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sábado, julho 10, 2021

O Vieira, o Berardo e todos os outros, incluindo os deputados que são advogados nas Sociedades que prestam suporte jurídico ao Vieira, ao Berardo e aos outros

 

Daqui

Nisto do Vieira, tal como no caso do Berardo e tal com vários casos anteriores, o que me surpreende é que se continue a falar de casos isolados que se vão avolumando à vista de toda a gente que deveria ver (Assembleias Gerais dos Bancos ou de Sociedades de que tipo forem, Conselhos Fiscais, Revisores de Contas, Auditores externos e/ou Reguladores) sem que ninguém dê por nada.

E interrogo-me: se não vêem nem percebem nada, se não alertam nem actuam... então para que servem?

E não há legislação que enquadre estas actividades e que determine sanções quando notoriamente se perceba que todas estas camadas de controlo não funcionam e não agem segundo as melhores práticas e princípios éticos?

E quem tanto se insurge contra estes casos avulsos não percebe que enquanto o circo se arma e se foca exclusivamente em torno destes casos mediáticos, em muitos outros casos igualmente pouco lineares se continua a agir na maior impunidade?

Por exemplo, não deveria haver uma análise sistemática à actividade de todas sociedades, rastreando movimentações financeiras entre sociedades sem actividade económica, ou seja, empresas instrumentais e/ou de fachada (offshores ou não)?

Uma vez mais, as televisões estão em delírio com os supostos esquemas do Vieira tal como há uma ou duas semanas estavam com os supostos dislates do Berardo. E as justiceiras-mor da Assembleia estão em grande, sentindo que as suas sessões inquisitórias produziram efeito. E eu volto a dizer: efeito zero. Limitaram-se a alimentar o circo.

Enquanto os deputados (e o poder político em geral) não perceberem que há um trabalho de fundo a fazer -- e que tem a ver com a criação de mecanismos de rastreio e controlo efectivo sobre tudo o que há de ilícito e que, em regra, se passa à vista de toda a gente -- nada mudará. 

Estou a parecer ingénua ao dizer isto mas não sou (ou, pelo menos, não completamente) porque sei bem que a Assembleia da República está infestada de advogados ligados a Sociedades (de Advogados) que, por acaso, prestam consultoria na optimização fiscal e prestam assessoria com vista a assegurar o respaldo jurídico a todas as jogadas que por aí se praticam, tendo, pois, como interlocutores os donos ou gestores dessas empresas usadas como veículos por toda a espécie de meliantes encartados.

Portanto, quando se incluirá no código de ética da Assembleia alguns pontos de exclusão, nomeadamente a ligação a Sociedades de Advogados? 

Claro que, para se ser deputado, também deveria ser obrigatório testes ao QI para evitar que tanto burro por ali ande armado em doutor -- mas isso talvez já fosse pedir de mais.

segunda-feira, maio 20, 2019

Para Duarte Pacheco a Grã-Cruz dos Inenarráveis Peitorais -- proponho eu.
Enquanto isso, Marques Mendes e João Vieira Pereira (cada qual mais Justiceiro-Mor que os demais que por aí pupulam), propõem retirar todas as condecorações a Berardo, Zeinal Bava, Bataglia... e, claro... Sócrates.


Tinha deixado a televisão da sala ligada. Fui acabar a sopa e tratar de outras pendências. Quando acabei, voltei para a sala para passar um brilhozinho nas unhas. Estava o Marques Mendes a perorar e, estando eu ocupada com uma tarefa que obriga a pouca movimentação não vá estragar o trabalhinho, deixei-o estar. 

