Que não se pense que me armo. Nada. Não é isso.
A questão é que, por ter que me movimentar bastante entre distâncias que são razoáveis, não apenas a nível pessoal mas, sobretudo, a nível profissional, me vejo forçada a deslocar-me de carro. E, por isso, não sei há quantos anos não ando de transportes públicos. A última vez foi há uns bons anos e foi uma pequena deslocação de autocarro (de que aqui dei conta pela diversão que foi).
De metro, então, nem faço ideia. Resmas, paletes. Muitos anos.
A questão é que, por ter que me movimentar bastante entre distâncias que são razoáveis, não apenas a nível pessoal mas, sobretudo, a nível profissional, me vejo forçada a deslocar-me de carro. E, por isso, não sei há quantos anos não ando de transportes públicos. A última vez foi há uns bons anos e foi uma pequena deslocação de autocarro (de que aqui dei conta pela diversão que foi).
De metro, então, nem faço ideia. Resmas, paletes. Muitos anos.
Ainda ontem conversávamos sobre isto: o mundo desorganizou-se de uma forma irracional.
O número de carros que invadiu as cidades é um absurdo. Há gente demais a trabalhar longe das suas casas, tendo que se deslocar bastante. Como frequentemente não há transportes directos acabam por usar o carro, em especial se tiverem que incluir no trajecto a escola dos filhos. Tenho alguns colegas que usam os transportes públicos mas apanham quatro transportes para chegar ao emprego, consumindo nisso quase duas horas (duas para cá mais duas para lá). Esses são os que não têm dinheiro para irem de carro.

E sei do que falo pois, apesar do cu tremido, não são negligenciáveis as horas que também estupidamente desperdiço.
As ruas estão pejadas de carros. Nas ruas, em pára-arranca, nos passeios, em cima dos passeios. Carros, carros e mais carros. Já nem falo na poluição, problema maior. Falo agora na invasão territorial, retirando a possibilidade às pessoas de andarem nos passeios, desfrutarem a cidade.
No dia em que os aspectos da sustentabilidade do planeta e da qualidade de vida das pessoas forem levados a sério, uma quantidade de políticas integradas e disruptivas terá que ser posta em marcha.
[Pena que, em vez de se limitarem andarem de roda de temas do tamanho de golas, os políticos não se ocupem de coisas verdadeiramente relevantes)
[Pena que, em vez de se limitarem andarem de roda de temas do tamanho de golas, os políticos não se ocupem de coisas verdadeiramente relevantes)
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Este punk alternativo, leva uma tira de entrecosto na cabeça |
Não sei se as medidas passam por fazer pesar crescentemente a fiscalidade sobre cidadão em cujas habitações exista mais do que um carro, se simplesmente por aumentar os transportes públicos de qualidade. Ia escrever de qualidade e rápidos mas não é preciso pois, mal se consiga reduzir o número de carros em circulação, o trânsito fluirá melhor. E outra coisa que, de resto, já se vê bastante em Lisboa: ter cada vez mais vias bus. Se se facilitar a vida aos transportes e complicar aos carros individuais os hábitos começarão a mudar.
Mas, enfim, quando a questão é sistémica, para actuar sobre ela é preciso actuar em todas as suas variáveis. E são tantas. Portanto, nem vou aqui dar palpite porque o assunto é sério, é para urbanistas, para gente que estudou e sabe do assunto, não para amadores especialistas em palpites.

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Reparem na bolsa que o senhor leva na mão (mais do que uma bolsa, uma escultura em madeira) |
E depois há outra: tenho ouvido dizer que as estações de metro estão uma graça, com obras de arte, coisa de dar gosto. Quando confesso a minha pecha, não acreditam e vão desfiando: 'Mas quê?! Nem a do Chiado?!' e vão dizendo uma atrás de outra. Galeria de arte que um dia terei mesmo que frequentar.
Quando andava a estudar, deslocava-me de metro que me fartava. E gostava. Arranjando-se lugar sentada, então, até dava para ler. Bem bom.
Como sempre gostámos de fotografia, durante alguns anos assinávamos a Photo. E lembro-me bem de algumas reportagens feitas no metro de Nova Iorque, Coisas do além, as que se viam. Por cá tudo muito neutro, muito mediano e, por lá, de vez em quando, cada excêntrico, cada exótico mais engraçado...

Estive a ver de gosto (e aconselho a que vão até lá para ver se também não ficam a ver de gosto como eu). Da minha parte, ainda maior teria sido o gosto se pudesse tê-las visto ao vivo e, oba!, fotografá-las.
Acho mil vezes mais piada a coisas assim do que ver gente muito emproadinha.
No outro dia tive um almoço de trabalho num dos restaurantes icónicos da cidade. É grande, muito bem decorado, muito caro, cheio de empregados que se sentem gente muito importante, nobres de gema. Enquanto lá estive, vi chegar, em separado e para mesas distintas, um reputadí$$imo e pentadí$$imo advogado da nossa praça, pouco depois um conhecido especialista numa dada matéria e, por isso, presença assídua nos comentaderos da TV e, pouco depois, o empertigadote líder parlamentar de um partido da oposição acompanhado por um trio que cá para mim eram de um jornal (e a ver vamos se, um dia destes, não vai sair uma cena daquelas 'à mesa com'). Tudo gente apertadinha, daquela que não parte um pratinho, gente dentríssimo da caixinha, sem um fio de cabelo descomandado-zinho. E eu, igualmente rodeada por ilustres cavalheiros bem comportados, só pensava que haveria de ter graça se, numa mesa qualquer, alguns dos comensais, indo ao engano, se apresentassem em contramão, ruidosos, uns declamando poesias do Bocage, outros cantando canções de escárnio e maldizer. Isso, sim, é que era. Mas não. Tudo bem comportado do princípio ao fim. Além disso, o arroz estava mal cozido, encruado. Não paguei a conta mas é daqueles almoços que grátis mais grátis não pode haver. Além disso, puxa, a pagar é que lá não punha os més. Mesmo.
Cenas.
Cá por mim, mal por mal, mil vezes preferia ir passear com um cacho de bananas pela trela.
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Cá está: um cacho de bananas com uma trela, como se fosse um animal de estimação |
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E, a despropósito, dois vídeos muito bons com o doçura e o afecto que o sotaque brasileiro confere à língua portuguesa
David Sacks, que gravou com Tom Jobim, e Nelson Faria tocam e conversam sobre a Bossa Nova
E uma vez mais, aqui, um vídeo precioso pela voz e pelas coisas extraordinárias que a voz diz:
Manoel de Barros - O Livro das Ignoranças, Mundo Pequeno e Autorretrato
E agora vou dormir uma little sesta que o meu corpo continua a exigir que eu reponha as horas que não usei na noite de sábado para domingo. Se acordar pode ser que ainda cá volte porque hoje é daqueles dias em que assunto tenho bué