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sábado, agosto 16, 2025

Ainda a propósito do Relvas e não só:
É o destino, “for the time being"

 

A propósito do testo que escrevi ontem sobre o Bannon tugolaranja, Relvas, por aí andar a dar as tácticas a Montenegro (respaldado por Passos? ou a abrir caminho a Passos?), permito-me puxar para aqui, para o corpo principal do blog, um comentário bastante interessante.

[Mas, antes, um apontamento. Pouco tempo depois do Relvas ter deixado de ser ministro, e lembremo-nos que saiu pela porta pequena, foi almoçar, num restaurante ali à beira rio, para as bandas de Belém, com um empresário e com um outro artista, familiar (para não dizer familiar muito próximo) de um ex-primeiro ministro. Esse empresário contou-me depois que estavam a almoçar na esplanada e que algumas pessoas que passavam reconheceram-no, olhando parece que com um certo ar trocista, e que ele sorria, na maior. E uns jovens, de longe, gritaram 'Vai estudar ó Relvas'. E ele, sorridente, como se nada fosse. Perguntei: 'Mas, no fundo, deve ficar sentido, não...?'. Resposta desse empresário: 'Acha?! Estava, isso sim, a ver se me 'vendia' umas ideias... Pessoas como o Relvas, gente de esquemas, estão é sempre a ver se estabelecem ligações, se fazem pontes para negócios, coisas assim.']

Mas, então, aqui está o texto do Leitor a quem muito agradeço.

Relvas já tem alguém (Victor Sereno) da sua máxima confiança no aparelho de Estado, precisamente num alto e sensível cargo – o SIRP Serviço de Informações da República Portuguesa, um dos vetores das nossas “Secretas”). O “Dr.” Relvas (assumindo que terá entretanto concluído o tal curso que não possuía) foi buscá-lo (VS) ao MNE, onde já revelava sordidez, ou seja, estavam bem um para o outro – e ambos arrogantes qb.

Quanto ao Tribunal Constitucional, tal como é (ou foi concebido) não deveria existir. Isto porque um Tribunal não deve ter juízes nomeados, ou escolhidos, por razões políticas, como sucede, desde a sua criação. Só nos EUA, que não é um país democrático segundo os “standards” do Conselho da Europa (por causa do seu sistema judicial, cujos magistrados – juízes e procuradores – são nomeados e escolhidos por pertencerem ou aos Partido Republicano, ou Democrata, bem como o seu sistema eleitoral, aquele tal Colégio Eleitoral, onde não é facultado o voto directo) é que os magistrados são escolhidos pela sua simpatia ou filiação partidária.

Inclinava-me para, em vez de termos um Tribunal Constitucional, optássemos por uma Secção Constitucional no Supremos Tribunal de Justiça, com magistrados peritos em Direito Constitucional, a fim de dirimir as questões de carácter constitucional. Como não sucede assim, teremos em breve uns tantos trogloditas de extrema-direita sentados no Palácio Raton a decidir questões sensíveis de constitucionalidade, sabendo bem o quão desprezam esta Constituição. Afinal de contas, o Chega conseguiu eleger 60 energúmeros para a AR, sendo que um deles, Diogo Pacheco de Amorim, antigo bombista do MDLP, fascista/salazarista assumido, que desdenha a Democracia que o 25 de Abril nos devolveu, após 48 anos de Ditadura, é hoje um dos Vice-Presidentes da AR.

Mas, atenção, se hoje estamos onde estamos, com uma maioria de Direita radical (AD+Chega+IL), deve-se ao mau desempenho da Esquerda, em particular do PS, que não se soube assumir como alternativa ao trafulha do Montenegro e ao Chega (os restantes Partidos de Esquerda não existem, praticamente e alguns, BE, e PCP deverão desaparecer em próximas eleições).

Voltando a Relvas, faz o papel que bem sabe e sempre soube fazer, que é o de desgastar a oposição à esquerda do PSD. Um traste político, sem valores e princípios políticos. E teremos esta gente (AD+ Chega, com a mãozinha da IL) pelo menos nos próximos 2 anos, se não forem mais. É o destino, “for the time being”.

terça-feira, julho 29, 2025

Pagar menos impostos --- mas, calma, tudo dentro da lei

 

Li uma notícia que até me fez rir. Na minha santa ingenuidade, pensava que o truque da empresa unipessoal (ou afim) apenas era usado por médicos, advogados, consultores e demais profissões que poderiam passar por liberais ou, também, por senhorios -- malta que, não querendo pagar muito IRS e, para além disso, metendo nessas pseudo-empresas tudo o que é custo (combustíveis, limpezas, estacionamentos, almoços, hotéis, etc.), também conseguem não pagar IRC ou pagar meras alcagoitas. Pensava eu.

Mas eis que fico a saber que estava muito enganada. Transcrevo um pouco:

O Fisco está a investigar indícios da prática de fraude fiscal no pagamento de indemnizações, por despedimento, e outros complementos salariais a trabalhadores. As suspeitas incidem sobre esquemas em que os beneficiários utilizaram empresas pessoais para receberem as indemnizações, os prémios e bónus salariais, com vista a pagarem menos impostos ao Estado.

Através destes esquemas de utilização de empresas no recebimento dessas verbas, os beneficiários visam alcançar dois objetivos: por um lado, reduzir o montante do imposto a pagar em sede de IRS; por outro, deduzir despesas em sede de IRC e diminuir o imposto a pagar pela empresa ao Estado.

No relatório do combate à fraude e evasão fiscais, a Autoridade Tributária descreve a situação: “As situações identificadas revelaram indícios da existência de esquemas de planeamento fiscal que têm como objetivo principal a diminuição da tributação, que seria devida na esfera pessoal dos sujeitos passivos beneficiários de indemnizações, complementos salariais e/ou rendimentos de trabalho independente em sede de IRS, e a dedução de gastos, em sede de IRC (por via da fatura emitida pela empresa interposta) sem a devida tributação autónoma por parte da empresa pagadora”.

Pois bem. Há que tempos que aqui ando a falar disto.

