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terça-feira, maio 09, 2023

Marcelo, os Chornalecas e a dupla Ventarina (ou Catatura).
E, para desopilar, 5 momentos divertidos da Coroação

 

Por cá isto está a ficar estúpido. Agora é o Bloco e o Chega -- que coincidentes que eles estão --, os dois ainda numa de caça ao Galamba. Não há pachorra. Nunca achei graça a gente que gosta de mastigar comida já mais que mastigada. E os chornalecas (nome que doravante darei a todos quantos andam por aí a querer fazer-nos crer que são jornalistas) lá continuam atrás da dupla Catarina e Ventura como se dali alguma vez pudesse vir solução para algum problema. Pelo contrário, inventam problemas para não haver tempo para alguém prestar atenção às soluções.

Temos depois o fake new Marcelo. E é fake new porque é novo coisa nenhuma. Toda a vida assim foi. Moderava-se para parecer que estava acima da carne seca, mas agora não aguentou mais. Aquela de o Costa ter mostrado que os tem no sítio e que não é um badameco com medo das bocas do comentador-mor desestabilizou-o. Furibundo e descontrolado, não apenas deixou que o verniz se lhe estalasse em público, mostrando que é pouco leal, dado a apedrejamentos públicos sobre quem parece que está caído na rua, dado a sacrificar o sentido de Estado em prol dos seus pessoalíssimos estados de alma, com uma educação que se tem mostrado algo duvidosa, agora resolveu que está bem é ao lado dos chornalecas do Correio da Manhã e de braço dado com a dupla Ventura & Catarina, dupla -- que, parafraseando o grande Markl --, se pode designar por Ventarina ou, caso prefiram, Catatura.

Promulga um diploma e aproveita para incendiar os sindicatos e, en passant, dizer mal do Governo. Anda por aí com os chornalecas atrás e, como quem não quer a coisa, diz mal do Governo, lança farpas e cascas de banana a este e aquele. Menino mais ressabiado, mais irreflectido, este puto Marcelo. A continuar assim, teremos todos que disfarçar a vergonha alheia que começaremos a sentir.

E, de que me dê conta, nada de esperto por cá acontece.

Portanto, como isto por cá está meio triste, meio sem jeito, vou antes deslocar-me para palácios onde os seus habitantes têm melhores maneiras.

Vou, então, rescaldar a coroação 

1.

Gente prevenida. Para um just in case, levaram duas Camillas sobressalentes 

💪

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2.
Não apenas espetaram com o Harry na 3ª fila como puseram, à frente dele, a fofa e cavalona ti-tia, a cuja transportava farfalhuda pena no barrete, quase de propósito para o ofuscar. 
👌

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3.
74 anos à espera deste dia e, afinal, quando chegou o grande dia ainda, Sua Majestade ainda não tinha decorado a meia dúzia de palavras que tinha que dizer  
😕

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4.
E, vá lá saber-se porquê, houve gente que compareceu sob disfarce. Houve quem dissesse que este aqui abaixo, à direita, era a Meghan. Mas também houve quem suspeitasse que era malta que a seguir ia tentar fanar as jóias da Coroa
😎

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5.

Um cavalo com vontade própria, coisa mailinda. 

👀


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Um dia bom
Saúde. Bom humor. Paz.

domingo, agosto 28, 2022

Um animal que usa desodorizante e lava os tomatinhos. Uns cavalos que se rebolam a rir.

E, peço desculpa pelo despropósito, mas não é que a Suzana Vieira já fez 80 anos...? Dá para acreditar?

 

Lá mais abaixo, depois da curva da estrada, há uns currais. Ao fim da tarde, o dono deve limpá-los pois, se o vento está daquele lado, chega até aqui cheiro a gado, a estrume. Assim aconteceu hoje. Ao descer os degraus para a sala de baixo, que tinha a janela a bascular para arejar a casa, senti o cheiro e disse: 'Cheira a animal,,,'. Nesse instante cruzou-se comigo, a correr, o menino mais velho que tinha interrompido o visionamento do jogo de futebol para ir levar qualquer coisa à mãe. Ao ouvir o que eu tinha dito, disse-me: 'Pus desodorizante...!' e seguiu a correr. Fiquei a rir sozinha durante não sei quanto tempo.

Ao contar à minha filha, ela lembrou-se da célebre história dos tomatinhos. Já a contei aqui mas talvez os que me leem hoje não sejam os mesmos que leram esse sucedido.

Era a passagem de ano e eu estava na cozinha a preparar a comida para o manjar nocturno. A minha filha tinha vindo mais cedo, estava a ajudar-me. Entretanto, era hora dos miúdos tomarem banho. O mais crescido tomou banho sozinho, deveria ter uns seis anos. Foi para o quarto, que antes era o quarto do tio, limpar-se e vestir-se enquanto, na casa de banho, a mãe dava assistência ao banho do mais novo. 

Então, quando fui preparar a salada, gritei para a minha fila: 'Olha lá, lavaste os tomatinhos?', referindo-me aos tomates cherry. Nisto, antes que ela tivesse tempo de responder, diz o puto lá do quarto: 'Claro que lavei...'.

O que nos rimos. Ainda hoje me rio.

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Tirando isso, o que tenho a dizer é que há bocado vi o mais novo rindo, rindo, quase chorando a rir. Veio mostrar-me. Estava a ver um vídeo com um cavalo que parecia cantar e rir ao mesmo tempo. O que ele se ria com o cavalo.

Andei à procura para vos mostrar e não encontrei. Mas encontrei este que também tem uns cavalos que riem à maneira

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E, ao abrir o youtube, aparece-me esta notícia surpreendente: a simpática, divertida e fogosa Suzana Vieira já fez 80 anos. Não dá para acreditar. E não digo isto apenas pela aceleração do tempo que num ápice leva uma pessoa dos quarenta para os oitenta, digo porque olho para ela e não vejo ali uma mulher de oitenta anos. Pelo menos como eu dantes achava que eram as mulheres aos 80 anos. Parece que o tempo não passa por ela. Continua bonita, alegre, com gosto na vida, com esperança de voltar a encontrar o amor. E que bem que o cabelo lhe fica assim. E que bem que os adereços em azul ou verde turquesa ficam com roupa branca.

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Há bocado o menino de onze anos dizia que gostava que eu tivesse bisnetos e dizia-me que se calhar não falta assim tanto, que talvez o irmão tenha filhos daqui por dez anos e que dez anos não é assim tanto. Tranquilizei-o e disse-lhe que pode ser que eu viva muito mais que isso, talvez vinte ou trinta ou até quarenta anos, sabe-se lá... Vi que estava a fazer contas de cabeça. Dei-lhe um beijinho. 

