domingo, abril 22, 2018

Dou uma ajudinha com mais umas fotografias: que vila é esta com todas estas escadarias...?



Há bastante tempo que, quando se falava nesta terra, eu pensava: tão perto e, parece impossível, nunca lá fomos. Por isso, este domingo, quando o meu marido percebeu que eu tinha acordado (depois de ido dar uma volta e de, regressado, já ter estado a ver televisão), foi ter comigo para decidirmos o programa de hoje. Já que estávamos sem compromissos, falámos, então, em ir até lá. 


E lá fomos. Parecia que estávamos longe, longe do bulício da capital e, no entanto, tão perto. Planície, planície, planície. Regadio, regadio, regadio. 

Até que chegámos. 


Tal como disse em relação a Salvaterra, também aqui não me deslumbrei. Tem sítios bonitos mas, confesso, não de uma pessoa ficar enlevadíssima. Mas tem uma coisa que sempre me agrada: não tem trânsito, não tem barafundas. Não vimos um único turista. Andei pelo meio das ruas, olhando, cirandando e não corri riscos: poucos carros passaram.

Há casas grandes, muito bonitas e o sossego deve ser uma constante. Que diferença quando comparado com os lugares que frequento e em cujas ruas desperdiço grande parte da minha vida.

E escadinhas, escadinhas que vão até lá acima. Não subimos porque não íamos preparados para uma de Bom Jesus ou de Montmartre mas agora, vendo as fotografias, fiquei com pena. 


 Acho que, um dia que lá voltemos, iremos peregrinar escadaria acima para visitarmos o Santuário.

E já sabem onde estive, Caríssimos?

E agora, meus Caros, só por estes graffitis conseguem adivinhar onde é que estive esta manhã?



A primeira, a de cima, não é muito elucidativa. Só as pessoas de lá ou que já por lá passaram é que devem conhecer.


Esta, aqui acima, já diz qualquer coisa sobre a terra.


E a terceira diz muito. Onde é, onde é? 

Um bombom* a quem descobrir por onde andei hoje

E o bombom vai para... o PB* que acerta sempre.
Salvaterra de Magos


*Um bombom virtual, claro. Um bombom imaginário, let us say. Quando fizer um post a seguir a este, venho a aqui e mudo o título do post para o nome da terra que visitei. Mas agora deixo em branco para quem quiser adivinhar.


Não fiquei de queixo caído com a terra mas, admito, deve ter sido porque foi uma rapidinha e, nas rapidinhas, sabido é, a coisa não dá para percorrer todos os acordes, de a a z. Portanto, não tenho muito para mostrar. Mostro apenas um lugar delicioso, um daqueles lugarzinhos onde apetece estar a olhar. Tem aquele misto de beleza natural, decadência, inocência, mistério, cor, canto de pássaros e sossego que faz qualquer alma palpitar de promessa de felicidade.









Já agora: nesta fotografia, onde está o Wally?

*O Leitor PB, que me surpreende sempre, voltou a a certar. Enviou-me um mail a dizer o seguinte: Então andou a explorar a cultura avieira, pelos lados de escaroupim?

Elegância e beleza no sobe-e-desce do Chiado




Pronto. Desvendei. De resto, presumo que também já tivessem adivinhado onde eram as montras que mostrei no post abaixo. Chiado.

As ruas mais turísticas estão pejadas de gente. Muitos grupos em filinha de pirilau por aqueles passeios estreitinhos seguindo um guia que vai à frente com o braço ao alto e uma tabuleta com um número. Vários grupos de gente asiática, muitos americanos, brasileiros all over, franceses, o que queiram.  Todas as línguas do mundo. Uma torre de Babel. E muita gente jovem. Muitos casalinhos, jovens e não jovens, a puxarem a sua maleta com rodinhas. Gente, gente, gente. 

Eu -- que gosto tanto de gente diferente e que acho que gente de origens díspares só enriquece os lugares, que sou fervorosa adepta da miscigenação -- vendo tamanha avalanche (e isto num dia de Abril, meio chuvoso), comecei a pensar que lá mais para o verão a coisa pode mesmo ser excessiva.


Para fugirmos aos passeios pejados de gente, deslocámo-nos para as ruelas, escadarias e recantos menos badalados e, aí, ainda se conseguiu aquele recato bom daqueles lugarzinhos que são dos mais bonitos de Lisboa.

Fotografei também gentes. E o Chiado tem isto: mulheres elegantes que, como que aparecidas do nada, atravessam as ruas, atravessam as multidões, e caminham sedutoramente. Podem ser belas toilettes, pode ser beleza natural, pode ser a graça do conjunto, mas há sempre um desfile interessante de observar por aqui. Agora coloquei apenas a fotografia lá de cima pois prefiro não mostrar o rosto mas, não fora esse meu cuidado, muito mais pessoas poderia mostrar. Pela Rua do Carmo, pelo Largo de S. Carlos, pelo Camões, por todos essas ruas e largos, há gente que dá gosto contemplar.

Mas, pronto, fico-me pelos candeeiros, pelo Tejo que se avista ao fundo com os seus veleiros e veleirinhos, pequenos pontos brancos num rio amansado, fico-me pelos céus onde se desenham os arabescos dos cabos que alimentam os 'eléctricos'.


E tuc-tucs. Omnipresentes. De todos os tamanhos, cores e decorações. Mas agora, para vos mostrar, escolhi esta fotografia aqui abaixo com os GoCars. São muito engraçados estes carrinhos e, não sei exactamente porquê, as pessoas que vão neles (de capacete) vão sempre a rir, ar feliz da vida.

Parece que os carrinhos assobiam, contam anedotas e mais não sei o quê. Na volta é isso que faz rir os seus condutores.


Como é bom de ver -- e como os meus Leitores já estão fartos de saber -- ando sempre de máquina fotográfica em punho e por todo o lado vejo coisas ou pessoas que despertam a minha atenção ou que me encantam.

Quando chego a casa e revejo o que os meus olhos viram, penso sempre que estou a acumular milhares de fotografias que ninguém vai alguma vez ver e que eu própria, que gosto é de fotografar e não de ver fotografias, também jamais me darei ao trabalho de rever. Há qualquer coisa de irracionalidade nisto mas, enfim, fazer o quê? Pertenço ao sub-gupo dos humanos irracionais e está tudo dito.

E mesmo, quando quero escolher algumas para aqui, à laia de diário, ilustrar o andamento dos meus dias, tenho tantas por onde escolher que a coisa não é fácil. Por vezes, uma verdadeira seca, tantas elas são. 

E não quero pô-las a eito, tento encontrar uma linha comum entre algumas para que haja alguma coerência no post. No de baixo, escolhi as que tinham a ver com montras. Aqui resolvi escolher as que evidenciam a orografia de Lisboa: ruas inclinadas, escadinhas a unir as ruas, o rio lá em baixo. E juntei uma mulher para mostrar a elegância desta cidade que amo de coração. Mas, acreditem, podia ter inventado muitas outras combinações. O Chiado é lindo demais seja qual for a perspectiva pela qual o olhemos.


