O que está a passar-se com a Rússia ameaça a paz, ameaça os princípios mais básicos da civilização e da humanidade, ameaça o futuro de todos nós. E é tão grave, tão assustador que, para minha defesa, de vez em quando forço-me a desviar o pensamento de tamanha desgraça. Além do mais, não sei porquê, olho para o Putin e vejo uma alma penada, alguém que está de pé como se assim fosse estar para sempre, alguém a quem muitos milhões de pessoas por todo o mundo desejam que passe rapidamente à história, à história de sarjeta, que vá juntar-se à montureira onde se acumula a pior escória que o mundo produz.
Mas, para mim, hoje não é dia de dar palco a dead men walking, a zombies (corados como pêros saloios -- mas zombies), a assassinos bêbados do seu próprio veneno, a bandidos.
Hoje não consigo, hoje preciso de abrir espaço para me rir.
E um dos que sempre me faz rir, e que gosto de ver com os meus netos, rio que me farto, sempre, é o Mr. Bean. Se calhar é porque, em parte, me revejo um bocado nas atrapalhações dele, nos stresses agudos que ele sente antes dos grandes momentos.
Chegada a casa depois de termos ficado com os meninos enquanto os pais foram a uma cena, fomos dar uma volta nocturna com o dog de guarda que tinha ficado em casa. É bom andar a passear de noite. Zero pessoas na rua, claro. Os cães, em várias moradias, completamente desestabilizados e o nosso, feliz da vida, nem aí, a andar a saltitar e a correr todo contente pelo inesperado passeio com os donos regressados. Como à noite já está mais frio, tinha levado calças e, claro, os meninos andaram encostados ou por cima de mim. E devem ter deixado o seu cheirinho bom pois, uma vez regressada e a passear, a fera cabeluda andou o tempo todo a cheirar-me as pernas e a dar-me beijinhos e a cheirar e a dar saltinhos e todo ele estava radiante com o cheiro que eu trazia nas calças.
Quando, aqui chegada à sala e francamente com algum sono, abri o youtube. Claro, bingo, Putin e a sua última e macabra filha-de-putice. Não dá para acreditar no pesadelo que o mundo está a viver. Parece uma ficção estuporada, daquelas tão parvas e excessivas que chegam a ser cómicas.
Fechei.
Pus-me a ver o Pantanal e, quando dei por mim, percebi que tinha estado a dormir. Voltei a abrir a arca dos mil tesouros e escrevi Mr. Bean. O algoritmo percebeu a mensagem: a minha onda hoje não está para bandidagem, está para gente inofensiva cuja única arma é o sentido de humor.
O primeiro vídeo que me apareceu foi este fantástico que abaixo partilho convosco.
Mais uma cegada para os lados do Brexit. Não há explicação para o que se está a passar. Entretanto, nas ruas, uma maltosa altamente suspeita desfila a gritar 'Shame on EU'. Parecem hooligans, malta de gangs, de claques, fazem saudações que metem medo, dizem que foram traídos, querem sair da Europa. Outros são apenas excêntricos. Ou tias fora de tempo. Ou velhos nacionalistas desfasados da realidade. Ou gente que parece que chegou atrasada para os festejos de carnaval. Um grupo esparso e inconsistente. E vendo quem assim ainda continua a defender o Brexit percebe-se ainda melhor o tremendo disparate que os britânicos fizeram.
Já tenho visto, nas empresas, cometerem-se erros incríveis. A gente tenta perceber como foi possível ter acontecido uma decisão tão absurda e, mesmo depois de se ter percebido o erro que se cometeu, continuar a persistir-se nele, e não percebe.
Imagine-se isto a uma escala muitas mil vezes superior.
Que não haja uma figura acima disto a pôr fora de jogo quem já mostrou não saber jogar e a escolher melhor alternativa é coisa que ainda assusta mais. A rainha? Onde pára a rainha?
A vulnerabilidade dos povos é grande. Deixam-se empurrar, avançam determinadamente em direcção ao abismo e, mesmo que toda a gente veja o triste destino que se avizinha, permanecem incapazes de mudar de rumo. Muito preocupante isto a que o mundo está a assistir.