É através deste mesmíssimo esquema que os hospitais contratam médicos (muitos deles também funcionários do hospital, ou seja a médicos que recebem em dois carrinhos: o ordenado, enquanto funcionários, e a facturação à hora, enquanto tarefeiros das suas próprias empresas que funcionam como fornecedoras dos hospitais; e quem diz hospitais, diz clínicas, diz o que quiserem). É através deste esquema que muitos senhorios (os que são 'honestos', pois passam recibo fiscal já que, como é sabido, grande parte dos contratos movimentam-se por debaixo da mesa) em que os recibos são passados pelas empresas de 'gestão imobiliária' de que são sócios. É também através deste esquema que, então, fico agora a saber, algumas empresas pagam bónus ou indemnizações ou, se calhar, parte do ordenado a alguns funcionários. 

Tudo legal, tudo nas barbas do fisco. O mesmo Fisco que não acha estranho que haja tão poucos contribuintes a pagar as taxas máximas de IRS (os que não conseguem fugir e os totós que acham que devem agir by the book), mesmo vendo que há muito, muito, muito mais gente a fazer vidas milionaríssimas, enquanto pagam pouco IRS.

E, no entanto, esta rebaldaria seria muito fácil de ser interditada. Bastaria que qualquer empresa (hospital, escritório de advogados, empresa de consultoria, empresa de qualquer espécie) estivesse interditada de 'contratar serviços' a empresas unipessoais ou em que os sócios fossem os funcionários que prestam o serviço. Interditado pura e simplesmente. Nos casos mais benignos em que precisam efectivamente dos serviços das pessoas, contratem-nas. Se só precisam delas provisoriamente, contratem-nas como trabalhadores temporários. Se precisam que trabalhem para além das horas extraordinárias admissíveis face à legislação e recorrem a este esquema fraudulento (mas legal) também para isso, pois que tal seja denunciado. Ou o limite das horas extraordinárias em vigor é baixo demais e, então, aumente-se ou, se é o aconselhável, então contratem mais pessoas. E se for necessário ajustar a lei do trabalho temporário para acomodar algumas situações pois que se ajuste, com pragmatismo e bom senso.

A nível dos senhorios, tem que ser a AT a cruzar informação, vendo se os sócios das empresas registadas como senhorias são os proprietários. Nesse caso, deve ser interditado o registo. Devem registar-se directamente como contribuintes individuais e não como empresas.

Não será fácil cruzar a informação...? Talvez não seja. Mas havendo uma lei a proibir esta pouca vergonha, que se audite por amostragem e se caia em cima dos infractores a pés juntos.

Mas a Inteligência Artificial trata disto na maior. A AT que arranje algoritmos que façam o varrimento dos sócios das empresas, que valide o que é contabilizado nessas 'empresas. Não é difícil. A mim fervilham-me os dedos para os conceber. 

Se houver alguém que queira, mas queira mesmo, enfrentar esta maltosa que se habituou a fugir aos impostos, acomodando-se dentro de uma legislação que acolhe carinhosamente os relapsos e os chico-espertos, em três tempos opera uma verdadeira transformação no País.

Agora há uma coisa, e aqui entra o lado moral da coisa: quantos ministros, secretários de estado e deputados não detêm empresas destas? Quem, detendo o poder e estando instalado em cima deste pântano, se dispõe a pisar uma estrada aberta, limpa, com boa visibilidade? 

Mais: não é a Spinumviva uma empresa que, de certa forma, também se encosta a estes esquemas? Pergunto.

Tenho para mim muito claro -- e quanto mais me informo sobre outras realidades mais me convenço que é o caminho -- que, para o País evoluir, para se desenvolver, para atrair e reter capital humano capaz de fazer progredir o País a ritmo decente, há duas medidas que deveriam ser tomadas pelo Governo e levadas muito a sério:

- Baixar drasticamente os impostos sobre rendimentos, sejam eles de que natureza forem. Não é baixar meio ponto percentual, isso é apenas caricato. É baixar a sério. Por exemplo, no caso do IRS, reduzir os escalões a metade e reduzir fortemente as taxas. Não estou bem ao corrente de qual a última ideia da IL mas, no capítulo dos poucos escalões e das baixas taxas, devo aproximar-me deles. Por exemplo, no caso dos senhorios em que a fuga aos impostos é generalizada, reduzir a metade as taxas.

- E, ao mesmo tempo, impedir e punir fortemente a fuga ao fisco. E, quando digo fortemente, digo mesmo fortemente, à bruta. Antes de alguém ter uma ideia esperta para fugir ao fisco, deverá pensar muito bem pois os riscos devem ser tantos que deverá concluir que não valerá a pena.

Não pagar impostos tem que deixar de fazer parte da cultura portuguesa. Optimização fiscal tem que passar à história pois o sistema fiscal deveria ser tão fácil e os valores a pagar tão razoáveis, tão aceitáveis, que deveria ser ridículo e socialmente condenável fugir às obrigações. 

terça-feira, maio 20, 2025

Reflexões na ressaca

 

Isto não está fácil, confesso. Não me apetece escrever. No domingo à noite deitei-me tarde, atordoada. Os resultados das eleições viraram-me do avesso. Eram seis da manhã e ainda não dormia. Já o dia clareava e eu sem sono. Depois acordei às oito e picos e parecia-me que já não tinha sono. Forcei-me a dormir mais um pouco. Mas pouco mais. Íamos ao ginásio e depois ainda tínhamos várias coisas a fazer. Ou seja, mal dormi.

Por isso, de tarde, lá para as cinco, deitei-me ao sol, na espreguiçadeira, e adormeci. Não muito pois as nuvens passavam a vida a cobrir o sol e ficava frio. 

Há pouco, estávamos a ouvir o Paixão Martins, adormeci de novo. Micro-adormecimentos mas o suficiente para não ter conseguido acompanhar com seguimento.

Ainda não recuperei do entorpecimento, do estupor catatónico em que, interiorente, fiquei.

