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quinta-feira, junho 26, 2025

Isto é o que realmente interessa

 

Vi o vídeo que aqui partilho com particular agrado. Revejo-me em muito do que Annie Norgarb ali diz. Não na parte em que diz que passou grande parte da vida a fazer e a ser como os outros esperavam, esforçando-se por não desagradar, mas na parte em que diz que gosta cada vez mais de estar em contacto com a natureza, na parte em que diz que a vida é como remar até chegar ao outro lado, e isto em todos os sentidos, e na parte em que diz que gostaria de passar para o outro lado com calma, na boa. 

Não posso dizer que nunca fiz coisas contrariada. Fiz. Por exemplo, quando os meus sogros ou os meus cunhados combinavam almoços ou jantares em restaurantes que, segundo eles, eram muito conhecidos e muito bons, eu ia para não ser desmancha-prazeres, mas ia antevendo que era um dia que ia às malvas. Fazia um esforço para parecer bem disposta mas, por dentro, ia mais do que contrariada. Geralmente os restaurantes estavam a deitar por fora. Primeiro que fossemos atendidos era um castigo. Os meus filhos ficavam cheios de fome, impacientes. Chegávamos a um ponto em que as crianças já se portavam mal por todo o lado, os meus sobrinhos mais pequenos choravam, já todos embirravam uns com os outros.

Alguns, começavam a pedir bebidas antes de começarmos a ser atendidos e, portanto, parece que nem davam pelo incómodo das crianças. O tempo passava e a comida não vinha. Depois, quando vinha, como éramos muitos, era uma confusão. Uma confusão a pedir, uma confusão à mesa com meio mundo a querer provar o que os outros tinham pedido, a trocarem coisas uns com os outros. Depois uns eram especialmente vagarosos, e estavam ali numa de degustar. Era quatro e tal da tarde e ainda estávamos à mesa. Quando parecia que tínhamos acabado, havia quem passasse aos digestivos e aí iniciava-se uma nova e demorada fase. Depois, ao fim de muito tempo, finalmente lá vinha a conta, sempre uma verba astronómica mas que era impossível de conferir pois, pelo meio, toda a gente tinha pedido mais um pouco de cada coisa, no conjunto parcelas que não acabavam. Podia ser aquilo ou metade daquilo. Pagava-se e pronto. Mas eu gosto de coisas rigorosas. Por isso, ficava azul de largar uma nota preta sem fazer a mínima ideia se estava correcto. Saíamos de lá tardíssimo. E, não raras vezes, a cena dava-se em lugares que não eram propriamente à beira de casa. Lembro-me, por exemplo, de uma ida à Sopa da Pedra em Almeirim, aí incluindo também primos, uma confusão indescritível, ou a um cozido em broa em Sintra num restaurante numa aldeia em que só começámos a almoçar depois das quatro da tarde. Intimamente sentia-me desvairada e estafada pois perder um sábado ou um domingo daquela maneira não era o que eu mais desejasse, mas aguentava de boa cara, fazia um esforço sobre-humano para não espumar, para não invectivar ninguém, para parecer que aquela também era a minha praia. Tudo porque não era capaz de dizer que não contassem comigo. Mas, enfim, a vida também é feita de alguns fretes.

A nível profissional também fiz alguns. O pior eram reuniões, não conduzidas por mim mas por alguém que gostava de fazer render e que deixava que se arrastassem por infindáveis horas sem que nada se resolvesse. Horas e horas a mastigar, sem engolir. Eu a ver as horas a passar, a querer ir para casa, e aquilo sem acabar. Por vezes mostrava alguma impaciência mas era obrigada a acatar o ritmo de quem conduzia a reunião. Lembro-me, em especial da ansiedade em que ficava quando os meus filhos ainda eram pequenos ou adolescentes e eu queria ir buscá-los à escola, estar com eles, queria fazer o jantar a horas... e nada, aquilo não atava nem desatava. Se calhar, não podia mesmo levantar-me e dizer que me recusava a dar mais para aquele peditório. Acho que não podia mesmo fazer isso. Mas foi tempo de vida que queimei a aturar pessoas que não sabiam conduzir reuniões ou tomar decisões. Não foi para agradar, foi apenas porque seria impensável desacatar a hierarquia, seria algo que irremediavelmente teria consequências, e não seriam boas.

Mas, tirando coisas assim, não tenho ideia de ter contrariado a minha natureza para agradar aos outros.

Mas, tirando esse aspecto, coincido muito no que a Annie Norgarb diz, no gosto das coisas simples, no prazer no contacto da natureza, na compreensão de que não vale a pena complicar e na vontade de que, quando o fim se aproximar, ir na boa, sem me agarrar a uma vida que irremediavelmente um dia se extinguirá.

Do que mais me custou nos últimos tempos da vida da minha mãe foi na sua total negação, na sua recusa em aceitar que o fim estava para breve, na forma desesperada como se agarrava à vida. Não aceitou que estava doente, escondeu-o, não quis tratar-se, teve medo dos tratamentos, e, sobretudo, não quis aceitar que o fim da linha estava prestes a ser cruzado. Estava numa angústia terrível e nunca permitiu que o tema fosse abordado. Gostava de ter podido dizer-lhe que partisse em paz, que nós ficaríamos bem e que ela iria descansar. Gostava de ter podido serená-la. Mas não foi possível. Ela queria viver e, sobretudo, queria viver com a qualidade de vida que teve até tarde. Eu gostava de, quando chegar a minha vez, encarar esses momentos com maior racionalidade, com tranquilidade, com aceitação. A forma como Annie Norgarb fala disso, sorrindo, agrada-me.

Mas não é só disso que ela fala. Fala de despojamento, fala de simplicidade. E alimenta os passarinhos, os patos, o pavão, os seus três cães. Passeia, acarinha as flores, desfruta da paz de existir.

É um vídeo muito bonito. (Dá para pôr legendas em português).

It took me 80 Years - Life Lessons I Wish I Knew Earlier - HERE'S WHAT MATTERS

Time, when approached with gentleness, doesn’t have to be something we resist. It can become a steady companion, offering a quieter kind of beauty — one that isn’t about appearance or achievement, but about depth and authenticity. As we grow older, our priorities shift, our understanding deepens, and there’s often a greater sense of ease in simply being who we are.

The passing years don’t take away who we are, they often bring us closer to it. Rather than chasing youth or regretting its passing, there is value in settling into ourselves more fully. When we stop measuring life by what we should be or do, we begin to recognise the richness of where we already are.

Featuring Annie Norgarb.

Filmed in McGregor, South Africa. 


Desejo-vos dias felizes

quarta-feira, junho 18, 2025

Uma aventura no IKEA


No fim de semana, estávamos aqui à mesa, diz um dos meninos: 'O que eu gostava era de ir ao Ikea comer almôndegas.'. Ficámos estupefactos. Ao Ikea?! Almôndegas do Ikea?!?!?!

Toda a gente o contestou. Quem é que quer ir ao Ikea? E quem é que, ainda por cima, quer ir comer almôndegas? Dahhhh....

Mas o menino dizia que gostava mesmo de ir. Perguntei à minha filha porque é que não satisfazia o filho, se era coisa que ele queria assim tanto. Respondeu que pagava para não ir ao Ikea. E muito menos iria lá comer almôndegas.

E a conversa ficou por ali.

No dia seguinte, intrigada, perguntei à minha filha de onde conhecia ele as almôndegas do Ikea. Disse que, dantes, a sogra costumava ter em casa almôndegas congeladas e, quando apareciam os netos para almoçar, descongelava-as. Se calhar não era sempre, se calhar aconteceu algumas vezes. Mas as suficientes para o menino sentir saudades.

Acresce que está de férias e, tirando os treinos de futebol, pouco tem que fazer. Um dos primos do menino também está de férias.

Então, ocorreu-me o seguinte: 'E se fossemos buscar um e outro e fossemos com os dois  ao Ikea comer almôndegas?'

O meu marido foi categórico: não, não e não. Nem Ikea nem almôndegas. Segundo ele, um disparate sem sentido. Nem pensar em ir enfiar-se no Ikea, nem pensar ir para o restaurante do Ikea, nem pensar em almôndegas. Não e não e não. Assunto encerrado.

Fui ver o menu do restaurante e vi que há outras iguarias. Li-lhe.

E falei-lhe no prazer que daríamos ao menino que estava com saudades das almôndegas. E o primo, certamente, ficaria feliz por ir também.

Auscultei os respectivos pais. Por eles, sim. 

Mas o mano do primeiro também quis ir. E a menina, que eu pensava que estava com aulas, afinal esta terça-feira não as tinha, pelo que também estava livre e também quis ir. 

(O mais novo se calhar nem chegou a saber desta aventura... Está ainda na escola.)

Pôs-se, pois, o tema logístico. O carro só dá para cinco... 