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E queiram, meus Caros Leitores, continuar a descer porque, já a seguir, há mais Chiado.

E agora é para ver se adivinham por onde andei eu a ver as montras




Não foi propriamente uma passeata mas, mais, uma flanagem. Não saímos cedo. Dormi até tarde. Depois ainda fui à ourivesaria buscar o meu relógio que estava para pôr uma pilha e à sapataria para ir comprar uns sapatos azuis escuros de salto alto. Tenho uns mas são com a parte de cima em rendilhado, esburacadinhos e, com algum frio, não dão muito jeito e os outros, os que uso mais, em camurça em dois tons, estão já um bocado coçados. Não queria nem muito afilados nem com salto muito alto mas, logo por coincidência, os que me ficaram melhor foram justamente assim. Trouxe-os na mesma pois visto-me muito em tons de azul e estava mesmo a precisar.

Depois ainda fui comprar fruta e legumes e pôr tudo a casa. Portanto, já não foi a horas decentes que saímos. Mas foi bom na mesma, deu para o que deu; e chegou.


O meu marido foi pelo caminho do costume mas eu discordei, achei que mais valia ir por outro lado.  Seria mais seguro em termos de trânsito e de estacionamento. E, de facto, não vos digo nada. Por pouco não tive que lhe dizer que, como se provava, eu tinha razão. Mas não disse. Agora uma coisa vos digo: tanta gente, tanta, tanta. Isto vai em crescendo. Aqui, no post, para vos mostrar, tenho essencialmente montras e não propriamente pessoas mas acreditem em mim: magotes. De todas as nacionalidades. 

Comentámos: tomara que não tenham razão os que temem um fenómeno de gentrificação por estas bandas.


Mas não andei apenas a ver montras. Na loja acima entrei mesmo. Tenho várias peças daqui e, se passo perto, não resisto a espreitar as novidades.

Desta vez trouxe uma menina cheia de flores. Uma graça. Se o meu marido já tivesse espetado um prego resistente para a pendurar, fotografava-a para vos mostrar. Mas ainda não. A ver se não vai andar a encanar a perna à rã, a fazer-se esquisito ou a inventar desculpas para não tratar do assunto. Se fosse um prego normal eu ainda me arriscava. Mas acho que é melhor com bucha, tem que ser com berbequim e, com isso, não me ajeito. Por isso, agora está deitada ao lado do Stº António, à espera -- e, claro, não vou fotografá-la assim nestas intimidados com um santo.


Depois fomos almoçar a um dos magníficos restaurantes do Avillez. Sempre bom. Boa comida, bom serviço, bom ambiente.

Ao nosso lado, duas brasileiras. O que elas conversaram, o que elas se auto-fotografaram, o que elas comeram e beberam, a graça do que diziam, tudo aquilo era razão mais do que suficiente para me apetecer ficar ali a vê-las e ouvi-las. Uma vive cá, a outra está de férias. Meninas com alto poder de compra, pelo que me foi dado perceber. O meu marido, volta e meia, alertava-me para não me pôr a observá-las tão descaradamente. Mas elas estavam tão focadas uma na outra e na conversa e nas fotografias que tiravam que nem deram por mim. Oh língua gostosa este nosso português enfeitado de cor, perfume e sabor do Brasil. Quando nos viémos embora ainda elas iam a meio do almoço, tão vagarosas estavam a ser, tantas as vezes que paravam para se fotografarem, para escreverem no telemóvel, para mostrarem fotografias uma à outra, para conversarem. Só me apetecia filmá-las. Uma novela, aquelas duas.


Depois fomos para onde vos mostrei abaixo e que espero bem que tenham adivinhado onde é

Para a Gulbenkian, of course. Patos, patinhos, um ovinho no meio das folhas debaixo de umas árvores, os meninos sempre contentes naquele espaço. Mas também exposições, um lanchinho dos bons, livros (ofereci 'O Leopardo' à minha filha, embora não seja a mesma tradução e a mesma versão que o meu amigo me ofereceu), conversa em dia, boa disposição, convívio bom daqueles que aconchega o coração de uma carangueja com ascendente de caranguejo (conversámos de signos, com os meninos a quererem perceber o que é isso dos signos e com um deles a dizer que o dele não é carneiro nem leão nem nada disso, é dragão. Como é bom dever, agora deu em dizer que é adepto do Porto. Lá lhe explicámos que os signos não têm nada a ver com isso, que não há dragão nenhum nos signos. Não pareceu muito convencido.)


E a ver se ainda cá volto que tenho mais para vos mostrar

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Só para ver se sabem onde é



Para ver se vocês sabem que é como quem diz porque, sem a caixa dos comentários aberta, só se a vossa ideia me chegar através de telepatia. Se bem que, podem crer, tenho o meu lado mediúnico. É um lado meio misterioso que tenho e que, para dizer a verdade, até escondo. Acreditem ou não. Claro que não sei se funciona com todos vocês a pensarem desencontradamente com os vossos pensamentos a voarem por aí pelos ares. Se calhar não.


Mas isto para vos mostrar um pouco do que vi hoje de tarde. Vi mais coisas e até já enviei algumas fotografias ao menino mais crescido -- que já tem endereço de mail e a quem envio as fotografias que ele me pede para tirar, se calhar para depois mostrar aos colegas da escola. Mas se vos mostrasse duas das que lhe enviei, estaria a facilitar-vos a vida. Assim, das que lhe enviei mostro só uma, esta aqui abaixo. 


Então...? Já descobriram? Vá. Não é difícil. Quem puder, vá lá amanhã para conferir. Não darão o tempo por perdido, podem crer.


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A todos, um belo dia de domingo!

sábado, abril 21, 2018

Aula prática.
A teoria, para aqui, não é chamada






Se te disser que não venhas, obedece.

Se te disser que me desobedeças, não o faças. E o contrário também.

Se não me compreenderes, esquece.

Se achas que nada em mim faz sentido, tens razão, claro que tens.

Se achas que estou a ser sincera, não acredites.

Se te digo que me irritas, acredita que me divertes.

Se te digo que me divertes, acredita que me irritas.

Se te disser que te cales, acredita que deves falar.

Se te disser que preciso de silêncio, sabe que não deverás deixar de me segredar ao ouvido, baixinho, como se me sussurrasses palavras de amor.

Se me perguntares se te amo, esquece, vou dizer que estás louco.

Se nada me perguntares, sabe que estarás a perder a última oportunidade.

Se te disser que me esqueças, não me ouças.

Se nada te disser, procura-me.

Se não te atender, sabe que quando to permitir, deverás pôr um joelho em terra.

Se te disser que te ergas, sabe que deverás abraçar-me.

