quarta-feira, agosto 26, 2015

Viver de acordo com a idade que se sente ter, em qualquer idade


Lembro-me de que, quando andava no liceu, achava as professoras umas senhoras já de alguma idade. A esta distância, lembro-me delas muito aperaltadas, muito compenetradas. Não sei que idade teriam mas não é provável que fossem todas já meio velhas; contudo, é assim que as recordo. 

Apenas de três tenho ideia de serem diferentes. 

Uma talvez não fosse, de facto, muito nova mas recordo-a sem idade. As aulas dela eram diferentes e eu adorava-as. Era professora de Português e não se entretinha a esfacelar a literatura com a ferramentaria da gramática. Foi também por ela que me inscrevi numa actividade circum-escolar que a tinha como professora, creio que se chamava Introdução à Poesia ou Leituras de Poesia, não sei. Íamos para a rua, sentávamo-nos no chão, em roda, debaixo de árvores, e líamos. E ela chamava-nos a atenção para alguns pormenores. E eu adorava, sentia-me em estado de fusão com a natureza e com as palavras. A professora chamava-se Joana Meira e amava a Língua Portuguesa. Tenho ideia que o seu cabelo era grisalho mas, para mim, era uma fadinha boa que me trazia toadas mágicas, histórias de outros mundos, encantamentos vários. 


Outra era a professora de Educação Física e era ágil, jovem, divertida. Nós éramos adolescentes, éramos irreverentes e aluados e namorávamos por todos os lados e ela achava graça, nunca havia censura ou repressão nas suas atitudes. Lembro-me de uma excursão que fizemos e em que todos nós lhe pedimos encarecidamente que nos acompanhasse. Acompanhou. E foi uma companheira atenta, cúmplice, amiga. Ao contrário das outras professoras que usavam penteados mais produzidos, ela usava o cabelo curtinho e eu achava o aspecto dela o máximo. 

A terceira era professora de Psicologia e era mesmo nova. Penso que era formada em Filosofia. Vivia no Estoril, aparentava ser uma típica menina da Linha. O marido estava a fazer a tropa no Ultramar e ela tinha muitas saudades dele. Era uma jovem muito moderna, com uma visão aberta do mundo. Falava-nos de autores de que nunca eu tinha ouvido falar, falava de assuntos que eram, para mim, janelas abertas sobre o desconhecido. E eu olhava para ela, com aquele ar tão jovem, e que parecia transportar um conhecimento tão imenso, muito mais do que as outras tão mais velhas.

Por essa altura, eu achava que a minha mãe era também uma senhora com ar igual aos das outras professoras. Olho para ela agora e parece-me mais jovem do que era nessa altura. 

Eu, por mim, acho que nunca fui muito em conversas, em modas, em andar como os outros esperam que eu ande. Quando eu era adolescente, o meu pai zangava-se todo quando me via maquilhada ou vestida de forma mais produzida, dizia que eu ainda não tinha idade para aquilo. Mais tarde, era bem capaz de torcer o nariz por achar que eu já não tinha idade para andar a fazer qualquer coisa que ele achava que era para miúdas. Paciência. A idade não me condiciona. Claro que tenho a noção do ridículo pelo que, por exemplo, não me apresento no supermercado de shorts curtinhos e t-shirt de alças como ontem vi uma, com os cabelos pela cintura, que mais me parecia ter idade para minha mãe. Mas corro, salto, sento-me no chão, rio à gargalhada, vibro com um belo texto, com um sol dourado, com uma lua transparente, com um olhar, com um abraço. Vivo sentindo-me entusiasmada perante o futuro como se tivesse ainda a vida inteira pela frente. E tenho. O que me falta viver é a viva inteira.


E vem esta conversa toda a propósito do vídeo aqui abaixo: Act any age.



