Não segui com demasiada atenção a Convenção da AD mas constatei que foram buscar ao baú um conjunto de personagens mais ou menos gastas de anteriores "aventuras" do PAF no Governo. Lá esteve o sempre presente Paulo Portas que aproveita o espaço semanal na TVI para se autopromover e elogiar a AD, a Teresa Morais, o Aguiar Branco, o Nuno Melo, .... . Lançaram cartas a cheirar a bafio de tanto tempo que estiveram guardadas no armário. Então em oito anos não conseguiram arranjar ninguém menos gasto e mais jovem que se tenha conseguido impor? Diz bem do acerto das políticas e das propostas da direita.
Noticiaram um almoço de notáveis do PSD no qual, "pasme-se", esteve o Carlos Alexandre. Então o Juiz almoçou com uma série de malta que está ser investigada pelo MP? O Montenegro por causa da "casinha", o Passos Coelho por causa da campanha eleitoral, o Rui Rio não sei bem porquê (e se lá estiveram o Presidente e o Vice-Presidente da Câmara de Cascais também contam para esta lista). Então já nem as aparências é preciso salvar?
Ontem no programa do Ricardo Araújo Pereira ouvi as mentiras do Ventura e as confrangedoras declarações do Maló de Abreu, que de fato são trágicas porque se trata de um anterior vice Presidente do PSD e de um deputado.
O Ventura fala de 20 mil milhões de corrrupção e refere, até na mesma declaração, os valores de 20, 80 ou 90 mil milhões para a economia paralela. As proposta e os números do Ventura não têm ponta por onde se pegue, ou são mentiras ou são impossíveis. Mas há um ponto em que sugiro que os potenciais eleitores do Chega meditem. Se bem os conheço, os potenciais eleitores do Chega são maltinha que foge aos impostos sempre que pode e utilizam todas as artimanhas para não os pagar. Senhores empresários, senhores canalizadores, senhores carpinteiros, senhores jardineiros, senhores eletricistas, senhores comerciantes, senhores que exercem profissões liberais... como acreditam que o Ventura não mente, não se esqueçam que, para recuperar a enorme maquia que, segundo ele, resulta dos impostos não cobrados, ele vai querer que passem fatura sempre que prestam algum serviço ou vendem algum bem. Se o Chega mandar alguma coisa e cumprir o que diz estão mais do que lixados! Eu por mim acharia bem.
De vez em quando constata-se o mesmo: há gente no Ministério Público que parece ter ódio a alguns políticos. Mas poderiam ser 'bem resolvidos', sentirem ódio mas saberem-no gerir, pelo menos conseguirem guardar isso para si. Mas não. São histriónicos e destravados na manifestação dos seus sentimentos. Perseguem aqueles que parecem odiar, desconfiam de tudo, cercam-nos, lançam uma teia de suspeição sobre eles.
Com isso, enlameiam a sua reputação, permitem (ou proporcionam?) fugas de informação para a comunicação social, demoram séculos deixando os suspeitos ou arguidos num limbo, a vida em suspenso, geralmente sem conseguirem exercer actividade profissional e gastando fortunas com a sua defesa.
No fim, quando o processo de desenvolve, chega-se ao fim e acontece isto: os pobres coitados que viram a sua vida interrompida e quase destruída, são declarados inocentes em toda a linha. Não há ponta por onde se pegue. Absolvidos em relação a tudo.
Mas não são apenas os paranóicos e doentes que trabalham no Ministério Público: é também o Super-Judge Alex (de quem agora o Juíz Ivo Rosa apresentou queixa no Conselho Superior da Magistratura). Sempre que lhe cheira a 'poderoso', o castigador Alex parece que saliva. Cheira-lhe a sangue e ele, ao que parece, gosta de sangue. Não quer saber de fragilidades do processo ou de exiguidade ou nulidade de provas. Aparentemente, ele quer é sangue. Destruir 'poderosos' ou 'políticos', em especial se forem socialistas ou afins.
Mas são também os jornalistas e comentadores que, durante dias a fio, semanas a fio, meses a fio, massacram os inocentes, fazem de tudo para os destruir. São notícias, são debates, são artigos, são reportagens: fazem de tudo, até ao limite, para esmagar aqueles que caíram em desgraça. Não têm sentido crítico, não presumem a inocência, nada. Querem é destruir na praça pública aqueles a quem o Ministério Público decidiu desgraçar.
Toda essa escumalha -- que é tão lesta a tentar destruir a honorabilidade das pessoas, apressando-se a sentenciar e a culpabilizar os que mais tarde virão a ser declarados inocentes --, quando se comprova o verdadeiro crime de difamação que andaram a cometer, assobiam para o lado e, como se não fosse nada com eles, tudo fazem para passar de fininho junto da opinião pública.
Em vez de fazerem programas e de escreverem artigos para se auto incriminarem e para tentarem perceber como puderam ser tão estúpidos, tão mesquinhos, tão injustos, tão desumanos... não senhor, passam a notícia na maior ligeireza e... está feito.
Não apenas deveriam pedir públicas desculpas àqueles a quem tudo fizeram para destruir como deveriam pedi-las também a todo o público a quem tentaram manipular e incitar ao apedrejamento.
A notícia da total inocência de Azeredo Lopes é de elementar justiça e creio que será uma vida nova para ele. Mas é mais uma página negra na Justiça portuguesa, é uma vergonha muito grande para a nossa democracia.
E todos quantos aceitam isto com indiferença estão, na prática, a permitir a banalização do mal.
Nesta fase da minha vida em que tudo muda, é como se estivesse a começar de novo. Ou seja, estou como peixe na água. Gosto de recomeços. Quando estou nesta, pouco ou nada me prende ao que era. Pelo contrário, quanto mais depressa despir toda a pele que ainda me prende à minha vida anterior melhor.
