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quinta-feira, setembro 28, 2023

Vamos jogar tinta para cima de quem...? Vai uma sugestão...?

 

Hoje recebi um mail que, podendo não querer dizer nada, pode querer vir a dizer muito. Com a humildade de quem está a aprender a dar os primeiros passos, dou ouvidos a tudo e levo a sério o que para outros, talvez, não tenha qualquer significado.

E, assim sendo, deitei mãos à obra e trabalhei afincadamente quase todo o dia. A resposta acabou de seguir. 

Não sou fantasiosa pelo que não vou ficar toda excitada a acreditar que vai correr bem. Como sempre, atiro-me às coisas tentando conseguir chegar onde quero mas mentalmente precavida para não conseguir nada. 

Ou seja, não é fácil desanimar pois, de cada vez que não consigo, vou à volta, tento de outra maneira. Difícil para mim é desistir.

Com isto ainda conseguimos fazer uma caminhada à hora de almoço e ir um bocado à praia ao fim da tarde. Estava-se bem. Tarde bonita.

E, porque não tinha jantar, trouxemos um belo sushi. 

Portanto, como síntese, o dia foi produtivo e bom. Não disse mas acho que se depreende que, para os lados da minha mãe, as coisas estiveram mais calmas.

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Com este programa de festas, foi quase de raspão que vi a tinta verde que atiraram ao ministro do Ambiente e a tinta encarnada com que sujaram as paredes da FIL. E não ouvi o que o Marcelo disse mas ouvi o meu marido revoltado, dizendo que o Marcelo quase parecia estar a sancionar a forma de actuar dos jovens.

E o que tenho a dizer é que:

1 - A crise climática é um motivo sério, dramático, e é para nos preocuparmos, mesmo. Que não haja dúvida: é assunto que deve ser levado muito a sério. E não é um tema português: é, sim, um tema mundial. E tem diversas vertentes pelo que tem que ser visto numa perspectiva integrada. Não é simples, pois acabar com uma actividade poluente (a aviação, por exemplo) alteraria o modo de vida das populações de todo o mundo, acarretaria despedimentos, implicaria vultuosos investimento em actividades alternativas, levaria anos a ser posta em prática. Não se pode acabar, de caras, com nada. Pensar isso é ter uma visão simplista e errada sobre o funcionamento da vida real. Mudar o modelo económico do mundo actual requer visão, estratégia, planeamento, recursos, capacidade de execução apesar dos escolhos, muito esforço, infinitos sacrifícios.

2 - Contudo, apesar de tudo, há que operar a transformação. Levará tempo, implicará compromissos, imporá acordos transversais. Penso que, mais ou menos, todos os países civilizados estão empenhados nisso. Claro que quem gere os países são os políticos (eleitos) e sabemos como tantas vezes se elegem políticos que estão na política a servir interesses que não os dos que, ingenuamente, os elegeram.

3 - Para lidar com a urgência das medidas e com a resistências que políticos impreparados ou a soldo, há que ter inteligência.

4 - O processo que os jovens portugueses moveram no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem contra 32 países, entre os quais, Portugal, parece-me uma iniciativa inteligente. 

5 - As iniciativas inteligentes são as que constroem soluções ou apontam caminhos

6 - Neste domínio, as iniciativas ineficazes, pouco inteligentes, censuráveis e, até, criminosas são as que resultam da ameaça, do insulto, da destruição, do arremesso seja do que for contra pessoas ou património

7 - Nos casos em que há crime (e não sei se arremessar tinta ao Ministro ou às paredes de um edifício é apenas uma estúpida e inútil falta de respeito ou se é crime), devem os acusados ser julgados.

8 - As lutas justas devem ser travadas com lisura, respeito pelo outros e pela lei, civismo e, claro, inteligência. 

9 - Se Marcelo não percebe isto, estamos mal. Ou seja, a ser verdade que o nosso Presidente não se demarcou e não censurou muito claramente a forma infantilóide, desrespeitadora e absurda com que os jovens actuaram, vamos de mal a pior.

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Yo-Yo Ma, Kathryn Stott - The Swan (Saint-Saëns)


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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Bom senso e razão. Paz.

terça-feira, fevereiro 01, 2022

O passeio de domingo, a reconstituição da vida do Pina.
E os homens que vivem em barcos.

 



De domingo para segunda deitei-me tardíssimo para acompanhar os resultados, as reacções e os exercícios acrobáticos dos jornalistas de stand up e dos avençados a metro. Ainda por cima acordei muito mais cedo do que tinha previsto com o urso a atirar-se à maluca contra a porta do quarto. 

De manhã -- ou melhor, praticamente de madrugada -- o meu marido vai dar uma volta com ele. Mal entra em casa, o meu marido diz que ele corre e tenta abrir a porta do quarto. Deve querer saber se lá estou dentro. A porta fica encostada e, como o chão, que é de madeira, faz atrito, só com força se consegue empurrar. A porta não pode ficar aberta senão ele entra e, num salto, vai para cima da cama. Vindo da rua, não se pode dizer que venha com as patas muito limpas. Portanto, fica a porta encostada. Não fica fechada pois faz-me impressão, receio não ouvir alguma coisa que deva ser ouvida. Mas a verdade é que acordo sobressaltada com os encontrões que dá na porta. 

De manhã pensei que, com sorte, talvez pudesse passar pelas brasas logo a seguir ao almoço. Estava mesmo a precisar. Afinal apeteceu-me tentar recompor o livro que, no outro dia, a fera tentou devorar. Dezenas de bocadinhos de folhas. Com uma paciência chinesa pus-me a tentar encontrar, nas folhas esburacadas, o espaço para cada bocadinho. Por bizarro que possa parecer, gosto de fazer coisas assim. É tal e qual como fazer um puzzle. E eu não tenho paciência para fazer puzzles pois não tenho paciência para fazer coisas que não servem para nada. Neste caso, como o objectivo não era lúdico mas muito objectivo, tentar conseguir ler as folhas despedaçadas, tive paciência. 

Tenho esta coisa muito arreigada em mim: não desperdiçar tempo com coisas que não servem para nada. Claro que escrever aqui, a bem dizer, também não serve para nada. Mas, enfim, tenho esperança que sirva para fazer companhia a quem me lê, enquanto me lê. Enfim, não interessa. Gosto de escrever, seja ou não útil. Acho que é a única excepção. Isso ou fotografar. 

Bem, mas pus-me a tentar reconstituir as folhas. E quase consegui. Subsistiram alguns buracos em algumas páginas. Concluí que não apenas o pequeno monstro felpudo rasgou várias folhas como deve ter comido parte delas. É que apanhei cada bocadinho que encontrei na relva, não sobrou nada. Portanto, deve ter devorado, literalmente, parte da biografia do Pina.

O que é curioso é que, enquanto estive nesta actividade, ele esteve deitado ao meu lado, com o queixo em terra, como quando está expectante ou a fazer-se de morto a ver se passa despercebido. Ora costuma andar de roda de mim, pôr as patas em cima da mesa para ver o que estou a fazer, a tentar mexer naquilo em que estou a mexer. Desta vez nem pó. Cá para mim, lembrou-se que aquele livro já foi motivo de desentendimento sério entre nós e nem se arriscou a puxar assunto...

Portanto, como de seguida tive que me ir aprimorar para uma reunião, não consegui descansar. Resultado: agora estou que não posso. Daqui a nada tenho que ir dormir.

