domingo, fevereiro 18, 2018

Recebi um mail da Autoridade Tributária a lembrar que o mato é para ser cortado mas, como aqui posso provar, já estamos a dar cabo dele.
Isto em dia de Congresso do PSD com as traições, bajulações e encenações típicas do mais do que ultrapassado mundo laranja.
E isto também em dia de confirmação do inqualificável Bruno de Carvalho à frente do Sporting.
[Este é mesmo um mundo cheio de coisas desencontradas, umas boas, outras burras e outras completamente malucas].


Senti que o meu marido se levantou ainda de noite. Voltei a adormecer. Passado um bocado veio dizer-me: 'O homem já lá anda'. Arranjei-me, tomei um rápido pequeno almoço e, armada com a máquina fotográfica, dirigi-me apressadamente para lá. 


Pelo caminho reparei no orvalho, fina rede de névoa sobre as folhas secas, entre ramos. Em Serralves, na véspera, tinha visto vários trabalhos de Marisa Merz cobertos por fina rede em tom acobreado. Pensei: mais bonito o acaso ou a ordem natural das coisas que depositou tão delicado e efémero tule sobre as folhinhas in heaven.

Quando cheguei lá ao fundo, ao pé do portão que dá para a serventia, tirei uma fotografia ao terreno do lado de lá, sabendo que provavelmente não voltaria a ver aquela barreira de vegetação. 


Fui ter com o homem. Ainda relativamente novo, alto e encorpado, e, percebi-o depois, cem por cento asssertivo. Disse-lhe: tente poupar as árvores. Resposta dele, com ar afirmativo: Vou tentar poupar as azinheiras maiores, algum carrasco que esteja mais enformado. Mas preciso de espaço para a máquina circular e para ir pondo o mato cortado. Andar a escolher árvore a árvore, só à mão e, para isso, vocês iam precisar de um ano. Ainda insisti: Mas tente não cortar o que puder ficar. Resposta dele: Vou fazer o melhor mas a lei diz 'árvores espaçadas de quatro em quatro metros' -- e lá foi ele à sua vida.

Fui ter com o meu marido, preocupada: acho que se prepara para deitar tudo abaixo. O meu marido tranquilizou-me: deixa-o trabalhar, esta malta sabe o que faz, e é bom que fique limpo para ser fácil de manter.

Ele estava a cortar, em pedaços para a lareira, os troncos grandes que tinha cerrado ao cedro e, depois, a arrumá-los no abrigo que fica a meio caminho; e eu fui podar árvores.

Passado um bocado, foi ver como estava a correr a limpeza e, na volta, foi ter comigo para me dizer: o gajo diz que o melhor é ir-se já queimando mato, diz que com a máquina vai controlando. Fui espreitar. O mato cortado era já uma montanha imensa. Receei. E se aquilo se propaga? O meu marido, que já tinha dito que sim ao homem, voltou a tranquilizar-me: o gajo sabe o que faz.


E logo se ergueu uma enorme labareda que crepitava intensamente. E, ao longo de todo o dia (e foram mais de dez horas de trabalho, apenas interrompidas à hora de almoço), ele foi pondo mato na fogueira.

Aos poucos, o terreno foi ficando desarborizado. O vizinho lá de baixo, que tem um terrreno muito grande e muito bem cuidado e que confina em parte com o nosso, também tirou a semana de férias e andou todo o santo dia de roçadora ao peito, limpando o terreno dele e pondo o mato na nossa fogueira. O vizinho lá do fundo da rua veio ver algumas vezes. Andava entusiasmado. Nunca tinha visto aquele terreno tão limpo, nem sabia que era assim. E apareceram dois homens (separadamente) que tinham sabido que estava ali uma máquina a limpar o mato e que queriam contratar o destemido condutor para ir limpar o terreno deles.

E digo destemido porque é mesmo destemido: meteu-se com a máquina numa zona de acentuado declive e fez para ali umas manobras que eu reecei que a máquina desse uma cambalhota lá para baixo. E, no fim, fez cavalinho com a máquina para sacudir a terra das lagartas.


