Mostrar mensagens com a etiqueta Kris Delmhorst. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Kris Delmhorst. Mostrar todas as mensagens

domingo, outubro 18, 2015

Um dia da minha vida com mar e amores dentro - e a acabar com pornografia pura e dura [e, de permeio, com a Clara Ferreira Alves no Eixo do Mal, negativamente exaltadésima com a perspectiva de vir a haver um governo apoiado à esquerda - exaltada mas, atenção, sempre com aquele toque de superioridade que a caracteriza.]






Já o contei abaixo. Dia de mar grande, prateado, por vezes branco, cheio de luz, dia de chuvas e ventanias, árvores de cabelos ao vento ou reviradas, raízes expostas, pássaros em terra, pássaros no mar, pássaros alvos descendo das nuvens, e eu de olhos nus, lavados pela maresia, e as ondas imensas, espuma latejante pelos ares, mergulhando nos mares.

Gosto de andar assim, cabelos quase molhados, o vento percorrendo o meu corpo, os pensamentos à solta, e eu, sem mão neles nem em mim, andando, sentindo o frio molhado, as gaivotas rente à água, desenhando círculos de liberdade no ar e eu vendo-as, sentindo-me livre também, livre, sem sombras, sem peias, pronta para voar.
Foi de tarde, isto.

Enquanto transcrevia, há pouco, os poemas de Sophia, os meninos aqui ao meu lado dormiam, aconchegados uns nos outros, aquecidos pelo amor que os une, e uma manta macia cobrindo os seus corpinhos inocentes. Antes, depois de eu ter chegado da praia, tinham brincado, jantado, feito desenhos. Depois, mais à noite, contei-lhes histórias, invento histórias. Depois de muita luta -- que não queriam dormir porque os pais lhes tinham dito que não dormiam cá e eles tomaram isso à letra -- lá adormeceram. Encho-os de beijinhos, abraço-os, sento-os ao meu colo e o meu colo parece feito para acolher filhos, filhos de filhos, amores redobrados.

Agora já se foram, ao colo dos pais, a dormir. Os pais preferem assim. Nós podíamos ir para casa deles mas esta modalidade dá-lhes mais liberdade, chegam quando querem.




Antes - que os meus dias são grandes - já tinha estado em casa dos meus pais. A minha mãe bem, e eu a convencê-la a inscrever-se na ginástica, ou no yoga, ou no inglês que está meio esquecido, ou em tudo ao mesmo tempo. Lá em casa estava, de visita, uma amiga, viúva, com vários órgãos a menos mas muito activa, escorreita, sempre serena e feliz. Anda na ginástica e diz que vai com a minha mãe à inscrição para garantir que ela se inscreve mesmo, mas que ir para o inglês não, que já não tem paciência para a escola. Era professora na mesma escola que a minha mãe. Se a minha mãe tiver companhia, será mais fácil. Depois chegou o meu tio, contou que a minha tia vai começar a fisioterapia e que a minha prima começou a fazer ginástica mas que falta muito, sempre a correr entre o hospital e a clínica. Ele não, diz que lhe chegam os passeios que dá com o cão. Havia lá uns bolinhos que a amiga da minha mãe tinha trazido, trouxe-os de Vila Real, tinha chegado ontem, tinha ido lá de passeio, percebi que é um grupinho de ginastas, tudo gente destas idades, que se organiza para andar no laré. Diz que a minha mãe, depois, deveria também aproveitar para passear e eu incentivo. Mas a minha mãe não quer, não se sente bem em ir sabendo o meu pai em casa, naquela dependência, os pensamentos enovelados, entre a consciência e a confusão. Digo que não é por ela estar fechada em casa, de roda dele, que ele vai melhorar, e que ela tem que aproveitar a vida, distrair-se, fazer aquilo de que gosta. Mas ela vem sempre com aquilo, 'Achas? Achas que me apetece andar de passeio e o teu pai neste estado?' Digo-lhe que o meu pai está bem cuidado, que a senhora que agora toma conta dele sabe o que faz.
O meu pai trata-me, como todos na família, pelo meu diminutivo. Hoje chamava-me e dizia-me que estava com medo, que não queria ir para , que tinha medo de não conseguir voltar. é a cadeira ao lado da cama onde a senhora o senta para lhe dar de comer ou para mudar ou arranjar a roupa da cama. Digo-lhe que não tem razões para ter medo, que está tudo bem. Mas sei que não está nada tudo bem. 
Quando venho de lá tento abstrair-me, e abstraio-me, tenho sempre tanto em que pensar.


...

Um àparte. Tenho a televisão ligada, na SIC, e agora, ao olhar para lá, vejo um casal nu, em pleno acto, mudando de posição a cada minuto, um kama sutra ao vivo e a cores. Não sei o que é isto, se é um filme pornográfico, se quê. Na volta isto agora é normal e eu é que ando desfasada. Enfim. 