E então ouvi o impensável: na sequência da convicta defesa da retirada da comenda ao Berardo, a quem chamou burlão e aldrabão, qual justiceiro adepto da justiça popular, dispensando os órgãos institucionais que têm por missão tomar decisões sobre isso, Marques Mendes defendeu que fossem também retiradas as condecorações a Zeinal Bava e Helder Bataglia e, de caminho, também a Sócrates (uma condecoração atribuída em 2005) e isto, segundo ele, devido a, e passo a citar apesar de "não ter sido julgado nem condenado" a sua conduta "foi inadmissível no plano ético e mancha a imagem de Portugal"


Ora não sei a que se refere ele. Se se refere àquilo que o próprio Sócrates reconheceu, de gostar de levar um estilo de vida digamos que desafogado e, para tal, recorrer a dinheiro emprestado por amigos, não sei se isso é razão para retirar condecorações a alguém. A menos que uma condecoração seja uma estrelinha de bom comportamento na caderneta. Mas, então, se é isso, o melhor é dá-las a padres e freiras e, mesmo assim, poucos passarão no crivo. Mas se refere a questões que constam da acusação e que nem o juiz Ivo Rosa ainda conseguiu digerir e que ainda estão longe de ser julgadas em tribunal que é onde estas coisas se tratam, então, uma vez mais Marques Mendes se esticou. sistematicamente mostra ser um manipulador e, se ainda é Conselheiro de Estado, muito mal aconselhado andará Marcelo Rebelo de Sousa.

E se a semana passada louvei o editorial de João Vieira Pereira, actual director do Expresso, por me parecer que estava mais atilado e isento, à segunda semana, constatei que me enganei, continua igual a si próprio, tendencioso, pouco profissional.

No artigo 'O sorriso é dele, a vergonha é nossa', no qual salta a pés juntos em cima de Berardo, não hesita em ceder ao seu vício: o de ir buscar Ricardo Salgado e, sobretudo, Sócrates, para os apresentar como os pais de todos os males do mundo para, como sempre, através deles, justificar o percurso de Berardo.
A dado ponto escreve: 'Tal como Salgado e Sócrates, também Berardo foi idolatrado. Algo que acontece com demasiada frequência. Basta lembrar que durante anos ninguém questionou a alegada herança de Sócrates que lhe permitia comprar apartamentos de luxo ou fazer uma vida desbragada numa das mais caras cidades do mundo.'
E mais à frente: 'Quando entrou no Parlamento Berardo deve ter achado que Sócrates ainda era primeiro-ministro ou que os banqueiros mandam alguma coisa'.
Uma forma rudimentar de pensar e, lamento dizê-lo, também de escrever.

E, lendo aquela prosa, fico sem perceber se o João Vieira Pereira tem dons mediúnicos e consegue ver o futuro, sabendo já a sentença do caso Marquês, ou se, uma vez mais, confunde o manuel germano com o género humano, a árvore com a floresta e a beira da estrada com a estrada da beira. Ele já sabe se Sócrates comprou mesmo apartamentos de luxo? Ele já sabe se Sócrates cometeu crimes? Se sabe, seria interessante que o dissesse. Mas que o dissesse fundamentadamente. É que eu não sei ainda de nada.

Sempre conheci João Vieira Pereira assim: pouco perspicaz, gabando o que os outros gabam, louvando o que os outros louvam, incapaz de ver um palmo à frente do nariz. Mas, quando alguém cai em desgraça, aí ele vira o mais implacável saltitão a pés juntos. Um puro maniqueísta, ainda por cima desprovido de subtileza.

Volto a dizer aquilo que sei: Sócrates foi julgado politicamente através das eleições e é nas urnas que se julga quem vai a votos. No que se refere às suspeições -- sobre as quais a gente mais incompetente que a Procuradoria já pariu construiu impunemente o maior monstro jurídico alguma vez foi visto e que temo que nenhum ser vivo conseguirá alguma vez virar de lés a lés -- há que esperar que, nas nossas vidas, alguma conclusão seja retirada. 

Pela parte que me toca, a minha posição é a de sempre: qualquer pessoa é inocente até prova em contrário. E não há justiceiro de meia tigela que me faça mudar de ideias, seja ele uma espécie de conselheiro de estado, seja ele um director de jornal.

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E eu, se é para ser assim, com base no diz-que-diz-que e no vale-tudo popularucho, avanço já daqui com uma proposta de condecoração com a Grã-Cruz do Macho com o Body mais Improvável para Duarte Pacheco do PSD, esse espectacular macho latino a quem não se conhecem outros feitos que não o de cultivar bem o corpo e de ter uns mamilos indecorosamente arrebitados.



