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terça-feira, setembro 29, 2020

Ayahuasca...?

 


Sobre práticas religiosas não precisaria nem falar, toda a gente que por aqui me acompanha sabe que não sou de práticas religiosas. Não sigo igrejas. Baptizaram-me, puseram-me na catequese, fiz a primeira comunhão e a comunhão solene. Nada daquilo me convocava para o que quer que fossse. Aquela não era a minha praia. Achava que nada daquilo fazia sentido, nem a perseguição com os pecados nem aquelas cenas surreais que não tinham nada a ver com nada. Não sobrou nada. Desaderi. 

Dada a sentimentos para-religiosos eu acho que sou. Acredito na incompreensível infinitude da perfeição e da beleza. Acredito na eternidade do mar, da terra e do céu e todo o mistério dessa improvável convivência me faz ter vontade de me ajoelhar de estupefacção e rendição. Acredito no milagre do nascimento e no supremo milagre da vida. Tenho, pois, esse lado espiritual. E é uma espiritualidade pouco selectiva. Por exemplo, daqui por algum tempo vou ter vontade de me benzer de espanto de cada vez que vir um cogumelo a brotar da terra. E é o mesmo que sinto quando, ao ver flores ínfimas e de uma perfeição incompreensível, me dizem que são flores aéreas. Curvo-me perante esse lado inexplicável e maravilhoso das coisas. É tudo isso que venero. Também sou capaz de me comover perante a imagem de uma mulher com o filho ao colo. Madona, nossa senhora, mãe. Se há quem lhe chame santa, tanto me faz. Sou capaz de a contemplar e me sentir intimamente reconhecida ao perceber nela o mesmo imenso e incondicional amor que tenho pelos meus filhos e pelos filhos dos meus filhos, um sentimento abençoado que não se esbate com o tempo nem sofre a erosão do quotidiano. 

E, sendo eu assim, claro que nunca senti qualquer apelo por seguir mandamento, restrição, ou lei de trânsito para circular entre capelas ou serviços religiosos. Pastores, padres, bispos, cardeais -- tudo hierarquias que me são estranhas. Afastei-me dos rituais e da castração intelectual metódica do catolicismo tal como nunca senti o mínimo apelo por jeovás, evangélicos, iurds ou o que quer que seja. 

Religião, para mim, não sei o que é que não o simples apelo pela bondade, pela generosidade, pela tolerância, pela liberdade, pelo supremo respeito pela dignidade alheia, pelo amor, pela beleza, pela harmonia, pela transcendência sem nome, sem regras.

Na política também sou assim. Gosto de política. Mas gosto da política abstracta, pura. Gosto da coisa pública e de pensar a melhor forma de a servir. Gosto do pensamento limpo. Gosto de pensar no futuro. No meu pensamento não encaixam ambições ou compromissos relacionados com concelhias, com distritais, com aparelhos partidários. Por isso sou apenas eleitora atenta, votante assídua -- mas sem ligação a qualquer partido. Se a nível das legislativas sou geralmente votante no PS é porque, das opções que se apresentam a votos, é a que me parece mais adequada à minha visão política.

Não participo, pois, em homilias, liturgias, comícios, cegadas do género, cenas que metam aventais, velas, rezas, búzios, cantares em volta, flores atiradas ao mar. Zero. 

E mais. Pode isto que vou dizer a seguir não ter a ver com o anteriormente reportado mas vou, na mesma, dizer. É que gosto de ter controlo sobre mim. Sou livre e gosto de me sentir livre, senhora de mim, na plena posse dos meus direitos, das minhas faculdades.

Talvez por isso, nunca me embebedei. Nunca. Dantes, ao primeiro gole, subiam-me uns calores, dava-me vontade de rir e, de seguida, de dormir. Por isso parava logo aí. Nem apreciava vinho. Até que milagrosamente comecei a gostar e o álcool deixou de me fazer passar por vergonhas. Agora posso beber, e claro que bebo moderadamente, que não me sobem os calores, não desato na gargalhada, não caio de sono. Aprecio, sabe-me bem. E nunca me cai mal.

Muito menos outras drogas. Nunca me droguei. Nunca fumei erva. Nada. Não sinto necessidade e é risco que não quero correr, o de ficar desatinada, descontrolada. Talvez quase todos os meus colegas e amigos o tenham feito. Não faço ideia. Não sinto curiosidade. Não me sinto diminuída ou fora de moda, nunca me senti. Não sou de me encarneirar. Sinto orgulho em ser independente e em aceitar ser guiada pela minha consciência.

Talvez por tudo isto, diverti-me à brava ao ver aqui as minhas ídolas falando de tema afim, o Ayahuasca. Claro que nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Não faço ideia se é coisa conhecida em Portugal ou moda que ainda cá não chegou. Tanto faz. O que sei é que as Avós da Razão são uma graça: mentes livres, desbocadas, divertidas. Umas jovens descomplexadas. Abençoadas miúdas que tanta alegria e gosto pela espontaneidade nos trazem.