Mas já estamos no fim de semana e eu, depois de de um dia em parte preenchido por avaliações, eu como avaliada e eu como avaliadora, tudo coisas às quais não acho especial graça e tendo ainda em cima de mim o peso de saber que a parte pior é ainda a que me espera, nomeadamente o ter reuniões destas com algumas figurinhas complicadas, chego aqui, a esta hora, e falta-me vontade para dissertar sobre o tema.
Hoje, ao fim da tarde, alguém espreitou à minha porta e, do nada, perguntou-me: então agora o que é que vai acontecer depois do que sucedeu hoje? Embrenhada que estava nas minhas coisas, levantei a cabeça, admirada: o quê? Ele disse: isto do brexit. E eu, apesar de admirada, disse: alguma coisa vai acontecer pois não creio que caiam mesmo no caos. Ele seguiu e eu fiquei a pensar que, se calhar, daqui por algum tempo, vou lembrar-me do meu optimismo inocente.
Não será a primeira vez.
Há uns anos, estávamos numa reunião e um disse que estava preocupado pelo rumo que as coisas estavam a tomar a nível do BES, com o Banco de Portugal a agudizar a crise. Desvalorizei. Ainda vivia naquela tonta ilusão do 'too big to fail'. Lembro-me de ter dito que se o Banco de Portugal continuasse entregue às indefinições daquele que viria a revelar-se o Emplastro-Mor -- o tal que está em todo o lado mas está só por estar, para aparecer, para ser visto, para fazer número -- o Governo haveria de intervir. Não se deixa cair um banco daquele tamanho, sabendo que a sua queda arrastaria a queda de várias empresas, de ânimo leve. E, no entanto, aconteceu. O impensável aconteceu. E, no entanto, apesar da leviandade e incongruência da decisão, tanta gente apoiou, tanta gente ainda acha que foi dado o passo certo. E, no entanto, apesar dos custos brutais que a decisão acarretou e ainda acarreta, ainda há muita gente que não percebeu a dimensão do erro cometido.
São muito manipuláveis, as pessoas. Portanto, vulneráveis.
Mas isto não é tema para fim de semana, bolas. Se é para falarmos de desgraças que são tão estúpidas que até dão vontade de rir, então que entre quem sabe do assunto. E que entre também a Rainha, caraças, que se esta situação não está a pedir um gesto real então não sei qual é que pedirá.
Com os parabéns aos acertadores -- atribuindo o segundo lugar ao Francisco (e não o 1º porque não respondeu a uma e aqui quer-se rigor) e o terceiro com menção honrosa à JV (que só acertou em duas mas acrescentou graça às respostas) aqui ficam as soluções.
Faço notar que a minha filha diz que eu achar um piadão a isto é preocupante, diz mesmo que acha que é uma ganda nóia. Mas eu também acho graça a isto que ela diz. Portanto, nada a fazer pelo que, assim sendo, passo às soluções:
1. Porque é que colocaram uma cama elástica no Polo Norte?
E vá, para não ficarem stressados, a refilar que um post destes não está com nada, sugiro que aprendam a descontrair com os monges tibetanos, reproduzindo estes exercícios em casa.
Tinha avisado: alvorei. Ainda era madrugada quando desarvorei. Foi, pois, ainda de noite, parte da viagem. Ninguém merece. Tive um dia do esbeleleu. Estou incapaz de pegar num gato pelo rabo -- coisa a que, mesmo que estivesse transbordante de energia, não me arriscaria. E, como moral da história, apenas consigo concluir que é uma pena não haver feriados tão cedo.
Mas, às tantas, no meio de coisas sérias, arranjei maneira de espreitar -- e, juro, não consegui deixar de rir de gosto com a pergunta da erudita JV:
Será um pato que sofre de antipatia?? Já que se está a tornar expert em adivinhas e coisas do género, pedia-lhe então que me elucidasse quanto à seguinte questão, que me está a dar a volta à cabeça: se um pato gostar de patos, mas não de patas, poderá ser um pato antipática?
Claro que logo, logo, tive que fechar o semblante e fazer de conta que tinha acabado de ler um mail muito importante mas, por dentro, tenho andado divertida com esta do pato bicha, antipática.