E, tirando isso, nada mais.

terça-feira, maio 14, 2019

Ana Rita Cavaco aos pontapés, gritos, insultos e com um cão sem trela na recepção aos inspectores da IGAS
-- no que será provavelmente uma patética despedida da sua estranha carreira de Bastonária



Aqui a banhos, longe dos sururus da capital, ouvem-se várias línguas pelas ruas e ao longo dos vastos areais e nenhuma é a da baixa política ou a do sindicalismo populista ou a dos patifes descarados que roubam a banca e gozam com os deputados ou a das bastonatrizes laranjas que usam as Ordens como armas de arremesso contra Governos que querem derrubar. Aqui, por onde ando, debaixo de sol, ouvem-se vozes de outras terras e, sobre todas, sempre presente, a voz do mar. 

Agora que a lua vai em crescendo e a noite invadiu a praia, enquanto escrevo, ouço esse vasto rugido, essa força que nada nem ninguém conseguirá alguma vez derrubar.


Estava também a ouvir a voz do mar enquanto estava a ler que Ana Rita Cavaco preparou uma recepção em grande aos inspectores da Inspecção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e o que li pareceu-me coisa de um outro mundo, um mundo onde alguém, certamente de cabeça perdida e sem noção da realidade, se arvora o direito de passar todos os limites -- os do decoro, os da sensatez, os da boa educação, os da razoabilidade.

A ser verdade o que leio em todos os jornais, não sei o que levará alguém a agir de forma tão arrogante, destemperada, descompensada. Será o desespero? Estará numa de fuga para a frente? Sofrerá de alguma patologia? Julgar-se-á acima da lei, acima das regras comuns da sociedade?

Ausento-me durante um par de dias e o que me chega são coisas assim, meio parvas:
  • um ex-empresário de sucesso a gozar com o pagode, rindo despudoradamente de ter usado as leis para fintar a justiça, deixando insanáveis calotes nos bancos e agora gabando-se de não ter dívidas e, sem vergonha na cara, rindo na cara dos deputados (deputados esses que, na Assembleia, mais pareciam uns passarinhos hipnotizados por uma cobra-palhaça). 
  • um consultor do PSD, próximo da direcção de Rui Rio, envolvido na fabricação de perfis falsos para alimentar as redes sociais com notícias também falsas.
  • uma bastonária que, acompanhada por um cão sem trela, insulta, pontapeia portas, grita com inspectores em serviço, acusando-os de sequestrarem as pessoas com quem falam

Lê-se isto e não se acredita. Tudo mau demais para ser verdade. Um mar tão magnífico e um tempo tão bom e eu a ver que tenho que regressar. Alguém tem que pôr ordem na casa. 


Felizmente o nosso Professor Marcelo já regressou. Andávamos com falta de afecto na via pública. Cá para mim, soube-lhe bem o recato a que se dedicou durante estes dias. Claro que deve lamentar a poluição que pessoas como Berardo (que, segundo li, em tempos recebeu das suas mãos uma condecoração), Rodrigo Gonçalves (seu colega de partido) ou Ana Rita Cavaco (de quem recebeu, em tempos, um terno carinho) provocam no ambiente social do país mas, inteligente e experiente como é, ele sabe que os agentes poluidores têm perna curta. Pode demorar mais tempo do que seria desejável mas acabam sempre por ser apanhados. Por isso, não creio que só por isto volte a isolar-se em Belém.

Agora, antes de ir dormir, fui espreitar se havia mais alguma novidade e o que leio é que a enfermeira Cavaco (again: what's in a name) diz que se o cão fosse branco e não preto ninguém tinha medo dele e que mais depressa os inspectores fariam mal ao cão do que o cão aos inpectores. A sério. Isto não é normal. A menos que este clima estival já se esteja a fazer passar por silly season e que a malta, ao engano, já esteja para aí a montar óperas bufas em tudo o que é canto e esquina.


quarta-feira, junho 24, 2015

Marc Chagall, um imenso Pano de Cena no CCB -- e uma imensa emoção


Bom, agora que, no post abaixo, já me babei à vista de todos vou falar de outra coisa. A ver se consigo que não me parece nada fácil.







