Nem todos os homens se podem vangloriar de estar sendo necessários a alguém. A vida é que está mal regulada. Eu compreendo que todas as energias pudessem ser mais bem aproveitadas. E o meu mal não é outro senão o convencimento em que estou de que tenho energia para mais.
Sou árvore que não frutifica quanto é capaz de frutificar, porque a plantaram em mau terreno... É a engrenagem da vida que está mal montada, amigo. Não é minha a culpa.
Seu tio sempre silencioso e triste? É uma atitude. Não lha invejo, mas acho-a acima do vulgar. Não se assiste impunemene ao espectáculo da vida. Felizmente o silêncio e a tristeza são cicatrizes que não envergonham ninguém. Há quem saia desse espectáculo miseravelmente, como duma derrota vergonhosa, cobardissimamente. Seu tio é um dos que detestam o papel de vítima. Faz bem, faz bem: é de homem.
Embevecido, os olhos ávidos nas minhas vestes em desalinho e nos graciosos caracóis que se espalhavam sobre a testa pálida, sua excelência forcejava por devassar as belezas escondidas. Recitando o seu caviloso discurso, o velho sátiro arrastava-se pelo tapete escarlate. Presto agarrou o pezinho descalço, cobriu-o de beijos húmidos e quentes. Um resto de pudor sustinha-me à beira do precipício, as forças já não respondiam, combalidas pelo inebriante filtro de amor.
Apelei para todos os meios de defesa que reclama a honestidade. O cruel assassino gargalhou sinistro e, desfazendo-se do colarinho engomado, voltou à carga. Servia-se com desenvoltura das armas usadas em tais embates, as mais pérfidas que se pode imaginar e seria impossível descrever.
- Mata-me, ó bruto apache! Não posso mais. Eu morro...
Gelou-me o sangue nas veias, a última duquesa diante do patíbulo.
Nada direi do crocodilo.
É um bicho tímido, reservado, a quem a realidade magoa os dentes.
Meio selvagem. Entre suspiros breves, gemidos fundos. Quase não fala - até hoje.
- Rapidinho, não quero. Seja uma vez só. Mas com tempo. Não de pé. Contra o muro.
(...)
- Quero te ver. Mais uma vez. Sei que dá em nada. Com vocês, homens. Faz o que quer. Depois nunca mais.
- Aí que se engana. Não eu.
- Te vejo sempre com outras. Sou novidade. Depois sem interesse. Só mais uma. Isso não me serve.
- Só depende de você. Mais que de mim.
- Agora eu vou.
Mil beijos loucos. As mãos duras por ali viajando.
- Te vejo de novo, baixinha.
- Qualquer dia. Qualquer hora. Sei lá.
- Estou sempre por aí.
[1]
Vê a ninfa
sair do bosque
Identidade intacta
como tem a rosa
O ruído e as palavras
tropeçam-lhe na língua
e no seu corpo desliza
o insaciável desejo [2]
E no meio de tudo isso o amor em que explodíamos, um dentro do outro, na nossa cama de todos os dias e nas camas casuais de outros lugares.
A química entre nós, aquela atracção quase magnética.
Tínhamos modos de ser, sentir e pensar, estimulantes e compatíveis e, como pensei muitas vezes, também mentalmente éramos amantes.
Mas não posso negar que o corpo tinha uma sabedoria só dele e a cama era o lugar número um do mundo. Todos os amantes sabem disso.
Éramos felizes, achávamos, sem palavras. Queríamos continuar assim.
[3]
Pousa a mão
no chifre do Unicórnio
Descendo
os dedos em torno
Como
se fosse...
A boca
do poço
A boca da face
A boca do corpo [4]
Dois dias depois (...) vi-me frente a frente com o meu belo anjo.
Estava vestida de freira.
Como a nossa ternura recíproca nos fazia sentir igualmente culpados, imediatamente nos pusemos de joelhos um diante do outro. (...)
Como os perdões que tínhamos que pedir um ao outro não podiam explicar-se por palavras, consistiram apenas num dilúvio de beijos num sentido e no outro, cuja força sentíamos nas nossas almas apaixonadas, encantadas nesses momentos por não precisarem de linguagem diversa para explicar os seus desejos e a alegria que as inundava.