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Pinturas de: Maximo Laura, Renzo Campodonico, Daniel Rodriguez, Adriana Cillóniz, Ginny O'Brien, Jorge Vilca.
Gustavo Santaolalla interpreta Pajaros
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E uma terça-feira muito feliz a todos quantos aí estão a aturar-me.
Saúde. Alegria.

sábado, março 17, 2018

Uma forma eficiente e civilizada de servir vinho


Se há coisa que nunca fiz na vida foi abrir uma garrafa de vinho. Se calhar é porque nunca foi necessário mas, certamente, também porque não é coisa que me motive. Qualquer coisa no meu ADN não me puxa para exercitar a cena do saca-rolhas. Por exemplo, todos os anos, organizamos um certo lanche que, entre outras coisas, mete champanhe. Pois, sendo um grupo maioritariamente masculino, é sempre uma das mulheres que abre o champanhe. Ela gosta e toda a gente acha que ela tem jeito. E isso é que eu, nunca na vida, me ofereceria para fazer. A perspectiva daquilo dar um estoiro, assustar-me-ia a ponto de não me atrever a puxar ou a rodar a rolha. O meu lado feminino que, em algumas coisas pode ser visto como mais ténue (por exemplo, gosto de arriscar e liderar -- coisas que, para as mentes captas, está associada à masculinidade), já nestes petits riens é ultra intenso. Abrir garrafas de vinho, usar berbequim ou lavar o carro, estou fora. Mas nem abrir garrafas, nem servir inho a homens. Qualquer coisa no mais íntimo de mim sente que os homens é que devem servir as mulheres (e gosto que me sirvam), nunca o contrário.

Mas isto para dizer que, para resolver estes dilemas, nada como este engenho que Leitor amigo me deu a conhecer. É coisa pequena, pode servir como bibelot, adapta-se a qualquer decoração, é ultra-prático, deve ser uma pechincha e é mais rápido a exercer a função que o speedy gonzalez.

Ora vejam este ovo-de-colombo. Quando não souberem que presente oferecer a alguém, já sabem. Vai ser um sucesso.


.....

domingo, março 13, 2016

Ir ao lugar do vinho




Lembro-me que o meu pai combinava com o irmão irem lá, falavam da qualidade das uvas, se chovia menos os bagos estavam mais doces, se a colheita tinha sido boa, e qual a melhor altura para lá ir, e se valia a pena trazer apenas do novo ou de outros anos. 
O meu pai tinha no quintal (e, agora que falo, lembro-me: que será feito disso? se calhar está para lá, ninguém mais se deve ter lembrado de tal coisa, tenho que perguntar à minha mãe), debaixo de umas escadas, uma casinha, bem fechada, escura, onde nunca dava o sol, onde guardava as garrafas. E ali guardava vinho de vários anos, não só de lá, lembro-me de irmos também ao Alentejo e ao Ribatejo, a umas adegas que ele lá sabia.

E depois decidiam ir. Nestas coisas nunca queria que eu fosse; a minha mãe, a minha tia e a minha prima não iam, acho que percebiam que aquilo era coisa de homens. Mas eu queria ir. Esse, justamente, era o tipo de coisas que eu não queria perder. Que não, que não, não há meninas por lá, não, não e não. Por fim, tão massacrado era, que acabava por me levar. Iam os dois à frente, esquecidos de mim, a conversar, e eu, no banco de trás, a espiar as conversas.

No porta bagagens iam vários garrafões vazios. Íamos pela estrada que leva a Azeitão, depois, à direita, saíamos da estrada e subíamos pela serra, campo, campo, não havia ali vestígios de cidade, subíamos, subíamos. Penso que duas vezes, pelo menos, foram para a pisa. Lembro-me. Só homens. Havia um tanque alto, de pedra, elevado. Os homens subiam um lanço de escadas para lá entrar. Tinham as calças arregaçadas e, numa feliz irmandande, pisavam os bagos sangrentos, as pernas enfiadas naquele sumo escuro, cheiroso. Sorriam, diziam graças, estavam alegres. Já naquela altura, assistir a momentos assim, deixava-me impressionada, como se estivesse a assistir a um momento mágico. Quem pensa que assiste a milagres deve sentir-se assim, o interior do corpo transido, como se o corpo estivesse a ser convocado para participar num momento único.

O meu pai não gostava que eu ali estivesse, os homens diziam asneiras, falavam com excessivo à vontade, não queria que eu ouvisse. Mas nada daquilo me incomodava, gostava mesmo era de ali estar, aquele perfume intenso a flores pisadas, a sangue quente, aquela intimidade profunda entre os homens e os frutos da terra.

O meu pai e o meu tio falavam com conhecidos, provavam vinhos, depois iam encher garrafões. No fim acertavam o preço, pagavam. 


Quando chegava a casa, o meu pai passava o vinho para garrafas, umas para o vinho que tinha a uso, às refeições normais, e outras em que havia um outro cuidado. Tenho ideia que aquecia as rolhas ou lhes punha cera ou parafina, já não me lembro. Devia querer proteger as rolhas ou que as garrafas ficassem bem vedadas. Essas iam para a casinha do vinho.
Se eu perguntasse ao meu pai, iria lembrar-se disso. Mas não lhe posso perguntar, senão fica a pensar, aflito por não se lembrar bem, a querer reconstituir os passos que antes dava, a querer transmitir o que se sabia e a saber-se limitado, as palavras por vezes faltam-lhe, fica impaciente, enervado, depois não dorme bem. Mas talvez a minha mãe se lembre. Tenho que lhe perguntar.
Mas aos anos que isso foi. Nunca mais fui para esses lados nem nunca mais me tinha lembrado disso.

Este ano, pelo Natal ofereceram-nos vinho de uma determinada Quinta, um vinho bom. Não relacionei.