Ontem também disse que gostava que a bisavó conseguisse ser trisavó. A minha mãe exclamou que era bom mas que o irmão não precisava de se apressar, que ainda é muito novo para se pensar nisso.

De uma maneira ou de outra todos os meninos, de vez em quando, dão mostras de se preocupar com a finitude da vida que irá levando alguns dos que hoje se sentam à nossa mesa. Tenta falar-se disto com naturalidade. 

Para mim uma das mais extraordinárias nesta matéria passou-se também com o mais crescido.

Numa das vezes que o meu pai esteve mal e foi hospitalizado, geralmente nos últimos anos com pneumonias, os médicos pensaram que estava já nos finalmentes e informaram que, se queríamos ir despedir-nos, tinha que ser logo. Ele estava nos cuidados intensivos e só podia lá estar uma pessoa de cada vez. Larguei tudo e fui a abrir para o hospital e a minha filha também quis lá ir pra se despedir do avô. Não sei porquê, levou os miúdos. Quando ela entrou, eu fiquei cá fora com eles e com a minha mãe. O ambiente entre nós estava pesado, julgávamos que era a última vez que o víamos, e que estava por pouco. Felizmente, como tantas vezes aconteceu, dias depois estava a ter alta. A resistência daquele corpo era incrível. Mas, nessa altura, ele já estava acamado. Além disso, o barulho lá em casa fazia-lhe muita impressão pelo que, quando lá íamos ao magote, se encostava a porta do quarto. Ele já não ouvia nem via nem gostava que o vissem assim pelo que não levávamos os meninos para o pé dele. Os meninos andavam pela casa ou pelo jardim, lanchavam, brincavam uns com os outros e nós tentámos que a confusão não perturbasse o meu pai.

Pois bem. Qual não é o meu espanto quando, um belo dia, talvez um ano ou mais depois daquele dia, esse menino mais velho se sai com esta: 'Ó Tá, é verdade, tenho-me esquecido de perguntar: naquela vez o avô chegou a sobreviver...?' Fartei-me de rir. 'Ó seu maluco, seu despassarado... Claro que sim, está vivo, está lá em casa... Não estás farto de lá ir depois disso? E não reparas que dizem sempre para não se fazer barulho...?'. Pensou um pouco, 'Ah, sim...' Mas ah sim como podia ser ah não. Foi como se naquela tarde a que assistiu à nossa aflição, ele, tão pequenino ainda, tivesse feito o luto. E virado a página.

E eu acho graça a isto. Enquanto cá estamos é de aproveitar e rir porque, quando virarmos a esquina, já não estaremos cá para nos arrependermos e para gozar os bons momentinhos que não gozámos enquanto podíamos. E rapidamente perderemos a importância que tivemos para tantos dos que nos rodeavam. E isto seja aos 20, aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70, aos 80, aos 90, aos 100 e por aí vai. Cada bocadinho de vida é para ser vivido o melhor que pudermos e soubermos. O resto é conversa.

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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

quinta-feira, agosto 06, 2020

Devagar, o futuro começa a desenhar-se




Ontem foi um dia importante na minha vida. Concretizei um desejo antigo, tão antigo que já tinha afastado da mente. Acho que uma maneira de uma pessoa não se sentir frustrada é deixar para lá aquilo que está para além das nossas possibilidades, para além daquilo que está sob o nosso alcance e controlo. Lutar por aquilo que se quer, sim, mas medindo o poder de fogo de todos os lados. Se a gente quer coisa que não é para o nosso bico, passo maior que a perna ou coisa do género, então, mais vale pôr os pés na terra e deixar que o tempo faça o seu caminho e nós o nosso. É que, quando o desejo é forte, a sua raiz fica submersa, viva, e, quando surge a oportunidade, eis que logo o sonho floresce. A vida tem-me ensinado isto: não se deve forçar nada. Quando a coisa não flui, não vale a pena insistir. Ou melhor, não vale a pena fazer de conta que não se percebe que não vai dar. Padecer ou fazer de conta não. As coisas, quando não têm que acontecer, não acontecem. E, quando é para a acontecer, acontecem. Parece La Palice? Pois, se calhar é. Claro que esperar, saber esperar, saber esperar que a oportunidade se cruze com a nossa disponibilidade para aproveitar a oportunidade, não é fácil. A gente gosta de se impacientar, de se armar em injustiçados ou frustrados, a gente gosta de cair no chorinho disfarçado de raiva. Ficar na nossa, à espera que apareça o bocado que nasceu para ser comido por nós, é coisa que ou é genética e se consegue na calminha ou tem que ser trabalhada.

Mas, portanto, foi dia bom. Um consolo, um sentimento de sonho feito realidade. Mais: a sensação de que o caminho está no início. Uma nova vida está a começar e tão, tão diferente do que foi até aqui.

Penso: há muitos anos, durante muitos anos, o quis. Não era possível. Não era ainda a altura. Se o tivesse forçado, não estaria aqui onde estou hoje. E, olhando para o dia de hoje e o que poderia ter sido, penso que ainda bem que, na altura, não aconteceu.

E, se na terça-feira foi dia bom, esta quarta-feira não lhe ficou atrás. Não. Ultrapassou. A alegria e o prazer partilhados. Todos contentes com esta opção. Um dos meninos dizia, espantado com o que estava a conhecer: eu não admito...! eu não admito...! Mas penso que era confusão vocabular, confusão causada pela alegria, devia querer dizer que não acreditava.

Contudo, dado o muito trabalho, afazeres e obrigações, não me são fáceis estes dias. Chego à noite e sobram-me deveres por cumprir e, portanto, em vez de estar a descansar, estou a trabalhar. Ao longo do dia, vendo os mails a chegar ou os telefonemas por fazer a acumularem-se, algum stress se vai apoderando de mim. Mas vou gerindo pois, apesar de um pouco de stress ser saudável [J. dixit], tento manter-me serena, penso que, à noite, recuperarei os pendentes.

Um destes dias, talvez desvende aquilo de que falo. Mas não agora. Agora ainda me sinto debaixo da crista da onda, em risco de, em vez de cavalgar o canhão, ser esmagada por ele. Mas não é nada de especial. Só é especial para mim. Apenas mais uma parcela da minha vida em mutação.

Mas, apesar de tudo, apesar de ainda estar longe do tempo em que conseguirei desfrutar em plena liberdade e tranquilidade o que é esta minha nova opção de vida, a verdade é que, ainda assim, já é bom.

