quinta-feira, novembro 26, 2015

João Galamba vê-se cercado por João Almeida do CDS (formado em Direito), Miguel Sousa Tavares crítico do novo governo do PS (também licenciado em Direito) e José Gomes Ferreira, alter ego do Láparo (formado em Comunicação Social mas que se arma em Economista). Os três, à uma, atacaram, forte e feio, o João Galamba pelo que o Governo do PS ainda não fez em matéria de Economia (matéria em que ele, João Galamba, é formado)


Eu, se fosse ao João Galamba, não aceitava mais participar num número destes. Não é que não tivesse chegado para aqueles três que falam, alto e bom som e com o maior dos à-vontades, de matérias sobre as quais não estão habilitados - só que estava tão em minoria que mal o deixaram falar. De resto, com a falta de conhecimentos que têm na matéria, mesmo que ele tivesse conseguido exprimir-se capazmente, também não o teriam percebido. Nem estavam ali para o ouvirem mas, tão só, para se auto-ouvirem.

Pasmo com os critérios que presidem à escolha dos comentadores para estes debates que mais parecem um circo. Esta comunicação social atenta contra a isenção da informação e, por tabela, contra os fundamentos da democracia, ao atirar para cima dos telespectadores tanta conversa balofa, tanta peixeirada, papagaiadas, bruá-ás, bla-bla-blas - em suma, desinformação em forma de espalhafato mediático.

Toda a conversa (pelo menos na parte a que assisti) girava em volta dos cenários macro-económicos previstos no que será o programa do Governo do PS. Ora, ainda o Governo não entrou em funções e já a SIC está a atirar três que são do contra às canelas dos socialistas - neste caso, 3 contra 1, uma coisa ridiculamente desigual.

E depois há aquele fala-barato que, com ar de esperto, fala como se percebesse alguma coisa que diz. Quem não o topasse pensaria que, dando-se aqueles ares, estaríamos perante um economista falhado. Mas, qual quê?, qual economista? Leio na Wikipedia o seguinte:
No seu tempo escolar, José Gomes Ferreira auto-caracterizou-se como "um aluno mediano a Matemática. Até tinha dificuldades para perceber equações"
Ora bem. Enquanto estudou matemática (não economia mas matemática, que é um dos principais pilares da economia) o artista em causa nem percebi equações -- e agora já se lhe meteu na cabeça que tem competência para discutir cenários macro-económicos.

O único ali que percebia de economia (e de contas) era o Galamba. Mas viu-se cercado por aqueles três que, sem saberem do que falavam, largavam 'bocas' de toda a espécie, acusando-o nem se sabe de quê.

Será que na SIC ninguém se enxerga? Ninguém percebe que gente destas e espectáculos pimbas destes afastam os telespectadores?

Quanto a João Almeida do CDS, coitado, acabado de sair de um desgoverno falhado, não se pode esperar muito dele e o Miguel Sousa Tavares, não sei se por efeito da influência mulher se do compadre, parece que anda um bocado confundido. Depois de criticar anos a fio o governo PSD e CDS agora parece que está com saudades. Diz-se e contradiz-se sem grande coerência, uma conversa quase desarticulada.

Uma desgraça, esta televisão. Não tirei fotografias deste circo porque estava a jantar.

No post seguinte já falo do que apanhámos no outro canal quanto fugimos a sete pés da SIC: um outro número rocambolesco.

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Entretanto, enquanto acabo de escrever isto, o meu marido pôs-se a fazer zapping e não é que foi dar com o mesmo José gomes Ferreira a entrevistar o Catroga...! Imaginem bem quem ele foi desenterrar...? 


Aquele Cavaquista empedernido -- que se pela por dinheiro como macaco por banana -- para ali está a papagaiar a narrativa que os pafs inventaram, e o outro a babar-se enquanto ouve a história da carochinha pelo troca-tintas-mor que se andava a gabar que o programa da troika quase tinha sido feito por ele para depois, quando a coisa deu para o torto, lavar as mãos como se nem soubesse de que é que se estava a falar. Pois bem: foi este sujeito -- que vai para onde for preciso desde que ganhe o dele (e que seja qualquer coisa com muitos zeros à direita, que ele gosta de ter as continhas bem recheadinhas) -- que a SIC foi buscar para aqui estar a causar orgasmos mentais ao José Gomes Ferreira. Não há paciência. Qualquer dia faço com a SIC o mesmo que fiz com o Expresso: nem mais um tostão para o Balsemão. 

quarta-feira, novembro 25, 2015

António Costa: Primeiro Ministro de um Governo PS com o apoio do BE e do PCP. Chegou a hora da esquerda.
Enfim duma escolha faz-se um desafio, enfrenta-se a vida de fio a pavio, navega-se sem mar, sem vela ou navio, bebe-se a coragem até dum copo vazio.
E vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida






A principio é simples, anda-se sózinho
Passa-se nas ruas bem devagarinho
Está-se bem no silêncio e no borborinho
Bebe-se as certezas num copo de vinho
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
Diz-se do passado, que está moribundo
Bebe-se o alento num copo sem fundo
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


E é então que amigos nos oferecem leito
Entra-se cansado e sai-se refeito
Luta-se por tudo o que se leva a peito
Bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
Olha-se para dentro e já pouco sobeja
Pede-se o descanso, por curto que seja
Apagam-se dúvidas num mar de cerveja
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Enfim duma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar, sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
E outra maré cheia virá da maré vaza
Nasce um novo dia e no braço outra asa
Brinda-se aos amores com o vinho da casa
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

......

Até agora, António Costa mostrou ser um jogador implacável. Muitas vezes aqui o censurei por, ao longo do período que mediou a sua eleição para liderar o PS e as eleições para as Legislativas parecer adormecido. Não se via o PS. Os PàFs punham e dispunham e o PS nada. Os PàFs, com arrogância, saltavam em cima de um PS que parecia apático -- e os eleitores iam-se desvinculando e aderindo a um BE que nos aparecia lutador e determinado. Os socialistas pareciam desaparecidos. Apenas António Costa aparecia e, ainda assim, pouco. Depois, a própria campanha eleitoral foi um desastre, a começar pela pirosice e amadorismo dos cartazes, pelas gaffes, pela falta de ânimo e de organização.

As sondagens iam mostrando o impensável: quando haveria condições para mostrar ao PSD e ao CDS que o descontentamento era total, o PS fraquejava, incapaz de capitalizar esse descontentamento, incapaz de descolar.


Na noite das eleições fiquei francamente desanimada. O PS não conseguiu ser o partido mais votado já que essa maioria foi para os PàFs, embora uma maioria relativa. A maioria dos eleitores tinha mostrado que preferia uma alternativa à política de destruição levada a cabo por um governo incompetente e composto por gente impreparada e servil face aos 'mercados' mas os votos tinham-se dispersado pelo PS, PCP e BE. E, para mim, face ao historial de anos e anos, jamais as esquerdas teriam a elevação necessária para se unirem com vista a vencer aqueles que combatiam e que tão mal tinham feito ao País.