Se te disser que não sabes chegar a mim, acredita que já estás dentro de mim.

Se te disser que não sabes nada de mim, podes crer que já sabes demais.

Se te disser que tomaras tu que eu olhasse na tua direcção, sabe que tomara eu poder nunca tirar os olhos de ti.

Se te disser que és um santo, não liges, se o achasse diria o contrário.

Se te disser que nunca vi ninguém tão tonto como tu, acredita que ainda não cometeste as loucuras suficientes.

Mas se fizeres tontices a mais, lamento mas terás pisado o risco, e isso, acredita, é fatal.

E se eu te disser que pisaste a linha fatal, prepara-te porque estarei a convidar-te a entrar no perigoso labirinto em que eu e tu um dia nos enlearemos.

E se ficas louco com o que eu faço, acredita que ainda fiz foi pouco.

E, sobretudo, acredita que deverás tentar, tentar de novo, tentar mais, tentar melhor.


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Aldeias de Portugal


Estava, hoje ao jantar, a dizer que estava mortinha por ir passear. Não me aguento muito sem andar no laré.

Razões familiares fizeram com que durante mais de um mês não pudesse dispôr do meu tempo livre. Depois tem sido a cena de desbastar mato. Prazer mas, também, obrigação. Ou seja, não tenho conseguido fazer aquelas minhas passeatazinhas tão boas.

Em tempos, que já me parecem longínquos, podia ter férias por estas alturas. Não percebo como foi isto acontecendo. Parece que o trabalho foi crescendo com o tempo. Ou isso ou as responsabilidades que foram aumentando e os graus de liberdade diminuindo. Costumávamos juntar o 25 ao 1º e aí íamos nós. Agora, ou por isto ou por aquilo ou por um ou por outro, parece que estamos sempre agarrados. E o dramático disto é que parece que esta perda de qualidade de vida não é nem por um mau motivo nem uma opção. Parece que é porque tem que ser.

E, quando não é por razões desta natureza, sou eu que opto por estar com os meus meninos, fofos, fofésimos. Não consigo estar longe deles, tenho sempre vontade de estar com os meus amores.

Enfim. Não é queixa, longe disso, apenas uma constatação.

Mas, portanto, estando eu nisto e a comentar que havíamos de ir fazer um passeio nem que apenas por um ou dois dias, nem que quase ao lado de casa, eis que, chegada aqui ao meu sofá, abro a caixa de correio e... um dos mails continha o vídeo que abaixo partilho convosco, com algumas das maravilhosas aldeias de Portugal. Já as vi e revi e já se me encheu o coração de vontade de ir visitá-las, uma por uma. Algumas já as conheço, outras já delas ouvi falar mas várias totalmente desconhecidas. Lindas, lindas, lindas.

Haverá quem não goste de passear? E a pergunta é genuína: não percebo que haja quem não goste de ir à descoberta de belezas como as que abaixo se podem ver. Mas, enfim, também não vale a pena estar para aqui a tentar perceber até porque ainda bem que não anda meio mundo à descoberta das aldeias senão transformavam-se no Colombo ou no Corte Inglês em tempo de saldos.


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PS: Hoje estou boazinha, não me apetece tripudiar em cima das divertidas criancices do coisinho. A menos que daqui a nada acorde e me apeteça atirar-lhe outro ossito só pelo prazer de o ver a ir todo afobado a correr atrás. Ontem foi aquilo dos links, da próxima será outra.

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sexta-feira, abril 20, 2018

Qual a verdadeira idade do meu cérebro...?
22
[Por isso, jovenzinha assim, imagine-se se ia perder tempo a dar troco a um eremícola que por aí anda armado ao pingarelho]


Ah, que boas notícias. 22 anos. A minha idade mental é vinte e dois anos. Arremato e não se fala mais nisso.

Com 22 anos estava eu casada há dois. Era bem esguiazinha, usava cabelo bem curtinho, quase rapadinho. Muita gente me dizia que eu parecia francesa. Às vezes usava umas blusinhas às risquinhas, muito navy. Ainda não tinham nascido os meus filhos. Era professora e estava a acabar o meu curso. Vivia a vida com leveza e alegria.

Passaram muitos anos mas, dentro de mim, ainda sou a mesma. O tempo não erodiu a minha capacidade de me encantar e a minha vontade de descobrir o tudo que não sei.

Isto a propósito de que, enquanto aqui estava com um olho no burro e outro no cigano (sem desprimor para os eremitas ou para os ciganos, claro), ou seja, a ver O outro lado do paraíso e, ao mesmo tempo, a cirandar pelos testes, fiz um outro: What Age Is Your Brain Really?

E o resultado foi:
Your brain age is 22! You're always up to learn new things and your brain runs at lighting speed!
Tenho esta coisa de achar que a idade não me faz mossa. Melhor: tal como não ando a pensar que tenho duas mãos, que tenho um umbigo, que tenho dentes e outras verdades incontornáveis que fazem parte da minha realidade, também não me ocorre pensar na idade que tenho.

Uma vez, anos atrás, um conhecido meu dizia com ar convicto: 'Se alguém com mais de quarenta disser que o corpo não começa a pesar-lhe, mente'. E eu fiquei um bocado aparvalhada. Não queria passar por mentirosa mas o corpo, até então, nunca me tinha maçado.

Depois disso, de facto, já me incomodou algumas vezes mas, na verdade, vendo em as coisas, so far so good

Mas isso a nível físico. Tanto esforço fiz a carregar pedras para fazer muros e murinhos, tanto colo dei a tanta criança, tantas longas caminhadas fiz que um joelho deu de si. Volta e meia doía-me. Num certo gelado inverno, em Paris, voltei a andar dias seguidos a pé. Com o frio, doeu-me o outro joelho. Quando falei nisso ao ortopedista, ele achou que o que me doía mais devia ser espreitado por dentro e que, já que se ia anestesiar, mais valia ver os dois. Fui na cantiga. O pós-operatório, com os dois joelhos furados, foi um castigo. Mais tarde, outros médicos, vendo os exames anteriores às artroscopias, disseram que eu não tinha nada que tivesse justificado as intervenções. Um médico que gostava de operar e eu, uma pata que embarca neste tipo de coisas sem pestanejar e que nem se lembrou de procurar outra opinião médica ou de pensar que mexer nos dois joelhos ao mesmo tempo era uma estupidez sem explicação. Mas mesmo essas coisas acho que a responsabilidade foi minha e não o corpo a dar de si.

E a nível mental não me sinto travada. Não me ocorre pensar que já não tenho idade para dizer isto ou fazer aquilo. Claro que não faço exactamente tudo o que fazia quando tinha vinte e dois anos. Mas isso mais a nível da roupa que visto. 