E agora, com muita pena por não conseguir contrapor um outro trocadilho, limito-me a perguntar à JV: a menina dança?
É que, se dança, tem aqui um par à altura.
Thanks, JV, pelo bom humor que enxertou no meu dia.
Não vi, não ouvi. Cheguei a casa quase às nove da noite, mais saturada que sei lá o quê. Pelo caminho, não apenas vim a fazer os meus telefonemas diários como a ouvir música. Foi o meu marido que me contou. Sendo pessoa que, com facilidade usa o vernáculo quando em ambiente informal, estava incomodado com a falta de decoro do líder parlamentar do PSD bem como com as intervenções de outros elementos da bancada laranja. Depois, ao passar de raspão pelo Santana Lopes, vi-o, todo ele frescuras a mostrar agastamento pelas maneiras do seu antigo correlegionário. Fui agora espreitar as notícias e, de facto, pelo que leio confirmo que o PSD está mesmo a desaderir do seu eleitorado e a cavar um fosso entre eles e os portugueses bem formados e bem educados.
Poderia aqui contar umas coisinhas, vividas na primeira pessoa, com uma das personagens referidas nas notícias e até, mais recentemente, de uma cartinha dele. Ainda me lembro do meu cunhado que, nesse dia cá estava e com quem comentei a epístola, a ter lido e ter dito que às vezes de reencontros assim nasce um grande amor. Mas não aconteceu porque obviamente jamais aconteceria e porque não houve o reencontro ali sugerido. Mas isso também não é para aqui chamado até porque na altura a minha ideia dele não era exactamente a mesma que é hoje e porque de episódios pessoais não se constroem histórias colectivas.
O que sei é que, ao mesmo tempo, é uma pena e uma preocupação que não haja uma oposição decente e consistente. Embora eu seja apoiante deste Governo, considero que um regime democrático se fortalece com uma oposição inteligente e sensata. A sua ausência abre portas a movimentos populistas cujas consequências estão bem patentes por todo o lado e de que a vitória de Bolsonaro é apenas o último e caricato exemplo.
Portanto, não me apetecendo alongar-me mais sobre mais esta desastrosa performance do partido de Rui Rio e Fernando Negrão, passo a Mr. Bean. Não está no Parlamento mas, sim, num avião. E tem graça e é educado e simpático. Mas há ali qualquer coisa que me faz relacionar o vídeo com o comportamento da bancada laranja, a começar pelo seu inconveniente líder.
Já contei que tenho um amigo de quem muita gente diz que tem todo o ar de ter um piquinho a azedo. Isto dizem os subtis. Outros dizem outras coisas menos finas. Uns quantos, sem ele sequer imaginar, referem-se a ele como Madame Claudette. Eu não sei. Do que lhe conheço não o diria muito viril mas, quanto ao resto, não sei.
Agora uma coisa eu sei: não conheço ninguém que tenha maior reportório de anedotas de gays. Não há ocasião em que ele não se saia com uma. E é frequente, quando chega a um sítio onde estejam conhecidos, arranjar maneira de dizer piadas que metam gays. E, por ele, parece que meio mundo é gay. Tínhamos um colega, bem mais novo, que ele farejava como gay. E um dia veio contar-me que tinha visto o outro num bar com um amigo e que tinha a mão em cima da mesa, como que à espera que o outro a segurasse. Eu olhava para o rapaz e não lhe via jeito nenhum de ser gay mas o meu colega advertia-me que isso, na maior parte das vezes, não se vê. Ele lá sabe.
E vem isto a propósito de quê? Anda por aí um sururu sobre umas afirmações do Cardeal Patriarca Manuel Clemente que parece que prefere padres que gostem de mulheres (ainda que apenas platonicamente, I suppose). Não quer lá nos conventos padres que sonhem com marinheiros ou bombeiros ou que, à noite, quando estão com frio, saltem para as caminhas dos colegas e vão aquecer os pés no meio das pernocas peludas uns dos outros (isto admitindo que as depilações também são proibidas nos seminários).