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terça-feira, agosto 25, 2015

Passos Coelho exibe a doença da mulher, Laura (ou Lolita), nas capas das revistas. Em altura de pré campanha eleitoral, acho isto uma indigência moral insuportável. Mas, para nos animar, um grande momento pode estar em perspectiva nestas legislativas 2015: Paulo Portas e Heloísa Apolónia no que talvez esta venha a ser o debate que todos esperamos, a luta de titãs, o momento alto da campanha. E sugiro ainda mais: para abrilhantar os debates em que participem PàFs que haja, atrás, um número de burlesco. Já que os PàFs gostam é de desviar as atenções, pois então, que o façam com números a condizer com a sua ideologia.


No post abaixo falei de interpretação de sonhos e mostrei Cloclo, a majorette. Coisa séria, científica e com um momento lúdico de permeio para aligeirar a densidade do tema.

Tempo agora, portanto, de partir para outro registo. Política. Baixa política.

Tenho andado sem grande paciência para gastar o meu latim com universidades de verão, pontais, cães com pulgas, fricotes de láparos e portas armados em divas, coisas assim. E, tirando isso, parece que pouco mais há, por aqui, de que se fale. Passeio-me pelos jornais online e a pasmaceira é entediante, cinzentolas.

Durante a semana que passou, fiz algumas tentativas para comprar revistas -- que parece que é coisa com que os internados gostam de se entreter -- mas também não consegui encontrar uma coisa decente. 

O casal-maravilha, Láparo e Lolita, está, salvo erro, em quatro capas. 


Depois de ter começado por dizer, armado em gente séria, que não queria que explorassem mediaticamente a doença da mulher, aquele que diz uma coisa e sistematicamente faz o contrário, agora deixa-se acompanhar nas férias, dá entrevistas e permite que a imagem da sua mulher sem cabelo seja cabeça de cartaz nas flash, lux ou vips desta vida. 

E os títulos das capas dizem coisas cor-de-rosa como que ele é um carinho, que a Lolita é uma mulher de força e que ambos lutam pela vida dela. 

Numa altura eleitoral, se isto não é uma exposição mediática quase obscena nem sei o que diga. É que uma coisa seria um artigo sério, num jornal sério, sobre a situação que é, certamente, complicada, e outra, bem diferente, é a exploração vulgar a que ali se assiste. Incomoda-me aquilo e de que maneira.

Não acho que o facto de alguém ter cancro e ficar sem cabelo por fazer quimioterapia seja motivo de vergonha e que deva seja escondido - pelo contrário. A atitude da senhora, de tentar levar uma vida normal, parece-me muito meritória e corajosa. Louvo-a por isso. E que ela queira ajudar o marido, trazendo-lhe votos, parece-me também um gesto abnegado. O que me parece indecoroso não é isso. O que me parece indecoroso é ele aproveitar-se da situação. Isso é que me parece que o rebaixa - e de que maneira. Um homem que se aproveita da doença da mulher causa-me repulsa.

E interrogo-me. Se, em vez de calvície, a senhora tivesse uma ferida aberta, gangrenada, também seria exposta nas capas das revistas? No meio de beldades em biquini, com os seus novos namorados? Não... isso talvez não. 
Uma ferida aberta talvez não fosse fotogénica, talvez não trouxesse tantos votos quanto uma cabeça calva. 
Que hipocrisia a de Passos Coelho, que cobardia, que imperdoável falta de pudor!

Espera ganhar votos, o láparo. Mas talvez lhe saia o tiro pela culatra que o zé-povo não é tão burro assim. 

Adiante que não quero falar mais nisto, incomoda-me. 

Passemos, pois, para um momento vaudeville.

Pode a Europa continuar de gatas sem saber como enfrentar riscos de terrorismo, pode andar às aranhas por não saber como lidar com uma invasão de imigrantes esfomeados, doentes, e impreparados para se integrarem numa vida social normal (digamos assim), pode o tigre capitalista chinês estar gaseado e as bolsas todas despassaradas, podem as altas instâncias (europeias e não só) continuar sem uma linha de rumo para garantir um crescimento estável e imune a desaguisados bolsistas e especulativos - pode tudo que, pelo rectangulozito tuguita, nada mexe. No pasa nada.

O que ainda parece causar algum frisson na comunicação social são os chiliques dos PàFs -- quem se apresenta a solo a votos não quer debater com o Portas que vai às eleições à boleia, na barriga de aluguer do Láparo, onde é que já se viu...?