Do que me chega, há pessoas bem na vida, instaladas, umas que ainda guardam ressentimentos do 25 de Abril e que votam no Chega pois acham que o Ventura vai ajustar contas com esse passado. Outras, quadros em boas empresas, querem simplesmente rebentar com 'isto tudo'. Se calhar, pessoas mal sucedidas na sua vida pessoal (mas isto já sou eu a dizer). Quando pergunto a quem conhece essas pessoas o que é que, na verdade, elas acham que o Ventura pode fazer por elas, a resposta é que isso não é questão que se ponha. Não pensam tão longe, limitam-se a querer rebentar com as coisas. O que vem a seguir é tema que não lhes ocupa o pensamento. Outro caso, nos antípodas, um conhecido que não estudou muito, que começou a trabalhar, trabalho pouco qualificado, faz uns 'ganchos' ao fim de semana para compor o ordenado. Vota no Chega porque diz que os 'outros' não fazem nada por ele, acredita que o Ventura é capaz de fazer. Pergunto: mas fazer o quê, em concreto? A resposta é a mesma: o pensamento dele não vai até esse ponto.

No outro dia, vi na televisão uma dessas que vive certamente numa realidade pobre, suburbana, mas que deve sentir que vive numa realidade alternativa ao viver permanentemente nas redes sociais. Percebe-se que, certamente, tem como ídolos algumas conhecidas influencers. Usava várias vezes a expressão: 'quero tudo a que tenho direito'. Ao ver as influencers andarem pelos hotéis, pelos ginásios, institutos de beleza e restaurantes, sonha, certamente, atingir esse patamar. Pela conversa, acredito que vote Chega. Deve ser daquelas que acha que o Ventura diz tudo o que tem a dizer, não tem medo de nada, tentam calá-lo mas ele não se fica. Ou seja, veem-no como um líder que merece ser seguido. Claro que se lhe perguntarem o que é que o Ventura pode fazer por ela, não saberá dizer. Isso já é uma segunda derivada e o raciocínio não vai tão longe. Se lhe perguntarem também em que é que os 'poderosos e corruptos' de que o Ventura tanto fala a prejudicam, claro que também não saberá o que dizer. 

O Ventura navega nestas águas turvas da ignorância, do ressabiamento, da ilusão. Em bom rigor, de concreto ele não promete nada. Aliás, de concreto, ele não diz nada. Limita-se a apresentar-se como um líder, o que está aqui para salvar os descontentes, o enviado de Deus, o que vai vingar os que se sentem prejudicados. As pessoas acreditam nele sem precisarem de provas, tal como acreditam em Deus sem precisarem de provas ou tal como, antes, acreditavam no PCP sem cuidarem de saber em que país é que aquele modelo comunista funcionava. As pessoas que votam no Chega, em larga maioria, fazem-no por uma questão de crendice, de fezada.

Numa reportagem de há pouco tempo, um pastor evangélico, no Seixal, um que aluga quartos num armazém sem condições, dizia que recomendava o voto no Chega. Os iguais reconhecem-se.

Porque é que nestes subúrbios há tantas igrejas maná, evangélicas, do sétimo dia e coisas assim? O que é que aqueles pastores fazem pelas pessoas? Nada. Ficam-lhes com o dinheiro e prometem coisas, umas divinas, outras estratosféricas. E as pessoas acreditam, gostam.

Não sei como se combate isto. As pessoas com ética, com sentido de responsabilidade, honestas, não recorrem à mentira, às promessas vãs, não se prestam ao papel de fazerem vídeos estúpidos, manipulados ou falsos, apelando à vingança ou  difundindo mensagens xenófobas ou racistas, nem usam a ignorância das pessoas para explorarem as suas emoções, os seus medos, os seus anseios. Ou seja, as pessoas decentes não são capazes de usar as mesmas 'armas' que os populistas. No fundo, o terreno está livre para que os do Chega, os das igrejas alternativas ou outros movimentos do género, possam ocupá-lo e aproveitar a crendice, a ingenuidade ou os ressabiamentos de quem ali se sente entre iguais.

Como se explica a uns e a outros, ao milhão e trezentos mil que votaram no Chega, que o que está a ser feito no País é isto e aquilo, que há contas e orçamentos, que, no caso dos que ganham menos, não pagam impostos e podem usufruir de tudo (hospitais, escolas, policiamento nas ruas, etc.) sem pagarem nada. ou que há um défice demográfico no País e os imigrantes são necessários, úteis e deveriam ser recebidos de braços abertos? 

Como falar com pessoas que não querem ouvir coisas 'complicadas', cujo tempo de atenção se esgota com uma frase de cinco palavras, que não querem saber da ética dos líderes que adoram? Que apenas querem imaginar um eldorado em que elas serão tratadas como princesas com tudo a que têm direito e eles serão machos, viris, ricos, com grandes carrões?

Aqui, em França, na Alemanha, em Itália, nos Estados Unidos... agora ou há cem anos... como se combate o populismo? 

Acresce a isso, a circunstância presente, ubíqua, desregulada: como se combate o efeito nefasto das redes sociais?

Não sei.

Ou será que nem vale a pena matar a cabeça a tentar matar a charada? Será que é esquecer esta franja que sempre votará irracionalmente? Ou não? Será que deve é haver um pacto entre a comunicação social para não dar cobertura aos populistas? Ou quem está no Governo deve, simplesmente, focar-se em resolver problemas concretos e divulgar eficazmente a sua resolução? Ou não é bem isso e o melhor mesmo é ser-se capaz de criar uma utopia -- mas uma utopia realizável -- e deixar que as pessoas que precisam de acreditar em miragens tenham algo com que sonhar... e depois concretizar esses sonhos?

Em paralelo, enquanto se pega pelos cornos (ou de cernelha) o populismo, tentando impedir que cheguem mesmo ao topo, há que construir uma alternativa. Vi na TVI uma caracterização do eleitorado do Livre e da Iniciativa Liberal: um alinhamento entre escalões etários (gente mais jovem do que nos outros partidos) e formação académica (largamente com formação superior). Reforçou a minha convicção de que o futuro passa por aqui. Tivesse eu menos uns quantos anos e era bem capaz de fazer de tudo para explorar as convergências entre eles e tentar arranjar uma plataforma que fosse o motor de um movimento progressista, dinâmico, arejado, que atraísse mais gente, que gerasse iniciativas agregadoras, que avançasse com propostas de melhoria nos diversos sectores da sociedade, que mobilizasse mais gente para participar na construção de novas propostas de acção.