Portanto, tivesse ele conhecido o bom do Wes Goodman -- casado e pai de família, todo machão, tdo militantemente anti-gays, todo só a favor dos casamentos naturais, homem-mulher, todo ele a boa consciência dos conservadores, cristãos, com uma mulher igual, organizadora de uma marcha anual anti-aborto -- e logo teria pensado que, não se tivesse o Wes casado, seria certamente um bom evangelizador da santa igreja católica, um caridoso e bom pároco, mas mesmo dos bons, daqueles viris certificados que dão uns padres a preceito.
A gaita é que o bom do Wes, afinal de contas, era um daqueles de tipo faz o que eu digo, não faças o que eu faço. E, para pasmo geral, um destes santos dias foi apanhado em flagrante a pinocar com outro homem. No gabinete. Truca-truca, anda cá que és meu.
Agora já veio pedir desculpa à comunidade e diz que se vai dirigir a um novo capítulo da sua vida, seja lá o que isso quer dizer. Claro que se se tratar (que essas maleitas tratam-se, não é?) e conseguir voltar a ser completamente anti-LGBT, pode sempre vir até Portugal a pedir asilo ao cardeal Clemente.
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A propósito disto de coiso e tal no gabinete, lembro-me sempre de um meu colega, casadíssimo, apaixonadíssimo pela mulher e, em simultâneo, um sedutor compulsivo, que conseguia que o mulherame se apaixonasse perdidamente por ele. Não têm conta as que lhe conheci. Namorava com elas à descarada e elas adoravam-no, perdoavam todas as suas traições.
Um belo dia, pediu a um certo administrativo que lhe preparasse um apanhado qualquer e pediu urgência. O homem ficou a trabalhar fora de horas para lhe entregar aquilo. E ele, no gabinete, presumo que à espera. Mas, hiperactivo como era, ou não teve paciência para esperar sentado ou recebeu visita de admiradora -- o certo é que a coisa se deu logo ali mesmo, em cima da mesa de reuniões que tinha no gabinete. Pois bem, estava o meu colega no truca-truca com essa sua namorada, uma senhora também bem casada, quando o dito funcionário bate ao de leve e, na maior inocência, abre a porta, dando de cara com aquele forrobodó.
No dia seguinte, mal cheguei ao meu gabinete já um outro colega estava a vir atrás de mim a saber se eu já tinha ouvido da bronca. Nada. E ele 'O coxo apanhou o X. em cima da F na mesa do gabinete'. E eu espantada, ainda sem captar a essência da coisa: 'Em cima? Mas em cima como?'. E o outro 'Caraças. A papar a F.' E eu de boca aberta. E ele 'Faça de conta que não sabe de nada. Foi o nosso Presidente que me contou mas pediu segredo'
Passado um instante, um telefonema da Secretária do Presidente, para eu ir ao gabinete dele. Mal lá chego: 'Já soube do X?' E eu: 'Não....' E ele, num stress e ao, mesmo tempo, divertido: 'O coxo apanhou-o em cima da F.'. E eu a fazer de conta que não sabia de nada: 'Não...'. E ele: 'Ouça. Já chamei o coxo e já lhe disse que não contasse a ninguém.' E eu : 'Mas como é que soube?'. 'Pelo próprio X. Mal aqui cheguei, apareceu-me com o rabo entre as pernas, a contar. Chamei logo o coxo. Acho que a coisa está controlada. Ninguém vai saber de nada. Já viu a barraca que seria...? Um director a ter relações com a tesoureira na mesa do gabinete...? Uma barraca...'.
Pois, pelo menos entre os directores, não se falava noutra coisa. Tudo divulgado pelo Presidente. Perante o insólito da situação ninguém se detinha para se lembrar do nome do funcionário que dera com a cena. Sabia-se que era coxo e só por aí já toda a gente o identificava, não havia lá outro.
Anos depois, numa remodelação qualquer, aquela mesa veio parar ao meu gabinete. E era inevitável que alguém sempre dissesse: 'Se esta mesa falasse...'. Ou, se alguém desconfiava que alguma coisa se poderia passar fora de horas em algum gabinete, logo se dizia: 'Mais vale despachar já o coxo para casa, não vá ele lembrar-se de ficar a fazer horas'
Mas, lá está, gostando de mulheres como o meu amigo gostava, o Cardeal Clemente aceitaria, de bom grado, que ele ingressasse na carreira eclesiástica. Santinho como ele era, haveria de dar um bom conselheiro matrimonial.