Hoje ao fim do dia, tive que ir a um sítio para escolher uma coisa. Mas, mal lá chegada, quando me preparava para ir tratar do que lá me tinha levado, uma pessoa chamou-me para me mostrar uma coisa. Fui. Pensava que era coisa rápida. Afinal foi demorado. Ia mostrar-me umas coisas simples. Afinal, de uma coisa, veio outra e, de outra, veio outra. Sempre mais coisas para me serem mostradas. E, às tantas, chegámos a uma sala e ali havia muita coisa para ver. E, estava eu a ver uma estante, diz-me: não está ver o que é esta estante? E eu: não. Então, a estante rodou e descobriu-se uma porta. Fui atrás. Máquinas. Não percebi que máquinas eram aquelas. De outro lado, caixas, arcas, coisas indistintas. Então, quando pensava que não havia nada mais a ver, dizem-me: e aqui atrás há isto. Espreitei.
Não queria acreditar: uma sala cheia de estantes e livros, livros, revistas. Explicou-me: uma biblioteca privada. Mas privada em todos os sentidos da palavra. Secreta, oculta, quase como se não existisse. Olhei em volta, perplexa. Estantes a toda a volta e, se não estou em erro, também ao meio, Se eu pudesse ter uma biblioteca assim, a library of my own, secreta, vasta, sigilosa, um espaço quase infinito... Fiquei sem dizer nada. Nunca poderia ter imaginado tal.
Quando saí daquele labirinto, já as pessoas com quem tinha ido encontrar-me se tinham ido embora, certamente cansadas de esperar por mim. O tempo tinha passado sem que eu tivesse dado por ele e sem que eu tivesse conseguido interromper quem tinha estado a conduzir-me naquela inesperada visita guiada.
O tempo não anda a ser-me suficiente para me entregar à absoluta descoberta de uma vida nova que se desdobra a toda a hora à minha frente até porque tenho que conciliá-la com o lado prático da minha actividade quotidiana mas, apesar disso, o que posso dizer é que, para mim, o mais estimulante são estes momentos em que passam por mim estas vibrações prenhas de expectativa e descoberta.
Há algum tempo, naquele longínquo tempo pré-covid, estava eu a almoçar, acompanhada, quando ouvi uma voz conhecida a exclamar: 'Olha quem ela é,,,!'. E já lá vinha ela de braços abertos e eu levantei-me e abraçámo-nos e demos o beijinho que, em tempos, as pessoas trocavam quando se encontravam. E logo ali, de pé, pusemos a conversa em dia. Quis que ela se sentasse e almoçasse connosco mas não, estava atrasada, ia ter com outra pessoa, já estava nas horas. Perguntei-lhe como estava a dar-se nessa sua nova vida. Sorrindo, transbordante de entusiasmo, disse: 'Bem! Óptima! Se eu soubesse que ia ser assim, há que tempos que tinha mudado'. Adorei ouvir, era bem ela, sempre pronta para ser a eterna adolescente que conheço há anos. Provavelmente sou também um pouco assim. Não fazer as coisas pela metade, não negar a experiência que se faz convidada, ousar, ir em frente.
Uma vez mais, fotografias que nada têm a ver com o texto (ou será que têm?) da autoria de Eylül Aslan e que, cá para mim, se forem como eu, curvam-se perante Ennio Morricone que, pela milionésima vez, aqui nos traz o Oboé de Gabriel.
Talvez um dia destes regresse ao mundo dito real e fale da notícia do dia: o que o super-judge Alex -- o implacável justiceiro que parece odiar visceralmente quem tem dinheiro ou poder -- fez agora ao Mexia (o da EDP) e ao Manso Neto. Todo um filme. Uma opera bufa. Uma soap. Mas terá que ser num dia de muito estômago.
Não que tenha grande coisa para dizer. Mas digo. Digo, por exemplo, que me limito a ir acompanhando o pouco que se vai sabendo e a constatar que não há nada de novo. Ou que acompanho também sem grande surpresa as reacções de jornalistas e comentadores a esse pouco que vai soando. E que os vejo a começarem a titubear, a vacilar nos alicerces. E que não me surpreendo. Até porque, salvo raras e honrosas excepções, têm quase todos umas cabeças de maria-vai-com-as-outras.
Mas eu, pela parte que me toca, estou como fiquei naquela noite em que a minha filha me ligou a dizer que visse a televisão, que Sócrates tinha sido preso: estupefacta. Tudo, naquela noite, me causou estupefacção.
Porquê? O que é que ele tinha feito? E como estavam já ali os jornalistas à espera dele, a seguirem o carro onde ia, detido? Que cegada era aquela?
E daí em diante ouvi de tudo, toda a espécie de acusações, de suspeições -- uma investigação e uma crucificação na praça pública de tipo arrastão. Meio mundo a ser envolvido, um processo megalómano, com vários suspeitos a surgirem de todo o lado, por vezes num registo que me pareceu delirante.
Teria Sócrates que ter estado a tramar esquemas durante vinte e quatro horas por dia em vez de estar a governar o País para conseguir engendrar tanta tramóia. E, note-se, não estou a fazer juízos de valor nem a tomar partido. Não: estou apenas a usar a lógica, disciplina mental que me é cara. Ou seja, não digo que não é culpado, porque não faço ideia, apenas estou a verbalizar um raciocínio.
É que a minha posição é a mesma de sempre: a Justiça avaliará as provas existentes, a Justiça avaliará a razão de ser da acusação, ajuizará se há matéria para julgamento e, se o houver, ajuizará se há matéria para condenação. Sou fiel aos meus princípios e tenho bem cravado na minha consciência aquela máxima vintage que reza que, haja o que houver, toda a gente é inocente até prova em contrário. E quem tem que fazer essa prova é a Justiça. Não os jornais, não os comentadores, não as redes sociais, não os bloggers, não o diz-que-diz-que, não as vizinhas, não as primas.
Agora uma coisa é certa: apesar da péssima opinião que tenho sobre o Super-Juíz Carlos Alexandre ou sobre o Procurador Rosário Teixeira, tenho que fazer o exercício mental de admitir que, para terem feito o que fizeram -- e não foi pouco -- incluindo manterem Sócrates preso, é porque devem ter provas ponderosas contra ele. Não suposições mas provas. E, note-se, já se falou no BES, na PT, na Venezuela, em Angola, em Vale de Lobo, no Grupo Lena e sei lá em quem mais. E tudo isto sem que os ministros responsáveis pelos assuntos dessem por nada. Portanto, estou curiosa para saber que provas são essas que enchem milhares e milhares de páginas porque, até ver, de provas, provas, não dei conta de nada.