Ontem não contei como foi o dia mas posso contar agora. Em casa do meu filho, um após outro, foram todos ficando com covid. Os cinco. Sintomas variáveis mas, felizmente, pouco graves. Estão confinados há para aí umas duas semanas. Por isso, no domingo, depois de termos ido votar, só estivemos com o bando da minha filha. Almoçámos no jardim e depois fomos passear. Ela andava há algum tempo a querer ir passear para ali -- o que teve que ser muito regateado com os filhos, em especial com o mais velho que queria treinar defesas na praia.

A tarde estava boa, amena, uma luz suave, um ambiente muito agradável. É muito bom passear com o tempo assim, o mar tão bonito, a vista tão longa e delicada, todos tranquilos. O ursinho felpudo fica feliz com a família, salta e brinca e corre e derrete-se com eles. 

Faz tanta falta a chuva. Assustam-me as secas. Nem quero pensar que vamos ter falta de água antes de se ter descoberto como dessalinizar as águas do mar em larga escala e a baixo custo ou como forçar a formação de nuvens. Mas, se me abstrair dessa preocupação, é tão bom o tempo assim...

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E, nesta dança de dia após dia, o primeiro mês do ano já se foi. Anda rápido, o tempo. De manhã, quando estava a tomar o pequeno almoço, abri a porta e abeirei-me do jardim. Estava uma rola a passear na relva. Tentei manter o silêncio mas não devo ter conseguido pois ela deu uma corridinha, depois bateu as asas com força e voou. São bonitas, um platinado quase branco. Mas ariscas. Nunca me deixam chegar perto, muito menos tocar-lhes.

Quando estava a ter a reunião da tarde, tentando resolver uns problemas recorrentes e tentando anular a hostilidade de alguns contra uns outros, reparei que, lá fora, de entre a ramagem da trepadeira ao pé da janela, estava a soltar-se uma outra rola. Fiquei com pena de não a ter visto senão quando voou. 

Há um lado transitório e efémero em tudo isto, na passagem do tempo, no voo de um pássaro, nas brincadeiras de um cachorro que, não tarde, será adulto, na ternura dos meninos que, não tarda, estão grandes e independentes, em mim que talvez perca a vontade de aqui escrever fora de horas. Ainda se ao menos estivesse a escrever num caderno, em papel, se estivesse a compor um livro. Um livro sempre tenta contrariar a efemeridade disto tudo. Agora assim, a soltar palavras ao vento, palavras mais ariscas que as rolas do jardim, fico com o quê? 

Vou mas é dormir que esta conversa já não está com nada.


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Mas, antes de me mandarem bugiar, não querem ver este vídeo que aqui tenho?

É interessante e, de certa forma, tocante. Fala de quem prefere viver à margem da sociedade, abdicando de conforto e segurança, para poder sentir todos os dias o gosto da liberdade. São pessoas que vivem em barquinhos mas sabem que um dia alguém não tolerará a perturbação na harmonia do status quo e acabará com a sua forma de viver.

Living Rent-Free Next to Millionaires

For decades, the “anchor-outs” have enjoyed living in rent-free boat homes in the Bay Area. Their boats, anchored just north of the Golden Gate Bridge, float illegally in the sightline of one of the country’s wealthiest zip codes. But now, as enforcement ramps up, their way of life could be coming to an end.


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Peço muita desculpa mas não vou conseguir responder aos vossos comentários. 
Estou já mais para lá do que para cá.
Sorry.

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As fotografias foram feitas neste domingo e estão aqui na companhia de Yo-Yo Ma - Bach: Cello Suite No. 3 in C Major, Bourrée I and II

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Desejo-vos um dia feliz e luminoso.
Boa sorte. Bola para a frente. Para a frente é que é caminho.

terça-feira, setembro 07, 2021

Gustavo Santos e outros vazios que por aí proliferam.
O Vítor, a Ana, o Pedro e outros ausentes de que sinto saudades.
Os tempos que correm.

 


Há situações ou pessoas -- antes longínquas ou, mesmo, totalmente ignoradas --, que, em certos momentos, descobrimos e com quem passamos a sentir uma certa ligação. Por vezes, uma forte ligação.

Alguns são acontecimentos episódicos. Assim como aparecem e nos impressionam fortemente, assim desaparecem. E, apesar de nos terem marcado, sentimos que é melhor não forçar o rumo dos acontecimentos. Cruzámo-nos, afastámo-nos. Talvez um dia voltemos a cruzar-nos. E, se não, ficará a memória.

Por vezes, lembro-me de algumas dessas pessoas. Outras telefonam-me pelos meus anos ou pelo natal. Fico sempre espantada pois de ano para ano volto a esquecer-me delas e não faço ideia da data do seu aniversário. Gosto de pensar na vida como uma linha do tempo em que umas pessoas deixam de lá estar e em que entram novas. Tenho a sensação de que, se não me desligar de algumas, dificilmente terei disponibilidade para acolher pessoas novas. É coisa minha, que não sei explicar: prefiro conhecer pessoas do que manter um lastro de antigas e, por vezes, esgotadas amizades. E, no entanto, se calha encontrar algumas delas é como se tivesse estado com elas até à véspera. Ainda no outro dia me ligou uma amiga de há muitos anos e com quem não falava há que tempos. Pois bem, sem justificações para ausências, retomámos a conversa e ali estivemos que tempos, pondo a conversa em dia. Ou outra: foi promovida e lembrou-se de me ligar a contar, toda contente, dizendo-me que, mal soube, se lembrou logo de me contar por saber que eu ia ficar feliz por ela. E fiquei, de facto, mas fiquei foi ainda mais surpreendida por ela, naquela situação, se ter lembrado de mim. Ou uma jovem que trabalhou comigo há algum tempo. Eu mudei de empresa, ela continuou. Pois há uns meses ligou-me para me contar que ia aceitar um novo desafio e para saber a minha opinião e para conversar comigo. Fico sempre comovida com isto. E acho que é assim que comigo funciona bem. Não ter rotinas nem compromissos mas estar sempre disponível. 

Assim, tenho sempre espaço afectivo para acolher não apenas as que vêm de trás como novas pessoas e situações que vão aparecendo.

De um grupo de amigos que, em tempos, foram muito unidos, sempre fui a única a não participar mos almoços que organizavam pelo natal. Durante anos convidaram-me. Depois desistiram e  limitavam-se a ligar-me a contar como tinha sido o almoço e a desejar bom natal. E, volta e meia, algum liga e dá notícias. Assim está bem. A última vez que estivemos todos juntos foi no enterro da mulher de um deles, uma momento muito triste. Parecia mentira que a mais animada, a mais faladora, a que enviava anedotas para todos fosse a primeira a sair de cena. O marido chorava sem consolo e todos nós estávamos atordoados com a situação e com o sofrimento dele. 

Depois passou um, mais velho que nós, amigo mas não fazendo parte dos mais chegados, que não me conheceu e que olhava para todo o lado como se não reconhecesse ninguém. Chamaram-no e não se virou. Um deles disse: está surdo como uma porta. Outro disse: desde que lhe morreu a mulher foi-se muito abaixo, parece até que já não bate lá muito bem. Outro disse: mas ele e a mulher... aquilo sempre foi chama apagada até porque ela nunca foi muito certa e, além disso, estava com alzheimer há anos. Porque é que ele se foi tão abaixo com a morte dela? Era morte mais do que anunciada... E outro: Na volta não tem a ver com a mulher, na volta é ele que também já não estava grande coisa. E depois a surdez ainda o desliga mais do mundo. Vá lá a gente perceber estas coisas. 