[5]
Seduziste-me
Senhora
e eu deixei-me seduzir
de bom grado
No sigilo de vosso
colo
na devassa de vosso espelho
[6]
Bom, afinal estávamos a ter um romance.
Não se tem destas conversas se não se está a ter um romance.
(Eu pelo menos pensei isso, não sei o que pensaram vocês).
E essa era mais uma razão para eu ficar triste. Com o romance vinham os equívocos. Os equívocos geralmente vinham antes do romance, quando nem sequer havia romance nenhum nem estava para haver, mas isso não impedia que houvesse equívocos associados ao romance.
Havia-os de certeza.
Foda-se.
[7]
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1 - Excerto de A Polaquinha de Dalton Trevisan 3 - Excerto de A Cidade de Ulisses de Teolinda Gersão 5 - Excerto de História da Minha Vida de Giacomo Casanova 7 - Excerto de Os Idiotas de Rui Ângelo Araújo
2, 4, 6 - Poemas de A Dama e o Unicórnio de Maria Teresa Horta
As fotografias foram obtidas na internet e não consegui detectar a sua proveniência original.
O vídeo mostra Elis Regina interpretando Me deixas louca
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A propósito: sobrea baixa de natalidadee o quão preocupante isso é, desçam por favor até ao post abaixo.
(Espero que o post que acabaram de ler ajude, de alguma forma, a resolver o problema de que abaixo falo)
***
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quarta feira!
No post abaixo falo-vos de como os alemães se devem estar a atirar para o chão, a rir por verem a palermice dos portugueses todos contentes por irem pagar mais uma pipa de massa em juros do que eles, alemães, pagam e falo também da alegria do Gaspar todo deleitado com o ajustamento tão mais bonito e tal e coisa. Cenas.
Mas isso é no post a seguir a este. Aqui, agora, a conversa é outra. Vamos descontrair. Só um bocadinho que a noite já vai avançada.
*
Cinco da tarde. O anúncio pelo telefone:
- Como está você?
De saia ou vestido? Bem curto? Perna de fora?
O que está aparecendo? Sente um ventinho? Toda arretada? De sutiã? Nem precisa.
E calcinha? De que cor? Transparente? Dá pra ver o pente?
De saltinho alto? Boquinha pintada? Cabelo solto?
O que vai me fazer? Diga, amor. Me beija? Desde a pontinha da orelha?
Ai, sua diabinha. Até onde? Me deixa bem tarado? Faz tudo o que eu peço?
Sei de uma nova posição. Diferente. Nunca mais será a mesma.
*
O texto em itálico é um excerto, um pequeno amuse-bouche, de 'A Polaquinha' de Dalton Trevisan, Prémio Camões 2012.
*
Convido-vos ainda a virem comigo até ao meu Ginjal e Lisboa onde as minhas palavras voam como um pó feito de saudade em volta de um poema de Gastão Cruz. A música continua a ser a maravilhosa música do Mali, Ali Farka Toure.
*
E tenham, meus Caros Leitores, uma quarta feira muito feliz! Haja alegria!
No post a seguir a este falo das fundamentas razões para que Portas se tenha baldado à tomada de posse do Maduro, da forma como os irlandeses gozam com o Gaspar chamando-lhe Ministro das Finanças da Troika e do look de pintas do Relvas, agora com cabelinho puxado para trás à força de gel.
Mas agora, aqui, a conversa é outra. Com vossa licença, vamos lá.
- Só peço da vida ficar junto de você. Contemplando esse queixinho mais... Como pode se dominar? Eu, assim bonitinha, ficava me admirando no espelho. Nua eu me beijava por todo o corpo.
- O senhor parece louco - e uma risadinha de sapeca.
Enterrou o nariz no cabelo dourado, mordiscou a pontinha da orelha. (...)
- Perna comprida. É isso que está reparando?
- Sabe que esse joelho tem uma covinha?
- Cuidado, doutor. Não elogie tanto. Se eu gostar do senhor, como é que vai ser?
- Você é virgem, anjo?
- Certo que sou. Nem o doutor tinha o direito de perguntar. O senhor é pai, não é? Basta pensar nas suas filhas.