Não faço ideia do que é que o Juíz Ivo Rosa vai concluir de tudo o que tem lido. Agora acho que temos todos que lhe tirar o chapéu: merece respeito. Quando vejo imagens daqueles caixotes e caixotes cheios de uma papelada infinita nem consigo imaginar como é que algum ser humano consegue digerir tal pesadelo. Eu entraria em burnout só de ver tanto caixote.
Decorreram vários anos desde essa noite em que Sócrates foi detido ao chegar ao aeroporto. Desde aí a sua vida tem estado como que suspensa, naquele limbo em que nem consigo imaginar como se consegue sobreviver mantendo a sanidade mental.
De tudo, jornalistas, comentadores e meio mundo já o acusaram e condenaram. Mas eu, nestas coisas, não consigo pular etapas. Coisa de DNA temperada por deformação académica acrescida de deformação profissional. Mas podem achar que não é nada disso, que sou é burra, teimosa que nem uma mula, besta quadrada da pior espécie. O que quiserem. Mas pular etapas, numa coisa destas, eu não pulo.
Pode ser que a Justiça venha a dar por provado tudo aquilo de que o acusam. Nessa altura eu saberei. Até lá não sei e, sem saber, não condeno. Bem pode o João Miguel Tavares sacramentar mil condenações com aqueles fracos argumentos que a sua fraca cabeça constrói, bem pode Ricardo Costa tecer as suas usuais frouxas considerações ou exibir os seus bons conhecimentos armando-se em bom, bem podem Felícia Cabrita ou Clara Ferreira Alves escreverem as suas inabaláveis certezas ou as suas doutésimas opiniões, bem pode o Dâmaso e outros que peroram no Correio da Manhã, na Sábado ou nem sei onde, denunciar, difundir 'segredos' ou lançar parangonas acusatórias -- que eu fico onde estava.
E, portanto, como acima disse, não é muito nem nada de novo o que tenho para dizer. É só isto: continuo estupefacta com tudo isto e sem perceber o que se passou e tem vindo a passar desde então. Ou seja, na mesma. À espera que a Justiça faça o seu trabalho.
(Poderia ainda acrescentar que estou também à espera que a Justiça seja justa e lesta -- mas isso já seria esperar de mais. Ou, dito de outra forma, seria lirismo e eu, como é sabido, é mais prosa. Poesia eu gosto mas é de ler, fazer não é para o meu bico)
As pinturas que usei para dar alguma graça ao texto são, respectivamente, de Francisca Vogel, a primeira, Shawn Ashman, as três seguintes, e Pierre Subleyras, a última. Tudo ao som de Falling na voz de Julee Cruise.
Só para dizer que neste momento não posso estar concentrada no que estou a escrever. Tenho os olhos e os ouvidos noutra coisa. Ou seja, a minha cabeça está tomada pela atenção a uma coisa de que não posso falar aqui e, portanto, os meus dedos, que dançam sobre o teclado, estão por sua conta e risco. Não respondo por eles.
E isto para dizer que estava para falar daquele Marta Soares que acha que isto da Protecção Civil é a mesma coisa que o Sporting nos bons velhos tempos do outro maluco -- guerras intestinas, esquemas, bocas foleiras e ameaças feitas à cara-podre, badernas e tareias encomendadas. Ouvindo-o a incendiar os bombeiros, com total ausência de sentido de responsabilidade, só me ocorre que ele está bem é como líder das claques. Líder da Juve-Bombeys, por exemplo. Mas não tenho cabeça para isso pois estou noutra. Gente corporativista como este Marta Soares não interessa nem ao mais pintado.
Também tinha pensado falar na patareca da May, essa pobre desengonçada mental que desde o início mostrou não ter cabeça, pulso, fibra, pedalada ou endurance para levar a cabo um dos maiores disparates de que há memória. Qual brexit qual carapuça: os ingleses enfiaram um barrete até ao queixo votando numa coisa que nem sabiam o que era e, agora que os que se meteram nisto fugiram todos, ficou ela com o abacaxi nas mãos. Se fosse esperta já tinha tido tempo de tirar a malta deste beco sem saída, desta saia mais do que justa. Mas não: para ali anda, atarantada, sempre a pôr-se a jeito para que o Reino Unido seja motivo de galhofa geral. Mas, enfim, não falta muito para que esta pobre coitada da Theresa May passe à história -- pelo que não vou desconcentrar-me do que hoje me tem presa.
Também me ocorreu falar do Macron, armado em Papai Noël, a distribuir dinheiro limpinho ao pessoal, a pedir aos patrões que também sejam o Santa Claus e paguem um prémio limpinho de impostos aos coletes, aos amarelos e aos outros. Mas não vou dizer nada. Que a malta precisa de dinheiro limpinho não se questiona. O que me deixa sem palavras é a coerência de tal bodo, rendimentos não tributados, na sequência do vandalismo nas ruas. Jingle bells, jingle bells, tudo bem, é o clima natalício, black friday para todos -- mas agora vai ser assim? A malta não gosta de uma coisa, vai para a rua partir montras e incendiar carros e vem ele, cara de anjinho ou de menino jesus, e, para ver se eles se portam bem, dá-lhes dinheiro limpinho? É que nem sei o que dizer. Só isto: Macron is coming to town. Binga, binga, jinga, jinga.
E há bocado também ouvi o Vara na TVI a dar a entender que foi vítima de uma cabala, de uma vingança mórbida e que os jornalistas deveriam analisar o processo a ver se encontram matéria de facto. E também deu a entender que isto foi tramóia do Super-Judge Alex, fornicado (pardon my french) por não ter sido ajudado -- ao que percebi para ser chefe das secretas. Que aquele so called Saloio de Mação não é flor que se cheire e que tresanda a ressabiamentos e invejinhas pouco brancas, isso já o próprio nos deu a saber através de entrevistas em que, querendo basofiar-se, deu uma data de tiros em cada pé. Mas chegar a ponto de sacanear os que não o levaram ao colo para onde ele queria isso parece coisa suculenta demais para ser deixada passar em claro. O Miguel Sousa Tavares que anda outra vez com o bichinho da informação que agarre o pitéu, se faz favor. E, portanto, fico-me por aqui à espera que a coisa se esclareça. Agora uma coisa é certa: mais depressa compraria um carro em 2ª mão ao Vara do que ao Saloio.
