que afirmou esta quinta-feira que o encontro servirá para iniciar as negociações com os parceiros europeus. "As negociações com os nossos parceiros europeus começam com esta visita, que conduzirá a um acordo viável e compreensível", disse Varoufakis.
O ministro das Finanças não vai parar a partir de domingo. Pegará na mala para reunir no domingo com o homólogo inglês George Osborne, aproveitando para se encontrar em Londres com investidores. Na segunda-feira voará para Paris, onde se reunirá com Michel Sapin, ministro das Finanças, e com Emmanuel Macron, ministro da Economia. Finalmente, na terça-feira deslocar-se-á a Itália, onde reunirá com o ministro das Finanças Pier Carlo Padoan.
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O rumor do estio atormenta a solidão de Electra
O sol espetou a sua lança nas planícies sem água
Ela solta os seus cabelos como um pranto
E o seu grito ecoa nos pátios sucessivos
Onde em colunas verticais o calor treme
O seu grito atravessa o canto das cigarras
E perturba no céu o silêncio de bronze
Das águias que devagar cruzam seu voo
O seu grito persegue a matilha das fúrias
Que em vão tentam adormecer no fundo dos sepulcros
Ou nos cantos esquecidos do palácio
Porque o grito de Electra é a insónia das coisas
A lamentação arrancada ao interior dos sonhos dos remorsos e dos crimes
E a invocação exposta
Na claridade frontal do exterior
No duro sol dos pátios
Para que a justiça dos deuses seja convocada
[Electra, de Sophia de Mello Breyner Andresen, enviada pelo Leitor HB, a quem muito agradeço, num comentário aqui abaixo]
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E, com os meus agradecimentos ao Carlos que ma deu a conhecer,
Agnes Baltsa - Áspri méra ke ya mas (There will be better days, even for us)