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sexta-feira, outubro 25, 2019

O papel do Facebook no Brexit (e no resto) -- vejam o vídeo, por favor


Por mail de Leitor a quem muito agradeço recebi um vídeo (com legendas em português) muiiiiito interessaaaaante e que já foi visto mais de três milhões de vezes.

Transcrevo o texto que o acompanha no site do TED:
Numa palestra imperdível, a jornalista Carole Cadwallard aborda um dos acontecimentos mais desconcertantes da atualidade: a votação super renhida para a saída do Reino Unido da União Europeia. 
Investigando os resultados até chegar a uma imensidão de anúncios falaciosos no Facebook, dirigidos a eleitores indecisos e vulneráveis — e ligando os mesmos intervenientes e as mesmas táticas às eleições presidenciais dos EUA em 2016 — Cadwalladr acusa os "deuses de Silicon Valley" de estarem do lado negro da história e pergunta: Serão as eleições justas e livres uma coisa do passado?
A journalist on the frontline protecting an open society, Fintan O'Toole no The Guardian

Sobre a oradora, transcrevo (e agora perdoem-me a preguiça por não traduzir):
Carole Cadwalladr is a journalist for the Guardian and Observer in the United Kingdom. She worked for a year with whistleblower Christopher Wylie to publish her investigation into Cambridge Analytica, which she shared with the New York Times. The investigation resulted in Mark Zuckerberg being called before Congress and Facebook losing more than $100 billion from its share price. She has also uncovered multiple crimes committed during the European referendum and evidence of Russian interference in Brexit.
Cadwalladr's work has won a Polk Award and the Orwell Prize for political journalism, and she was named a Pulitzer Prize finalist for National Reporting in 2019. Of her award-winning work, judge Sir David Bell wrote: She "deserves high praise for the quality of her research and for her determination to shed fierce light on a story which seems by no means over yet. Orwell would have loved it."

O papel do Facebook no Brexit -- e a ameça à democracia
















Um bom jornalista é outra coisa. 
E uma mulher inteligente também.

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E queiram aceitar o meu convite e descer, por favor, até: 


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E... thanks God, it's friday! Enjoy.

quinta-feira, setembro 05, 2019

E enquanto continua o desastre em vários actos no Parlamento britânico, Sua Majestade passeia em Balmoral e brinca com os turistas.
É a nova versão do Titanic a afundar-se enquanto os passageiros dançavam no convés?


Quando Cameron se meteu nesta linda palhaçada (e, ok Paulo, antes disso, já Blair se tinha portado mal, indispondo os ingleses), quando o comediante Farage alimentou a fogueira contra a Europa, quando Bannon apontou armas à Europa com a Cambridge Analytica a usar os dados pessoais do Facebook dos eleitores britânicos de modo a fazer um marketing personalizado, manipulando-os emocionalmente, e quando, sem saberem o que era o Brexit, a maioria votou favoravelmente à saída do Reino Unido da União Europeia, ninguém imaginaria que mais de 3 anos depois aquelas almas ainda andariam desnorteadas, galinhas sem cabeça, sem saber o que fazer. 

Pelo meio Cameron e Theresa May já saíram de cena, as demissões sucedem-se, as expulsões de gente idónea saem à cena, aparecem gestos perigosos como a suspensão do Parlamento -- e sobraram duas tristes figuras. Uma, Boris Johnson, um arruaceiro, um trauliteiro, um amigo de esbórnia e macacadas, outra, Corbyn, uma fraca figura, um totó que de carisma tem zero, capacidade de virar o jogo ou mostrar liderança igualmente zero, um daqueles espantalhos que tem especial queda para se pôr a jeito e ser alvo de chacota de estafermos como o Boris JohnsonTrump. 

Calculismos e totozices por um lado, populismos e palhaçadas por outro, manipulações all over da opinião pública, ataques à ética e à democracia a serem o novo normal, aristocracias a sobrevoar o mundo real como se não fosse nada com eles, resultam num cocktail perigoso, do qual este lindo espectáculo ainda é o menor dos males.

Dizem-me: a democracia britânica é das mais antigas, é sólida, sabem o que fazem. Concordo que é antiga, acho que até parecia sólida mas discordo de que saibam o que andam a fazer.
Faz-me lembrar aquela gente de famílias aristocratas que acha que é de famílias antigas, sólidas, que olham a plebe com condescendência e superioridade. E depois, quando são chamados à liça, revelam a mais dramática impreparação,  revelam que não sabem cuidar da vida. Frequentemente acabam na miséria, objecto de caridade e de olhares piedosos. 
O que se passa no Reino Unido, de negociação em negociação, a pedir mais prazos, sem se entenderem, a votarem e contra-votarem sem sairem do mesmo sítio, um desnorte como não há memória, é, de facto, uma barracada que envergonha qualquer democracia. Mas mais do que vergonha, o que há nisto tudo é um enorme risco para todos.