Por acaso, no outro dia, um entendido em vinhos, pela relação preço/qualidade recomendou ao meu marido o vinho dessa quinta, e que lá o vendiam, que era a caminho de Azeitão, que se subia pela serra, que havia uma capela. Hoje, ao fim da tarde, resolvemos ir lá.


E, ao fazer o percurso, ao subir a serra, ao ver a ondulação dos montes, ao percorrer a estrada estreita ladeada de árvores, o desvio para a capela, a memória trouxe-me de volta aqueles verdes macios, aquela suavidade luminosa que adoça as encostas -- e eu no banco de trás do carro e o meu pai e o meu tio, à frente, falando de gente conhecida, de quem tinhas bons vinhos, dos vinhos que eram bons, dos novos ainda muito vivos, dos outros, com muito álcool, com tom depreciativo diziam, esse não, esse é carrascão.

Só hoje percebo bem essa linguagem. Já o contei aqui algumas vezes. Até há alguns anos eu não gostava de vinho, e, se bebia alguma coisa, nem precisava de beber meio copo para me desatar a rir, qualquer coisa que alguém dissesse me parecia hilariante e, mal acabava a refeição, caía num sono profundo. Por isso, não podia beber fora de casa. Uma vez, a meio de um almoço, felizmente só nós, depois de ter dado dois ou três goles, a custo levantei-me e a custo cheguei à sala. O meu marido foi atrás para ver o que se passava e quando lá chegou já me encontrou a dormir a sono solto.

Até que, há meia dúzia de anos, depois de ter frequentado um curso de vinhos, comecei a apreciar e, por estranho que possa parecer, passei a aguentar bem. Agora é com prazer que acompanho a refeição com vinho, é com prazer que tento identificar as notas que o compõem, que deixo que estacione na língua para que o paladar longo ali persista, que as papilas gustativas de lado sintam o seu sabor, e tento, a partir do sabor, perceber o térroir onde as uvas medraram -- e tudo sem que produza qualquer efeito negativo em mim. Apenas prazer.


Trouxemos algum vinho, de diversas castas e, uma vez mais, fiquei encantada com o lugar. Percebi que agora há lá turismo de habitação e, sob num telheiro, à entrada da loja, um grande grupo de caminhantes lanchava, na maior animação. Quando nos vínhamos embora, cantavam os parabéns a você e o aniversariante apagava as velas.

Fiquei com muita vontade de lá voltar com mais tempo, de entrar pela serra, de procurar uma queda de água que me lembro de haver por ali, uma ribeira. 

A Quinta é a Quinta do Alcube. 


Depois passámos por Azeitão e, porque já estávamos atrasados para um outro compromisso, não parámos mas deu-me uma grande saudade, há lugares lindos por ali (e umas tortas de ovos e canela deliciosas). Fica para outro dia.

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Tatyana Ryzhkova interpreta Fantasia La Traviata de Francisco Tarrega

As fotografias foram feitas este sábado no percurso para a Adega do Alcube e lá mesmo.
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E é isto. Caso vos apeteça, agora, descer até à praia e ver como estava bonito o mar neste Março felizmente solarengo, avancem até ao post já a seguir onde poderão ouvir poesia dita e cantada.

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quarta-feira, junho 03, 2015

A Economia nos voláteis tempos que correm, as garrafas vazias e a alegria de viver. E tu queres é ir para a cama.


Agradecendo ao Leitor que me enviou, aqui transcrevo um inteligente ensinamento.


O Nobel da Economia Prof. Dr. Wasser Catari, explica como se deve pensar na economia actual.

- Se em Janeiro de 2010 tivessem investido 1.000 € em acções do Royal Bank of Scotland, um dos maiores bancos do Reino Unido, teriam hoje 29 euros.

- Se em Janeiro de 2010 tivessem investido 1.000 € em acções da Lehman  Brothers teriam hoje 0 euros.

- Se em Janeiro de 2010 tivessem investido 1.000 € em papel comercial do BES, o maior banco privado de Portugal, teriam hoje 0 euros.

- Mas se, em Janeiro de 2010, tivessem gasto 1.000 € em bom vinho tinto (e não em acções) e tivessem já bebido tudo, teriam 46 euros em garrafas vazias.

Conclusão: No cenário económico actual, é preferível esperar sentado e ir bebendo um bom tintol. 

Não se esqueçam de que quem sabe beber, VIVE :

 - Menos triste
 - Menos tenso
 - Mais contente com a vida.


Pensem nisto e invistam na alegria de viver.


...   ...

Já vi tudo. Tu queres é ir para a cama. Vamos embora.


...

segunda-feira, agosto 11, 2014

Culinária in heaven - 'Bacalhau no forno com Figos' e 'Lombos de Salmão no forno com Risotto e Maçã Bravo de Esmolfe'


Hoje cheguei a casa mais tarde do que de costume e ainda estive a fazer sopa pelo que apenas já depois das onze da noite consigo aqui chegar. Tenho tantos assuntos na cabeça que, dadas as horas a que estou a começar, vamos ver até onde isto vai dar.


Já escrevo aqui há quatro anos pelo que tenho a sensação de que, volta e meio, me repito. Mas, enfim, quando a gente está a falar ao vivo, também não está a toda a hora a dizer coisas que nunca antes tinha dito. Isto para dizer que gosto de cozinhar e que faço de improviso, sem receitas. É o que me ocorre na hora, guiada pela intuição. E já disse isto aqui algumas vezes, eu sei.