E pronto. É isto. Também já despachei o tema no qual estava focada. Agora vou pôr creme nas mãos, vou fazer o tapete e vou ver se, entretanto, me ocorre algum tema interessante.
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As fotografias mostram o que abaixo descrevo e que retirei do The Guardian:
In her elaborate self-portraits, Cecilia Paredes hides within colourful, patterned fabrics. Based in Philadelphia, the Peruvian-born artist started the series in 2005, when she moved to the US from Costa Rica and was trying to “blend in”. “I wanted to really get along in my new environment and literally become part of the landscape,” she says. The materials she chooses have a personal connection: a pattern involving orchids, for example, the national flower of Costa Rica, symbolises her past life there. Paredes is then painstakingly painted by her assistants. “The day of the shoot is very precise,” she says. “You don’t want any disturbances. I cannot move, and the painting can be from 7am to 3pm, so it’s a very long process.” Portfolio Series: Cecilia Paredes is at the Museum of Latin American Art, Long Beach, California, until 30 December
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PS: Volto aqui, depois de ter dado o post por encerrado, só para confessar a minha desatenção. Então não é que tenho estado aqui no maior esforço a puxar a agulha e ela sempre a escorregar-me? Isto de ter posto creme nas mãos antes de me atirar ao tapete foi mesmo mal alembrado. Que destreino, este meu.
Saí de noite de um sítio onde só tinha ido antes umas duas ou três vezes. Chovia, estava trânsito e não conseguia ver bem. Procurei uma tabuleta a dizer Lisboa ou com o símbolo de autoestrada. Nada. Um desespero. As estradas neste país têm isto. A gente só sabe como dar com um sítio depois de ter dado com o sítio. Um atraso de vida.
Fui andando. Chegava a uma rotunda e numa saída dizia 'Farmácia', noutra 'Centro Desportivo', noutra 'Trânsito local'. De Lisboa nem sinal. E outra volta à mesma rotunda a ver se me estava a escapar alguma coisa. Nada. Às cegas, escolhi uma no que me pareceu ser a direcção certa. Sítio desconhecido. Luzes dos carros, chuva. Tabuleta elucidativa zero.
Fui andando até poder parar o carro. Como o meu está na oficina, ando agora com um de substituição. Tentei o GPS. Não tinha. Pus 'Lisboa' no telemóvel e accionei o GPS. Procurei um sítio para pôr o telemóvel. Não tinha. Nem uma prateleirinha. Só em baixo, dentro do recipiente das moedas. Ficou de lado e tapado pelo manípulo das mudanças. Não se via, só se ouvia. Um stress.
Melhor que nada. Pus-me a caminho. Mandou-me sair na 4ª saída da rotunda seguinte. Só tinha 3 saídas. Nova volta a ver se me tinha escapado alguma estrada. Não. Entretanto, a jovem do gps mandou-me voltar para trás.
Entretanto, ligou-me o meu marido a saber a que horas contava eu chegar. Apanhou-me num mau momento: não sabia onde estava, não sabia como sair dali.
Voltei a tentar. Fui num sentido, a 'gaja' mandou-me ir em frente, fui andando até que me mandou sair na 2ª saída e eu obedeci apesar de lá dizer o nome de uma terra de que nunca tinha ouvido falar. Segui até que fui parar a uma estrada estreita que parecia de um só sentido mas de onde vinham carros em sentido contrário. Temi estar em sentido proibido. Depois começou a aparecer um muro alto, como se fosse alguma quinta. O muro nunca mais acabava, a estrada sem luzes, sem casas. Temi estar completamente perdida, enganada pelo gps, esse farsante.
Até que ela me disse que, numa rotunda saída do nada, devia sair na 3ª saída e aí vi uma tabuleta a indicar a autoestrada. Quando cheguei à rotunda, a maior trapalhada que já vi, tinha vários sinais de proibido e, dessas vias, vinham carros a entrar, entre elas a que me pareceu ter a tabuleta para Lisboa. Pensei: ná, para ir para Lisboa tenho que entrar numa via em sentido proibido...? A mim não me apanham. Dei duas ou três voltas à filha da mãe da rotunda, isto sem se ver quase nada com a chuva e com as luzes dos carros. A 'gaja' do gps não se calava. Pensei: há-de haver um sacana dum carro que também queira ir para a autoestrada para eu ir atrás. Nada. Mais uma volta. Às tantas, resolvi avançar pela que me parecia provável e, se estivesse a ir em sentido contrário, acácia da silvinha, fechava os olhos e entregava para deus.
Mas, afinal, fiz bem. Lá dei com a entrada na autoestrada.
Queria ligar para avisar que estava salva mas o telemóvel não estava emparelhado com o carro pelo que não deu. Com isto tudo, só cheguei a casa tarde e más horas. Estava a entrar, ligou o meu filho. Estava a despir-me, recebi uma sms da minha mãe: 'Estás ainda a trabalhar ou esqueceste-te?'. Telefonei-lhe. Expliquei-lhe. Depois telefonei também à minha filha. Contei-lhe tudo, a odisseia e o que a tinha precedido.
Quando me sentei para jantar era tarde e eu estava com a cabeça em água. Odeio dias tão preenchidos: parecem-me curtos demais, esvaem-se no meio de parvoíces. Um desperdício.
E agora estou aqui e a pensar que ainda tenho que ir ver mails do trabalho porque, durante a tarde, como estive noutra, não lhes peguei. O meu marido, perante perspectivas destas, costuma dizer: 'Isso é pior que um clister de açorda'. E é. Já passa da meia-noite e, depois do dia que tive e da odisseia que foi para dar com o caminho para casa, ainda ter que ir ler e responder a mails de trabalho é sorte que não se deseja a ninguém. Cruzes canhoto.