E se eu sempre soube que o papel da Rainha era quase figurativo, a verdade é que acreditava que, em situação de crise séria, se chegaria à frente. Nada. Continua na maior como se nada disto tivesse a ver com ela. Uma coisa inquietante.

O que o The Mirror relata pode ter graça para quem gosta de achar graça a gracinhas. Eu acho apenas que, afinal, aquela monarquia britânica é outra palhaçada: Queen's funny quip when hapless tourists failed to recognise her at Balmoral. Estava de lenço na cabeça e vestida discretamente e não com aquelas toilletes coloridas com que costuma aparecer nas cerimónias e os turistas americanos também não costumam ser gente bem informada pelo que não a reconheceram e a Rainha brincou com eles, não se identificando. Mas não ocorrerá à Rainha que até pode acontecer que a Escócia venha a sair do Reino Unido e que ela passe a ser estrangeira em Balmoral? Em vez de fazer de conta que o que se passa no seu Reino não é coisa que lhe assista, não seria melhor que mostrasse que manda alguma coisa e apontasse uma linha de rumo?

Bannon’s Populists, Once a ‘Movement,’ Keep Him at Arm’s Length
Claro que, com tudo isto, o Bannon e seus seguidores esfregam as mãos de contentes. Como não?

Um dos mais relevantes países da UE nesta pretensa debandada trapalhona, ameaçando fazer perigar a estabilidade a todos os níveis na Europa, não é mesmo o que ele anda a tramar? Claro que é. 

E não, meus Caros, read my lips, não é paranóia minha, não é teoria da conspiração, não: é verdade. É a preocupante verdade.


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MPs vote to reject early general election


Boris Johnson has suffered another defeat as the Commons rejected his motion calling for a general election. The PM responded by saying that Jeremy Corbyn has become 'the first leader of the opposition in the democratic history of our country to refuse the invitation to an election'. He added: 'I can only speculate as to the reasons behind his hesitation. The obvious conclusion, I’m afraid, is he does not think he will win.'

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E a ver se, depois disto, consigo retomar o meu espirito estival ou se a minha boa onda saíu comprometida com tudo isto.

Se conseguir recuperar a boa disposição, talvez cá volte com imagens e acontecimentos do dia


sábado, março 24, 2018

As pessoas eram as donas da Web. Os gigantes tecnológicos roubaram-na.



Social media gave the powerless a weapon but it was wrenched away by firms such as Facebook and Cambridge Analytica



Witness the model built by researchers at Stanford and Cambridge that, simply by looking at your Facebook “likes”, can assess your personality with a startling degree of accuracy. It takes just 10 “likes” for the computer to know you better than your work colleagues. Give the machine 150 likes and it can predict you more accurately than your parents or siblings. Give it 300 and it knows you better than your spouse. No wonder the Trump campaign and so many others were ready to hand over big money to Cambridge Analytica. This week I met Hossein Derakhshan, a true Homo digitalis once known as Iran’s “blogfather”, whose activities earned him six years in prison. “Predictability is control,” he told me, recalling the hold his jailers had over him. Once you can predict someone’s actions and reactions, you can control them. (...)

Digitally speaking, the 21st century “belongs to the illiberals”, he says. The technology is available to anyone, but it’s Moscow that dares fund a troll factory, the Internet Research Agency in St Petersburg, pumping out lies and hate. London or Washington would not make so egregious a move, either because they’d regard it as a violation of their democratic norms or because they’d fear exposure, depending on your degree of cynicism. But the Kremlin bows to no such constraint. (...)


[Artigo de Jonathan Freedland, no The Guardian]

terça-feira, março 20, 2018

A face oculta do Facebook.
Cambridge Analytica & Facebook -- dangerous liaisons
Riscos pessoais, riscos públicos. Crimes privados, crimes públicos.



Há cerca de 1 ano publiquei aqui um texto escrito pelo meu filho para o qual me permiti chamar a atenção de todos quantos por aqui me acompanham:


Infelizmente, nos dias que correm, o tema é tristemente ainda mais actual. Cambridge Analytica boasts of dirty tricks to swing elections. Bosses tell undercover reporters how honey traps, spies and fake news can be used to help clients

Por cá, a meu ver, a gravidade do que tem vindo a público não está a ter a repercussão devida. É notícia de primeira página em jornais como o The Guardian mas, por cá, o que vamos sabendo é quase como se fosse tema secundário (por exemplo, veja-se o destaque dado a uma notícia como esta: Parlamento Europeu pede investigação ao Facebook). Do que me tem parecido, as televisões não têm pegado no tema e as redes sociais, sempre tão lestas a papaguearem ém coro a propósito de qualquer irrelevância, parece que, sobre isto, não estão nem aí.