Então fomos buscar dois, depois eu e a menina ficámos no Ikea e o meu marido e o outro menino foram buscar os primos.

Foi, pois, dia de festa. A alegria de estarem juntos num programa tão fora da caixa...

Todos contentes, com carrinhos, lá fomos buscar a comida. Comeram wraps de salmão para entrada, os rapazes comeram almôndegas, dose maxi, 12 almôndegas cada, com puré de batata, bolo, água (o mais crescido bebeu coca-cola, já se sente um rapaz crescido...). Quis que levassem salada mas disseram que não, que a alface do wrap era suficiente... Dois dos meninos levaram uma peça de fruta, os outros não quiseram. Ficaram a deitar por fora, todos contentes com o pitéu... Eu comi lombo de salmão, o meu marido e a menina comeram pernil estufado. 

Depois, surpreendentemente, na saída, entusiasmaram-se com os peluches. 

Já crescidos... mas parece que lhes deu a nostalgia dos peluches. Ela trouxe um alien, o mais crescido um pinguim que diz que é para oferecer à namorada pois estão quase a fazer 6 meses de namoro, outro trouxe um macaco e disse que era para o irmão e o menino que teve a ideia inicial das almôndegas trouxe uma bola de futebol mas ficou com pena de não ter trazido também um macaco (ficou prometido para a próxima). 

Os pais, quando viram as fotografias que lhes tirei a andarem com os peluches nem queriam acreditar. Mas eles estavam radiante. Um dos meninos disse que aquilo deveria passar a ser uma tradição, nas férias irmos todos almoçar ao Ikea (não sei se sempre almôndegas ou se a tradição admitirá variantes).

Depois um dos meninos pediu para ficar em casa dos primos, os três sozinhos em casa. Obtidas as devidas autorizações, assim foi, lá ficou. A menina ficou um pouco tristonha mas tem exames, tem que estudar, e logicamente não tinha levado os livros, tinha mesmo que ir para casa. 

Para o lanche, ainda lhes comprámos lá, ao lado do snack, umas panquecas congeladas e bolachas. Os anfitriões não queriam, que há muita comida em casa, que não, que não. Mas depois, na perspectiva das panquecas e daquelas belas bolachas, aceitaram. Disseram que poriam as panquecas no microondas e as comeriam com mel.

Soube depois que, enquanto o mais crescido estava a estudar para o exame, o menino que está de férias foi com o primo, os dois sozinhos, ao supermercado comprar nutela com o seu próprio dinheiro.

Claro que o pior foi o trânsito que depois apanhámos, uma seca das valentes. Fomos pôr a menina a casa que, imagino eu, não deveria estar com grande vontade de ir estudar... Os exames deveriam acontecer no outono ou no inverno ou no início da primavera. Agora exames no verão é um sacrifício para os jovens...

E ainda fomos comprar tinta para pintar o resto do muro e mais ácido muriático e mais uma série de coisas. Um calor dos diabos. 

Mas foi um dia muito bom. Gostei muito. E o meu marido também estava contente. Não é preciso muito para as pessoas se sentirem felizes.

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Uma boa quarta-feira

Be happy

quarta-feira, junho 04, 2025

Isto é sobre uma história de amor

 

Às vezes acredito em coincidências. Outras vezes acho que qual coincidências, qual carapuça, o que se passa é que ele há coisas

Se o Instagram e o Blogger estivessem associados a uma plataforma comum, poderia dizer que o algoritmo caçava coisas num lado para influenciar ou impressionar noutro. Mas não é o caso. O Instagram é Meta e o Blogger é Google. Não se contagiam. De resto, não é a primeira vez que ando com uma em mente, sem deixar pistas no google, e, ao abrir o YouTube, me aparecem vídeos justamente relacionados com isso. Parece que o caraças do algoritmo do youtube consegue captar-me os pensamentos.

Hoje, como tantas vezes acontece, andava imersa na natureza, a sentir-me feliz, em paz, parte integrante do lugar, não mais importante que os pássaros, não mais relevante que os bichos que por ali andam, aspirando o ar limpo e perfumado, sentindo que sou abençoada por me ser dado sentir tão benfazeja comunhão, sentindo-me humilde, efémera, um conjunto de partículas que o acaso mantém unidas até que um dia se dispersem e se agrupem com outras, quaisquer, talvez provenientes de flores, de borboletas, de raios de luz, de musgos. 

Fiz um vídeo que publiquei no feed do Instagram sobre o cedro que caiu e que ainda ali está, enorme, digno, verde, belo. E fiz um outro, que publiquei numa story, sobre uma flor que parece um pompom (esta aqui ao lado) e disse que não tarda que se desfaça e fique a pairar, podendo eu respirar partes dela, flores dançando dentro de mim. 

Sinto-me feliz ao andar por ali, por pensar e dizer coisas assim -- mas não me alieno a ponto de não perceber que o mais certo é que quem me ouve ache que tenho uma pancada, e das grandes, nesta minha cabeça. Mas, como isto é inócuo, não sinto necessidade de disfarçar. Sou muito autêntica no que escrevo e no que digo.

Por exemplo, ao aproximar-se da casa, de longe, vi um losango dourado, flutuante. Achei maravilhoso, uma aparição. Não percebia o que era, mas adorei. Sou míope. Por isso, de longe a minha visão é impressionista. Quando cheguei mais perto, percebi que era a luz a incidir no tronco de uma azinheira. Achei lindo. A natureza, a luz, a sombra, as mutações cromáticas, as texturas -- tudo me parece arte, tudo me parece beleza.

Depois pensei: mas a casa e a azinheira estão aqui desde sempre; como é possível que eu nunca tenha visto isto? A verdade é que não. Se calhar, a esta precisa hora, nesta altura do ano, nunca me aproximei da casa por este lado. Parece-me pouco provável mas nunca antes tinha visto esta figura geométrica de luz sobre o tronco da árvore. Ou, então, os nossos olhos nem sempre veem o que está disponível para ser visto -- e hoje eu estava disponível para ver a luz que se concentrava no tronco e se espraiava pelo chão, nessa direcção.

Pois bem. 

Andei nisto e, depois, ao cair do dia, andei nas minhas regas -- ando de mangueira, rego e rego e rego --, depois jantei, vi um bocado de televisão, e, ao ligar o computador, fui ver os mails e espreitar as notícias e, de seguida, abri o youtube. 

Logo à cabeça, o vídeo que aqui abaixo partilho. Ao vê-lo, pensei: caraças, até parece que tinha visto este vídeo antes de fazer os meus. Como é isto possível? Como é que, logo hoje, depois de ter publicado aqueles meus vídeos, me aparece isto aqui?

Mas, depois da surpresa, estupefacção mesmo, fiquei contente. 

Não tinha dúvidas, sabia que aquilo de que abaixo se fala é mesmo verdade, mas gostei de o ouvir dito por uma cientista, gostei de ouvir dito como ela o diz. 

O vídeo está legendado. E é um prazer. Espero que também gostem.

Nature Isn't a Place - It's Who You Are | Laurence Nachin | TEDxGöteborg

When was the last time you "visited" nature? What if that whole concept is based on an illusion? Laurence Nachin reveals why our separation from nature might be the biggest myth we've ever created.

Discover how breaking down the illusion of separation from nature could be the key to creating a more joyful and sustainable future for all. From microscopes to mindfulness, Laurence's journey from completing her PhD in microbiology and cell biology to becoming a nature-based facilitator offers a revolutionary perspective on our relationship with the natural world. She demonstrates how we're constantly connected to other living organisms, whether we're in a forest or a city office. As the founder of Sense in Nature, Laurence helps organizations make nature their business partner, showing how this connection boosts wellbeing, creativity, and pro-environmental behaviors. Her insights reveal how acknowledging our inherent connection to nature isn't just about environmental awareness - it's about becoming fully human again. 


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Dias felizes!

sexta-feira, novembro 01, 2024

Conversa gostosa entre desempoeiradões com mais de 60

 

Quando eu era mais nova tinha para mim que quem tinha mais de sessenta estava a caminho de ser velho, terceira idade pura e dura. 

Ainda me lembro de um amigo, uns anos mais velho que eu, ao fazer 60, me dizer 'sou daqueles de quem, se tiverem o azar de tropeçar e cair na rua, vão dizer que foi um idoso, um sexagenário caído no passeio'. E era.

Ainda me lembro bem da minha avó paterna que, antes dos 60, já me parecia uma velhinha. Ao contrário da minha avó materna que pintava o cabelo, se vestia de forma mais arejada, passava temporadas em Lisboa ou na Figueira da Foz ou em Faro em casa de primas ou primas de primas e tinha um aspecto mais 'conservado', a minha avó paterna, com o seu cabelo grisalho, o vestuário que seguia os seus critérios de adequação' à idade e os seus reumatismos que condicionavam a sua agilidade, sempre pareceu mais velha do que era (e creio que ela própria se sentia velha).