No outro dia, a seguir a um evento profissional, raspei-me para o Museu Colecção Berardo para ver a exposição O Olhar do Colecionador / The Collector's Eye. Ia sobretudo pelo Pano de Cena para A Flauta Mágica, de Mozart (2.º Acto, 3.ª Cena), 1965, de Chagall.

Fui indo pelos minimalistas, conceptualistas, etc, andando, andando, e já pensava que às tantas já tinham escondido o pano ou que, por artes mágicas, me tinha passado ao lado, ou que afinal estava dobrado e parecia pequenino e eu nem tinha dado por ele, e já desconsolada, pessimista, pus-me a tentar encontrar entusiasmo a ver as outras obras, quando, já sem nada esperar, me vejo numa sala enorme e, olhando para o fundo, tive uma das experiências mais avassaladoras de que tenho memória. Senti uma comoção que não sei traduzir por palavras. Quase tive vontade de cair de joelhos. Imaginam talvez que é um dos meus exageros. Não é, juro que não é. A minha vista não era capaz de abarcar uma beleza tão imensa, uma tal vastidão preenchida com as cores de Chagall.

Deixei-me estar ali, parada, a olhar de um lado a outro, de alto a baixo e, de repente, estava com lágrimas nos olhos, o peito apertado, numa comoção irreprimível. Soube depois que a isto Borges chama, creio, acto artístico. A obra a envolver quem a vê. Tive vontade de me sentar no chão e deixar-me ali ficar, tomada pela emoção de estar como que dentro do mundo mágico de Chagall.

Pelas circunstâncias, não tinha podido ir equipada com a minha máquina fotográfica. Por isso, deixei-me simplesmente estar. Quase como se estivesse em estado de adoração.

Depois, porque não podia ficar ali até ser noite, vim-me embora. Então lembrei-me que podia usar o telemóvel e voltei atrás e fotografei. Não ficou nada de jeito mas, ainda assim, aqui vos deixo com duas dessas fotografias.

Se puderem, não deixem de ir. Não se paga. E é daqueles momentos que nos convocam para o que há de mais espiritual dentro de nós. Ou dentro dos outros, não sei. Uma vontade de ser tolerante, generosa, infinitamente boa com os outros, com o mundo. Há ali uma inocência, uma luz, uma beleza, uma paz que parece apelar ao que de melhor temos dentro de nós. Não sei explicar. Não digo mais nada.

(Eu tinha dito que talvez não soubesse dizer o que tinha sentido)


O que aparece em primeiro plano não tem nada a ver com o imenso pano pintado por Chagall que está na parede do fundo

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Marc Chagall


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Lá em cima é: Tölzer Knabench (Tölz Boys' Choir) Magic Flute, Mozart (Die Zauberflöte)

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E desçam, por favor, até ao post seguinte para verem como fico, quando fico toda orgulhosa.

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segunda-feira, abril 30, 2012

Ginjal com chocos e gaivotas, Chiado, Livraria Bertrand, Santa Catarina, o Elevador da Bica e Adamastor no miradouro, Belém com veleiros e gaivotas, Skapinakis no CCB em dia de música - ao som de Marta Dias e António Chainho; e ainda um poema dito de António Ramos Rosa


Música, por favor

Marta Dias com António Chainho interpreta Fadinho Simples


Quando eu era pequena gostava muito de andar no campo, de correr. Havia entre a casa da avó - onde ficava quando saía da escola e até chegar a hora de ir para casa dos meus pais - e a escola uma ladeira muito íngreme. O que eu gostava de vir desde lá de cima a correr...! Ganhava balanço, a velocidade ia aumentando e eu sentia que, se quisesse parar, não o conseguiria. Sentia que quase voava.

Ainda hoje tenho nos joelhos marcas das quedas que ali dei. 

Na parte de cima da casa dessa minha avó, havia campo, muitas árvores, montes, pedras. Era também para aí que eu gostava de ir brincar. Via os pássaros, adorava andar à procura de ninhos, para espreitar os ovos. Pouco parava dentro de casa. 