Já anoitecia quando se foi embora. Enviei uma fotografia aos meus filhos. O meu filho respondeu: parece um deserto. Mas a verdade é que não desgosto. Os meninos vão gostar de brincar neste bocado de terra que parece que cresceu in heaven

Tal como O Jumento, tembém eu recebi um mail com uma comunicação do Ministério da Administração Interna e do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural sobre a necessidade de limpar os terrenos. Como somos donos de parcelas rurais, parece-me muito bem que seja emitido este alerta. Limpar os matos parece-me um dever cívico. Sempre o foi, não é de agora. Mas a verdade é que a falta de divulgação ou a falta de insistência pública ou a nossa pouca conscencialização colectiva, não sei ... parece que tudo convergia para que não nos apercebessemos do muito que temos a fazer. Tomara que toda a gente faça a limpeza dos seus pedaços. O pior é que, pelo que sei, metade dos terrenos não está cadastrada e, portanto, está ao deus dará. E é aqui que reside o problema. Ao contrário do que alguns débeis mentais pareciam pensar, as desgraças que aconteceram não foram da responsabilidade da Ministra Constança (que Marcelo forçou à demissão): os brutais incêndios do verão tiveram mão criminosa, foram fogo posto, e avançaram como lava sobre a vegetação ressequida num verão quente e seco como poucos, em terrenos de que, em parte, não se sabe a quem pertencem. Mas, enfim, a verdade por vezes é menos interessante do que novelas de tipo mexicano.


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Tirando isso, o Congresso do PSD. Caras gastas, ressequidas por muitos anos de caciquismo laranja. Do pouco que vi, várias figuras do pior que o cavaquismo e passismo tiveram continuam a ter todo o protagonismo. Até aquele insuportável Fernando Costa lá estava a botar faladura. Não se aguenta.


E os comentadores do costume a especularem sobre nulidades sem ponta em que se pegue. Tudo tão déjà-vu.

Montenegro a quem nunca se conheceu ideia que se aproveitasse resolveu fazer de conta que é um puro e, como se estivesse a bater a porta, avisou que vai ganhar a vida para outro lado. E logo ali se levantou um coro de espanto e, sobretudo, de tema para debate e comentário. 


Depois, oh suprema afronta, Rui Rio, essa fera, resolveu desafiar as hostes passistas e pescou a Elina Fraga para sua vice-presidenta, e isto depois de ela, quando bastonária, ter movido um processo ao Governo do Láparo e de ter feito a cabeça em água a essa ministra extraordinária que foi a exemplar Paula Teixeira da Cruz. Traição!, já gritou esta. E o inteligente Hugo Soares, apanhado de surpresa à saída da sala, mostrou que ainda nem está nele, até perdeu a pose de putativo estadista e, enquanto dava a entrevista, pôs-se a coçar a cabeça --  e a única coisa que lhe ocorreu foi dizer que a dita Paula foi do melhor que há. Então não, ó menino huguinho, inho, inho,

E isto tudo depois de Passos Coelho, ressabiado e mostrando que ainda não percebeu nada de coisa nenhuma, ter discursado sobre as vacuidades do costume e, de caminho, ter avisado que é difícil dizer mal da so called Geingonça. E depois de Santana ter elogiado Rui Rio, ao qual agora já detecta bastas virtudes e depois do dito Rui Rio ter elogiado o Láparo, que nunca houve tão grande e tão bom líder, que tudo o que fez fez bem feito,  e ter sossegado as virgens e as puras do seu partido, jurando a pés juntos que centrão nem pensar, que isso é coisa de anjos a pensarem em sexo. Talvez no encerramento da coisa até faça a vontade ao Hugo Alexandre Soares (a quem mimosamente gosto de tratar por Hugalex), e anuncie já que, ah leão!, vai votar contra o OE 2019. 


E, por falar em leão, parece que o inqualificável Bruno de Carvalho -- que envergonha todos os sportinguistas que conheço -- voltou a ganhar (não sei o quê) e que vai continuar a infectar o ambiente leonino. Não percebo nada nem de futebol nem do mundo do futebol. Diria eu, que conheço montes de sportinguistas e todos gente decente, que jamais uma criatura como este Bruno de Carvalho poderia ser presidente. E, no entanto, é.