[E se falo no passado é porque infelizmente foi um daqueles que partiu cedo de mais. Muito cedo. Não tenho tido muitos colegas brilhantes mas este foi, seguramente, um deles. No velório lá estavam todas as suas namoradas, entre elas a protagonista da célebre cena da mesa. Choravam tanto quanto a viúva. Era um homem que vivia a vida de uma forma gloriosa].
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Quanto ao Wes, ao Cardeal Clemente e a outros anti-gays encartados nada mais tenho a acrescentar. Podia dizer que desejo que sejam felizes e tenham muitos meninos mas, lá está, se calhar isto de terem muitos meninos ainda pode prestar-se a alguma confusão, mais vale ficar-me pelo 'muito felizes'.
É verdade... Tenho uma dúvida. Só ouço falar na sexualidade desejável para os padres. Então e a das freiras? Quais as preferências do Cardeal? Podem ser das que são meiguinhas umas com as outras ou também devem ser das que gostam só de beijinhos de homens?
Ah, este Cardeal Clemente gosta de uma polémica, ah gosta, gosta. Ora vejam bem o tema que ele trouxe para cima da mesa:Igreja vai fazer testes para proibir seminaristas gays.Então isso são lá testes que se façam, oh Senhor Cardeal...? Mas pronto, se insistir, não me importo de fazer parte do júri de avaliação.
Para ajudar à festa, a coisa da televisão digital deve estar passada pois não fixa a imagem. Bem, não sei de que é. Antes esse aparelhómetro do que a televisão. Por isso, nem o telejornal vi. Por mim podia ficar ali assim mas o meu marido desligou, diz que não é maluco.
Estive a espreitar as notícias nos jornais e também não descortinei coisa que me apetecesse comentar. Muita banalidade ou déjá-vu. Ou se não é já visto é expectável. Coisa de uma pessoa ficar de boca aberta não me lembro de ter visto.
Portanto, com vossa licença, voltarei aos meus assuntos domésticos.
Não havia na vila, tivemos que ir mesmo à cidade. E na cidade também não foi à primeira. No supermercado só baldalhões. Ia sobrar muita, acaba por se estragar. Vimos um armazém que, ao contrário de alguns em Lisboa que inventam nomes poéticos ou pseudo-americanos para disfarçarem a origem, este não, este fazia-se mesmo anunciar como grande armazém do amigo chinês. Pensámos: tem tintas, de certeza. Pois não tinha. Pronto. Fomos à cidade.
No fim, estava a apetecer-me ir comer uns petiscos mas fui interceptada nos meus intentos: que não, o meu parceiro queria ainda ir dar uma demão para amanhã dar a segunda e fazer mais não sei o quê.
Já o fez e já vi que o degrau de entrada da cozinha está todo pintalgado. Não pôs plástico. Diz que é tinta de água, que sai bem. E, se lhe digo muito mais, ainda afina. Portanto espero para ver. No fim, ainda acabo eu a raspar aquilo. Faz tudo a despachar, sem cuidado, mas acha que eu é que gosto de embirrar. A minha esperança é que se encha de brios e deixe tudo limpo. Um muro que pintou de verde, hoje de tarde, está toda manchado. Já me ofereci para ir lá fazer pinturas, para disfarçar, mas disse-me para eu me deixar de ideias. Enfim. O costume.
Portanto, com isto tudo acabámos de jantar já perto das dez. Também o normal.
Da cidade chegam boas notícias e isso é que é preciso. Os que estão de boa saúde, aproveitam o bom tempo, os convalescentes convalescem em sossego. Não tarda já está tudo junto e na boa, chatices e sustos para trás, no passado.
E, assim sendo, já que amanhã de manhã tenho cá o homem da serra eléctrica que vem ver comigo afinal por onde é que se corta a azinheira (os cedros e pinheiros do outro lado já foram levemente aparados), não posso deixar-me estar para aqui nisto, senão daqui a nada é madrugada e acabo por nem ao fim-de-semana dormir de jeito.