Com tanta modernice, um dia destes ainda o PS forma governo com o apoio do PCP e do BE - para fúria das Claras Ferreiras Alves desta vida, histéricas como a vi há bocado no Eixo do Mal, as veias do pescoço num transtorno, antevendo mudanças climáticas, falhas tectónicas, fissuras anais e toda a espécie de desgraças se isso vier a acontecer em vez de o PS servir de pau de cabeleira ao Láparo e ao Portas por mais 4 anos). Adiante.

Bem. Não acredito. Deve mesmo ser um filme pornográfico. Distraí-me com a escrita, não acompanhei a história. Só sei que agora está outro casal no maior forrobodó. Agora a cena é de sexo oral. À vez. Mas não é uma mera alusão, coisa velada, ou uma cena artística: não é mesmo uma cena hard
Pronto. A Sic generalista às 2 da manhã vira canal pornográfico. Será que é isto todos os dias? Ou só ao fim de semana? Ou alguém se distraíu e pôs a fita errada?
O que sei é que, com isto, me desconcentrei.
Olha, agora já são outros. É sempre a aviar. E eu, a escrever, nem consigo prestar a atenção ao enredo (porque me parece que a coisa tem enredo: acho que, entre as fornicações, os ouço a falar; na volta é Pinter, quiçá Shakespeare - e eu aqui, feita betinha, a desdenhar)
E tinha aqui um poema tão bonito para rematar a prosa. Bolas. Agora já não consigo, seria estulto misturar poesia com o que se está a passar aqui na minha sala. 
Que coisa esta. Claro que me poderia levantar e mudar de canal porque sexo com tatuagens, muitos ai-ais, muitos trejeitos e sem um pingo de normalidade ou vestígios de romance é coisa a que não acho grande graça. Mas, como estou já a acabar isto, não vale a pena, já desligo a televisão quando me levantar daqui. 
Deixa-me cá ver se encontro um poema que faça a transição entre a normalidade e o regabofe que para ali vai.



Cá está ele, um poema à maneira. Para terminar.

No amor o asno vê égua

o sentimento não interessa
amo-a porque é suave o encaixe das vértebras
o sentimento não interessa
amo-a porque
nariz debaixo da crina e
inspirar
parece que outras há com torrões de açúcar dentro do bolso.
não conheço. bolso estreito para nariz entrar
não conheço. Nariz grande para outra estreitar.

------ ------

Não vou rever o que escrevi, acho que saíu uma miscelânea disparatada. Por favor, relevem as gralhas. Amanhã a ver se tenho tempo para rever.

------ ------

As fotografias que escolhi não têm  muito a ver com o texto mas gostei tanto de fotografar o mar grande da Caparica que, tal como vos mostrei post abaixo, agora mostro de novo.

Lá em cima era, de novo, Kris Delmhorst interpretando Words Fail You que, também, não tem muito que ver com o texto; mas é que eu, ao começar a escrever e ao escolher esta canção, vinha com outra ideia em mente, podia lá adivinhar que ia derrapar para a conversa sobre os meus pais e que, para acabar em beleza, ia ter uma orgia aqui na sala...? Mas agora é tarde para me pôr a escolher outra.

O poema sobre o asno apaixonado é de Sónia Baptista em Tempus Fugit.

------ ------

Descendo, encontrarão mais mar e, a seguir, as fabulosas paragens de autocarro soviéticas.

..

Virás comigo desumanamente como vêm as ondas com o vento



De todos os cantos do mundo
amo com um amor mais forte e mais profundo
aquela praia extasiada e nua,
onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Cheiro a terra as árvores e o vento
que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
a selvagem exalação das ondas
subindo para os astros como um grito puro





Iremos juntos sozinhos pela areia
embalados no dia
colhendo as algas roxas e os corais
que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
interminável será sem um defeito
cheio de imagens e conhecimento.




No fundo do mar há brancos pavores,
onde as plantas são animais
e os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
a agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
no desalinho
dos seus mil braços,
uma flor dança,
sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
tem um monstro em si suspenso.




...

As fotografias do mar grande foram feitas este sábado na Costa de Caparica: um mar imponente, lindo, só visto, as gaivotas felizes com tanto mar, um mar que envolvia em espuma misteriosos brancos pavores.

Os poemas, como é bom de ver, são de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Lá mais acima era Kris Delmhorst interpretando Sea Fever, música da própria, poema de John Masefield

Por último, "Sea Fever" de John Masefield  é lido por Tom O'Bedlam

...

Convido-vos, ainda, a descerem até ao post que se segue para verem as surpreendentes paragens de autocarro nos países da antiga União Soviética.

..