Conhecem os meus Leitores a minha aversão ao Facebook. Não é uma aversão que advenha de conservadorismo ou de alguma outra forma de reaccionarismo. Não. Acreditem que não. A questão é que sei que o conceito subjacente a uma plataforma digital como o Facebook propicia toda a forma de utilizações indevidas por parte de quem o queira e sem que os próprios, os lesados, de tal se apercebam. O que se passa é que o Facebook é um repositório de informação pessoal que as pessoas ingenuamente vão alimentando e que, pela própria natureza e complexidade tecnológica, tornam impossível a um vulgar e incauto utilizador ter sequer a noção da máquina brutal que subjaz a toda aquela montra, na aparência inofensiva.

O Facebook pode ter nascido como uma plataforma de comunicação e partilha mas, pela forma desregulada como cresceu e pela opacidade do seu funcionamento, girando sobre algoritmos que têm tudo para manipular as emoções e as vontades das pessoas, pode ser uma perigosa arma contra a democracia e contra a liberdade.

Há certamente muitas utilizações meritórias (e sei de algumas) mas, mesmo essas, alimentam uma máquina imensa que vive de conhecer os gostos, o que emociona, o que alegra, o que pensam as pessoas (e tudo devidamente estratificado: consoante a idade, o género, a ormação académica, o sector em que trabalham, a região em que vivem, etc). Para matemáticos, o que ali está é um apetite. Toda a espécie de análises, de correlações, de projecções, de simulações, de manipulações... tudo é possível. E tão fácil... Tinha que ser uma empresa na qual todos os seus trabalhadores fossem gente de uma moral, ética e robustez psicológica à prova de bala para que nada daquilo derrapasse para o lado perverso da coisa. E isso não há. O mundo não é perfeito. Não há empresas em que 100% dos colaboradores sejam 100% escrupulosos mesmo quando expostos a toda a espécie de tentações e em que o risco de punição seja, na prática, quase 0%.


O Facebook é uma empresa super-valiosa na qual os os próprios clientes são, ao mesmo tempo, os fornecedores de matéria-prima, de matéria-prima gratuita (a informação que a toda a hora lá colocam; e os likes são também informação, não o esqueçamos). E recebem a publicidade que, de forma inteligentemente selectiva, o Facebook coloca no mural de cada um.

Mas, tão grave como tudo isto, são as cancelas abertas que o Facebook tem, permitindo que empresas como a Cambridge Analytica vão lá abastecer-se de todo o valioso manacial de informação que lhes permita depois conhecer tão bem as pessoas que conseguem manipulá-las a seu bel-prazer.


É sabido como a vitória do Brexit ou a vitória de Trump foram fortemente alavancadas por campanhas políticas customizadas dirigidas aos gostos e receios dos eleitores, quase um a um. 

Se as pessoas não andassem tão anestesiadas, forçariam os seus governos a investigar e/ou multar o Facebook ou, mesmo, a interditá-lo enquanto todas as regras de compliance não estivessem cumpridas. No entanto, há tantos milhões de utilizadores e tão dependentes que dificilmente perceberiam uma medida tão radical.


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Para ajudar na compreensão do tema, dois vídeos, um de 3 minutos e picos e um outro de 16 minutos.
Cambridge Analytica claims to use data 'to change audience behaviour'. But now a whistleblower, Christopher Wylie, has come forward to expose the company's practices. Wylie describes how its CEO, Alexander Nix, attracted support from then-Breitbart editor, Steve Bannon, and investment from billionaire Robert Mercer before obtaining help from Cambridge professor Aleksandr Kogan to harvest tens of millions of Facebook profiles.


The British data firm described as “pivotal” in Donald Trump’s presidential victory was behind a ‘data grab’ of more than 50 million Facebook profiles, a whistleblower has revealed to Channel 4 News.
 
In an exclusive television interview, Chris Wylie, former Research Director at Cambridge Analytica tells all.


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sábado, março 04, 2017

Facebook e Democracia
- ou como os likes já servem para manipular o sentido de voto -
[Um texto para o qual peço a vossa melhor atenção, com os devidos agradecimentos ao meu filho que o escreveu para os Leitores do Um Jeito Manso]


Explicação



No outro dia, o meu filho enviou-me o link para um artigo do The Guardian, dizendo que, se eu tivesse tempo para o ler, seria um bom material para o Um Jeito Manso.

