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terça-feira, setembro 19, 2023

Dias mais complicados...
E as minhas últimas comprinhas (na Gulbenkian)

 

Um dia complicado. 

Na véspera tinha estado até às últimas a acabar umas coisas. O meu marido perguntou-me qual a pressa. Disse-lhe que prefiro ter as coisas despachadas não fosse surgir alguma situação que me impedisse de levar a água a bom porto. Sempre assim fui e agora ainda mais: gosto de acabar as coisas antes da data limite pois gosto de guardar uma reserva de tempo para imprevistos.

Parecia eu que adivinhava. Uma das coisas que mais impressão me faz, que sempre me fez, isto é, que me custa, é não poder ser eu a gerir inteiramente o meu tempo e as minhas actividades. Mas quem tem pais de idade sabe bem o que é andarmos com o coração nas mãos. Ou é uma coisa ou é outra. E, quando estão sob orientação permanente de terceiros em quem se confia para garantir que a medicação é seguida ou que os sinais de alarme são despistados, é uma coisa. Quando estão autónomos, independentes, orgulhosos de serem senhores do seu nariz, aí a coisa fia mais fino. Fazem o que querem. E não podemos obrigá-los a fazer o que não querem pois estão na plena possa das suas faculdades e ainda bem que assim é. 

O pior é quando o seu querer tem consequências. E não reconhecem como consequências mas, sim, como uma contingência de algo que não percebem ou não querem perceber: é que há dez ou vinte ou trinta anos faziam coisas cujas consequências eram nulas ou negligenciáveis mas, nos noventas, a fragilidade do corpo, já prega partidas.

Enfim. É o que é.

E, portanto, o dia foi daqueles com longas horas, preocupações, canseiras.

Agora parece que a coisa estará mais controlada. Mas, até que tudo passe, não fico tranquila. 

Tenho a sorte de viver muitos anos com os meus pais vivos. 

Mas assisti ao declínio do meu pai e ele também assistiu e sofreu muito por isso. Desde que teve o último e grave AVC ficou altamente debilitado, estando acamado nos últimos anos. Quando ele morreu, obviamente custou-me muito mas, racionalmente, compreendi que tinha chegado a hora dele, a hora de parar de sofrer, a hora de descansar, de chegar ao fim do seu caminho.

A minha mãe, felizmente está ainda bem, apesar das suas doenças e condicionantes. Mas está também a assistir às crescentes limitações que o seu corpo demonstra. E não está a aceitá-las bem. Receia muito essas limitações, desgosta-se muito, não aceita nem compreende, assusta-se. E, portanto, embora por razões diferentes do que aconteceu com o meu pai, com a minha mãe também não está ser fácil.

É lugar comum dizer que não se escolhe. 

Os jornalistas, quando entrevistam pessoas com alguma idade, têm o péssimo gosto de acabar as entrevistas com perguntas sobre a morte: pensa muito na morte? como gostaria de morrer?

Se me perguntassem parvoíces dessas mandá-los-ia à fava. Mas, por dentro, ficaria a pensar. Obviamente gostaria que fosse o mais tarde possível mas que acontecesse quando eu deixasse de gostar de estar viva e que fosse rápido, indolor e, de preferência, sem me aperceber que estava para acontecer.

Mas, pronto, isto não é conversa que se tenha. A questão é que estou cansada, um pouco esgotada.

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(...)
O que desaparece? E o que sobra?
Uma nuvem de aves brancas em céu de cinzas...

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Contudo, não me esqueci do que ontem disse, que ia mostrar os livros que trouxe da Gulbenkian. Contudo, vendo bem as coisas só um é que talvez possa ser cabalmente considerado como livro. Mas eu, que não sou purista, considero-os.

Mostro-os.














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Manon - final pas de deux - Sylvie Guillem & Jonathan Cope


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Um dia bom
Saúde. Tudo a correr bem. Paz.

segunda-feira, setembro 18, 2017

Outros luxos



Há alturas em que vagueio por entre leituras, sentido-me bem, apreciando o sabor das palavras, a elegância da escrita, contente por ter a sorte de gostar de livros.

Mas há outras em que, talvez porque mais predisposta, talvez por afortunadas coincidências, a experiência de ler é mais do que isso: é sinónimo de pura felicidade. Leio e sinto um envolvimento profundo que me transporta para aquele espaço indefinível em que a nossa matéria se dilui na felicidade de viver o momento.

De vez em quando, se o meu destino inclui a Gulbenkian no percurso, arranjo maneira de fazer coincidir um almoço rápido com uma ida à livraria. Mil vezes que pelo parque ou pela livraria eu ande, mil vezes me encanto como se fosse prazer inaugural. Desta vez o que trouxe de lá, para além da serenidade que o passeio por aqueles recantos frondosos sempre me proporciona, foi o Colóquio de Letras, Setembro/Dezembro 2017. 