Enfim. Ando para aqui às voltas, preocupada com o mundo cada vez mais estúpido, disfuncional e distópico em que vivemos.

Vou ver se durmo melhor esta noite. E vou ver se, durante o dia, me entretenho mais a olhar e a fotografar as florzinhas que estão por todo o lado. Estão viçosas, lindas, os campos estão cobertos, felizes da vida como se a os temas da política lhes passassem totalmente ao lado.

segunda-feira, maio 19, 2025

Muita apreensão, muita tristeza

 

Na altura das eleições internas do PS, não me pareceu que Pedro Nuno Santos fosse a melhor opção para o PS. As pessoas de que se rodeou não me pareceram uma opção inteligente. A campanha que fez também não me pareceu inteligente. Ponderei não votar PS. Ponderei votar em branco. Mas, perante as perspectivas, achei que não deveria juntar o meu voto a quem baixa os braços e deixa, indiferentemente, que a direita e o populismo acéfalo progridam. Portanto, com pouca convicção mas por um sentimento de dever democrático, votei no PS.

Mas este PS notoriamente não dá resposta aos anseios de uma parte significativa da população. Aquelas pessoas descontentes, umas com razão e outras apenas porque gostam de ser do contra, muitas mal informadas que aceitam ser iludidas, muitas pessoas que gostavam de ser como os seus ídolos do Tik Tok e do Insta, os que votavam contra e que davam o seu voto ao PCP (ou, mais tarde ao Bloco), essas maioritariamente agora votam Chega. Se juntarmos os que votam AD, temos que o PS já é marginal face ao total AD+Chega.

É, portanto, mais do que óbvio que tem que haver uma revolução dentro do PS. E uma revolução não se faz a pensar da mesma maneira com que se tem pensado até aqui. Há que arejar a cabeça, deixar entrar novas ideias.

Por muito absurdo que possa parecer, o que venho defendendo no meu inner circle é que vejo como necessário um partido que saiba apontar a uma política aberta, com visão estratégica, em que haja justiça social, igualdade de oportunidades, mas tudo sem dogmas, uma fusão inteligente entre o que norteia o Livre e o que norteia a Iniciativa Liberal. Liberdade económica, sim, mas balizada por liberdade inclusiva, moderna, desempoeirada, sem preconceitos, respeitando a matriz democrática da justiça social. Tem que haver quem tenha visão, pulso, determinação... e ir adiante, trilhando esse novo caminho.

Não sei o que vai dar isto que hoje está a passar-se. Só ver a sala vazia do Altis me dá ânsias. Para onde foi toda a gente que antes enchia aquela sala? Fugiram? Tudo gente cobarde? De facto, com gente assim não se consegue modernizar o regime.

Já volto.

sábado, março 08, 2025

Se eu fosse eu

 

Há um texto muito conhecido de Clarice Lispector que explora essa possibilidade. Reza assim:

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir. 

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

Neste caso paradoxal em que Montenegro, para não se desenredar a ele próprio, enredou todo o País, se eu fosse eu -- e se eu tivesse poderes mágicos para conseguir que se fizesse o que eu queria -- haveria algumas coisas que eu faria de imediato:

1ª - Corria com o Montenegro do PSD. O quanto antes.

O caciquismo laranja no seu pior, vestígios daquele cavaquismo que, em seu tempo, alastrou por todo o País, o amiguismo feito de esquemas, e aquele espírito videirinho em que se fala por meias palavras ou, de preferência, nem se fala para que possa sempre dizer-se que não foi isso que disse, em que uma mão lava a outra, em que há sempre quem contrate alguém para que um dia que seja necessário e etc. -- tudo isso vejo em Montenegro. Das pessoas mais incompetentes que conheci até hoje, um que era cavaquista, que estava administrador de uma empresa, tendo já passado por outras administrações, sem saber fazer nada de nada de nada (nem se esforçar por isso). Amigo de um amigo. Falava muito do Marques Mendes e do outro de que já nem me lembro o nome, um ministro com bigode que também andou metido em trabalhos. Este artista de que falo tinha uma bela casa, tinha uma outra bela casa, tinha um belo carro, a empresa pagava-lhe motorista, exigência dele, frequentava todos os convívios em que os amigos dos amigos estavam, gostava de ostentar o seu poder. Mas, fazia género, dá ideia que se considerava mesmo um bom trabalhador. 

Um fulano como Montenegro está a ser muito mau para o País mas também para o PSD. Não sei se, neste momento, há alguém de jeito no PSD para suceder a Montenegro mas, mondando bem, talvez descubram alguém que seja um bocadinho melhor que ele.

2ª - Arranjava maneira de seguir uma sugestão que Leitor bem pensante aqui teve a amabilidade de deixar: avançava com José Luís Carneiro como candidato a Primeiro-Ministro

Pedro Nuno Santos é um bom rapaz, é boa pessoa, é bem intencionado, é voluntarista, parece genuinamente honesto -- mas, em minha opinião, falta-lhe uma qualquer quelque chose. Parece que ainda não está sólido, parece que lhe falta pulso, punch, mão firme. 

Contudo, que não se faça confusão: entre Montenegro e Pedro Nuno Santos, claro que Pedro Nuno Santos. Estão em planos diferentes. O plano de Montenegro é o dos chicos-espertos, que usam a política para engrossar (ou, pelo menos, manter) a sua carteira de clientes. O plano de Pedro Nuno Santos é um plano em que há ainda utopia, desejo de uma vida ao serviço do País, há alguma nobreza na forma como se entrega de corpo e alma. Mas ainda não está no ponto. 

