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sábado, maio 03, 2025

Nem sei bem explicar o que é isto

 

Ando com comentários a que não agradeci ou respondi, com vários mails atrasados. Nem dei ainda os parabéns a amigos que fizeram anos nos últimos dias. Uma vergonha. Não sei o que é isto mas parece que o tempo não me chega. Incomoda-me pois só posso concluir que ando muito menos produtiva do que era antes. Trabalhava de sol a sol e tinha tempo para as coisas de casa, para ir à compras, para tratar do expediente corrente como impostos, pagamentos, para ir a casa dos meus pais, para escrever até às tantas (ou para pintar ou para fazer tapetes de arraiolos), eu sei lá. O tempo dava-me para tudo. Agora, não sei porquê, parece que o tempo não me rende. 

Ainda tive, este ano, que tratar do IRS da minha mãe. E o nosso também é meu pelouro. Quando aquilo era manual, era o meu marido que organizava a papelada, fazia as contas, preenchia, e eu estava ao lado dele para o caso de ele querer que eu conferisse alguma coisa. Quando a coisa se virou para o digital delegou em mim. Hoje foi dia de tratar disso. E de fazer uns quantos pagamentos. 

No que se refere ao IRS da minha mãe, há uma verba, logicamente pequena, a haver. Questionei o e-balcão para saber como se processaria uma vez que não pude preencher o meu iban. Informaram-me que, na qualidade de cabeça de herança, vão enviar-me um cheque mas, imagine-se, à ordem da minha mãe. Juro: nem queria acreditar. Parece uma piada de mau gosto. Naturalmente, não vou poder fazer nada com um cheque que não vem à minha ordem. Disseram-me, então, que devo dirigir-me a uma repartição de finanças, munida da documentação, nomeadamente habilitação de herdeiros, para preencher o modelo do imposto de selo. Seguidamente, devo pedir nova emissão de cheque à minha ordem. Expliquei que, quando a minha mãe morreu, já entreguei toda a papelada possível e imaginária, já tratei do imposto de selo e mais não sei o quê. Não interessa, tenho que fazer agora a mesma coisa mas em relação ao reembolso do irs. Fico pasmada. A burocracia e ineficiência da máquina administrativa está nestas merdices. Têm lá a informação que a minha mãe morreu há mais de um ano, têm a informação de que sou a herdeira, mas, ainda assim, vão mandar para minha casa, na qualidade de herdeira, um cheque à ordem da minha mãe.

O ano passado, que, do irs dela, tinha a pagar, não foi preciso nada disto. Mandaram-me um aviso de pagamento e nem questionaram coisa alguma. Paguei e ficaram contentes. Agora, como é para devolver, é esta trabalheira parva.

E isto já para não falar do imbróglio que não consigo desfazer em relação à casa, em que as Finanças pedem documentos que supostamente devo obter na Câmara e na Conservatória e que, quer uma quer outra, dizem que os das Finanças não estão bons da cabeça, que o que estão a pedir não faz sentido nem pode ser feito, e as Finanças mandam-me fazer impugnação administrativa e depois recebo uma carta a dizer que impugnação administrativa não é coisa que se faça para aquele fim e dizem que o que tenho que fazer é apresentar um recurso hierárquico e, quando, passada uma infinidade de tempo, vou ver o que se passa com o dito recurso hierárquico que apresentei, constato que o arquivaram sem dizer nem água vai. Um desespero.

E, entre umas e outras e mais as coisas normais da vida de todos os dias e mais um ou outro contratempo que, por vezes, acontecem, o tempo passa sem que eu consiga esticar-me para chegar a todo o lado. E depois ainda há outra. Sento-me no sofá à noite, depois de jantar, e adormeço. Faço um esforço danado e acordo, mas logo volto a adormecer, e mais um esforço e lá acordo... e, logo de seguida, adormeço. E, por fim, lá acordo. Aqui estou. Mas que estupor de sono é este que me ataca sem necessidade nenhuma? Será deste tempo que não abre nem por mais uma? Será mesmo coisa de long covid? Caraças.

Já para nem falar que, no outro dia, acordei com uma dor nas costas e agora a dor migrou para um pé. O meu marido tem sempre explicação para as minhas coisas e passam sempre por eu fazer alguma coisa mal feita. Neste caso, diz que ando, no campo, a caminhar, com uns sapatos que já deviam ter ido para o lixo. Duvido que tenha a ver com isso. Inclino-me para um mau jeito na cama ou para o tempo que também migrou de solzinho e calorzinho para chuva e frio.