No entanto, cada vez mais só faço coisas simples. Fazer rissóis ou coisas do género que passam por fazer massa, amassar, estender, depois fazer recheio, depois rechear, depois fritar, tudo isso é trabalho e tempo a mais para a minha disponibilidade. Gosto de os comer mas desisti de fazer coisas que me ocupem muito tempo.

O que eu faço é rápido e económico e, de preferência, permite que eu vá fazendo outras coisas, enquanto a comida está ao lume.


Ora bem, vamos lá.


Salmão no forno com acompanhamento de risotto, ambos com maçã Bravo de Esmolfe


Quantidade: um lombo de salmão por pessoa (às vezes sobra mas isso, claro, depende do apetite de cada um). Uso lombos congelados mas, quando ponho no forno, já estão quase descongelados. Convém que seja lombo e não tranche ou posta, muito menos postas frescas pois não têm a mesma consistência e isso faz toda a diferença. Uso maça Bravo-de-Esmolfe porque são as que tenho in heaven. É uma maça muito saudável, a mais saudável de todas. Mas se não for essa, qualquer outra ficará bem.

Ligo o forno para calor por cima e por baixo, temperatura ao máximo. Enquanto isso, preparo o que para lá vai: num pirex, ponho um fio de azeite no fundo. Depois cubro com fatias muito finas de cebola e, por cima, maçã fatiada (sem a cebola, só a maçã, também fica bom). Sobre essa cama coloco os lombos de salmão. Ponho um pouco de sal, depois polvilho levemente com orégãos, e cubro com novas fatias de maçã. Rego com fio de azeite, não abundante mas de modo a que um fino fio passe sobre as maçãs que cobrem os lombos de salmão.

Ponho no forno e, nessa altura, reduzo a temperatura, para uns 150º.

A seguir ocupo-me do risotto. Faço um refogado muito ligeiro com cebola finamente picada sobre azeite. Quando está translúcida, junto uma boa mão cheia ou duas de alho francês (usei do congelado porque é bom, está lavado, cortado e é económico). Misturo e deixo que também amoleça. Nessa altura junto a quantidade de risotto (a embalagem tem a marca correspondente às doses). Mexo.

A seguir junto uma pinga de água e vou mexendo. Quando ferve, baixo a temperatura e tapo o tacho. Passado um bocado, junto mais um bocado de água, levanto a temperatura para ferver, mexo, reduzo a temperatura e tapo. Junto uma maçã em micro cubos. Passado um bocado, volto a juntar água. Passado um bocado junto um bocado de vinho branco. De cada vez que levanta fervura, mexo. O risotto vai absorvendo o caldo e vai ficando com aquele aspecto pastoso. No fim, junto o sal e uma pequena colher de Planta (não usamos manteiga de origem animal, habituámo-nos à manteiga vegetal light) e uma quantidade razoável de queijo ralado mas isso é ao gosto dos comensais. Se tivesse, poderia juntar no prato já servido, umas lasquitas de queijo mais forte - mas não tinha. Mas assim, apenas com este queijo ralado (era uma mistura de 3 queijos) também fica bom. Ao todo deve levar uns 20 ou 25 minutos.

Quando acaba o risotto, o salmão também já está bom.


[Não tenho fotografia deste prato. Quando me lembrei disso, já estava quase comido. É que, embora o tempero provenha do nosso heaven, o salmão foi cozinhado e almoçado ainda na cidade, quando cheios de pressa já queríamos era fugir para o campo]



Bacalhau no forno com batatinhas assadas e figos



Como sempre, previamente ligo o forno para cima e para baixo no máximo da temperatura.

Num pirex, fio de azeite no fundo, cebola cortada finamente (era para ser alho mas o que tinha já estava chocho), folhas de louro e, por cima, as postas de bacalhau que foram previamente descongeladas. Dantes usava lombos (dos que se compram congelados) mas, volta e meia, apareciam muito salgados. Por isso, agora opto por postas que estão sempre no ponto e, de resto, não lhes junto qualquer sal.

Ponho por cima uns pequenos ramos de alecrim e rego com azeite. Levo ao forno, cuja temperatura, nessa altura, baixo para os 140 ou 150º. 

Entretanto, ponho batatas cortadas em cubos incertos a cozer com um pouco de sal..

Passado um bocado, com as batatas não completamente cozidas, escorro-as. Retiro o pirex do forno, com cuidado retiro as postas de bacalhau. Despejo então as batatas lá para dentro, polvilho-as com orégãos, volto a colocar as postas de bacalhau com o alecrim, coloco uns figos inteiros nos cantos, rego com um fio de azeite e volta ao forno.

Quando as batatas estiverem douradas, está pronto.




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Bebidas


O salmão foi acompanhado com branco alentejano bem frio, e o bacalhau com alentejano tinto frutado. 

NB: O vinho tinto não deve ser servido à temperatura ambiente no verão, deve sempre ser servido à volta dos 16º pelo que, no verão, se não estiver antes acondicionado num sítio fresco, pode ter que ir ao frigorífico antes de ser servido.



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Lambona como sou, no final do almoço de domingo ainda comi uns quantos figos, desta vez dos pardinhos, encarnados, belos.