Também soube que a minha mãe foi ao médico e lhe calhou a que, em tempos, foi a minha melhor amiga. Ela perguntou por mim e a minha mãe esteve a contar-lhe. E esteve a falar dela própria e eu, sabendo o que a minha mãe me contou, fiquei muito contente com as novidades. Ríamo-nos tanto. Tanto, tanto. Eu chorava a rir e ela, embora menos exuberantemente, também. Depois arranjou um namorado muito fora do mainstream e afastou-se um pouco. Seriam as últimas pessoas que eu imaginaria juntas. Mas, na realidade, embora por motivos talvez diferentes, ambos eram incomuns. E essa invulgaridade uniu-os. Depois, iniciaram o seu caminho e eu fui pelo meu. Mas lembro-me muito dela. Ainda no fim de semana passado tinha perguntado por ela à minha mãe. No fundo, gostava de perceber se ainda nos daria para desatarmos na galhofa, ambas a rir como umas perdidas, eu a chorar a rir, o rosto todo molhado de lágrimas que rebentam com a explosão de alegria, ela a tentar conter-se mas também a rebentar a rir só de ver o meu estado hilariante.

Penso que, um dia destes, hei-de voltar a estar com toda essa gente boa que, de certa forma, faz parte das minhas memórias e, logo, de mim, e a quem a vida introduziu distância e alheamento de permeio. Ela e a outra que se desviou creio que fatalmente. Dessa também gostava de saber. Nunca percebi que coisa aconteceu naquela cabeça para ter virado uma pessoa tão tresloucada, tão desligada daquilo a que antes dava valor. Tão crazy. Nunca consegui perceber, ela nunca deixou que ninguém percebesse. Era uma menina bem comportada e, do nada, virou uma doida que não acautelava nada. As situações em que se meteu não lembram ao diabo. Uma menina família, ajuizada, de repente a fazer toda a espécie de maluquices. Que será feito dela? No outro dia, a minha filha pesquisou pessoas minhas conhecidas no facebook. Não a encontrou. Terá mudado de nome? Usará um nome que nada tem a ver com o nome de solteira? Que eu saiba, apesar de uma vida amorosa fértil, não chegou a casar-se. Portanto, deveria ter o mesmo nome. Fiquei intrigada. A minha mãe também nunca mais soube dela. Como seria se nos encontrássemos? Seríamos duas estranhas? As últimas vezes foram tensas. Critiquei-a e ela não gostou. Nem foi tanto criticar, foi perguntar, foi não conseguir explicar e pedir-lhe que me explicasse. E ela, tomada por uma urgência caótica, sem querer fazê-lo, creio que sem conseguir fazê-lo. Dir-se-ia que talvez drogada. Mas não. A droga dele era outra, creio que era o medo de ficar sem ninguém, a urgência em ficar com qualquer um não fosse ficarem todos 'tomados' e não sobrar nenhum para ela. Uma coisa difícil de compreender. Era linda. Mas as mulheres muito bonitas têm frequentemente esta insegurança.


Mas estou capaz é de ir já deitar-me a ver se consigo dormir. Cansada como ando, volta e meia nem capazmente consigo dormir. Se calhar, vou pôr um daqueles valdispert debaixo da língua. Preciso de descansar senão, de noite, começo a elencar o que tenho que fazer, aquilo de que não posso esquecer-me, e, de dia, nem rendo o que tenho que render. Bolas para isto. O calor também não ajuda. Tanto calor.

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O vídeo abaixo não tem nada de nada a ver com a conversa. Ou, se calhar, tem. Sei lá. 
Cavalos e flamingos -- e cada um que escolha o seu lado. Ou não escolha coisa nenhuma e fique-se apenas a observar.

Salut d'amour, Op. 12, de Elgar também aqui apareceu nem sei porquê. 

Muito menos a Menez. A não ser que seja por gostar da sua obra.

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E, bora lá, para a frente é que é caminho.

E uma bela quinta-feira

sábado, novembro 25, 2017

Se a sorte te surgir quando menos esperares, be gentle, não vás estragar o momento... Ok?


Não é que esteja a dar-me para a filosofia. Sou lá eu disso. Muito menos a esta hora. Muito menos depois de várias centenas de quilómetros em cima. Filosofia só quando acordo às onze da manhã e tenho a cama já só para mim, eu atravessada, à larga, descansada, bem dormida, sem ralações em cima, sem quaisquer afazeres em carteira. E isto se puder ficar mais meia hora a preguiçar sem pressas para coisa alguma.

De costas posso parecer-me com ela. De frente, apenas nos atributos superiores.
E mais não digo.

Aí, sim, quando estou assim, dá-me para filosofar. Pena é que isso aconteça tão raramente que já nem me lembro de quando foi a última vez. 

O que se passa é que estou aqui reclinada, meio a dormir, um olho no burro e outro na Sils Maria. La Binoche, la femme sagrada. Kristen Stewart, la anti-diva. Cinema. Filme sem perseguições, tiros, ruído. Silêncios, bons textos, boas representações. Agora caminham na montanha, um carreiro sem árvores. Anoitece. Gostava de estar agora naquele carreiro. Deve cheirar a terra. Terre. Apenas as palavras habitando os caminhos da noite.


Enterneço-me. Não propriamente com o filme. Mémoires. Sweet memories. Palavras, jardins suspensos, poemas, mundos cruzados, acasos.

E, enquanto isto, enquanto divago, vou espreitando os mails, as notícias, as sugestões do youtube. 

E o youtube pensa isto de mim. Aparece-me com estes vídeos. O dos gnus com uma valente dose de burrice naqueles palitos e agora este, aqui abaixo, tão ternurento e tão verdadeiro. Quantas vezes não são os pequenos golpes de acaso que modelam a nossa vida? Com um gesto involuntário podemos afastar alguém do nosso caminho, com um irreflectido passo podemos mudar a rota do nosso destino. Com um olhar podemos enlouquecer a nossa vida, com uma palavra podemos fazer transbordar de sonho o resto dos nossos dias.

Filosofo de novo. Ou será que não? Será que dizer lugares comuns não é sinónimo de filosofar? Se calhar, não. 

Bem. Adelante.

O meu filho enviou-me um vídeo e escreveu apenas 'para o blog'. Mas gostaria de lhe juntar umas palavras e a esta hora já poucas me sobram. Fica, pois, para amanhã.

