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terça-feira, junho 24, 2025

Sobre o conflito entre os Anjos e a Joana Marques

 

Ando tão numa outra que me parece pura perda de tempo pôr-me a falar de temas que não me interessam. Mas a verdade é que compreendo que quem aqui me visita também já deve estar pelos cabelos com os meus bucolismos e as minhas florzinhas. 

Só que falar dos ataques de uns malucos a uns fanáticos, das retaliações de uns estupores a uns fundamentalistas, de umas ameaças de uns filhos da mãe a uns sacanas de primeira é coisa que me maça. Pá, maça-me mesmo. Mesmo que queira alinhar três palavras falta-me a inspiração para inventar motivações válidas ou reações lógicas. Tudo me parece uma soap opera ensopada em sangue, fragmentada por estilhaços, mas com a agravante de os intervenientes serem uns palhaços, uns trogloditas. Por isso, lamento mas não consigo. 

Acho que ando em modo 'férias grandes'. Quando andava no liceu, aspirava a entrar nas férias grandes em que havia sempre praia com amigos, festas de anos com slowzinhos e bolos incluídos, passeatas e risotas com fartura. E esse espírito parece que desceu em mim e me impede de me deter em temas 'pesados' ou chatos ou absurdos.

Sobre o Governo também não quero dizer nada. Ainda agora começaram, há que esperar para ver. Além disso, quero que, a bem do País, as coisas lhes corram bem. E, no que se refere à oposição, o PS tem que dar ao pedal para se voltar a aguentar em cima da bicicleta, mas há também que lhe dar tempo. Tempo. Aguardar. Não falar só por falar. 

Por isso, querendo não defraudar a paciência de quem aqui vem na esperança de me ouvir a falar de coisas mais actuais e concretas, vou falar do conflito entre uns tais Anjos e uma tal Joana Marques. 

Para começar tenho que confessar que não sou seguidora ou apreciadora nem de uns nem de outros. Do pouco que lhes conheço, a qualquer dos três, não aprecio. Nada daquilo faz o meu género. 

Mas se acho que o que eles cantam não faz mal a ninguém, quem gosta gosta, quem não gosta segue em frente, já do que ela faz não se pode dizer o mesmo.

É humor, dizem. Mas eu, ao pouco que lhe tenho ouvido nunca achei ponta de corno de piada nenhuma. Parece-me apenas uma criatura maledicente, antipática. Haverá quem ache graça a ouvir umas pessoas a troçarem de outras. Eu não acho. Pelo contrário, incomoda-me.

Quando o Ricardo Araújo Pereira põe a ridículo maus desempenhos no exercício de cargos públicos por parte de pessoas pagas por todos nós e que se revelam uns burgessos que não sabem falar, nem estar, nem fazer, não me choca. É gente incapaz cuja profissão supostamente é trabalhar em benefício da população e que, nos vídeos que ele mostra, se revelam uns bimbos que jamais, em tempo algum, deveriam estar naquelas funções. Outras vezes mostra candidatos que pisam o risco, que tropeçam, que se desviam. Mas, lá está, estão a candidatar-se a cargos públicos. Seria bom que fossem exemplares, competentes, acima de qualquer suspeita. Por isso, não me choca que sejam chamados à atenção. E se o forem de forma como ele o faz em que pouco diz, apenas os expõe e, sempre, através de vídeos públicos, também nada a dizer. Não sei se aquilo é humor ou se é crítica social ou política. Mas aceito.

Mas gozar com pessoas que estão no exercício do seu trabalho e no decurso da sua vida, por exemplo por cantarem menos bem, por se vestirem menos bem, por trabalharem de uma forma algo questionável ou seja lá por que for, isso parece-me bullying, maldade, exercício gratuito de maledicência. Forçosamente irá afectar negativamente as vítimas, irá humilhar as pessoas, envergonhá-las, prejudicá-las. Nunca gostei de assistir à troça de uns sobre os outros. Nunca. Se não consigo impedi-lo, afasto-me. 

Tenho observado que meio mundo anda a defender a pespineta Joana Marques. Alega-se que é humor ou liberdade de expressão. Não concordo nem um pouco. O que ela faz é dizer às claras aquilo que os maledicentes fazem à boca pequena, é dizer de viva voz o que tanta gente anónima despeja nas redes sociais. Mas isso não é bom pois a humilhação que inflige aos visados é ainda mais cruel, mais amplificada. 

Dito isto, acho também um disparate a reacção dos Anjos com o recurso à via judicial, com aquele pedido de indemnização. Penso que mostrarem publicamente o seu desagrado e seguirem em frente teria sido mais razoável, mais digno. Assim, o que conseguiram foi o oposto do que pretendiam: são ainda mais ridicularizados. Mais valia terem ficado quietos.