Dei uma espreitadela e pareceu-me do mais interessante que tenho lido nos últimos tempos. Contudo, acontece que o artigo é extenso e eu, nesta fase da minha vida, conto os minutos a ver se lá consigo encaixar as horas de que necessitava, não me sobrando tempo para trabalhos extra que requeiram alguma disponibilidae. Apesar de o saber igualmente atarefado (para além de que três crianças pequenas em casa é obra...), quase a medo, perguntei-lhe, então, se não quereria ele digeri-lo e escrever um texto para que eu aqui o divulgasse.

Não me respondeu mas hoje enviou-me o texto que abaixo divulgo, pedindo a vossa atenção para o tema que merece reflexão já que tem tanto de preocupante como de pouco conhecido.


Introdução 

O artigo a que se refere o texto abaixo tem um carácter factual e é apresentado no The Guardian. Intitula-se Robert Mercer: the big data billionaire waging war on mainstream media


Considerar o seu teor como verídico ou não fica a cargo do leitor.  Tendo em conta o que o próprio texto diz, essa opção pode ser perigosa…

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Um dos principais financiadores da campanha do Trump é um tal Robert Mercer, com um contributo superior a 10mn$.  Trata-se de mais um “génio” que fez uma fortuna de biliões com um misto de capacidades informáticas e investimentos bem sucedidos.


Um dos investimentos mais recentes é a empresa Cambridge Analytics (CA). A CA é, para todos os efeitos, uma muito bem-sucedida empresa de marketing que processa os perfis de milhões de utilizadores do facebook e outras redes sociais com o objectivo de ajustar campanhas ao público alvo e obter um feedback imediato (à velocidade de um like).


De acordo com o próprio site, a CA processa mais de 5,000 informações relativas a 220 milhões de eleitores americanos. De acordo com o artigo, existe uma forte relação desta empresa com aquilo que foi uma eleição com um resultado no mínimo inesperado. Isto é a ponta do iceberg.

Vamos então ver a enormidade que se esconde debaixo de água.

Alexander Nix, CEO da CA

A CA agrega a capacidade de processar quantidades massivas de dados (big data, a chave do marketing do futuro) com algoritmos de inteligência artificial, IA, (machine learning, a próxima revolução industrial / económica). 


O facebook é, aparentemente, o principal fornecedor de matéria prima, a big data, que agrega dados relativos aos perfis e preferências dos seus utilizadores. Os algoritmos de IA extraem conclusões de forma adaptativa, ou seja, adaptam-se às características de cada indivíduo, de forma a aprender com o seu comportamento, o que motiva, o que chateia, o que agrada, etc. Esta dicotomia – grandes quantidades de informação, capacidade para aprender com cada peça individual de informação – dá origem a uma arma poderosa de marketing.

Tudo isto parece muito “futurístico” mas tudo isto está muito presente e os riscos são reais -- e essa será a parte interessante, a que devemos estar atentos.

Um especialista na matéria, citado no artigo, refere que, recolhendo a informação relativa a 150 likes, o modelo (baseado em IA) consegue prever o comportamento do indivíduo melhor que o parceiro, com 300 likes prevê melhor que a própria pessoa.

O Brexit e o TrumpIn aparentamente beneficiaram desta poderosa ferramenta. 

Como? 

Obtendo feedback imediato das palavras e acções dos candidatos. Como se, para cada parágrafo, houvesse uma taxa de aceitação. Como se, para cada proposta, uma eleição imediata. O modelo vai extraindo conclusões e informando o staffing da campanha sobre o caminho a seguir. O candidato adapta-se às vontades dos eleitores, cavalgando os seus medos, os seus ódios, os seus traumas, pois esses são os sentimentos mais fortes, mais fáceis de despertar numa massa eleitoral, que cada vez mais se foca no imediato.

Compreendendo as reacções dos eleitores e prevendo tão perfeitamente as suas reacções, sendo certo que o que se pretende é uma aceitação generalizada que, no fim, conduza ao voto na urna que permita a eleição do candidato ou a vitória no referendo, ou já agora a subscrição deste serviço ou a compra deste produto (it’s all business, right?), a manipulação torna-se facilmente acessível. As noticias falsas, ainda que sem conteúdo, podem ser rapidamente propagadas no facebook e outras redes sociais. Com a repetição suficiente, o tema torna-se potencialmente relevante, especialmente se o seu conteúdo estiver “adaptado” ao que as pessoas pretendem ouvir, se mexer com as suas emoções, se for “hot” nas redes sociais.

