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quinta-feira, agosto 10, 2023

Alice Neel por ela mesma e Fran Lebowitz, a propósito de Alice Neel (e não só)

 

De vez em quando, ao ver algumas das telas que pintei, fico admirada. Não estou a dizer que as acho excepcionais, note-se. Estou a dizer que me espanto por aquilo ter saído de mim. É como quando, às vezes, leio coisas que escrevi há muito tempo e fico admirada por aquilo me ter ocorrido.

Nunca tive vontade de aprender a pintar tal como não me ocorre frequentar um curso de escrita criativa. Tenho a ideia, porventura errada, de que estas coisas ou saem genuinamente do nosso íntimo ou não vale a pena. Tenho também a ideia de que a aprendizagem tem que ser às nossas custas: experimentar, falhar, tentar de novo.

Na pintura, sempre me senti tentada pela abtracção ou, quando é figurativo, que o objecto da pintura seja inexistente. Pessoas inventadas, flores irreais, casas imaginárias, caminhos impossíveis. Talvez me aproxime do surrealismo. 

Poderia pensar que é uma defesa contra a falta de perícia. Sei que se quisesse retratar fielmente uma pessoa iria falhar. Por isso, pintando coisas inexistentes, não há o risco de virem dizer-me que a boca na pintura é mais carnuda do que a real ou que o joelho saiu bicudo demais. Mas não é (só) isso pois, ao apreciar arte alheia (em galerias ou museus) nunca é a pintura figurativa, realista, naturalista, etc, que me seduz. Prefiro aquilo que apenas existe porque o pintor o criou a partir da sua imaginação ou capacidade de abstração.

E uma coisa de que gosto é de ver/ouvir pintores, não os conceptualizam muito mas os mais prosaicos, menos dados à auto-promoção ou a armarem-se em intelectuais da coisa.

Confesso que não conhecia Alice Neel.

Mas esta porta aberta para o mundo, presente, passado e futuro, que é a internet leva-me a descobrir o que de outra maneira talvez nunca descobrisse.

Cativante esta Alice Neel na forma simples e directa como fala que parece ser o espelho da forma como pintou. O auto-retrato (acima) ou o retrato de Andy Warhol (abaixo) são disso exemplo.

Os vídeos estão traduzidos mas, aviso já, a tradução não é das melhores, deve ser tradução automática. Em tudo em que, em inglês, o género é neutro a tradução sai no masculino mesmo que se esteja a falar de mulheres. Mas, enfim, para quem não domina bem a língua inglesa, sempre será melhor que nada.

Alice Neel, 1978

Alice Neel entrevistada por Barbaralee Diamonstein-Spielvogel, para o programa de televisão Inside New York's Art World, 1978.


Engraçada também a entrevista com Fran Lebowitz sobre, justamente, Alice Neels (e não só). Fran Lebowitz é uma daquelas carismáticas figuras nova-iorquinas, diz o que lhe apetece, conhece meio mundo dos meios artísticos e boémios, tem sentido de humor e é inteligente.

Fran Lebowitz on Alice Neel | PROGRAM

Fran Lebowitz discute a vida e a obra da pintora Alice Neel, vivendo em Nova Iorque nos anos  70 e o que significa ser artista -- entrevista com Helen Molesworth. 


Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boas vibes. Paz.

terça-feira, agosto 14, 2018

Elba. Idris Elba
[E algumas memórias a propósito dos 007 a que nunca liguei patavina]




Na minha terra, quando eu era jovem adolescente -- e digo jovem adolescente porque, como me casei aos vinte, na minha cabeça, para aí a partir dos dezoito ou dezanove, já me via num outro patamar, já era pós-teenager -- na principal sala de cinema era normal a sessão englobar dois filmes. Não me lembro se isto acontecia em todas as sessões ou só nas matinées. E, agora que escrevo isto, fico baralhada. Habituei-me ao nome sem questionar. É que as matinées, tanto quanto me lembro, não eram de manhã: iam para aí das 15 ou 15:30 até às 19:30 ou 20:00. Havia, pois, um primeiro filme, tenho ideia que mais popularucho e, a seguir ao intervalo, o filme mais a sério.