A verdade é que noite vai alta e ainda não espreitei a lua. Há pouco, na autoestrada, estava envolta em neblina, uma esbatida luz dourada num céu indefinido. Agora não sei. Talvez pudesse abrir  a janela para conferir. Mas quem me garante que, se abro a janela, o meu coração não vai sair por aí,  livre e louco, evadindo-se por entre as brumas?



Sketchy Blues


Some unlikely characters turn up to spread a smile across the face of a heartbroken man. Will they succeed?


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E queiram descer para mais um vídeo do Birdbox Studio

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quarta-feira, agosto 23, 2017

Cavalos verdes não vi. Mas azuis, sim. Estavam ao pé dos que dançavam em roda, todos nus.



As árvores crescem de forma pouco compreensível. Se eu descrevesse o que aqui se passa poderiam pensar que estava a arremedar o realismo mágico de alguns escritores sul-americanos. Mas Acreditem: prodígios a acontecerem de dia para dia, aos nossos olhos. Gostava de vos mostrar como era, vai para cima de vinte anos: uma pedreira a céu aberto em parte coberta por mato rasteiro. Agora um bosque, árvores gigantes. Não se percebe até onde onde vão estas árvores crescer. E reproduzem-se como coelhos (que aqui também os há): aparecem pinheiros, azinheiras, aroeiras, giestas, arbustos novos por todo o lado. E num dia estão a despontar, passado pouco já estão esgueirados por aí acima como adolescentes espigados.

Mas é tudo. O alecrim ganha um tamanho como nunca vi. A madressilva agiganta-se, faz moitas surpreendentes. As videiras trepam pela grande ameixeira e dos ramos altos desta pendem gigantes cachos de uvas.


O meu marido queixa-se: 'Não se dá conta disto'. Eu não me queixo. Presencio um milagre e abençoo a sorte que tenho por me ser dado viver um tal fenómeno. Claro que temos um trabalho imenso pois, para que a natureza não nos devore, temos nós que tentar controlá-la. O meu filho, no outro dia, pasmado com o crescimento das árvores desde a última vez, assustou-se: 'A natureza vai vencer'. Não creio porque estamos cá para lhe dar luta.


Braçal, tudo. A ver se encontramos a motosserra que queremos, que nos ia ajudar bastante. E estamos em dúvida sobre um triturador. Mas, para ser em conta, é eléctrico e não daria lá em baixo. Não faz sentido estender dezenas de metro de fio nem estar a trazer as coisas cá para cima. Portanto, o triturador está interrogado. 

Ao fim do dia, o cheiro a madeira cortada, o cheiro dos pinheiros ao entardecer, a rama aparada dos cedros, tudo me parece mágico. 


Revivo aqui, rejuvenesço, transformo-me. 

Quando falei com a minha filha, ela percebeu pela minha respiração que eu estava a meio da labuta e avisou: 'Daqui por uns dias nem vais conseguir mexer-te'. Bati três vezes num tronco de madeira e disse-lhe que so far, so good. Admiro-me com a minha resistência mas não posso atirar foguetes. De facto, pode acontecer que, daqui por uns dias, o meu corpo se ressinta porque, desta vez, o esforço está a ser bem maior.


Os pássaros cantam muito ao fim do dia. Devem estar abrigados do calor durante as horas de sol e, quando vem a noitinha, é ouvi-los num chilreio feliz. Eu também. Passeio, olho o céu, as árvores, fotografo, atraso a hora de vir para casa. 


Depois tomo um belo banho, ponho betadine nos arranhões (ao contrário do meu marido que se protege, eu ando sem luvas e de biquini; não é para fazer género, claro, mas é que não suporto o calor; felizmente não se vê da rua, senão, vestida, nem sei como me aguentaria), e vou jantar (o jantar são geralmente sobras do almoço, saladas, queijo, fruta).

Só depois ligo o computador. Mas, como abaixo já vos contei, ainda tenho trabalho para fazer e, portanto, este post, tal o que poderão ver abaixo, sobre a bola de pedra tatuada, são um mero amuse-bouche.


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Ontem, ao falar do bosque que é nosso filho, dizia que, para ser melhor só se visse passar, por entre as árvores, cavalos verdes. Daí o título deste post.

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Não são verdes, mas são azuis os cavalos que, por aqui, vejo. E andam entre o verde, no campo, e não no mar.


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E queiram continura a descer, caso vos apeteça continuar in heaven.

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Até já.

(Queria falar da entrevista da Graça Fonseca e das reacções mas, bolas, vi agora que a Estrela Serrano já me tirou as palavras da boca. Por isso, não sei se ainda falarei disso. Já vejo)

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quinta-feira, janeiro 12, 2017

Cavalos pouco selvagens e um Homem-Aranha muito castiço


Depois de ter escrito o post abaixo fiquei um bocado sem palavras. As memórias, por vezes, levam-nos para territórios que pensávamos apagados e que, afinal, renascem tão facilmente. E que nos prendem. Presa fiquei, pois. 

Tento lembrar-me: para onde terão ido todos os cestos de baracinha que o meu avô fez? Terão sido deitados fora? Se calhar, foram. A minha família é assim mesmo, despegada, ninguém liga muito a nada. A minha prima, por exemplo, não quis nada. Os meus pais e os meus tios também não. Acho que a minha mãe ainda ficou com alguma louça de Sacavém. De resto, tenho ideia de que foram apenas as coisas de que me lembrei que foram salvas: a telefonia antiga, com pano à frente, o cadeirão, o móvel pequenino onde estava a televisão, os copos de vidro cor-de-rosa e os outros, com pinturas a dourado. A enxada. O pau com o ferro curvo na ponta para baixar os ramos altos das árvores de fruta. Estão in heaven. As cadeiras da casa de jantar que eu achava tão bonitas (e que agora estão aqui à volta da mesa redonda) também. Acho que, na altura, não me lembrei de mais nada. Portanto, devem ter dado tudo a quem quis. Não faço ideia. Se lá tivesse estado, teria, certamente, salvo mais coisas, certamente os cestinhos. Também não os vejo há anos em casa dos meus pais. Ter-se-ão estragado? Tenho que perguntar à minha mãe. Também tenho pena de não ter aprendido a fazê-los. Logo eu que gosto tanto de trabalhos artesanais, não me lembrei de aprender com o meu avô.

Mas, enfim, agora nada a fazer.

Dizia eu, no post abaixo, que a seguir ia mostrar cavalos. Agora parecem-me aqui deslocados. Ainda por cima estive a dar uma espreitadela nos onlines e, face às (perigosas) macacadas do Trump e às ameaças que vão aparecendo um pouco por todo o lado, até parece maluqueira minha continuar, por aqui, como se não se passasse nada no mundo para além das minhas insignificantes passeatas.