E é mesmo. Vá lá a gente perceber. É que nem vale a pena tentar.

Mas adiante.

Hoje resolvemos ir a uma das cidades aqui mais próximas comprar o jantar. Servia de passeio. Estamos tão habituados a estar em movimento que um dia inteiro no campo já nos dá vontade de cirandar. 

Pelo caminho, pusemos na antena 3 para ouvir o Alvim. Estava lá um convidado que nos pareceu meio parvo. Só dizia banalidades mas daquelas banalidades pretensamente inteligentes emitidas por tipos que são metidos a besta. Por exemplo, dizia coisas como que só tinha descoberto a dimensão do amor com a responsabilidade da parentalidade. O meu marido disse logo para mudar. Ainda tem menos paciência para parvos do que eu. Mas eu quis perceber quem era. O sujeito dizia: daqui a nada vou publicar um post em que vou falar do amor e da capacidade de amar para além do amor. O meu marido, irritado, esticou o dedo para mudar de posto. Eu disse: deixa ver quem é o filósofo. Logo a seguir trataram-no por Gustavo e percebi que era aquele que apresentava o Querido, mudei a casa. O meu marido disse que tinha ideia que ele também escrevia livros, que tem ideia de ter visto pelo menos um livro com a cara dele. Credo. Mudámos de posto, claro está. Depois de termos estacionado, ao irmos a pé para o restaurante, passámos por uma espécie de loja toda envidraçada com uma mesa com uma toalha e uma jarra e cadeiras em volta. Tudo estranho e piroso. E com uns ditos em molduras. Sorri à vida que a vida te sorrirá. Ou: Recebe a mensagem e faz dela o teu caminho. Coisas assim. Espreitei para perceber o que era aquilo. O meu marido é que viu: uma igreja. Não era evangélica, era uma igreja de que nunca tinha ouvido falar. Uma religião que cultiva a banalidade, os lugares comuns, a vacuidade. Mais à frente, num pátio num jardim, vozes em altifalante. Campanha do PSD, ficámos com a ideia que eram os candidatos a uma Junta. Um homem dizia: 'Falar a verdade'. 'Não esconder nada'. 'Para o bem de todos, em total transparência'. E pensei que entre o Gustavo, a igreja não sei das quantas e o candidato do PSD não havia diferenças. 

Talvez tudo isto seja fruto da cultura actual, da que é alimentada pela trivialidade e pelo artificialismo do instagram e do facebook, verdadeiras máquinas de descaracterização, de make up emocional, de pseudo aforismos feitos de ar e de cuspo, de exibicionismo, de voyeurismo. 

Não sei se são as redes sociais ou o excesso de debates e artigos sobre tudo e sobre nada que andam a deformar a cabeça das pessoas. 
A ideia de que tem que se ter muitos amigos, que se tem que estar a dar likes e a pôr corações em tudo a toda a hora, que é bom a pessoa estar a mostrar-se aos outros a toda a hora, em locais fantásticos, a fazer coisas fantásticas, há-de ter nefastos efeitos secundários no raciocínio, no próprio vocabulário e, sobretudo, na estabilidade emocional de quem frequenta esses lugares de felicidade ficcionada.

Bem... e já viajei... começo um post com uma ideia em mente e depois, meio distraída, ouvindo música, vou por aí fora e esqueço-me da ideia que vigorava no momento da partida. 

Onde é que eu já ia... 

[Daqui a nada até me estava a dar vontade de ir investigar se o tal Gustavo é mesmo escritor de obra publicada ou se aquilo foi delírio do meu marido.

Que livros será uma pessoa daquelas capaz de escrever? E onde será que ele escreve aqueles posts que anuncia, em avant première, como se tivessem algum conteúdo? No Instagram ou no Facebook, só pode. E quem é que o lê, senhores? Quem é que, em seu são juízo, vê ali ideia que se aproveite?]

... e que mundo é este? Que acefalia colectiva, pior que pandemia, assola este planeta, deus meu? O que vai sobrar daqui? Gente alienada, gente ansiosa, gente com psicopatias e distúrbios emocionais de toda a espécie, imagino. Já para não falar na sociedade de analfabrutos em que todos se acham alguém sem conseguirem ter uma ideia própria ou formar uma opinião informada.

Mas dizia eu que, uma vez mais, sem querer, derivei. É que a ideia que tinha em mente ao começar a escrever era bem outra. Ao procurar um nome de um fotógrafo na lista dos temas por ordem alfabética que tenho aqui ao lado (barra da direita, mais abaixo) dei com vários blogues que acompanhava e que, entretanto, ficaram parados no tempo ou desapareceram. De alguns já nem me lembrava e, no entanto, tanto que gostava de os ler. Fiquei a pensar no que terá acontecido aos seus autores.  Espero que estejam bem. Outros apaguei a ligação porque, alguma vez, escreveram coisas que me desagradaram demais e, depois, acabei por me esquecer deles. Às vezes, penso neles mas já não consigo lembrar-me exactamente do nome do blog e já não consigo lá voltar. Toda a gente às vezes perde a cabeça e escreve coisas estranhas e eu tenho tendência a perdoar excessos. E, no entanto, quero lá voltar e já não consigo. 

Gostava que alguns blogs voltassem a viver: lembro-me do Âncoras e Nefelibatas, por exemplo. Ou do Ana de Amsterdam. Ou do Anjos e Prostitutas. Ou do Novo Mundo. Ou os do Mexia. E outros. É que, ao contrário do que acontece noutros domínios, neste caso não têm aparecido assim tantos blogs novos que nos façam esquecer a qualidade daqueles que ficaram suspensos no tempo ou que desapareceram. E era sobre isso que eu gostava de ter escrito.

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Pinturas de Svabhu Kohli e Viplov Singh ao som de Yo-Yo Ma, Kathryn Stott que interpretam The Swan de Saint-Saëns

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Desejo-vos um dia feliz

domingo, abril 04, 2021

Uma Páscoa suculenta

 


Não me importaria de ter vários dias assim. Uma tranquilidade envolta em canto de passarinhos, olhando as flores, varrendo, cozinhando, lendo. 

Não dormi bem na noite anterior. Como já percebi que acontece quando ando com muito trabalho, muita pressão de decisão difíceis a toda a hora, reuniões de sol a sol, o meu corpo dá de si mostrando que estou a puxá-lo ao limite. Pelo menos, assim interpreto. Do nada, apareceu-me uma tendinite num ombro. Que me lembre não fiz esforço nem dei mau jeito. E, no entanto, o ombro está dorido, o movimento bastante limitado. Então, de noite, sem poder deitar-me de lado ou doendo-me ao mínimo movimento, a coisa não esteve fácil.

Durante o dia, sempre que estive parada, coloquei um daqueles sacos de gel congelado. O gelo ajuda bastante. Espero que, assim como apareceu, assim desapareça. 

Apesar de estar assim, consegui ter um dia quase normal. Mantenho o braço junto ao corpo, contendo os movimentos, e a coisa vai dando. Pior movimentos que envolvam alguma torção ou levantar o braço. Abotoar o soutien atrás é para esquecer. 

Mas um efeito colateral foi que, por ter dormido pouco de noite, passei o dia a querer adormecer de cada vez que me sentei sossegada. Agora à noite, aqui no sofá, não tem conta as vezes em que caí no sono.

Mas foi um dia bom. Estive muito tempo no jardim e na horta. Gosto tanto. Aqui, sossegada, não há ruído, poluição. Aqui tudo é paz e natureza.