De resto, não sei se o mundo já se pôs a andar de gatas, se de patas para o ar ou se por aí anda aos pinotes. Só sei que, quando me sentei aqui, ouvi na televisão uns cavalheiros de aspecto vagamente suspeito a dissertar sobre um acordo que o Benfica terá feito com a Google e que se terá traduzido em receber a identidade de bloggers que, ao que percebo, costumam dizer mal do Benfica. Não acredito em nada disto. Se a Google tivesse feito uma coisa destas, era caso para todos os clientes da Google saltarem a pés juntos sobre ela. E, que eu saiba, de burra a Google pouco tem. Portanto, não sei que história mal contada é esta mas não deve interessar para nada.
Também dei com o Super-Judge-Alex com olhos que me pareceram lacrimejantes. Pensei: Querem lá ver que isto é a Alta Definição? Terei chegado no ponto em que o Daniel Oliveira lhes pergunta "o que dizem os seus olhos?" e a malta fraqueja e desata a chorar? Depois percebi que afinal não. O so-called saloio estava sem óculos e, às tantas, a vista cansada dá-lhe lacrimejices. Bolsava veneno enquanto sorria, verdadeiro saloio safado, disfarçando a dor de corno ou de cotovelo ou lá o que fosse que lhe estava a doer. Qual cavaco, destilou ressabiamentos, lançou insinuações, suspeições. Não quererá a múmia fechá-lo também no sótão, ao lado do Lima*? Não se perdia nada.
Enfim.
O que isto é, meus Caros, é que estamos a tender à força toda para a cena dos porcos a governarem o mundo. Já aí estão com comportamentos sinistros, a fazerem coisas obnóxias num mundo onde, volta e meia, nada parece fazer sentido. A única coisa que me anima é que já não é a primeira vez que há disto, o mundo a desandar. Portanto, acredito que um dia destes a coisa vai voltar a entrar nos eixos. Ou seja, acho que ainda não é caso para nos deprimirmos.
Salvé.
Vou aqui ficar um bocadinho a sonhar enquanto olho a noite boa, ali fora.
PS: É verdade, que é feito do Lima*? Escreveu mais algum livro ou é só o chefe que continua a publicar? Será que não ficou esquecido no sótão de Belém? Na volta, uma noite destas ainda aparece a assombrar os corredores do palácio. O que vale é que o Marcelo não está para pernoitar no meio daqueles fantasmas senão apanhava um tal susto que ainda lhe saltava outra hérnia.
Os três ex-Secretários de Estado foram constituídos arguidos e vão ficar sujeitos a termo de identidade e residência. O suposto crime que os investigadores do DIAP vão tentar comprovar prende-se com terem ido à bola a convite de um dos patrocinadores da Selecção. É daquelas ficções em que se conhece, à partida, o crime. O suspense prende-se com o making of.
Como é que receberam os bilhetes? Como é que foram para o avião? A pé ou de taxi? Se de taxi, quem pagou o taxi? E como é que compensaram o ofertante por tão imensa prebenda? Perdoaram dívidas de milhões? Foram passadas concessões de exploração de petróleo em Massamá? Se não foi isso, então o que foi?
Muitas pistas a seguir, muitas linhas de investigação. Muito agente disfarçado, muito infiltrado, muita escuta, muitas provas a coligir. Volumes e volumes de informação a tratar. Dossiers infinitos. Coisa para Joana Vidal ir perdoando adiamentos e deixar rolar a coisa durante dez anos. Percebe-se: o caso é grave. Devia era ter-lhes posto pulseira electrónica que o caso não era para menos.
Entretanto, a Operação Marquês soma e segue. Mais dois arguidos. Agora é malta das Estradas e nova frente de investigação foi aberta: agora também o TGV. Aquela malta que trabalhava com Sócrates e que o dizia um trabalhador incansável, não dando descanso a ninguém, não devem ter percebido que ele, afinal, tinha um clone que, enquanto o genuíno tinha reuniões e visitas oficiais, o outro andava a tramar esquemas para sacar uns trocos a toda a gente possível e imaginária. E, trocos a trocos, o manganão foi enchendo o papo, alugando, como cofre, a barriga do anafado amigo.
Portanto, certamente, mais uns meses de investigação. Também se percebe. Aquilo é um novelo. Não há cabeça que aguente tanta pista. Nem o algoritmo da google daria conta de tamanho emaranhado.
E eu, com pena de tão diligentes cromos a quem chovem pistas como cães e gatos em dia de enxurrada e a quem, por cada pedra que levantam, lhes saltam minhocas, suspeitos e crimes às mãos cheias, vendo os anos a passarem sem que, pobres, pobres coitados, consigam deslindar coisa alguma, aqui me predisponho a dar uma ajuda. É o meu lado de musa de Tiepolo: santinha, santinha, santinha. Assim, para que não continuem a aparecer aos olhos da opinião pública feitos baratas tontas ou a aparentar que têm tempo de sobra ou severa carência de neurónios, daqui levanto o véu sobre mais uns quantos factos que, cá para mim, têm tudo a ver.
Read my lips:
1 - É ou não verdade que os três ex-Secretários de Estado conhecem Sócrates? E, em caso afirmativo, que tipo de conhecimento é esse? O bíblico penso que está fora de questão mas, então, que expliquem tudo muito bem explicadinho.
2 - É ou não verdade que, por trás da manobra dos convites para a bola, está, afinal, a mão emboscada do silencioso amigo de Sócrates?
3 - É ou não verdade que, no avião, como leitura, as hospedeiras distribuíram aos passageiros livros do Sócrates?
4 - É ou não verdade que no camarote, no célebre dia do fatídico jogo, foi avistada uma mulher que alguns juraram ser a cara chapada da ex-mulher de Sócrates enquanto outros, para disfarçar, disseram ser Marcelo Rebelo de Sousa disfarçado de Nossa Senhora de Fátima? E quem eram esses outros?
5 - É ou não verdade que o primo de Sócrates foi visto de óculos escuros num carro conduzido por alguém que parecia ser o motorista Perna nos arrebaldes de Tancos?