Por exemplo, lembro-me de um vestido preto sem mangas, de um tecido fininho, ligeiramente acima do joelhos. Ficava-me colado ao corpo. Tinha atrás um decote em bico que me ia até ao fundo das costas. Para não descair tinha em cima e a meio do decote uma tirinha do mesmo tecido. Claro que não podia usar soutien senão via-se a parte de trás. Usava o vestido, portanto, assim. Apenas com umas pequenas cuecas finas, sem costuras, para não se dar por elas. Por vezes punha um cinto largo em pele macia num carmim profundo e, para condizer, usava uns sapatos altos da mesma cor. E ia trabalhar assim, na maior. Nessa altura já tinha os meus filhos, lembro-me bem. 

Hoje, bem entendido, já não sou assim. Uso o cabelo mais comprido e já não me visto dessa maneira. Se calhasse ver aquele vestidinho à venda, sem dúvida que ainda teria vontade de o ter mas seria impedida pela noção de que já não tenho idade para me vestir assim. Há que ter a noção do ridículo. Mas tirando casos extremos deste género, não há cá impedimentos. Sempre a abrir.

E se escrevo isto agora não é por narcisismo, é mesmo só por falta de assunto. Depois de dias como os que tenho tido, a esta hora já não dá para conversa com maior alcance. Poderia tentar pôr-me a desmontar os raciocínios fajutas de seres curiosos que pululam pela blogosfera, nomeadamente de um certo moçoilo que há algum tempo enfiou um barrete que eu aqui deixado à disposição de quem o quisesse enfiar e, com ele enfiado até ao nariz, infantilmente se pôs a pedir que eu fizesse links para o seu blog mas, sinceramente, não tenho pachorra. Vita brevis. Se estivesse com pouco que fazer, já que ele quer festa ainda poderia dar-me para brincar com ele. Mas, assim, lamento, terá que ficar a brincar sozinho já que não tenho tempo para lhe atirar senão este simples ossinho. Agora uma confissão: gostava mesmo é que ele se esforçasse um bocadinho mais para merecer que eu lhe pusesse aqui um link para o seu eremitério. Assim, ainda não é desta.

Bem. Agora vou daqui a voar para a caminha.

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E daqui a nada é um novo dia 

-- e que venha o anjo da manhã


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90% dirty mind, 10% innocent



O que se passa é simples: perdida de sono. Trabalho a mais. Acordei logo com uma ligeira dor de cabeça. Depois de um compacto de uma maçadoria das valentes a dor tinha-se acentuado. À hora de almoço, que não foi uma hora mas uns minutos, resolvi que ia um ben u ron abaixo. Dos de meia dose. Fez logo efeito. Desapareceu a dor mas ficou uma pancada de sono. Depois, para acamar o ben u ron, um compacto da mesma maçadoria mas agora noutra empresa. Depois disso, uma outra maçadoria mas num outro formato. Cheguei a casa lá para as oito e meia (e isto sem fisioterapia). Ainda me apeteceu fazer uma little caminhada. Depois, já às nove e picos vim fazer o jantar. Acabámos de jantar às dez e tal. Resultado? Cheguei ao sofá e foi tiro e queda. Um sono de caixão à cova.

Acordei agorinha mesmo e já estive a falar com a minha filha. Mas não foi o suficiente para despertar.

Resolvi, então, ir espreitar as notícias mas, do que vi, só uma ou outra chamaram a minha atenção mas referem-se a temas de fundo, nada sobre o que falar no estado de dormência em que estou.

Deslizei, então, para a ligeireza: testes.

Estando eu a atravessar uma fase de assessments daqueles que nos viram do avesso, com questionários do catano e entrevistas cruzadas de horas, fazer destes testes amalucados sabe-me que nem ginjas.

Vi um que me deu logo vontade de experimentar: Conseguimos adivinhar quão porca é a sua mente. Achei delicioso. Pensei: deixa cá ver se sou como penso que sou -- uma santinha que ninguém tira do altar.

Fiz o teste. E, para minha grande surpresa, afinal não sou uma santinha. Teste da treta, todo gatado.


Transcrevo o resultado para que vejam como estas coisas atiram sempre ao lado. Se eu alguma vez sou assim. Bolas.
If there is any dirty way to see a picture you will see it that way! Even if the image is completely innocent...the first thing that pops into your mind is dirty. This means that you are an extremely open person and there are not many topics that make you uncomfortable!
Mas, vá, esta última parte é capaz de bater certo. De facto, não há praticamente nada que perturbe a minha beleza. Só coisas como a estupidez encartada, o desrespeito institucional, a desonestidade, etc e tal. Agora coisas mais banais...? Por exemplo, uma mulher a andar de bicicleta sem cuecas e com uma pilinha a saltar-lhe do selim...? Bahhh. Banal.Venham mais como ela.

Ao ir ver o link do teste para o pôr ali em cima, reparei noutra coisa que lá se diz:
Life is so much more interesting when you have a dirty mind. 
Olha. Tem graça. E confesso: concordo.

Não querem ir ali acima, clicar no link e ver se conseguem ultrapassar-me e chegar mais perto dos 100%? Força.

quinta-feira, abril 19, 2018

José Sócrates, José Gomes Ferreira, José Castelo Branco e mais uns quantos, Ventinhas incluído


Cheguei a casa tardíssimo. Um dia daqueles de que nem vale a pena falar. Mas ainda consegui ir à fisioterapia. Tenho que tentar fazer as sessões prescritas a ver se me ponho completamente boa para ter alta. Já estou muito melhor, nem se compara. Quase consigo abotoar o soutien atrás das costas. Durante meses, o supra-espinhoso não tinha a flexibilidade necessária para curvar o braço atrás das costas, para além de me doer à brava. Agora já pouco me dói e a mobilidade do braço, mesmo nas rotações interiores, já é outra loiça. Mas completamente boa ainda não estou e, não querendo ficar deficiente para o resto da vida, embora seja uma maçada ir enfiar-me ali ao fim do dia e estar naquilo durante mais de uma hora, forço-me a ir.

[Aliás: esqueçam que eu disse que estou melhor porque gabar-me de alguma coisa parece que atrai forças contrárias. Não disse nada. Não estou melhor. Noc-noc-noc, três vezes na madeira]

Bem. Onde é que eu ia?

Ah sim, já sei.

Não contando com o stress para conseguir raspar-me do escritório a horas razoáveis e das correrias no trânsito para lá chegar a horas, aquilo é bom. Estar ali deitadinha e tratamentozinhos e tal e coisa traz-me uma calma instantânea. O chato é chegar tão tarde a casa. Enfim.

No fim, já por volta das oito e meia da noite, lá fui pagar a sessão. Na recepção e sala de espera, uma grande televisão. Sócrates, claro. As pessoas ali todas a levarem com os interrogatórios, com as considerações dos jornalistas, a testemunharem a condenação de Sócrates na praça pública. Um homem dizia ao filho: 'Ninguém proibe isto?'. O filho, um jovem, encolhia os ombros. Um casal olhava e segredava um para o outro e era como se também encolhessem os ombros. Aos poucos as pessoas vão-se habituando a este regime fora-de-lei.

