Vou dizer uma coisa.
Nas autárquicas, sempre que me pareceu ser a candidatura mais credível, votei no PCP. Ou melhor, na CDU, acho eu. Claro que não faço ideia qual a diferença entre a CDU e o PCP. Nem sei se CDU é feminina ou masculino pois não sei o que é o C. Podia googlar mas, a esta hora, não estou para isso. Nas legislativas nunca votei no PCP. É gente honesta, não tenho dúvidas disso, mas há ali uma utopia datada, improvável, que me afasta. Sobretudo, há uma forma sectária de ver o mundo. Ou talvez não seja isso, talvez seja apenas uma forma sectária de falar. Não sei. Sou próxima de pessoas do mais PCP que há, militantes, com vida pública ao serviço do partido. Contudo, não consigo falar de política com eles. Dá ideia que têm sempre um inimigo de estimação e que constroem a sua 'narrativa' em torno disso.
Por isso, o PCP, apesar de reconhecer nos seus militantes uma genuinidade de intenções, não é a minha praia.
Sou, por natureza, despreconceituosa, aberta a ideia novas, gosto de pôr em causa tudo o que seja ortodoxia, não consigo aceitar que me condicionem a liberdade de pensamento e de expressão, sou uma desalinhada por natureza. Não poderia, pois, encaixar-me no PCP.
No Bloco de Esquerda também nunca votei. Ou melhor, votei no Miguel Portas para as Europeias. Mas, por cá, embora lhes reconheça algumas boas ideias e, por vezes, uma inegável capacidade de falar claro e de apontar o dedo a algumas anomalias do 'sistema', nunca votei neles. Sempre me pareceram um bocado inconsequentes, com muita sede de protagonismo, ávidos de mediatismo. Há ali um deslumbramento pelas suas próprias artes performativas que, por vezes, me enfastia. Outras vezes, parece que ficam cegos pelo tacticismo e, na prática, fazem o jogo daqueles a quem dizem combater. Tenho apreço pela inteligência acutilante de Louçã, tenho simpatia pelo humanismo de João Semedo, aprecio a empatia de Marisa Matias, acho que Catarina Martins tem uma combatividade desarmante -- mas, todos juntos, formam uma mistura que não acolhe as minhas simpatias. Acresce que acho que Mariana Mortágua não tem tento na língua, é muito auto-convencida, falta-lhe humildade e falta-lhe a autoridade que advém de uma vida vivida. E é um bocado exasperante constatar que ali, naquele Bloco, cada um pode exibir o ego a seu bel-prazer que não há quem se sinta com autoridade para mandar bater a bolinha baixa a qualquer outro.
Como já o disse muitas vezes, voto maioritariamente PS embora, como tenho confessado, parafraseando o O'Neill, seja na base do 'não me apetece mas voto PS'. Não me revejo nos jogos palacianos, não me revejo em amigalhices aparelhísticas, não me revejo no uso abusivo, para desviar atenções, do verbo fácil. E, por vezes, esses são tiques de que o PS padece (também versejei!). Mas, numa lógica de redução por absurdo, analisando pragmaticamente as alternativas, muitas vezes tenho chegado à conclusão que do mal o menos e, portanto, votei PS.
E é assim que é com pena e um sentimento de que uma injustiça está a ser cometida que vejo a fraca preferência dos eleitores pelo PCP que a última sondagem revela. 6% para o PCP é injusto. Desde que apoiou o governo PS, o PCP tem revelado uma enorme dignidade, uma atitude vertical e honrada. Não têm deixado de expor as suas razões, de encabeçar as suas lutas mas sempre de uma forma madura, sempre respeitando o acordo que fizeram, sempre de uma inteireza que deveria merecer melhor reconhecimento. Têm mostrado ser gente de bem e isso não é coisa pouca.
6% é o que o CDS também tem e o CDS é uma mão cheia de nada, um partido pífio, um bando de gente de cabeça oca, uma nítida nulidade.
E custa-me ver como o BE, com toda o seu histórico de leviandades, algumas das quais bem recentes, consegue a preferência de 8% dos eleitores.
Há nisto qualquer coisa de muito injusto.
A vida é assim, bem sei, cheia de injustiças, cheia de avaliações deficientes que conduzem a iniquidades. É dos livros: muitas vezes são os melhores que ficam pelo caminho. É da história: muitas vezes é por delicadeza que os melhores se deixam matar. É do dia a dia: muitas vezes são os que mais têm a dizer que menos são ouvidos.
Mas é por ser tão banal que nos conformemos perante toda a espécie de injustiças que a mediocridade vai alastrando como uma mortífera mancha de óleo, fazendo retroceder a civilização, anulando parte da elegância e da beleza da vida.
Mas é por ser tão banal que nos conformemos perante toda a espécie de injustiças que a mediocridade vai alastrando como uma mortífera mancha de óleo, fazendo retroceder a civilização, anulando parte da elegância e da beleza da vida.
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E, por falar em beleza e em elegância, as pinturas são de Hiroshige (1797 - 1858) e é Jordi Savall quem interpreta 'Greensleeves'.
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Comecei referindo que ia dizer 'uma coisa' e acabei dizendo uma data delas. As minhas desculpas.
E agora, caso vos apeteça visitar o fantástico mundo das pessoas verdadeiramente inteligentes, queiram, por favor, descer até ao post que se segue.
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