6 - É ou não verdade que Lalanda, Bataglia e Salgado foram avistados, em dias diferentes, em lugares diferentes, tentando simular que não se conheciam?
7 - É ou não verdade que Mexia (o da EDP) costumava mandar sms a Sócrates a perguntar informações sobre o alfaiate como se toda a gente não percebesse que isso era código e que, na verdade, estava a referir-se às caixas de robalos que oferecia à filha do Vara, numa altura em que estava zangado com a Guta?
8 - É ou não verdade que Zeinal Bava foi avistado a falar com um jardineiro que é compadre de um sargento que geria uma messe da Força Aérea e que, dias depois, o mesmo Bava se cruzou na autoestrada, embora em sentido contrário (para disfarçar) com Sócrates?
9 - É ou não verdade que o SIRESP foi visto a falar ao telefone com a Fernanda Câncio, ex-namorada de Sócrates?
10 - É ou não verdade que o Granadeiro foi ouvido um dia a insinuar que a Manuela Moura Guedes merecia que lhe reduzissem o tamanho da boca, tendo depois vindo a descobrir-se que o interlocutor era admirador da Cristina Ferreira e que, através dela, iria minar as audiências da TVI e tudo para agradar ao Sócrates?
11- É ou não verdade que os mails do Benfica não são inocentes e contêm, subliminarmente, ordens de pagamento a favor da manicura da mulher do amigo de Sócrates?
12 - É ou não verdade que foram avistadas umas personagens muito suspeitas a jantar numa casa de fados, parecendo estar todos com cabeleiras postiças louras e lentes de contacto demasiado azuis para serem credíveis, falando em voz muito baixa, tendo um espião que por lá pára, conhecido no bas-fond por Lima do Sótão, deixado cair para a imprensa que ouviu referir um filósofo grego e que se tratavam uns aos outros por Miguel Abrantes, Valupi e Jumento?
13 - É ou não verdade que é muito, muito, suspeito que Hugo Soares tenha sido eleito como líder parlamentar do PSD? Não seria de investigar qual a mão que manobrou atrás do arbusto para que tal inverosímil facto tenha acontecido? Não está bom de ver que é coisa deliberada para enxovalhar a honra laranja e que isso só vai servir para lançar a confusão no argumentário político e, dessa forma, baralhar os jornalistas e, por conseguinte, beneficiar a estratégia de defesa de Sócrates?
E podia continuar a dar pistas. Mas vou com calma, fico-me, para já, pelo número da sorte para não fundir a mente do nosso querido Saloio de Mação, o Super-Judge Alex, ou a do Procurador Rosarinho Teixeira, sempre tão eficaz, ou a dos outros que devotam a sua humilde vida a perseguir nobres causas e que, nessa senda, coitados, mal têm tempo para refeiçoar ou para pensar.
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A ver se com esta minha preciosa ajuda conseguimos finalmente chegar ao mega-julgamento pelo qual tão impacientemente aguardamos
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Um dia risonho a todos quantos aí estão desse lado
Escreve o insuspeito Observador notícia que me deixa boquiaberta. Para a mim própria me convencer de que não estou a delirar, cito um excerto:
Procurador suspeito de corrupção terá emprestado 10 mil euros a Carlos Alexandre
Orlando Figueira, suspeito de corrupção e um dos principais arguidos da Operação Fizz, terá emprestado 10 mil euros ao juiz Carlos Alexandre. Montante que já foi devolvido pelo magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal. Estes factos foram explicados pelo próprio juiz Carlos Alexandre em declarações prestadas como testemunha nos autos da Operação Fizz.
A notícia é avançada pelo jornal Público, que dá conta de vários detalhes desta situação. Amigos há mais de 25 anos, desde altura em que trabalharam juntos no tribunal de Vila Franca de Xira, Orlando Figueira terá ajudado Carlos Alexandre a agilizar o pagamento da construção de uma casa na sua terra natal, em Mação.
Carlos Alexandre, conta o mesmo jornal, tinha pedido um empréstimo de 100 mil euros à Caixa Agrícola para ajudar à construção da casa. No entanto, o dinheiro só era libertado em prestações e dependia dos avanços da obra. Em outubro de 2015, os responsáveis do banco concluíram que a obra não tinha avançado o suficiente para libertarem 10 mil euros que o juiz precisava para continuar a obra.
O juiz terá então desabafado com o seu amigo Orlando Figueira, que se prontificou a ajudar. De acordo com o Público, que cita o auto de inquirição de Carlos Alexandre no DCIAP, o juiz terá ainda hesitado em aceitar a ajuda de Figueira, mas, perante a insistência, acabou por aceitar a oferta.
(...)
Orlando Figueira, procurador que deixou o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) para se juntar ao BCP, é suspeito de ter recebido 760 mil euros e outras vantagens para dois processos em que se investigavam crimes de branqueamento de capitais e que envolviam Manuel Vicente, vice-Presidente angolano e ex-presidente da Sonangol. Em linhas gerais, é disso que trata a Operação Fizz, que o Observador explica aqui.
(...)
E eu leio isto e a minha alma fica parva.
Pois é esta criatura --- que, em entrevista, há tempos, ao Expresso, já tinha mostrado ser uma criatura pequenina, centrada em si própria, um sujeitinho deslumbrado, com a mania dos carros e das casas, com dívidas não negligenciáveis ao banco, com milhares em cartões de crédito e mais não sei o quê... que afinal, sabe-se agora, também aceita empréstimos de amigos (ainda por cima amigos que, à vista desarmada, enriqueciam sem se perceber como) --- que fundamenta uma decisão altamente penalizante para com outra pessoa baseando-se sobretudo em juízos de índole moral...? Ou que, referindo-se a Sócrates e ao amigo Carlos Santos Silva, que lhe emprestou dinheiro, conclui que ninguém tem amigos tão generosos e, portanto, que o dinheiro não era do amigo mas, sim, dele, Sócrates?
Já viu bem, Ex.ª Senhoria Carlos Alexandre..? E se nós concluirmos que o dinheiro do Orlandinho era mas era seu? Que o Procurador Orlandinho não passava de uma barriga de aluguer para o seu dinheiro? Gostava....?