Sua Excelência, o bronzeado e histriónico Vice-Irrevogável, não tem peito suficiente para o dar às balas, encolheu-se e enfiou-se no bolso do marido da Lolita e agora, armado em pequeno fanfarron, anda a lançar boquinhas aos outros por o tratarem como ele se pôs a jeito para ser tratado. Toca e foge, diz ele, com aquele ar contentinho de quem inventa muitas gracinhas; mas parece esquecido que foi ele mesmo quem, com medo de ser varrido do mapa, fugiu para dentro do útero do láparo... E agora, pelos vistos, queria ir a debates como se tivesse identidade própria. Não tem. O máximo que se lhe admite é que espreite de dentro da barriga do outro - mas é só para a gente se divertir, não é para mais nada.

E o láparo, cheio de medo da festa que seria a sua participação num debate, aproveitou a desculpa para se armar em vítima e escapar a esse momento que ele sabe que seria doloroso. 
Não sei porquê até me estou a lembrar daquela partida que a minha amiga médica diz que faziam nas noites de hospital em que apareciam doentes homens armados em pintas: iam chamar um enfermeiro negão, gigantão, ele calçava com vagar a luva, os dedões bem à vista, e elas diziam que o enfermeiro tinha que lhes fazer um toque rectal, que tinha que ser para despistar uma situação. 
Os pintarolas encolhiam-se logo, aflitos, sentadinhos, caladinhos que nem santinhos. O negão podia ir-se embora que a derrota era logo ali declarada, nem precisavam de ir ao castigo.
Bem. Nem sei porque me ocorreu isto. Adiante.

Pois bem. Inteligente, inteligente é a reacção do velho lobo Jerónimo. Se o Portas quer festa, pois então que a tenha com alguém na mesma situação: que debata com a Heloísa Apolónia, líder de um partido que também concorre em coligação. Acho lindo. Danada para a brincadeira como é a Heloísa quase aposto que teríamos outro número do negão. 

Já estou a vê-los no debate:
- O Portas, todo ele um bronze resplandecente, camisa preta sob casaco preto como agora gosta de se apresentar, botões de cima abertos, os pêlos do peito bem à vista, apenas com um pequeno apontamento de branco reluzente (os dentes, claro), todo ele uma encenação, preparado para mil tiradas espectaculares;  
- E a Heloísa, expressão feroz, boca aberta e sem açaime, pronta a estraçalhar quem se lhe apresente pela frente, dominatrix, castigadora, dente afiado... e a calçar a luva de latex com toda a calma. 
A ver se o Portas não perdia logo a verve toda (... ok, pronto, no mínimo desconcentrava-se). 

E eu, face a esta perspectiva, até começo a animar-me e a achar que esta campanha eleitoral ainda nos pode trazer belos momentos.

Mas daqui deixo um conselho às televisões: como a malta pafiana não tem grandes feitos a apregoar nem sabe bem o que tem para prometer, para que os momentos televisivos da campanha em que participem os pobres PàFs não sejam dados por perdidos, pois, então, que preparem coreografias para encher o olho aos espectadores.

Por exemplo, uma coisa assim (para o menino e para a menina*) e, ainda por cima, com fins louváveis:


Broadway Bares 2015: Top Bottoms of Burlesque, 
the unrivaled evening of sexy striptease that benefits Broadway Cares/Equity Fights AIDS



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* Pr'ó menino e pr'á menina e, já agora, também para os de sexualidade fluida, como agora se diz. [Vidé a filha do Johnny Depp e da Vanessa Paradis, a Lily-Rose, que anunciou ao mundo a sua sexualidade fluida]. Que expressão mais gira.


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E, pronto, mais não digo.

Relembro apenas que, no post abaixo, se interpretam alguns sonhos, se mostra uma majorette muito fofa e outras coisas.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira, na boa. 

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Como interpretar sonhos sem cair no ridículo



Você está caindo num precipício

Fome. Simplesmente, isso: fome. Evite dormir com o estômago vazio. Coma alguma coisa, nem que seja com os olhos. Devorar livros ajuda sobremaneira. (...)