Sempre adorei ir ao cinema mas, a partir da altura em que passei a ir com amigos e, sobretudo, com namorado, o cinema tinha outros encantos e, por vezes, nem era tanto o filme em si o motivo de interesse mas, sim, o convívio, a descoberta, as pequenas ousadias. Nesses primeiros anos de liberdade, todas as sessões tinham, pois, uma graça suplementar: as mãos que se tocavam sem querer, o braço que vinha cautelosamente pelas minhas costas até se instalar sobre os meus ombros, um beijinho silencioso e ingénuo que acontecia como que por acaso. 

Mas, independentemente disso, lembro grandes filmes. Tenho ideia que os rapazes, frequentemente, gostavam mais do primeiro filme. Eu via-os como hoje vejo tretas que passam na televisão e às quais não presto a mínima, entretendo-me com pequenos apontamentos completamente laterais. Saía de lá sem saber dizer o que tinha visto. Era normal os 007 aparecerem nessas primeiras partes. Carros que voavam, perseguições, cenas de pancadaria com acrobacias pelo meio, mulheres plastificadas, amores estapafúrdios. Nada daquilo me dizia alguma coisa, tudo de uma surrealidade que, a mim, me parecia pirosa. Tenho ideia que o único 007 que vi inteiro, e isto em toda a minha vida, foi o 007 e o Casino Royale. Mas não tenho a certeza que tenha sido este. Sei, sim, que foi o primeiro com o Daniel Craig. Gostei mas não guardo ideia nenhuma do que lá se passou. Acho que gostei, sobretudo, dele, em especial quando estava fragilizado. Agora porque é que estava fragilizado não faço a mínima.

E, no entanto, cá em casa, quando dava ou dá o 007, não há zapping. E mesmo a nível de DVD, tenho ideia que temos uns quantos. Mas não faz o meu género. Nada a fazer. Sou mais Dangerous Liaisons ou Lady Chatterley's lover ou, mais recentemente, o Samba. Por exemplo. Nessa altura lembro-me, acho, Les uns et les autres ou Mourir d'aimer ou coisa por aí. 
E lembro-me de uma cena macaca de que já aqui falei, acho. Pelos cartazes pareceu-me que um certo filme haveria de ser bom, alternativo talvez, mas interessante. Sempre as coisas disruptivas me atraíram. Mas o namorado era muito recente e era à noite e os meus pais embirraram. Decidida que estava a ir, na maior bravata, disse-lhes que fossem também. Aceitaram. Pois. Passei pela maior saia justa de toda a minha vida e, ainda hoje, quando me lembro, me encolho. Um horror. 
Hardcore puro e duro. Já não me lembro se era o Trash ou o Flesh do Andy Warhol. Um deles. Sexo de toda a maneira possível e imaginária. Comportamentos desviantes também de toda a espécie e feitio. Coisas com que eu nunca tinha sonhado. E eu ali com um namorado novo e com os meus pais ao meu lado. Só pensava em pedir para nos irmos embora, em pedir desculpa, em enfiar-me pelo chão abaixo. Enterrada no cadeirão, eu dizia ao meu namorado: 'Que horror, que vergonha... No intervalo vamos embora...'. Ele não estava menos encabulado que eu. No intervalo, levantámo-nos e eu a pensar como é que, depois daquelas cenas escabrosas, eu ia ser capaz de encarar os meus pais, pronta para ir para casa e, quiçá, receptiva a uma valente desanda. Acho que até uma bofetada eu era capaz de aceitar de bico calado, como se fosse a coisa mais justa que me poderia acontecer. No entanto, para nosso espanto, os meus pais estavam como se nada de estranho se tivesse passado, impávidos e serenos. Ficámos sem acção para propor que desandássemos. Vi a segunda parte em estado de negação, mentalmente indisponível para assimilar aquela galdeirice, aquela desbunda, aquela pouca vergonha que para ali ia. Com os meus pais, nem uma palara depois disso. Como se nunca tivesse acontecido. Sabedoria em estado puro.
Mas nem sei a que propósito veio isto agora porque queria era falar do próximo 007.

Não prestando, pois, atenção aos enredos e àquela palhaçada toda, o único a que prestei minimamente atenção, pelo charme, foi ao Sean Connery e, como disse, não desgostei do Daniel Craig. Ao Roger Moore nunca achei ponta de graça. Já em novo se antecipava o canastrão em que cedo se tornou. Homens com feições muito perfeitinhas, todos muito bem acabadinhos são, a meus olhos, homens desengraçados.