A anterior proprietária da casa vendo o meu gosto por árvores, flores e arbustos aconselha sempre que eu me inscreva nos cursos de jardinagem de agronomia, ali na Tapada da Ajuda. Digo-lhe sempre que ainda não dá, não consigo ter tempo. Mas reconheço que a minha ignorância é muita. Penso sempre que a minha intuição me leva onde for preciso mas, claro, sei bem que era bom, era, que isso fosse sempre verdade. Mas não é.

Hoje, o comentário do Amofinado levou-me até aos ensinamentos da Carol Costa. Diz ele que eu, se estivesse a ensinar jardinagem, deveria ser assim. Acho que tem razão. Ela ensina tudo com cuidado, vai ao pormenor, quer mesmo ensinar. Gosto dessa maneira de ensinar. E é divertida. E fala com carinho das plantas. Já vi vários vídeos dela. Como sempre acontece quando aprendo matérias muito novas para mim fico com muita vontade de experimentar. 

Andámos a ver, no jardim, se há algum lugar pouco intrusivo onde se possa colocar uma pequena greenhouse. Digo assim, com sotaque british pois os vídeos que andei a ver são britânicos, gardens, romantic gardens. Pensei num sítio, fiz marcações, pareceu-me perfeito. Chegou o meu marido, achou mal. Aborreci-me, achei que estava a contrariar-me gratuitamente. Mas pouco depois já estava a dar-lhe razão e, então, andámos os dois a ensaiar, a espetar paus no chão, eu a ver de longe, ele a dar sugestões, eu a dar-lhe razão. O trabalho em equipa é sempre mais proveitoso.

Agora estou a ver o Dr. House. No outro dia vi e voltei a ficar viciada. Sempre achei graça a bad boys. São os que valem a pena. Os outros tendem a ser uma maçada. Mas já é tarde. Tenho que ir. A minha mãe bem me diz que eu aproveite estes três dias para descansar, para dormir. Se vivesse num outro tempo, se fossem outras as minhas circunstâncias, haveria de ter uma vida boémia, tendencialmente desregrada. Assim, limito-me a ter horários impróprios para dormir. No outro dia estava a dizer à minha mãe que ela passar umas duas semanas numas termas era capaz de ser uma boa coisa. Volta e meia parece que fica com um bocado de bronquite. Ela concordou que era capaz de ser boa ideia. Depois disse que, se calhar, também para mim, para relaxar músculos e afins. Fiquei a pensar nisso. Capaz de ser boa ideia, sim. Vou pensar nisso. Mas quando é que as termas voltarão a estar abertas? Uma seca isto da porcaria da covid.

Bem.

Já é domingo de Páscoa. Não me lembro como foi a Páscoa do ano passado. Mas também não me lembro como foi a Páscoa nos outros anos. Tanto faz.

Quero é que venha o bom tempo para podermos estar na rua. O que me chateia é a perspectiva de, mesmo ao ar livre, termos que andar de máscara. E a perspectiva de não poder agarrar-me aos meus meninos. Que saudades de lhes dar abraços a sério sempre que me apeteça, sem medo de ser contagiada, sem que o meu marido me recorde que devo ser mais cuidadosa. Domingo de Páscoa, na prática, é apenas mais um domingo. Estamos em Abril, o mês da esperança. E eu gostava que pudesse ser o mês da liberdade. Infelizmente ainda não descobriram o tratamento milagroso para nos libertarmos desse corona de uma figa. E essa é que é essa.


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Pensavam que a Páscoa suculenta tinha a ver com gastronomia, não...? Lamento, não tem. Se o anho me correr bem, à noite logo conto como fiz. Agora, antes de o fazer, não faço ideia de como vai ser. 

Por isso, a suculência tem a ver com a jardinagem de suculentas, essa coisa que, como li, anda a deixar a mulherada ao rubro. Pudera: florzinhas tão bonitas e gordinhas inspiram o lado maternal que há em nós. Hoje vou partilhar um dos muitos vídeos que há a explicar como se podem fazer coisas que vão para além de deixá-las em vasos a serem fofas como são.

Arranjos de Páscoa com suculentas

Se passar em um supermercado, esqueça a prateleira de ovinhos de páscoa e corra direto pra gôndola de suculentas. Nossa jardineira Carol Costa ensina neste vídeo como fazer arranjos de páscoa lindos usando mini cestinhas e suculentas. Sim, aquelas plantinhas gordinhas que você encontra em hipermercados, pet shops, home centers e, claro, gardens centers.

Pra que seu arranjo tenha bastante estilo e seja gracioso, não precisa de uma quantidade enorme de plantas. Nossa louca das plantas sugere três espécies de suculentas, a que tiver à mão, mas elas precisam ser diferentes entre si, tanto na altura, quanto nas cores e no formato. 

Como materiais pro arranjo, cestinhas de vime servirão de recipiente pra plantar as suculentas e ainda dão aquela cara de utensílio onde o coelhinho da Páscoa carrega os ovinhos. Mas, a proposta é usar o que tem à mão: serve caminhõezinhos de brinquedo, taças, xícaras ou alguma tigelinha interessante. Pra proteger a cestinha e segurar o substrato, Carol a reveste com um pedaço de saco plástico.


E um belo dia de domingo a todos

quarta-feira, março 24, 2021

As cartas estão de volta?
Quem me dera que sim... Gosto tanto de cartas

 


Ao fim do dia, tivemos que ir à cidade. Havia comida feita para o jantar. Contudo, o meu marido lembrou-se que os meninos adoram pizza e sugeriu que encomendássemos duas para, no regresso, as irmos buscar. São feitas em forno de lenha, óptimas. Pedimos duas das familiares, gigantes: uma à base de salmão, outra de frango. Mas não lhes dissemos nada. Chegámos e caladinhos. Foram tomar banho e nós nada. O mais novo já lavado, o mais velho ainda a banhos, e as pizzas a serem aquecidas no forno. E, então, deu-lhe o cheiro. Entrou na cozinha, viu o forno aceso, espreitou e... nem queria acreditar, ficou sem palavras. Quando assimilou que eram mesmo pizzas, saiu a correr, entrou na casa de banho e gritou: 'Pizzas!'. O irmão passou-se, não gosta de ser visto em pelota. O mais novo regressou dando pinotes, doido de alegria. Passado um bocado chegou o outro, para confirmar. Parecia que tinham ganho a lotaria.

E foi a alegria: comeram, comeram, comeram. Deliciados. E nós deliciados por vermos a alegria que a surpresa lhes causou. Não é preciso muito para uma criança se sentir feliz. Nem é preciso muito para nos sentirmos felizes: basta sentirmos que estamos a fazer as crianças felizes.

Continuo com muito trabalho pelo que não consigo estar com eles muito tempo. Mas o mais crescido também ainda está com aulas, também não tem muito tempo e o que tem é para estudar pois está com testes. Mas o tempo que estou com eles é uma bênção.

A nível pessoal vão surgindo situações que têm que ser equacionadas e decididas e isso, por vezes, cansa. Sinto, por vezes, que me apetecia que não houvesse nada a resolver, que a vida fosse mais simples. A nível profissional também é sempre a mesma agitação, a mesma canseira. Também me apetecia que, por vezes, não me pusessem problemas para resolver nem que não me caíssem em cima situações das quais não posso fugir. Mas a vida é assim mesmo. As coisas vêm ter connosco e não podemos virar as costas a tudo: algumas vezes temos mesmo que enfrentá-las de frente. Pior ainda quando nos desafiam com carácter de urgência. Eu a querer desviar a cabeça para temas mais interessantes ou para resolver assuntos pessoais e as coisas a aparecerem para ontem. No meio disto apareceu o mapa das férias. Todos temos que marcar as nossas férias. Sei lá quando posso ter férias. O meu marido também. Lá preenchemos aquilo. Mas as férias, agora, parecem coisa hipotética. Sabe-se lá como estão as coisas nessa altura, sabe-se lá que espécie de férias vamos poder ter. 