Esta do Colóquio de Letras foi tema durante anos. Eu vinha de um namoro erudito. O meu namorado era todo artes e letras e eu, sendo naturalmente interessada por estes domínios, vivia imersa em informação, em revistas, livros, discos. Sendo ele pessoa muito dada à literatura, o Colóquio de Letras era uma lufada de arte, saber e ar fresco que consumia com avidez e do qual também me tornei devota. Ao começar a namorar o que viria a ser meu marido, todo ele de áreas mais exactas e concretas, falei-lhe uma vez no Colóquio e, para meu espanto, descobri que era coisa que ele desconhecia. Fiquei escandalizada. E ele deve ter achado o meu escândalo uma coisa disparatada pois, quando queria ridicularizar algum intelectual de pacotilha, acrescentava logo, 'ah... e não deve perder um Colóquio de Letras...'. Não me deixei abalar. Troquei de namorado, nada de mais, mas ao Colóquio de Letras mantive-me fiel.
No Colóquio gosto de tudo. A começar é o objecto em si. Agrada-me o design, a paginação, a qualidade do papel, o peso (é pesado, um compacto de luxo), o cheiro a tintas quando é novo. E gosto da selecção de temas, gosto do que lá se escreve, gosto do cuidado da feitura, gosto das imagens.

Mas este número é, de facto, especial: é um luxo. 


António Ramos Rosa e Herberto Helder. A poesia de ambos, a amizade que os unia, a correspondência trocada. A imagem das cartas, a letra deles, a insegurança de HH, o conforto que procurava junto do amigo, a palavra certa de ARR -- tão bom ler, ver, ter a poesia deles assim materializada.


E os poemas de ambos, poemas maiores, vozes a um tempo vindas das entranhas da terra, das entranhas da alma, da seiva das árvores, dos cavalos quando correm na noite, da seda das pétalas das rosas, do sangue das mulheres, da luz, das trevas, da imaterialidade do amor... O prazer de ter uma edição destas nas mãos, folheá-la, palpá-la, fechar os olhos e, ao voltar a abri-los, aquelas palavras ainda ali estarem, disponíveis, belíssimas.

Para acescentar ainda mais espessura à 'alquimia verbal da escrita de Herberto e à voz inicial de Ramos Rosa', as imagens de 'algumas peças da obra ao negro de Rui Chafes -- tal como Nuno Júdice o refere no Editorial.


Entretanto, este domingo, dia muito tranquilo: caminhada à beira rio, fotografias, almoço no cantonês, a aragem que faz dançar suavemente o arvoredo, as gaivotas, os veleiros, as cores doces deste fim de verão que já sabe a outono.


E, de tarde, um outro livro. Estou no princípio. Mesmo no princípio. E, no entanto, já lá estou dentro. Daqueles livros, pura literatura, em que as palavras nos levam pela mão. Bem sei, como no outro dia li a Javier Marias, que uma tradução é uma reescrita, a toada é outra porque a língua é outra, as subtilezas das palavras são, certamente, outras. Uma reinterpretação do original. Mas é uma tradução o que estou a ler (a cargo de Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues). Se calhar, se estivesse a ler o original, o meu maravilhamento seria ainda maior. Mas é em português que leio e é em português que falo do prazer que o livro, desde já, está a trazer-me. Chama-se Pedro Páramo e é de Juan Rulfo que o publicou em 1955.


Ler sentindo o toque das palavras

E estou aqui a escrever e com vontade de parar já para ir ler o livro. E há livros em que retomo no exacto ponto em que os deixei porque cada palavra conta -- e não são muitos autores com quem isso acontece. Neste sim. Neste livro não poderei perder palavra. Se calhar, quando a ele voltar, vou até reler a última página para ter a certeza que a cerzidura na leitura fica perfeita porque este livro não é um livro qualquer. Vou no princípio mas já sinto que é raro. Um luxo.

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Excertos de Pedro Páramo lidos por Juan Rulfo



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E, porque este post é também deles, poemas de António Ramos Rosa e de Herberto Helder 
(lidos por José-António Moreira)

O teu rosto



O amor em visita


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Fotografias feitas este domingo


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Abaixo fala-se de uma pessoa pouco recomendável pelo que deverão avaliar bem se é de vossa conveniência perturbar a alegria que as gaivotas vos estão a enviar

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quarta-feira, março 23, 2016

Sob a pele
- um passo no sentido da impossibilidade


No post abaixo falei do atentado terrorista de Bruxelas e de como me parecem fátuos os fogos de indignação que se elevam pedindo que seja olho por olho, dente por dente. Quando escrevo sobre estes temas dói-me a impotência que sinto por me sentir fechada num mundo manietado por gente estúpida.

Por isso, se me permitem, mudo de registo, parto para outra. Sinto necessidade de respirar ar puro. Ou de me alienar - como queiram.