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sexta-feira, julho 18, 2014

10 Dúvidas frequentes sobre o vinho [e, ainda, a história de um homem mal amado e as Tias da Comporta a quem a Moody's baixou o rating para Primas da Trafaria]


Vou parecer imodesta: o post abaixo não deve deixar de ser visto e ouvido. O que lá tenho é muito bom. Claro que nada é de minha autoria e, por isso, estou à vontade ao fazer esta propaganda. 

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra: piadas enviadas por leitores a quem aqui deixo também o meu agradecimento.



Se não se importam, acompanham-nos As meninas da Ribeira do Sado




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1ª.


Ontem à noite eu estava sentado no sofá, a ver televisão, quando ouvi a voz da minha mulher vinda da cozinha:


- O que vais querer para o jantar, meu amor? Franguinho, carninha ou peixinho?

Eu disse:

- Vou querer frango, querida, obrigado.

Ela respondeu:

- Tu vais comer sopa! Eu estava a falar com o cão...




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2ª.

10 Dúvidas frequentes sobre o vinho




1. O VINHO PODE MATAR?

Pode. Há uns anos, um rapaz foi atingido por um barril de vinho que caiu de um camião levando-o à morte instantânea.

2. O USO CONTINUADO DO ÁLCOOL PODE LEVAR AO USO DE DROGAS MAIS PESADAS?

Não. O álcool é a mais pesada das drogas: uma garrafa de vinho pesa cerca de 900 gramas.

3. O VINHO CAUSA DEPENDÊNCIA PSICOLÓGICA?

Não. Cerca de 89,7% dos psiquiatras, psicólogos e psicanalista entrevistados preferem cerveja.

4. MULHERES GRÁVIDAS PODEM BEBER SEM RISCO?

Sim. Está provado que nas operações STOP a polícia nunca faz o teste do balão às grávidas.

5. O VINHO PODE DIMINUIR OS REFLEXOS DOS MOTORISTAS?

Não. Experiência com mais de 500 condutores: foi dada uma grade com garrafas de vinho para cada um abrir e beber. As últimas foram abertas e bebidas no mesmo tempo gasto com as primeiras. Em nenhuma das garrafas os reflexos foram alterados.


6. A BEBIDA ENVELHECE?

Sim. A bebida envelhece muito depressa. Se deixar uma garrafa de vinho aberta de um dia para o outro, altera o paladar e o aroma e chega mesmo a avinagrar passadas algumas semanas.

7. O VINHO CONDICIONA NEGATIVAMENTE O RENDIMENTO ESCOLAR?

Não, pelo contrário. Algumas universidades estão a aumentar os lucros com a venda de vinho a copo nas cantinas e bares.




8. O QUE FAZ COM QUE A BEBIDA CHEGUE AOS ADOLESCENTES?

O estudo confirma que, em primeiríssimo lugar, é o empregado de mesa.

9. O VINHO ENGORDA?

Não. Tu é que engordas.

10. O VINHO CAUSA PERDA DE MEMÓRIA?

Que eu me lembre, não!




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As Meninas da Ribeira do Sado vieram pela mão dos Adiafa


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E agora, por favor, não deixem de descer até ao post seguinte. 
Pedro Paixão, Man Ray e Alisa Sadikova juntam-se num momento feliz (acho eu).

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terça-feira, dezembro 10, 2013

Pode beber-se um bom vinho por um copo qualquer? Pode... mas não é a mesma coisa. A quem possa, recomendo um pequeno luxo: beber um bom tinto por um Riedel, dito o melhor copo do mundo. Ao som de 'Mandad'ei comigo'. Para quem não alinha em finezas, aqui fica também o Pátio das Cantigas onde o tintol nasce da parede.


Uma Leitora muito simpática escreveu-me e pediu se eu lhe podia dizer a marca dos copos de vinho de que há tempos falei.

Porque a informação pode ser útil a mais alguém, resolvi fazer um post só para falar de copos de vinho.

Vou aqui colocar uma música para acompanhar a prova de vinhos, uma cantiga d'amigo porque o vinho é para se degustar entre amigos, as coisas boas saboreiam-se melhor com companhia.




*


Sobre a mesa da minha sala de jantar, uma instalação de copos.
Os Riedel são os dois da esquerda, cada um adequado a sua casta
Os dois da direita não são Riedel: fazem parte do meu serviço de copos oferta de casamento
(estes estão um bocado embaciados pois estavam dentro do louceiro
e as diferenças de temperatura devem gerar alguma humidade que fica lá retida.
Curiosamente os Riedel nunca ficam tão humedecidos.
Podia ter-lhes passado um pano mas, com as pressas, ficaram tal e qual os tirei do armário)


Os copos de que antes tinha falado são Riedel e são frequentemente referidos como os melhores copos de vinho do mundo. Há copos dedicados às principais castas. Pode parecer mariquice e eu não sei o suficiente de vinhos para poder confirmar que um copo Sirah não deve ser usado se o vinho não for dessa casta - mas posso dizer que os copos são mesmo determinantes na cuidada degustação do vinho.


Não é de sempre que sou apreciadora de vinho como hoje sou. Aliás pouco vinho bebia.

No entanto, há tempo frequentei um curso de vinhos ministrado por um grande enólogo e a verdade é que vim de lá outra. Aquele curso foi, para mim, uma verdadeira epifania.

falei nisto mas vou repetir-me. Fui para lá a achar que aquele curso não era para mim e que, não apenas eu não gostava de vinho o suficiente para ser capaz de aproveitar o que me iam ensinar, como toda aquela mística que rodeia o acto de beber me parecia uma coisa de faz de conta, uma encenação.