No meio disto, uma vez mais afastada de notícias, sem saber se o sol ainda é uma bolinha remota cheia de pisca-pisca amarelos e se a terra é um pequeno ponto azul perdido no universo, leio que as cartas estão de volta. Cartas em papel, quero eu dizer. E se eu gosto de cartas. Como gostaria de receber cartas. Claro que bom seria recebê-las em papel, folhas dobradas dentro de um envelope entregue pelo Carteiro. Mas já não vou tão longe: já me derreteria se a recebesse por mail. Cartas de desconhecidos, cartas de alguém que nos fala da sua vida e a quem nós depois respondemos, amizade límpida, transparente, confiança total. Não sei se isso é possível na net. Gostava que fosse. É tão bom a gente fazer o que gosta sem ter medo de ser enganada ou de se desiludir.

A quem tiver disponibilidade e se ajeite com a língua (metaforicamente falando, claro) recomendo a leitura: 

'A letter tells someone they still matter': the sudden, surprising return of the pen pal 

[In the pandemic, many have rediscovered the sheer pleasure of writing to strangers, with new schemes spreading hope and connection around the world (...)]

As fotografias provêm da selecção das melhores da Tokyo International Foto Awards e aparecem na companhia de James Taylor & Yo-Yo Ma que interpretam Here Comes the Sun

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E porque receio que achem que o post não mereceu a visita e me venham pedir de volta o dinheiro do bilhete, aqui vos deixo um vídeo que é uma graça. Melhor: um vídeo com um senhor que é uma graça. 70 anos. E se ele consegue fazer isto porque não haveriam vocês também de conseguir? Não me dizem?

70多岁大爷和美女组合跳鬼步舞,舞步动感灵活不输年轻人


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Um dia feliz

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Perto da mãe-terra, numa ilha in heaven, vivendo a vida que vou construindo

 


Bem. Hoje de volta ao local de trabalho, ou melhor, de teletrabalho. Infelizmente nem sol, nem temperatura agradável, nem um minuto para poder passear no jardim. Regredi aos dias de cinza. Os escassos minutos livres serviram para fazer sopa, ao início da manhã, antes de pegar no batente, e, antes da última reunião da tarde, uma versão simplificada e light de cozido à portuguesa. Aliás, pus ao lume, deixei que fervesse para baixar o lume, e fui. 

Dia compacto, daqueles em que uma leve dorzinha de cabeça começa a desenhar-se, devagarinho, e, aos poucos vai começando a ameaçar achegar-se.

Acresce que, depois de uma reunião em que infrutiferamente tentei desatar um nó górdio, justamente essa tal última, quando me arrastei até à sala com vontade de fechar os olhos e descansar, recebi um telefonema de um dos participantes para comentar o que se tinha passado e para me contar algumas coisas, coisas deveras complicadas, coisas que, segundo essa pessoa, apenas me contava a mim pois receava contar a outros por medo do que pudesse acontecer-lhe caso se soubesse que tinha partido de si a informação. Minutos antes tinha-me dito: Aquilo ali é muito complicado, tudo se vende, tudo se compra, tudo. Ali tudo se trafica. Estava cansada e a precisar de descansar a cabeça depois de tanta reunião e de tantos assuntos a resolver mas, confesso, ao ouvir o que me estava a ser dito, pensei que não sei nada da vida pois há tantas e tantas vertentes ocultas que por muito que se viva há sempre muito que desconhecemos. Mundos ocultos que sobrevivem graças a esta teia de silêncios que, anonimamente, se vão urdindo em volta. Por conivência ou receio, esse submundo sobrevive protegido num casulo invisível e inconfesso.

E depois é isto, dilemas (ou melhor: questões) em que me vejo envolvida: quando a gente não sabe, não sabe, vive na ignorância; e nada há de melhor para que se viva despreocupadamente do que viver na ignorância. Agora, quando se sabe, como se pode continuar a viver fingindo que não se sabe?

E é assim que estou agora: ainda sem saber como digerir a informação, sem saber o que fazer. 

Claro que, pelo meio, justamente quando fiz a breve e acelerada caminhada da hora de almoço, consegui a proeza de deixar que a minha ideia de pinturas e arranjos da casa de campo assomasse, feliz, à minha mente. Lembrei-me de outra coisa: há montes de lenha espalhados por vários bancos. Não consumimos lenha ao ritmo a que ela é produzida. E, agora, pelo menos três ou quadros bancos de pedra e também o abrigo estão inutilizados para o uso para o qual foram concebidos. Então pensei na solução que, nesta casa, o anterior proprietário encontrou para o mesmo problema: num canto da horta, fez uma espécie de telheiro, com uma armação coberta dos lados com uma espécie de estore de ripinhas de madeira por cima de outros de oleado, e, por cima, com uma cobertura metálica que imita telha. Fica muito discreto, muito bem integrado, e a lenha fica ali bem guardada. Sugeri ao meu marido que fizéssemos lá o mesmo. Disse: 'É o que eu temia. Agora não vais parar.' Mas a verdade é que ainda nem comecei e, para dizer a verdade, nem sei se vou começar. Sem poder circular, não sei como se pode levar a cabo uma empreitada destas.

Um tronco já ressequido
só poderá reviver
dando lenha a outra vida.

Seja como for, é bom ter uma coisa em que pensar. E os meus pensamentos melhores têm a ver com fazer coisas, com projectá-las, imaginá-las. Fecho os olhos e é como se as visse. Na verdade, acho que nem preciso de fechá-los. Simplesmente, ausento-me para lá, para onde os meus pensamentos me levam.

Sentir-me bem em casa, viver junto da natureza, ter um espaço agradável para receber aqueles que o meu coração ama é das coisas boas da minha vida, talvez das mais importantes.

E é isto: como sempre, muito pouco a dizer. Junto a esta prosa frouxa umas fotografias feitas na terça-feira in heaven para ver se mantenho a alma lavada enquanto ouço um sonzinho bom. E nada mais. Até porque aqui, na realidade, também não posso falar de tudo o que me preocupa, não é? Um dia destes, ainda arranjo um diário a sério, daqueles em que a gente pode falar de tudo o que nos apoquenta ou exalta ou comove ou assusta.

Até lá, entretenho-me com estas conversinhas e com uns vídeos que me transportam para outros paraísos, bem longe das minhas cercanias. Santa Helena. Uma ilha onde parece que toda a gente é feliz. 

(À falta de melhor alternativa, a partir do título dos vídeos deu-me para compor o título deste post).


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Close To The Earth

'I grew up like a wild boy. And that's a lovely way to live.' - Stedson Stroud.

Stedson is a conservationist and botanist on St Helena Island, and has helped to bring a number of endangered endemic plants on the island, back from the brink of extinction.


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Life Is What You Make It

Life is what you make it. You get the rough with the smooth.  I don't let things get me down.' - Marcus Fowler

We all complain sometimes.  But there are so many people in the world for whom life is a daily struggle.  It's important to remember how lucky we are.