- Só perguntei porque sabia da resposta.
- Minha experiência começou tarde. O primeiro beijo eu dei com vinte anos. Assistia a cenas de amor no cinema e não me emocionava. Daí namorei um viúvo quinze anos mais velho. O primeiro beijo foi esse viúvo que deu. No começo não senti nada.Com a repetição fui vendo como é bom.
- Ah, é bom. Um beijinho só, anjo. Gostou do viúvo?
- Um pouco. Até hoje é louco por mim. Só eu querer, casa comigo.
- Gosta de homem mais velho?
- Prefiro um senhor maduro com experiência de vida.
- Basta ver o seu narizinho.
- Que é que tem?
- Ele fica maior quando você me olha. Os lábios são dois ninhos de beijos.
Bem quieta, deslumbrada, o dente branquinho; e repente, agarrou-lhe três dedos com a mãozinha suada:
- O doutor é mesmo um amor!
Ele arremeteu aos beijos no rosto afogueado, babujando o lóbulo da orelha. Apertava-lhe as bochechas em delírio:
- Que boquinha, anjo. Ó rostinho mais adorado.
Sopesou de leve o seio maduro, polpudo, com biquinho.
- Vim aqui de louca. Não fica bem. O pior é que gosto do sargento.
- Aposto que é um bruto, mau carácter, monstro moral.
- Sou moça direita. Preciso tirar o doutor da minha cabeça.
E o conto continua e neste e nos outros aparecem pequenas traições, pequenas fantasias, equívocos, desencontros, desentendimentos, amores falhados, desejos por satisfazer, amores proibidos, imaginados, perdidos.
Aqui há dias estava com vontade de falar neste livro, Guerra Conjugal, de Dalton Trevisan mas depois tive dificuldade em escolher um trecho, é tudo gostoso, uma linguagem suculenta, pitoresca, picaresca. Nesse dia acabei por optar por falar no amor de António José Saraiva e Teresa Rita Lopes (amor não isento de 'casos' intermédios e que, apesar de lindo, carinhoso e terminado, foi forte enquanto durou. E, Teresa Rita Lopes, mesmo depois de findo o amor enquanto base de uma relação conjugal, ficou, para sempre, ligada a ele através de um afecto absoluto).
Como quase todas as pessoas a quem a vida ainda não proporcionou um amor para a vida, Pedro Mexia gosta de falar da sua condição de solteiro e gosta de dissertar sobre a fragilidade do amor, sobre a precariedade dos laços, sobre as muitas possibilidades de que a coisa corra mal. Várias crónicas suas já versaram sobre este tema.
Não é o caso da crónica desta semana na revista Actual do Expresso, uma inteligente e muito interessante crónica sobre Bucéfalo, o cavalo que resolveu ser advogado 'num tempo em que, na ausência de grandes homens, temos que nos contentar com os seus cavalos'. Uma crónica brilhante, esta, escrita da forma escorreita e quase erudita a que já nos habituou (continuo a relutar em falar de erudição em relação a Pedro Mexia, não apenas porque ainda não tem idade para ser erudito mas porque enveredou por um caminho tão mediático que temo que se perca algures pelo caminho; os eruditos não costumam gostar tanto de aparecer, percebem os riscos que a exposição excessiva comporta).
Pedro Mexia
(aqui muito bem acompanhado: com um ex e com um actual do Governo Passos Coelho...)
(claro que esta fotografia aqui é meio disparatada mas encontrei-a e achei-lhe uma certa graça)
Mas, se não falou de acidentes e desgostos conjugais na crónica de 'Fraco Consolo', foi ao livro de Trevisan que se referiu na sua crítica literária desta semana, atribuindo quatro estrelas a este livro. Pontuação justa.
Foi com um sorriso que li a forma como Pedro Mexia foi varrendo as páginas desta Guerra Conjugal.
(...) Daí que estes casais de Trevisan vivam uniões frágeis ou fictícias: sentem-se viúvos, comunicam através de bilhetes acerbos, ela é com frequência esquiva, ele é corno manso, sofrem de varizes, derrames, frustrações. Um ou outro protagonista ainda se deslumbra poeticamente com a beleza física, narizinhos, maminhas, dedinhos dos pés, 'a bundinha era banda de música com bumbos e bandeiras'; mas o encantamento é fugaz, e dali a pouco eles xingam as mulheres de 'fêmeas' ou 'flores podres'. Elas são lixo. Eles também.