Contudo, nessa noite, estranhei o tom sereno e bem disposto de Costa e percebi que estava longe de se preparar para atirar a toalha ao chão e entregar os pontos. Vi-o animado como nunca o tinha visto na campanha. O seu sentido de humor, a sua inteligência, a sua capacidade de pôr uma máquina em movimento estavam ali, inteiras. Parecia pronto para se pôr em marcha. 

De seguida, nessa noite, Leitor que muito prezo enviou-me a imagem aqui ao lado e disse que o cavaleiro não estava derrotado -- pelo contrário, já estava pelejando já que não era qualquer um que metia medo a cavaleiros endurecidos por batalhas anteriores. Gostei de ler. Animou-me.

Pouco depois, para minha absoluta surpresa, Jerónimo de Sousa deu o tom: o PS teria condições para formar governo. Já antes, na campanha, no debate com Costa, Catarina Martins tinha mostrado idêntica abertura.

E isto mudou tudo. Tudo. Inesperadamente o jogo virou.

A partir dessa altura, António Costa foi de uma eficácia tremenda. Admito como provável que, já antes das eleições, tivesse havido conversas entre eles mas, seja como for, o que sucedeu em Portugal daí para cá foi inacreditável. Contra uma direita em histeria e para quem valia tudo, contra um presidente pequenino, muito pequenino (e não o digo no sentido mignon do termo: digo-o referindo a sua mesquinhez, mediocridade, bairrismo bacoco), contra uma comunicação social minada, contra os cépticos e medrosos do seu próprio partido, António Costa seguiu em frente com uma firmeza e serenidade a todos os títulos notáveis.


Em todo este processo, é de salientar a inesperada e corajosa posição do PCP. Uma reviravolta destas poderia macular a sua identidade e a sua idoneidade. Contudo, Jerónimo de Sousa tem credibilidade, tem uma inteligência prática e a elegância de um príncipe.  Conseguiu uma inflexão no rumo do PCP que mostram que tem uma personalidade superior. Percebeu que o interesse do país e a própria sobrevivência do partido se jogavam nesse momento e, com uma capacidade de liderança formidável, imprimiu honorabilidade a este processo e é essa honra que transparece na atitude destes comunistas que garante o empenho que vão ter no apoio a este governo.

Quanto ao Bloco de Esquerda, Catarina Martins conseguiu a proeza de atrair, como um pára-raios, a esquerda criativa, lutadora, sem lastro do passado. Arguta, empática e decidida, os debates em que participou mostraram uma mulher bem preparada, aguerrida. E depois há Mariana Mortágua: uma fera na argumentação, voz baixa, temível. Prepara-se para os debates como poucos. Tem qualquer coisa de animal feroz. Aquele killing instinct que transparece em Sócrates, tem-no ela também. Li que Francisco Louçã e João Semedo assessoraram Catarina Martins e, portanto, estão igualmente de parabéns.


Uma esquerda assim é uma mais valia num país débil como Portugal. Assim consigam sempre manter-se unidos contra o capitalismo de casino, selvagem e desregulado, unidos a favor da industrialização e do relançamento sustentado da economia, do emprego, do desenvolvimento, do conhecimento, unidos na defesa da igualdade de oportunidades, na defesa dos mais desprotegidos, unidos na luta contra o envelhecimento, o desemprego, a emigração, o abandono escolar, unidos na defesa da cultura, do património e dos recursos naturais do país, unidos a favor de uma justiça célere, digna e justa, unidos na defesa pelo respeito e pela dignidade das pessoas. Assim saibam colocar sempre os interesses de Portugal acima dos interesses dos seus próprios aparelhos partidários.

Aqui estarei para os criticar quando achar que estão a pisar o risco, aqui estarei para os louvar quando achar que merecem.

Até ver, acredito que o Governo tem condições para ser um bom Governo. Há dois ou três nomes que me surpreenderam e não pelos melhores motivos mas talvez esteja enganada, não os conheço bem. Há dois ou três que me surpreenderam e pelos melhores motivos. E os restantes são sólidos, à prova de bala.

Gostaria de lá ver mais mulheres mas não é por se ser homem ou mulher que se é melhor ou pior (e nem sei se não terão sido algumas das sondadas que não se mostraram disponíveis -- que isto de estar ao serviço sete dias por semana, de manhã à noite, não conseguindo prestar apoio doméstico e familiar, não é para qualquer uma e, neste ponto, também ainda há grandes diferenças entre sexos)
Uma nota de rodapé para o diminuído presidente Cavaco. Nem no momento de indigitar António Costa conseguiu estar à altura. Todo o texto revela um mau perder indigno de uma pessoa que ocupa um lugar destes. Em vez de indigitar diz que indica e fá-lo desculpando-se com as opiniões dos outros. Mas sobre tão triste figura nem me apetece já falar. Não tarda vai-se embora e passará pela vergonha de sair rasteiramente pela porta baixa.
Mas como dos fracos não reza a história, esqueço o pequeno cavaco. 

Agora quero é desejar a António Costa e a toda a equipa governativa boa sorte e que preservem sempre a capacidade de perceber o que mais importa para o futuro do País e que tenham juízo, firmeza, presciência, elevação, tolerância e capacidade de negociação e, a toda a hora, respeito e amor pelos portugueses e por Portugal.


É tempo de abrir as asas - chegou a hora de voar. Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas.

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  • Obtive as fotografias no Bored Panda. 
  • A canção lá em cima é, como é bom de ver, O primeiro dia do Sérgio Godinho. 
  • Guilherme Gomes diz e realiza O Mostrengo de Fernando Pessoa 
  • Queria ter encontrado um vídeo mais longo do One Thousand Pieces, e sem os dizeres apologéticos, mas não descobri. Fica este mesmo porque, pela beleza, pela criatividade e pelo harmonioso trabalho de equipa queria tê-lo aqui. A companhia é Hubbard Street Dance Chicago, o coreógrafo é Alejandro Cerrudo e a música é de Philip Glass
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, saúde, sorte e muita alegria. E esperança.


terça-feira, novembro 24, 2015

As respostas de António Costa às seis questões de Cavaco Silva. Olha a noiva se não vai linda (não me deslargues), com lingerie assimétrica.


O Um Jeito Manso adere à prática corrente de usar gatinhos para despistar os cavaquistas.
Uma vez que a onda é a de temer os maus hábitos comunistas, cá está um gatinho que, por ser comunista, em vez de dizer miau diz mao.
Grave, diria Aníbal, como pode esta gente querer apoiar um Governo se nem miar sabem?!