Mas não tenho paciência, agora, para me pôr a chover no molhado (para além de que esta da chuva, por estes dias, terá sempre dúbia conotação). Estou neste comprimento de onda e é para este registo que as minhas mãos me puxam.

Cavalos, portanto. Para além da polícia a pé, em carros, em motas e no helicóptero, há os polícias a cavalo. E hoje, em frente do Palácio Real, apanhámo-los de três forças diferentes: os da polícia normal, os municipais e os da guarda de honra. Não os fotografei a todos porque, por vezes, me distraio e me esqueço de registar tudo o que mexe.

O que é engraçado é que, conversadores e alegres como os espanhóis são, mesmo os da polícia, não apenas se ouvem os passos dos cavalos como a algazarra dos polícias que os montam. Não passam despercebidos. Aqui abaixo, uma era mulher e a conversa ia bem alegre.


Mas vamos com música. 
Os cavalos que aqui mostro são tudo menos selvagens mas esta interpretação é linda e eu coloco-a aqui apesar de, talvez, deslocada.

Solveig Slettahjell interpreta "Wild Horses"


Estava eu a observar as pessoas e a paisagem e os cedros altíssimos e as casas (grande parte delas em recuperação, sejam edificios públicos ou privados -- não há-de o desemprego em Espanho descido fortemente?), quando ouço o resfolegar de cavalos e eco de conversa que se adivinhava amistosa. Espreitei. Num plano mais abaixo, os guardas conversavam e um fazia festas no cavalo do outro. Achei uma ternura.

O afecto entre pessoas toca-me. Mas ver o afecto estendido aos animais parece que me enternece ainda mais.


E o render da guarda, os soldadinhos a marcharem, coordenados, e a tocarem tamborzinho, tudo tão delicadamente encenado, tudo tão de um outro mundo. Por um lado, andam armados por tdo o lado. Ontem até o segurança do museu da Biblioteca -- que viu a minha carteira, os telemóveis, a máquina fotográfica, tudo visto a raios X, e que fez o meu marido despejar os bolsos para deixar de apitar no controlo anti-metais (e afinal era a embalagem das minhas pastilhas da garganta, aquela prata, que apitava) -- andava armado e com uma fiada de balas no cinto. Um aparato bélico. E depois, à porta do Palácio Real, esta inocente fantasia, esta coreografia tão pacifista.

Enfim, contradições dos tempos modernos.


E agora o gordo Homem-Aranha da Plaza Mayor. Não tem a ver com cavalos ou com polícias mas é também um personagem característico da cidade. E, também, não é afinal o spider man também um salvador das cidades? 


Sempre que por aqui passo, e isto desde há anos, cá está ele. Penso que seja português pois, embora fale espanhol, volta e meia parece que reconheço o sotaque português que ele bem tenta disfarçar. Ninguém sabe quem é. Por ali anda fazendo poses malucas, metendo-se com quem passa, completamente descarado, e recebendo uma moedas. É a sua forma de vida. De resto, uma forma de vida muito mais honesta e muito menos onerosa para os outros do que muito emproado que por aí anda (e só porque ando num registo zen é que não dou já aqui uma dúzia de luso-exemplos, a começar pelo Sérgio Monteiro). 


Mas, enfim, o tema não passa pelos discípulos dessa nódoa que dá pelo nome de Carlos Costa do BdP. Portanto, adiante: convosco, Senhoras e Senhores, The Fat Spider Man.





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E, para quem aqui chegou de novo, o meu convite: queiram, por favor, descer para lojinhas especiais polvilhadas com memórias.

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sábado, dezembro 17, 2016

Vai um bailarico, meu cavalinho mais lindo, mais prendado e mais versátil...?



O post que vou escrever é mesmo para não se perceber. Não quero dizer aquilo que acho que descobri. Conto apenas como lá cheguei.

Aliás, não foi só hje. Um dia, não sei porquê, do nada, ocorreu-me que duas certas pessoas eram uma mesma. Melhor: que uma certa pessoa era a mesma que se apresentava com um certo pseudónimo. Depois esqueci-me disso.

Hoje, ao ver nas estatísticas quais as palavras que tinham trazido os leitores até mim, vi o nome dessa tal pessoa, ou melhor, esse tal pseudónimo. Já umas duas vezes aqui escrevi sobre ele (uma vez que se trata de figura pública do milieu literário) e, confesso, de uma forma não especialmente abonatória.

Hoje fui reler algumas prosas escritas por ele e, pimba!, lá está o tal verbo deselegante que se encontra, volta e meia, na escrita do outro. Claro que não é só isso, é mais. Mas a utilização deste verbo é uma impressão digital.


E dito isto o que se conclui? Nada. Ou melhor: muito pouco. Talvez que quando a gente escreve aqui nunca sabe quem nos lê ou que quando pensamos que sabemos quem é uma pessoa, especialmente se for uma pessoa versátil, nunca verdadeiramente o sabemos. Ou que podemos estar a falar com uma pessoa de uma outra e afinal serem ambos o mesmo. E quem diz os dois, pode dizer os três ou os quatro. Fernando Pessoa era assim. Não era apenas uma questão de escrever sob vários pseudónimos: era que cada um era um autor diferente com uma biografia própria. 

Para quem os vê de fora e numa perspectiva literária é interessante. Para quem convive de perto com uma pessoa assim deve ser uma complicação. Para os próprios pode ser um inferno, uma complexa gestão de identidades, uma luta quotiana.

Mas, enfim, há coisas que não se escolhem. É-se assim porque não se pode ser de uma outra maneira.

E eu que cheguei a casa, outra vez, tarde e más horas, que tenho cinquenta mil coisas para fazer este fim de semana, que ando a penar horrores nesta cidade cheia de gente e de carros, já não estou com vitalidade para muito mais do que dizer que vos deixo na melhor companhia que agora me ocorre.


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quarta-feira, junho 29, 2016

Como é que o que comemos afecta o nosso cérebro?
- e outras derivações
(o mal e os desafios da razão, o terrorismo no aeroporto de Istambul e, no extremo oposto, os pássaros que voam em V, a definição de amor, etc.)





Estive a ouvir poesia. Como quando uma pessoa parece que precisa de açúcar, assim estava eu, a precisar de uma voz junto a mim a dizer poesia.