De tarde, depois de vos ter contado as agruras azuis-alentejo, ainda conseguir ler um bocado. Sobre arquivos de escritores. O de Carlos Oliveira. O de Pessoa. Li trechos sobre os quais pensei que deveria transcrever algumas partes para aqui ficar com elas e para vos mostrar. Mas agora estou com preguiça. Só se for mais daqui a nada.
Pensei que, se eu um dia der em escritora (e não vale a pena rirem porque nunca se sabe, há talentos que apenas se descobrem perto do ocaso da vida; porque não eu, um dia que tenha tempo para me pôr a escrevinhar com tino...?), não vou ter arquivos nenhuns em papel. Não escrevo em papel, parece que não desenvolve tão bem como aqui. Os meus arquivos serão estas coisadas que para aqui vou alinhavando todas as noites. Não há arcas nem baús nem tesouros escondidos. Paperless. Desmaterializada. Tudo a céu aberto.
Agora vou é dizer-vos uma outra cosa: estive a ver as fotografias do casamento de Pippa Middleton, a mana da Kate. Claro está que o tema me deixa indiferente pois não sou dada a seguir os royals, quanto mais as irmãs das royals. Mas há um tema ao qual não sou indiferente: os chapéus. Love, love hats.
Assim de repente não estou a ver, nas minhas redondezas, alguém que esteja para se casar para eu ter pretexto para. Mas lá que bem que me apetecia ter motivo para usar um chapéu do género destes aqui, lá isso gostava. Um dia destes começo a usá-los para ir para o trabalho. Que frustração esta. Tanto que eu sou dada a usar chapéu e cá não há maneira de pegar a moda.
Aquele último, ali acima, com uma flor exuberantemente aberta ao mundo, é espectacular. Já estou a ver-me com ele. Mas onde, senhores, onde...? Terei que me recasar para organizar uma festa à maneira onde faça sentido usar uma obra de arte na cabeça...?
Bem. Adiante que se faz tarde.
Tirando isso, sobre o casamento da mana Pippa que casou com um milionário -- another one, lots of milionários lá por terras de Sua Majestade -- gostei também de ver os royalitos Charlotte e George, ambos umas fofuras de principezinhos.
Quanto ao Prince Harry, não apareceu com Meghan, a sua namorada plebeia e mestiça, e isso certamente desapontou muito boa gente. A mim nem por isso. Estou é mais ralada com a cena da árvore porque já sei que vai ser uma luta.
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Bem, para não dizerem que vieram aqui para nada, deixo-vos com um padre inexperiente a fazer o seu primeiro casamento.
Depois de no post abaixo ter contado a história do Poeta e do Alentejano com alguns extras de bónus, aqui, agora, prossigo com o humor que os Leitores me enviam.
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E que me perdoem a heresia já que gosto tanto de canto gregoriano que talvez não devesse trazê-lo para este texto mas, enfim, what the hell!
"Commovisti, Domine" in "In Paradisum - Les Soeurs"
Canto Gregoriano pelas Bénédictines du Barroux
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Um transeunte escorregou na rua, caiu e foi levado para o sector de emergência de um hospital particular, pertencente à Igreja, administrado por freiras. Verificou-se que teria que ser urgentemente operado ao coração o que foi feito com total êxito.
Quando acordou, ao seu lado estava a freira responsável pela tesouraria do hospital e que lhe disse prontamente:
- Caro senhor, sua operação foi bem sucedida e o senhor está salvo. Entretanto, há um assunto que precisa de sua urgente atenção: como pretende o senhor pagar a conta do hospital ?
E a cobrança começou...
- O senhor tem seguro-saúde?
- Não, Irmã.
Tem cartão de crédito?
- Não, Irmã.
- Pode pagar em dinheiro?
- Não tenho dinheiro, Irmã.
E a freira começou com suores frios, antevendo a tragédia de perder o dinheiro da conta hospitalar! Continuou com o questionário:
- Em cheque então, o senhor pode pagar ?
- Também não, Irmã.