Você esquece todo o conteúdo da matéria exactamente no dia da prova

Esse sonho pueril, juvenil, só acomete os estudantes devotados. Denota certo grau de insegurança. Com o que sonham os relapsos, os desinteressados em aprender? Sei lá. Provavelmente com a hora do recreio ou em comprar smartphones novos.

De repente, você se depara nu no meio de uma sala de aula lotada de gente

Timidez. Insegurança. Pénis pequeno. Feiura. Falta de coisa melhor para sonhar.

Você se apaixona por alguém que nunca viu na vida

Provavelmente, durante a vigília do quotidiano, você já viu ou já cruzou com a pessoa pela qual você se apaixonou dormindo. O problema é que você não se recorda onde, quando e por que. Esse é um dos mais frustrantes sonhos que um ser humano pode sonhar, principalmente quando se está solteiro. O sonhador desperta, cerra os olhos com esperança, força, implora o comparecimento imediato do sonho, mas ele simplesmente não retorna, e o ser amado escapa, evapora com os primeiros raios de sol.

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O texto é um extracto de Como interpretar sonhos sem cair no ridículo da autoria de  Eberth Vêncio na Revista Bula, texto esse onde se pode ler que :
Os sonhos nada mais eram do que uma válvula de escape para que as mentes não enlouquecessem, uma espécie de câmara de gás para dizimar os pensamentos quootidianos, um recomendável back-up neuronal para se começar tudo de novo na manhã de um novo dia, uma privada para sinapses.
(Passei algumas palavrinhas para português pré-AO porque colocar aqui um texto brasileiro tout court pode dar a ideia de que me converti - e converti o tanas)


Os vídeos referem-se ao filme La parade, uma fábula real que fala da majorette Cloco Nº18 e de mais uns quantos bacanos.  Achei que tinha a ver com o texto dos sonhos. (Também sou uma bacana, como é bom de ver)

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segunda-feira, agosto 24, 2015

A vida vivida um dia de cada vez, e feliz sempre que possível


Tinha dito que logo daria notícias quando as coisas acalmassem. Tinha dito que estava a viver um momento de susto, de medo. Traiçoeira é, por vezes, a vida.

O espírito positivo vive dentro de mim e, felizmente, também dentro dos que me são mais queridos. No entanto, perante rasteiras tão inesperadas e assustadoras, por vezes uma pessoa vai-se um bocado abaixo.

Mas, enfim, parece que a própria vida que nos tira o tapete se encarrega, também, de o voltar a repôr - embora com algumas diferenças. E a gente vai-se adaptando a essas diferenças.

Desde o dia em que um exame trouxe a insólita e assustadora notícia, a cada semana, com novos exames que iam sendo requeridos, novos medos foram surgindo e, depois, face aos resultados, vieram notícias animadoras e novas esperanças (se é que, nisto, as notícias menos más se podem chamar de animadoras e se é que é inteligente ter esperança só porque as coisas não são tão más quanto poderiam ser). Mas, enfim, uma pessoa agarra-se a todos os sinais que parecem menos condenadores.

O médico disse, quando se começaram a fazer muitas perguntas: um dia de cada vez.

Já tantas vezes o ouvira dizer antes mas parece que só agora interiorizei o significado disto: um dia de cada vez.

Um dos dias, logo a seguir, estava na sala de espera para uma outra consulta e peguei creio que numa National Geographic que lá tinham. Sei que falava de Gandhi. Li: 'Aprenda como se você fosse viver para sempre. Viva como se fosse morrer amanhã'. Acho que sorri. Duas vezes, de seguida, a mesma recomendação: viver como se fosse morrer no dia seguinte. Pensei o que sempre penso: devemos estar agradecidos por estarmos a viver. E por, no dia seguinte, estarmos de novo a viver. Sempre. Todos os dias. Um a um.