Portanto, quando hoje ouvi que se fala em Idris Elba para digno sucessor de Daniel Craig na longa galeria de actores que, desde o início dos tempos, vêm protagonizando o agente James Bond, todos os meus sinos tocaram. O meu marido franziu o semblante, diz que não faz sentido mas, cá para mim, é ciúmes. Pelo Idris Elba eu torno-me fã do 007. Pelo Idris Elba eu passo a ficar ao lado dele, quietinha, a papar os 007 de cabo a raso. Ai não que não fico.




Mal posso esperar. Nunca terá havido outro James Bond como ele. 
007 da melhor cepa.

[Aqui em A montanha entre nós com Kate Winslet]


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sábado, outubro 14, 2017

Vítor Gonçalves entrevista Sócrates e entaipa-o com resmas de folhas do processo Marquês.
[A Inquisição Espanhola e outras cenas]





Ora, então, muito bem. Não vi em directo. Andei passeando à beira-mar, respirando o ar fresco da noite, ouvindo o rebolar manso das ondas. Depois, aqui chegada ao meu sofá de estimação, encostei-me e, de imediato, adormeci.

Vinha com a incumbência mental de, mal aqui chegasse, escrever um mail profissional da máxima importância mas, com o sono, esvaíu-se a importância. O costume. Penso que era a isto que Einstein se referia quando teorizou sobre a relatividade. E, se não foi a isto, foi a algo parecido. O sono dilata o espaço e, com a dilatação do espaço, minimiza-se o que tem dimensão limitada. Ou o tempo. Ou encurvam-se os planos em que nos deslocamos, tendendo tangencialmente para o infinito. E aí entrarão, quase divinas, os acordes das ondas gravitacionais. A poesia potenciada pela teoria das probabilidades. E, claro está, tudo isto é pseudo ficção. Ou talvez não. Tanto faz -- não interessa.


Mas para dizer que, agora que acordei, vi referências à entrevista por todo o lado. Sócrates tinha ido à televisão e parece que foi mais uma performance daquelas. Ora bolas. Gostava de ter visto. Lembrei-me: posso ver. Portanto, peguei no comando e, estremunhada, pus-me a manobrar a coisa. Vi-me e desejei-me para atinar com esta coisa de pôr a box a andar para trás no sítio certo.

Mas lá consegui. Já cá estão os dois. O tal jornalista que, segundo me contaram, um dia, numa reportagem algures, fora do país, se assustou de morte e, perante uma coisa de nada, se atirou de uma janela, partiu uma perna e fez cocó nas calças como um menino assustadiço -- para gozo de quem assistiu a tão ridícula cena. Não sei se é verdade mas garantiram-me que sim. No entanto, olhando para ele, estou capaz de o imaginar a atirar-se para debaixo da mesa, assustado com a banhada que está a levar de Sócrates.

Mas, então, Sócrates.

Admito. Se calhar sou eu que sou burra mas vejo Sócrates a falar e parece-me seguro no que diz. E vejo o Vitinho e até me dá pena. Fraquinho, fraquinho, fraquinho. 

E ouço as perguntas do dito Vítor e tudo aquilo que ouço (e que reproduz as acusações do despacho), me parece pífio, frouxo. Parece conversa de chacha. Mas pode o processo ser extraordinário e o Gonçalves é que ser um totozecas.


No entanto, se isto é para funcionarmos na base da fezada, então, cá para mim, aquelas perguntas e toda aquela acusação me parece coisa de crianças ou de detectives falhados, ou uma investigação na base dos meus amigos monty. E Sócrates, com uma perna às costas, desmonta aquela conversa em três tempos. 

Mas, com tanto inteligente a decretá-lo culpado, admito a hipótese de ser eu que sou burra. Admito. A sério.


No entanto, deixem que volte à mesma. É a minha matriz. A minha formação. O meu gosto pela Lógica. O prazer em dissecar raciocínios, o prazer em detectar falácias. O prazer em construir modelos rigorosos que reproduzem a realidade. Fui aluna de 18 a Lógica. E se aquilo era exigente. Mas também pode acontecer que fosse aluna de 18 aos 18 e que agora, com os neurónios desgastados, se me apresentasse a exame, não fosse além de uma valente nega. We never know.