Agora que sou eu que já cá estou, vejo as coisas de outra maneira. Não sei bem como é que as vejo mas sei que os 60 vêm com uma boa dose de ingredientes diversos, grande parte deles bastante bons (tolerância, ignorância [sim, quanto mais velhos, felizmente mais ignorantes], etc). Claro que os há menos bons mas a gente desvaloriza.

Se os mais jovens assistissem às brincadeiras, às irreverências e ao gosto pela aventura dos meus amigos sexagenários ficariam muito admirados.

O algoritmo do Youtube, que me topa à légua, hoje tinha este vídeo que aqui partilho para me mostrar. E, na realidade, gostei de os ouvir. Conversa leve, solta, alegre, descomplexada. E o Bial é uma graça, um belo pedaço de homem.

Astrid Fontenelle fala como o ENVELHECIMENTO não abalou sua FORMA DE VIVER! | Conversa Com Bial


Dias felizes

domingo, setembro 22, 2024

Quais as diferenças entre António Mexia e Theo du Plessis?
Certamente mais do que os cerca de seis milhões que o primeiro terá 'escondido' em off shores... diria mesmo que todo um mundo...

 

Largar tudo e optar por uma vida minimalista em que todos os pertences pesam cerca de nove quilos e cabem numa mochila, trabalhar em regime de voluntariado em jardins em troca de um lugar para dormir, não é para qualquer um. É o próprio Theo que reconhece que, se tivesse filhos, certamente não teria enveredado por uma vida assim, desligada da posse de bens materiais, vivendo em comunhão com a natureza.

Fala de forma tranquila, parece em paz consigo próprio e com a vida que leva e com o que o rodeia.

Quem passa por uma situação como tenho passado recentemente, tendo que me desfazer do que os meus pais laboriosamente juntaram durante toda a vida, os meus filhos pouco querendo, eu não tendo onde guardar mais coisas, e, forçosamente, tendo que dar tudo (ou quase tudo) a quem quisesse e precisasse, percebe que o júbilo que vem da posse é efémero e, na verdade, destituído de sentido. 

No meu caso, poderia ter optado por vender tudo o que não tinha destino dentro da família. Meio mundo me recomendou. Mas não quis fazê-lo. Preferi dar. Muitas pessoas pobres foram lá e escolheram o que quiseram. Ficaram felizes como se lhes tivesse saído a sorte grande. Mobílias, louças, roupas, bibelots. Pessoas que dormiam em camas articuladas metálicas e, de repente, têm uma mobília de quarto, bons lençóis, bons cobertores, boas colchas. Outras saíram felizes com tachos de inox de boa qualidade. Jarras e molduras. Tantas coisas. Claro que se me parte o coração. Claro. Claro. Custa-me muito. Mas, não tendo nós onde colocar as coisas, penso que dar a quem precisa é a solução mais digna. Penso que as pessoas devem sentir-se orgulhosas por terem coisas tão boas e imagino-as a dizerem que são coisas da casa da Professora, coisas que a filha resolveu dar.

Mesmo aquilo que trouxe aqui para casa, por serem coisas especiais, com significado muito específico, por não ter onde colocar, acabei por deixar na garagem. E refiro-me a dois cadeirões, uma escrivaniha, um louceiro, um móvel pequeno. Já antes tinha trazido colchas e toalhas de renda e coisas assim. 

Agora foi tudo o resto. 

Claro que me custa que coisas boas, de que eles tanto gostavam, acabem na minha garagem, sendo que, de certeza, não vou dar-lhes uso. A esperança que tenho é que, daqui por uns anos, quando os meus netos tiverem as suas casas, venham cá abastecer-se. Mas quererão eles móveis deste género? O meu marido diz que não e aborrece-se comigo, diz que trazer esta meia dúzia de coisas é apenas aumentar o problema que estamos a deixar para os nossos filhos um dia que tenham que ser eles a dar destino às nossas coisas.

Compreendo. Mas toda a nossa vida foi formatada para 'termos' coisas. Mas, pensando bem, na realidade, parece inteligente ter o mínimo de coisas, não deixar tralha e encargos para os nossos descendentes.

Não sei se António Mexia, sempre tão blasé, sempre tão cheio de si próprio (embora fingindo que não), é mais feliz que Theo du Plessis. Tenho muitas dúvidas.

Partilho o vídeo no qual este último mostra como é a sua vida. Penso que é um vídeo muito sereno, muito agradável de ver. Está traduzido.

Freedom of Less: One Man's Minimalist Journey

Choosing a different path in life, one that breaks away from the norm, can often feel lonely. The pressure to conform is constant, with those around you eager to pull you back to the familiar and the comfortable. So to walk the path that is truly your own, you must first connect with who you are at the deepest level — your emotions, your desires, and what truly drives you. This journey requires stepping away from what society says you should be, and instead discovering your truth for yourself.  In the end, life is about making deliberate choices, setting your own pace, and defining your own purpose with each step forward. This film is a reflection on the courage it takes to follow that unique, authentic path, even when the world encourages you to turn back.

Back in 2021 we shared a story featuring Theo, called "Being Simply Beautiful".  It has received almost 2 million views to date, and comments continue to pour in, sharing appreciation for this man and his journey.  We've also received many questions about his personal situation and how he sustains his chosen lifestyle.

We recently heard that Theo was building a food garden on a farm near where we live. So we decided to use the opportunity to revisit with him to bring you this follow up film, answering some of the many questions that we have received. 


Protagonista:  Theo du Plessis. 
Filmado em Swellendam, South Africa.

segunda-feira, julho 15, 2024

Dias felizes

 

Devo dizer que tenho vivido dias felizes. Com os que me são mais queridos juntos, todos bem dispostos, a conversa a fluir de gosto, todos em volta da mesa, com a casa cheia, com a maluqueira nocturna que me fez rir de gosto, com o madrugar bem mais cedo do que me é habitual, com a alegria de todos... sinceramente, a nível pessoal, não posso querer mais. 

De vez em quando lembro-me do que disseram e dou por mim a rir sozinha. 

Todos têm a sua vida pessoal e profissional (ou escolar), certamente todos terão, de quando em vez, os seus contratempos e preocupações. Mas, como por magia, quando nos encontramos todos, parece que os problemas perdem relevância e a ninguém lembra falar de maçadas.

Estou boa do meu pé. Quase boa. A nível visual está praticamente normal. Claro que, quando olham, ficam um bocado enjoados pois acham-no esquisito. O dedão (e arredores) está a perder a pele. Mas a mim isso não me incomoda nada. Também ainda tem umas manchinhas escuras mas nada de mais. Também já mexo razoavelmente o dedo. Dói-me ainda um pouco mas já não me tira o sono e, na maior parte do tempo, nem me lembro de tal coisa. E da tendinite do ombro que me causou rigidez também já estou quase a cem por cento. Vou eu fazendo uns exercícios e a coisa está a ir ao sítio. Só aqui é que me ponho a falar nisso. Quando estou com a minha turma nem me lembro das chatices que tive nem do que ainda sobra delas. 

Claro que, no meu íntimo, sinto saudades da minha mãe e faz-me muita impressão que tenha sido uma presença tão constante na minha vida e que, como que por artes mágicas, em pouco tempo, se tenha despido de matéria. Era alguém tão presente e agora é apenas memória. E já passaram quase seis meses. Por vezes, parece-me impossível. E no outro dia o meu pai faria anos e, no entanto, ao mesmo tempo, parece que já não existe há imenso tempo, quase como se já não pertencesse à minha vida actual. E não pertence. Mas a verdade é que pertenceu até 2020. 

O tempo tem o seu lado cruel, a vida tem o seu lado de traiçoeira. 

Mas forço-me a manter estes pensamentos no lado adormecido da minha mente. E consigo que isso coexista com a minha alegria em estar viva e rodeada por aqueles que tanto amo.

E depois há as pequenas coisas. Infra-mínimas. Mas que me dão prazer, me motivam, me animam.

Por exemplo: estava com o cabelo comprido que geralmente apanhava em rabo-de-cavalo, muitas vezes dando-lhe uma reviravolta ao alto, para cima. Mas andava com vontade de o transformar. Então hoje, há bocado, fiz assim: estando apanhado num rabo de cavalo alto, como é costume, meti-lhe a tesoura e lá vai disto. Ou seja, agora, depois de cortado, dá para o apanhar na mesma, à tangente mas dá, e, curiosamente, ficou com um escadeado bem curioso. Saiu um monte de cabelo, ficou muito mais leve, e acho que não ficou mau de todo. Ainda lhe dei mais umas duas ou três tesouradas à frente para fazer um degradé mais harmonioso. Já não vou à cabeleireira há anos e fico com pena pois gostava dela e espero que as restantes clientes sejam mais fiéis do que eu. Mas isto de ter a liberdade de fazer coisas assim, na base do 'lá vai disto', faz-me sentir muito bem.