Parece que me sinto nostálgica mas isto é capaz de não ser nostalgia. O mais certo é ser sono. A esta hora não distingo bem, já se confundem saudades, calor, vontade de ir de férias. Será que toda a gente sabe escalpelizar o que sente? Eu não. Verdade seja dita que também não me dá para perder tempo com isso. Há bocado fui abrir a janela para entrar a frialdade da noite e tive vontade de puxar uma cadeira e deixar-me ficar ali a olhar a negrura. Talvez me pusesse a pensar no passeio que anda aqui a forjar-se dentro de mim. Volta e meia, a meio do dia, penso que, se tivesse dez minutos sossegada, ia ao google maps e olhava para os percursos possíveis para chegar lá. Mas não consigo e, por isso, a vontade de pensar no assunto anda aqui ao meu lado. Será que o receio de não poder ir é que parece ser nostalgia?

Não sei. Ou uma vontade de sair pela noite, juntar-me às paredes gastas junto ao rio, ficar a ouvir o ranger das correntes, sentir a maresia limpa, imaginar o sono dos gatos.

Estou a ouvir música, a cabeça vazia. Escrever assim sem fazer a mínima ideia do que vai sair, descansa-me. Deve haver explicação para isto.


Em vez de escrever sentada à mesa onde costumava entricheirar-me entre livros, agora arranjei o hábito de me pôr no canto do sofá, reclinada, os pés em cima do assento de uma cadeira e o computador ao colo. Deve-se isto ao sono com que ando: estes meus dias são assim a modos que muito preenchidos de coisas diversas, surpreendentes e desafiantes. No outro dia, uma pessoa dizia-me que era desafioso. Sorri. Desafioso? Nunca tinha ouvido mas muito bem, seja. 

Mas, ao fim de um ano já de si bem cheio, e agora este sprint em pleno verão, e o calor dão nisto -- chego à noite já quase em modo off. 

Também não tenho oportunidade para beber os chás que costumava beber ao longo do dia, chás e infusões. Careço disso e agora nem sempre posso. Provavelmente, a água que bebo não produz o mesmo efeito que o chá verde e as infusões de camomila, erva cidreira, lúcia-lima que agora pouco consumo.

Digo que careço mas não sei se é correcto: pode não ser carência, pode ser apenas um hábito.

No regresso, já o céu de um dourado quase nocturno, vim ao telefone e a ouvir música. Gosto de conduzir assim.

Cheguei, estacionei, calcei os ténis e fui andar. Passava já bem das nove quando entrei em casa. Vale-me o ter já a comida feita, sopa e, hoje, lombinho estufado e, portanto, é apenas aquecer, juntar salada. Acompanhei com vinho branco bem gelado, coisa pouca, acho que nem um copo inteiro, e um copo de sumo de beterraba e maçã bem gelado. No fim, comi um damasco e comi um bocado de queijo de cabra. Adoro queijo, e gosto de o misturar com fruta ou de lhe pôr um pingo de mel de urze em cima.

Depois ainda algumas arrumações e, quando aqui chego ao sofá, a primeira meia hora é para adormecer de cinco em cinco minutos. Há mails ou comentários, alguns a que tenho mesmo vontade de responder, leio-os com gosto, mas penso: se me ponho a responder, chego ao fim boa para encostar de vez e escrever no blog, está quieto, zero. Mil desculpas, meus amigos.

Amanhã, irei levantar-me cedo, como sempre, e hoje já escolhi a roupa. Prefiro fazê-lo de véspera porque, quando desatino, perco imenso tempo, parece que nada combina com nada, parece que nada é adequado ao ar do tempo, ponho-me a vestir e a despir, com vontade de me embalar numa porcaria qualquer, esperar que um shopping qualquer abra, e ir escolher uma toilette brand new que faça pendant com o meu estado de espírito Tolices, claro. Mas perco tempo. E, assim, essa etapa de duração imprevisível não fica para de manhã, já que, de manhã, é sempre a abrir, tempos espremidos.

O pequeno-almoço é tomado sentada, gosto de estar tranquilamente a comer, por vezes enquanto ouço as primeiras notícias da manhã. Agora o meu pequeno-almoço é composto por uma banana e um pêssego, depois iogurte ou kefir com cereais, muesli. Por vezes junto frutos secos. Segue-se um café.

Ao almoço, sempre que posso como peixe e legumes. Quando vou, depois de almoço, para o meu gabinete, se não me esquecer de manter o reaprovionamento (coisa que desgraçadamente acontece com frequência) como dois quadrados de chocolate preto. Gosto muito de chocolate preto, forte, quase puro.

Muitas vezes, também se estou no gabinete habitual, a meio da tarde como duas bolachas recheadas de fruta ou, então, uma maçã.

Acho que não como muito mas a verdade é que não sou magra. Aliás, nunca fui. Acho que não se pode dizer que seja gorda mas gostaria de, no mínimo, ter uns três ou quatro quilos a menos. 

Ao longo do dia, quando estou a trabalhar, não tenho sono e a maior parte das pessoas até se surpreende com a minha energia. Não me vêem aqui, como estou agora, só a bocejar... já mais a sonhar com voos, brancas cavalgadas e noites de luar do que com energia para o que quer que seja.

Os cavalos foram fotografados por  Carina Maiwald

E vem grande parte desta conversa a propósito de um vídeo que o meu amigo google seleccionou para mim. Conhece-me melhor, este algoritmo, do que grande parte dos meus melhores amigos.

Seleccionou a música lá de cima, a Halie Loren a interpretar In a Sentimental Mood, seleccionou o vídeo da Nature que vou colocar mesmo no fim, Come fly with me, e este já aqui abaixo. Juro que fico perplexa com a simpatia deste meu compagnon de route. Adivinhou que eu estava in a sentimental mood, adivinhou que me apetecia que me levassem a voar e adivinhou que eu adoraria saber um pouco mais sobre o meu cérebro.

Partilho convosco porque acho que este vídeo é serviço público. Sugiro que o vejam também porque é bastante interessante e útil.

How the food you eat affects your brain


When it comes to what you bite, chew and swallow, your choices have a direct and long-lasting effect on the most powerful organ in your body: your brain. So which foods cause you to feel so tired after lunch? Or so restless at night? Mia Nacamulli takes you into the brain to find out. 


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Há bocado, na minha tentativa frustrada de deambulação, perdida de sono, passei os olhos pelo título: O mal: um desafio aos limites da razão. Espreitei. Não li. Fujo do mal como se, fugindo, ele não me apanhasse.


Mas, de uma maneira ou de outra, sempre acaba por tocar-me. Ouço agora a tragédia do aeroporto de Istambul. iam em turismo ou em trabalho, não interessa, e viram-se a meio do inferno. Mais de trinta mortos, muitos feridos. Uma coisa diabólica esta. Chacinas levadas a cabo por gente doida.