Quando cheguei a casa, ainda a reportagem decorria. Um maná.
A ver se a seguir vem uma Grande Reportagem sobre o Caso dos Submarinos. Ou sobre  Caso Tecnoforma. Isso é que era. Diz o meu marido
Bem. Adiante.

Depois de me ter despido, desmaquilhado, lavado e vestido uma roupa simples de trazer por casa, fomos jantar. Na televisão da copa, um grupo de sindicalistas, cada um de seu ramo (o Ralha do fisco, o Ventinhas dos magistrados, outro dos agentes de investigação e outro não me lembro de quê), reivindicava mais meios para poder fazer mais proezas como esta, do Caso Marquês. O meu marido disse: onde é que isto já vai. E eu pensei: amanhã ainda aqui temos a Avoila.

A seguir a coisa compôs-se ainda mais. José Gomes Ferreira -- num excitex, num pico de epifanias simultâneas, hipermotivado para varrer o adro a varapau -- já queria passar a pente fino todas as decisões dos governos Sócrates, todas, uma por uma. E, completamente desfocado, ou melhor, destravado, já queria inspeccionar de fio a pavio todos os contratos das parcerias público-privadas, já ajustava contas com toda aquela geração de políticos, empresários, gestores e tutti quanti. Valeu a intervenção de Cristina Ferreira, pouco isenta jornalista mas, ainda assim, já com idade para ter um mínimo de juízo, que, sem meias palavras e na prática, o mandou ir dar banho ao cão, lembrando que era melhor fechar os processos em curso antes de abrir novas frentes. Ele enfiou o barrete e disfarçou, dirigindo-se a outro. Logo depois elogiaram-se todos uns aos outros por terem feito tão bom trabalho, inspectores ventoinhas, jornalistas de aviário, tudo do bom e do melhor e que venham mais que isto é que é a democracia a funcionar. Para eles, a coisa está feita, os culpados condenados e o caso encerrado -- e eferreá-eferreá, alequi-alecuá, xiripitatatatá.

Referência ao facto de ali estarem a participar numa farsa e numa ilegalidade, está quieto. Reflexões sérias é coisa que não lhes assiste.

O que me valeu foi que, entretanto, adormeci. Mas foi sol de pouca dura, nem deu para sonhar.

Vi os mails, trouxe para aqui a opinião informada do P. Rufino. E voltei a adormecer.

Agora aqui estou, pobre de mim, tentando acordar para ver se consigo chegar à cama. Mas gostava de ir com uma coisa boa em mente para ter bons sonhos senão ainda corro o risco de ter um pesadelo com o justiceiro José Gomes Ferreira ou com o Ventinhas.

Portanto, com vossa licença, um vídeo que não tem nada a ver. Mete segredo de justiça e outras cenas mas é pura coincidência.



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As imagens que mostram como o que se vê nem sempre é o que se vê provêm do Bored Panda e, como é bom de ver, também nada a ver.

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Sócrates, os interrogatórios e as imagens que a SIC está a transmitir
--- A palavra ao Leitor P. Rufino ---


Na sequência do que ontem escrevi sobre o julgamento popular que a SIC está a levar a cabo (só com acusação e sem direito a contraditório), do Leitor P. Rufino, que sabe bem do que fala, recebi o mail que, com a sua permissão, aqui transcrevo.

As imagens que a SIC transmitiu, relativas ao interrogatório de José Sócrates, são de uma gravidade sem precedentes. Nos termos da Lei Processual Penal em vigor, como aliás é referido num dos Artigos invocados. Mas, há algo de obsceno nisto tudo na medida em que será fácil saber quem foi o autor de semelhante e flagrante ilegalidade, já que, quem está presente nesses interrogatórios, na sala, para além do arguido e o Procurador, estão ainda, sem poderem intervir, os dois advogados de JS. E ainda está presente um oficial de diligências para ir tomando nota das declarações. Por conseguinte, como não passa na cabeça de ninguém ser o próprio JS, nem tão pouco os seus advogados, só pode ter sido o próprio Procurador Rosário Teixeira, ou então o oficial de diligências. A não ser que tenha sucedido algo de rocambolesco, como por exemplo alguém daquele Tribunal ter colocado uma câmara de filmar na sala, antes do interrogatório se ter iniciado e sem ninguém ter dado conta (com vista a posteriormente vender esse filme à SIC). Acho demasiado inverosímil, mas quem sabe! Neste processo já tenho visto tanta violação de procedimentos processuais penais e de práticas de Justiça que já nada me espanta – a “bem” de uma boa “cacha” televisiva, ou num qualquer pasquim.

Registo igualmente a inqualificável atitude daqueles dois jornalistas de se terem prestado a um serviço daqueles. Mandaria a ética profissional que não se tivessem disponibilizado para semelhante imundice jornalística. Mas, manda quem pode e obedece quem não tem espinha dorsal.

A Justiça está totalmente desprestigiada neste país. Um arguido – que, convém sublinhar e lembrar, ainda não foi condenado e, nesse sentido, tem o direito à presunção de inocência – não deve ser tratado desta forma, quer pelos Tribunais, quer pelos “média”. Num Estado de Direito há regras claras para a Justiça e para a liberdade de imprensa/de informar. Mas, não parece ser o caso no nosso patético país.

Já se percebeu, suficientemente bem, que o Ministério Público – que hoje é cada vez mais uma entidade sinistra e “justiceira” – tudo está a fazer, apoiando-se na imprensa (venal) que por aí se vê, para pressionar o colectivo de juízes que irá julgar José Sócrates no âmbito do processo Operação Marquês e, deste modo, obter umas tantas condenações. Ou seja, não deixar espaço ao colectivo quando tiver de decidir. E de facto, com tanta publicidade à volta do caso, um desfecho mais favorável ao ex-PM, por exemplo, desacreditaria a Justiça e os juízes, perante a opinião pública – que já condenou, antecipadamente, José Sócrates. Não vejo outra explicação para este tipo de atitudes com as de ontem na SIC e antes em diversos meios de comunicação social, senão o de querer colocar pressão no tribunal que irá julgar o processo Operação Marquês e José Sócrates. 

Uma vergonha, do ponto de vista judicial! 


PS: Acrescentaria ainda que aquelas imagens que foram ilegalmente captadas e divulgadas nem sequer podem ser usadas validamente em Tribunal para condenar quem quer que seja. É da Lei Processual Penal.

Quanto à SIC, deveria perder a licença. Espero que a revoguem. Tratou-se de um acto de apedrejamento judicial público.

quarta-feira, abril 18, 2018

Sócrates e os vergonhosos julgamentos na praça pública (agora no pelourinho da SIC)


Vejo com estupefacção os vídeos dos interrogatórios a que Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Granadeiro, Bataglia e outros foram sujeitos no âmbito do Caso Marquês. Supostamente as gravações seriam feitas para apoio não sei a quê -- e espero que os arguidos tivessem sido informados de que as gravações estavam a acontecer -- e não para ser passadas em horário nobre numa televisão generalista.