3ª - Arranjava maneira de ter uma direita decente, liberal, democrática. Havendo uma direita moderna, arejada, talvez esvaziasse a direita civilizada que se bandeou para o Chega

4ª - Tentava ter uma esquerda moderna, inteligente, lúcida, com compreensão para o que são os reais problemas das pessoas, uma esquerda despretensiosa, não ortodoxa, aberta. Talvez se conseguisse esvaziar o que resta do PCP, o que resta do BE, do PAN e do Livre, e criar uma força política nova, com os pés assentes da realidade actual (não no passado, não noutra qualquer geografia). Talvez assim a esquerda ganhasse força e talvez conseguisse cativar os que só encontraram 'amparo' junto do Chega.

Com um panorama político assim, acredito que o País seria outra coisa, seria governável, inteligente e eficazmente governável.

De qualquer forma, mesmo que a reorganização da esquerda e da direita não fossem para já, parece-me que seria saudável para o País que a 1ª e a 2ª medida fossem, desde já, seguidas. A 1ª seria não apenas saudável como higiénica.

Tirando isso, claro que havia ainda outra coisa:

5ª - Também gostava que tivéssemos um Presidente da República em acção e agindo de acordo com a Constituição e com o bom senso, e com uma visão rigorosa e ponderada cobre o País e sobre o Mundo. Mas, no actual contexto, acho que esta já seria talvez pedir de mais.

segunda-feira, junho 10, 2024

Europeias 2024 -- os quês e os porquês
Análise, partido a partido

 

PS - Com uma AD que deu origem ao actual governo -- um governo desgraçado, que tem revelado uma atitude videirinha, pacóvia, ignorante e chico-esperta --, seria expectável e razoável que o PS conseguisse uma distância mínima de 5% em relação à AD. Mas não conseguiu. 

E não venham dizer-me que o PS ainda está a arrumar a casa, a juntar os cacos (como ontem ouvi, na televisão, um débil mental a dizer). Qual desarrumação? Quais cacos? Acaso o PS estava desarrumado? Acaso alguém tinha partido a louça toda? Estão malucos ou quê? O PS estava a governar e bem, tinha a casa arrumada. Poderia estar ainda muito agarrado a velharias, gente ainda muito saudosa dos maravilhosos tempos que se seguiram à queda da ditadura, gente que continua a sonhar sobretudo nos amanhãs que cantam. Mas, tirando o aspecto da renovação que já era (e ainda é) indispensável, era um partido bem dirigido. António Costa era um líder inquestionável.

A razão residirá, isso sim, muito na forma como este PS de Pedro Nuno Santos se posiciona. Continua a querer ressuscitar a geringonça, continua a querer agradar ao eleitorado mais à esquerda, mesmo quando está mais do que claro que esse eleitorado já praticamente não existe. 

Além disso, Pedro Nuno Santos funciona na base do eucalipto: à sua volta, nada. E isso foi bem patente na forma como se apresentou agora a cantar vitória. Em vez de aparecer rodeado pela equipa dos deputados eleitos, não senhor, apareceu ele, ele e ele. E num lado a Marta Temido e no outro o Carlos César. Muito mau. Depois de ter corrido com uma mão cheia de deputados notabilíssimos, nem para com os agora eleitos teve o gesto de os levar para o palco.

Da mesma forma como na política nacional não se sabe rodear de figuras de enorme qualidade como Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina ou Duarte Cordeiro (e outros a quem António Costa soube valorizar). Parece apenas dar ouvidos aos geringônticos Alexandra Leitão (e, de certa fora, Mendonça Mendes).

Ao parecer querer livrar-se de todos os que eram figuras de destaque na governação de António Costa e ao parecer não saber compreender a nova realidade, o PS não sabe ir buscar um eleitorado novo nem sabe recuperar a classe média que se deslocou para a sua direita por não se rever neste PS que, com Pedro Nuno Santos, aparece aos olhos do eleitorado como anquilosado e encostado a uma esquerda moribunda.

Ouvi Pedro Nuno Santos anunciar que vão lançar uns novos Estados Gerais. Espero que daí nasçam novas ideias. Espero que percebam que não é com Carlos César e outras peças de museu ou com Alexandra Leitão e outros saudosos da Geringonça que vão conseguir contrariar a tendência descendente que se vem desenhando. De resto, também não sei se a noite eleitoral era o momento ideal para falar nisto. Sendo estas eleições europeias tão relevantes, Pedro Nuno Santos esqueceu-se disso e só falou de política nacional. Muito curto em termos de visão estratégica. O que ali vi foi sobretudo o PS a olhar para o seu umbigo, parece que incapaz de olhar para o que o rodeia e para o contexto europeu.

Espero que consigam mudar (para melhor) pois o País precisa de um bom partido social-democrata.

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AD - Beneficiam da inércia e da deficiente informação dos eleitores tal como beneficiam do colo que a comunicação social lhes dá. Com Portas e Marques Mendes a fazerem campanha activa em horário nobre, ao domingo, em canal aberto (com a conivência da Comissão das Eleições) e com uma profusão de comentadores a manipularem a opinião política, conseguiram aguentar-se. Com o que têm demonstrado desde que formaram Governo, com um eleitorado bem informado e com um PS mais assertivo e inteligente, a AD teria levado uma banhada. Não levou. Mas é o que temos. De qualquer forma, penso que é uma questão de tempo.

Montenegro, na noite eleitoral, também não se lembrou de que se estava a tratar de eleições europeias. Não deve sequer saber quais os problemas europeus. Tudo o que disse me soa a conversa videirinha, saloia, a falar muito e sem acrescentar nada.

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Chega - Felizmente sofreram um trambolhão. Gostava que lhes acontecesse qualquer coisa como a que aconteceu ao PRD, ou seja, que um dia destes o Chega acabasse. Mas não sei, não. André Ventura não acabará, arranjará maneira de andar por aí pois nitidamente tomou-lhe o gosto, é um populista que não vai ser capaz de parar. André Ventura é inteligente, é ubíquo, é uma máquina, e, como sabe lançar sound bites em permanência, a comunicação social não o larga e isso chama os eleitores. Mas, enfim, assim como assim, os eleitores souberam dar-lhe um chega para lá e isso talvez faça André Ventura refrear a sua energia destrutiva.

