segunda-feira, maio 20, 2024

Betinho e Betty, dupla de opereta
- A palavra a António Araújo, licenciado e mestre em Direito, doutor em História Contemporânea -

 

Para quem ache que os temas relacionados com o socialite Castlewhite a quem os jornalistas, vá lá saber porquê, teimam em identificar como marchand de arte só podem ser tratados pelas so called jornalistas do Correio da Manhã, aqui está a prova de que quem sabe, sabe, e um estudioso como António Araújo consegue fazer maravilhas qualquer que seja a matéria-prima que lhe apareça pela frente.

Começo por transcrever uma síntese dos seus saberes para melhor se avaliar com que background se atirou à fantástica obra de que abaixo cometo a ousadia de aqui ter uma parte:

O diretor de Publicações e membro da Comissão Executiva e do Conselho de Administração da Fundação, António Araújo, nasceu em Lisboa, em 1966. É licenciado e mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, doutor em História Contemporânea pela Universidade Católica Portuguesa. Foi docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e, atualmente, é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É assessor do Tribunal Constitucional e foi consultor para os assuntos políticos do Presidente da República. É autor de vários livros e artigos no domínio da ciência política, do direito constitucional e da história contemporânea.

Não trago aqui, na íntegra, o artigo intitulado Betinho e Betty, dupla de opereta, mas apenas um pouco mas recomendo que o vejam na íntegra no DN, na rúbrica Prova de Vida:

Entre as muitas coisas em que pensamos quando pensamos em José Castelo Branco, talvez Martin Heidegger não seja das mais imediatas e mais óbvias. Ainda assim, o filósofo alemão foi autor de uma frase penetrante, A luz do público obscurece tudo /Das Licht der Öffentlichkeit verndunkelt alles, que Hannah Arendt usou no proémio ao seu livro Homens em Tempos Sombrios, de 1968, e que se aplica que nem uma luva a esta víbora nada em Tete, Moçambique, aos 8 de Dezembro de 1962, com o nome próprio José Alberto e o apelido paterno Silva Vieira, que deixaria cair em 1984 em prol do albicastrense e mais lustroso apelido de sua mãe, Inês Paulino Castelo Branco, “Nini”, também nascida em Tete, em 24 de Dezembro de 1921 (e falecida de complicações cardíacas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a 16 de Dezembro de 2014).

Com efeito, e na verdade, o que mais espanta e deslumbra nesta figura de mistério, um Cagliostro dos nossos dias, é a sua constante e exuberante presença nas revistas de sociedade e em eventos mundanos, mas, em simultâneo, a densa opacidade que envolve tudo quanto faz e é, desde logo quanto às origens que tem e ao modo como ganha o pão e o brioche.

Sabemos que se apresenta como marchand de arte e que faz “presenças” em festas e acontecimentos mundanos, cobrando por isso. Sabemos que se assume, e cita-se, como “uma grande bicha”. Sabemos que numa endiabrada vida pretérita, começada aos 15 anos, usou o nome eslavo-artístico de Tatiana Romanova, ingeriu hormonas e até possuiu maminhas, descrevendo-se então como transgender, mas nunca como drag queen.

Sabemos que já foi condenado por ter pinado um perfume no aeroporto de Lisboa (e, noutra ocasião, por ter agredido o relações públicas Daniel Martins), que esteve detido em Nova Iorque por furtar roupas numa loja e que, em parelha com a Betty, foi detido na Portela por alegado tráfico de jóias. Sabemos que não desdenha os epítetos de “Princesa do Povo” ou “Evita de Tete” e que entre os seus momentos de glória se conta “um banho de multidão” em Sacavém, com “as massas” a aplaudi-lo. Sabemos que uma vez até jantou com a Madonna. Sabemos que, em 1986, se casou em Loures com uma moça plebeia de apelido explosivo, Pólvora, e nome próprio Maria Arlene (rectius, Maria Arlene Ferreira Pólvora), da qual teve um filho rapaz chamado Guilherme, que agora uma Zulmira diz estar “perdido” e sem “saber o que fazer” ante as recentes acusações de violência doméstico-conjugal deduzidas contra seu pai, à conta de uns tabefes dados à Betty, por ora tão-só alegados, os tabefes, mas já na mira dos delegados, os do Ministério Público, os mesmos que, num passado ainda fresco e recente, embicaram com um primo seu, o oriental premier António Costa, tombado por um parágrafo.

(...)

O El País chamou-lhe, em 2008, “o conde que quer ser rainha”, intento hoje prejudicado pelas notícias que dão conta da sua detenção e queda em desgraça. Castelo Branco diz que, entre outros muitos vícios, o povo português “maltrata quem se destaca” e afirmou um dia, com conhecimento de causa, que “o putedo no meio da comunicação faz-me confusão. Os arrivistas fazem-me confusão”. Agora talvez também lhe faça confusão que as televisões e os jornais se precipitem sobre o seu cárcere, que ponham drones no seu encalço, que nos informem que foi detido de saltos altos, que jantou bochechas de porco no posto da GNR de Alcabideche e que, antes de ser ouvido pelo juiz no Tribunal de Sintra, lhe deram “uma sandes, um sumo e uma peça de fruta” (TV 7 Dias, de 10/5/2024). Por obra e graça do rasquedo televisivo, com a TVI e a CNN à cabeça, a prisão do “Conde” mostrou Portugal ao espelho, a ponto de poder dizer-se, sem favor nem esforço, que Castelo Branco somos todos nós, nas grandezas e misérias, sobretudo nestas.

(...)

Mas vão ler o artigo na íntegra, está bem? O artigo é interessantíssimo. 

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Votos de uma boa semana 

3 comentários:

Anónimo disse...

👍🏻👍🏻👍🏻

Munarca dos jardins do império de maquiavel disse...

fraco o alvo que o suposto virtuoso escolheu para espetar os seus dardos, espera-se de tamanha e brutal inteligência escolher algo ou alguém que pelo menos tenha um rico álbum de fotografias onde não conste só ele e a sua amada e os protetores dos desvalidos Mário Soares e José Sócrates.
sugiro a leitura entre outros que circulam na net deste artigo que muito e generosamente abona a favor de tão maquiavélica personagem.
https://paginaum.pt/2024/02/26/o-lamacal-de-antonio-araujo-colunista-do-dn-e-administrador-da-fundacao-francisco-manuel-dos-santos/

Um Jeito Manso disse...

Olá Munarca,

Esse seu nome é que é extraordinário. Gostei.

E fiquei a conhecer o Página Um que não conhecia e só por isso já lhe agradeço.

Espero que, para a próxima vez que aqui venha visitar-me, me surpreenda com outro nome igualmente inspirado e divertido...!