Escreveu Pedro Mexia e escreveu bem.
(Cá para mim, quando acabou de escrever, deve ter pensado: por estas e por outras é que não me caso.)
De qualquer forma, não interessa o que ele pensou lá da vida dele: o que interessa é que tem razão quando pontua bem este livro. A Guerra Conjugal é um livro mesmo bom. Dalton Trevisan é um mestre dos contos e da escrita em língua portuguesa
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As fotografias que ilustram este post são da autoria do fotógrafo Steven Meisel.
Já sabem que para saberem sobre algumas das últimas a nível da nossa pobre política, é no post abaixo.
Mas, se me permitem a falta de vergonha, muito gostaria de vos ter também lá pelo meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje, depois de ter lido um poema de Tatiana Faia, escrevo sobre um homem perdido nos seus labirintos, ocultando os seus pequenos medos. A seguir, na música, por recomendação de um Leitor a quem muito agradeço, tenho uma nova grande intérprete, Yuja Wang, que toca, ao piano, Chopin, Gluck e Strauss. Uma maravilha, é o que vos digo.
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E, por hoje, já chega.
Tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta semana.
Uma canção desnaturada - Chico Buarco e Elba Ramalho
- É amante da Helena. Confesse.
- Confesso coisa nenhuma.
- Meu amor, por que nega? Eu perdoo.
- Está louca, Elza.
- Faço nada. Só quero saber.
Ângelo deitado de pijama quando ela, tesoura na mão, chegou à porta.
- Sei quem é tua amante.
- Então diga.
- É uma loira.
- Quem te contou?
- A sortista.
- Está brincando, Elza.
- Ela nunca se enganou. Disse que você sustenta essa loira. Por isso chega tarde em casa.
- Mas eu não chego tarde. Sempre juntos à noite.
- O encontro de dia, não é? Mentir não adianta, meu bem.
Investiu contra ele, tesoura em punho. Elza era grande e forte, com dificuldade a desarmou.
- Sei que tem amante. Agora tenho certeza.
- Outra sortista, não é?
- Não me faz carinho. Sem amante não seria tão indiferente.
- Acha que posso te agradar, depois de tudo que me fez? Toda vez que entro em casa é uma cena. Se você me beija, reajo como homem. Mas ir atrás, tenha paciência, isso eu não posso.
- Nunca vi maior mentiroso.
Não o deixava atender o telefone, cheirava-lhe a roupa, revirava o paletó atrás de cabelo loiro. Em sobressalto, Ângelo despertado de sonho pavoroso. A luz acesa a, ao lado da cama, Elza afundava-lhe docemente a barriga com a ponta da tesoura.
- Não vai doer, querido. Nem vai sentir.
Soluçando, atirou-se ao seu peito, faminta de beijos.
Separados de comum acordo. Ela exigiu os filhos, a casa, o carro, uma mesada. Concordou e mudou-se para um hotel. Elza frequentava clube nocturno, procurava-o no escritório para contar do moço muito carinhoso - os outros não eram frios como ele. Ângelo ouvia quieto e calado.
Uma noite em que se dirigia, encolhido à sombra das árvores, do escritório ao hotel, um carro derrapou a seu lado, reconheceu os dois toques da buzina. Era ela, que o convidou a subir. Embriagada, saíu em corrida furiosa.
- Medo de morrer, meu bem?
- Pode me matar, é favor.Mas um de nós tem de cuidar das crianças.
Os faróis acendiam um, dois, três olhos de bicho nocturno.
- Peça perdão do mal que me fez, seu miserável.
- Tudo que quiser. Agora dirija como pessoa sensata.
- Você me dá pena, querido.
Com a violenta freada o carro quase capotou, ela o mandou descer. Obedeceu e, erguendo a gola do paletó, perdeu-se na estrada deserta. Os faróis assassinos a persegui-lo, mas não se afastou, disposto a morrer com dignidade.