Também, por essa altura, perto da casa dos meus pais havia campo. Agora já pouco há, quase só casas. Mas na altura havia largueza, um ar muito puro, e era também à solta que eu mais gostava de andar.

Quando comecei a namorar, novinha, dava grandes passeios com o meu namorado. Jardins, beira mar e, também, livrarias. Mais tarde, por alturas da faculdade, assim me mantive, jardins, parques, praia, beira-rio  e, por essa altura, para além de livrarias, também museus.

Ainda hoje sou assim. Por força das circunstâncias obrigada a trabalhar, fechada, em ambiente de escritório, logo que posso é a andar ao ar livre, a passear, a calcorrear livrarias e museus que eu me sinto melhor.

Temo maçar-vos com a descrição recorrente destes meus passeios mas, gostando tanto de os fazer, gosto também de partilhar convosco este gosto.

Por isso, com as minhas antecipadas desculpas pelo déjà vu, aqui vos dou conta do dia de hoje, um dia que, para mim, foi uma maravilha.

Eu, caminhante, qual ave em terra, lá fui. E, claro, vocês já me conhecem, lá fui fotografando tudo.




Comecei, claro, pela beira do rio.



Hoje as gaivotas voavam alto, muito alto, voos largos, uma fantástica dança aérea.

Gosto de fotografar os pescadores. São pessoas que se encontram envoltas em azul, no meio de vastos horizontes, no meio da beleza, numa tranquilidade expectante. Quando são em sucedidos nas suas pescarias, sinto que gostam que eu registe o fruto do seu sucesso.

Hoje um apanhou um belo choco.



Colocou-o no chão, creio que de propósito para eu o fotografar. Reluzente, o choco agitava-se na calçada. Vejo agora na fotografia que até ficou com uma pena de gaivota presa na viscosidade da sua pele. E um belo cheiro a maresia sempre presente.

De tarde, depois de almoço na zona do Chiado, novo passeio.



Início no Largo do S. Carlos, junto à estátua de Fernando Pessoa, não a da Brasileira mas esta, de um Pessoa com um livro no lugar da cabeça.

A seguir, visita a um local de recordações, a Bertrand do Chiado, uma livraria linda, em que se vai de sala em sala e dentro da qual tanto tempo passei, tantos livros comprei.



Quando eu andava na faculdade e havia os saldos da Bertrand eu gastava todo o dinheiro que tinha e não tinha, era uma perdição.

Junto ao Teatro São Luíz, carrinhas das estações de televisão e muitas pessoas, algumas conhecidas, que iam recordar a pessoa feliz e boa que era Miguel Portas. Vi agora na televisão que foi um ambiente de ternura que, de forma muito digna e tocante, envolveu a sua memória. Os seus pais sentiram, certamente, muito orgulho no filho que ficará para sempre no coração de toda a gente; e os filhos, tão bonitos, meiguinhos, sentiram também, com certeza, que o seu pai foi um homem muito especial.

A seguir o passeio dirigiu-se a um dos vários miradouros da cidade, desta vez a Sta. Catarina.



Um local belíssimo, cheio de tradição, mas no qual encontrei uma frequência algo duvidosa. Não é que eu as receie mas uma excessiva profusão de rastas, cerveja a litro, cigarros e cheiros algo suspeitos tornam o local muito pouco ecológico.



Mas, enfim, bonito na mesma, o Adamastor imponente a desafiar todas as rastas deste mundo.

A seguir, de novo em direcção ao rio. Àquela hora da tarde, o rio estava platinado, brilhante, de uma beleza quase insuperável.


Naquelas gradações de prata brilhante do Tejo, os veleiros ficavam quase abstractos contra a luz. E as gaivotas sempre presentes, sempre belíssimas.

A nossa ideia era ir ver a World Press Photo no Museu da Electricidade mas a grande fila cá fora dissuadiu-nos, pelo que nos pusemos a caminho do Centro Cultural de Belém. Em dia de festa da música, uma numerosa multidão animava o espaço. Aliás, desde o restaurante até ao Chiado, à beira do rio e ao CCB a presença de turistas era assinalável. 