Parece que tudo isto contribui para me atrapalhar a genica que antes andava sempre a mil e que agora parece que anda a pedal. Estava a compilar e rever um conjunto de crónicas para ver se publico e nem tenho tido tempo ou disposição para me entregar a isso. É daquelas que requer entrega, concentração. Como também ando a retomar leituras que tinham ficado em suspenso (maravilhoso 'O Caderno Proibido' da Alba de Céspedes), ainda mais limitada fico. 

E até me sinto um bocado envergonhada por estar a confessar isto pois, se me olhar com os meus olhos de antes, em que fazia mil coisas com uma perna às costas, só posso concluir que ou ando indolente ou estou a ficar limitada nas minhas faculdades. Nenhuma das duas me conforta. O meu marido também tem uma teoria para isto: acha que o meu mal é deitar-me tão tarde pois isso faz com que não madrugue como ele e que fique logo com parte da manhã comprometida. Só que isto é como aquilo da orientação sexual: a gente não escolhe. Não é por opção minha que sou heterossexual, tal como não é por minha escolha que sou noctívaga. 

Tirando isso, sobre a política nacional, o que posso dizer é que nem me apetece falar. Não mesmo. Se for mesmo verdade que a maioria das pessoas se está a marimbar para a ética, para a incompetência, para a incultura, para o respeito para com a verdade e prefere ter um primeiro-ministro cínico e pimba que faz um cocktail festivo juntando o 25 de Abril e o 1º Maio para os festejar cantando e batendo palminhas com o Tony Carreira... olhem, vou ali e já volto. A sério.

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Desejo-vos um bom sábado

Be happy

terça-feira, junho 18, 2024

Covid a flutuar aí pelos ares, borboletas amarelas, fadinhas douradas

 



Na minha família, nos últimos dias, duas pessoas com covid. Há umas duas ou três semanas, outras duas. Li agora que, na realidade, a bicheza anda outra vez em força, por aí, e provavelmente em maior quantidade do que se pensa. É que, não havendo a obrigação de comunicar, pelo menos do que sei, a maior parte das pessoas não comunica a ninguém. Anti-piréticos ou analgésicos, anti-histamínicos, muitos líquidos e descanso. E, assim, grande parte da malta vai-se orientando sem precisar de ir ao médico. Portanto, os números de que se fala devem ser apenas os dos casos mais graves. Só espero não apanhar pois se me dá outra vez para o sono, não estando eu ainda restabelecida do anterior, não sei como vai ser. 

Quando digo que ainda não me restabeleci é porque, na altura em que tive covid, dormia horas a fio e, um ou dois ou três meses depois, ainda tinha um sono incomum. E agora, um ano depois, tenho ainda mais sono do que me parece normal. Se, depois de almoço ou depois de jantar, me sentar comodamente, sem estar a fazer alguma coisa, é certo e sabido que, daí a pouco, estou a dormir. Mas isto acontece comigo e acontece com o meu marido. Por exemplo, ainda hoje, estava à minha espera para irmos fazer uma caminhada antes de almoço. Sentou-se e, como me atrasei, passado um bocado estava a dormir.

Não sei se é por isso mas também parece que estou mais preguiçosa. 

Nos últimos dias, trabalhei bastante. Andei a varrer, a toda a volta da casa, os caminhos que circundam a casa. Numas zonas, há folhinhas secas de azinheira e bolotas que não acabam; noutras, há caruma, há pinhas secas e roídas; e, por todo o lado, há outras folhas. E há outra coisa que complica imenso a varredura: a folhagem agrega poeiras e terras e, às tantas, já começam a despontar aí ervas ou, mesmo, pequenos pés de azinheiras.

Portanto, arranquei ervas e pontas de coisas que nascem por todo o lado, e varri e varri e carreguei não sei quantos contentores, pesados. Claro que, em primeiro lugar, temo sempre que o esforço continuado perturbe as minhas articulações dos joelhos. Por isso, tentei ser comedida no seu transporte e, sobretudo, airosa no acto de pegar neles, pesadões, e os despejar em zonas em que mais matéria orgânica dará jeito.

E, se por aí, até ver (e deixa cá bater três vezes na madeira), ainda me parece que estou bem, a verdade é que desde ontem ao fim do dia e até hoje, só tenho vontade de dormir. Esforcei-me por não adormecer de tarde não fosse de noite ter alguma insónia. Mas, caraças, que soneira.

Por isso, não vou comentar o espectáculo que são as comissões parlamentares com as pessoas a serem espremidas em directo, com as televisões em cima, nem vou comentar as expulsões da Sónia Tavares e da Bárbara Guimarães por terem sido apanhadas a comer num local destinado a quem pagou bilhete (ou o recebeu de presente) para isso e não a pessoas que ali estão a trabalhar. E não o faço não apenas porque tenho mais que fazer mas porque estou cheia, cheia de sono.