A outra coisa pertence à mesma categoria, a das frioleiras: andava com vontade de usar vestidos compridos mas nada me agradava pois não sou bem o género de intelectual de esquerda daquelas que usam saias compridas, largas e desengraçadas, nem sou exactamente o estilo hippie. Não estava a ver-me como uma maria-pendona. Mas também não queria usar vestidos que parecessem de noite, muito menos de baile de finalistas. Portanto, mantinha-me no classicismo das calças, dos vestidos pelo joelho, e, numa versão mais estival, calções brancos com blusinhas coloridas. Mas finalmente dei o salto. Encontrei o género de que gosto. A minha filha ofereceu-me um, que me assenta de uma forma superconfortável e com o qual gosto mesmo de me ver. E eu comprei os outros. E sinto-me tão bem... Há um que ainda não estreei mas sobre o qual estou com uma boa expectativa: cai como seda, suave, muito leve, é justo em cima mas alarga um pouco para baixo, é super decotado à frente e atrás, de alcinhas finas, e é em cor de coral com pavões gigantes de alto a baixo naqueles tons verdes e azulões. E, para conjugar, tenho um brinco, um único, com uma pena nos mesmos tons. Penso que vai ser exótico e isso agrada-me.

E toda a vida usei brincos discretos. Poderiam ser coloridos e adaptados às toilettes mas nada de exuberâncias. Contudo, andava com vontade de ter brincos ousados, coloridos, incomuns. E descobri-os. Estou mesmo feliz com eles. A ver se amanhã os fotografo para vos mostrar pois acho-os especiais e, sobretudo, os pais da criadora comoveram-me e apetece-me transmitir-lhes o meu carinho.

E ainda mais uma: chapéus. Adoro chapéus. Mas sempre me fiquei por modelos que me parecessem elegantes mas discretos. Provavelmente as pessoas discretas já os achariam algo destacados mas, para mim, estavam aquém do meu gosto intrínseco. Pois vi um que imediatamente chamou a minha atenção. A minha filha, ao vê-lo na loja, disse que todo ele é, em si, um statement. De facto. E não fujo a isso. Mas, ainda assim, receei que fosse demasiado aparatoso. Contudo, acabei por não resistir. Acho-o um espectáculo e sinto-me mesmo feliz quando o ponho. (Não é este. Este aqui ao lado é um que encontrei via google)

Quando era adolescente gostava de modelos originais e de me maquilhar e os meus pais zangavam-se, não queriam que eu desse nas vistas, diziam que não tinha idade para isso. Depois, pela minha profissão, tinha a noção de que não deveria mostrar-me a tender para o radical ou para a desalinhada (até porque era acusada disso). Agora já não tenho que provar nada a ninguém nem tenho que recear as opiniões alheias. Não que me preocupasse com isso mas, enfim, vivia o meu dia a dia integrada numa realidade em que as fugas à regra tendiam a ser mais ou menos vistas como perigosas excentricidades.

Claro que para coroar o bolo só mesmo uma cerejinha a enfeitá-lo: durante a semana fomos, por duas vezes, almoçar a um restaurante veggie. Não me tornei e acho que não me tornarei veggie mas a verdade é que gostámos imenso. Comemos agora muito menos carne, preocupamo-nos cada vez mais com uma alimentação equilibrada e saudável. E o meu filho ofereceu-me um conjunto de alimentos biológicos, saudáveis, e isso agrada-me e atrai-me bastante.

Portanto, apesar de não estar a ir para nova, a verdade é que me sinto cada vez mais disponível para procurar e acolher novidades e para me libertar das poucas peias que já tinha.

E viva a vida.

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Mercedes Sosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gal Costa - Volver a los 17


Uma semana feliz

terça-feira, junho 11, 2024

Falemos, com alguma objectividade, de coisas concretas

 

A propósito da parvoeira e da chico-espertice do so-called choque fiscal da AD (na verdade, meros trocos em cima do que o PS tinha feito) e sobre a qual o PS está a fazer outra parvoíce ao não deixar o PSD fazer o que quer, e a propósito também da deriva absurda da AD ao pretender dar uma escandalosa borla fiscal a quem tenha até 35 anos (ganhem o que ganharem), fiz um pedido ao ChatGPT. 

Abaixo, transcrevo o que ele me devolveu. Não validei os números pelo que se alguém quiser fazer uma análise idêntica para fins concretos e de responsabilidade deverá conferi-los, recorrendo a fontes oficiais. 

O que aqui tenho está em inglês pois parece-me que, ao ter que consultar fontes oficiais (OCDE, UE, etc., como vi que 'ele' consultou) há menos risco de erros de o ChatGPT se baralhar por deficiente tradução/interpretação.

Quando os saloios da AD acham que vão atrair ou reter pessoas que estão a viver fora ou que, estando cá, equacionem emigrar, seria bom que, antes, fizessem uma análise global.

Por exemplo: 

  • Trabalhando cá, como é que o salário médio português compara com alguns dos principais países que acolhem a nossa emigração?
  • Como são os impostos cá e lá? É que uma família que se mude tem que pensar como fica quando tiver 36 anos.
  • Com que salário anual se atinge a taxa máxima de IRS?
  • Como é o PIB e o crescimento nesses países? (Isto é, são países ricos? Há crescimento económico?)
  • Qual o imposto sobre capitais (Juros de depósitos a prazo ou de títulos de dívida pública, etc) nesses países?
  • (Por mera curiosidade, como comparam os impostos sobre os resultados das empresas, vulgo IRC?)

Eis as respostas que o ChatGPT me forneceu (e que, repito, não me dei ao trabalho de validar)

Portugal

  • Average Annual Salary: €22,628
  • Income Tax Rates: 14.5% to 48%
    • Maximum Rate Applied At: €80,882
  • GDP per Capita: €22,440
  • Average Annual GDP Growth Rate: 2.2%
  • Capital Gains Tax: 28% for individuals, 25% for companies
  • Corporate Tax Rate (IRC): 21%

Analysis: Portugal has a lower average salary and a high top tax rate, impacting those with incomes above €80,882. Despite lower living costs, disposable income is limited, affecting the overall quality of life. 

Ah pois...

Vejamos, agora, os países para os quais os portugueses mais emigram ou emigraram.

Spain

  • Average Annual Salary: €28,375
  • Income Tax Rates: 19% to 47%
    • Maximum Rate Applied At: €300,000
  • GDP per Capita: €29,700
  • Average Annual GDP Growth Rate: 2.4%
  • Capital Gains Tax: 19% to 23%
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: Spain offers higher salaries with a top tax rate impacting those earning above €300,000. With moderate living costs and good public services, the balance between income and taxes is favorable, enhancing the quality of life.

France

  • Average Annual Salary: €39,300
  • Income Tax Rates: 0% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €160,336
  • GDP per Capita: €38,500
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.3%
  • Capital Gains Tax: 30%
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: France provides high salaries with the top tax rate starting at €160,336. Despite high living costs, comprehensive social services and public benefits contribute to a high quality of life.

Germany

  • Average Annual Salary: €49,200
  • Income Tax Rates: 0% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €274,613
  • GDP per Capita: €46,200
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.8%
  • Capital Gains Tax: 26.375%
  • Corporate Tax Rate: 15% + 5.5% solidarity surcharge

Analysis: Germany has the highest average salary among the listed countries, with the top tax rate affecting incomes above €274,613. High disposable incomes and efficient public services result in a high standard of living.

United Kingdom

  • Average Annual Salary: €37,600
  • Income Tax Rates: 20% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €174,500 (£150,000)
  • GDP per Capita: €44,300
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.4%
  • Capital Gains Tax: 10% or 20% (18% or 28% for property)
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: The UK offers high salaries with the top tax rate starting at €174,500. High living costs, particularly in London, are offset by good public services and infrastructure, maintaining a high quality of life.

Summary

  • Portugal and Spain: Moderate quality of life with progressive tax systems and lower income levels. Spain offers a better balance due to a higher threshold for the top tax rate.
  • France and Germany: High quality of life with robust social services. Germany's higher salary and tax threshold provide more disposable income.
  • UK: High quality of life with high incomes and living costs. The UK offers a balanced approach with higher tax thresholds and comprehensive services.
Penso que está claro, não está?

Portugal tem salários bem mais baixos do que os países que tradicionalmente mais portugueses atraem, é um país bem menos rico, carrega nos impostos sobre rendimentos das pessoas que é um disparate e um abuso.

Portanto, é nisto que os governantes (sejam eles quem forem) têm que se concentrar: estimular fortemente o crescimento económico, incentivar fortemente a subida de salários, reduzir a taxação de IRS da classe média, taxando mais apenas os verdadeiramente ricos (vide valores acima) com vista a libertar liquidez para as famílias.