Pois bem: céptica que sou, saí de lá devota.

Quando o curso começou com as provas de águas, ainda eu estava de pé atrás e numa de encarar a coisa na desportiva e meio no gozo.

No entanto, ao fim de pouco tempo já eu estava concentrada a perceber a leveza, a densidade, a frescura das águas. Água da torneira, água do Luso, águas francesas, tenho ideia de que, também, da Austrália, uma água do Japão que era de subir aos céus.

A seguir passou-se para a prova dos copos: experimentávamos o mesmo vinho em diferentes copos. Garanto: pareciam vinhos diferentes. 

Tenho uns copos encarnados daqueles espessos aos bicos e o meu marido sempre se recusou a beber vinho por eles, dizia que estragavam o vinho. Eu que gosto tanto deles, tão lindos, achava que era embirração dele. Afinal que razão ele tinha... Um vinho bebido num copo assim muda de espírito.

Os copos devem ter uma abertura que permita que os odores se soltem do vinho mas que não se evaporem completamente, devem ter uma espessura que não empate o curso do líquido na boca. E devem ter um pé para que a mão o segure por aí, não tocando o vidro onde o vinho se encontra para que não altere a temperatura (já agora: o vinho tinto não é para se servir à temperatura ambiente como erradamente se costuma dizer pois esta pode ser alta ou baixa demais: a temperatura ideal para o tinto deve estar a cerca de 16º).

Um vinho deve ser aspirado, sentido, percebido. O vagar é essencial.

Beber um belo vinho tinto por um Riedel é uma experiência especial. Têm um inconveniente (e que inconveniente...): são caros. Aconselho que se comprem os da gama Vinum que podem ser lavados na máquina. No entanto, já o confessei antes: sou ciosa até mais não poder com estes copos e, por isso, lavo-os à mão. 

Tenho ideia que, em média, andam à volta de 30€ cada par. Não sei ao certo onde se vendem agora. Costumavam ser vendidos nas boas garrafeiras mas agora não sei. Fui à procura no google e vi sobretudo vendas pela internet, inclusivamente no site da própria Riedel mas aconselharia a que, primeiro, procurassem nas boas lojas de vinhos.

Tenho também um serviço de copos austríacos, oferta de uma tia aquando do nosso casamento, aqueles que, na fotografia lá em cima, estão à direita. Foram comprados na antiga Loja José Alexandre do Chiado. São sobretudo elegantes mas são tão frágeis que só os uso em alturas especiais e, nessas ocasiões, ando sempre com o credo na boca pois sei que, se se partirem, não terei como substitui-los. E não proporcionam uma experiência tão completa como os Riedel.

Por causa dos meus medos, acabámos por comprar uns copos mais baratos para as refeições da confusão. Com os miúdos e com aquela barafunda que se gera quando se atiram todos aos comes e bebes, nem eu estava descansada com os Riedel ou os austríacos a periclitarem em cima da mesa, e não estou para estar preocupada com isso quando estamos todos juntos.

IVRIG Copo de vinho branco IKEAIVRIG Copo de vinho tinto IKEA Antes tínhamos uns outros que acabaram por se ir partindo e desde há alguns anos usamos no dia a dia os do IKEA. 


São estes aqui ao lado, os da gama IVRIG, e custam 2.5€/cada e, verdade seja dita, não são uns Riedel, claro que não..., mas, para refeições despretensiosas e para as quais não há tempo para rodar o vinho, sentir os taninos ou tentar adivinhar o terroir, servem razoavelmente bem. Têm uma vantagem sobre os outros: se algum se partir, não me estraga o dia.



Um outro sítio onde tenho comprado copos - mas, por acaso, os que comprei foram apenas para brandy - é na loja da Fábrica da Vista Alegre pois vendem lá copos Atlantis a preços mais acessíveis (mas, ainda assim, carotes). São copos que não foram vendidos nas lojas ou sobras de lotes para exportação ou alguns com ínfimos defeitos (embora eu, nos copos, acho que nunca detectei nenhum defeito). São vendidos nos estojos originais e podem ser um bom presente. 



Um Riedel à frente, um austríaco à esquerda
e dois balões Atlantis (que, por acaso, não vieram da dita loja),
um à direita e outro atrás.
Atrás açucareiro Vista Alegre


Também já falei desta loja. É em Ílhavo. Dantes, no fim do verão, eu gostava de lá ir e vinha sempre com belas compras mas agora até evito pois já não preciso de mais louça. Mas, para quem não conheça e não saiba onde comprar presentes bonitos, úteis e a bons preços, e que tenha disponibilidade para dar um passeio, talvez seja uma opção. No mesmo largo da loja, está também o Museu da Vista Alegre, muito agradável e que merece uma visita.

Claro que agora, para acabar em beleza, depois de tanta teoria, deveria poder passar à prática: convidar-vos a virem beber um copo de tinto num Riedel, comer uns queijinhos, e, depois, rematar com uns figos secos torrados e recheados com amêndoas, coisas assim - mas, enfim, isto da internet ainda continua a ter algumas limitações.


***

Descobri este pequeno vídeo
 onde se fala da escolha dos copos, a respectiva razão de ser, a sua utilização, etc.



Em português com açúcar, isto é, brasileiro - por Vanessa Sobral

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E agora, sem necessidade de finuras, de Riedel e mais não sei o quê...