E vamos com música que vamos melhor.

Olha a noiva se não vai linda!

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Tal como referi no post abaixo, António Costa, mostrando uma vez mais que é rápido no gatilho, já respondeu a Cavaco Silva. O documento ainda é sigiloso mas aqui a jeitosa, com os seus dotes paranormais, conseguiu conhecer as respostas e, zelosa que é do seu dever de informar, aqui delas vos dá conta:

Transcrevo de seguida parte do documento da Presidência da República (a bold, pela sua importância), escrevendo, em itálico, debaixo de cada questão, as respostas de António Costa.

Nesse sentido, o Presidente da República solicitou ao Secretário-Geral do Partido Socialista a clarificação formal de questões que, estando omissas nos documentos, distintos e assimétricos, subscritos entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes”, suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura:


a) aprovação de moções de confiança;

Não se percebe qual é a dúvida. O Estimado Senhor Presidente quer que se clarifique concretamente o quê? Como definimos 'moções de confiança'? Se vamos apresentar moções de confiança ao Governo? Se vamos votar favoravelmente moções de confiança que os PàFs apresentem? Não percebemos. Cá estaremos para o elucidar, Estimado, mas tem que explicar melhor o que quer saber. 

b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;

Uma vez mais, Senhor Presidente: o que quer saber? Se o PCP e o BE vão aprovar o Orçamento que o Governo do PS vai apresentar para 2016? Vão, sim senhor, pode estar descansado porque já está praticamente pronto e foi alinhavado na sua presença. Afinal eles são o padrinho e a madrinha da noiva: assistem à prova do vestido do casório. Quer a Excelência também saber se vão eles aprovar também os orçamentos daí para a frente? Pois, é quase certo que sim já que, não sendo nós uns totós, trataremos de nos articularmos entre nós para que os ditos mereçam a concordância de todos. Mas, se não aprovarem, quem lhe garante a si, ó Excelência, que os novos líderes do PSD e do CDS não os aprovarão também? Ou acha que estes artolas aí se vão aguentar à frente dos partidos? É o vão. Vai uma apostinha...? Por isso, quer futurologia para quê, ó Estimado? 
Mas, conte lá, o que é que verdadeiramente receia, ó Excelência? 
É que de uma coisa pode estar certa, ó Excelência: é que a gente vai respeitar a Constituição. Não somos como uns e outros de que nem precisamos de dizer o nome...

c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;

Not again, Mr. Presidente... Mas isto é lá enunciado que se apresente? Então não há verbos nas suas frases? Quer saber o quê? 
Se o PCP e o BE amam de paixão aqueles tratados todos? Mesmo aquele que a França e, se calhar, a Alemanha vão incumprir? Os que não tarda vão ser ajustados à realidade? Não será altura de cair na real, ó Excelência...? 
Mas pronto, se quer que eles digam que o coração até lhes salta do peito, tanto o amor que sentem por aqueles tratados, pois eles dizem que sim. 
Aliás, mandam-me dizer: 'O PCP e o BE vão cumprir aquilo tudo melhor, mas mesmo muito melhor, que os calinas pafientos, que não foram capazes de cumprir um. Sua Excelência, El-PAF Cavaco, que veja as performances da Marilú ou do Gaspar...'

d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
Pronto, desisto. Mais uma pseudo-questão. Quer trazer a NATO para cima da mesa, certo? Qual perú na mesa de Natal? Cheira-lhe a presépio, não é Estimado Aníbal? A sua feliz consorte já deve andar a apreparar a árvore e os enfeites de Natal, não? Pois, está bem, a gente desculpa - já é por pouco tempo e o nosso coração é grande. Quer que a gente fale da NATO. Pois aqui os meus amigos dizem que acham que, à luz da realidade actual, a NATO já cheira a mofo. Mas se a Excelência, que tem ar de se perfumar com naftalina, quer que eles digam que estão desertos por verem o Tejo cheio de barquinhos da NATO, pois eles dizem. Esteja lá descansado com isso, ó Senhor Presidente. 

e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
Bolas, Estimado Presidente. Assim não é fácil. Tenho que adivinhar o que a Excelência quer saber? Quer saber o quê? Se o PCP e o BE aceitam que o PS fale com o patronato? Então não hão-de aceitar... Já se deixaram de esquisitices. Quer a prova disso? Olhe esta: imagine como eles já estão por tudo... até aceitam que eu, António Costa, perca tempo a falar e a escrever a V. Excelência. Não é que não lhes apeteça, tal como me apetece a mim e a toda a gente com dois dedos de testa, dizer a Vossa Excelência que, com todo o respeito, vá dar banho ao cão - mas os comunistas hoje em dia, Excelência, já têm boas maneiras. Por exemplo, depois de comerem as criancinhas ao pequeno-almoço, até limpam a boca, lavam os dentes e, imagine, até usam fio dental (elas, claro; eles, apesar de tudo, são mais conservadores, e - sem ofensa! - usam fio dentário).

f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.
Bom... Esta tem que se lhe diga... Esta dava mesmo muito pano para mangas, ó Estimado Cavaco... Sabe alguma coisa que a gente ainda não saiba? Conte tudo. 
Desta vez o Carlinhos avisou-o a tempo? Está mais algum banco para rebentar? Conte, conte...!
Ou é o Novo Banco (o tal que, quando era BES, V.Excelência afiançou ao País que era solid as a rock), que, afinal, continua a sorver dinheiro não se sabe para onde e os contribuintes vão ter que suar mais um bocadinho para pôr lá mais uma pipa de massa? 
Ou não é isso? Quer que a gente se comprometa a não mandar averiguar aquela cena das acções da SLN e do seu enriquecimento espectacular com as acções do Grupo a que pertencia o banco dos seus amiguinhos? 
Mas, seja lá o que for, ó Presidente, sobre esta vai ter mesmo que dizer o que quer saber, que esta a gente não atinge. Até o Professor Marcelo, o seu putativo sucessor, ficou incomodado com este seu estranho e insólito pedido, achando de mau tom que o PR esteja a levantar suspeições sobre matéria tão sensível. Está certo que ele é aquele catavento que se conhece mas, ainda assim, veja lá isso, ó Senhor Estimado.
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E eu daqui lanço agora uma sugestão a António Costa. Envie uma adenda, Sr. Futuro Primeiro-Ministro Costa, a pedir explicações ao Cavaco sobre aquela boca de ele dizer que os vossos acordos são assimétricos. Qualquer coisa nesta base:
Mas, permita-me ainda, ó Excelência: o que é lá isso de falar nesse tom depreciativo da assimetria dos nossos acordos? Tem alguma coisa a assimetria? Ai, querem lá ver que temos que nos aborrecer e abrir já aqui um conflito institucional? Ai, ai, ai.
Pois fique a saber o seguinte:


E já que ele gosta de empurrar com a barriga, colocando questões mal formuladas só para ver se a malta escorrega nas cascas das bananas grandes e saborosas que ele gosta de deglutir e que deixa espalhadas pelo chão, apresentem-lhe esta -- e ele que, na próxima audição, lhe apresente a si, Caro Dr. Costa, um documento clarificador sobre esta magna questão. A ver se ele se safa...!