Milhões de horas já foram certamente despendidas a definir arte e nenhuma foi a definitiva nem alguma vez será. Identicamente nunca será definida de forma última a escala de valor para a arte. Estamos no domínio da subjectividade e cada um fala por si. Pode o ‘mercado’, como um deus cego, desprezar uns ou idolatrar outros, podem os homens, alguns, tentar impor algum nivelamento ou ditar modas, podem os tempos estabilizar numa relativa uniformidade de apreço e tudo isso, de alguma forma, estabelecer uma base valorimétrica -- mas uma coisa será sempre certa: nada disso será alguma vez passível de definição ou explicação inequívoca.

A olhos leigos tudo é relativo. No outro dia, na Casa da Cerca, em cima dos bancos de pedra, junto à janela, estavam uns rolos de pano ou umas coisas com cordas (já não me lembro bem e, pelas fotografias, não consigo perceber). Percebi que era uma instalação da Ana Vidigal.


Não percebo se tem valor comercial ou se tem algum sentido ou valor estético. Podia não ter mas eu gostar. Contudo, a mim nada me diz. E, no entanto, Ana Vidigal é um nome sólido nas artes nacionais. Também há umas duas semanas, ao vermos uma exposição  de peças atípicas ou vídeos do além, deparámo-nos, junto a uma das paredes, com um balde e uma esfregona. A minha filha, na brincadeira, perguntou se seria também uma obra de arte e os miúdos olharam para saber a resposta, talvez admitindo que pudesse ser. E não sei se era. Também na Casa da Cerca vi descrita como escultura uma ‘cena’ que era um grande livro com pedras entre as folhas.



Olho esse género de coisas com estranheza. No entanto, várias pessoas acharam normal ou gostaram e por isso as expõem. Não sou fundamentalista, não me choca, não generalizo: apenas passo à frente.

Mas já me aconteceu muitas vezes ficar caída de amores por uma peça de arte e ver, com espanto, que os outros a olham com indiferença ou desprezo. Tantas vezes isso.
Nessas alturas tenho que refrear os pensamentos que, indignados, ladram no meu ouvido: ‘há com cada uma… quem diria que me ia sair um burro encartado desta maneira…?’. Depois censuro-me, penso que gostos não se discutem, que não tem nada a ver e penso, uma vez mais, que tenho pensamentos que me deveriam envergonhar.
Um dos artistas que encaixa neste género é Rui Chafes. Gosto dele. Mas conheço pessoas que o acham desinteressante, pouco artista. Contudo, as suas obras têm, a meus olhos, uma beleza intangível que não sei situar em categorias ou descrever por palavras.


Para já, têm aquilo que me atrai: não se parecem com nada. E é disso que eu gosto: aprender formas, corpos, sombras, desequilíbrios.

Explico-me. Se virmos a estátua de Catarina de Bragança na Expo, cuja fotografia há tempos aqui coloquei, perceberemos o que quero dizer: é perfeita, uma mulher bonita esplendidamente passada para um material que a perpetuará.


Acho interessante que se queira eternizar a imagem de algumas pessoas em pedra ou metal. Contudo, estátuas como esta deixam-me indiferente. É quase como ver uma fotografia a três dimensões. Nada de extraordinário, apenas a mestria de quem fez o exercício.

No entanto, vejo um volume pesado, metálico, suspenso, sem forma reconhecível, sem propósito, e logo eu fico parada, agradada, com vontade de assimilar a estranheza.

Desde que tive contacto com a obra de Rui Chafes logo me senti intrigada, e do pasmo logo nasceu a vontade de ver mais, para me admirar, para  não reconhecer o que de indefinido cobre aquelas peças. E logo senti que as suas palavras seriam também assim, estranhamente vindas de dentro da terra, do fogo dos elementos, fascinantes como se incompreensivelmente familiares.

Portanto, sempre que vejo as suas palavras escritas logo me abeiro, e logo vou como se entrasse num lugar desconhecido, esperando ser surpreendida: talvez uma gruta com figuras suspensas, jogos de luzes místicas, água correndo em silêncio, caminhos levando ao centro do mundo ou procurando a luz, reflexos de origem obscura.


Este livrinho parece um missal. Pequeno, escuro, uns tons de azul que encerram o mistério das palavras de Rui Chafes, compacto como retratando a personalidade e a obra do escultor onde nada parece supérfluo, onde parece haver uma coerência intrínseca. Sou muito sensível ao grafismo, ao toque dos livros. Falo de ‘Sob a Pele’, Rui Chafes, conversas com Sara Antónia Matos, uma edição Documenta, Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar.


O primeiro prazer começa logo na dimensão, o sabê-lo transportável dentro da carteira. Anda comigo. Assim que posso, abro-o, leio umas palavras ao acaso -- como agora.

O artista é um predador?
     