O Vinho, Vasco Santana, Pátio das Cantigas


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A música lá em cima é "Mandad'ei comigo", cantiga de Martin Codax (Sec. XIII), do disco "Cantigas D'Amigo" interpretada pelo grupo "La Batalla" & Pedro Caldeira Cabral.

Arranjo e direcção musical de Pedro Caldeira Cabral.
Darabuka - João Nuno Represas
Flauta - José Pedro Caiado
Guitarra - José Pedro Caiado e Pedro Caldeira Cabral
Lute - José Peixoto e Nuno Torka
Percussão e voz - Isabel Biu
*

Hoje tinha ideia de vos falar da minha ida às compras, a correr, à hora de almoço e do que, nesta altura, sempre penso quando me vejo carregada de sacaria. Também gostaria de vos ter contado sobre um senhor que há uns dois ou três anos encontrei no parque de estacionamento de um grande centro comercial e que não sei se ainda não andará por lá, perdido, às voltas. Só que hoje estou cansada, levantei-me mais cedo do que é costume, tive um dia um bocado estafante e aquela hora de compras fez o resto (por isso, se detectarem gralhas a eito já sabem a que se deve: estou mesmo cheia de sono... e ainda só estou no princípio da semana). Além disso, amanhã rumo a norte, tenho umas centenas de quilómetros de autoestrada para fazer e, por isso, não quero abusar.

Por isso, também não respondo aos comentários, que agradeço. Não consigo mesmo. Amanhã, se não chegar muito tarde e não vier capaz de me atirar logo para o sofá a dormir, logo tento compensar, está bem?

*

No Ginjal também preguicei mas, se forem até lá, não ficarão a perder pois tenho o magnífico Pedro Lamares com O Fraseador. Muito bom.

*

E por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira. 
Saúde!

sexta-feira, janeiro 04, 2013

A importância das cores dos pratos e dos copos no sabor das comidas e das bebidas - as evidências científicas. E alguns apartes sobre uns dos melhores copos para se saborear um bom vinho.


Escrevi abaixo um texto todo irritado. Estava (e estou) furiosa e, quando isso acontece, não dá para disfarçar. Comigo é assim: tanto há explosões de alegria, como de fúria. Criaturas apaixonadas são assim mesmo. Nada a fazer.

Mas, sendo extrovertida, dá-se a explosão e logo amanso. Ou seja, agora já me apetece descontrair e falar de coisas mais agradáveis.

Falemos então de cores. 




Ontem uma Leitora chamava-me a atenção para que a cor de 2013 é a cor de esmeralda e referiu parte do que sobre esta cor se escreve no site da Pantone e que passo a citar:

Emerald, a vivid verdant green, enhances our sense of well-being further by inspiring insight as well as promoting balance and harmony.

Most often associated with brilliant, precious gemstones, the perception of Emerald is sophisticated and luxurious. Since antiquity, this luminous, magnificent hue has been the color of beauty and new life in many cultures and religions. Also the color of growth, renewal and prosperity, no other color conveys regeneration more than green. For centuries, many countries have chosen green to represent healing and unity.

"The most abundant hue in nature, the human eye sees more green than any other color in the spectrum," said Leatrice Eiseman, executive director of the Pantone Color Institute®. 


de Steve McCurry


"As it has throughout history, multifaceted Emerald continues to sparkle and fascinate. Symbolically, Emerald brings a sense of clarity, renewal and rejuvenation, which is so important in today's complex world. This powerful and universally-appealing tone translates easily to both fashion and home interiors."

[* como se vê, a cor do fundo que escolhi não é exactamente esmeralda mas não descobri melhor aproximação no editor do blogger.]


Isto do efeito das cores na disposição das pessoas vem um pouco a propósito de um artigo do site Ciência Hoje que nos dá conta que a cor dos recipientes afinal também influencia o sabor dos alimentos, ou pelo menos, a forma como as pessoas percepcionam o sabor deles.

Transcrevo:

Dois investigadores, da Universidade Politécnica de Valência (Espanha) e da Universidade de Oxford (Reino Unido) provaram que o recipiente pode modificar o sabor do conteúdo, por exemplo, o chocolate sabe melhor numa taça laranja do que numa branca, por exemplo. Os resultados do estudo foram publicados no «Journal of Sensory Studies».

Por exemplo, frascos amarelos permitem melhorar o sabor do limão em sodas, já cores frias como o azul, dão a sensação que a bebida é mais fresca; já se a embalagem for rosa dá a impressão que o conteúdo é mais doce.

Para os interessados, o artigo original que serviu de base ao da Ciência Hoje pode ser lido aqui.

Achei graça pois eu tinha essa impressão mas achava que era eu que era sugestionável, nem sei, qualquer coisa nessa base. Por exemplo, desagrada-me beber vinho em copos às cores, tal como me irrita beber em copos grossos. O vinho não sabe ao mesmo, perde a subtileza, o mistério, o requinte da multiplicidade de sabores.

Talvez também por isso, como no outro dia aqui o referi, a mesa da D. Maria no Palácio de Belém me pareceu um atentado ao apetite e ao prazer da degustação, tamanha a barafunda que para ali ia, os copos e os pratos todos às cores, um ruído que, certamente, abafaria o sabor dos alimentos e das bebidas.