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De resto, aqui, eu, Jeitosa Mansa, faço uma declaração: não acho nada mal a assimetria, nomeadamente na lingerie. 

Por isso, aceite, Caro Dr. António Costa, mais esta minha sugestão: que tal levar ao Estimado Dr. Cavaco, à laia de presentinho de Natal para a Dona Cavaca, esta peça de lingerie toda ela assimétrica e, nem por isso, menos estável e duradoura?


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Lá em cima os Tais e Quais (João Gil, Sebastião Santos, Celina da Piedade, Tim, Paulo Ribeiro, Vitorino, Serafim e Jorge Palma) interpretam Olha a Noiva se Vai Linda (não me deslargues). Uma graça!!!!!


Várias imagens, as que se encontram devidamente identificadas, provêm do querido blog We Have Kaos in the Garden. O que eu gosto de descobrir coisas divertidas nessa inesgotável arca...

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Sobre as intenções subjacentes ao documento com que o Cavaco tagueou o Costa na manhã de segunda-feira, falo no post abaixo.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.

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segunda-feira, novembro 23, 2015

O que pediu Cavaco Silva a António Costa? Que se despache e lhe apresente já um governo? Que lhe garanta que tem o Orçamento quase pronto? Nep... Qual quê? Afinal, 'qual é a pressa?'. Pediu-lhe foi para o ajudar a continuar a encanar, por mais algum tempo, a perna à rã. [Em act.]


O esposo da D. Maria Cavaco Silva terá dito a António Costa que ainda não é desta que o vai indigitar como Primeiro-Ministro, que ainda tem bué de dúvidas. Tentou que os sindicalistas, os patrões, os economistas, os banqueiros, as fadistas, as aspirantes a cabeleireiras e todos quantos ouviu o esclarecessem quanto a essas dúvidas que o têm atormentado, mas todos lhe apareceram lá de balde.

Terá ainda explicado que, por ele, Aníbal, não tem pressa. 
Um dos que lá esteve na semana passada, mas que ele já não se lembra quem, ter-lhe-á dito que, se tem tantas dúvidas sobre as reais intenções de Costa e do resto do reviralho, pois que lhe colocasse a ele, Costa, as dúvidas e deixasse de andar a chamar toda a gente para Belém que as pessoas têm mais que fazer do que andar a perder tempo naquele cortejo. Ocorre-lhe que até pode ter sido a sua Maria a dar-lhe essa desanda, que tem dias que nem ela já o consegue aturar, mas não sabe.
Portanto, o Sr. Aníbal terá instruído uma comissão, quiçá capitaneada pelo diligente Liberato, para lhe preparar um documento com dúvidas.

Então, terá sido com esse documento de clarificação formal que o Sr. Cavaco terá presenteado António Costa na reunião que tiveram esta segunda-feira pelas 11 da manhã. 


Ter-lhe-á explicado que quer ver, preto no branco, que o PCP e o BE amam de paixão a NATO e que assinarão já, de cruz, a aprovação prévia de qualquer orçamento do PS daqui até ao fim dos tempos. Como o Costa terá mostrado o que lhe pareceu ser alguma perplexidade, acrescentou: 'Uma coisa tipo blind date, está ver? Acreditar às ceguinhas, percebe?'. O Costa terá ficado com os olhos ainda mais abertos. Cavaco juntou mais umas dúvidas que quer ver esclarecidas: por exemplo, quer lhe digam, e por escrito, que gostam muito todos daquilo da Concertação, até porque ainda não percebeu bem se o PCP já se amigou no facebook com a CIP ou a AIP ou lá como aquilo se chama. Ah, e também com a CAP. Ah, sim, e que também não sabe bem o que acham eles dos bancos e do sistema financeiro. Quer que clarifiquem bem essa cena: vão meter o dinheirinho todo que for preciso no Novo Banco? E sem piar? E comprometem-se a nada de bocas foleiras sobre o BPN? Ah, sim, e também quer saber se o PCP e o BE juram a pés juntos que adoram, adoram mesmo, aquilo do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade. E também qualquer coisa sobre moções ou monções ou lá o que é. 

E, portanto, Cavaco chamou o Costa para lhe dar uma folhinha com o TPC. Mas que é para trabalharem em grupo. E que o Costa só volte a aparecer-lhe à frente depois de ter convencido os outros comunas a redigirem em conjunto uma declaração de amor a três, não apenas entre eles mas também amor aos meandros de Bruxelas e aos mercados e que, sobretudo, se apresentem como gémeos univitelinos. Daqui para a frente, quando forem a Belém, que, no mínimo, vão vestidos de igual. No mínimo, caraças. Há quem jure tê-lo ouvido a dizer em surdina, como se rosnasse: 'Custará muito? Não são capazes de se vestir de igual?! Cambada! A mania das diversidades!'

E, no final, já num tom mais composto, terá dito que, se fizerem tudo o que ele manda e se estiver para aí virado, pois, então, que remédio, lá terá que o indigitar.
Consta que a D. Maria Cavaca tem andado a preparar o esposo. Dizem que anda a ver se o convence, que se conforme, que, se não tiver como fugir desse mau passo, pois que deixe. Dizem que é uma ladainha de roda dele, todo o santo dia: 
Há coisas piores, homem, então já viste se tivesses um ataque agudo de hemorróidas num dia em que tivesses que estar muitas horas sentado? Ai, que não aprendes a ter calma... Emborcas uma dose cavalar de Lexotans e dás posse aos bolcheviques, pronto, querem comer criancinhas ao pequeno-almoço, pois que comam. Tu lavas daí as mãos. Vá, faz-me lá esse sorrisinho lindo, vá... 
Portanto, Cavaco lá terá dito que até pode ser que dê posse a um governo socialista mas que, primeiro, o Costa lhe traga o TPC feitinho e bem feitinho, que leve o que tempo que precisar que nisto as pressas não ajudam nada. Nas calminhas, parece que o ouviram dizer, à laia de conselho, ao Costa.
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Consta que o Costa, quando entrou para a audiência, ia sorridente e que até o ouviram dizer de si para si, 'Vá lá Cavaco, make my day...'. 