Gracias a la vida



Depois veio a data da cirurgia e o cirurgião lá foi explicar, na véspera, que havia probabilidades de as coisas não correrem bem e que, correndo, ainda haveria probabilidades de haver complicações, e enunciou cada tipo de complicação. Queremos nós só pensar em coisas boas, vai correr bem, bocado a mais, bocado a menos que diferença faz?, e o cirurgião a fazer questão de alertar para tudo o que poderia correr mal. Sobre aquele optimismo permanente de que parece que somos feitos, uma nuvem escura sempre a ser desenhada sobre as nossas cabeças.

Mas, enfim, somos como somos, optimistas impenitentes, e, portanto, (embora a medo... - e ó senhores, quanto medo, só eu sei), logo concluímos: 'Vai correr bem' porque é o que acontece na maior parte dos casos; e que se lixem as probabilidades mínimas de alguma coisa dar para o torto. 

Depois foi a cirurgia. Nunca mais chegava a mensagem a dizer que a cirurgia tinha começado e logo os nervos miudinhos a roerem as entranhas, Mas depois lá veio. E depois lá veio a outra, a dizer que tinha terminado e que o familiar tinha ido para o recobro. Um suspiro de alívio que vem do interior da alma.

No recobro, mal tendo saído da cirurgia, o familiar mal nos conhecendo, as pupilas dilatadas, sem saber se a cirurgia ainda ia ocorrer, dizendo que não tinha dado por nada, adormecendo a cada palavra pronunciada.

Mais tarde, nos Cuidados Intensivos, ainda a soro e a oxigénio, já de olhos abertos, a voz empastelada, a dose de analgésico ou os efeitos da anestesia ainda a toldarem ao de leve a consciência.

Mas, algum tempo depois, de volta o sentido de humor, o sorriso.

À volta de nós, nos outros compartimentos, sons de equipamentos a soltarem sinais de alarme e nós nem aí, alheados dos dramas alheios (embora ali tão próximos). Assim é a natureza humana, com esta capacidade de se adaptar instantaneamente a cada circunstância. Há uns anos eu seria incapaz de entrar num sítio assim, tinha um pavor terrível de me aproximar de doenças, acidentes, casos difíceis. Era uma fobia que me vinha de criança, penso que da morte do meu avô materno. Mas agora, ali estava, tal como antes já tinha estado quando o meu pai teve o AVC - e sem problemas, apenas concentrada no estado de saúde de quem, sendo-me tão próximo e querido, está numa situação complicada.

O enfermeiro vinha espreitar e dizia 'Está tudo óptimo' e nós contentes, correu bem, correu bem, e vai correr tudo bem.

E nos dias seguintes, já no quarto, a recuperação rápida*, já sem o soro, depois já de pé, a seguir já a alimentar-se. E sempre com a família em volta, palavras de ânimo, conversa leve, risos. Por estes dias, eu, embora exausta (física e emocionalmente), ia lá depois do almoço e depois do trabalho, ficando até à noite. A convalescença corre melhor, acho eu, se o doente se sentir acompanhado e acarinhado.

O cirurgião tinha avisado que era preciso esperar 3 a 4 dias pois poderia sobrevir uma complicação.

Ao 3º dia o estado óptimo, boa cara, boas cores, a andar, a alimentar-se, praticamente sem dores.

Dentro do corpo falta um bocadão mas diz que não dá pela falta, tudo parece bem.

Novas análises: boas. Veredicto: alta hospitalar.

Sabemos que o que foi removido foi para análise patológica, que vai demorar 3 a 4 semanas, e daí sairá a percepção sobre o grau de invasão das células nefastas e daí se concluirá também sobre o que se segue a nível terapêutico. Mas, enfim, até lá não nos doa a cabeça.

Ainda incrédulos com uma tal fantástica recuperação, lá saímos do hospital. A andar ainda devagar mas tudo bem.

No sábado de manhã, a sensação de alguma tontura ao andar mas depois já tudo normal.

A minha filha dizia ao cirurgião que se tratava de um corpo forte, fantástico, e o cirurgião com sorriso irónico: 'diga também que foi bem operado...!'. As duas coisas, sim. Bem haja o corpo resistente, bem haja o competente e sorridente cirurgião.