Nessa altura, a freira já estava à beira de um ataque. E continuou...
- Bem, o senhor tem algum parente que possa pagar a conta?
- Ah... Irmã, eu tenho somente uma irmã solteirona, que é freira, mas não sei se ela pode pagar.
A freira, corrigindo-o disse:
- Desculpe que o corrija senhor, mas as freiras não são solteironas, como o senhor disse. Elas são casadas com Deus !!!
- Magnífico! Então, por favor, mande a conta para o meu cunhado!
Assim nasceu a expressão: "DEUS LHE PAGUE"
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Relembro: o Poeta e o Alentejano com Alberto Caeiro, Van Gogh e etc à mistura vêm já a seguir.
Com um fim de semana como o que tive, apenas entre sonos consegui espreitar o Expresso e, claro, televisão muito menos; assim de repente, que me lembre, apenas o Eixo do Mal no sábado à noite. Até o Sócrates e o Marcelo me escaparam, adormeci pelo meio. O meu marido está na mesma, aguentou-se acordado enquanto os ouvia mas, depois de termos jantado, capitulou. Deitou-se no sofá e está aqui a dormir a sono solto.
Mas consegui ler umas coisas giras, podres de giras, sobre a Tecnoforma, sobre as offshores onde caía o dinheiro dos petróleos de Cabinda e de onde saía dinheiro para o saco azul de onde saíam pagamentos em contado, sobre a ONG para onde a Tecnoforma transferia o dinheiro, sobre o dinheiro contra factura para Passos Coelho, sobre documentação triturada anos depois, e mais umas quantas minudências.
Especula-se se tudo isto que está a vir à tona é coisa de gente desavinda na Tecnoforma, se é vingança servida fria por Espíritos enraivecidos, se quê.
Nada disso me interessa. O que acho interessante é perceber-se, em pormenor, como funcionam estas empresas que vivem entre esquemas à margem da lei, servidas por gente dita influente; mas, mais interessante ainda, é ter-se, no olho do furacão, o sujeito que tem estado a pôr o país a ferro e fogo, armado em moralista, como se tivesse sido mandatado para aplicar ao povo português uma punição por anos de malandragem, como se ele fosse um exemplo de virtude.
O povo português talvez um dia destes lhe retribua tudo o que ele tem feito e a história se encarregará de o anular. Criatura mais nefasta, esta.
Bem.
Não se lhe conhecem gostos refinados mas, para o caso de querer desviar as atenções quando se apresentar na Assembleia para responder às muuuiiiiiiitas dúvidas que esta parte do seu passado suscita, aqui lhe deixo uma sugestão: aperalte-se, travista-se, calce salto alto, e avance sem medo, clutch a rodar na mãozinha. Pode ser que fiquem todos tão espantados que resolvam é questioná-lo sobre as marcas, sobre as tendências para esta saison, ou fiquem a especular se, para além de ser o que já se sabe, é outras coisas que acrescentem picante à sua imagem tão negra.
Na categoria das clutches, tenho aqui duas pequenas peças que se adaptam muito bem a ele e à ocasião. São pretas e discretas para o caso de pretender não se prestar a outras suspeições.
Ora escolha, Pedro, se quiser.
Esta chama-se FRINGE BENEFITS, é uma criação de Michael Kors e custa $895
Esta não é bem uma ONG pois tem um M em vez de N mas o Pedrortas nem deve dar por isso. Chama-se WordPlay esta OMG e é mais uma bolsa ou pochette do que uma clutch; é criação de Phillip Lum e custa $285, uma pechincha
Pode encomendar pela internet. Quem é amiga, quem é?
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Claro que também pode ir disfarçado de Mona Lisa para ver se passa despercebido, qual Mr. Bean. Se ainda lá tivesse a trabalhar consigo a Marta, actual Mme Relvas, que antes lhe escolhia as gravatas e lhe dava bons conselhos, com certeza que ela aprovaria a sugestão.
Rowan Atkinson, mais conhecido por Mr. Bean,
disfarçado de Mona Lisa, numa obra do caricaturista Rodney Pike
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Bom.
Vou pensar num pano B para o caso de não aprovar estas minhas boas ideias.