Em contrapartida, (a serem verdadeiros os números acima), bem pode taxar mais as empresas, em especial as que têm lucros mais elevados pois, aparentemente, Portugal, entre estes países, é quem taxa menos.

Mas há outros índices a ter em atenção, nomeadamente o Índice de Felicidade. E mais uma vez transcrevo a resposta que obtive e, de novo, a serem verdadeiros os valores que o Chat me devolveu, dá que pensar:

Based on the latest World Happiness Report, here are the happiness index scores for Portugal, Spain, France, Germany, and the United Kingdom:
  • Portugal: 5.9
  • Spain: 6.5
  • France: 6.7
  • Germany: 6.9
  • United Kingdom: 6.8​ 

These scores provide a comparative measure of subjective well-being across these countries, reflecting factors such as GDP per capita, social support, healthy life expectancy, freedom to make life choices, generosity, and perceptions of corruption. 

De notar que o valor mais elevado é obtido pela Finlândia que tem 7,8

Ou seja, também aqui, Portugal está abaixo dos países que acolhem grande parte dos nossos emigrantes. E este indicador é daqueles que, por ter um âmbito muito abrangente, mais diz sobre a qualidade de vida num país.

Podia elencar outros indicadores que traduzem a qualidade de vida (quer a real quer a percepcionada) mas isto é um blog, não pretende, de forma alguma, dar-se ares de compêndio...

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Em gestão há uma metodologia que se designa por Balanced Scorecards. As empresas identificam objectivos que pretendem atingir (transpondo para a realidade nacional, suponhamos que, em Portugal, se pretendia ter um índice de felicidade de 7 no prazo de 3 anos, um salário médio equivalente a 80% da média dos salários médios dos países acima referidos no prazo também de 3 anos, uma taxa média de IRS para salários até 150.000€ anuais equivalente à média dos referidos países também no prazo de 3 anos, etc., etc, etc...). Então, para cada objectivo, traçar-se-iam iniciativas para lá chegar, e métodos para as monitorizar bem como indicadores para ir avaliando periodicamente a sua prossecução.

Claro que, ao detalhar iniciativas, iremos ter iniciativas múltiplas seja ao nível da formação académica e profissional, seja ao nível das medidas sociais para incentivar a renovação demográfica, medidas para proporcionar estímulos lúdicos que ajudem a percepcionar uma melhor qualidade de vida, etc.

Ou seja, de forma integrada, monitorizável e mensurável, seria possível pôr o país a caminhar rumo aos mesmos objectivos, de forma convergente, inteligente, inequívoca.

Deixaria de ser uma realidade ao gosto de cada comentador, cuja avaliação é na base das bocas. Pelo contrário, passaríamos a trabalhar num registo de seriedade intelectual, de objectividade.

E teríamos a certeza que o que estaríamos a fazer não seriam medidas avulsas, de utilidade duvidosa, injustas, absurdas.

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Sobre o (grave) problema do SNS e da Saúde em geral, a ver se falo no assunto amanhã ou, senão, um dia destes. Contudo, vou já adiantando que a resolução do (grave) problema em causa não é tema para médicos.

quarta-feira, outubro 04, 2023

A felicidade através das pequenas coisas

 


Por acaso hoje não fomos à praia, isto é, para a areia, para a água. Ontem, sim. O meu marido mergulhou e eu estava afoita, convencida que não teria dúvida em ir também. Mas à última hora vacilei. Não passou do peito.

Estar na praia nesta altura do ano é uma maravilha. A praia quase sem ninguém, a temperatura amena, a luz muito limpa. Por todo o lado pequenos gaivotinhos, saltitando à beira de água.

Enquanto lá estava pensava que há menos de um ano estava eu a trabalhar, com toda a gente a trazer-me problemas para que eu, com invisíveis varinhas mágicas, os resolvesse num ápice. Isto enquanto o meu colega (e amigo) lutava contra os medos por ter descoberto que o cancro, que julgava extinto, afinal, silenciosamente, se tinha espalhado. Mas, para não desastabilizar, não quis que se soubesse. Ausentava-se para exames ou por não estar bem e eu tinha que aguentar tudo sozinha, inventando desculpas para as ausências dele. Foram tempos muito complexos e pesados. 

Por mil motivos, estas minhas belas férias sabem-me pela vida. Sinto-me feliz por poder estar a desfrutá-las.

Poder andar a fazer exercício dentro de uma piscina funda, durante o dia, também me enche de bem estar a satisfação. Antes trabalhava de sol a sol sem tempo para mim. Agora posso levantar-me às horas que me apetece, posso ir à praia, andar na piscina, escrever, dormir a sesta, ler, apanhar sol, caminhar... e isto durante o dia.

Muitos antigos colegas de escola, da minha idade, portanto, ainda trabalham. Dizem que não se imaginam sem nada que fazer. Digo-lhes que é uma sensação tão boa, que, se soubessem, não quereriam outra coisa.

Não fomos para a praia mas, ao fim do dia, fomos caminhar à beira dela, respirar o pôr do sol, ver o mar.

Trouxemos sushi para o jantar, um sushi muito fresco, muito bem feito. Também é bom não ter que fazer todas as refeições.

Vi um vídeo em que um estudioso, um professor universitário, investigador, dizia que a felicidade se obtém com coisas simples: 

  1. ter amigos, amigos de verdade, não amigos virtuais, não amigos daqueles que fazem parte de um networking de interesses, pessoas que nos podem ser úteis, mas, sim, amigos de verdade, que não servem para nada a não ser existirem e serem nossos amigos
  2. partilhar afecto com a família, falar com a família, partilhar momentos e memórias, acarinhar as raízes comuns, cuidar do futuro com cuidado e devoção
  3. sentir que se faz parte de algo maior, seja porque se professa uma religião ou se está integrado num clube ou se adora e venera a natureza, ou coisas assim, em que nos sentimos bem
  4. sentirmo-nos agradecidos por estarmos vivos, por termos o que temos, por sermos como somos (diz ele que o maior inimigo da felicidade é a inveja)
  5. perceber que os outros não têm que ser iguais a nós, não querer, a todo o custo, encontrar almas gémeas, perceber que é das diferenças que nasce a aprendizagem
  6. procurar a beleza das coisas facilmente alcançáveis: ler, ouvir música, apreciar a arte, descobrir a perfeição das flores

Coisas simples. Não alimentar rancores, por exemplo. Não ficar preocupado por não ter o que outros têm. Não traçar objectivos difíceis de alcançar cujo não atingimento seja interpretado como um fracasso.

Gosto bastante de ler ou ouvir coisas assim. Revejo-me nelas. Gosto mais de ouvir isto do que estar junto de quem desfia viagens que fez ou de quem despeja citações, títulos de livros, ou exibe o que toma por sinais de um status superior. Isso cansa-me. Ouvir falar de coisas simples agrada-me.

Por exemplo, uma colega de piscina levou-me um vasinho com pés de pitanga para eu poder plantar no jardim. Fiquei agradecida e tocada pela generosidade dela, por se ter lembrado de mim, por ter tido essa ideia e por ter ido com o vasinho para me dar. 

E é isto, por hoje. Há pouco adormeci e custou-me a acordar. Lá o consegui pois queria escrever isto. E agora ainda quero ir fazer outra coisa. 

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Nick Cave & Warren Ellis interpretam We Are Not Alone 

(do filme La Panthère des Neiges)

Pintura de Kang Un

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

Saúde. Alegria. Paz.

domingo, setembro 10, 2023

Quando paramos, encontramos a paz

 

Penso no protesto de alguns leitores que, de vez em quando, me escrevem, indignados, dizendo que só gosto de escrever sobre momentos felizes. É um facto. Quem queira ler sobre desgraças ou choradinhos pode ter a sorte de me ter acontecido alguma que me deixe tão arrasada que tenha mesmo que aqui desabafar. Mas o mais aconselhável para quem queira, de certeza, encontrar desgraças e dramas é ir até ao site do Correio da Manhã. Aí é um fartote. Tudo o que de tenebroso e cabeludo acontece no mundo está ali descrito. Não escapa nada. 

Aqui é o que se sabe. Se estou aborrecida, apetece-me espantar o aborrecimento, desanuviar, falar de coisas boas. E, se estou bem disposta, nem pensar em falar de coisas que me entristecem.

Claro que, de vez em quando, tenho que ir a terreiro espadeirar contra os maraus que gostam de poluir o espaço comum, sejam eles escorpiões que picam (ou tentam picar) com o seu veneno aqueles que mais temem, seja jokers apalermados que falam sem saber do que falam, sejam despudorados vendedores de banha da cobra, sejam maledicentes papagaios avençados que não sei como não morrem envenenados todos os dias tanto o veneno que destilam. Mas, conseguindo, fujo deles.

Cada vez mais sinto necessidade de me afastar da toxidade de quem não tem coluna vertebral, honestidade e inteligência e de me deslocar até locais de serenidade e paz.