E, no entanto, imagens colhidas e armazenadas à guarda da Justiça foram parar à SIC e são agora pasto atirado para a praça pública.

Tal o estado de bandalheira a que a Justiça chegou em Portugal que isto já se faz a céu aberto, sem receio das consequências.

Estamos a falar de pessoas que ainda não foram julgadas, muito menos condenadas. Até prova em contrário são inocentes.

E, no entanto, sem rebuço, a equipa de algozes da SIC dá-se ao desfrute de os expor em momentos melindrosos da sua vida.

Pensei: mas será que, lá por o processo já não estar em segredo de justiça, já é material que por aí ande a pontapé?

Pois bem: não. Leio agora que
"Embora o processo em causa já não se encontre em Segredo de Justiça, a divulgação destes registos está proibida, nos termos do art.º 88º n.º 2 do Código de Processo Penal, incorrendo, quem assim proceder, num crime de desobediência (artigo 348.º do Código Penal)", refere o Ministério Público numa resposta a uma questão da Lusa.
O Ministério Público acrescentou que instaurou um inquérito para "investigar os referidos factos".
Espantoso. Apesar da divulgação estar proibida, a SIC fá-lo na maior descontracção. Mais: faz disso um festival. Um julgamento, sem contraditório, na praça pública.

Ouço os jornalistas e comentadores falarem com assertividade e certeza no dinheiro que, segundo eles, era de Sócrates, de luvas recebidas, etc. Não têm dúvidas nem precisam que os tribunais se pronunciem. Quem os ouça, diria que Sócrates já foi condenado em última instância de todos os crimes que é acusado. E, no entanto, o julgamento (nos tribunais) nem sequer começou.

Uma vergonha, isto, num Estado democrático e que deveria ser um Estado de direito.

Poderia ainda referir as imagens dos interrogatórios a Sócrates: os inquiridores falam em suposições e, do que vi, nunca em factos concretos que incriminem Sócrates. E, do que vejo, Sócrates indignado  e furibundo, mostrando a sua revolta por não haver factos ou pelas acusações não fazerem qualquer sentido. E já por ali anda tudo misturado: a gestão do BES, as relações entre Salgado, o Granadeiro e Bava. Como se tudo fosse uma gigantesca cabala para beneficiar Sócrates. Como numa telenovela em que afinal uma que se supunha mera figurante ser, afinal, mãe da rapariga e outra ser, afinal sua irmã e o pai ser quem menos se suspeitava. Todos relacionados com todos, num argumento fantasioso e improvável. Só que estamos perante pessoas que ali expõem a sua vida real e não personagens de novela.
E, vendo o que vejo, só penso nisto: qualquer pessoa que caia nas malhas de uma Justiça destas está feita para o resto da vida. Mesmo que venha a provar-se ser inocente, terá gasto anos da sua vida a ser trucidado e humilhado na praça pública -- e isso nunca nada apagará. E toda a sua família terá sofrido os horrores da infâmia e da vergonha. Uma pessoa que caia num tal rede de suposições passa a ser uma vítima, uma vítima indefesa.
Mas a reportagem está urdida, na verdade, como uma novela: depois de vermos a revolta de Sócrates perante acusações que parecem infundadas, a SIC mostra gravações de conversas telefónicas e mostram-nos enredos laterais e ficam dúvidas e suspeitas no ar.

Agora, enquanto escrevo, na SIC Notícias falam jornalistas que parecem estar na qualidade de jurados mas, na verdade, assumindo a posição de acusadores. Apenas uma das presentes se distancia. Salvo ela, todos falam na fragilidade da acusação, na ausência de provas e tal e tal... mas, na maior leviandade, continuam em frente, passando por cima de pruridos e dando por provadas as acusações. A expressão facial, o tom de voz é o de acusadores saciados. Nota-se que se sentem heróis: derrotaram Sócrates, o 'animal feroz'. Imagino-os, a estes pequenos jornalistas', saindo do estúdio felizes consigo próprios e pensando: fez-se justiça, Sócrates está crucificado

Um dos pilares essenciais de uma vida saudável em liberdade e democracia é o do direito a uma justiça isenta. Contudo, com o maior dos desplantes, a SIC, qual Correio da Manha, passa por cima de todos os direitos de qualquer cidadão e assume o papel de acusador, fazendo um julgamento público sem direito a argumentação por parte da defesa.

E eu o que tenho a dizer a isto é que o que se está a passar é uma vergonha e apenas lamento que os orgãos judiciais do meu país assistam passivamente a isto sem o impedirem, sem agirem como deveriam fazê-lo. Uma vergonha a todos os títulos - para a comunicação social, para a justiça.

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De resto. Puxo pelos meus fracos galões e permito-me dizer: dizem os outros e dizem os assessments a que tenho sido sujeita que não sou burra. Acresce a minha formação académica e a minha experiência profissional (pelo menos, parte dela). A lógica, a análise científica de hipóteses, a construção de modelos e a validação da sua aderência à realidade faz parte do que estudei e pratiquei. 

E é assente nestes alicerces que continuo a dizer: não tenho provas de que Sócrates seja culpado de corrupção. Também não sei se é inocente e espero que sejam os tribunais a decidi-lo. Mas, até prova em contrário, qualquer pessoa é inocente e como tal deve ser tratada. Suposições não são provas. Nunca na vida, em circunstância alguma, dou por certos raciocínios baseados em hipóteses não comprovadas. 
Posso desenhar raciocínios com base em intuições mas, atenção, a intuição não é divinação à toa mas, sim, um atalho nas deduções, chegando, a partir de sinais, à conclusão. 
Ora, neste caso, o que digo desde o primeiro dia é que, das suposições que ouço, nada concluo. Tanto podem fazer sentido como não. Inclino-me mais para que sejam delirantes e sem uma única prova que as suporte, apenas suposições cruzadas ou derivações umas das outras. Mas não sei. Para isso existem os tribunais.

Contudo, aqui ou ali há aspectos desconcertantes que me levam a admitir que, no meio dos mil tiros que a acusação atirou para o ar, alguns possam acertar em alguma coisa, quiçá até num prato que esteja de passagem. Mas isso se verá -- no julgamento (nos tribunais e não na praça pública, repito)

Posso ainda dizer que me deixa desconfortável a ideia de que Sócrates usava tanto dinheiro emprestado e que o pedia com tanto à vontade. Isso não encaixa na linha de conduta que gosto de ver em pessoas que respeito. No meio de mil suposições e acusações, isso é verdadeiramente o que a mim mais me incomoda. Mas, se for só isso, pode ser eticamente questionável mas crime não é.