- Suba, seu porco.
Sem discutir, subiu. Aquela noite dormiram juntos. Dia seguinte, escondido dos vizinhos, saíu bem cedo.
Para não pensar esqueceu-se no vício. Jogava noite inteira, bocejava no escritório. Caso discreto com uma viúva, a única mulher desde a separação.
Nos braços do amiguinho, Elza encontrou-o na boate. Aos gritos, rasgou o vestido da viúva, sacudiu-a pelo cabelo. Sem piedade os atormentava, jurando arrancar com as unhas o olho azul da outra.
Mão arranhada no bolso, Ângelo voltou a ficar só.
*
Música, uma vez mais, por favor
A vizinha do lado - Roberta de Sá
Um inferninho anunciou com estardalhaço a próxima atracção:
TÂNIA
BAILARINA FANTASISTA
No cartaz a fotografia colorida de Elza, quase nua: Estrela do bailado afro-brasileiro!
Ao batuque do tambor, entre as piadinhas cruéis da canalha, saracoteava pobre imitação de hula-hula.
Desonrado, em desespero, Ângelo decidiu matá-la. Só o pensamento dos filhos o afligia. Foi à procura do sogro:
- O senhor não pode fazer nada? Ela me arruinou, ainda não está satisfeita. Se oferece aos meus amigos e ainda vem me contar.
- Muita dó de você, Ângelo.
- Pedir à sua filha que me deixe em paz? Não viu no jornal o retrato nudista? Assim que recebe os amiguinhos.
- Eu não tenho filha. Para mim é morta.
Abriu a gaveta da escrivaninha:
- Tome este revólver e seja homem!
Ângelo apanhou a arma, foi até à morta.
- Meu filho.
Virou-se em silêncio.
- Se não matar aquela perdida... Quem te mata sou eu!
O revólver pesava-lhe no bolso, nunca dera um tiro. E gemia: Meu Deus, que será de mim? Rondou os clubes suspeitos, escondido atrás dos carros.
Quando a viu, nos braços de um gordo, agarrou o cabo de madrepérola. Queria matar e queria morrer, mas não tinha coragem. Cabeça baixa, voltou lentamente ao hotel: era um manso.
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Este conto chama-se 'Bailarina Fantasista' e é da autoria de Dalton Trevisan.
Pertence ao livro 'Cemitério de Elefantes'.
Como é sabido, Dalton Trevisan, 86 anos, é o Prémio Camões 2012e este livro é, até agora, segundo creio, o único publicado em Portugal.
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Otto Lara Resende diz que 'ninguém sabe quem é Dalton Trevisan. Deus mesmo não sabe e nem por isso se impacienta'. Ele faz vida de 'severo anacoreta' na Rua Emiliano Perneta, em Curitiba, de onde regularmente envia ao seu editor algum novo original.
Foi para escrever como escreve, 'cada vez mais embutido, no plano ínfimo, do seu território' (Otto Lara Resende), tratando o 'forte veio do erotismo' (Thomas Lask), intensificando 'o clima de humor negro e o grotesco da realidade' (Barbara A. Bannon), ávido de 'laconismo' narrativo e usando como mais ninguém o 'andamento em stacatto' (José Paulo Paes), 'meticuloso, um tanto obsessivo' (Emir Rodriguez Monegal), que Dalton Trevisan se refugiou no fundo da casa, portas fechadas à curiosidade dos caçadores do privado, sentado à secretária pelo menos cinco horas nos sete dias da semana. Entrevistas, deu duas ou três em toda a sua vida literária. Numa delas explicou que prosseguia um objectivo invulgar, o de fazer prosa como os japoneses faziam haikais.
Dalton Trevisan foi-se à eloquência e cravou-lhe a faca. Ironia, elipse, nenhuma cedência ao romantismo nem ao realismo mágico, aí estão outras armas brancas do escritor, afiadas à secretária-mesa-de-cela-monacal. Uma busca pela vivissecção?
Deus, na sua infinita misericórdia, desvia os olhos.
(Excertos do prefácio, intitulado 'Onde Deus volta a cara', da autoria de Fernando Assis Pacheco)
***
Tenham, meus Caros leitores, um belíssimo domingo!