Acabámos por ir ver a BES Photo 2012 e a retrospectiva 'Nikias Skapinakis, presente e passado, 2012-1950' ao Museu Berardo.

Na altura havia jazz no ar, vindo de um concerto que devia decorrer num pavilhão pois o som era bem audível, uma maravilha.

Muito mais gente do que é costume, na maior parte estrangeiros. Não interessa. O que interessa é que hoje encontrei um museu vivo, com gente a falar ou a ver em silêncio, a fotografar, a rir com algumas peças - ou seja, um museu como os museus devem ser, um local onde é bom estar.

Destaco em especial a exposição de Skapinakis. Muito completa, muito apelativa, um gosto.



Novos, velhos, crianças, toda a gente apreciava com alegria a imaginação fértil, o sentido de humor e o equilíbrio da obra de Skapinakis.




Termino porque vocês, meus queridos Leitores, já devem estar maçados com estes meus passeios na cidade. Mas eu gosto tanto de me deleitar com a beleza natural que nos rodeia e com as diversas manifestações da arte que fico a sentir-me quase na obrigação de vos dar testemunho da alegria e prazer que é percorrer estes caminhos.

Já agora: não custa dinheiro. A entrada no Museu Berardo é gratuita; a rua, os miradouros, o rio, as gaivotas, os veleiros, também o são... (e não me alongo não vá o Gaspar ter alguma ideia infeliz). 

*

Ouçam, agora, por favor, um poema de António Ramos Rosa


*

[Já agora, antes de me ir: não querem dar uma espreitadela lá ao meu Ginjal e Lisboa? Hoje temos palavras em volta de um belo poema de Maria do Rosário Pedreira. E esta semana continuamos com a grande música e as grandes vozes: Puccini. Serão muito bem vindos por aquelas minhas bandas.]

*

E tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar por esta segunda feira. 

E sejam muito felizes, está bem?

quarta-feira, setembro 14, 2011

'Andar no fio da navalha', 'O ruir dos nossos sonhos', 'Da queda da Grécia ao sobressalto na Europa', ou antes 'Como é que chegámos aqui?!' - valham-nos os homens bons como o Dr. Silva Lopes que 'empacotava o Alberto João que nem ginjas' (*)


Meus Caros Amigos, as coisas estão de novo muito incertas. Com as ilhas vendidas ao desbarato e a sofrer a agiotagem de juros a mais de 60%, a Grécia (que estudámos como o berço do conhecimento e da democracia, lembram-se?) está a sofrer a humilhação que sofrem os desapossados, os desacreditados.

Mas, ruindo a Grécia, a Europa afundar-se-á ainda mais um pouco.

Os urubus aí andam, a sobrevoar os nossos tectos, a rondar os nossos antigos sonhos.

Pensávamos que estávamos a construir um futuro, pensávamos nos anos dourados da nossa reforma, pensávamos num futuro risonho para os nossos jovens, idealizávamos um admirável, tecnológico e descansado futuro para os que agora são ainda crianças.

Tínhamos qualidade de vida e achávamos isso natural dado que trabalhamos, dado que investimos antes na vida que temos agora.

Mas um dia começámos a ouvir que lá bem longe havia uma crise, a dos subprimes, depois ouvimos falar numas tais Fanny Mae e Freddie Mac, nomes engraçados, era tão longe de nós, depois veio a surpresa do escândalo do Maddoff e a queda do Lehman Brothers e o mundo começou a estremecer. A grande AIG e grandes bancos, até em Londres, e a coisa já estava aqui.




Escândalos domésticos de má gestão e usura começaram a rebentar por cá e os anteriores casos exemplares de boa gestão como Rendeiro e afins e toda a trupe do BPN, deram à costa. E, de repente, tudo estremecia e nós começámos a temer que a nossa vida anterior tivesse, afinal, sido apenas um sonho.