Lá está: é bom a gente, de vez em quando, olhar para estas realidades para perceber que nesta vida tudo é relativo -- até as verdades. E que chatos, gente datada, burros, oportunistas, chicos-espertos e malucos é o que há mais.

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E pronto é isto. Permitam que vos recomende agora uma ida até à Flâneur, a nova livraria do Porto.

Flâneur, a livraria


Gosto de flanar. Sou do género turista acidental -- ver por ver, ao acaso, sem saber onde os passos me levam. Se vou passear para algum lugar, não sou do género de pessoa que, antes, se prepara exaustivamente, que estuda tudo o que há a ver, que sabe onde se come o quê e por quanto, que bate aos pontos os autóctones sobre a história de cada monumento ou edifício. Nada. Posso dar uma vista de olhos a vol d'oiseau sobre alguma informação mas não de modo a que, ao andar por lá, corra o risco de não estar disponível para ceder de improviso.

Flâner, em francês. Passear sem propósito, sem pressa.

Posso dizer que sou uma flâneuse. Com uma máquina fotográfica na mão para melhor atender aos pormenores ou aos ângulos de visão que proporcionam a melhor perspectiva, sem pressa, sem rumo, assim gosto eu de andar pelas cidades.

Assim também a ler. Leitora não estudiosa, não sistemática, sem nunca anotar nas margens, sem nunca aprofundar temáticas, sem dissecar frases ou temas para descobrir influências, sem sacrificar o prazer da leitura ao rigor da análise, sem a disciplina de leituras completas ou não evitando leituras intercaladas. Flâneuse também na leitura.

Foi, por isso, com imediata empatia que soube da existência de uma pequena livraria no Porto com esse nome. Flâneur. Um nome feliz para uma livraria de bairro no centro de uma grande cidade. Que é ao pé da Casa da Música, que é de um casal muito simpático, que é uma livraria muito tranquila, com um ambiente de livraria de bairro -- isto foi o que me disseram.



Almoçámos no restaurante da Casa da Música, uma comidinha boa, jazz por companhia, num 7º andar onde se acede ao terraço dos azulejos que ontem mostrei e de onde se tem uma bela vista sobre a zona da Boavista.


E, de seguida, estômago confortado, lá fomos. Ruas de pequenas casas, de pequenos prédios. Por detrás de uma das zonas mais centrais e movimentadas do Porto, está-se numa zona de ruas quase sem trânsito, muito pacata

De fora, mal se vê. O meu marido: 'Eu não disse? Deve ser daquelas coisas...Estou mesmo a ver.'. Não comentei para não estimular as piadas.

Foquei-me, antes, num poema escrito no vidro da porta. Manuel António Pina (que também tem lá dentro o 'seu' espaço).

A livraria é um pequeno espaço (pequeno se se comparar com as Fnacs ou Bertrands desta vida) mas um espaço luminoso, muito agradável. Há largueza, bom gosto e há, sobretudo, boa visibilidade para as obras expostas.


Sentada a uma mesa, a jovem que presumo que seja a Cátia e, ao balcão, de pé, o Arnaldo. Sorridentes, afáveis. Um ambiente zen.

Éramos os únicos clientes. Depois chegou um senhor que conhecia a livraria de um anterior espaço e que estava todo contente por vê-los ali, que estavam melhor, e por ver bicicletas, uma novidade. Vi depois, no site, que se pode encomendar livros e que, no perímetro do Porto e arredores próximos, é o Arnaldo que os entrega de bicicleta.


Enquanto cirandava pelas estantes, a Cátia analisava encomendas e validava com o Arnaldo se seria de oferecer ou cobrar os portes. O ambiente é, pois, naturalmente informal.

Estava à espera que o meu marido começasse a segredar-me que estava mesmo à espera que fosse uma coisa assim e que só eu é que meto na cabeça fazer tantos quilómetros para ver uma pequena livraria de bairro. Não gosta de estar em lojas em que somos os únicos clientes e em que, sabe-se lá porquê, parece que temos que sussurrar para não perturbar os vendeores. Mas, curiosamente, não disse nada e esteve a ver os livros.


