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terça-feira, agosto 13, 2024

Abelhas e mais abelhas e mais abelhas.
Alguém tem explicação para o fenómeno?

 

De vez em quando desce em mim o espírito da Maria Faxineira. Em dias assim levo tudo à frente. 

Foi hoje. Os móveis vêm para o meio das divisões, os sofás para o meio da sala, os tapetes depois de bem sacudidos vão todos para a rua apanhar sol. Uma revoada de limpeza, a casa fica toda a reluzir.

E junto à salamandra, por trás, havia umas manchas que não saíam nem por mais uma, pareciam de ferrugem mas uma ferrugem que se tinha infiltrado na tijoleira. Lembrei-me de lhe aplicar aquela espuma removedora de fungos e bolores e o milagre deu-se. Num ápice, a coisa tinha-se dissolvido. Magia. Só me apeteceu ir de frasco em punho a experimentar em todo o lado em que detectasse alguma pinta mais suspeita. Mas fiquei-me por ali. 

Mas a notícia não é isto até porque limpezas de prego a fundo supostamente toda a gente as faz, pelo menos de vez em quando. A notícia é que na sala da televisão (a tal já referida num vídeo que fiz há uns dias), ao ter os móveis e sofás todos desalojados, fui dar com carradas de cadáveres de abelhas, algumas já mumificadas, estaladiças. Não as contei, nem me deu para tal de tão estupefacta estava. Mais de 20? Seguramente. 

De onde vem todo este enxame? Mas o que vem a ser isto?

E o pior é que, mesmo connosco por perto, tem sido uma invasão. Estava de vassoura e esfregona e sempre a ver quando é que ia ser atacada pois, como drones, lá andavam elas a sobrevoar a zona.

Ainda há pouco, estávamos a jantar na cozinha, e uma a dançar sobre nós. Tendo já sido picada duas vezes, a sério que fico logo com medo. O meu marido, praguejando, levantou-se e deu-lhe um chega para lá, empurrando-a para a zona do lava-louça. Depois, lá, deu-lhe uma toutiçada e atirou-a para dentro do lava-louça. 

Andamos a achá-las desorientadas pois não têm dado grande luta. Pelo menos, não tentam contra-atacar. 

Mas a verdade é que esta até me fez lembrar a Glenn Close na Atração Fatal em que, quando parecia que estava morta, reaparecia, levantava-se da banheira, pregava sustos do caraças. Assim a abelha. Abríamos a água, parecia que se finava e, no segundo seguinte, saía do ralo e tentava pisgar-se. Uma cegada. Teve que ser morta à força.

Aqui na sala, estava eu de pé, veio uma lançada, a silvar na minha direcção, pensei que ia atirar-me ao chão, dei um grito que o meu marido até se assustou. Mas afinal passou a rasar e seguiu. Mas tirando estas, mais umas poucas. O meu marido tenta salvá-las e atirá-las para a rua. Mas outras, coitadas, têm que ser sacrificadas. 

São enormes. Nada a ver com as gordas cabeludas lá da outra casa, as que andam a pé e que já me picaram. Estas são elegantes, cinturinha de vespa, anquinha redonda, compridonas. 

Há bocado, já lusco-fusco, eu e o meu marido estávamos na rua quando o meu marido soltou um dos seus sonoros palavrões. Não percebi a que se devia, estava um ambiente tão calmo, mas, quando olhei para ele, não deu para não captar. Tinha uma agarrada, bem gigante, ao polo. Parecia ele que andava a passear com uma boazona de cinturinha fina ao colo. Despiu-se, ficando com a abelha no meio da blusa. Neste caso conseguiu sobreviver (a abelha, claro). Sacudiu a blusa e ela lá foi à sua vida.

Mas isto é normal? Eu, que já sou VCC, nunca tinha passado por tal situação. Alguém sabe explicar-me o que se passa com as abelhas, caraças...?

Mas, pronto, tirando isto nada mais tenho a reportar. Só que, para além das limpezas, houve lavagens de roupa. E se há coisa de que gosto é de ter a roupa estendida ao sol, parece que fica duplamente limpa. Por isso, ando a ver toda a roupa que consigo desencantar para lavar. É como com os figos, não consigo ficar-me pelo primeiro (neste caso pela primeira lavagem). 

Só não dei óleo nas madeiras, coisa que costumo fazer sempre nestas ocasiões. Mas com a cegada das abelhas, até se me varreu. A ver se esta terça-feira me aplico neste capítulo. 

As madeiras das portadas também estão a pedir daquele verniz impermeabilizante de que não digo o nome para não pensarem que estou a virar influencer e a publicitar marcas. Mas esse é pelouro do meu marido e ele tem andado ocupado a desbastar árvores. Se lhe vou agora falar nas portadas, não vai estar receptivo. Por isso, escuso de andar a queimar cartuchos.

E é isto. 

terça-feira, outubro 18, 2022

Hoje estive a destralhar a história da minha vida

 


Hoje desceu em mim o espírito da mariazinha-arrumadeira. Quando isso acontece, funciono quase de arrastão e ganho tal embalagem que custa a parar. Interrompi à força porque passa da uma da manhã e queria vir aqui dar um alôzinho.

De vez em quando há palavras que nascem e, se nascem no ninho das redes sociais, logo viralizam. Creio que destralhar seja uma delas. E foi isso que comecei ao fim da tarde e que continuei, embaladíssima, a seguir ao jantar. Creio que vai talvez nem a meio. Destralhei que me fartei. Tudo o que vagamente me pareceu lixo foi sem olhar, à cara podre. Lixo. 

Aquilo bem pergunta: "tem a certeza que quer eliminar definitivamente?"

Yes! -- respondo eu sem pestanejar.