      Pode dizer-se que o artista tem um olhar de rapina. Dou, muitas vezes, por mim a olhar obcecadamente para um pormenor de uma pessoa, de uma planta, de uma parede, de um edifício, do que for. Fico parado a estudar a forma como a sombra de uma coluna se projecta no chão, fico preso nas qualidades de um determinado material, pode até ser o puxador de uma porta, por exemplo. A atenção pode deslocar-se, simplesmente, para um gesto da pessoa, uma ruga, um traço de expressão, um dente, uma mão, para a forma como o cabelo de uma rapariga cai sobre o pescoço, etc. Deixo de ouvir, momentaneamente, o que a pessoa está a dizer, o olhar torna-se mais importante. 
     Sempre defendi a ideia do artista-ladrão (talvez predador, como dizes). O que um bom artista faz é roubar imagens ao mundo e esconder as provas. É o roubo perfeito, no caso dos melhores artistas .... [sorriso]

Ainda dentro da temática do corpo, o que separa desejo e pornografia?

    Distância. Tenho de falar de distâncias, é isso que está em causa.
     O erótico envolve poesia e esta nasce, ou advém, da distância (...). A poesia é sempre um passo no sentido da impossibilidade e, portanto, se não houver esse espaço de inacessibilidade, que separa o sujeito do objecto pretendido, não há poesia nem erotismo. Há um colapso entre sujeito e objecto, que resulta da anulação da distância, e que corresponde ao 'já', ao 'aqui e agora', e à consumação imediata do acto ou do pensamento pornográfico.


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Viagem aos confins de um sítio onde nunca estive 

Filme de João Mário Grilo sobre a exposição 'O Peso do Paraíso' de Rui Chafes
CAM -- Centro de Arte Moderna, Lisboa 2014

 

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Lá em cima Renée Fleming, com a Prague Symphony Orchestra, interpreta 'Morgen' de Richard Strauss
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E permitam que me repita: para temas tristemente actuais queiram, por favor, descer até ao post seguinte onde afloro o que penso sobre a forma como acho que deveríamos olhar para isto do terrorismo na Europa (e só falo da Europa porque, se disto porque entendo, imagine-se a minha ignorância relativamente a outras geografias)

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sábado, dezembro 12, 2015

Rui Chafes, Prémio Pessoa 2015, esconde-se de si próprio, procura a beleza e a sabedoria






7.

De madrugada, depois da escuridão que tudo iluminou (mesmo o que nunca pensámos chegar a ver), toma-nos o medo de regressar ao conforto, ao aborrecimento, ao vazio assustador. A noite tem de ser prolongada para o dia não nos devorar a alma: "A noite dissolve os corpos, o dia dissolve a alma." Gosto muito de longos dias nocturnos.



9.

A arte será sempre a fricção entre o mundo interior e o mundo exterior. A capacidade de transformar esse conflito numa forma possível é o trabalho dos artista e dos poetas. Mas esse trabalho tem de ser feito segundo os valores mais antigos e eternos: "bravura, nobreza e entrega". Que ninguém se iluda, os covardes não têm acesso à Beleza.


13.

O Mundo dentro de uma gota de água. Uma casa, um jardim, uma montanha ao longe, tudo no interior de uma gota de água. Uma floresta dentro de uma catedral reconstruída até ao infinito. Escondo-me de mim próprio, procuro a beleza e a sabedoria.


35. 

As árvores grandes e fortes têm raízes grandes e profundas; as árvores pequenas e fracas têm raízes pequenas e superficiais.


40.

A arte tem de ser uma declaração de amor. Tem de possuir, de cada vez que a visitamos, a emoção e o deslumbramento do primeiro olhar: a revelação, a emoção, a expectativa, a comunhão e a transformação, infinitamente.

44.

Neste mundo de banalização e consumo de imagens, quem acredita ainda no poder redentor da arte e da palavra? Não importa em que lugar a arte é apresentada: se houver uma pessoa, uma só pessoa, que seja tocada, que se emocione, uma única, a arte será salva.


46.

Um grande poeta, meu amigo, disse-me que as buganvílias não têm cheiro. Mas nós sabemos que tudo tem cheiro, até o vidro, os navios de espelhos e as flores-de-lis tatuadas no coração das donzelas. As buganvílias, quando fenecem e se apagam lentamente, libertam, no exacto momento em que a sua luz se extingue, um suave odor a rapariga adormecida na madrugada. Os poetas sabem o mundo todo, mas nem sempre têm razão.


11.

Tentar ser um homem puro e íntegro

Rui Chafes - Prémio Pessoa 2015


37.

Não existe nenhum prémio, nenhuma recompensa.

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"Tem 49 anos, nasceu em Lisboa e formou-se em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em 1989. Estudou ainda na Kunstakademie, em Dusseldorf, Alemanha, e é um dos artistas portugueses contemporâneos com mais destaque internacional. Mas, para Rui Chafes, o seu currículo é bem mais simples de resumir: "Sou um mero artesão dessas vozes superiores que me dizem para fazer formas que não entendo", disse numa entrevista recente ao Expresso."