Há bocado, depois de ter acabado o jogo de futebol, o meu marido resolveu ir dar uma volta com o dog mas eu não fui, já tinha dado para esse peditório. O dog também não queria ir, achava que já estava mas é na hora de se encostar para descansar. Regressaram algum tempo depois e o pobrezinho vinha feito um pinto (e refiro-me ao dog pois não trato o meu marido por pobrezinho). Há um lado bom nisto: a terra fica regada. Por isso, apesar de ficar um bocado desconfortável com este tempo, não consigo insurgir-me. O que me vale é que lavei a roupa hoje de manhã. Estava vento, secou bem. 

E agora, antes de desligar o computador, só me lembro de vos dizer que nestes dias em que andei a varrer e a deixar que a minha pele assimilasse vitamina D ao máximo, fui acompanhada por uma maravilhosa borboleta amarela. Não sei se alguma vez tinha visto uma borboleta tão linda. Vários tons de amarelo, quase reluzente. Como andava mais do que à paisana, desprovida de quaisquer equipamentos que não a vassoura, uma pá metálica e um contentor, não tive como registar tamanha beleza. A fotografia lá em cima foi obtida na internet e não tem nada a ver com a formosura da que esvoaçava à minha volta. Não sei, de resto, se era sempre a mesma ou se, tal como há esquilos, agora também há borboletas que, se calhar, são fadinhas douradas.

Ah, é verdade, já me esquecia de dizer que, para além da vida ser uma coisa fantástica, há ainda outra: é que a linha mais curta entre dois pontos é uma linha entre nós (isto é, eu e vocês aí desse lado).

The shortest distance between two points
Is a line from me to you
The shortest distance between two points
Is a line from me to you, me to you, you, you, you, you

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Dias felizes para si que está aí desse lado

terça-feira, dezembro 22, 2020

O vovô viralizou...
E não é que o gordinho voou...?


Como não tenho facebook, instagram, grupos de whatsapp e quejandos, não faço ideia do que está a dar. 

[Não sei se a expressão estar a dar é comum ou se é coisa de quem vive à beira de água. Vizinho, que é que tá a dar? Sargueta? Robalo? Charroco?]

Provavelmente o vídeo que vou partilhar e que já tem umas três semanas já esteve a dar numa qualquer outra maré e agora já é tido como velho e relho de tão visto. Ainda assim, corro o risco. Contudo, digo uma coisa: não sei bem qual a ideia já que parece que foi feito num outro tempo para ser publicado também num outro tempo ou num outro mundo. Não há máscaras, distanciamentos sociais. Há abraços, há colo aos netos, há ternura. Talvez por quase parecer uma ficção nostálgica lhe tenha achado tanta graça. 

Por esta altura do ano, a gente recebe telefonemas, votos. E, invariavelmente, a conversa vai parar a este natal que, com tanta restrição, quase não é natal nem é nada. Uns ficam em casa e não querem lá ninguém, outros estão isolados há tanto tempo que agora não querem deitar tudo a perder, outros dizem que, já que natal é quando um homem quer, o gozarão pela páscoa. Fala-se em natais virtuais, cada um em sua casa e todos unidos pelo ecrã do computador. Não gosto disso. Não sou digital, sou analógica, sou do afecto, de estar perto, de sentir a proximidade. E nem é por ser natal, é sempre. 

Mas, agora que estamos no natal: se a gente não pode estar todos ao molho e em fé em deus então que natal é esse? À chegada, quem vinha cumprimentava os que estavam, beijinhos e abraços, tudo na maior harmonia. Há quanto tempo foi isso? Vivíamos na maior descontração e não o sabíamos, achávamos que era normal, um dado adquirido. Não era. Quem nos haveria de dizer que um merdinhas de totós cor-de-rosa haveria de nos pôr à distância uns dos outros, impedir as demonstrações de afecto, fechar-nos em casa, pôr os aviões em terra, esvaziar hotéis, fechar lojas, fábricas, igrejas, e, pelo contrário, encher hospitais e morgues? Podia ter caído um meteorito tão grande que rachasse o pequeno ponto azul ao meio, fazendo de tudo o que o cobre uma fantástica chuva de estrelas. Mas não, não caiu nenhum pedregulho e cá andamos como se não tivéssemos a cabeça a prémio. Mas temos. Ou um meteorito ou seca extrema ou enxurradas diluvianas ou placas tectónicas em convulsão ou pragas do egipto ou do fim do mundo: se pensássemos bem saberíamos que um dia poderia acontecer. Contudo, espertos que nem alhos, preferíamos fazer de conta que éramos imortais e que não havia mal que nos chegasse. Até que, do nada (do nada ou da boca de um pangolim ou de dentro de algum laboratório -- quem sabe...?), um corona de nada se instalou e, apesar de não ter vida própria, rapidamente avançou sobre esta raça de gente que, afinal, é mais frágil que formiga. 