Mas, então, numa de rigor contextual. Estamos a avaliar o quê? A moral de Sócrates? A capacidade política de Sócrates? A culpabilidade, em termos criminais, de Sócrates?

É que o primeiro cuidado a ter é o de separar as águas. 

Há vários anos, era Sócrates primeiro-ministro. Rodeada de direitolas, alguns muito meus amigos, ouvia-os dizer cobras e lagartos de Sócrates. Eu dizia: o governo está a ter um bom desempenho. Eles diziam: é irascivel, é arrogante. Eu dizia: não estou  dizer que fazia dele um best friend forever, estou apenas a dizer que está a fazer um bom trabalho no governo. Eles diziam: é uma pessoa intratável. Eu dizia: não estou a avaliá-lo do ponto de vista pessoal mas político. 


Isto. Durante anos. Misturavam planos, contaminavam os juízos que formulavam, misturavam a avaliação política com a avaliação pessoal. 

Agora não é isso. Agora avalia-se o carácter (com base no que a comunicação social divulga do processo) e mistura-se com um tema criminal.

Admitindo que é verdade que Sócrates tenha pedido dinheiro emprestado ao amigo e que fazia vida de nababo à conta dele, isso permitir-nos-ia formar juízo de índole moral. 

Ora, o que está em causa é matéria judicial. É crime usar dinheiro emprestado? Não creio. 

Claro que a suposição é que o dinheiro não era do amigo mas, sim, dele. Ou seja, está-se perante uma suspeita. Ele diz que é falso e di-lo com absoluta convicção e prova-o documentalmente. Mas é aqui que devem entrar os tribunais. É aos tribunais que incumbe a responsabilidade de avaliar se as suspeitas colhem, se as provas existem e se são robustas -- e, então, formar um juízo.

de Yayoi Kusama

Não é ao vulgar cidadão, que não tem os instrumentos de que dispõem os tribunais, que incumbe a responsabilidade de julgar e condenar. Mal fora. Talvez o tal Ventura de Loures, que defende a pena de morte, vá por aí, de dizer que não vale a pena esta coisa dos tribunais. Mas acho que era bom que as pessoas normais não alinhassem neste primarismo de fazer justiça pelas suas mãos.

Do que estou a ouvir, todas as 'acusações' são refutadas por Sócrates e parece que com fundamentação, deixando o dito Gonçalves com ar completamente apalermado.

Sócrates fala e parece deixar claro que tudo o que ali está mais parece uma palhaçada mal alinhavada. No entanto, os tribunais o dirão. Os tribunais. Os tribunais -- e não os zés da esquina que somos nós. Os tribunais e não quem se deixe impressionar pelo tamanho de resmas de papel colocadas numa mesa, ao lado do arguido, numa tentativa de o querer mostrar enterrado entre milhares de linhas acusatórias..

Quanto a acharmos que Sócrates pode ser convencido, assertivo, vaidoso, autoritário, de ser isto, aquilo ou o outro, é outro assunto, e aí entramos no domínio do subjectivo. Cada um pode achar o que quiser e cada um pode ser como quiser. Não é tema para ser misturado com temas criminais.


E eu, para concluir esta divagação, o que lamento é que a justiça seja tão lenta. Andar uma pessoa a ser investigada durante quatro anos -- a vida devassada, exposta nos meios de comunicação social, os queixumes da mãe de que está depenadinha a serem objecto de títulos de jornais, a vida inteira a ser pasto de comentadores, jornalistas a metro e redes sociais -- parece-me um abuso indesculpável. Pensar que agora ainda pode demorar mais uma mão cheia de anos até que isto se resolva parece-me uma autêntica barbaridade.

A Justiça não deve servir para poder destruir uma pessoa antes sequer de se saber se é culpada de alguma coisa.

Se se vier a provar que é inocente, quem lhe devolverá todos os anos que lhe terão sido roubados?

E não o digo por ser Sócrates: digo-o porque é um cidadão português e porque uma tragédia destas, de alguém se ver enredada nas malhas da justiça, pode acontecer a qualquer pessoa.