Agora penso que seria interessante que se debatesse sobre o caminho do entretenimento em Portugal. Se ouço algumas rádios, fujo a sete pés: meio mundo diz graçolas parvas, riem-se muito das parvoíces que dizem. Se calha ouvir alguns podcasts, fujo a sete pés: perguntas parvas, respostas parvas, a futilidade como o novo 'normal'. E o endeusamento que fazem desta Joana Marques é outra aberração. Como pode ter tamanho palco uma pessoa que amesquinha os outros, que é gratuitamente desagradável, que causa constrangimento e angústia às suas vítimas? Em que mundo é que aquilo é humor? Gozar com os outros, apoucá-los, é engraçado? Não acho. Acho triste.

Já é tempo de se reconhecer o mérito a quem tem alguma profundidade, a quem consegue falar de assuntos interessantes, desenvolvimentos científicos, arte, experiências sociológicas, a quem consegue falar de assuntos em que haja mérito, a quem revele saber e cultura, a quem tenha graça e delicadeza e bondade -- em vez de dar palco a parvoíces de gente parva que se acha engraçada a expor a sua vacuidade e a troçar com as fragilidades alheias.

quinta-feira, outubro 03, 2024

Se empatia é calçar os sapatos dos outros, então, santa paciência, não sou nada empática

 

Para começar não sei se empatia é isso dos sapatos. Tenho dúvidas. Segundo o Priberam, empatia é a forma de identificação intelectual ou afectiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa. E não vejo aqui qualquer referência a sapatos. 

Mas, ironias à parte, tenho que confessar que me faz impressão calçar sapatos usados por outra pessoa. Roupa, desde que limpa, não me importo. Mas mesmo assim prefiro conhecer a pessoa que a usou. Usar roupa sem saber se a pessoa que a usou era limpinha, lavadinha, isso faz-me alguma impressão. Ou seja, não sou o público ideal para as lojas de roupa usada. 

Quanto à empatia, tenho ideia que sou empática. Os assessments a que fui sujeita enquanto trabalhava (e com muito gosto o fui, pois ser analisada, escrutinada, avaliada e etc. sempre foi pratinho que me soube bem) diziam que sim, era empática, sim senhor. 

Mas, afinal, pelo menos na minha vida civil, não sei se sou assim tanto. Ou melhor: se ainda sou. 

Por exemplo:

  • A minha capacidade para me identificar com os tontos do Governo que se papagueiam uns aos outros, mesmo que seja para papaguearem disparates e nulidades, é limitada. 
  • A minha capacidade para achar graça à humilhação a que a Joana Marques gosta de infligir às suas vítimas, em particular quando o faz em público, expondo o humilhado à multidão enquanto goza com ele, é muito, muito limitada. 
  • A minha capacidade para perceber o ponto de vista da Ana Moura que, numa cerimónia (que pode ser questionada pelo seu valor, pelo seu préstimo, pela sua credibilidade mas que, para todos os efeitos, é uma cerimónia -- em que quem lá vai deve respeitar o dress code), se apresentou em trajes menores, zero de confecção, zero de côuture, zero de bom gosto, com os seios e os próprios mamilos à vista, é muito limitada. 
  • Identicamente a minha capacidade para tolerar o desbocamento torrencial da fonte de Belém também se esgotou. Desde há muito.
  • E a minha capacidade para aturar a histeria presidencial, da AD, das televisões e de tutti quanti que querem à viva força obrigar o PS a enfiar o Orçamento pela goela abaixo, seja o que for que ele contemple, é deveras limitada. Deveras.
  • E, agora, até o FMI vem dizer que o IRS Jovem é a ideia mais burra que alguma burra algum dia pariu. Face a isso, o Montenegro vai tirar o tapete ao Sarmento? Não, senhor. Em vez disso vai fazer de conta que está a fazer a vontade ao PS, através de uma proposta irrecusável. E eu, perante isto, aqui confirmo: a minha capacidade para aparar chico-espertices destas já foi ultrapassada há algum tempo.

Por isso, em dias como o de hoje, um dia cinzento, uma persistente chuvinha molha-tolos, interrogo-me: seria eu capaz de calçar os sapatos do Montenegro, da Senhorinha da Administração Interna, da baderneira-mor da Saúde, do Lentão que até dá dó, do inteligente Sarmento, do Dissolvente... e por aí vai...? Ou seria eu capaz de calçar sapatinhos como os que aqui mostro?










Resposta à pergunta lá de cima: Não, não creio.

(Mais sapatinhos aqui)

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E não vale a pena virem aqui dizer que este post é disparatado. Eu sei que é. Mas vou falar ajuizadamente a que propósito? Ah pois é, bebé. 

Portanto, passo já para a secção musical.

In Hell I´ll Be in Good Company 

(metal cover by Leo Moracchioli)


Dias felizes para todos