Trouxe os livros que abaixo vos mostro, presumo que se trate de fundos de colecção já que os preços eram muito baixos. Paguei pelos cinco livros creio que trinta e picos euros. E de uma coisa poderão os meus Leitores estar certos: se eu morasse no Porto ou por lá perto, não deixaria de passar assiduamente pela Flâneur.


E daqui desejo as maiores felicidades à Cátia e ao Arnaldo: que a Flâneur se torne uma livraria de referência no Porto.

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sábado, fevereiro 17, 2018

Um homem acariciava o grande peixe que tinha ao colo
-- Isto na casa do lago, perto do prado onde uma vaca pastava tranquilamente como se não estivesse no meio da cidade --



No meio do lago, uma casinha de vidro. Escura. Lá dentro o homem tem ao colo o peixe grande. Afaga-o. O peixe recebe as carícias, respirando com alguma dificuldade. O homem abraça o peixe com ternura.

Digo: 'Que coisa maluca. E o peixe nem se mexe'. O meu marido responde: 'Querias o quê? Fora de água.'


À volta do lago, o jardim cresce para os lados e para cima, jardim bonito. Em alguns socalcos ele é oriental, noutros ele é francês, noutros ele é muito british e é perfumado e íntimo.

E lá mais ao fundo há um relvado mas não é relvado, que relvado é frescura de golf ou de jardim de princesa: aqui é erva, é pasto. E ao fundo há um celeiro. E a vaquinha anda descansada. Ela não sabe de trânsito nenhum, não sabe de prédios altos e de barafundas. Nem sabe de pinturas, esculturas, instalações, não sabe de peixes grandes ao colo de homens carinhosos ou tarados, não alinha nisso de discussões sobre o valor da arte. Sabe só que se está bem. 


Explico melhor.

Antes do jardim, houve o museu.  A exposição. Fotografei mas afinal tinha deixado o cartão no computador, as fotografias ficaram na máquina, e agora não tenho aqui cabos nem nada que me permita tirá-las de lá. 

De resto, também não ia falar. Não sou crítica de arte. Se gosto, falo, gosto de elogiar. Se não gosto assim tanto, prefiro não dizer nada. Não sou entendida e tenho que admitir que, se os entendidos e o 'mercado' em geral valorizam, é porque algum valor tem. E gostei de um ou outro. E assim-assim de outros. E nada de muitos outros mas isso é problema que é meu.
Espanto-me com a a gastação de prosa com que alguns mimoseiam outros. O Alf do Elogio da Derrota, que escreve bem que se farta e tem montes de graça e que é insolente de dar gosto, gasta a sua inspiração e talento em textos longos a criticar os críticos e os maus escritores, com isso cansando a minha beleza. O agora incensado Luís Miguel Rosa escreve textos chatíssimos, daqueles que parecem os discursos de oito horas do congresso americano, em que diz mal de meio mundo e onde, pelo meio, tece considerações em que mostra que é letrado -- e meia bloga cai-lhe aos pés; mas eu não que, se acho que a minha vida é curta demais para gastar um dia inteiro fechada no Louvre, imagina se ia gastar essas tantas horas a ler longas e chatas prosas (e agora até em inglês) do jovem que faz babar os eruditas e os eremitas e faz ranger os dentes ao Alf que não gosta de concorrência. Nem pensar.
Portanto, olha lá se ia eu, leiga e rústica, desdobrar prosa frouxa e ignorante para falar da obra de Álvaro Lapa. 
Mas dos trabalhos de Marisa Merz gostei de alguns. De outros não. Uns quantos têm qualquer coisa de Chagall. O meu marido é menos polido que eu. Disse dela: 'Uma vida inteira a fazer coisas para as quais não tem jeito'. Censurei-o. Falta de alma sensível.

Mas pronto, o gosto é subjectivo. 

Fomos para o jardim, que o jardim nunca desilude. Aí tirei fotografias com o telemóvel. Tão bonito. Olho agradada, com vontade que o meu heaven um dia seja assim, árvores a roçar o céu, tudo muito frondoso, verde e húmido, com obras rodopiantes ao vento, com uma ordem discreta e elegante.


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E só depois fomos à procura da livraria. 