E eu interrogo-me: mas é isto um juiz? Qual a credibilidade de um sonso destes...?
Que moral tem um saloio destes (Saloio de Mação, intitula-se a criatura) que -- depois de ter mantido preso José Sócrates com base em indícios que outro juiz, mais tarde, metaforicamente descreveria como quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem -- anda a receber milhares de euros emprestados de um amigo...?
E que presciência tem um imprudente destes que não suspeita que o enriquecimento do amigo levantava dúvidas...? E que integridade moral tem um imprudente destes que, depois de tudo o que fez e disse no caso de Sócrates, perante uma oferta de empréstimo, começa por se fazer de caro para, com uma simples insistência, logo aceitar...? É assim tão fácil de convencer, o super-juiz Alex...?
E é um tosco destes uma das figuras mais poderosas deste país?
Mas está tudo doido ou quê?
Eu olho para isto e, uma vez mais, penso que tem que haver maneira de nos defendermos de ficar nas mãos de malucos.
A democracia é uma maravilha e a separação de poderes é outra. E temos que defender isto com unhas e dentes.
Mas quando a coisa degenera e começam a aparecer aberrações que transformam a democracia numa anedota e a separação de poderes num risco e nos vemos à mercê da decisão de psicopatas, lunáticos, estarolas, palhaços, moralistas patológicos, megalómanos, frustrados e outros doentes, deveremos pensar qual a escapatória. Tem que haver. Uma escapatória legal, claro. Ou, pelo menos, consensualmente legítima.
Mais uma vez penso no Presidente da República.
Felizmente já nos vimos livres do outro --ue esse era outro em quem também não nos podíamos fiar. Este, o Marcelo, até ver, apesar de um ou outro excesso, tem provado ser pessoa decente.
Não sei como -- nem sei, sequer, se pode fazer alguma coisa -- mas acho que ele ou alguém (ou um movimento qualquer) deveriam, no mínimo, correr com este Carlos Alexandre. O sujeito não tem moral para exercer o cargo que ocupa. Descredibiliza o exercício da Justiça. E é um perigo para quem tem a pouca sorte de se ver nas mãos dele. Credo, cruzes, canhoto.
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As duas últimas fotografias são de Ève Morcrette
A escolha das fotografias do Super-Juiz Alex para enfeitar o texto é de minha responsabilidade (ou seja, não aparecem no artigo do Observador)
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Caso vos apeteceça lavar a alma, aconselho os dois posts abaixo.
É outro comprimento de onda. Já a seguir, Adélia Prado.
E, portanto, meus caros Sócrates-addicted, vejam se seguem o meu raciocínio:
Se o Sócrates paga ao Carlos Santos Silva para o Carlos Santos Silva pagar ao Rui Mão de Ferro, para o Mão de Ferro pagar ao António Peixoto, para o António Peixoto se fazer passar por Miguel Abrantes para o Miguel Abrantes dizer bem do Sócrates e se, afinal, o Miguel Abrantes sou eu e, ao mesmo tempo, se eu sou o próprio Sócrates, então o Sócrates anda a pagar a si próprio para se fazer passar por uma molhada de gente.
E, portanto, o que é que se conclui disto?
Nem eu própria/o sei. Terei eu alma vagabunda? Terei vocação para me desmultiplicar em cinquenta personagens? Sou o/a mil-rostos? Sou alguém? Sou ninguém?
O que sei é que sou aquele que aparece disfarçado de outro homem, que aparece na capa de livros que outros a quem pago para parecer que são outros e não eu, que aparece disfarçado de mulher, de uma mulher que gosta de mar e poesia e escreve pela noite dentro, ou que aparece como mil outros, em universidades parisienses, em prisões alentejanas, em almoços com amigos, a conspirar contra cavacos e limas, a vestir-se com bons fatos, a frequentar bons restaurantes, a decorar apartamentos, a namorar, e, em tempos, nas horas livres, a ser primeiro-ministro. Eu.
A mim próprio me surpreendo. Escutem. Escutem que este é um raro momento confessional. Apareço em mil sítios, em blogues, em livros, em escutas, em encontros, em provas de vinhos, tenho mil mulheres a quem pago para elas me defendenderem mas elas sou eu, tenho mil amigos que fingem que sou eu para disfarçar que sou eu. E o dinheiro -- milhares para um, milhares para outros, milhões, muitos milhões -- circula em loop de uns para outros e todos sou eu e as mil mãos que tocam no dinheiro são todas minhas. Minhas.
E para quê, tudo isso? - perguntarão vocês.
Respondo. Tudo isto -- confesso -- para baralhar o Rosy e o Alex e para causar orgasmos em série à Cabrita e delíquios epifânicos ao Dâmaso.
Ah, é tão bom ser tantos e todos os muitos eus perseguirem o sono dos investigadores que andam em círculo, quais baratas tontas, à procura de indícios e eu por todo o lado a deixar pistas, por todo o lado a deixar espelhos e eles, pobres investigadores e juízes, sem nunca saberem se estão a ver a realidade ou o reflexo, a sua vida já transformada num delírio, numa desatinada alucinação.
Ah... o que me divirto com os que se viciaram em mim.
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E, para que vejam como vos quero bem, meus caros Viciados-em-Mim, aqui vos deixo uma musiquinha boa para dançarem enquanto andam à caça de fantasmas.
Boa?
Vamos lá, então, a esticar as pernocas, seus marotos.
Beijinhos e abraços deste/a vosso/a que se assina
José Miguel António Rui Um Abrantes Jeito de Mão Peixoto Sócrates Ferro Manso
Nem sei bem que tom imprima ao que vou escrever porque este é um tema que me tolhe a racionalidade, que me desconcerta. Refiro-me, claro está, ao fenomenal caso Sócrates.
Junior Cox-Noon, bebé inglês com uma cabeleira nunca vista
É que, das duas uma: ou um homem que parece ser normal e que vive sob os holofotes e que sabe que é escrutinado à lupa é, afinal, um farsante genial, um burlão de antologia, alguém que conseguiu passar através dos espelhos e desmultiplicar-se em infindáveis esquemas, ramificando a sua imaginação mafiosa a um nível quase capilar -- ou está a ser criminosamente perseguido por burocratas psicopatas que compulsivamente imaginam manigâncias que comprovam a culpabilidade em que o querem enredar.