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Paradise Island

St Helena is one of the most remote islands in the world. The locals of St Helena refer to themselves as 'Saints', and Gary Stevens is one them.

Gary used to think that there were greener pastures elsewhere, but he has realised that he lives in paradise.  He shares a beautiful message about appreciating what you do have in your life.

"Always look to the bright side of things, and never let little things get you down. Just think of what lumps of gold you've got in your hands that you can't see."- Gary Stevens



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Desejo-vos um dia feliz.

Saúde. Cuidado. Ânimo. Alegria.

terça-feira, fevereiro 09, 2021

Ele todo na levezinha e ela nas profundidades. E eu aqui.

 



Devo dizer que o dia de hoje foi mais simpático. 

No entanto, acordei cedo demais. O meu marido, que é madrugador, acordou antes de tempo e, desta vez, sem querer (acho eu que foi sem querer...) acordou-me. Tentei adormecer mas comecei a pensar no que tinha que fazer durante o dia. Fui ficando mais desperta. Depois ouvi uma chuvada das valentes. Era de tal ordem que tive dúvidas de que fosse mesmo chuva. Nessa altura já o meu marido tinha saído para a sua caminhada pré-matinal. Quando estava a tentar adormecer, uma mensagem. Não é normal receber mensagens tão cedo. Era uma mensagem de voz no whatsapp. Uma voz simpática, num tom saltitante, dava-me conta de que tinha o trabalho quase feito e que contava enviar-me entre hoje e amanhã. Fiquei estupefacta. Pela cabeça de quem é que passa acordar uma pessoa àquela hora para dizer uma coisa que poderia ser dita uma ou duas horas depois? Voltei-me para o lado a pensar que há gente que parece que vive noutro fuso horário. Mas, pronto, a voz simpática atenuou a contrariedade. Penso que até devo ter sorrido.

Com isto, decidi levantar-me. Mas pensei que ia andar o dia todo cheia de sono. Afinal, por acaso, não. Estive na boa. O tempo levantou um pouco. Quando fomos fazer a nossa caminhada da hora de almoço até o sol espreitava. E ver o sol traz-me ânimo novo. Despi o casaco e subi as mangas da blusa. Gostei, parece que tinha avistado um mundo novo.

Ao fim da tarde, antes que ficasse noite, convenci-o a vir dar uma volta pelo lado de lá, por fora, pela orla das hortas. Não queria, que era tarde, que não tinha grande jeito andar por ali àquela hora, que esta mania minha de me meter pela penumbra adentro.... Claro que não disse assim, penumbra adentro. É muito pão-pão, queijo-queijo, ele. Linguagem a atirar para o poético não é com ele. Mas estava mesmo a apetecer-me apanhar ar, respirar o tempo que está para chegar. 

Como é óbvio, a grande maioria dos vizinhos não tem horta coisa nenhuma. Mas, surpreendentemente, surpreendentemente mesmo, vimos uma capoeira. Galinhas, galos. Parecia que estava no campo. Uma coisa do além... Chamei o meu marido. Não se empolgou. Eu sim. Quase não estava a acreditar no que estava a ver. Parece que ainda nem estou bem em mim. Qualquer dia, ainda acordo com um galo a cantar. Seria a maravilha das maravilhas.

Entretanto, recebi uma chamada. E, enquanto estava concentrada ao telefone, ouvi um sonoro, 'Boa tarde!'. Espantada, olhei. Era uma vizinha na sua varanda, lá ao longe, acenando com o braço. O meu marido retribuiu também sonoramente. Quando acabei a chamada perguntei quem era, se conhecia. Que não, claro, que aqui é isto, se ainda não aprendi que aqui as pessoas cumprimentam-se sempre. E é. Volta e meia, distraída como sou, quando me cruzo com alguém e ouço um bom dia, olho admirada pensando ser alguém conhecido. Mas não, desconhecido. Também há uma coisa: como sou míope, nunca vejo bem as pessoas. Não vejo ou não presto atenção, não sei. No outro dia, ao passarmos por uma casa, o meu marido disse que era ali que morava aquele casal com que às vezes nos cruzamos. Não sei de quem fala. Ele diz que não se admira, que ando sempre noutra. 

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Tenho ainda a dizer que, entretanto, enquanto estava aqui a escrever, recebi um mail de uma pessoa que me dizia que tinha urgência em falar comigo. Obviamente, atendi a urgência. E foi um longo telefonema do qual se pode dizer que de um arco emocional se tratou. Começou por me falar de uma pessoa que morreu, meia idade, saudável, em duas semanas foi-se. O abalo, a tristeza, o espanto. Como foi possível? Estava positivo mas pensava que estava bem, uma febre apenas, nada de mais. Afinal estava sem oxigénio e sem dar por nada. Ou seja, afinal estava quase a morrer. Daí, do desconcerto do que é esta maldita covid, passou para as hostilidades com um colega, a ponto de quase terem andado à pancada. Descreveu as zangas, as deslealdades, a arrogância do outro. Essa a verdadeira razão da urgência. Depois passou para a sua vida, para as suas dúvidas, para as suas convicções. Depois, nem sei como, para a risota. Por fim, acabámos combinando uma estratégia. 

Quando acabei, escrevi um mail como tínhamos combinado pois o desenrolar da estratégia requer mais um a bordo.

Agora cá estou, de novo. 

E só para verem como eu sou, uma maria desmiolada, ouçam agora esta. Tinha visto dois vídeos e tinha pensado partilhá-los convosco. Gosto de entrevistas, ao vivo, em vídeo ou por escrito. Desta vez, duas pessoas tão diferentes uma da outra. Tom Jobim, boa onda, leve, leveza, alegria e suavidade. E Clarice Lispector, toda coisa de dentro, insondável, espanto, intensidade contida, uma vida para além do compreensível. Estou em crer que o da Clarice Lispector já aqui o partilhei uma vez. Mas acho-o tão fantástico que me apetece aqui tê-lo de novo. É bom escutar o que pessoas assim têm para dizer mesmo que não seja nada de mais, mesmo que seja apenas o que, naquele instante, lhes ocorreu ou apeteceu dizer.

E a minha ideia era falar sobre o que eles dizem e ir intercalando com as fotografias que fiz enquanto olhava a lareira que me aqueceu a tarde. Mas agora já não faz sentido. Fico-me por aqui mas vocês podem ficar com eles. Está bem?


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Fotografias de Paolo Roversi da série Birds na companhia de Yo-Yo Ma e James Taylor

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E tenham, V.Exas, um dia feliz

sábado, janeiro 30, 2021

Então não é que vi uma chouette de verdade...?

 


Estou em crer que as televisões são o grande partido da oposição ou as grandes forças da desestabilização do país. Ou melhor: os fiéis seguidores da religião do bota-abaixo e os porteiros de serviço ao populismo. Manipulam as notícias, não sei se porque a inteligência não chega para perceber tudo e, portanto, deturpam a realidade ou se porque acham que rende mais se empolarem e infectarem a opinião pública. Seja como for, é nefasto. Quanto às redes sociais, felizmente a sua frequência é mal de que não padeço pelo que, se deformam mentalidades, estou fora.

Quanto às televisões, não vejo muito, apenas um pouco à noite mas, se não encontro melhor alternativa, passo-me com a gandulagem encartada que é convidada para lá opinar. Gente que não dá uma para a caixa. Sempre com voz muito doutorada dizem disparates atrás de disparates. Reinterpretam o que se passa, reescrevem o que estamos a viver, inventam narrativas. E depois há chusmas de outros que comentam o que os outros comentaram indo toda a gente atrás do primeiro que disparatou. Disparates virais.