Como este sábado temos que madrugar -- porque o senhor da máquina ameaçou estar a postos para limpar o terreno lá ao fundo, do lado de fora da vedação, logo ao nascer do dia (e claro que tenho que estar disponível para me atravessar caso pretenda arrasar mais do que o suposto) -- pode acontecer que apenas chegue à livraria durante o dia de domingo

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PS:

 Enquanto escrevia, passava na televisão a reportagem sobre o Rio Rio, o Passos Coelho e o Santana Lopes no congresso do PSD. Não vou comentar. E nem é uma questão de disposição. É que tudo aquilo me parece vazio, destituído de interesse, uma seca. Portanto, não estranhem que passe ao lado

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E caso estejam para isso, queiram, por favor, descer para verem parte do que os meus olhos viram durante o dia.

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Mais a sul. Ainda a norte.





Claro que fomos à livraria. Mas já lá chego. O meu marido ainda no caminho e já rogando praga: 'Sempre quero ver. Quando vens com coisas dessas, já se sabe.' Também pensei que sim, que podia não ser nada por aí além. Mas só pelo nome já merecia uma visita. Não é fácil de explicar. Fazer tantos quilómetros só para conhecer a livraria que tem tal nome. Pode uma palavra chamar assim por nós? Por mim pode. O meu marido já tinha desistido, à partida já dava o tempo por perdido. Mas, enfim, também faz parte da maneira de ser dele. No fundo gosta de andar nisto, a descobrir coisas comigo mas sempre a gozar, acha que sou 'marada'.

Mas, para mim, o pior aqui é mesmo o trânsito. Tantas vezes que aqui vim, tantas, tantas vezes em serviço sem tempo para turismo, e nunca fui capaz de vir eu a conduzir. Não consigo vencer o receio. Acho que me perdia (apesar do GPS). Acho que me batiam no carro, acho que, com a atrapalhação, sem perceber as orientações do GPS, causava congestionamento. É que aqui andam todos sem cuidado, muito rapidamente, entra gente por todos os lados, há cruzamentos de metro a metro e ninguém abranda. Não me arrisco. Nem pensar. Mesmo indo ao lado, confundo-me. Só me oriento se andar a pé e com um mapa de papel na mão. Mas isso já não há. Agora é com o telemóvel a guiar-me os passos. Mas a imagem deita-se e fico sem saber se estou a ir bem ou ao contrário.

Mas, tirando isso, é bom. É sempre bom.

E vou andando, sempre turista, sempre a apreciar cada bocadinho. E sou atraída pelo graffitti, pela luz do corredor, pelos azulejos do terraço, pela nesga de casa onde se vendem legumes, pelo quintal que parece o da minha avó. No meio de tanta obra de arte, de tanta arquitectura e tanta coisa importante, logo o meu olhar se detém em fragmentos. Fragmentos luminosos, momentos radiosos. O tempo veste de tons cinza mas eu vejo o dia brilhando de luz.








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Até já.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2018

O mar em Vila do Conde
[Último de sete posts sobre Vila do Conde]





Terei que voltar a Vila do Conde. 

Já o contei algumas vezes. Quando penso num lugar ao qual tenha sempre vontade de voltar, penso em alguns de que muito gosto (penso, por exemplo, em Honfleur, penso em Saint-Malo) mas, de entre aqueles em que já estive algumas vezes e sempre neles me sentindo em casa, penso em Donostia (San Sebastian). Sinto que aquela a cidade poderia ter-me acolhido, não fora eu ter criado raízes um pouco mais a ocidente. Gosto de nela andar a pé, gosto de andar rente ao mar, gosto da cidade em si, de nela passear, gosto de lá estar. Gosto mesmo muito. Por algum motivo que não sei bem explicar, sinto que é uma cidade feliz.

Mas agora que vislumbrei a maravilha que é Vila do Conde, penso que terei que lá estar de novo, com mais tempo e que, na minha cabeça, qualquer movimentação de preferências se começou a desenhar. Aquela casa rente ao rio, da qual se desce mesmo até à água, ou aquelas casas mesmo à beira do mar de onde se há-de ouvir o rugido e aspirar a maresia --- que bom deve ser viver lá. Se eu conseguisse descobrir maneira de passar uns dias numa casa assim. O meu marido até ficou com ideias, a medir distâncias. Mas é longe para se poder ir e vir com assiduidade. 