Acontece que, desta vez, o lixo não é roupa ou papéis velhos: desta vez o lixo é digital. 

Ao longo dos locais por onde passei para aí nos últimos dez anos fui arrastando as caixas de correio. Hoje resolvi que era tempo de limpeza. Já apaguei cerca de catorze mil mails profissionais. Sinto-me feliz. Gosto de fazer limpezas profundas.

Claro que de vez em quando fiquei intrigada. Outras nostálgica. Por exemplo, encontrei muitos mails que não têm préstimo profissional mas que não fui capaz de apagar. A mulher de um colega amigo era uma inesgotável fonte de piadas, anedotas, imagens divertidas, vídeos malucos. Mandava ao marido por mail e que ele encaminhava para o grupinho de amigos mais chegados. Geralmente tudo na vertente picante. Era médica e divertidíssima. Já aqui falei algumas vezes dela. Era médica e escondeu de todos o estado gravíssimo em que estava. Quando quase não se conseguiu mexer e a família percebeu que era mais que cansaço, já teve que ir ao colo para o hospital, morrendo dois ou três dias depois. Dias antes tinha-me ele ligado dizendo que estavam bons, que ela estava ali a mandar beijinhos. Não apaguei esses mails. Não os abri pois veria o mail dela para o marido e veria os comentários -- do mais malicioso e brejeiro -- que ela fazia... e ficaria com pena por uma pessoa assim ter morrido tão inexplicavelmente cedo.

Outros mails que não apaguei mas que vou ganhar coragem para fazê-lo são de um colega que vivia para o trabalho, andava sempre enervado, os outros nunca faziam as coisas no grau de perfeição que ele exigia. Por vezes, vendo-o possesso, temia que ele rebentasse de fúria. Ficava vermelho, parecia que inchava, a voz alterava-se. Penso que a tensão arterial deveria bater no tecto. Começava a trabalhar às sete e tal da manhã e trabalhava até às horas que, na opinião dele, fossem precisas, oito, nove, dez da noite. Andava sempre com uma pasta repleta de dossiers e parecia carregar ali o seu mundo. Às tantas mudei de empresa e de instalações. Ele não. Um dia ia eu para o norte e parei numa estação de serviço. Deviam ser umas sete da manhã ou antes. À minha frente estava um homem que não reconheci. Quando ele pagou, virou-se para sair e deu comigo. Exclamou o meu nome, cumprimentou-me. A voz era a dele. A pasta pesada que levava na mão também era a dele. Mas era menos de metade dele e estava cinzento e todo ele estava outro. Fiquei em estado de choque mas tentei não demonstrá-lo. Parecia um cadáver. Quando comentei com um outro, fui informada que ele estava com um cancro, terminal. Continuava a trabalhar como sempre o tinha feito, nos limites da exigência, tentando a perfeição. Morreu pouco depois. E, segundo me contaram, os seus serviços continuaram a funcionar, a funcionar bem e sem se dar pela sua falta. Talvez seja um pouco triste constatar que somos todos descartáveis, mesmo os muito bons, mesmo os muito dedicados e perfeccionistas.

Vi também uma lista imensa de mails de um nome que não me dizia nada. Ao longo de anos, mails e mais mails e mais mails. Abri alguns. Lembrei-me. Era uma rapariga, muito simpática e certinha. O último mail era de despedida. Dizia que ia 'abraçar um novo desafio', agradecia a colaboração e o apoio. Tinha-me esquecido completamente dela.

De uma outra, páginas e páginas de mails. Uma colega com quem não podia, daquelas que está sempre a querer mostrar serviço, sempre competitiva, sempre a insinuar-se junto de quem ela achava que poderia levá-la mais longe. Uma fulana insuportável. Uma vez estava a ter uma reunião com ela, já fora de horas. O telefone não lhe parava de tocar. Ela desligava-o, furiosa. Eu disse: 'Não quer atender?'. Acabou por atender: 'O que é que foi?! Não viste que não te queria atender!?' Do lado de lá uma voz de miúdo. E ela 'Sei lá a que horas vou! Que pergunta é essa? Vou quando puder ir.'. O rapazinho dizia qualquer coisa e ela, enraivecida: 'Sei lá o que é o jantar! Não estou em casa! Resolvam!'. Fiquei chocada. Perguntei se era o mais novo. Disse que sim, agastada. O miúdo deveria ter uns catorze. O mais velho uns dezasseis. Eu que sempre larguei tudo para atender os meus filhos e que jamais falaria assim com eles ou os deixaria sem jantar fiquei estarrecida. Quando mudei de empresa, uma das coisas boas foi deixar de ter que aturá-la. Há pouco tempo soube que ela, entretanto, também mudou de empresa. Portanto, tudo o que para ela parecia caso de vida ou de morte, deixando-me várias vezes em ponto de rebuçado, está agora nas mãos de outro responsável que, segundo ouvi dizer, é uma pessoa tranquila, o oposto dela. Parece que festejaram quando se foi embora e agora tentam apagar-lhe o rasto. Penso que é de pessoas assim que se diz que são tóxicas. Não apaguei a troca de mails com ela mas tenho para mim que são capazes de ir à vida numa segunda monda.

Também tenho páginas de mails trocados com um amigo que saiu para ser ministro e com quem continuei a trocar mails mesmo quando ele já tinha voltado à sua actividade normal, não na mesma mas noutra empresa. Alguns mails bem divertidos. 

Parte da história da minha vida passa por estes mails. E o que concluo é o de sempre: tudo é transitório, tudo é efémero. E quem se acha muito importante e julga que tudo pode está muito enganado, muito enganado...

Amanhã vou continuar a limpeza. Não vejo a hora. Love, love, love. É como varrer: adoro. 

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Um dia bom

Saúde. Bons ares. Paz.