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Iniciativa Liberal - Subiram e subiram bem. A democracia liberal é um caminho aberto e o eleitorado jovem e com sangue na guelra  bem como uma classe média informada e exigente que se vê abandonada pelos partidos do dito centrão dar-lhe-ão ímpeto para subir ainda mais. A nível europeu, o espaço da democracia liberal será, creio que cada vez mais, o oxigénio de que a democracia precisa para impor, com alguma modernidade e juventude, os seus valores, fazendo uma barreira contra o populismo e contra a direita reaccionária que tanto nos ameaça.

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Bloco de Esquerda - Caiu e caiu bem. O Bloco é um partido que por vezes está bem mas, na maioria das vezes, está mal, sendo frequentemente populista, agarrando-se a causas marginais, assumindo atitudes justicialistas e arvorando-se em dono da verdade.

Na intervenção que tiveram a propósito dos resultados eleitorais, considero patética a sua  alucinação a cantar vitória, a rirem, às palmas, todas contentes como se não tivessem percebido que a sua representação se viu reduzida a metade. De loucos.

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CDU -- Caiu e caiu bem. Continuam agarrados a ortodoxias de antanho, defendem já não se sabe bem o quê, não percebem que já não representam quase ninguém, ignoram tudo o que de novo e relevante se passa à sua volta. A intervenção de João Oliveira e do Raimundo é alienação em estado puro. Marimbaram-se para a política europeia (realidade que, a bem da verdade se diga, lhes passa ao lado), marimbaram-se para os temas mais relevantes da actualidade e sorrindo de gosto, eufóricos, cantaram vitória e reincidiram na única e estafada lenga-lenga que conhecem. Já vão em 4% dos votos, só conseguiram um deputado, e ali estiveram, contentes como se tivessem ganho as eleições. Não sei se isto deve ser visto como uma perturbação do foro psicológico ou cognitivo mas alguma é.

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Livre -- Tenho pena que não Francisco Paupério não tenha sido eleito. O Livre é uma esquerda moderna, ambientalista, humanista, informada. Como tenho vindo a dizer, acho importante que haja uma esquerda inteligente, informada, aberta aos novos temas. Gostava que, em Portugal, o Livre crescesse pois a democracia precisa de partidos assim. E a Europa precisa também de vozes jovens, civilizadas, democráticas, abertas ao futuro.

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Abaixo, as Primeiras impressões

Europeias 2024 -- primeiras impressões

 

A nível nacional:

Continuo triste e apreensiva com as elevadas taxas de abstenção. Não me interessa que seja menos 1 ou 2% ou por aí face às últimas. Mais de 60% das pessoas não se darem ao trabalho de votar.

Continuo triste a apreensiva com a capacidade de análise e com a inércia na reacção dos votantes, ao verificar que, sendo patente a inequívoca falta de qualidade, a todos os níveis, da AD e a estupidez que foi pegarem num comentador arrogante e agressivo (o facto de ter 28 anos até é pormenor) para cabeça de lista, ainda há tanta gente a votar neles.

E, para já, neste momento, só isso é certo.

Face à votação em mobilidade, como o Pedro Magalhães explicou, as sondagens à boca das urnas que serviam para a abertura das notícias este ano não estão calibradas. Portanto, não se consegue garantir a sua fiabilidade dentro dos intervalos que, noutras condições, era seguros.

Portanto, com as devidas reservas:

  • A ser verdade que o PS não descola, fico apreensiva por os Socialistas ainda não terem percebido que os tempos são outros. Se já nem os anteriores votantes no BE e na CDU votam neles, a que propósito o PS continua enleado na doutrina gerincôntica? 
Além disso, verifica-se que a nível de votantes, a faixa maioritária é a das pessoas com mais de 55 anos. Ora isto não é bom. Se um partido não sabe perceber e responder aos anseios dos mais novos e dos intermédios, acaba como o PCP... (ie, à medida que os mais velhos forem desaparecendo, o partindo tende para a extinção. Claro que ainda está longe disso mas os sinais já aí estão)
  • Não me espanto com o que se anuncia como a subida da Iniciativa Liberal. A ver vamos.
  • Ficarei bastante contente se se verificar que o balão do Chega desinflou. Mas vou esperar pelos resultados.´
  • Não fico admirada ao verificar que a esquerda-esquerda continua a caminho da extinção. O PCP e o BE bem podem reflectir. 
  • Gostava que o Paupério fosse eleito. Nos tempos que correm, o Livre é a esquerda inteligente e era bom que continuasse a subir e a ser reconhecida.
A nível europeu:
  • Estou deveras apreensiva com o que aconteceu em França. Muito.
  • Aparentemente, é uma tendência geral na Europa, embora talvez não tão acentuada como em França. O que sempre temo, que a democracia "por delicadeza se deixe matar", pode acontecer se não formos capazes de pensar com uma cabeça nova, uma mente aberta.

NOTA: Interessante a análise que o Sérgio Sousa Pinto tem vindo a fazer na CNN.

quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.

sábado, dezembro 09, 2023

A direita em Portugal
-- A palavra ao meu marido --

 

A perspetiva de poderem ser governo no curto prazo fez a direita perder as poucas estribeiras que tinha e revelar a  incapacidade que os seus quadros têm para ser governo e a enorme concupiscência que existe entre  a economia e os dirigentes da direita  portuguesa. Partilho da opinião do António Costa de que os quadros do PS dão dez a zero aos quadros da direita. Vejamos:

  • Relativamente à IL e ao seu inqualificável presidente pouco tenho a dizer. Ainda não lhe ouvi uma única ideia, revela a mais profunda impreparação para ocupar qualquer cargo politico, nem perfil tem para ser eleito para uma Junta de Freguesia. Não consigo compreender como pode ter sido eleito para dirigir a IL. É, provavelmente, revelador da falta de maturidade dos jovens militantes da IL (parece que os estudos de opinião revelam que  a juventude agora é de direita) e da falta de qualidade da oposição interna. 