Continuo a querer acreditar que Sócrates é inocente e, até que a justiça se exerça e decida em contrário, é essa a minha atitude perante tudo o que a imprensa for desfiando em manifesto incumprimento do segredo de justiça.
Não confundo apreciações de carácter pessoal com acusações judiciais. Não acho que, por uma pessoa escrever que mata e esfola, se deva de imediato acusá-la de assassina, pô-la sob escuta, prendê-la preventivamente. Não acho que, por uma pessoa gostar de se vestir bem, deva ser publicamente apodada de fútil e os seus movimentos passem a ser espiados. E também não acho que, por uma pessoa usar dinheiro de um amigo, possa ser ultrajado na praça pública como se de um corrupto e ladrão se tratasse. Não sou apologista da justiça popular. Só isso.
Há uns dois anos Sócrates foi preso com o argumento de que havia indícios graves de não sei o quê, que havia perigo de fuga ou de perturbar o inquérito. Babelas. E a televisão tablóide mostrou o impensável: um ex-primeiro-ministro detido, as câmaras a acompanharem a sua humilhação pública.
Ao fim de quase um ano detido e desfiando a imprensa de sargeta sistemáticas suspeitas sobre tudo e mais alguma coisa -- envolvendo amigos, amigos de amigos, primos, namoradas, ex-mulher, direitos de transmissão de futebol, cenas na Venezuela, em Angola, em Vale de Lobo, envolvendo o Grupo Lena e sei lá que mais -- e, afinal, sem que tenha sido produzido acusação, soltaram-no. Entretanto, mais um ano decorreu e as fugas de informação continuaram a suceder-se: mais amigos de amigos de amigos, mais empresas envolvidas, a CGD, a PT, a OI, e pesquisas nos supermercados a ver quem é que comprou o livro, e mais divulgações de escutas e mais uma torrente de suspeitas. E, de novo, o prazo é estendido... e acusação zero. Zero.
Por isso, dizer que Sócrates, até prova em contrário, é inocente não é uma paixão cega da minha parte nem uma prova de fé: é, apenas, uma constatação. E nem é por ele ainda não ter sido condenado. Nem, sequer, por ainda não ter sido julgado. É, tão só, porque ainda nem acusado foi!
E, no entanto, as criaturas que há anos o escutam, seguem, investigam e esburgam até ao tutano continuam a, cobardemente, soltar para a comunicação social insinuações e acusações de toda a espécie e feitio.
A última é que o livro sobre a tortura não foi escrito por ele mas por um advogado e pela mulher do advogado que foram pagos por um sócio do amigo rico de Sócrates. E, com isso, pretendem provar que o dinheiro do amigo era de Sócrates -- apesar de que, quem pagou os ditos serviços, nem foi Sócrates nem o amigo rico de Sócrates. Não interessa. Pisou o chão que Sócrates também pisou? Danou-se. É cúmplice.
Segundo a Visão, a equipa de investigação da Operação Marquês suspeita que Domingos Farinho é o verdadeiro autor do livro de José Sócrates, que depois seria comprado em quantidades industriais por amigos próximos do ex-primeiro-ministro para inflacionar as vendas. Este professor e jurista terá recebido durante oito meses quatro mil euros mensais, mas não diretamente a partir de contas do ex-primeiro-ministro. De acordo com a revista, os pagamentos foram realizados através da RMF Consulting, uma empresa que está em nome de Rui Mão de Ferro, que também é arguido no processo e é sócio de Carlos Santos Silva noutras sociedades.
O contrato com a empresa de Mão de Ferro era de “prestação de serviços de apoio e assessoria na área jurídica” — válido entre janeiro e agosto de 2013 — e culminou com um prémio de 8 mil euros pela “conclusão dos serviços prestados”, apurou a Visão. A revista escreve que os investigadores contabilizaram um total de 40 mil euros em pagamentos ao alegado escritor fantasma. Para o Ministério Público, segundo a Visão, os valores dos pagamentos atingem os 100 mil euros quando são considerados os 60 mil euros que a advogada Jane Kirby, mulher de Domingos Farinho, recebeu da mesma empresa entre novembro de 2013 e outubro de 2014.
A mim isto parece-me delirante. Uma teia infinita de suspeitas em que todos os que, directa ou indirectamente, se relacionaram com Sócrates são suspeitos de serem cúmplices de qualquer coisa ou de o encobrirem ou de serem testas ou mãos de ferro em manobras mirabolantes.
Sem explicação.
Homem num concurso de barbas
Ou o homem é um génio na matriosca arte de conceber esquemas dentro de esquemas ou está a ser vítima da maior injustiça de que há memória. Qualquer das duas hipóteses é diabólica: ou fomos governados durante anos por um crápula genial que faz parecer qualquer mafioso um menino de coro ou a justiça deste país está entregue a doidos varridos, a paranóicos encartados, a gente verdadeiramente perigosa.
No meio disto há um outro receio que, de quando em quando, aflora à minha mente -- é que, um dia destes, ainda leio no Correio da Manha, no Sol, na Sábado, no Observador ou até mesmo na Visão que o dinheiro que recebo ao fim do mês apenas aparentemente é pago pela empresa para a qual trabalho porque, escarolando lá bem a contabilidade, ainda se descobre que há um cliente que, de facto, não compra nada e que o dinheiro que paga provém de um outro que é primo de um outro que é primo de um advogado que é primo da mulher do amigo de Sócrates -- ou seja, que obviamente é o Sócrates que me paga para escrever isto.
E, pensando bem, volta e meia caem-me as chamadas a meio e, querem lá ver?, afinal não é falta de rede: é mas é o Rosarinho que, com o amén do Super-Alex, me anda a escutar. Medo...
Mulher que se pinta para parecer um animal
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Se era para falar de seres insólitos, desculpar-me-ão mas tinha que povoar o texto com imagens a propósito.