Nem sempre a solução será a evasão física, total. Quem ainda trabalha e tem responsabilidades a assumir, pode ter que se sujeitar a situações complicadas em que haja sofrimento e dor ou, mesmo, humilhação. Nesses casos, há que ter a resistência para aguentar e a esperança de que seja por pouco tempo. Não há mal que sempre dure.

Mas quem possa ter a liberdade de escolher uma vida de tranquilidade, rodeado de generosidade, de alegria e de paz é, sem dúvida, alguém bafejado pela sorte.

O meu dia hoje foi muito bom. Dia de desporto. Só eu não o pratiquei pois o desporto do dia tem muitas regras. Gosto de bater bolas mas acho que não iria conseguir decorar quem faz o serviço, se é em diagonal, se é este ou aquele, se é assim ou assado. Não dá. Além disso, não me fio muito nos meus joelhos quando sujeitos a tratos de polé.

Depois juntámo-nos aqui e a tarde estava uma maravilha e foi uma alegria. Para mim felicidade é isto. Não sonho com idas às Caraíbas, com carros topo de gama, com restaurantes de luxo, com liftings ou tratamentos ultra rejuvenescedores ou com roupas griffe. Nada disso. A gente que habita o meu coração à volta da mesma mesa, uma conversa boa, sorrisos -- é aquilo de que preciso para me sentir feliz.

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Running from pain - And when we stop, we find peace.

We are adept at the avoidance of pain and suffering - we push it away, we pretend it’s not there.  And we keep ourselves busy so that we don’t have time to sit and reflect - when bored, we surf social media - when we feel down, we go shopping or watch TV.  But running keeps us stuck in spiraling patterns of despair and hopelessness.

And while we may not be responsible for causing the pain, we can be responsible for ending it.  And to admit to that and own up to that is a humbling thing to do. You create an opportunity for growth and expansion in your life by taking accountability. You let go of your ego’s dominance over your actions and decisions, and start listening more carefully to that intuitive voice inside.

To run from pain is to run from life itself.  Because by embracing difficulty and the challenges it presents, is how we grow and improve as humans.  So let’s learn to accept it as a part of life.  It's this that will make us whole again.

Filmed in McGregor, South Africa. 

Featuring Sung-Yee (Sy) Tchao.


Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Felicidade, Paz.

segunda-feira, agosto 28, 2023

Um domingo muito feliz
[E uma casa muito bonita e muito funcional, com belos objectos, e uns designers que transformam refugos em peças interessantes]

 

Se no sábado a casa estava meio cheia, este domingo chegou a metade restante. E, quando as duas metades se reúnem, a alegria imediatamente redobra. Aliás, qualquer deles fica numa impaciência enquanto os demais não chegam, como se estivessem num involuntário e infindável stand by.

E, portanto, mal se reuniram foi a festa do costume. 

Quando algumas pessoas se arreliam com o barulho que as crianças fazem e o atribuem a falta de educação penso que é porque não estão habituadas a verem, por dentro, a explosão de energia, de entusiasmo, a irreprimível vontade de falar, de rir, de brincar que acontece quando miúdos que se adoram estão juntos. Pode tentar-se que falem baixo e controlem a adrenalina e a alegria mas é escusado pois basta que um pregue uma partida para o outro reagir, para um outro ir ver o que se passa e tomar partido, para logo se envolverem em bulhas amigáveis ou risotas, retaliações, exclamações alto e bom som. E é isto em contínuo. 

Abrandam enquanto comem pois, felizmente, têm um apetite voraz e, quando se sentam, servem-se e focam-se na refeição. Abrandam também ao fim do dia quando lhes dá o sono. Tirando isso, é uma festa. 

Pode parecer ruído para quem está de fora. Mas, na realidade, é uma alegria e uma celebração do afecto e da partilha quando vistos por quem está por dentro.

Entretanto, eu andava à volta dos tachos desde que me tinha levantado, debatendo-me com a sua dimensão tentando ter a garantia de que, apesar de grandes, a confecção se opera a contento, quer nos sabores quer no tempo disponível.

Dia grande e feliz, pois.

É uma grande alegria vê-los juntos, todos sentindo que a casa e o lugar lhes pertence e que até parece que está impresso nos seus genes. Mesmo o mais novo está sempre a perguntar quando é que cá vem pois é aqui que mais gosta de estar. Creio que é o único que ainda não me perguntou o que é que acontecerá quando eu e o avô morrermos. Ainda só tem seis anos pelo que é natural que essa dúvida não lhe tenha ocorrido. Mas os restantes já mostraram a sua preocupação. Percebe-se que querem que este lugar especial permaneça na família mesmo depois de eu e o avô deixarmos de existir. 

Claro está que estou com sono (até porque, estupidamente, tive mais uma noite quase não dormida; toda a vida dormi o sono dos justos, como uma pedra; e, relaciono com a covid, parece que fiquei com o ciclo dos sonos alterados e, de vez em quando, tenho uma insónia total)... e só me ocorre é que ainda bem que esta segunda-feira já não é dia de trabalho para mim. 

O pior de tudo era quando chegava a domingo à noite a sentir que precisava de descansar e, no entanto, poucas horas depois já tinha que estar a levantar-me cedo, com despertador e, se a sorte não me estivesse benfazeja, até tinha logo uma malfadada reunião à primeira hora da manhã. Era o pior que me podia acontecer: uma reunião chata logo ao romper da manhã, numa segunda-feira. Um sofrimento para mim e um risco para os que tinham que me aturar... Felizmente, isso já era.

Na volta o Mujica tem mesmo razão: inteligente, inteligente era o mundo encontrar maneira de pormos os robots a trabalhar deixando para os humanos o descanso, o divertimento, a fruição da beleza, da arte, da boa vida. Isso é que era.

Mas enfim.

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O que tenho ainda a dizer é que o design, a inteligência funcional das coisas e das casas e o bom gosto são coisas a que sou muito sensível.

Acho estes dois vídeos são muito interessantes e, por isso, partilho-os convosco. Boas ideias são sempre bem vindas, não acham?

NTS: Wonderful Waste - How UK Designer Turns Waste into Stylish Furniture

Furniture/Interior/Product Designer Nina Tolstrup founded StudioMama in 2000 with partner Jack Mama, and over the past 20 years they’ve championed repurposing, repairing and upcycling with a playful and accessible approach to design. They’ve explored the potential for small footprint living in their 13m2 Cab office conversion, and the 40sqm London Townhouse, filling both with bursts of colour and upcycled furniture like their Re-Imagined chairs. Nina and Jack have created collections of animal sculpture from timber offcuts, chairs and lamps from pallets and even designed sustainable, transforming kitchen spaces for Ottolenghi.

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Inside an Art Lover's Eclectic European Interior Filled With Wonderful Objects | House Tour

Today we meet Joanna Delia inside her meticulously curated four-storey family home in Valletta, Malta. Joanna is obsessed with art, and her house is a fine-tuned reflection of who she is, and how she wants to spend her life in it.

The collaborative work of Joanna and a handful of European architects and designers, the interior and design of her house is “like a pencil” tall and thin, but full of character emanating from the eclectic selection of artworks she's collected, as well as the inspiring objects she’s acquired over the years. 

As we’ll explore each level of this project, prepare to be mesmerized by the fusion of aesthetics and functionality, as Joanna's keen eye for local art and design is evident in every corner, creating a harmonious space that reflects her passion for creativity. From the moment we enter the front door, we’re greeted by an impressive display of carefully selected artworks that set the tone for what lies ahead. 

Each floor boasts its own unique character and purpose, expertly tailored to suit the needs and interests of Joanna's family. Marvel at the art-filled bedrooms, thoughtfully designed to provide a serene retreat for relaxation and creativity. Throughout the tour, Joanna shares her inspirations, design beliefs, and favorite art pieces, providing invaluable insights for art enthusiasts and home décor aficionados alike.

Whether you're seeking ideas for small space living or simply appreciate the beauty of a well-curated home, this episode promises to ignite your imagination and leave you feeling inspired. 
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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Harmonia e afecto. Paz.

sábado, julho 15, 2023

A felicidade e as pequenas alegrias

 

Nunca fui de sonhos irrealizáveis ou de desejos transcendentes. Balizo as minhas aspirações ao quadro daquilo que é alcançável. 

Nem alimento grandes expectativas sobre as coisas.

Quando namorava nunca divaguei a imaginar o dia do casamento. Pelo contrário, sempre o quis simples. Nunca imaginei grandes coisas a nível do que seria o meu viver a dois. O que vier, se for bom, é bom. Não tem que ser óptimo. Dificilmente fico descontente ou defraudada porque nunca me ponho a fazer planos sobre o que poderia ser.

Que me lembre nunca tive desgostos de amor nem nunca me senti traída. Se fui, não dei por isso e também nunca me interessei por aprofundar o tema.