  • O André Ventura é levado ao colo pela comunicação social e por isso bota sempre faladura sobre todo e qualquer acontecimento, não acrescenta nada mas como está sempre presente angaria votos com enorme colaboração dos media. Na realidade nunca diz nada de jeito, só sabe dizer mal e alimenta-se das enormidades cometidas pela Justiça, pelo PR  e por alguns políticos. Não consegue suportar os sound bites em factos. Vi uns minuto da entrevista que deu à CNN, não atinava com os números, nem dava respostas minimamente honestas. É suportado pela direita mais reacionária e xenófoba e, aproveita-se das piores características dos portugueses para ganhar votos. É um perigo para a nossa democracia.  
  • O Montenegro, que estava a um passo de ser corrido, foi "insuflado" pelo comunicado da PGR. Não lhe valeu de nada. Logo no congresso do PSD tentou enganar os pensionistas e saiu-lhe o tiro pela culatra. Teve que andar meio PSD a explicar que o que ele disse não era o que queria dizer. Muito mau. Esta semana revelou a sua "enorme" capacidade de decisão e o seu "distanciamento" do poder económico ao criar uma comissão interna para criticar o estudo da CTI sobre o novo aeroporto. A comissão criada pelo Luís terá tido a ver com o loby de Santarém ou com a proximidade ao José Luís Arnaut (presidente da Vinci) ou com a incapacidade que tem para honrar os compromissos (tinha aceite a CTI) ou com não conseguir tomar decisões?

A Presidente da CTI disse hoje em duas entrevistas que a localização do novo aeroporto está condicionada pela decisão da Vinci. O contrato celebrado no tempo do Passos Coelho é de tal forma desequilibrado, que uma decisão de capital importância para o País está nas mãos de uma empresa estrangeira que está cá apenas para tirar o maior lucro possível da operação e que conseguiu colocar o Aeroporto de Lisboa como o 4º pior Aeroporto num estudo que foi recentemente efetuado. Será que é porque quer dar continuidade  ao que foi feito pelo Passos Coelho, contratos desastrosos para os portugueses, que o Luís se apressou  a  dizer que a localização do novo Aeroporto é uma decisão politica e que se está nas tintas para o relatório da CTI? É mau demais para ser verdade. Os portugueses saberão analisar estes casos.

  • Depois temos o Prof. Aníbal. Então agora a "cena" das contas certas é uma treta? O Prof. Aníbal já tinha ao longo do tempo dado provas de uma enorme falta de ética e de esquecimento seletivo. Por exemplo, esqueceu-se do BPN, do Dias Loureiro, ..... . Estes três flic flacs à retaguarda sobre as contas certas dizem bem da verdadeira natureza do Prof. Aníbal. Como é possível? Nem  a idade lhe deu um certo pudor? Que falta de categoria!
  • Para finalizar, temos o Prof. Marcelo. Sobre ele já escrevi várias vezes. Já referi que é um dos principais causadores da instabilidade em Portugal e dos problemas que enfrentamos e que vai sair mal do cargo. A questão das gémeas atingiu aspetos éticos e morais que revelam a verdadeira personagem do Prof. Marcelo. Deve mais uma vez ser recordada a entrevista do insuspeito Paulo Portas ao Herman José,  sobre  a história da vichyssoise em que o Paulo Portas afirmou que o Marcelo é mentiroso. Então Prof. Marcelo depois do que disse sobre o João Galamba, ao menos não demite ninguém da Casa Civil? Dá seguimento às cunhas do Dr. Nuno e critica outros empenhos? 
Segundo a TVI, uma das referências do CV do Dr. Nuno é ser filho do PR. O Prof. Marcelo ainda não teve tempo para telefonar ao Dr. Nuno e perguntar-lhe sobre o que tem andado a fazer e pedir-lhe que retire do CV a menção de que é filho de PR? 
 
E o que dizer das ameaças feitas com idas a tribunal de quem mencionasse o seu nome neste caso? 
 
É absolutamente chocante este comportamento de quem sempre se tentou afirmar como o Presidente dos afetos e protetor dos menos afortunados e nunca criticou as infâmias que apareceram nos órgãos de comunicação social sobre políticos de diversos quadrantes. 
 
Não sei se Portugal aguentaria uma crise na Presidência. Mas que, depois disto e do exemplo dado pelo António Costa, o Prof. Marcelo não tem condições para se manter na Presidência, de facto não tem. 
 
Resta referir que o Prof. Marcelo acabou de fazer mais um favor ao André Ventura. 

Espero que o povo português demonstre a maturidade que sempre demonstrou e vote à esquerda. Segundo os estudos de opinião, os mais jovens têm tendência para votar à direita talvez porque nunca tiveram as dificuldades que as gerações anteriores tiveram e porque cada vez a sociedade é mais egoísta e menos solidária. Estou certo que, se o PSD precisar do André Ventura para ser governo, não vai hesitar. Será que querem a extrema direita no Governo? Eu não quero!

terça-feira, junho 13, 2023

O balão do populismo em Portugal está a encher a olhos vistos, insuflado pela Comunicação Social
(... e também pelo Presidente Marcelo?)

 

O populismo, quando começa a infectar a sociedade, é como a gangrena a avançar por um organismo.

Acontece que, em Portugal, em vez de se tentar erradicar o populismo, não apenas a comunicação social anda com os populistas ao colo, promovendo-os em permanência, como alguns dos outros partidos pensam que, para não irem pelo ralo, têm que ombrear em populismo com os populistas.