Rui Chafes já aqui esteve antes no Um Jeito Manso, 'entre o Céu e a Terra'. Os excertos numerados que acima transcrevi bem como o que se segue provêm todos do seu livro com esse nome.

Daqui envio os meus parabéns a Rui Chafes de cuja obra gosto mais do que muito.

E, para festejar o honroso Prémio Pessoa que lhe foi atribuído, que se junte a nós Lhasa de Sela:
O silêncio estático e apático que nos interroga através das imensas cortinas de água que toldam os nossos olhos; um sorriso que não é dirigido a ninguém. Passamos da escuridão à luz e da luz à escuridão. De cada vez, ficamos apavorados, com medo de abandonar o mundo que já conhecemos, de acabar, de chegar ao fim. Mas tudo é apenas uma passagem para outro universo, para um novo estado, um novo mundo, como nos explicou a longínqua voz de Lhasa de Sela

El Pajaro - Lhasa de Sela

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[Esta minha sexta-feira foi um dia pesado. Mal dormida, a noite quase em branco, viagem a começar ainda de noite, boa na ida, na conversa, depois reunião longa, a seguir almoço alargado, quase de Natal, depois cerimónia com colaboradores com maior antiguidade de serviço, e, de novo, carro. Viagem para baixo ainda mais animada, conversa diversa com companhias novas, assuntos novos, a curiosidade da descoberta de outros mundos. Depois, já em Lisboa e já de noite, compras. Antes de entrar no shopping, uma espreitadela à galeria lateral do UJM e, num blog, talvez no Da Literatura, já não sei, a notícia do Prémio Pessoa para Rui Chafes. A seguir às compras, coisa até ligeira mas eu já à beira da exaustão, um frappé de manga e ananás no Mcdonalds e uma daquelas tartes de maçã quente (que nem me soube a plástico nem nada, de tal forma estava a precisar de recarregar baterias). Depois viagem até casa, com telefonemas à família pelo caminho, a saber se estava tudo bem. Finalmente, cá chegada, sapatos altos retirados, brincos, anéis, colares, tudo tirado, roupa trocada, um mergulho no sofá e um sono retemperador. Meia hora, se tanto, mas deu para refrescar a cabeça. Só depois, já tarde, jantar. E só depois computador, o blog, isto. 

Não li jornais nem ouvi rádio. Estive a ver o Expresso da Meia-Noite enquanto escrevia mas foi conversa oca, balofa: não houve uma ideia que eu tenha retido. Continuo sem saber bem a quantas ando nem que voltas anda a dar o mundo longe do meu olhar.

Agora, voltei a ler os blogs aqui ao lado. Afinidades electivas. um sorriso que se me abre quando leio algumas palavras, a vontade que o meu sorriso chegasse até alguns desses 'amigos ou ilustres desconhecidos' cujas mãos escrevem palavras limpas, luminosas. Outras vezes sinto-me solidária. Outras, surpreendo-me. São companhias boas. Tivesse eu mais tempo e tantas vezes iria deixar palavrinhas de agradecimento junto de alguns.

Mas não dá. E agora, dado que o dia foi dose e que o sábado também promete, acho razoável deitar-me pouco depois da meia-noite. Por isso, por hoje, por aqui me fico]

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Lá em cima Catrin Finch & Seckou Keita interpretam Llongau Térou-bi

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado. 
Com beleza e afecto.

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domingo, abril 06, 2014

Rui Chafes 'Entre o céu e a terra', sentindo 'O Peso do Paraíso'




24. Tento sempre fazer esculturas que sejam como a presença de um felino na sombra, do qual só apercebemos o brilho fugaz dos seus olhos, para que João Miguel Fernandes Jorge as consiga ver.



26. Existe uma 'perfídia do objecto: ele observa, com uma alegria maligna, os nossos vãos esforços para o subjugar. Temos de arrancar o objecto ao seu contexto natural, temos de o libertar dos laços que o unem aos outros objectos para o tornar absoluto. Só poderá existir uma aura em torno dos objectos se, como queria Nietzsche, reconduzirmos o pensamento à vida para a aumentarmos até a tornar num absoluto. Não há razão nenhuma para não nos sentirmos também observados pelos objectos.A arte tem de ser uma declaração de amor. Tem de possuir, de cada vez que a visitamos, a emoção e o deslumbramento do primeiro olhar: a revelação, a emoção, a expectativa, a comunhão e a transformação, infinitamente.


42. Não é a escultura, o desenho, a pintura, a fotografia... é a alma. A arte é o duro trabalho da nossa alma. A história da alma de um artista é dura, difícil, por vezes desagrad´vel e custosa. Mas do lado de lá, do outro lado, onde se encontram todos os nossos demónios e onde já estamos para além de tudo, encontramos a única geometria possível, a mais cristalina, parecida com a que rege os astros que rodeiam a bela lua. Aí construímos flores de aço e observarmos, maravilhdos, a transprência da chuva velando as suas pétalas metálicas. É este o único realismo que me interessa.