Quando saíu, Costa vinha contente. As suas expectativas parecem ter-se cumprido, o Cavaco pôs-se a jeito e ele não vai ter outro remédio senão disparar: provavelmente o senhor de Belém vai ter o TPC ainda hoje (e, ao que parece, com desenhos e tudo -- que pode ser que, assim, o senhor perceba).


Se perceber, Cavaco tem ainda outra na manga e é das boas. Mas, no fim, quando não tiver mais nenhuma, não terá mesmo outro remédio senão ouvir o fado que estava guardado para o fim do seu triste mandato. 

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Mas pode acontecer que não perceba a resposta que o Costa lhe vai fornecer. Nesse caso, o nosso belo Aníbal lá irá continuar a chamar um e outro, um corridinho a caminho de Belém, tudo o que é cão e gato a opinar, e ele a empatar, a empurrar com a barriga, a fazer de tudo para não ter que engolir o sapalhão que está à sua espera.

  Folclore do Algarve - Corridinho
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Entretanto, António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins estão a ensaiar o número que irão apresentar a Cavaco, em coro, por altura das Janeiras.

Maria amava Aníbal que amava Cavaco
que amava Passos que amava o Portas  que amava o Costa
que estava bem como estava.
Maria foi para a varanda da Rua do Possolo, Aníbal foi com ela,
Cavaco, quando tinha que ser, foi passar as tardes para o convento da R. Prior do Crato, 
Passos foi fazer farófias,
Portas foi de fininho para um sítio que diz que não pode dizer onde é 
e o Costa foi para o Governo com o apoio do Jerónimo e da Catarina 
que não tinham entrado na história.
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"Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade - narração de Paulo Autran sobre pinturas de Glauce Cerveira 
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Notícia de última hora: um exclusivo Um Jeito Manso!
Já vi as respostas de António Costa ao Cavaco. Um verdadeiro documento clarificador. Simétrico, estável e duradouro. Clique aqui para as ver.



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Porque é importante que os Anonymous estejam do lado dos que lutam contra os ISIS deste mundo


Li num blog um escrito em que, com ironia, se refere a inutilidade dos movimentos hashtag como o #je suis paris e quejandos, dos movimentos contra refugiados e quejandos e onde, com a displicência de um sorriso de última hora, num parêntesis en passant, se põe nesse mesmo saco a luta que os Anonymous vêm travando contra os terroristas arregimentados pelo auto-proclamado Estado Islâmico.
(e temos os do Anonymous do nosso lado, não pensem que não estamos preparados...)

Percebe-se que, por vezes, aqueles movimentos que capitalizam a emoção imediata que as tragédias provocam e em que as pessoas sentem necessidade de se sentir unidas e úteis despertem alguma vontade de rir -- tantas vezes já vimos esses movimentos em que parece que a racionalidade das pessoas fica toldada e em que as reacções parecem quase infantis. Estou agora a lembrar-me de um dos mais recentes: no ataque a Saint-Denis morreu Diesel, uma cadela da polícia francesa, e logo se criou o movimento #Je suis chien -- e até Putin veio oferecer uma cadela para tentar atenuar a dor pela cadela que tal comoção estava a causar nas redes sociais. Será a forma que as pessoas encontram para exorcizar os fantasmas que sentem que andam no meio delas, será a forma como tentam materializar a sua aflição. Não sei.

Quem queira passar por cima das explicações psicológicas ou antropológicas destes movimentos espontâneos, geralmente efémeros e fátuos, ou das manifestações convocadas nas redes sociais e que, num ápice congregam milhares de apoiantes para, pouco depois, se esfumarem, pode, como eu, distanciar-se mas não as parodiar ou pode, como faz o autor do dito blog, assumir uma atitude algo cínica e, radicalizando a sua posição, meter tudo no mesmo saco, sorrindo com palavrinhas sardónicas de tudo o que gira em volta de qualquer coisa. 

Contudo, essas atitudes podem ser, por vezes, precipitadas.


No caso do ISIS  ou do que quer que se lhes chame, a questão é que, uma das armas mais importantes para tentar a sua desagregação é mesmo a da perseguição online e o apoio dos hackers unidos é mesmo relevante. E, desde há muito, os Anonymous são levados muito a sério pelos serviços de informações de alguns países. Veja-se, a título de mero exemplo, este twit de dia 21 de Novembro:


[Mas, claro, a perseguição online não é a única arma. Uma das outras, fundamental, passa por lhes cortar os meios de financiamento e, curiosamente, só agora começam a ser atingidos os alvos relacionados com o petróleo. (Curiosamente só agora -- quando há tanto tempo isso podia ter sido feito).]


Mas, porque falo mais pela minha intuição do que por conhecimento real, passo a palavra a Loureiro dos Santos, 79 anos, ministro da Defesa com Mota Pinto e Lurdes Pintassilgo, em executivos de iniciativa presidencial de Ramalho Eanes, membro da Academia de Ciências, perito em segurança e estratégia, numa entrevista ao Público

A entrevista tem o título 'Loureiro dos Santos: “Ocupar a Síria com tropas é criar um outro Vietname”' e merece ser lida na íntegra. 


Aqui limito-me a transcrever apenas uns pequenos excertos.

Hodda et Halima,
duas irmãs vítimas do acto terrorista
de 13 de novembro em Paris
No fundo, a razão dos atentados é ideológica, não há razão prática, não visa conquistar território ou alterar a situação política no país, o que visa é amedrontar as populações e transmitir aos seus apaniguados a ideia de força e capacidade face aos europeus que têm uma maneira diferente de viver da deles.

(...) Para travar estes atentados é basicamente necessário reforçar e articular os serviços de informações europeus. É a chave. Se os serviços de informação não conseguirem detectar e monitorizar a tempo a organização de grupos que poderão ter uma deriva desta natureza,  mais cedo ou mais tarde esses grupos agem. Então é tarde. 

(...) 
Se os serviços de informação têm debilidades, a solução é pôr tropas no terreno?
As tropas no terreno só em última instância.

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Vi, há pouco, na televisão, Hillary Clinton, defendendo -- contra o palerma do Trump -- que os EUA continuem a apoiar os refugiados e, em contraponto, declarando apoio a que se persiga por todos os meios -- e frisou: incluindo os meios online -- as gentes ligadas àqueles movimentos terroristas. 

E, se circular pela imprensa internacional, as referências vão todas nesse sentido.

Por exemplo, leio:


Anonymous also said the Islamic State group is planning an assault at the WWE Survivor Series event scheduled to take place in the Philips Arena in Atlanta Sunday at 7.30 p.m. EST, as well as attacks at multiple events in Paris.


The collective published the list of potential targets alongside a statement: "The goal is to make sure the whole world, or at least the people going to these events, know that there have been threats and that there is possibility of an attack to happen. Another goal is to make sure Daesh knows that the world knows and cancels the attacks, which will disorientate them for a while."