  • Assim, se o Ventura vai à Feira do Livro, sem motivo legítimo que se divise, a comunicação social vai atrás e é vê-lo, a fingir que é uma pessoa decente, a dar palpites, a fazer exigências, a ser demagogo e, no fundo, a mostrar-se como o troca-tintas que é, falando para as câmaras e para os microfones.
  • A Iniciativa Liberal também resolveu que deveria guinar para o lado populista da política ao pôr de lado o Cotrim e ao escolher este que por aí anda a fazer barulho sem dizer uma que se aproveite. Mas as televisões e as rádios andam atrás dele e ele, tal como o Ventura, tem uma capacidade infinita para ser troca-tintas, demagogo e vendedor de banha da cobra.
  • Montenegro, neste campeonato em que vale tudo, não sendo capaz de se afirmar como um líder decente e confiável, emula os outros dois e lança atoardas para o ar, não apresentando uma ideia, uma única, a que os portugueses reconheçam valor.
  • Falta aqui o Bloco de Esquerda que, no meio da mudança de liderança, tem andado mais apagado. Senão seria a quarta força a poluir a democracia com atoardas e a atirar-nos areia para os olhos. Aliás, veja-se a miserável actuação de Pedro Filipe Soares na CPI, portando-se como uma espécie de agente pidesco.

A nuvem de poluição que esta gente lança sobre a vida política é uma vergonha. Mas, mais do que isso, é um perigo. E é um perigo que tem sido alimentado pela Comunicação Social.

Nenhum dos referidos partidos contribui com uma única ideia construtiva para o País e a comunicação social limita-se a dar-lhes palco e a ajudá-los na sua promoção, papagueando o que eles dizem, esquecidos da sua função de isenção, de exercício de contraditório ou de verificação da veracidade do que dizem. 

No conjunto, limitam-se a portar-se como vulgares arruaceiros. E, daqui, pode vir um verdadeiro perigo para a democracia.

E, perante esta situação, lamento que Marcelo Rebelo de Sousa continue a andar pelas ruas a falar e comentar tudo e mais alguma coisa, a lançar confusão e a alimentar a praga de comentadeiros que polui em permanência o espaço de comunicação, e não faça nenhuma tentativa para esvaziar este balão populista que está a crescer a olhos vistos. 

Os reais valores da democracia têm que ser enaltecidos, respeitados, ensinados -- e o Presidente da República deveria ter um papel relevante nessa pedagogia.


PS: O Valupi recomenda que se comece a semana a recordar Paulo Portas sobre Marcelo Rebelo de Sousa e a vichyssoise e, se calhar, não é mal lembrado.


sexta-feira, abril 28, 2023

Sobre o vídeo com Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e outros: nada.
Prefiro os trabalhos de Gerhard Haderer

 

Mais uma vez tivemos um caso a preencher o dia. Todos os dias as televisões têm que ter casos para terem pretexto para nos enxamear os ecrãs com comentadores e toda uma chusma de opinadores que tanto opinam sobre finanças como sobre companhias de aviação como assuntos jurídicos ou sobre o preço das batatas. 

E, quando não há casos, a comunicação social cria-os. A seguir, cinicamente, vêm sugerir a dissolução da Assembleia por causa da sucessão de casos e casinhos. Claro que, a bem verdade, há que dizer que, a seguir, vem Marcelo também alimentar o tema 'dissolução'. Um círculo vicioso.

A divulgação do vídeo feito na Assembleia da República quando Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e outras pessoas conversavam, entre eles, informalmente, é de uma imperdoável canalhice. 

Recuso-me a comentar uma conversa breve e inócua entre pessoas que se conhecem há muito tempo e acho uma coisa de vizinhas, de gente desocupada, tudo o que se diga em torno do que eles conversavam entre eles.

E concordo que se apurem as responsabilidades para se descobrir quem fez a pulhice de divulgar uma conversa cuja gravação e divulgada não foi autorizada.

Quanto às reacções do Chega e do IL são o que são, são aquilo a que nos vêm habituando, populismos exacerbados, palhaçadas, cegadas que poluem o espaço público, que visam minar a credibilidade da democracia. 

O que penso sobre isso já aqui o tenho vindo a dizer: não digo que se lhes corte o pio senão vão vitimizar-se. Digo apenas que, em minha opinião, pela vacuidade e pelo desrespeito que mostram pelas instituições democráticas, o pio deles merece desprezo e não palco.

A bem de uma respiração saudável no espaço público, os círculos viciosos têm que ser travados.

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O que me parece digno de realce são os trabalhos do caricaturista e cartoonista austríaco Gerhard Haderer. O mundo actual passa todo por aqui e melhor faríamos todos se parássemos para pensar um bocadinho no que andamos para aqui a fazer.











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Desejo-vos uma bela sexta-feira

Saúde. Cabeça fria. Olhos abertos. Paz.

segunda-feira, outubro 07, 2019

Segundas impressões sobre as Legislativas 2019:
sobre a Iniciativa Liberal e sobre o Bloco de Esquerda.
E sobre o mapa do País que está quase todo pintado de cor-de-rosa.


Depois de, no post abaixo, já ter falado da Cristas, do Jerónimo, do PAN e da possibilidade da Joacine no Parlamento, falo agora do aspecto mais relevante: o país está quase integralmente pintado com as cores socialistas.

Os resultados não são definitivos mas, neste momento, está assim:


E sobre os resultados obtidos pelos partidos, continuo:

5 - A Iniciativa Liberal conseguiu um deputado. Não sei nada deles a não ser que o presidente, o Carlos Guimarães Pinto, tem pinta de maluco e que propõem 15% de IRS para toda a gente o que, apesar de ser uma tontice, a mim agradar-me-ia bastante. Mas como o pouco que sei não augura nada de bom, deixa lá ver o que por aí vem. Contudo tenho esperança que, mesmo que seja maluqueira da grossa, um deputado não faça grande estrago.

6 - Com tanto populismo, tanto teatro, tanto golpe baixo e tanto funfum e gaitinha, o Bloco de Esquerda não ganhou nem peso relativo, nem absoluto. Fica com o mesmo número de deputados. Ou seja, depois de tanto filme, não convenceram mais ninguém do que há quatro anos. Pelo contrário, perderam até bastantes votos. Talvez isto as faça ganhar juízo. E espero que Louçã aprenda a dosear o gostinho por se exibir como o cardeal-manipulador da esquerda: é que só desajuda.

7 - Quanto ao Rio e às suas hostículas laranjas, já falo. Está a arranjar desculpas, a atirar-se à SIC e tem o grande Joaquim Sarmento na rectaguarda. Depois de o ouvir já digo qualquer coisa.