Mas não quero falar nisto. Dizer o quê? Que o mal anda à solta? Sempre andou. Parece que o género humano, de vez em quando, em certas zonas do globo, passa pela compulsão da destruição.

Prefiro não olhar, quase ignorar -- como acima disse, quase como se, evitando olhar ou pensar nisso, ajudasse a que o mal se mantenha, para sempre, bem longe de mim e dos meus: não me contagie, não me salpique.

Alguns dos meus Leitores, talvez os mais cínicos, são capazes de achar que tanta ingenuidade minha é sinal de estupidez. Eu penso que nem será (apenas) isso: será talvez um instinto de sobrevivência ainda muito animal, ainda não maculado pelo meu lado racional. Quero tentar viver feliz, longe de angústias e de medos - só isso.

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Prefiro, antes, partilhar convosco o vídeo dos pássaros que voam alto, livres, sem conhecerem os tormentos em que se afogam alguns estúpidos humanos

Come fly with me


In this Nature Video, we see how researchers at the UK's Royal Veterinary College put data loggers on ibises to record their position, speed and wing flaps when they migrated. The ibises position themselves within the V so that they benefit from the flow of air created by the bird in front. They carefully time their wing flaps with their flock mates', to get an extra lift when flying high.


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E, por agora, mais nada. Estava com vontade de partilhar convosco a voz que há pouco me trouxe a poesia de que eu estava precisada mas, agora quando a fui procurar, apareceu-me o próprio poeta, não a dizer um poema mas numa das suas cínicas tiradas: ironia, provocação, talvez apenas o prazer de usar palavras.

Bukowski define o amor



Não concordo. O amor não desaparece assim tão facilmente. Disparate.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.

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sexta-feira, maio 27, 2016

As escolhas da UJM
(Selecção muito limitada que isto de estar com internet a pedal é um verdadeiro desespero)


Depois do 'artista de mamilos' do post abaixo, estava com vontade de fazer aqui uma gracinha mas há gracinhas que apenas a civilização permite. Ora aqui, in the middle of nowhere, com uma internet a pedal, em que cada página demora eternidades a abrir, com o próprio computador a rebentar pelas costuras, não consigo fazer nada do que queria.

Desespero a ver esta coisa a pensar -- e se me maçam as coisas lentas (as coisas e as pessoas) que dão voltas e voltas aos neurónios sem que dali saia coisa que se aproveite, credo, que falta de paciência. Estou aqui e é o chamado dançar, dançar e não sair da pista. Cada página atravanca a outra, fica tudo pasmado, nem ata nem desata, mastiga e não engole. E por aí fora que, se continuo com metáforas, daqui a nada estou naquela que se impõe. Caraças.

Por isso, e tendo já intervalado para ler - senão, enfurecia-me para nada que não é a minha impaciência que torna a internet mais rápida ou me limpa o disco do computador - volto aqui com um novo plano que, a bem dizer, pode ser plano nenhum que, se isto continua assim, vou ler um pouco mais e...oh oh, ó-ó.

É verdade: a televisão já funciona e afinal não era humidade (thanks de qualquer maneira, Rosa!), era mesmo nabice, uma ficha estranha enfiada na tomada errada aqui na geringonça da tdt, coisa que um olhar jovem e entendido logo detectou. Mas a oferta televisiva é miserável.

Neste momento, estou a ver uma coisa que não sei como se chama mas que tem a gente do Big Brother ou Casa dos Segredos e há outras pessoas, que admito que sejam concorrentes, que são do pior que se possa imaginar. Inenarrável. Vou desligar.

Portanto, meus Caros, hora de procurar o que me agrade noutras paragens. Vamos lá. A pedal, devagar, devagarinho, mas vamos lá.

Uma imagem

Uma fotografia que é quase uma pintura, uma mulher que é quase imaginação

La Chambre Bleue ©Thomas Devaux

Um anúncio

Publicidade a livros, a livros belos, bem encadernados, que dão gosto só pelo facto de existirem

Beautiful books worth treasuring - The Folio Society



Um cavalo

Chama-se Frederik The Great

Dizem que é o mais belo cavalo do mundo. Não sei, acho-o estranho, gótico, sobrenatural. 
E é notícia, claro.


Um poema

Há palavras que nos beijam

(Não descobrindo o poema do Alexandre O'Neill dito, opto pela versão musicada na interpretação da Mariza)


Um beijo

Difícil de alcançar, merecido quando se alcança

Hubbard Street Dance Chicago em "Kiss" numa coreografia de Susan Marshall sobre música de Arvo Pärt


Um momento de intimidade

Uma cena improvável mas memorável: um homem lava a cabeça de uma mulher, só isso. 

Meryl Streep e Robert Redford em Out of Africa


Uma escultura, uma loucura

Os animais da praia de Theo Jansen que ele, um dia, quer dotar de inteligência artificial

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Apetecia-me, ainda, escolher um blogue. 
Um. 
Aquele por cujas actualizações eu espero mais impacientemente, aquele com que sempre me deleito.

Mas não ouso. Acho que poderia parecer que menosprezo todos os outros de que gosto.
Mas um dia fá-lo-ei.

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Relembro que, descendo, encontrarão um artista de mamilos. Vejam antes de fazerem juízos precipitados. Pode ser útil a alguma das pessoas que me lêem.

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terça-feira, dezembro 02, 2014

Sócrates é ou não culpado de corrupção, branqueamento de capitais e fuga ao fisco? Passei o dia a ler jornais e revistas e, face a tudo o que li, não detectei indícios de coisa nenhuma. Mas não sou fundamentalista nem devota de nenhum santo muito menos de Sócrates. O que o meu horóscopo diz explica o que me vai na mente


Como não tinha conseguido ler jornais ou revistas e, como esta semana estou em casa, passei o dia a ler o Expresso de fio a pavio, a Visão, a Sábado.

Da minha base de formação académica retenho ainda que apenas se podem construir deduções a partir de premissas se as premissas forem comprovadamente verdadeiras. Enquanto isso não acontecer, não vale a pena continuar.

  • De tudo o que li, apenas constato que Sócrates viveu em Paris em andares que eram propriedade de uma empresa do amigo que trabalha na área da imobiliária. Os juízes suspeitam que a história esteja mal contada mas, do que vi, os factos são que as casas são do outro e que Sócrates era inquilino ou hóspede. 
Entretanto, soube que Sócrates escreveu uma carta à RTP confirmando que a casa de Paris é do amigo, não dele. 