Quando se pensa que se conhece o que de melhor o País tem, chega a prova de que nem pouco mais ou menos e de que o que não é mais divulgado não quer dizer que seja menos bom. É certo que é bom estar num lugar assim -- virgem, cuidadíssimo, sem tuc-tucs, sem adolescentes a arrastar a mala de rodinhas, sem hordas de asiáticos com paus de selfies a filmarem-se em permanência ou espalanadas a rebentar de jovens que exprimem a sua extroversão noutras línguas -- mas o que me ocorre logo é que é pena que Vila do Conde não esteja mais divulgada para que mais pessoas possam desfrutar a sua imensa beleza.

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E a velar pela protecção dos que se fazem ao mar, a Nossa Senhora dos Navegantes


(Mas não são apenas as Caxinas que são abençoadas, é toda a cidade de Vila do Conde).

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E queiram continuar a descer caso vos apeteça passear em Vila do Conde

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Gentes do mar das Caxinas
[Ainda em Vila do Conde. 6º de sete posts sobre esta cida maravilhosa]


Caminhada à beira mar. Hoje não chove. Cheira muito a maresia. O mar está forte, bate com força nas rochas e as Casas dos Pescadores estão cheias de homens. 

Há gente a correr ou a fazer caminhadas no generoso passeio que corre ao longo das praias. Vejo casas muito bonitas, com uma esplêndida vista sobre o mar. 

Gostava de poder ficar cá mais tempo.












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Queiram descer que abaixo há mais cinco posts sobre Vila do Conde.

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Vila do Conde, belíssima, belíssima cidade
[Quinto de 7 posts]


Sim, Paulo, é verdade, ando pelas Caxinas. Com o tempo contado, nunca com vagar para desfrutar demoradamente aquilo que se quer, viémos espreitar para saber como era essa tal Vila do Conde julgando que se daria uma volta de carro, outra a pé, e estaria vista. E afinal, aqui chegados, descobrimos, com espanto, a maravilha que é esta bela cidade.

Estávamos com o tempo cinzento, chuva, a atravessar a ponte e o meu marido disse que, de repente, lhe tinha feito lembrar Paris. Percebi mas, a mim, fez-me lembrar as cidades do norte de Espanha. Lembrei-me de Donostia (essa cidade que amo de coração). Mas, na realidade, não tem que fazer lembrar nada para ser considerada como é: uma preciosidade. E é uma cidade tão bonita, tão bem cuidada, tão harmoniosa, com uma conjugação perfeita entre o histórico e o contemporâneo e, ao mesmo tempo, com uma localização geográfica tão afortunada que juro que só me sinto intrigada por, até agora, nunca ninguém me ter falado nesta maravilha. Ou se falou não falou com a veemência evida porque, se o tivesse feito, eu teria prestado atenção.

Só o A.C., Leitor deste blog e devoto desta terra, o fez tendo-me deixado com a pulga atrás da orelha. Mas não me preparou para a beleza da sua cidade, talvez por modéstia, talvez para não macular a minha surpresa.

Portugal é um país lindíssimo, não me canso de o dizer, e só causa impressão é que não seja mais louvado, mais enaltecido, não só junto dos potenciais turistas (e há que não esquecer que o turismo é das actividades que mais facilmente revitaliza e enrija uma economia pois é uma injecção líquida de dinheiro e um motor de criação de emprego) mas também junto dos próprios portugueses. 
Quantos dos que me estão a ler conhecem Vila do Conde? Quantos dos que não conhecem, sabem o que estão a perder?
Por isso, pela parte que me toca, aqui fica o apelo: quem possa, não deixe de vir visitar Vila do Conde. Hotéis a bons preços e, do que já experimentei, comida boa, em bons restaurantes e a bons preços. Paisagens lindas. Não vi ninguém a surfar mas capaz de também se fazerem umas boas ondas. Praia agora só para ver (lindas!) mas no verão também, certamente, para aproveitar o sol e o mar. Presumo que canoagem no rio e vela também não faltem. Passeios pelo campo ou caminhadas à beira rio ou mar deve ser o que se quiser.  Motivos para fotografar são aos montes. Pastelarias com óptimo aspecto, idem. Enfim. Um lugar para passar férias do melhor que há. Presumo que para viver, então, nem se fale. Um privilégio para os que têm essa sorte.






