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Tirando isto tudo, se é para haver inquisição, pois, então, que entrem os meus amigos:

Monty Python - Inquisição Espanhola


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As imagens que aqui usei provêm da Vogue parisiense e, claro está, não têm nada a ver com nada.

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quarta-feira, maio 10, 2017

Lamento, mas estou mesmo capaz de preferir a banana da Gina G. à do Andy Warhol


Esta é a banana do Andy Warhol (do Andy Warhol, salvo seja). Aqui, loura e intacta. Não desfazendo, parece ser uma boa banana. Foi capa de disco e dizem que tinha uma forte carga erótica. Não sei. Olho-a e o que vejo é apenas uma banana que tem ar de ser uma boa banana. Não é pouco, isso, mas, a bem dizer, também não é sinónimo de transcendentalidade.


Já a banana da Gina G. (e aqui, claro está, duplamente salvo seja) tem vida, é tela, é objecto estético e, no fim, mostra-se como objecto a quem alguém não lhe resistiu e, isso sim, já é digno de registo. E, portanto, entre a banana distante do Warhol e o objecto estético e comestível da Gina G, sorry so much pure* guys, mas eu voto na Gina G.

NB: * Atenção: pure e não poor. Purist, vá.




(Naturalmente, fotos da Gina G.)

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E aqui seguem os votos de que todos os domingos sejam dias felizes para a Gina G. e para todos os seus admiradores -- e também para os Leitores do Um Jeito Manso.

E os votos vão ao som dos Velvet Underground que exibiam a banana do Andy na capa.



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sexta-feira, novembro 13, 2015

Quando contei, só estavas tu... mas quando olhei, só vi uma sombra* - ou quando os beaux esprits se juntam


Quando escrevi o post abaixo estava ainda sob o efeito das notícias do dia, laparices de última hora, trampolinices do irrevogável, ameaças soezes aos socialistas, uma venda da TAP feita a correr, a comunicação social ao serviço dos pafiosos, sei lá. 

Mas agora já exorcizei do meu pensamento esses demónios que por aí andam à solta e que, se não nos acautelamos, se aproximam de nós, deixando a sua baba infecta no espaço que pisamos. 

Tinha umas quantas ideias em mente, para ainda aqui escrever, mas esta semana tem sido brava e, a esta hora tardia, eu estou cansada. Talvez amanhã fale, então, de gente rica, mas mesmo muito rica, pornograficamente rica, ou fale de poesia e de poetas e de mulheres que inspiram poetas. Ou talvez me ponha para aqui a ficcionar, ando com vontade de desligar o filtro da realidade e deixar a imaginação descobrir, sozinha, os caminhos por onde gosta de se perder. Ou talvez fale de um bosque cujos pinheiros ajoelharam ao ver a luz do dia.

Mas não hoje que hoje tenho que ir descansar. Mas, antes de ir, quero aqui partilhar a notícia boa de que o regime iraniano, aos poucos, começa a dar sinais de alguma abertura e que, como geralmente acontece, esses sinais chegam do lado da arte.

À esquerda, Mark Rothko, Sienna, Orange and Black on Dark Brown, 1962;
À direita, Andy Warhol, Suicide (Purple Jumping Man), 1965.
Cortesia do Tehran Museum of Contemporary Art



Uma colecção de arte ocidental, obras escolhidas por Farah Diba Pahlavi, estava praticamente escondida desde a revolução de 1979, quando o marido, Reza Shah Pahlavi, foi deposto. Dessa colecção fazem parte, entre outras, obras de Andy Warhol, Claude Monet, Roy Lichtenstein, Jackson Pollock, Alberto Giacometti, Willem de Kooning, René Magritte e está avaliada em cerca de 3.000 milhões de dólares.


Francis Bacon, Reclining Man with Sculpture, 1961


A exposição tem o nome de Farideh Lashai: Towards the Ineffable. Farideh Lashai foi um espírito livre, uma mulher moderna -- uma artista iraniana que morreu em 2013 com 68 anos. Na exposição, as referidas obras ocidentais enquadram as suas obras. Há também obras de outros artistas iranianos. A ideia do curador é tecer uma aproximação intercultural - e, mesmo sem ver, já acredito que esta exposição seja um acontecimento fantástico.