The targets listed by Anonymous are as follow:

Cigales Electroniques with Vocodecks, RE-Play & Rawtor at Le Bizen (Paris) 
Concrete Invites Drumcode: Adam Beyer, Alan Fitzpatrick, Joel Mull at Concrete (Paris) 
Demonstration by Collectif du Droit des Femmes (Paris) 
Feast of Christ the King celebrations (Rome/Worldwide) 
Al-Jihad, One Day One Juz (Indonesia) 
Five Finger Death Punch (Milan) 
University Pastoral Day (Holy Spirit University of Kaslik, Lebanon)

Leio ainda:


The editors of Oxford Islamic Studies Online asked several experts the following question:

The world has watched as ISIS (ISIL, the “Islamic State”) has moved from being a small but extreme section of the Syrian opposition to a powerful organization in control of a large swath of Iraq and Syria. Even President Obama recently admitted that the US was surprised by the success of ISIS in that region. Why have they been so successful, and why now?

Political Scientist Robert A. Pape and undergraduate research associate Sarah Morell, both from the University of Chicago, share their thoughts.

ISIS has been successful for four primary reasons. 

First, the group has tapped into the marginalization of the Sunni population in Iraq to gain territory and local support. Second, ISIS fighters are battle-hardened strategists fighting against an unmotivated Iraqi army. Third, the group exploits natural resources to fund their operations. 

And fourth, ISIS has utilized a brilliant social media strategy to recruit fighters and increase their international recognition.

(...) ISIS has developed a sophisticated social media campaign to “recruit, radicalize, and raise funds,” according to J. M. Berger in The Atlantic. The piece details ISIS’s Arabic-language Twitter app called The Dawn of Glad Tidings, advertised as a way to keep up on the latest news about the group. On the day ISIS marched into Mosul, the app sent almost 40,000 tweets. The group has displayed a lighter side to the militants, such as videos showing young children breaking their Ramadan fast with ISIS fighters. These strategies “project strength and promote engagement online” while also romanticizing their fight, attracting new recruits from around the world and inspiring lone wolf attacks. 
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Pode não ser eficaz combater os sarracenos façanhudos com hahstags e cartazes ingénuos mas talvez se possa ajudar a neutralizar a sua organização minando o meio em que melhor se movem - pelo menos, era bom que assim fosse.

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A escolha das imagens é da minha responsabilidade.
As crianças são refugiadas sírias.
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Desejo-vos, Caros Leitores, uma semana muito boa a começar já por esta segunda-feira.

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domingo, novembro 22, 2015

Camisolinhas de tricot para as galinhas passarem melhor o inverno. Uma ideia para quem goste de trabalhos manuais e, ao mesmo tempo, queira zelar pelo conforto térmico da Maria Luís e do Núncio que, enquanto estiveram no desGoverno, não fizeram outra coisa senão enganar o pagode, do Láparo que é outro que tal e que, quando a coisa dá para o torto, sacode para onde calha, até para cima dos subordinados, do Irrevogável que já anda ensaiar o número do 'sair de fininho', do casal Mariani que para aí anda a encrencar o panorama político, da dupla Super Judge Alex & Rosarinho que chocam, chocam mas de onde nunca nasce nenhum pinto, e, enfim, para todos os galináceos que mais valia que estivessem sossegadinhos, numa qualquer capoeira, agasalhadinhos e caladinhos.


No post abaixo já falei dos meus hábitos de leitura e já mostrei alguns dos meus livros que têm, eles, hábitos de rebeldia que já me cansei de tentar contrariar. Não se aguentam arrumados, não se auto-disciplinam, andam por onde calha - e eu já nem aí. O problema é quando as cadeiras fazem falta ou é preciso pôr uma bandeja com o bule e as chávenas na mesa e já não cabe. Mas, enfim, isso é a seguir.




Aqui, agora, vou falar de uma ideia de que tive conhecimento e que me parece uma boa coisa para quem se sinta condoído com o inverno do descontentamento que algumas figuras da nossa praça estarão prestes a ter que enfrentar. 
Pelo menos, optimista que sou, assim o espero. Presumo - e a capa do Expresso assim o indica (que eu os interiores não li, dado que, cá por casa, o Expresso continua banido) - que o casal Cavaco se esteja a preparar para dar posse a António Costa, deixando os chicos-espertos a sonhar com os amanhãs que afinal já não vão cantar. O pote, desta vez, não vai durar os 4 anos da praxe nem sequer, pelo menos assim o espero, quatro meses.  
Ou seja, a sorte parece que vai mudar, deixando alguns dos actuais empoleirados na contingência de terem que se fazer à vidinha -- enquanto os incautos que se deixaram enganar e que acreditaram neles vão começar a ver os trastes que, nos últimos quatro anos, têm andado a ver se dão cabo do País.

E, portanto:

-- Numa altura em que começa a descobrir-se a careca de todos os habilidosos, através dos lindos serviços que começam agora a conhecer-se:
  • A trapalhada com a venda da TAP feita à pressa e às três pancadas, deixando os compradores com a posta sem espinhas e o Estado com as postas incomestíveis, tantas as espinhas
  • A barracada da não devolução da sobretaxa do IRS
  • A barracada do Novo Banco que, não se percebe como, está com os rácios todos anémicos e a precisar de uma transfusão de dinheiro (e adivinhem quem é que vai ter que dar o sangue)
  • Os hospitais sem recursos e a transferirem doentes para o privado
  • ... e tudo o que começará a aparecer depois de os habilidosos ignorantes que nos têm desgovernado já não terem como esconder o que, tão laboriosamente, andaram a camuflar;
-- e que se espera que meninos que gostam de se fazer passar por ceguinhos, surdos e, na prática, quase mortos, como o Carlos Costa (o do BdP, não o da Quinta das Celebridades) que nunca vê nada, nunca sabe de nada e que tudo o que diz revela que anda a navegar na maionese, se reformem e, de preferência, sem reformas escandalosas;

-- e que a dupla ubíqua, Super Alex & Rosarinho, (que eu, se fosse cineasta, fazia uma bela de uma série cómica com estes dois artistas-artolas), uma dupla que faz crescer os processos todos como um souflé -- que não páram de crescer para, à mínima ponta de ar, minguarem e não darem em nada (dando cabo, entretanto, da vida das pessoas com quem embicam) -- vá escrever as suas intermináveis memórias (certamente cinquenta mil volumes delas, um autêntico labirinto, pior que os emaranhados narrativos do Lobo Antunes)

................................. mais dia, menos dia vão todos pregar para outra freguesia, deixando o ar que respiramos mais puro -- eu fico a pensar que, coitados, vão enfrentar o deserto logo numa altura de tanto frio.