Mais: tenho que dizer que conheço outros casos assim. Ainda há pouco, ao telefone com uma pessoa, referi casos que ambos conhecemos em que pelo menos duas pessoas e respectivas famílias viajam como nababos, passam férias como sultões e seguramente recebem empréstimos avultados de um amigo rico. E não sei, mas juraria, que não há cá contabilidades nenhumas entre eles. Portanto, sei que há casos assim e onde não há corrupção ou coisas estranhas nenhumas pelo meio: há apenas uma pessoa muito rica que gosta de fazer agrados aos amigos e amigos que não se importam de receber agrados, vivendo uma vida tão faustosa como o amigo que lhes paga todas essas mordomias. 

E do que sei isto passa-se por uma razão simples: o muito rico, se não fizer isto, acabaria por não poder conviver com os seus amigos já que eles não têm como partilhar despesas.

Portanto, dizer o quê sobre este aspecto em particular? Não digo nada.

De resto, e quanto a tudo o mais, o que digo é que a Justiça em Portugal tem mostrado ser uma perigosa anedota. E que é bom que deixe de o ser.

A inquisição já devia ser coisa do passado. 
Apedrejar pessoas até à morte é hábito que também não deveríamos querer importar.

Consta que, sempre, a turbamulta gostou de ver sacrificar até à morte aqueles que caem nas malhas das suposições; mas, enfim, gostaria de acreditar que, por cá, a turba já adquiriu alguns bons hábitos civilizacionais como, por exemplo, o de não praticar justiça popular. Mas não sei. A psicologia de massas explica muita irracionalidade e muitos crimes têm sido, ao longo dos tempos, cometidos em nome dos melhores propósitos. 

Portanto, que o Estado de Direito funcione é o que se espera. 

E Marcelo, sempre tão lesto a comentar tudo e mais alguma coisa e dar lições a propósito de qualquer pequeno evento, deveria agora chegar-se à frente e exercer o seu poder de influência junto das instâncias judiciais e, estando-se em domínios que são os seus, ter um papel pedagógico junto da opinião pública. Não pode nem deve ficar calado perante esta vergonha pública.

terça-feira, abril 17, 2018

Marcelo, um pinto calçudo no meio da realeza espanhola
Uma reportagem fotográfica da UJM, enviada especial ao serviço da ¡HOLA!


Bem. Estava eu a ir de carro quando ouço alguém a falar espanhol com um sotaque macarrónico. Apurei o ouvido. O converseio e a voz eram-me familiares. Pensei: 'Mas querem lá ver que agora já por aí anda a discursar em espanhol?' Exacto. Era mesmo. O nosso incontornável Marcelo estava a dar uma aula numa universidade em Madrid. Louvava a geringonça com todo o salero de que era capaz e com um à vontade de quem estava em casa. Pimbas. Espanha já no bolso.

E que à noite ia jantar com os reis, dizia o repórter. 

À vinda, ouço as notícias das oito. O Marcelo já estava no banquete.

Curiosa para ver a cena, fui ao site da ¡HOLA! e, olé!, já lá estavam. Marcelo como se, de novo, também em casa a distribuir charme. Dona Letizia, como sempre, apenas esboçando um ar de simpatia não vá o sorriso causar-lhe alguma indesejada ruga, e firme e hirta, o garfo ainda entalado no gasganete. Dom Filipe igual a si próprio, esfíngico, simpático e nulo.

Mas o que me chamou a atenção foi que alguém emprestou a farpela ao nosso Marcelo e ninguém se deu ao trabalho de ajustar as peças ao recheio. Calças largueironas e a cairem-lhes aos folhos pelos artelhos abaixo. Lá está. Em linha com o que dizia há pouco, se isto fosse festa de pobrezinhos, não faltaria quem lhe alinhavasse uma bainha, quem o fizesse andar para ver como ficava, etc, ninguém querendo que o pobre coitado fosse fazer má figura. Assim, toda a gente caguou para o pormenor (calma: não disse nenhuma grosseria, fui fina no trato, disse caguou): vai com as calças de rojo e vai fantástico.


A fralda também demasiado de fora mas, enfim, por um ou dois dedos a mais também não vou fazer caso. Agora as calças, senhores, no mínimo um número acima na barriga e um palmo a mais no tamanho.

Consta que a tiara da Rainha também é especial, um tal Diadema de Cartier. Coisa quase a roubar a atenção do arejamento que o vestido apresenta nas cavas.

Ana Pastor, então, foi mais longe e arejou os bracitos todos. Pelo ar da guapa señorita, o malandreco do Marcelo devia estar a dizer-lhe um piropo, deixando os senhores da direita da foto a fofocarem, meio incrédulos.


Pelo contrário, a senhora que ia com Mariano Rajoy (e que não creio ser a mulher mas, talvez, a sogra) vai bem agasalhada. Não se esmerou foi muito no penteado que aquilo mais parece o carrapito de uma minhota que se penteou à pressa, com um gancho de cada lado.


Quem avançou formosa e segura foi a Tejerina, mais concretamente Isabel García Tejerina, ministra da agricultura e das pescas. É ver o olharzinho encantado do nosso ministro Augusto Santos Silva, olhando a forma sinuosa do corpinho deslizando pela passadeira, todo ele com um sorrisinho de quem está a ensaiar uma boquinha filosófica para se armar ao pingarelho na primeira oportunidade.

E quem me parece ver ali com um traje meio estranho, saia justa em beige e camisa de renda preta com o cinto caído saia abaixo é a Teresa Leal ao Coelho, talvez na qualidade de Embaixatriz já que me parece ver a cara redonda do Embaixador a assomar por detrás da paisagem.


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E, dado o adiantado da hora, me quedo por aquí. As fotos são, como referi, da ¡HOLA!

Amanhã, com vossa licença, falo sobre a reportagem relativa ao Caso Sócrates. Não falei hoje porque quero deixar assentar. Prefiro servir a coisa depois de a ter assimilado, destilado, processado, whatever.  

E queiram continuar a descer que, já a seguir, tenho um grande texto sobre a Síria que vivamente recomendo. Não foi escrito por mim mas tenho pena: enviou-mo Leitor amigo que sabe da coisa.

Logo a seguir, tenho umas certas e determinadas Divinas, coisa com alguma transcendência.

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A questão Síria
-- a palavra a um Leitor que sabe do que fala --


A questão Síria e, nesse sentido, dos recentes ataques levados a cabo pelos EUA (como o apoio dos seus caniches europeus, como o R.U. e a França) explica-se de uma forma muito simples. Tem a ver com o projecto do gasoduto do Qatar, que quer os EUA, quer a UE, desejam, desde há algum tempo a esta parte, e que se estenderia dali até à Europa, passando entre outros países pela Turquia e…precisamente, também e sobretudo pela Síria. Os EUA, com o apoio subserviente dos seus aliados europeus actuaram mal, logo no início, ao tentarem pressionar o regime de Bashar al-Assad a aceitar a passagem desse gasoduto. Como Assad se negava a deixar passar esse pipeline pelo seu país, Washington passou a destabilizar o seu regime, desacreditando-o politica, diplomática e economicamente.