Há um outro artigo interessante que refere que uma parte relevante das notícias falsas relativas a Hillary, que circularam durante a campanha, foram criadas a partir de Veles, uma cidade na Macedónia. 


Adolescentes que se conheciam e com conhecimentos básicos de internet concluíram que se criassem muitos sites com noticiais falsas, mas que potencialmente aparecessem no Google, ganhariam imenso dinheiro com anúncios (gerados automaticamente pelo Google) colocados na própria página. O conteúdo pouco interessava, bastava o título. 

Alguns destes miúdos ganharam dezenas de milhares de dólares. Porquê? Porque à velocidade da partilha nas redes sociais, milhares ou milhões de pessoas clicavam para ver a notícia – fake news, sem hackers do KGB, apenas miúdos a ganhar uma pipa de massa. 

Porque anti Hillary e pró Trump? Aparentemente porque funcionava melhor.

Atenção: estes sites não se relacionam (aparentemente) de forma alguma com a CA. 

Mas podemos especular que foi o ímpeto propagandístico que a campanha tão bem criou, sem dúvida com o apoio da CA, que levou a que a massa eleitoral estivesse especialmente desperta para os assuntos relacionados com a campanha baseada em factos falsos contra a Hillary.

Agora podíamos ir por aí a fora e discutir a questão da regulamentação (ou ausência dela) que permite que o facebook transacione dados de milhões de utilizadores. Ou discutir sobre os partidos que se perfilam como combatentes vanguardistas desta guerra de informação. Ou sobre a matriz capitalista por trás deste enorme esquema. Mas…

Para mim, é mais interessante debater a raiz do problema. 

Este processo é profundamente democrático ou profundamente antidemocrático?

Democrático: a campanha adapta-se à personalidade da maioria dos eleitores e reflecte as suas preocupações. Diz o que querem ouvir. Propõe as soluções para os problemas mais prementes. Da mesma forma que procuramos o resultado do benfica no Google, entramos no site do bet.com, e como anúncio no sidebar temos o booking.com com casas no algarve, porque foi o que procurámos ontem.

Manipulação ou adaptação?

Antidemocrático: tema complicado -- não deveriam ser as elites a governar? Com pessoas dedicadas a temas específicos? Com curriculum? As elites não têm de dizer o que o eleitores querem ouvir, têm de apresentar um programa, que de acordo com a sua matriz ideológica se comprometa com opções e estratégias que se afigurem como soluções adequadas para os problemas e desafios que se colocam. Governar não pelo que está correcto, mas pelo que as pessoas querem ouvir, especialmente, se tiverem sido incendiadas com temas fracturantes e inflamatórios pode ser perigoso. Temas como racismo, xenofobia, homofobia, a fábrica da cidade que fechou, a mina de carvão que já não funciona, tornam-se os temas relevantes, em detrimento da integração e igualdade, de receber refugiados sem pátria que fogem com filhos ao colo de guerras sem nexo, da adaptação a uma globalização inevitável num mundo conectado, do aquecimento global.

Se é para por o povo a escrever o guião, então, temos de ter um homem novo, capaz, culto e educado. Não os broncos americanos dos estados centrais, que nunca viram o oceano e não sabem o que é a Europa.

Dito isto, e porque o tema não é fácil e as conclusões não são óbvias, se é para ter uma opinião então olhe-se para os resultados. Seja o processo democrático ou não, temos o Brexit e o TrumpIn. 

Good or Bad News? Depende se estivermos do lado dos 50% vencedores ou dos 50% derrotados. Outra forma de dizer: dos 50% manipulados ou dos 50% que ainda não se deixaram vencer…

Pelo menos uma coisa sei, não tenho e não terei conta no facebook…



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Agradeço ao meu filho o trabalho que teve a escrever o texto que acabaram de ler

(... embora, do que lhe conheço, anteveja que o escreveu de bom gosto)

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A escolha das imagens é da minha responsabilidade.

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Para ilustrar o pouco admirável mundo novo de que o meu filho fala acima e no qual já vivemos, dois vídeos:

O Futuro das Campanhas Políticas segundo a Cambridge Analytica




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E aqui abaixo se explica como se cria um vencedor numas eleições
Quando o vídeo foi gravado ainda o senhor que aqui abaixa fala, Alexander Nix, andava a trabalhar para colocar Trump na Presidência dos EUA.


Agora já sabemos que foi bem sucedido. Onde se metem é para ganhar.

Os partidos democráticos, habitados por gente séria, idealista e pura, que se cuidem

The Power of Big Data and Psychographics


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Há uma reflexão a fazer, disso não tenhamos dúvidas.

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