O BCP, caso de estudo, um banco que soube diferenciar-se e, assim, crescer, viu-se envolvido em guerras pouco cristãs, ódios fraticidas, formaram-se facções, a banca, ah a generosa banca que tanto ajudou à festa, emprestou dinheiro à tripa forra para o que fosse preciso, para tomar partido contra accionistas mal amados, para crescerem sem que, de outra maneira, tivessem como, e a banca foi emprestando dinheiro tendo como garantia as própria acções, e a banca emprestou também para que as pessoas comprassem casas que jamais poderiam pagar, para que as pessoas fossem de férias à Turquia, à República Dominicana, emprestou dinheiro para que as empresas investissem não tendo os accionistas que meter lá nem uma pinga do seu sangue... e assim fomos, até que um dia, de repente, tudo isso era, afinal, mal feito.

Um dia o dinheiro rarefez-se e as acções desvalorizaram-se e os grandes empréstimos ficaram a descoberto, um dia a banca fez as contas e viu que já não tinha dinheiro para continuar a emprestar e que toamara que ninguém se lembrasse de levantar os depósitos (porque o dinheiro tinha ido para Joe Berardo derrotar O Dr. Jardi, para o Nuno Vasconcellos da Ongoing se tornasse accionist ade referência na Zon, e por aí fora, por aí fora (porque, afinal, vemos agora, ricos não os há, o que há são grandes endividados que vivem como ricos).


Joe Berardo no seu Budha Eden Garden

E, no Estado, um dia viu-se que já não tinha dinheiro para pagar as reformas, as baixas, os subsídos de férias e que só tinha dinheiro para trocos, nem quase já para ordenados.

E assim fomos até que um dia acordámos e estávamos de joelhos.

Um dia acordámos e a Irlanda também já assim estava, a Grécia era a paródia do mundo.



E este é o tempo que vivemos.

Os nossos governantes são abúlicos, dizem uma coisa aqui, outra quando estão pela mão da madame Merkel, dizem uma coisa entre nós, dizem o contrário quando se apanham longe de nós, dizem que estão a esforçar-se e só os vemos a irem-nos ao bolso sem dó nem piedade.

E hoje a troika diz que não chega, que nos últimos meses já se desviaram mil milhões (mas onde, Mr. Gaspar, onde?!, como é possível tamanho desvio em tão poco tempo?), que novos sacrifícios são precisos. E Vitor Gaspar, obediente, assegura à troika, 'ok, there will be blood' e já pensa quais as próximas vítimas que irá sacrificar


O dito Gaspar: já têm que o levar quase pela mão que ele, pelo ar, já não dá lá muito bem com o caminho

Mas o que é aquilo que ele tem ali pendurado nas calças, bem na frente...?
(estou aqui a ver se percebo e não consigo)

Ao que chegámos, ao que chegámos... Que descontrolo, que aflição!

Entretanto, na Madeira, o Alberto João, depois de resolver fazer oposição aos cubanos e de, com essa desfaçatez, ter provocado mais um rombo nas contas públicas, prepara-se airosamente para ser reeleito.

Tudo isto é patético, tanto mais que assistimos mansamente (ah como eu às vezes odeio o meu jeito manso), a esta pouca vergonha.

No outro dia, o Comissãrio Europeu para a Energia, o alemão Gunther Oettinger, saíu-se com uma ideia peregrina: a de que as bandeiras dos países faltosos fossem postas a meia haste. Nem mais.



Até me admiro que não tivesse também proposto que os governantes desses relapsos países comparecessem nas reuniões com orelhas de burro. E eu não sei se me ria, se já não ligue nada a tanta parvoíce. Teria graça ver o Passos Coelho, submisso, de orelhas de burro, a lamber os pés à Angela - mão não, não quero ver isso. É que ele é português e eu sou muito portuguesa, não quero ver os portugueses a serem humilhados.


Mas, se quase só vejo parvoíce á minha volta, há pessoas cujas opiniões venero. Não há muitas, mas há algumas. Às vezes até posso não concordar com algumas coisas mas são sempre opiniões inteligentes, sérias, sóbrias, ditas por genuína vontade de contribuir, nada de vão exibicionismo. Uma dessas pessoas que eu ouço e vejo com respeito, admiração, carinho mesmo, é o Dr. Silva Lopes.