E brincalhão, este coiso-de-nada que nem coração, cérebro ou qualquer órgão vital tem, bricalhão... Rapidamente aprendeu as brincadeiras do bicho-homem e agora já é ele que dita as regras: joga às escondidas, joga ao mata. Quando o bicho-homem achava que a luz ao fundo do túnel já estava à vista com a vacina a andar a toque de caixa, eis que o merdinhas-mor, num golpe de mágica, se transmuta. Já vai em não sei quantos o número de sósias. Desta vez, o novo sósia é special, uma variante made in brexit lands. Mais ágil, mais fino, mais matreiro, mais invisível. Resta saber se a vacina lhe faz mossa. 

Enfim, já nem digo nada. 

Digo é que este vídeo mostra o que éramos antes de termos visto de perto os limites da nossa finitude. E digo também que, até à data em que escrevo, já vai em 12 825 139 visualizações. Viralizou.

Durante muito tempo, o natal era em casa dos meus sogros. Depois, eles foram ficando mais limitados e a casa pequena para a família que ia crescendo. Depois as tias e tios foram tendo mais dificuldade em subir e descer a imensa escadaria do seu andar de pé direito muito alto, na avenida, um andar de onde se tinha uma vista divina sobre Lisboa e sobre o rio. Então, na véspera, antes de irmos para o nosso destino natalício, íamos visitar as tias. Depois foi uma tia, depois um tio, depois a última tia. Esse ponto deixou de fazer parte do percurso. Depois o meu sogro, depois a minha sogra. Entretanto, a família desdobrando-se, novas famílias a juntarem-se. Entretanto, do meu lado, a minha avó, depois o meu avô, depois a última avó. Mais recentemente, o meu tio, aquele a quem a minha tia, chorando, aquando da sua cremação, se dirigiu, queixando-se: 'não esperaste por mim...'. E, pouco tempo depois, foi ela. Este ano, o meu pai. Um impiedoso tapete rolante. 

A minha mãe queixa-se porque lhe dói uma perna: o que havia de me acontecer. Desvalorizo, lembro-a que, com a idade que tem, estranho seria se não tivesse nada. Tem medo, diz que teme algum dia ficar dependente, a dar trabalho. Desvalorizo de novo, digo-lhe que não dramatize. Enquanto falo, penso que eu também não quero dar trabalho. No domingo, como contei, andei a carregar pesados baldes de terra, muitos quilos. Sei que carregar coisas muito pesadas não me faz bem. Mas não quero abdicar do que me dá prazer nem quero pedir que façam aquilo que gosto de ser eu a fazer. Hoje, como estive muitas horas sentada, reuniões sobre reuniões, de cada vez que me levantava, doíam-me os isquiáticos. É só o tempo de me pôr direita e começar a andar mas, nesse instante, eu percebo que é o meu ponto fraco, provavelmente o mal que me acompanhará na velhice -- se lá chegar, claro. 

Aliás, tenho para mim que a gente, se quer viver minimamente bem, o que tem é que seguir em frente, caminhar, estar ocupada, ser amada, gostar de estar vivo. Claro que há vezes em que a mulher da foice não quer saber de caminhadas, afectos e outras frescuras; mas vamos fazer de conta que são excepções senão damos em malucos. 

A seguir ao vídeo ali acima, o do vovô, o algoritmo tinha outro para me sugerir. Desta vez, num mundo de gordos, alguém quer voar e, para tal, perde peso. Não sei se isto é alguma indirecta para mim mas, lá está, faço-me despercebida e enterneço-me e sorrio com a graça da história. Não é tão viral como a do vovô mas também é bem pensado e bem visto (até agora, já vai em 5 079 600 visualizações se bem que também seja um vídeo mais idoso). Um post sobre viralizações, portanto. 


Sorrisos também para si, Leitor amigo
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Pinturas de Orazio Gentileschi
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Desejo-vos uma boa terça-feira.
Saúde. Força. 
Melhores dias virão.

sexta-feira, março 20, 2020

Sobre a cena das máscaras, ouçamos quem sabe.
Peçanha dixit. E uma outra senhora também.


Todos os cuidados são poucos para fazer frente ao insignificante bicho peçonhento, essa bola fofa cheia de totós cor-de-rosa, pelo que acho que nada como estarmos bem informados. Portanto, com vossa licença, que entre o Peçanha para nos dizer como é que é. Atenção a como se põem as máscaras.


E agora uma senhora que leva estes temas mais a sério e que gostava que V. fizessem o favor de ver com atenção. Vale?


Até já