43. Acredito na poesia, no seu poder único. Como Novalis, acredito que tudo é poesia, que a mais pequena flor representa um pensamento, a intuição pura de um instante, uma explosão gelada de verdade. O sentido poético (tal como o entendia Pier Paolo Pasolini) é o que nos permite agir sobre o mundo mediante uma deslocação, por vezes mínima, de sentido ou de ponto de vista. O sentido poétco é o que desloca o espectador para um ponto onde uma nova construção da realidade pode acontecer. O fim da poesia é estabelecer um desvio, é quebrar e desconstruir todos os códigos de comunicação existentes, alterar o mundo coo os homens o conhecem, abrir fissuras no espaço com a sua presença. A poesia não é outra linguagem, é, sobretudo, um outro olhr. Robert Bresson disse que não é necessário nem possível procurar a poesia, ela penetra pelas juntas, o que é preciso é saber recebê-la. Para isso, é necessário juntar o que está separado, desequilibrar para reequilibrar, pois não existe arte sem transformação.


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As fotografias mostram peças da exposição antológica 'O peso do paraíso' de Rui Chafes que pode ser vista no Centro de Arte Moderna e nos Jardins da Gulbenkian até 18 de Maio (que recomendo - e que os meus pimentinhas adoraram; nada disto, para eles, é estranho).


O texto acima é um conjunto aleatório de excertos do livro 'Entre o céu e a terra' de Rui Chafes da editora Documenta.


A música é  Majâz interpretada por Le Trio Joubran.


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quinta-feira, abril 03, 2014

Carolina de Mónaco vai ao Baile da Rosa de ténis debaixo do vestido de noite. E de bengala. Se fosse a mana Stéphanie a aparecer assim, a gente não estranhava. Agora a Carolina...? //// E, fazendo a agulha para um outro mundo, ofereço-vos um 'amuse-bouche': Rui Chafes no CAM (Gulbenkian)


No post abaixo já mostrei o vídeo que está nas bocas do mundo: o que foi projectado no tempo de antena do PS para o Dia das Mentiras, demostrando factualmente o patranheiro que tem vindo a revelar-se o barítono frustrado Passos-Láparo.

Ou seja, para constatarem as mentiras e outros embustes do gang que nos desgoverna, queiram, por favor, descer até ao post seguinte.

Mas aqui, agora, a conversa é outra. Façam o favor de se aperaltarem que vamos entrar na Sala das Estrelas. A preceito, se faz favor.





Todos os anos se repete o glamour. A família real monegasca recebe os convidados para o Baile da Rosa, um baile de caridade. Pagam 800 euros pelo ingresso, verba destinada à Princess Grace Foundation.

No entanto, a bem dizer, ninguém pensa muito no assunto da caridade. O baile é o momento por execelência para se ver em que param as modas - a todos os níveis. Os olhos convergem sobre as princesas, as câmaras estão a postos, os editores das revistas do coração aguardam o grande momento.. Estarão elas sorridentes ou, sabidos os choques de personalidades, revelarão mal estar, frieza ? O que vão vestir? Stéphanie vai ou zangou-se de vez com a mana? Vai algum dos namorados? A bela (e sonsa) Charlene vai arrastar-se com ar distante ou vai dar um ar de sua graça?

Pois bem. No passado dia 29 de Março decorreu mais uma edição do badalado Baile da Rosa e é disso que eu hoje, qual Pipoca mais Doce, aqui vou falar.

A elegância foi a de sempre. No entanto, Stéphanie desta vez não compareceu. O afastamento é cada vez mais um dado oficial. Andrea também não foi.

Charlotte, a bela, estava linda embora o vestido não mostrasse a sua elegância.

Talvez não seja como a Carolina Patrocínio que, ao fim de seis dias, já não tem rasto de gravidez e se apresenta com cintura estreita e barriga lisa. 

Talvez a bela Charlotte ainda tenha um pouco de barriguinha e tenha tentado disfarçar com o vestido solto.


Mas a beleza é muita, exuberante: herdou os traços perfeitos da mãe e também do pai.

O vestido, em cinza-gelo, era Chanel Couture.

Beatrice e Pierre
Esteve divertida e fartou-se de dançar ao som de Mika.

Quem surpreendeu foi Charlene. Depois de ter sido fotografada há pouco tempo toda dengosa com um outro, eis que no Baile se apresentou sorridente, vestida com um requintado Akris azul-escuro com detalhes pretos, encostada ao mulherengo Alberto, e, num dado momento, até lhe passou o braço à volta do pescoço.

Pierre lá estava com a sua bela Beatrice Borromeo, elegante, suave como um pêssego reluzente, vestida com Armani Privé, uma verdadeira princesa.


De resto, a surpresa da noite foi mesmo  Carolina de Mónaco. Debaixo do vestido Chanel estava de ténis. Claro que os ténis não eram uns ténis quaisquer: eram Karl (Lagerfeld) mas, valham-me todos os santinhos, eram uns ténis! E avançava lentamente e de bengala!