Uma das formas tentadas foi fazer crer que a Síria não só possuía armas químicas, como as utilizava contra o seu povo.

Já em 2007, 2008 e 2009 a Organização para a Proibição das Armas Químicas – OPAQ - discutia a questão Síria quanto às armas químicas. Nessa altura, conseguiu-se um compromisso do governo sírio, já com Assad no poder, para que desmantelasse os seus depósitos de armas químicas. Os sírios receavam sobretudo Israel, que possuía armas químicas e nucleares, mas que não as declaravam à OPAQ, porque, por sua vez, receavam a Síria e o Irão (que tinha deixado de as possuir, embora Telavive mantivesse reservas quanto a essa versão – que veio a provar-se ser verdadeira). O Irão deixara de as possuir. Recorde-se que o Irão foi vítima de um ataque de armas químicas perpetuado pelo Iraque, durante a guerra em que se envolveram. E quem apoiava o Iraque de Saddam Hussein, na posse de armas químicas, contra o Irão? Os EUA! Washington, por exemplo, nunca pressionou Israel a desembaraçar-se daquelas armas - químicas e nucleares. E os próprios EUA e a Rússia, nessa altura, possuíam ainda um enorme arsenal de armas químicas que iam destruindo progressivamente, acção essa supervisionada – parcialmente – pelos inspectores da OPAQ.

Ora, a Síria já nessa altura estava num processo de se ver livre dessas armas químicas. Estamos a falar de 2008, ou seja, de há uns 10 anos atrás.

Todavia, com a destabilização da Síria um par de anos depois, o governo de Assad passou a ter um menor controlo dessas armas químicas que acabaram parte delas em mãos estranhas, como os terroristas islâmicos, a CIA, opositores do regime de Assad, etc.

Entretanto, a destabilização da Síria foi levada ao extremo pelos EUA, após o regime de Assad manter a sua postura de não autorizar a passagem do dito gasoduto. A ideia do gasoduto do Qatar tem a ver com a redução da dependência da Europa do Gás proveniente da Rússia. Mas, Assad compreendeu que o passo seguinte depois de autorizar essa passagem seria a sua destituição e colocação em Damasco de uma marionete dos EUA, que naturalmente, permitiria, a troco de uns tantos milhões de USD, que o negócio viesse a cair nas mãos das grandes multinacionais ligadas ao petróleo e à exploração do gás, naquela região.

Para além de vir a perder o apoio político que recebia de Moscovo. Na altura esse apoio era ainda e apenas político (e de algum modo económico, através de alguns acordos bilaterais).

Após Obama ter decidido começar a retirar as suas forças armadas da região, onde se incluía a Síria, depois de alguns ataques aéreos dirigidos às bases do ISIS, Assad, que nunca confiou nos EUA e sabia que um próximo Presidente poderia vir a ter uma opinião diferente da de Obama, aprofundou os laços com Moscovo, que incluíam uma estreita cooperação militar. Como sucede até hoje (desde há cerca de 3 anos).

A Síria é xiita (como o Irão), ao contrário da Arábia Saudita, sunita, e nesse sentido muito mais liberal nos seus costumes. As mulheres não são obrigadas a andar de véu (hijab), têm uma maior liberdade no que respeita ao seu vestuário, podem conduzir, dirigir empresas, etc. Em comparação com o Irão, igualmente xiita, as mulheres gozam de uma maior liberdade na sua forma de estar e actuar na sociedade síria do que no Irão, igualmente xiita. Já na Arábia Saudita o cenário é radicalmente diferente, como se sabe. Este último é um regime reaccionário, ultra-conservador, fundamentalista, intolerante do ponto de vista religioso e absolutamente anti-democrático. E, como se não bastasse, Riad é o maior financiador dos diversos grupos terroristas islâmicos. Todavia, os EUA e alguns países europeus, como o RU e a França, mantêm bons e rentáveis negócios com o regime inqualificável de Riad, sobretudo no que respeita à venda de armamento (a Arábia Saudita é o principal importador de armamento do R.U e os EUA o maior exportador para Riad, desde armas, a equipamento militar, aviões, etc) e do petróleo.

Os sauditas, por incrível que possa ser, são também aliados de Israel (com o apoio dos EUA) naquela região do Golfo, pois partilham os mesmos inimigos: a Síria e o Irão.

Assim e deste modo, havia que criar um conflito artificial na Síria, como sucede desde há uns 7 anos e picos. E pouco importa (aos EUA e europeus) que o resultado seja aquele que é conhecido, por outras palavras, que as principal vítimas desse conflito sejam os civis, entre crianças, mulheres, idosos, etc. Para além da economia (gado, terras, indústrias, enfim todo um tecido económico de um país e a consequente ruína financeira), Washington tem-se empenhado desde então, na destabilização da Síria com acusações diversas ao regime de Assad, que estando longe de ser recomendável, está a anos-luz do da Arábia Saudita, por exemplo.

Os alegados ataques de armas químicas de que se fala e levou à justificação dos ataques recentes dos EUA deveriam ter sido inspeccionados pela OPAQ, com inspectores independentes, nomeados por aquela Organização e depois de devidamente autorizados pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. E ali, uma vez se concluísse existirem provas irrefutáveis de que a agressão fora levada a cabo, com a conivência de Assad, então sim actuar-se-ia em conformidade.

Mas, como sabemos, não foi isso que se passou. Os EUA, a França e o Reino Unido agiram sem um mandato das N.U e do seu Conselho de Segurança e nesse sentido actuaram à revelia do Direito Internacional. Como já tinha sucedido anteriormente.

As Nações Unidas hoje em dia estão desacreditadas. Pelo facto de 3 membros permanentes do Conselho de Segurança - EUA, França e R.U - agirem contornando-a e ignorando-a, e por Israel não respeitar nenhuma decisão das N.U, no que respeita às agressões que pratica na Palestina.

Em resumo, tudo isto não passa de um cenário bem montado, com fins propagandísticos. Fez-se uma manipulação dos factos e dos acontecimentos. A arte de bem enganar e ludibriar as pessoas e a verdade é hoje em dia uma das mais relevantes armas políticas das potências mundiais.

Por fim, este recente ataque à Síria teve também um segundo propósito: o de tentar intimidar Moscovo. Porém, tendo em conta a diminuta proporção daquele ataque, ao que se foi sabendo, é caso para nos perguntarmos, quem temia quem. Na verdade, a contenção do ataque acaba por revelar as muitas cautelas que quer Washington, quer os seus aliados europeus têm hoje para coma Rússia.

Como dizia e muito bem no seu Post, já somos suficientemente crescidos para nos deixarmos enganar e ludibriar.

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Este texto foi-me enviado por Leitor a quem muito agradeço