E, assim sendo, caridosa como sou, ao tomar conhecimento da ideia da jovem Nicola Congdon e da sua mãe Ann que fazem camisolinhas de malha para galinhas, logo me lembrei que poderíamos lançar uma campanha nacional # Camisolinhas para os Galináceos PAF e pró-PAF 

E, assim sendo, quem quiser fazer tricotzinhos para a Marilú, para o Núncio, para o casal Mariani, para o Carlos Costa, para o 007 das privatizações super-sónicas, Sérgio Monteiro de seu nome, para a Madame Cristas, a putativa peixeira, e para a D. Teresa, ministra da Cultura, das Coisas Fixes e das Causas não-Fracturantes, e para todos quantos, mais dia menos dia, se vão ver a fazer a travessia do deserto debaixo de ventanias e baixas temperaturas - é favor postarem uma imagem com a vossa obra e sugestões de como havemos de fazer a recolha e a entrega dos agasalhos.

Podem ser coletezinhos, camisolinhas, ponchozinhos, casaquinhos com capuz - tudo se aproveitará. Para a D. Cavaca talvez um saia-casaco em cor do pirilampo mágico, se faz favor. Para o esposo, talvez um gorrinho parecido com uma cagarra. Para a Marilú, se fizerem uma sainha, não pode ser muito curta senão o marido dela acha que é piada e, brutamontes como é, ainda por aí aparece a ameaçar ir os cornos a alguém e nós não queremos cá violências. Para o Láparo, claro, um pijaminha de uma lã felpudinha, com um pompom no rabo e um pormenor que aqui não digo mas que o deixe capaz de posar para a Playboy. Para o Vice tinha aqui uma ideia à maneira mas também não posso dizer. Mas, pronto, deixo à vossa imaginação. Mãos à obra que o tempo urge.

E é isto: o espírito natalício já presente no Um Jeito Manso.

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E, caso vos apeteça conhecer os meus hábitos de leitura e ver o local onde mais leio e os livros que me rodeiam, queiram, por favor, descer até ao post seguinte.

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Hábitos de Leitura


Vi em blogs que costumo ler respostas a perguntas relativas a hábitos de leituras e, vai daí, e porque o UJM também faz parte dos links da Dona-Redonda, hoje deu-me para responder.





1 – Tens um lugar específico na casa para ler?

Gosto especialmente de ler no sofá que se vê ali em cima. Ainda hoje, ao fim da tarde e até há pouco, com um breve intervalo para um jantar ligeiro, ali estive. (Aquele prato e caneca não são do jantar, são de uma maçã assada com mel e de um chá que me serviram de lanche, quando cheguei a casa). Como já está frescote e me estava a dar o sono, tapei-me com aquela mantinha e ainda dormi uns minutos. Depois tocou o telefone, acordei para responder e já não voltei a adormecer.

Também gosto de ler quando vou no carro, especialmente quando não vou eu a conduzir (claro). No verão, in heaven, gosto de me reclinar numa espreguiçadeira à sombra da figueira. Ou de levar um colchão almofadado para o banco de pedra debaixo do pinheiro. Se calha ir acordada para a cama, também gosto de ler na cama.


2 – Marcador ou Pedaço de Papel?

O que calhar. Agora vêm marcadores nos livros e uso esses. À falta de qualquer coisa, faço uma dobrazita ao de leve no canto da folha. Isto em relação aos livros que leio de ponta a ponta e pela ordem certa - como é o caso do magnífico livro que estou agora a ler.


3 – Consegues parar simplesmente de ler ou tem de ser sempre no final de um capítulo ou a um certo número de páginas?

Geralmente leio até poder e, portanto, ou porque me sinto a adormecer ou porque tenho que sair ou por qualquer outro motivo, interrompo. Pode ser a meio de uma página, a meio de uma frase ou de uma palavra. 


NB: Não me lembro de ter comprado
o 'Abraço' do J.L. Peixoto
que agora vi na fotografia.
Não li e acho que nunca espreitei.
Na volta, foi oferecido.
4 – Comes ou bebes enquanto lês?

Comer, não. Beber chá, frequentemente. Chamo-lhe chá mas, a maior parte das vezes, é infusão. Agora estou a beber uma infusão de lúcia-lima. Gosto imenso de beber chás ou infusões. No verão, acontece beber sumo frio. 


5 – Música ou TV enquanto lês?

No sofá em frente daquele que ali se vê, pode acontecer que esteja o meu room mate a ver televisão (ie, a fazer zapping) porque ele geralmente só lê na cama. Se ele está a ver televisão, peço para a pôr baixo. Também posso estar a ouvir música. Outras vezes, enquanto os miúdos brincam, com a sala envolta em barafunda e barulho. Quando faço qualquer coisa, foco-me nela e desfoco-me do resto. 


6 – Um livro de cada vez ou vários ao mesmo tempo?

Vários. Durante a semana, sou caótica. Tenho montes de livros à minha volta que vou abrindo. Mas refiro-me a poesia, entrevistas a escritores ou pintores, cartas, diários, ensaios sobre as coisas mais diversas, fotografia, contos. Aí a interrupção não é um corte que fira a obra. Os livros que têm que ser lidos pela ordem correcta, como os bons romances, esses ficam para o fim de semana. Por isso, esses podem levar um mês a ser lidos. Mas posso estar um par de horas com um livro desses e, a seguir, dar uma folheadela num outro e num outro.

Por exemplo, aqui mesmo ao meu lado porque estive agora com eles ler alguns, tenho o Poemas de amor do antigo Egipto e o Alguns Amores de Ronsard de Vasco da Graça Moura. E também o Hipérion ou o Eremita da Grécia do Hölderlin. Leio, folheio ao acaso, de gosto, prazer errático, prazer sem vínculo, como se aqui aquilo de a ordem ser arbitrária se aplicasse como uma luva.


7 – Ler em casa ou em qualquer lugar?

Já disse. Geralmente em casa. Mas também no carro. Em esplanadas não. Nas esplanadas gosto de estar a apanhar sol (se o houver) e a ver quem me circunda ou as vistas. Nos jardins públicos também não consigo: gosto de observar o que me rodeia. No trabalho não consigo - o que é uma pena.


8 – Ler em voz alta ou silenciosamente?

Silenciosamente. Poesia leio como se me estivesse a ouvir - ou a sonhar. 


9 – Lês para a frente e/ou pulas páginas?

Romances que sejam literatura a sério, leio direitinho. Há autores que me impõem respeito. A este que estou a ler, não me passaria pela cabeça cometer a desfeita de saltar uma linha que fosse. Outros leio aleatoriamente. Muitas vezes leio a primeira e a última página - depois ao acaso. Depois vou cirandando. Dantes nunca deixava um livro a meio, era como se fizesse cerimónia, mesmo que não gostasse não me levantava a meio. Agora não, agora, se a coisa empastela ou me parece frouxa ou banal, deixo.