Farideh Lashai, I Come From the Land of Ideology, 2010


Claro que já há museus interessados em exibir partes desta exposição pelo que, quem possa e esteja de água na boca mas não esteja com muita vontade de ir até àquelas bandas, poderá vir a encontrar, mais tarde, algumas destas obras em exposições em Washington, D.C., Berlim ou Frankfurt.

Farideh Lashai, When I Count, There are Only You… But When I Look, There is Only a Shadow , 2012-2013

[* - Do título deste quadro fiz o título da mensagem.]


Se eu não estivesse como estou, quase a adormecer, traduziria parte do artigo da Vanity Fair ou do The Art Newspaper -- mas não consigo. Por isso, deixo-vos apenas os links e as imagens de algumas obras.

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E, porque um conjunto tão significativo de obras pede, como acompanhamento, um desempenho musical fora do comum, junto um vídeo que mostra um momento ímpar: em volta de um único piano, um grupo de uma dúzia de conceituados pianistas improvisa uma inspirada orquestra. Só vendo. Ou melhor: só ouvindo. Uma festa.


Washington Conservatory : What is the sound of E. Pluribus Unum?


Maravilhamentos.
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E agora, se vos apetecer emoções fortes, sigam, por favor, até ao post já a seguir.
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quarta-feira, setembro 25, 2013

O dia em que tive a maior vergonha da minha vida. Ainda hoje, tanto tempo depois, só de me lembrar já sinto aquela sensação horrível. Que vergonha...


No post abaixo mostrei quatro políticos nacionais de se se lhes tirar o chapéu. Comunistas. Não sei se são solteiros e bons rapazes mas isso também aqui não interessa para nada. Se no domingo houver sítio para se votar nos mais giraços, voto neles, está decidido. Quatro pães (dantes dizia-se borrachos). O PCP faz criação de homens bonitos, disso parece não haver dúvida.

Mas isso é no post seguinte. Aqui, agora, a conversa é outra. Estava a escrever aquilo e a pensar que os rapazes são uns borrachos e, por borrachos, lembrei-me dos meus tempos de namoro com o maior borracho do pedaço. Vamos ver como vou escrever para não chocar as almas mais bentinhas.

*

Já aqui contei: eu namorava outro. Era bem comportado, educado, simpático. Os meus pais gostavam dele. Antes desse, eu tinha andado de namoro com outro que era doido varrido, um caso sério de paixão louca entre nós dois e os meus pais sobressaltavam-se. Com este a coisa era mais calma, não havia razão para alarme. As minhas avós também gostavam muito dele, era bonito, delicado, cantava lindamente. Os pais dele também gostavam muito de mim. Quando eu fazia anos ou pelo Natal, ofereciam-me sempre um presente para mim e um para a casa. Esta de me oferecerem louça e coisas assim deixava-me um bocado incomodada mas enfim. De qualquer maneira, ainda agora uso umas travessas de inox que foram eles que me ofereceram, estão como novas, lembro-me da senhora dizer que eram boas e, de facto, têm sido. De vez em quando os meus pais convidavam os pais dele para virem a nossa casa e outras vezes eram eles que convidavam os meus pais. Não sei porquê mas aquela coisa tão familiar não me agradava muito mas o namoro nasceu logo tão pegado e tão institucional que a coisa andou dessa forma.

Enxoval já todo feito, famílias cada vez mais próximas (tias incluídas), tudo levava a crer que o casamento estava mais do que certo.

Até que aconteceu aquilo de que aqui já vos contei

A minha mãe estava mais ou menos ao corrente daquela minha vida dupla e vivia apavorada que a coisa desse para o torto, Lidar com um já é uma canseira, fará com dois, dizia-me ela. E tu vê lá no que te metes. E, Ai valha-me Deus. Um susto permanente. Por isso não lhe podia contar tudo. E sempre a recomendação final, E o teu pai que não sonhe...

Não sonhou.

Na véspera de acabar o namoro com o noivo disse ao meu pai. Vou acabar o namoro. O meu pai não disse nada. Ficou sério. Depois perguntou Mas porquê? Respondi, Porque já não gosto dele. Não insistiu mas ficou apreensivo. Acho que pensou que se calhar eu corria o risco de ainda ficar solteira.