No trabalho nunca me pus a imaginar vir a ocupar este ou aquele cargo. Ao contrário de vários colegas que viviam em campanha e que passavam por períodos de fossa por acharem que não reconheciam o seu valor. Comigo isso nunca aconteceu. Nunca desejei ser o que não era. E quando vinham dar-me parabéns por ir fazer coisas novas nunca me senti orgulhosa ou vaidosa pois para mim eram, isso sim, novos desafios e trabalhos redobrados.

Nas férias, nunca ambicionei ir a destinos longínquos ou onde quer que seja que obrigue a grandes planos, a grandes despesas. Jamais me passaria pela cabeça pedir dinheiro emprestado e ficar a pagar juros e andar, durante o ano, a fazer tangentes para ir duas semanas para o cu de Judas. Por isso, nunca me senti com pena de não conhecer ou não ter ido visitar isto ou aquilo. Onde der para ir, vou.

A nível do que agora pretendo fazer, escrever e publicar livros, não me ponho a sonhar, a pensar que vou publicar trinta e que vou vender um milhão de livros nem que vou ser traduzida em quarenta países. Se publicar dois ou três e vender uns quantos já está bem. E se tudo correr bem, melhor. Mas porque sou focada e decidida, humildemente darei os passos que tiver que dar. E dá-los-ei por mim, batendo a uma porta, batendo a outra, preparada para ouvir muitos nãos.

De resto curto e agradeço as pequenas alegrias. Se calhar, por isso, me sinto geralmente feliz. É que não preciso de muito para me sentir bem.

Por exemplo, para mim isto é bom:

  • Estar a ler e a sentir a aragem do ventinho suave e ameno
  • Estar na sala a ver, lá fora, um esquilo a brincar 
  • Nadar, nadar, estar dentro de água
  • Comer queijo, por exemplo o de cabra, fresco ou curado, ao mesmo tempo que como fruta
  • Escrever
  • Cozinhar, apurar o tempero, estar na rua e sentir o cheirinho que sai pelas chaminés
  • Comer fruta de manhã e kefir com muesli e, depois, beber um café perfumado, espumoso e quente
  • Apanhar orégãos
  • Varrer 
  • Caminhar e conversar e caminhar
  • Abraçar o cão
  • Escolher livros, arrumar livros
  • Olhar uma bela pintura ou uma bela escultura ou uma bela dança ou ouvir uma bela música
  • Passear de carro, se possível com a janela aberta
  • Dormir quando tenho sono e acordar naturalmente
e
  • Mil outras coisas mais 
e
obviamente
  • Estar com os meus
Não sei se posso ser exemplo para alguém. Falo de mim pois é a realidade que tenho mais à mão. E falo do meu caso pois, sendo como sou, não sou dada a angústias. Sinto-me geralmente muito agradecida pelo que tenho e, como esse agradecimento, vem uma tranquilidade que é boa companhia.

Cada um é como é, e muitas vezes isso nasce com a pessoa. Mas, no que podemos controlar, talvez não almejar uma felicidade transcendente  ajude a ser feliz.

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A felicidade e alegrias, segundo Rubem Alves


CHANEL Connects - S3, Ep1 - Yinka Ilori & Kelsey Lu, Immersive Joy

Neste episódio, conheça Yinka Ilori, um artista visionário que combina a sua herança anglo-nigeriana com designs vibrantes e ousados que celebram a unidade e a acessibilidade. Unindo forças com a música Kelsey Lu, conhecida pelos seus sons eletroclássicos etéreos, os nossos convidados compartilham como a alegria alimenta os seus empreendimentos artísticos e exploram a influência da natureza em suas práticas criativas. Deixe esta discussão transportá-lo para um mundo de cor, som e imaginação desenfreada.


Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Tranquilidade. Paz.

sexta-feira, junho 30, 2023

Como ser mais feliz em 5 passos sem truques esquisitos

 

Hoje estava a dar-me para falar de felicidade. Acontece que o meu marido me disse que vai escrever uma coisa e, por isso, arrepio caminho e limito-me a pouco mais fazer do que partilhar convosco um vídeo interessante. Não sou estudiosa sobre a matéria mas, numa perspectiva meramente pessoal, concordo com o que Laurie Santos aqui diz.

Tenho para mim, isto é, na minha ignorância, que isto de se ser feliz tem também muito a ver com a carga genética. Deve haver quem tenha propensão para ser feliz, independentemente das circunstâncias, tal como quem a tenha para a infelicidade, também independentemente das circunstâncias.

Mas, independentemente disso, há também algumas regras que devem ser atendidas em especial para quem isso não seja intuitivo ou óbvio.

São coisas simples e muito eficazes.

Observa-se muito em grandes organizações que, perante as mesmas circunstâncias profissionais, há quem tenha reacções diametralmente opostas.

Vou dar um exemplo. Consoante os resultados e o atingimento dos objectivos anteriormente fixados, era costume haver atribuição de bónus. Para mim, receber um bónus sempre foi uma coisa boa. Fosse quanto fosse. 

Contudo, para muitos dos meus colegas, era um momento de stress. Ou achavam que era menos do que estavam à espera ou proporcionalmente não era tão bom quanto os de outros colegas ou sei lá.

Pois eu nunca tinha quaisquer expectativas. Por isso, tudo o que viesse à rede era peixe.

Depois não fazia ideia nem queria saber o que é que os outros tinham recebido. E, note-se, pelas minhas funções, tinha acesso a saber tudo o que cada um recebia. E, no entanto, nunca -- e nunca é mesmo nunca -- fui ver. E não fui ver porque não tinha qualquer curiosidade. Além disso, sabia que, se visse, iria ficar incomodada pois iria ver coisas que não perceberia ou não concordaria. Ora sempre quis estar feliz. Nunca procurei situações que tivessem algum potencial de me aborrecerem sem que eu tivesse qualquer contrapartida positiva para isso.

As comparações são geralmente uma fonte de chatice, especialmente para quem se acha sempre em défice de qualquer coisa. Para pessoas que acham sempre que deviam ter mais do que têm (seja dinheiro, atenção, amor, roupas, beleza, etc), a comparação com os outros só serve para acumular frustrações.

Depois há aquilo da pessoa se comprazer na maledicência e na vitimização, achar que tudo lhe acontece, que aos outros as flores crescem depressa, aos outros saem-lhes os maridos apaixonados, aos outros aparecem sempre oportunidades para grandes viagens ou para ir a belos restaurantes, que a quem menos merece é que tudo de bom acontece. Ser assim é corrosivo para o próprio. 

Se nos abstrairmos desse maneira de ver as coisas e nos sentirmos agradecidos por podermos andar ao sol sem haver risco de sermos atingidos por um míssil ou se podemos comer normalmente sem termos que ser alimentados por sonda nasogástrica ou se temos casa e dinheiro para viver condignamente, vamos andar sempre leves e felizes.

Ou se em vez de passarmos os dias inteiros a ver, nas redes sociais, o que fazem os nossos amigos ou familiares, nos juntarmos com eles e conversarmos despretensiosamente, despreocupadamente, também vai ser bem melhor.

O vídeo não tem legendas em português mas como a dicção de Laurie é perfeita e como acredito que muitos de vós não tenham dificuldade, partilho na mesma.

How to be happier in 5 steps with zero weird tricks | Laurie Santos

Às vezes, é muito difícil ser feliz. E há uma razão para isso: o cérebro humano não é programado para a felicidade. Por quê? Porque a felicidade não é essencial para a sobrevivência. Para piorar a situação, a nossa mente pode enganar-nos quando se trata de felicidade, levando-nos a perseguir coisas que não nos farão felizes a longo prazo.

Para resolver isso, a professora de psicologia de Yale, Laurie Santos, recomenda um conjunto de práticas, apelidadas de “religações”. Essas práticas incluem priorizarmos a conexão social, sermos orientado para o outro, focarmo-nos na gratidão e nas bênçãos e incorporarmos exercícios na nossa rotina diária.

Ao entendermos as armadilhas comuns de nosso pensamento e adotarmos novos comportamentos, podemos alcançar a verdadeira felicidade e fazê-la durar. Para Laurie Santos, a felicidade não é apenas um estado; é uma prática contínua.


E já volto com o texto do meu marido

Até já

sexta-feira, junho 17, 2022

A room with a view -- in heaven

 


Chovia. Trovejava ao longe. Aquele som que parece familiar, uma companhia longínqua. A serra difusa, envolta em nuvens. As árvores e as flores e os musgos molhados, exalando perfume e melancolia.

Caminho devagar, inspirando o ar tão puro, caminho e ouço os pássaros, caminho sentindo-me fora do mundo em que geralmente habito. Caminho devagar, olho a copa das árvores já tão altas, olho o céu que se esconde acima da neblina branca e silenciosa.