Mesa de Natal do Palácio de Belém
(a D. Maria Cavaco bem queria aparecer na fotografia, mas olhe, paciência)


Aliás, para beber um bom vinho, nada como bebê-lo num Riedel e, não querendo parecer pretensiosa citando-me a mim mesma, permito-me invocar um texto que escrevi faz justamente dois anos, 'Riedel ou a arte de servir um bom vinho' no qual vos falava dos meus copos de estimação. 



À frente de um quadro que está sobre a minha lareira, um Riedel, aqui um Riedel Sirah


No artigo acima referido (Assessing the impact of the tableware and other contextual variables on multisensory flavour perception, Charles Spence, Vanessa Harrar and Betina Piqueras-Fiszman) pode ler-se também referência ao formato dos pratos e dos talheres.

Aqui também tenho a dizer-vos que acho que uma boa confecção gastronómica requer espaço. Comer a comida num prato pequeno, atravancado, é muito desagradável. Os alimentos devem poder estar visíveis, espaçados, facilmente manejáveis. Hoje, se vejo um prato com a comida quase ao monte, já me incomoda. Os pratos que uso cá em casa são pratos amplos, claros. A comida deve poder respirar e a nossa vista deve poder saboreá-la visualmente. A visão, tal como o olfacto, são aqui tão importantes quanto o sabor.

E também gosto de talheres grandes, com algum peso.

Podem achar que tudo isto é uma fantasia mas olhem que não é.

Há tempos frequentei um curso de vinho e a primeira prova era feita com água: aprendermos a distinguir os diferentes tipos de água. A mais leve, a mais densa, a mais salgada, a mais neutra, a mais pura. Não esqueço uma do Japão, poesia em estado líquido.

A seguir aprendemos a perceber a importância do copo: provávamos o mesmo vinho em copos diferentes... e que diferença. Um copo espesso, colorido, sem pé, estraga o sabor do vinho. Em contrapartida um copo como um Riedel abre o sabor, eleva-o até ao nosso espírito.

Só a seguir, com os sentidos despertos e alguma aprendizagem, é que passámos para as provas de vinhos propriamente ditas. A acidez, os frutados, as madeiras, por exemplo - e os elementos que definem o térroir do vinho e o seu posterior amadurecimento.

Antes de ter frequentado este curso, eu não apreciava vinho. Agora, depois de educada, sou grande apreciadora. De vinho e de copos (de vidro...).

Termino agora; e quase me apetecia pegar num copo de vinho e fazer um brinde: À Vossa! À cor! Saúde! Tchim, tchim!

Mas só bebo, e não muito e nem sempre, às refeições. Se agora bebesse um copo de vinho, assim, a seco, acho que já não me levantava daqui.

!!!

Bom, mesmo sem vinho, tenho que ir dormir. Por isso, despeço-me já por aqui. 

Recordo que se quiserem saber o que penso sobre a constitucionalidade ou não do orçamento e sobre  a proposta dos 12 dias de indemnização que os inteligentes deste (des)governo agora pariram, é descerem mais um pouco, pois é o post já a seguir.

Mas, se estiverem ainda para isso, teria todo o gosto em receber-vos no meu Ginjal e Lisboa. Hoje temos amor feito sobre erva alta, coisa que não ocorreu ao Pedro Mexia quando escreveu o poema Assalto porque estava a referir-se a alguém por sentia amizade e não mais que isso (*). A música é um momento límpido, com Bernardo Sassetti ao piano e Rui Veloso e Nancy Vieira a alternarem.

(*) Inside information
!!!

E tenham, meus Caros Leitores, uma luminosa sexta feira! 

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Riedel - ou a arte de servir um bom vinho


 
Riedel - Sirah

Claus Josef Riedel, da 9ª geração Riedel, empresa austríaca, mudou o mundo do vinho com o seu revolucionário conceito de cálice funcional. Ele percebeu o efeito do feitio do copo na percepção do sabor das bebidas. De facto, descobriu que o mesmo vinho sabe de maneira diferente quando bebido por diferentes copos. Georg Josef Riedel, da 10ª geração, desenvolveu ainda mais este conceito: descobriu que a correcta escolha do copo iria enaltecer o sabor e aroma do vinho e que a ‘mensagem’ do vinho, o seu bouquet e sabor, depende da forma do copo.

Em 1986 foi criada a Vinum, uma série de copos que podem ser lavados na máquina e que é vendida em várias lojas a nível mundial e cujo preço já é relativamente acessível (relativamente…).

Não estou a fazer publicidade à toa, não tenho qualquer interesse na empresa Riedel ou em qualquer dos seus revendedores. O que posso dizer é que, de facto, fazem a diferença. Em tempos de austeridade não é conselho que se dê de ânimo leve mas a quem goste de desfrutar de um bom vinho e tenha possibilidade, recomendo que experimente bebê-lo por um Riedel.

Com Riedel a expressão in vino veritas adquire o seu verdadeiro significado.

Salut.

Nota: Há quem tenha como regra servir o vinho tinto à temperatura ambiente. Contudo, não é assim. A temperatura ambiente varia muito. A melhor temperatura para o servir é à volta dos 16º. E, por favor, segurem o copo pelo pé, rodem um pouco o vinho para que o aroma se solte e sintam-no antes de o beberem. Depois, sintam-no lentamente ao longo da língua, as principais papilas gustativas estão distribuidas desde a frente até lá atrás, pelos lados, onde o sabor se apercebe de forma mais intensa.