A minha mãe tinha-me pedido, Tu não digas nada ao teu pai que já tens outro senão ele desconfia logo que foi por isso. Não gosto nada destas coisas mas tanto me pediu que lhe fiz a vontade. Aliás, como vos contei, era minha firme intenção deixar passar um tempo antes de me meter noutro namoro. Mas no dia seguinte mudei de ideias.

A minha mãe pediu: Mas, para já, não digas nada ao teu pai, deixa passar algum tempo.

Mas eu não sou de deixar passar o tempo. No fim de semana seguinte, o meu pai tinha ficado de me ir buscar a um sítio. Eu estava com o meu novo namorado mas, para não ferir a susceptibilidade do meu pai, combinei que me despediria antes para o meu pai não o ver. Só que, nestas coisas, não sou de me dar a grandes cuidados. Para poder estar com o meu amor até à última, deixei que ele me levasse mesmo até ao sítio onde o meu pai me iria buscar. Nada a fazer. O meu pai já lá estava. Quando me viu, saíu do carro e olhou muito admirado para o meu acompanhante, um total desconhecido para ele. Eu apresentei-o. Acho que apenas disse o nome, tenho ideia que não disse que era o meu novo namorado. Mas não foi preciso. Esquecida de cuidados, despedi-me dele com um daqueles big beijos na boca em que nos tínhamos tornado peritos. O meu pai deve ter ficado de cara à banda. Nem me lembro do que ele me disse no carro - se é que disse alguma coisa.

Sei que disse à minha mãe que o tipo não parece boa peça, cabelo comprido, barbas, e deve ser um descarado, a beijá-la daquela maneira ali à minha frente, sem me conhecer. Mas, uma vez mais, acho que até fui eu que comecei por beijá-lo assim, esquecida de que o meu pai estava ali. Ou seja, assim de chofre, sem ter tido para assimilar a coisa por partes, o meu pai apanhou logo um susto dos valentes.

A partir daí, a coisa complicou-se para o meu lado: os dois, ele e a minha mãe, de pé atrás com ele.

Uns dias depois, eu quis ir ao cinema à noite com ele e o meu pai não deixou. Tentei que a minha mãe intercedesse - mas nada. A minha mãe também estava céptica. Ele, sabendo que eu namorava com outro tinha-se andado a fazer a mim, não devia ter princípios, que sabe-se lá quem é, que gente é essa,... Por mais que eu explicasse que eu tinha vontade própria, que tanto se tinha atirado ele a mim quanto eu a ele, que tanta falta de princípios tinha tido ele quanto eu, aliás eu, pior eu ainda que ele, nada a fazer: ele era o mau da fita, um perigoso marau que tinha seduzido a ingénua donzela.

Furiosa, disse: eu já combinei com ele ir ao cinema, não vou agora dizer que os meus pais não me deixam, até teria vergonha, isso eu não digo. Mas venham connosco, venham fazer de paus de cabeleira para impedir que a gente esteja no cinema de mão dada.

A minha mãe não queria, o meu pai ainda menos, mas lá devem ter pesado os prós e os contras e aceitaram.

Perguntaram-me que filme é que era e eu não sabia. Sabia apenas que tinha lido vagamente qualquer coisa a ver com o Andy Warhol, pensei que deveria ser uma coisa pop, artística, nem sei. O filme era o que menos interessava.

Lá fomos, os meus pais muito secos, a minha mãe um bocado nervosa, estava a ver o meu namorado pela primeira vez, e tão diferente que era do outro. Eu e ele na boa, embora eu estivesse curiosa por saber o que achava ela dele. Presumia que o ia achar um borracho mas sabia lá se não ia embirrar com alguma coisa.

Até que o filme começou e, aí, eu comecei a ficar atrapalhada. E o meu namorado também. Quanto mais o filme avançava mais eu ficava nervosa. Só me apetecia meter-me debaixo da cadeira. A mão do meu namorado começou a ficar gelada e transpirada. Ou então era a minha que estava assim. Eu só dizia, ai valha-me deus, ai, que horror. Ele, incomodado também, dizia, Não olhes. Para ele também era uma situação terrível.