Um homem bom


Ele fala, com aquele sorriso de homem bom, com aquelas suas belas mãos de homem sábio, e eu quero que à minha volta toda a gente se cale para eu o poder ouvir atentamente.

Hoje ele falou. E disse que achava que se deveria fazer uma lei que impedisse os governantes que fossem infractores fiscais de voltar a candidatar-se durante uns quantos anos, 10 sugeriu ele. E exemplificou: 'com uma lei destas o Alberto João Jardim há muito que tinha deixado de poder fazer o que tem andado a fazer, nomeadamente a fazer oposição política com o dinheiro dos nossos impostos.'

Grande ideia. E tão simples. Como sabe bem ouvir a voz de gente séria, sábia, generosa, culta à moda antiga.


(*) O Crédito a quem de direito - aprendi a expressão 'empacotar que nem ginjas' com a fiel depositária do mais conhecido Fio de Prumo deste País que a usou num divertido comentário que aqui me deixou, e, por tal, daqui lhe envio os meus agradecimentos.

terça-feira, novembro 23, 2010

Buddha Eden, Jardim da Paz, um lugar surpreendente

Fui à Quinta dos Loridos, no Carvalhal, conhecer este jardim apelidado por Garden of Peace, propriedade de Joe Berardo. Ainda está em construção: vêem-se muros no início, árvores recém-plantadas. Mas, ainda assim, já é enorme, bonito e, sobretudo, surpreendente. Há imensas (centenas?) de estátuas de grande dimensão, em granito, centenas de soldados, cavaleiros de terracota pintada, cavalos, arcos, colunas espalhadas entre caminhos agradáveis, muitas árvores e recantos, um lago enorme com patos, relvados imensos.

Tentei descobrir de onde vêm todas aquelas estátuas mas não consegui. Não posso acreditar que tudo seja autêntico e que todas aquelas toneladas (6.000) estejam a ser transportadas de algures lá do outro lado do mundo... Presumo que estejam a ser construidas réplicas e, com isso, a dar trabalho a muita gente por cá. Mas não sei. Mas olhando para aquelas que estão em fiada, quase iguais, vê-se que são todas diferentes. E os soldados de terracota também são todos diferentes e têm ar de antiguidade... Mas são incontáveis....

(Cabeça de uma das muitas estátuas 'gigantes')

Transcrevo excertos do texto explicativo que consta do site: "O Buddha Eden Garden é um espaço com cerca de 35 hectares, idealizado e concebido pelo Comendador José Berardo, em resposta à destruição dos Budas Gigantes de Bamyan.

Pretende-se, que o Buddha Eden Garden seja um lugar reconciliação. Sem nenhuma tendência religiosa, abrimos as portas, a todas as pessoas, independentemente, da religião, etnia, nacionalidade, sexo, idade, condição cultural ou social, convidando à união, comunicação e meditação, como forma de redescobrir a felicidade. Ambicionamos, assim, percorrer o caminho contrário à destruição do ser humano e disseminar a cultura da paz.

Esta é uma instituição cultural sem fins lucrativos e ao serviço da comunidade nacional e internacional, que tem como missão sensibilizar o visitante para o conhecimento interior, através do seu jardim em diálogo com um vasto património escultórico, vocacionado para a meditação e promoção da interacção social e cultural, conforme os princípios da solidariedade e da dignidade humana."


(Um dos grupos de centenas de soldados de terracota pintada)

(Sob o arvoredo, enormes figuras que associamos à reflexão, à paz)

(A zona da grande escadaria, talvez a zona mais emblemática; mas, por aqui é tudo tão inusitado que é difícil estabelecer alguma classificação)

Seja como for, é um local aprazível, curioso e merece certamente uma visita. Imagino que as crianças adorarão correr neste espaço imenso, ver estas figuras incomuns.

E...é gratuito. Apesar disso, surpreendentemente, só lá vi mais 2 pessoas.

(Todos parecidos, todos diferentes) .