  • Também vi que a mãe herdou vasto património de um pai riquíssimo que deixou fortuna aos seus três filhos e que, recentemente, vendeu três andares à empresa do amigo do filho. O produto da venda deu ao filho. 
  • Li também o que já sabia mas que me voltou a impressionar. A mãe de Sócrates teve 3 filhos. Dois deles morreram de doença, a rapariga há mais de 20 anos e o mais velho há três anos, e o que está vivo, José Sócrates, está preso. Quem geria o património da senhora era o filho mais velho que morreu. É daqueles casos em que se pode dizer com propriedade que o dinheiro não traz felicidade e imagino o desalento e tristeza da senhora. 

Não vi mais qualquer informação concreta para além disto. Pediram informação a bancos na Suiça para poderem validar as suposições mas ainda não a receberam, pelo que ainda não confirmaram as suposições. De resto, os jornalistas sabem o que ele comeu ao pequeno almoço, almoço e jantar desde que está detido mas não me parece que isso venha ao caso.


Li também que há mais de 1 ano que Sócrates era escutado em permanência, chamadas privadas, tudo, uma devassa assustadora. 

Um dos filmes mais extraordinários que vi e que mais me tocou foi A Vida dos Outros, um filme que relatava o trabalho de um agente da Stasi a quem, a dada altura, foi atribuída a missão escutar tudo o que se passava na casa de um homem da cultura. Não havendo nada contra esse homem, a ideia era que alguma coisa havia de haver e que, portanto, mais valia passar a vigiá-lo. Instalaram escutas em casa e, a partir daí, o agente ouvia tudo, sabia toda a sua vida, uma coisa alarmante. Conseguiu corromper a mulher com quem esse escritor vivia, conseguiu que ela o traisse. Uma abjecção moral terrível, Depois houve um volte-face e o filme passou de arrepiante a tocante. Recomendo muito.

Depois de ter visto este filme, nunca mais me poderei esquecer do que é ter a vida devassada por agentes que fazem das escutas o seu modo de vida, que querem justificar o que fazem, que precisam de um motivo para mostrar serviço. E a devassa por que uma pessoa passa, tendo todas as suas conversas ouvidas, interpretadas, comentadas. 

Só em casos muito extremos tal devia acontecer, nunca como uma forma normal de investigação.


A VIDA DOS OUTROS


VENCEDOR DO OSCAR 2007 DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Realização de Florian Henckel von Donnersmarck, artistas principais: Ulrich Muehe, Sebastian Koch



Mas isto sou eu a pensar.

Tive aulas de Lógica, sempre foi matéria que me apaixonou. Detectar erros de raciocínio, falsas premissas, falsas deduções sempre foi um desafio que encarava (e encaro) com entusiasmo.

Mas, enfim, há sempre uma possibilidade: a de que não tenhamos em nossa posse todos os elementos de análise. Pode vir a surgir a prova que completa o puzzle. Há que estar receptivo a voltar a equacionar as teorias face a novos elementos que surjam. Mas, enquanto não existam novas informações, deveremos manter-nos fiéis à pureza da lógica.

Esta é a minha maneira de pensar.

No meio da ociosidade que foi esta segunda feira, sem encontrar nada de novo em tanta página que li, às tantas lembrei-me de espreitar o meu horóscopo. Transcrevo a parte que importa:


Astrologist Jennifer Angel on your daily outlook: December 1, 2014

In a perfect world, you would have every piece of information laid out in front of you to make an informed decision. Unfortunately this is not always possible, and sometimes, you have no other option than to just trust your instincts, and lucky for you, ruled by Moon, this is not a difficult task. Your intuition is stronger than you probably realize, and it can set you on the right path if you tune in and listen, especially as a full Moon approaches at the end of this week, which makes you even more astute.

Acho que já aqui o disse algumas vezes: sou muito intuitiva e fio-me imenso na minha intuição. Em tempos, trabalhei com um empresário que era fino como um rato, frio como uma lâmina, implacável. Pois bem, volta e meia, quando tinha dúvidas chamava-me, contava-me o que se passava e depois perguntava 'O que lhe diz a sua intuição?'.

Uma vez, num processo muito mediatizado, ele queria avançar com um processo crime contra um conhecido figurão da nossa praça, um que viria a ser ministro. Eu disse que não, que achava que era coisa para tribunal administrativo e nada mais. Seguiu o meu conselho. Não que eu não tivesse vontade de avançar para outros terrenos mas a minha intuição dizia-me que não ia conseguir nada, apenas desgaste emocional e desgaste financeiro.

Trabalhei com um outro, um com feitio miudinho, que ouvia a minha opinião mas dizia que não podia dar-me ouvidos se eu apenas tinha a minha intuição a justificar os meus intentos.

Eu própria achava que se calhar a minha intuição era coisa pouco credível, coisa a caminho dos dotes devinatórios. Até que, num curso de psicologia comportamental, o professor explicou que a intuição é um atalho da inteligência, é a forma de o raciocínio se processar sem ter que percorrer toda a cadeia dedutiva, bastando-lhe a correcta interpretação de marcadores. Aí passei a respeitar a minha intuição.

E é assim que, por um lado mantendo-me fiel às boas práticas da Lógica e, por outro, dando crédito à minha intuição, vou levando a minha vida. Não posso dizer que me tenha dado mal embora já, pelo menos uma vez, me tenha deixado guiar pela emoção e, dado haver crianças envolvidas, deixei que o meu lado racional tivesse sido submerso. Penso que cometi uma injustiça para com uma pessoa perante quem já me desculpei mas essa injustiça continua a pesar na minha consciência. Isso passou-se aqui, neste blogue, a propósito do caso Casa Pia e recebi uma vez um mail sentido de alguém a quem eu indirectamente me tinha referido como podendo ser culpado. Essa pessoa leu o que escrevi e foi tamanho o sofrimento que li nas palavras que me dirigiu por mail que ainda hoje não me perdoo.

Se é horrível deixar escapar um culpado, mil vezes pior é culpar um inocente. 


Por isso, sem preconceitos, vou esperar para ver o que dá isto do Sócrates. Ou seja, não alinharei em julgamentos antecipados, isso não.

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As imagens que usei não têm a ver com nada. Apenas gostei de ver a forma amorosa como Tim Flach fotografa animais. Há uma série de fotografias a que ele chamou More than Human e talvez seja assim de facto, haver mais humanidade nos animais do que em muita gente mas, enfim, isto não são horas para retirar a moral às histórias.

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