Eu já mal conseguia olhar para o écrã, nunca tinha visto uma coisa assim. Aliás, nem percebia o que estava a acontecer. Palavra de honra. Vocês nem imaginam. Eu só pensava no que os meus pais estariam a pensar. Imaginava que no intervalo me iam dar uma valente bofetada, talvez até o meu pai desse um murro mesmo em cheio na cara do meu namorado. Apavorada. Eu estava apavorada.

O meu namorado disse: no intervalo pedimos desculpa aos teus pais, explicamos que não fazíamos ideia, e vamo-nos embora. Mas eu só queria fugir, não ter que encarar os meus pais.

Aquilo nem era pornografia. Era uma outra coisa. Pior, acho eu. Ele era sexo oral explícito, grandes planos, homens com homens, sodomizações para todos os gostos, sei lá. Uma coisa sem explicação. Nem sei. Eu já me encolhia, fechava os olhos, uma vergonha sem tamanho.


Se querem que vos diga nem sei qual dos filmes foi, se foi o Flesh, se foi oTrash. Era do Paul Morrisey, o que era assistente do Andy Warhol. Depois vi que era cinema underground, uma coisa assim. Fui agora ver os trailers e penso que deve ter sido o Flesh pois, embora não encontre o do Trash, vi algumas cenas e parece-me que esse seria passado mais no mundo da droga enquanto o primeiro seria no mundo da prostituição masculina.





Até que foi o intervalo. Pensei, É o meu fim. E preparei-me para o pior.

Mas não. Estranhamente, os meus pais estavam como se não fosse nada com eles, não se deram por achados, aguentaram firmes, com superioridade. E eu, tão aflita estava, nem tive coragem para dizer para nos irmos embora, estava verdadeiramente sem acção. Se calhar o mesmo se passava com eles. Voltámos para a sala depois do intervalo. Encolhi-me e tentei não ver nada para não morrer de vergonha.

Nunca mais falámos no assunto. Uma pedra em cima.

E uma coisa é certa: nunca mais se colaram a nós. Acho que puseram as barbas de molho, coração ao largo. Não sei. Se calhar acharam que foi de propósito, que fomos nós que os quisemos praxar e nunca mais se arriscaram a outra. Não faço ideia.

Mas vocês querem crer que ainda hoje sinto vergonha...? Que vergonha... Que cena do caraças, que horror.

***

Bem. Já escrevi outra vez que me fartei, credo. Vocês desculpem lá estes lençóis. Não vou reler pelo que, por favor, relevem as gralhas, está bem? (Mas se derem com alguma de arrepelar os cabelos, por favor avisem-me, ok?)

Relembro: para verem a criação de gatos que é o PCP, desçam, por favor, até ao post seguinte. É um consolo para a vista.

***

E por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros leitores, uma belíssima quarta feira!


quarta-feira, outubro 06, 2010

Andy Warhol, Roy Lichenstein - ou os limites da criatividade, da arte

Onde começam e acabam a arte, a criatividade?



Um dos nomes mais representativos da Pop Art, Andy Warhol criou, nos anos 60, várias imagens produzidas em série a partir de fotografias de celebridades tais como Marilyn Monroe, Elvis Presley, Liz Taylor e Jackie Onassis.

O tão conhecido conjunto de Marilyn's  foi feito após a morte da actriz em 1962. São 50 imagens feitas com base numa fotografia publicitária (do filme Niagara).

A técnica que usava era pintar em cima de uma tela de seda colocada sobre uma projecção de um slide da fotografia que servia de 'modelo'.

Anteriormente as suas pinturas eram feitas a partir de cartoons e de anúncios publicitários.

É do conhecimento público o valor que recentemente um dos seus quadros atingiu: 100 milhões de dólares.

Encontra-se representado em vários museus e existem mesmo dois museus que lhe são dedicados: the Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, Pennsylvania que é o maior museu americano dedicado a um único artista e the Andy Warhol Museum of Modern Art, em  Medzilaborce, Eslováquia.

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Lichtenstein, outro dos nomes grandes da Pop Art, começou os seus primeiros trabalhos de 'pintura pop' usando também como base cartoons, usando técnicas que emulavam a aparência comercial. Esta fase prolongou-se até 1965 usando imagens de anúncios e cartazes publicitários.

Recebeu numerosos prémios, condecorações, reconhecimento académico e público e as suas obras podem ser vistas nos grandes museus.
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