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E vão descendo. Há mais 4 posts sobre esta cidade maravilhosa.

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E lojas muito bonitas, muito bem arranjadas, com muita pinta...
[Quarto de 7 posts sobre Vila do Conde]


Não posso dizer que, o que vi, tenha achado a bom preço. Por acaso, não. Sempre que alguma coisa me chamou a atenção e aproximei o meu olhar crítico, achei puxado.

Até o meu marido que não é dado a compras, ao passar por uma loja com roupa de homem com muito bom ar, se aproximou para ver melhor e, de seguida, logo se afastou: 'Uns preços...'. De facto. Mas, na volta é bom. Quero dizer: se calhar, ainda bem que assim é. Desestimula o consumismo. Em Lisboa com zaras, mangos, parfois e quejandas... e tudo giro e barato... havendo poder de compra e ocasião para usar, até custa deixar para trás. 

E digo isto de haver ocasião para usar porque penso muitas vezes que, um dia em que eu deixe de trabalhar e passe a ter uma vida mais doméstica e pacata, pura e simplesmente deixo de comprar roupa e bijuteria. Para usar onde? Em casa? Para ir fazer uma caminhada? O que tenho chega-me bem até ao fim dos meus dias e isto mesmo que viva para lá dos cem. É como com livros. Nem que viva outro tanto relativamente ao que já vivi até hoje, acho que não daria lidos todos os meus livros. Mas aí acho que vou continuar a comprar porque ler é alimento e estimulo a viver ainda mais e melhor e custa a gente fechar a porta da cabeça a alimento fresco e variado. Agora a porta da vaidade fecha-se sem pestanejar. 

Mas, enfim, isto para dizer que com valores como os que aqui se praticam as pessoas têm que pensar duas ou três vezes antes de comprar só porque sim.

Mas é um regalo para os olhos, lá isso é.








Uma terra tão bonita com casas tão bonitas
[Terceiro de 7 posts sobre Vila do Conde]


Ao telefone com a minha filha, percebi que ela, tal como eu até há pouco tempo, não sabe bem onde é. Para o pé do Porto, não é? Sim, acima. Mas assim tão bonito? Sim, lindo. Nunca tinha ouvido dizer. Com um rio, com mar. Mar? Sim, mar, mar bravo, lindo.

Antes ao telefone com o meu filho a mesma coisa. Acha que não conhece, não tem ideia. E com a minha mãe também. É bonito? Lindo. Vê lá, quem diria. Pois, lindo. 
Choveu todo o dia, por vezes com alguma força. Algumas fotografias contêm a prova disso. Sabia que tinha um chapéu de chuva no carro. Achámos que apenas um bastava pois ambos pensámos que este era um grande que temos. Afinal não, este é um chapelito. Preto, com varetas azuis escuras e com um cabo fininho também em azul escuro. Mas com tamanho de sombrinha de boneca. Ainda não o tinha usado. Ofereceram-me. Bonito, muito elegante, todo moderno e ergonómico. Disse o meu marido: preocuparam-se com paneleirices e esqueceram-se do mais importante: que era suposto que tapasse da chuva. (Desculpem-lhe o vernáculo). Portanto, agora andamos os dois debaixo de um chapéu de chuva onde mal cabe um. Portanto, tirar fotografias com a lente a seco é acrobacia fora das minhas competências.
As fotogafias, por isso, não fazem justiça à maravilha que é esta cidade. As minhas desculpas.
Os edifícios muito bonitos, alguns reabilitados com arquitectura contemporânea de grande qualidade. E convivem casarões com casas mais modestas, jardins, muralhas. 

É uma cidade com ruas generosas, onde os carros ainda não são donos e senhores, onde há ainda jardins e quintais nas zonas centrais, onde há alamedas largas e serenas.  
















Ouçam o que vos digo: venham visitar esta cidade. É mesmo uma maravilha.