Se fosse a Lady Gaga isto podia fazer parte do modelo. Mas não.

A questão era afinal mais comezinha. Carolina é humana, apenas isso. Tinha sido operada a um joelho e, portanto, não podia usar sapatos apertados ou altos. 


Sei bem o que isso é. Durante um mês ou dois andei de havaianas ou outras chinelinhas, sandálias, sabrinas e por aí. Toda a gente olhava para mim com um sorriso indulgente. Eu, sempre de saltos, naqueles preparos. Calhou no verão, menos mal. Ainda agora, ao fim de semana, uso maioritariamente ténis ou outros sapatos confortáveis. Foi um hábito bom que veio com a operação.

É, pois, de louvar a descontração e o estoicismo de Carolina. Provavelmente estava com o joelho inchado, provavelmente estava a custar-lhe imenso estar de pé e, ainda assim, ali esteve, a sorrir e a deixar-se fotografar.

Não é nada de mais, é certo. Pelo mundo fora, milhões de mulheres têm dores e fome e mantêm-se de pé para tentarem manter-se vivas. Mas não é isso.

A questão é que Carolina foi 'vendida' desde que nasceu como o bebé perfeito, a menina perfeita, a noiva perfeita, a mulher perfeita, a mãe perfeita, a filha perfeita, a órfã perfeita, a viúva perfeita, e, com esta imagem, mostra bem que, mais do que perfeita, ela é humana. 

É certo que desde há uns anos a imagem das princesas tem sido dessacralizada, já não é possível manter aquela etérea imagem sempre tão deificada pela imprensa cor de rosa. Mas, ainda assim, pelo inesperado da imagem, pode dizer-se que, apesar de não ser pelos melhores motivos, Carolina continuou a congregar as maiores atenções.


***

A música é Grace Kelly interpretada por Mika a quem coube animar a noite no Baile da Rosa 2014.


*

Pernas suspensas com botas
Rui Chafes no CAM
Pois é. 

Era hoje que eu ia falar de Rui Chafes, João Tabarra, Pieter Hugo na Gulbenkian.


Até um Leitor me enviou fotografias da exposição do escultor no CAM e uma entrevista de Rui Chafes ao Público na qual ele diz que não sabe o que faz (- mas as fotografias que aqui tenho são minhas). 

Mas, uma vez mais, ponho-me a escrever sobre faits divers e o tempo passa e eu começo a bocejar e ando cansada e como não curo as constipações e está frio ou os miúdos pegam-me ou é de trabalhar num sítio sem janelas ou sei lá o que é, estou um bocado mal da garganta, a modos que a sentir-me, outra vez, meio constipada, e tenho mil reuniões, pegam-se umas às outras, e saio tarde, chego a casa às horas a que meio mundo já acabou de jantar e está na sala a descansar, e não consigo tempo para responder a mails ou comentários, não sei para que lado me virar, e esta semana até já tive uma festa de anos, e já fui fazer parte do turno da tarde a fazer baby sitting a um dos miúdos que estava doente, e nada disso é coisa demais mas o certo é que tudo junto faz com que chegue a esta hora e já não consiga dar uma para a caixa. Se calhar, se o tempo estivesse bom, talvez eu conseguisse escrever aqui até às duas da manhã fresca e inspirada mas, assim, o facto é que não consigo.

Uma bola sentada ao lado da minha filha
A bola é da autoria de Rui Chafes
A minha filha é de minha co-autoria
Eu queria dizer-vos hoje que as peças de Rui Chafes não são nada em concreto mas que eu gosto delas e os miúdos adoraram, andavam de volta, riam, chamavam a atenção uns aos outros e eu também gostei, deve ser o meu lado infantil. Gosto de coisas que não são nada ou que aparecem em lugares inesperados porque, se reproduzirem coisas a sério e em situações previsíveis, mais vale ver os originais e, por isso, gosto de ver coisas que não existem em mais lado nenhum, só na cabeça doida dos artistas.

Mas talvez fale disso amanhã. Se conseguir. Se não me puser a falar de outras coisas antes.

Agora tenho que me ir deitar. Estou cheia de sono e amanhã tenho a agenda preenchida de manhã até ao fim do dia, entre reuniões e conference calls, vai seu uma estopada das valentes; e nem sei se vou conseguir almoçar.



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Recordo: o vídeo do PS passado na televisão no Dia das Mentiras e onde se pode ver o mais trapaceiro dos trapaceiros, o mais perigoso dos perigosos, é já a seguir.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.


domingo, fevereiro 16, 2014

O UM JEITO MANSO já vai com mais de 500.000 visitas...? Como é possível uma coisa destas....?! Ainda me custa a acreditar. ------- Mas, seja como for, MUITO OBRIGADA meus queridos Leitores!