Passei na Sic N e, para além do putativo-sábio mano-Costa, até a Cristas ali vi. Só vi uma intervenção da dita mas do que vi constato que continua burrinha como nos tempos em que assinou de cruz e sem pestanejar o fim de um dos grandes grupos económicos do país. Com sorriso beato e a convicção dos néscios, continuar a afirmar convictamente os maiores disparates. Depois de termos assistido durante anos às severas limitações do seu intelecto, eis que o mano-Costa ali a tem a fazer de conta que tem neurónios na cabeça. Porque o faz? Porque ainda não conseguiu perceber que ela não acrescenta nada? Ou porque acha que quanto mais burros os que lá leva mais confusão lançam... e nada melhor em televisão do que a confusão? Não sei, apenas pergunto.

Do outro lado, num outro canal, está aquele jeitoso que se acha o máximo e que, com ar pedante, só diz coisas que não sei se é pelas parvoíces que diz, se é pelo sorrisinho superior, só dá vontade a gente encher-lhe os fundilhos de pastilha elástica mastigada e pregar-lhe uma folha a4 às costas do casaco  dizer: sou um ganda parvalhão. Ao lado dele, outra que se acha o máximo e que, só pela forma como se desdobra em evidência de superioridade, me obriga a mudar de canal. É outro dos grupos que opinam em grupo há séculos e em que me não sei qual o critério: um porque é de direita, outra porque é socialista, outra porque é de esquerda-esquerda e outro porque paira por ali, sempre sorrindo? Ou um porque é parvo, outra porque tem a mania que é boa, outra porque é uma fofa e outro porque é um pachola? Não sei mas olhando para o moderador tudo é possível.

Quando dava o MasterChef Australia eu tinha o meu naco de boa televisão garantido. Agora nem percebo o que é aquilo. O MasterChef Brasil. Nos antípodas. Aqui, agora, tudo gente que não faz a mínima. Desajeitados, inexperientes, sem ponta por onde se pegue. Nem percebo qual a lógica daquilo que ali se passa. Fazem cozinhados que não lembram ao diabo, a bancada desarrumada, eles desorientados. O próprio júri é do além. Não consigo aguentar-me ali. Zappo.

Obviamente pelo Big Brother tento nem sequer passar. Se sempre foi coisa de lúmpen, agora que todo o canal levou banho de cristina é coisa pela qual não se pode nem passar perto. Desqualificou de vez. E digo isto com a segurança de quem nunca viu um único programa da deslumbrada e esguinchadora criatura. Só de a ver, de raspão, a fazer anúncio aos seus programas já fico com brotoeja. Muito, muito mau. Não é apenas ela que está em trajectória descendente: vai dar cabo da TVI.

Entretanto, nesta minha fuga para a frente, ao voltar ao passar pela Sic N já tinha acabado o Expresso da Meia-Noite e já lá estava aquele outro grupinho que não se aguenta a começar pelo zero à esquerda que Marcelo, num dia de forte pancada na cabeça, convidou para uma função que até aí tinha sido desempenhada por gente com alguma elevação. Não consigo. Salva-se, pela moderação, mas é uma salvação relativa, o Mexia mas os que o ladeiam são maus de mais: um porque é de tal forma limitado que não sabe o que diz, apenas sabe dizer baboseiras sobre pessoas cuja linguagem ele não percebe, e outro porque acha que vale tudo e lambuza toda a gente de má-língua fazendo de conta que é humor. 

Uma intoxicação. 

Felizmente ainda me sobra algum ânimo para fugir desta praga. Contudo, os dias frios e húmidos não ajudam e o confinamento ainda menos. Já está a passar o primeiro mês mas o facto de não saber quanto mais tempo disto temos pela frente tira-me alguma boa disposição. 

O meu filho já nos arranjou uma solução para os frescos e isso tira-me um peso de cima. Com sorte, nas próximas semanas talvez não precisemos de ir ao supermercado já que tenho o congelador cheio e produtos de higiene e limpeza com fartura. Era mesmo o conjunto dos legumes para a sopa e para os acompanhamentos, alguma fruta e algum pão que me estava a faltar e a fazer ir ao supermercado todas as semanas. Mas, por outro lado, ao ter-nos arranjado um fornecedor, ficamos sem o único lugar em que tínhamos contacto com o que sobrou da anterior civilização. 

Ontem estive a fazer encomendas online para o aquariozinho mais querido e lindo. Mas não é a mesma coisa. Gosto de ver, de mexer. Além disso, parece que desapareceu de mim toda a vontade de fazer compras com excepção das básicas, do supermercado. Deixei de ser consumista. Está a fazer um ano que não entro em loja de roupa ou sapatos, em perfumarias. Comprei algumas peças, poucas, na decathlon e foi porque a roupa quente para estar em casa está in heaven. E comprei uns quantos livros para mim pelo Natal. Tirando isso, nada. E sem saudades. Pelo contrário, é por vezes com alegria que entro no closet para escolher a roupa que visto para as reuniões. Tenho que chegue e fico contente de todas as vezes que o constato. Ontem tinha vestido uma blusinha cor de rosa mas é uma blusinha fininha, decotada, pelo que, quando estava a pensar o que haveria de vestir por cima para não arrefece e para se conjugar bem, lembrei-me de um casaquinho da benetton com umas cores um pouco impulsivas: na parte da frente, losangos cor de rosa e cor de laranja. Pouco o vestia já, parecia-me já coisa um pouco datada, anos e anos que já o tenho. Fui lá abaixo, à cave, ao roupeiro onde estão os agasalhos, e trouxe-o. Gostei mesmo do conjunto. Agora fico contente com coisas assim. 

No outro dia fiquei contente com outra coisa. Íamos a fazer a nossa caminhada e, ao passarmos junto a uma casa, reparámos num pequeno vulto escuro no canto de um muro. Demos uns passos atrás para ver o que era. Para meu espanto, era uma coruja. Linda, irreal. Devia ter levado a máquina para registar a beleza daquele instante. 

Digo coruja mas não sei se era coruja ou mocho, nem sei se há diferenças entre ambos ou se é a mesma coisa. 

Muito direita, uma cabeça imponente, muito digna. É a primeira vez que vejo ao vivo uma ave destas. In heaven às vezes, de noite, ouve-se o piar que penso que seja de uma destas aves. Mas ver, nunca vi. E é uma alegria olhar para aquela bela ave e pensar que coabitamos o mesmo espaço que animais tão extraordinários.

Também nunca mais vi a raposa e disso tenho alguma pena. Agora trabalho muito, horas ininterruptas. Mas, um dia que tenha tempo, penso que facilmente andarei pelos campos, em silêncio, tentando descobrir animais. Posso até sentar-me num canto, talvez lá ao fundo ao pé da horta, a ver se vejo passar algum esquilinho, um veado, um destemido galaroz. 

Bem. E hoje, talvez por andar a pesquisar as diferenças entre coruja e mocho, ao parquear-me no Youtube, o meu amigo tinha me propor um vídeo muito bonito.

Sur les traces de la chouette, un animal si discret

Dans le massif du Jura, des Aiguilles de Baulmes en passant par l’Auberson, au plus profond des forêts de sapins et de hêtres se cachent les oiseaux mythiques que sont la chouette Hulotte, Tengmalm ou encore Effrai. 

