quinta-feira, agosto 28, 2025

Santa vidinha

 

Vidinha de aposentada é assim: ginásio, caminhadas, leituras, passeios à beira-mar, fotografar, papar sushi, preguiçar, regar, cumprimentar os conhecidos. Uma santa vidinha, na verdade.

Só que, pelo meio, aparecem sempre cenas. 

Estive até agora, e já passa das duas da matina, a rever um contrato. Chegou-me tarde e, claro, poderia fazer de conta que não tinha visto e só pegava nele de dia, quando tivesse tempo. Vidinha boa de aposentada tem destes privilégios, pode fazer-se o que se quer, quando se quer. 

Se, com carinha lampeira, talvez até deixando implícita a minha condição de sénior, disser, olha, quando vi já estava com sono, depois, de manhã. tive que dar banho ao cão, quem é que vai pegar no meu pé? Ninguém, né? 

Acontece que ainda tenho agarradas a mim as células velhas de quando trabalhava. Bem que já poderiam ter-se renovado, e eu, toda eu, ser outra, despreocupada. Mas não. Feita eu quando era assalariada, mal me chega alguma coisa para fazer, só se não puder é que não ponho logo na calha. E, se na calha não estiver nada de mais importante, é logo. Claro que poderia pensar para mim própria que coisas mais importantes era o que não faltava: ver as notícias, ver o instagram, irritar-me com os comentadores. Mas não. Parece que aquela coisa de primeiro as obrigações e só depois as devoções também continua peçonhentamente agarrada a mim.

Portanto, aqui estive a ver cláusula a cláusula, a consultar o código civil e o rebeubéu pardais ao ninho, a fazer análise comparada com outros contratos, a assinalar as alterações, etc., a trabalheirazinha do costume. 

Conclusão, a esta hora, sei lá eu sobre o que é que hei-de aqui escrever? Não sei... Aconteceu alguma coisa digna de registo? Não sei.

Por acaso, li, de relance, que se percebeu aquela coisa da falha tectónica que justifica aquela quedazinha maçadora para os sismos cá do burgo. Mas não sei mais do que o título pelo que não me aventuro a botar faladura. Além do mais, não é tema que me ponha aos saltinhos. Se aquela coisa da fissura das placas for coisa que dê para preencher com silicone para isto não dar de si, tudo bem. Agora se é coisa sem remédio e a dita falha não vai fazer senão agravar-se, então, obrigadinha, mas não venham para cá incomodar-me com o tema pois passo bem sem ralações adicionais.

Por isso, peço desculpa mas, não havendo nada mais a declarar, aos costumes digo nada e avanço para os meus aposentos. E o que eu estimo é o que eu desejo. Sinceramente. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Visito quase diariamente o seu blog, já lá vai muito tempo. Gosto de ler o que escreve, gosto da partilha que faz com os seus leitores. Muitas vezes identifico-me totalmente com o seu pensamento, outras vezes até me faz ficar a pensar no assunto. Até aqui tudo certo. Mas uma coisa não compreendo: Porque vem gente aqui fazer comentários amargos e descontextualizados. Porque se obrigam a ler coisas que não gostam? Eu acho que é masoquismo puro, pessoas que gostam realmente de sofrer. Não compreendo. Muito obrigado, pelos seus textos.

Anónimo disse...

Aquela coisa tectónica é uma notícia avançada como descoberta este Agosto pela nossa imprensa de referência.

Por acaso, googlando, em Maio de 2019 a BBC em português noticiava o mesmo.

Não digo que é ir enchendo o papel porque agora é tudo online, mas há que meter umas buchas para aquilo não ficar com notícias de ontem.