Escultura de Rui Chafes nos Jardins da Gulbenkian, este sábado à tarde

Os sábados são, desde que me conheço, um dia que não me chega para as encomendas. As solicitações são superiores ao que o tempo permite.


O bebé (ano e meio) e o ex-bebé (quase três) no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian
Os outros dois andavam noutro lado, a brincar às escondidas


Cheguei a casa tarde, o Expresso todo para ler, depois pus-me a ver o 'Fim de uma Época', assim a modos que reclinada no sofá, encostada ao meu marido, tapada com uma mantinha e, claro, passado um bocado adormeci. Felizmente, acordei a tempo de ver a parte final.

Agora, começou o Downton Abbey e, antes de me deixar embrenhar no ambiente da época, vim aqui dar uma espreitadela e alinhavar uns leros... e dei com um número que me envaidece.

Neste momento o Um Jeito Manso já vai em mais de 500.600 visitas. Mais de meio milhão. Alguma vez, quando comecei com isto, eu podia pensar alcançar um número destes...? Nunca.


Comecei do nada, desconhecida e desconhecedora, completamente ignorante nestas matérias e neste meio, e já cheguei até aqui. Vamos ver o que o futuro me reserva. Nestes três anos e meio publiquei 1.892 posts e existem 8.418 comentários publicados. Tivesse eu mais tempo e a todos responderia com a atenção que merecem. 

A maioria dos meus Leitores está em Portugal (62%). Seguem-se os Leitores do Brasil, 15%, e depois os dos EUA, 9%. Depois, em menor número, pessoas de vários outros países como a Alemanha, a França, o Reino Unido, e vários outros como, por exemplo, a Tailândia onde vi no outro dia que um blogue de lá citou o meu.

Fico orgulhosa. É como se finalmente comece a formar-se em mim a ideia de que isto que aqui escrevo faz sentido para um número significativo de Leitores. Ou faz sentido ou acham graça. Quando ligo o computador à noite, tantas vezes cansada e cheia de sono, nunca sei se vou ter energia ou inspiração, e se vou ter o que dizer. Ou se não vos aborreço com as minhas impertinências ou excessos.

Quando me interrogo porque vêm aqui parar as pessoas que escrevem coisas bizarras nos motores de busca (como aquela de ontem: um boi vestido de GNR), o meu marido diz que o algoritmo da Google, quando a coisa não é óbvia, deve classificar as coisas por natureza e, quando as coisas lhe parecem maluquices, encaminha as pessoas para os blogues cujos autores são conhecidos por não serem lá muito bons da cabeça. 

Talvez eu não seja mesmo muita boa da cabeça. Mas sou uma pessoa de bem com a vida, agradecida pelo que tenho e sou e com muito prazer em partilhar o pouco que sei ou tenho. E gosto de me aproximar das pessoas, gosto de tudo fazer para que se sintam bem. Na vida real ou aqui, neste imenso espaço virtual, se sinto alguma tristeza em alguém, alguma preocupação, só se não puder é que não me aproximarei.

Claro que, frequentemente, não é isso que aqui vêem. Revolto-me muito com os incompetentes e trapaceiros que usam o poder que têm para desgraçar um país e, sendo extrovertida e espontânea como sou, não consigo disfarçar o que sinto. Por isso, tantas vezes aqui me vêem furiosa, sentindo-me insultada, incapaz de me acomodar ao registo de subserviência acrítica a que esta gentinha parece querer conduzir os portugueses. Não me resigno, não me calo, não me acomodo.

Mas, tirando isso (e não é pouco, reconheço), só o meu pouco tempo me impede de me dedicar aqui mais àquilo que me dá mais prazer e que é tudo o que, em minha opinião, é belo. Literatura, pintura, fotografia, dança, paisagens, gestos de generosidade.

Só espero ir conseguindo arranjar disponibilidade e inspiração para ir correspondendo ao vosso interesse e boa vontade. 

E, não podendo pôr aqui uma mesa de festa, ofereço-vos o possível.




Flores. Quando cheguei aqui, in heaven, o ar estava frio, já era quase noite. Como sempre faço, peguei na máquina fotográfica e fui dar uma volta. A planta que está aqui num vaso ao pé do banco junto à porta está florida. Tão perfeita e bonita a florzinha.




Depois parei debaixo das árvores e olhei o céu. Este céu é o meu templo. Aqui sinto-me protegida, abençoada, numa terra que me acolhe como sua.




E, já noite, voltei a parar no recanto cheio de poesia, onde as palavras luminosas de Sophia se materializam, onde os pássaros se aninham e cantam livres e felizes, meus irmãos. A fotografia está má mas eu já mal via para onde estava a apontar e, seja como for, quero mostrar-vos para que possam sentir-se mais próximos de mim.

Espero que se sintam sempre bem quando entram nesta minha casa, que se sintam in heaven quando estão no Um Jeito Manso.

Muito obrigada pela vossa companhia.

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Resta-me desejar-vos, meus queridos Leitores, um belo domingo.