Quando passo ao lado da casa, olho par dentro. O meu ninho, o meu conchego, o sofá onde costumo sentar-me, os espelhos por cima do sofá, a almofada forrada a lantejoulas douradas, o reflexo da folhagem e das flores no vidro da porta que quase parece uma renda. Guardo em mim a imagem, penso que vai ser uma recordação eterna de um momento efémero. Depois fotografo. Penso: vou oferecer esta imagem, vou deixá-la voar no vasto espaço etéreo onde tudo flutua, palavras, imagens, sons, emoções, sonhos, memórias.

Aqui está. A room with a view. Ou melhor: A view with a room. Momentos de felicidade em estado puro.

domingo, maio 15, 2022

Dicas para uma boa vibe.
Torne a sua vida ser um pouco mais feliz

 



Li um artigo com dicas para uma pessoa se sentir um pouco mais feliz. Shift your vibe! 60 quick ways to make yourself slightly happier. Li e concordei com quase todas.

Recomendo a sua leitura pois tem conselhos muito abrangentes e, acredito, eficazes. Contudo, aviso desde já: não recomendo a leitura deste post a filósofos, cépticos, pessimistas ou infelizes por vocação.

Pensei em trazer para aqui os conselhos do Guardian mas, se me pusesse a traduzir, nunca mais acabava pois 60 conselhos são muitos conselhos. Claro que poderia ir ao tradutor automático e já estava. Só que não é bem assim pois o tradutor volta e meia pontapeia a minha sensibilidade e, portanto, tinha que estar a rever e corrigir. Não me apetece. Estive a ver a Eurovisão (comecei a ver e achei que aquela gente parecia estar numa boa onda, a produção era espectacular e, não menos relevante, estava cheia de preguiça para fazer outra coisa). E agora é tarde.

Portanto, vou repescar algumas daquelas dicas ou acrescentar outras ou escrevê-las à minha maneira. 

Caminhe todos os dias

Não é preciso ser muito mas, se for, melhor ainda. Pode ser ir até a um parque e dar lá umas quantas voltas, pode ser dar umas quantas voltas ao burgo, pelo passeio, pode ser ir até à beira rio ou à beira mar, pode ser andar na montanha. Andar ao ar livre. Li no outro dia que, pelo menos durante 10 minutos por dia, a intensidade da caminhada deve ser razoável. Ou seja, pelo menos durante 10 minutos não andar a pisar ovos, em deambulação lenta e romântica. Chova ou faça sol, de chapéu de sol ou de chapéu de chuva, nada deve fazer-nos arranjar desculpa. Andar. Cumprimente as pessoas com quem se cruzar, de preferência sorrindo. 

Eu tento andar pelo menos durante meia hora. De facto, ando quase sempre mais do que isso. À tarde, se puder, ando quase uma hora. E agora com o meu amigo felpudo tenho motivo para andar também a meio do dia. Contudo, se for só eu e ele, este é sempre um passeio pequeno. Mal faz as necessidades, quer vir para casa. E eu, como tenho que almoçar e geralmente não tenho muito tempo, também não me importo.

Leia ao ar livre

Leia no jardim, seja ele privado ou público, na varanda, no parque, numa esplanada -- onde for. E se não há jardim ou varanda, coloque uma cadeira ao pé da janela e abri-la. Por vezes ler ao sol é difícil. Pelo menos para mim é. O excesso de luz, incomoda. Então agora descobri o antídoto perfeito. Uso um boné daqueles que têm uma pala comprida. Dá um jeitão.

Coma bastantes saladas e frutas

Frutas e saladas são uma fonte de bem estar. Em todas as minhas refeições como salada (alface ou canónigos ou tomate, temperada com azeite e orégãos). A fruta é o meu ponto fraco. Como mais fruta do que devia e isso não é bom, tem açúcar a mais. Começo o dia com uma banana, uma laranja, meio abacate. Depois a meio do dia como uma maçã. Depois ao jantar como um kiwi ou uvas ou morangos ou nêsperas ou o que for de época. E, se há tangerinas e me dá a fome depois de alguma reunião, lá vai uma. Não deveria. Deveria cingir-me a três peças de fruta. Mas gosto imenso pelo que abuso.

Veja arte, de preferência em galerias ou museus

É daquelas coisas que faz bem à alma. Andar por lá, olhar, ficar parado a observar. Se houver bancos, ficar sentado a olhar. Por causa da covid e agora por causa do dog, isso são hábitos de que tenho andado arredada. Mas tenho que arranjar maneira de retomar. Museu de Arte Antiga, por exemplo. Depois vir para o jardim, olhar o rio, ficar sentada a sentir o fresco. Ou Gulbenkian. Ou outro qualquer. Não podendo, navegue por museus virtuais.

Faça arrumações

Despeje gavetas e arrume depois, tudo bem arrumadinho. Arrumar livros. É bom arrumar. Ver que fica tudo organizado e mais espaçoso. É uma boa sensação. Se for preciso, lave a roupa que estava guardada ou ponha-a ao sol, arrume depois, tudo mais direitinho, mais limpinho e organizadinho.

Experimente ir a sítios diferentes 

Vá ao lançamento de um livro, ouça o escritor e o que os outros dizem dele. Se calhar é uma chachada mas não faz mal, ouvir gente que se acha é uma fonte de diversão. E, com sorte, pode ser interessante. Vá a uma conferência ao fim da tarde. Vá a um workshop de jardinagem, culinária ou maquilhagem. Vá a uma aula experimental de qualquer coisa. Inscreva-se num clube de leitura. Inscreva-se em aulas de dança. Ou seja, experimente, diversifique. Ouse.

Ouça reggae ou afins

No artigo to Guardian refere Country Music. Um estudo provou que quem ouve este tipo de música melhora a circulação e o seu estado físico. Contudo, para mim, se há coisa que me deixa automaticamente bem disposta e com vontade de dançar é aquela música toda ela boa onda que logo me faz lembrar Bob Marley. Podendo, é pô-la bem alto, abrir a janela e deixar que o corpo faça a festa. Dance, sorria, cante a plenos pulmões.

Invente um cocktail

Uma boa bebida, fresquinha, a olhar a paisagem e a ouvir música é do melhor que há. Se não é de bebidas alcoólicas não tem problema. Tenha uma água tónica fresquinha (ou uma água das pedras), tenha um sumo, misture outro, misture uma casquinha de limão ou de laranja, uma pedrinha de gelo. Ou uma folha de hortelã. Ou, gostando de um cheirinho, junte-lhe rum. Ou vodka. Ou gin. Um copo grande, uma bebida colorida, o olhar descansado a olhar coisa nenhuma. Relax. Feel good.

Faça umas tostas variadas e boas

Torre um pãozinho cortado fininho ou tenha tostas já compradas feitas. Ponha na mesa manteiga, queijinhos, compotas, orégãos, azeite, tomate, mel Misture. Saboreie. Coma com calma. Acompanhe com uma bebida boa. Tenha uma musiquinha boa a tocar. De preferência esteja na varanda ou, pelo menos, de janela aberta. Se tiver amigos que possa convidar para lhe fazerem companhia, melhor. Senão, fica para a próxima.

Esqueça as redes sociais

Viva o prazer de estar e ser sem ter que estar a partilhar o que está a fazer nem sinta curiosidade em ver o que os outros andam a fazer. Descubra o prazer das coisas em si. Desligue-se da opinião dos outros. Procure encontrar a felicidade por si, nas pequenas coisas.

Brinque e faça mimos a um cão (ou a um gato)

Se tiver um na sua família, melhor. Se não tiver, descubra algum amigo que o tenha e combine encontrar-se com ele. Se não, veja se descobre algum grupo de voluntários para passear cães. Ou veja se isso pode ser um extra ou um hobby na sua vida. Ter um cão, brincar com um cão, passear com um cão é do melhor que há. Se calhar o mesmo se passa com um gato ou com uma tartaruga mas isso não sei.

Aprenda a fazer arranjos em casa

Pinte móveis antigos, pinte vasos, dê vida nova a objectos velhos, aprenda a pendurar coisas, pendure um espelho junto às flores, transforme um copo numa jarrinha, arranje florzinhas (de verdade ou artificiais, mas bonitas), conceba recantos confortáveis na sua casa.

Abrace a vida

Queira ser feliz. Queira estar de bem com a vida. Afaste-se de pessoas complicadas e procure a companhia de pessoas que transportam a vida com leveza. Sinta-se agradecido/a por viver em paz. Aprecie os milagres da perfeição espontânea. Sinta-se com sorte e com a vida pela frente. Sorria. Abrace alguém. Deixe-se abraçar pela alegria de viver.

Etc.

Não vou continuar pois, com isto, já passa das duas da manhã. E os conselhos, vendo bem, poderiam ser infinitos. 

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As fotografias são da autoria de Kellie French
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Desejo um bom dia de domingo