Seuls quelques initiés ont le bonheur de les apercevoir dans leur milieu naturel et c’est bien le privilège qu’on obtenu Pierre-Alain et Denise. Ce couple de passionné sillonne la région depuis plus de 40 ans afin de mieux comprendre ces mystérieux volatiles, et ceci avec une flamme intacte comme au premier jour.  

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As fotografias que fiz cá em casa vêm ouvir Yo-Yo Ma e Wu Tong interpretando "Rain Falling From Roof"

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Desejo-vos um bom sábado
Saúde

quarta-feira, janeiro 27, 2021

Perdendo o equilíbrio indesejável

 


Por vezes um pessoa lê coisas que preferia nunca ter lido. Percebe-se uma estranha forma de crueldade mas, pior ainda, uma crueldade gratuita. É como quando alguém ofende outra pessoa por razão nenhuma, destruindo a dignidade de outra pessoa por nada, só porque sim. Fico triste, sem perceber o que leva a isso. E afasto-me. 

O dia hoje tem sido assim. Notícias más, medos. 

Alguma coisa má anda à solta pelo mundo, pelo meu país, matando, assustando, espalhando crueldade. 

Estou no meu casulo silencioso e tranquilo. A vida lá fora anda assim, cruel, mas aqui sinto-me protegida. O dia esteve branco. Não. Não branco, cinzento. Um casulo húmido,  quase atrofiante. Lá fora tudo molhado, triste.

A cameleira está coberta de flores mas grande parte está caída. Não sei se é normal ser assim mesmo ou se é da chuva. Talvez as flores não aguentem o peso da névoa. Apanho as camélias molhadas, umas ainda conservando a cor, outras já amarelecidas. Com as flores caídas cubro a terra de alguns vasos. Ficam bonitos, com qualquer coisa de Frida Kahlo. Amanhã a ver se me lembro de fotografar.

A tangerineira está carregada de pontinhos luminosos mas hoje o chão também estava todo colorido. Apanhei algumas, comi algumas ali mesmo, tão doces. 

A vida corre devagar. Ou não. Se calhar corre depressa demais. Não percebo como se esvaem estes dias. Nem estas semanas. Trabalho muito. De manhã penso que vou fazer isto e aquilo e depois há mil coisas que se intrometem e quando dou por ela é hora de almoço e logo, logo, recomeçam telefonemas e logo, logo, é hora de reunião. Não chego a ter tempo para tratar de assuntos pessoais. E tenho dificuldade em perceber o que se passa. Mal tenho tempo de espreitar a rua. O dia embaciado, tudo molhado e triste.

Morrem muitas pessoas, muitas estão em cadeiras, com oxigénio, mal instaladas, sem atenção, sozinhas, assustadas. Uma enfermeira dizia que sim, que já estão a seleccionar quem vão tentar salvar. No prazo de poucas semanas chegámos aqui. 

De noite, doentes estavam a ser transferidos de um hospital para outros, parece que não conseguiam assegurar o oxigénio, talvez por avaria nas tubagens. Digo talvez porque, na verdade, não sei a causa. Não nos podemos fiar na comunicação social que empola, dramatiza. Não sabem informar, sabem, sobretudo, teatralizar, deformar. Inclino-me para razões técnicas nas instalações, mas é mera intuição. 

Tenho falado neste receio que sinto. As equipas invisíveis que asseguram o funcionamento do país estão a ser afectadas. Muita gente infectada, muita gente em quarentena por terem estado perto de infectados. Quem assegura o bom funcionamento das instalações criticas (infraestruturas de todo o tipo, desde electricidade, água, gás, vapor, comunicações, caminhos de ferro, estradas, edifícios, equipamentos como, por exemplo, os de telecomunicações, redes de frio e oxigénio, avacs, electromedicina, etc, etc, etc) são pessoas iguais a todas as outras com a particularidade de que não podem estar em teletrabalho. Deslocam-se em transportes públicos, almoçam em cantinas, trabalham em equipas. Trabalham por turnos. Se um fica infectado, fica toda a equipa. Se uma equipa fica inoperacional alguma coisa grave pode acontecer algures. 

E eu preocupo-me com tudo isto. O meu marido não quer ver mais notícias, não me quer ouvir falar nisto com quem me telefona. Então, para que não proteste, quando recebo uma chamada, vou falar para o lugar mais longe dele que posso. 

Claro que também não quero estar afogada em notícias tristes mas não consigo deixar de querer saber o que se passa. Sobretudo, quero ver se percebo na tendência dos números algum amolecimento que me permita alguma esperança. 

Nesta coisa do tempo correr depressa demais, só espero é que cheguemos rapidamente a Abril. Gostava de viver o 25 de Abril na rua.

Vi, creio que na 2, uma reportagem em Lisboa. Creio que seriam ingleses que andavam por Lisboa. Estávamos os dois, em silêncio, muito atentos. O meu marido, depois, disse: 'Há quanto tempo não passeamos por ali?'. e eu disse que era verdade, há tanto tempo. E ele disse: 'E sabemos lá quando vamos voltar a andar'. E eu não disse nada. Mas acredito que em Abril talvez possamos voltar a passear por aquelas ruas, no Chiado, descer a rua do Alecrim, ver o rio, ou no Príncipe Real, ir à Travessa, depois ir comer uma pizza ou um risotto ao Avillez, cirandar, fotografar as montras da Hermès. 

Talvez não completamente em Abril, talvez seja optimismo a mais, talvez mais lá para Maio, isso sim, quase de certeza. A ver se vem o bom tempo, a ver se a vacinação vai a bom ritmo para o final de Abril chegar e com ele o Maio, maduro Maio, e depois o tempo da praia, do mar. 

O pior é o que ainda falta para lá chegar. Mas, para já, pelo menos aquele frio que me enregelava até aos ossos parece ter ido para longe. Não gosto de tempo tão frio. E os dias já estão maiorzinhos e isso é bom. Custa-me muito pensar nas vidas que irão ainda perder-se até que a nuvem negra se afaste, custa-me o sofrimento de tanta gente. Mas, mesmo sem querer, começo a dar por mim a querer olhar para os dias de verão esperando que me tragam os abraços e os beijos dos meus filhos, dos meus netos, a companhia descontraída da minha mãe, que possam trazer-me amigos para virem conhecer a minha casa, que possam trazer de volta a vida sem medo, os grupos ruidosos em volta de uma mesa grande, cheia, das cantorias e alegrias. Sinto tanta falta disso.


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Para me distrair, refugio-me no surrealismo, na arte que não pretende mimetizar a realidade, na arte de criar inexistências. O vídeo abaixo fala de uma pessoa, Shona Heath, que tem a cabeça cheia de maravilhosas harmonias inventadas. Criativa e livre, é com Tim Walker que muito gosta de trabalhar. Les beaux esprits... Tantas vezes aqui o tenho tido, o fazedor de encantamentos. Ainda pensei ter fotografias dele aqui hoje. Mas não, preferi a natureza. Tenho saudades de andar entre o meu pequeno bosque in heaven. Por isso apeteceu-me aqui ter das melhores fotografias de natureza do 2020 International Photography Awards que pesquei do Panda Aborrecido

Mas vejam estas coisas do além. Somos transportados para um outro mundo, um mundo onde não há pandemias nem medos nem crueldades. Há cor, há formas elegantes, imaginadas. 

The Surreal World of Set Designer Shona Heath

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O título do post é um verso de um poema de 'Acidentes' de Hélia Correia 
e, se calhar, é pena que o texto não tenha muito a ver com ele

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Desejo-vos um dia bom, vivido em delicadeza e harmonia

Saúde.