10 – Quebrar a lombada ou mantê-la como nova?

Tento não quebrar. Gosto de os manter preservados. Por exemplo, detesto levar livros para a praia - não apenas a luz me complica a leitura como não gosto que fiquem grãos de areia entre as páginas. Quando era miúda, a minha mãe forrava as capas dos livros da escola. Há livros que tenho vontade de forrar para se manterem com aspecto inviolado - mas sou preguiçosa, não o faço.


11 – Escreves ou fazes anotações nos livros?

Escrever, nunca. Posso, com um lápis, ao de leve, assinalar com um risquinho alguma passagem que me agrade mais (muitas vezes para as transcrever aqui). Mas com caneta, nunca. Escrever, nem pensar. As páginas de um livro são território de quem o escreveu. Se o invado é como visita, e uma visita respeitadora, que não deixa a casa suja.


12 – Quem tagueias?

Para começar, info-excluída militante, nem conhecia esta expressão. No Priberan não consta. mas, via google, já vi que tem a ver com tag. Mas não tagueio ninguém. Quem quiser falar dos seus hábitos de leitura, que o faça. É um tema aliciante quer para quem escreve, quer para quem lê. Eu, pelo menos, acho.

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A música é a Elegia, op 17 de Glazunov com Yuli Turovsky no violoncelo e Peter Pettinger no piano. As pinturas que aparecem no vídeo são de Natasha Turovsky.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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sábado, novembro 21, 2015

De que serve ter o mapa se o fim está traçado, de que serve a terra à vista se o barco está parado, de que serve ter a chave se a porta está aberta, de que servem as palavras se a casa está deserta





Se puderes ensinar-me o caminho que me leve até a uma paisagem assim, serena, feita de luz e paz, eu vou. Se me ensinares a sair da torre de vidro onde me têm guardada, eu vou. Se me disseres como virar as costas a estes fantasmas que me cercam, eu vou.

Mas, enquanto eu não me libertar das mãos que se fecham em volta do meu peito, vai-me dizendo palavras suaves como a brisa que se desprende do rio, conta-me do algodão doce que se eleva da areia nas manhãs de vento, ensina-me poemas e toadas, fala-me de cítaras e de clavicórdios, mostra-me pinturas e vidros banhados por reflexos infinitos, leva-me pela mão até ao passado ou até ao futuro, conta-me histórias, olha-me como se o teu olhar viesse de um tempo em que eu era outra e tu também. 

Vou fechar os olhos. Vou esperar que a tua voz me conduza pela noite fora, que o teu sorriso desvende a minha timidez, que a tua presença me envolva. Coloca as tuas mãos sobre as minhas, coloca os teus lábios sobre os meus. Vou imaginar que me estás a levar pela mão, que me levas até onde a luz entra numa catedral imensa, vou sonhar que os cânticos descem como raios de luz das abóbadas infinitas. Amparar-me-ás, dir-me-ás que a estrada me espera, que eu me demore porque a estrada espera, porque tu esperas. E, juntos, deixaremos que o silêncio nos abençoe, nos purifique.


Fecho os olhos e demoro-me. Anjos, deuses, lembranças. Estão à nossa volta. Diz-me baixinho, como um segredo, como uma oração que eu imagine só para mim:

Vem como a gazela do deserto
obrigada a ziguezaguear em nervosa velocidade
atravessando os trilhos e voltando
com medo do ganido dos cães e do caçador e finalmente se decide
por uma veloz linha recta
com um relance ao lugar deixado

Sinto o ciciar das tuas palavras. Elas encerram um mistério. A tua pele encerra um mistério. A forma como me olhas encerra um mistério. A minha pele treme de inquietação. De onde te conheço? Da minha imaginação? És aquele que os meus dedos inventaram quando, nas noites silenciosas, escrevia palavras sem dono?

Não me respondas. Deixa-me viver com essa inquietação dentro de mim. Ela alimenta-me, ela faz-me companhia. Deixa-me desconhecer de onde te conheço.

Uma aragem branda recorda-me que quero partir. Mas não quero.

De olhos fechados, em segredo, digo-te: Quero que me leves. Mas não agora. Um dia. Dizes que me esperas mas logo te contradizes e pedes que te responda. Mas dizer-te o quê? Estas paredes brancas, este vidro frio, estes fantasmas que falam palavras vazias deixam-me sem vontade, cansada, tão cansada.

Mas tu pedes-me: Responde-me. Vens? Vens como a gazela do deserto?


Digo-te, então, como se uma outra voz falasse por mim -- e a voz que eu ouço é baixa, quase rouca, uma voz que vem da pedra, da terra. Falo e descubro os seios, quero que os vejas banhados de luz dourada, quero que sintas como debaixo deles bate o meu coração apaixonado:

Estás a salvo dentro da casa da amada
beijando-lhe as mãos, fazendo-lhe
a sincera proclamação do teu amor,
fazes tudo isto
tudo isto no interior da grande e preconcebida organização
da deusa de oiro.

Tu olhas-me. Não sabes o que digo e eu também não. Peço-te que não me perguntes porque as palavras que disse não são minhas, voaram de dentro de mim. Acredita em mim. Ou não. Desacredita como se eu fosse a outra que me habita. O meu coração está longe, lá onde os pássaros cantam em liberdade, lá onde as folhas têm mil cores e da terra se evolam mil perfumes. E tu dizes: vem, então.

Mas não posso. Não tenho o mapa da estrada e tu também não, não tenho a chave da casa e tu também não, não tenho o segredo dos teus olhos, não sei o que se esconde no fundo secreto do teu olhar nem sei para onde vai o barco que leva os teus sonhos.

Um dia vou, um dia dar-me-ás a mão e eu irei, irei levada pelo teu sorriso que entra sem vergonha no meu corpo, irei para longe dos fantasmas cinzentos que habitam a torre onde vivo aprisionada, irei contigo para onde me levares. Mas que nesse lugar haja um mar tranquilo como um espelho, árvores verdes e douradas como seda e lãs, montes macios e doces como mel e um silêncio longo e terno como a música que se desprende do meu e do teu coração.

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Não ligues. Desculpa. Não sei o que digo. 
Pega nas minhas palavras e junta-as de outra forma: talvez, então, elas façam algum sentido.

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  • O poema é a parte III de Pressa in 'Poemas de amor do antigo Egipto'.
  • As fotografias da capela de King’s College mostram as iluminações digitais feitas por Miguel Chevalier e as fotografias das paisagens de Seul são de Jaewoon U. (descobri-as no Bored Panda).
  • Lá em cima Maria Bethânia canta Quem me leva os meus Fantasmas de Pedro Abrunhosa.
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