Música, por favor
Vira do Minho - Vira e torna a virar
Com ar maçador e sem pitada de graça, ficando a milhas da piada de Manuel Marques quando o imita, o ministro-que-não-acerta-uma, Vítor Gaspar de seu nome, lá apareceu outra vez a confirmar aquilo que toda a gente com dois dedos de testa, toda a gente menos ele, já tinha adivinhado há muito tempo: que, apesar da espoliação aos contribuintes, os valores das receitas fiscais estão aquém do que estava à espera, que o défice está em risco, que a autonomia financeira do país está em risco na data prevista e que os nossos parceiros da Europa nos irão ajudar quando precisarmos.
Ou seja, um fiasco em toda a linha. Nem mais: as políticas de Passos Coelho a conduzirem o País à miséria, ao desemprego, à ruína, às falências em cadeia... e para nada.
Desde o início que aqui tenho dito - mas não é esperteza privativa minha pois, por todo mundo, muitas e muitas vozes, incluindo prémios Nobel da Economia e os próprios gestores do FMI, têm alertado para o mesmo - esta política absurda de cortes em cima de cortes, sem qualquer incentivo do lado do investimento, gera um tal desequilíbrio estrutural que só podia mesmo gerar recessão em espiral, em que a austeridade gera recessão que, se for combatida com mais austeridade mais recessão vai gerar e assim sucessivamente. O vazio a atrair a realidade a uma velocidade vertiginosa.
Com excepção de uns happy few que sabem viver sempre a bom recato dos males que afectam o comum dos mortais, toda uma população está mais pobre, mais insegura, todo o tecido económico está mais frágil, o sistema de saúde está uma desgraça, já se rateiam os tratamentos, os mais pobres já não se tratam, a cada dia mais famílias perdem a casa, os mais jovens abandonam o país em massa, as melhores empresas do país são vendidas ao estrangeiro, não fica pedra sobre pedra - e, para surpresa do Gaspar-que-não-percebe-nada-da-vida-real, isto não conduziu ao eldorado que ele, rapaz que se tem por inteligente, imaginava. Pelo contrário, a dívida aumentou, o défice não vai ser cumprido e alguém terá que nos estender, de novo, a mão. Mas nestes negócios ninguém estende a mão com bons propósitos. Os juros são altos, as condições insuportáveis, os honorários das comissões que nos vigiam são exorbitantes e, não menos importante, continuaremos a ser geridos por burocratas que de vez em quando aí aparecem e que são tratados pelo Governo como se fossem nossos donos. Uma desgraça e uma humilhação.
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Angela Merkel - Isto foi noutro jogo porque no jogo de ontem estava de verde - mas o jeito marcial era o mesmo |
Enquanto isso, a guru Merkel, antes de ir disfarçar-se de hooligan no jogo da Alemanha com a Grécia, reuniu-se com o Hollande, o Monti e o Rajoy e, marimbando-se para o Durão Barroso, Van Rompuy e outros inúteis, foi dizer como é - que desenvolvimento é essencial e que um programa europeu para relançamento da economia vai ser posto em marcha. É a reviravolta a começar a operar-se e em boa hora isso acontece; e tomara que muitas mais piruetas ocorram nos próximos tempos pois, caso contrário, não há salvação possível para o euro e para a Europa que cairá no caos em três tempos. Claro que ainda não se sabe como, quando, controlado por quem, mas é um bom sinal. Não é caso para euforias, mas é um sinal.
Não imagino é como é que Passos Coelho e o Gaspar vão reagir perante isto. Provavelmente não vão perceber. E o homem da Goldman Sachs, o António Borges que por aí anda, à rédea solta, a tratar dos negócios, vendendo as nossas empresas estratégicas segundo critérios lá muito dele, pessoa esta que acha que a legislação laboral deveria ser mais flexível e que o abaixamento de salários é uma inevitabilidade, o que dirá ele? Se calhar vai acelerar na sua actividade antes que se faça tarde.
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Música, de novo, por favor
Juliette Greco - Sous le ciel de Paris
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Joana Vasconcelos, uma Princesa Portuguesa em Versaillles |
A grandiosa Joana Vasconcelos está a arrasar em Versailles. A sua obra é tão imprevista como colossal.
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Le dauphin et la dauphine - fainaças Rafael Bordalo Pinheiro vestidas a crochet |
Com crochet, tricot, peças de arte popular ou utensílios domésticos (que, por aquelas bandas, a etiqueta realesca não adimitiu os utensílios íntimos), Joana recria, reinventa, imagina, ousa (e, de caminho dá trabalho a uma vasta de equipa de pessoas que ajudam a dar corpo a esta imaginação fantástica).
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Pavillon é - em ferro forjado |
Joana d' Arte
Joana vale tudo o que pesa e pesa tanto
de tachos faz sapatinhos de cristal
e as supostas filigranas se enredam no olhar
até o impensável garrafão brilha na relva
a provocar a provocar...
porque nas mãos de Joana tudo acontece
a mente de Joana é um palácio sem fim
e até os lustres são intimidade
na alma de Joana
Portugal é um país imenso
no coração de Joana
do passado se faz presente
e se constrói futuro
com fios e rendas de saudade
[Poema da autoria da Leitora 'Era uma Vez', a quem agradeço a generosidade, num comentário ao post de dia 19 deste mês]
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Marilyn - tachos, panelas e tampas em inox |
Muitos parabéns à Princesa Joana, a Lúcida, uma mulher empreendedora, arrojada, que honra a alma e a arte popular portuguesa.
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Se vos apetecer, gostaria de também vos ter lá no meu Ginjal e Lisboa.
Hoje as minhas palavras entregam-se a um olhar sensual em torno da Lúbrica de Cesário Verde.
A música é ainda de Shostakovich.
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E tenham, meus Caros Leitores, um belo sábado!