Esta etapa foi, pois, ultrapassada e, embora seja tudo tão recente, acho que já posso dizer que correu bem. Quero ser prudente no que digo e penso mas acho que, até ver, tudo parece estar a correr pelo melhor.

E a vida continua.

Este domingo, mais um aniversário. E dia de anos é dia de festa, dia de celebrar a vida, de desejar que se contem ainda muitos anos, e a festa faz-se com todos, mesmo com quem fez uma cirurgia complexa há menos de 1 semana.

Sendo o não fazer esforços o principal cuidado prescrito, por estes dias a recuperação está a decorrer num local com assistência médica pois, embora tudo pareça bem, há pensos a trocar, temperaturas a vigiar, e há que garantir o necessário repouso que, em casa, é mais difícil pois haveria sempre a tentação de fazer o que não devia. A convalescença num local assim decorre com maior tranquilidade e segurança, acho eu e, nestas coisas, podendo-se, faz-se o que se pensa ser melhor. 

Pois, foi lá mesmo que se juntou a tropa toda. As fotografias ilustram o evento.

Para não incomodar os outros hóspedes, foi mesmo no quarto que nos juntámos. Como quem está convalescente não está de cama (e até está com melhor cara que o resto do pessoal), a cama articulada estava disponível para servir de sofá e para toda a espécie de experimentações e cabriolices.



E foi o bom e o bonito. 

Desde lutas com pseudo-artes marciais até equilíbrismos, sapateados, brincadeiras de toda a espécie e feitio, e corridas e saltos e risotas e uma chinfineira que nos fez recear ser chamados ao gabinete da Direcção para nos dar ordem de expulsão - houve de tudo.

E, claro, tanta a energia gasta, que o calor já era muito e, como sempre, os pimentinhas acabaram a jornada praticamente despidos e descalços.

Mas, depois, houve também bolo, apagar de velas, cantoria, e todos sentados ou na cama ou no chão ou nas poucas cadeiras a comer o bolo e a festejar - incluindo quem ainda há dias estava com medo e agora já ali estava cantando na maior.

E houve presentes e ramos de rosas com rama de alfazema do jardim da casa ex-velha (agora nova e bonita) e os quadros (que estão lá mais acima) cheios de cor que a minha menininha mais linda e mais artista pintou para oferecer não apenas a quem fez anos mas também a quem, não o fazendo, também merece flores e mimos.

E, portanto, nesta lógica de um dia de cada vez, cá estamos todos animados e confiantes. A vida é assim mesmo, traiçoeira, efémera, mas também cheia de bons momentos e o que é preciso é que os saibamos aproveitar, instante a instante - antes que seja tarde demais.

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* Penso que a rapidez da recuperação se deve ao método usado. A cirurgia decorreu pelo método da laparoscopia, que, segundo percebi, é muito menos invasivo do que os métodos mais tradicionais, que metem facalhão (este, pelo vestígios e pela descrição do médico, se bem compreendi, passa por fazer um furo maior para introduzir a ferramentaria e extrair as partes estragadas e adjacentes e outros três, mais pequenos, uns fuinhos, para as câmaras e a iluminação. Pelo que vejo na wikipedia, antes a laparoscopia circunscrevia-se a umas zonas do corpo e agora, pelos vistos, já serve para muito mais. 

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E, para um outro momento feliz, queiram, por favor, descer até ao post seguinte onde mostro uma obra em processo de construção: a arte de rua em festa ali para os lados de Alcântara.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira. 
E que os vossos dias tenham muitos momentos felizes.

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A arte de rua a acontecer - novo painel em Alcântara


Em Lisboa, toda a zona de Alcântara - Av. de Ceuta, convergência com a Av. da Índia - está a tornar-se riquíssima em termos de arte de rua.

A arte de rua é, para mim, dos mais nobres tipos de arte pois coloca a arte à disposição de quem passa. E é cor, luz, imprevisto - e isso é do que precisamos, mergulhados que vivemos numa normalidade cinzenta e abúlica.

Ia a passar de carro e vi a rapariga a pintar. Difícil ali conseguir parar o carro para fotografar. Mas, enfim, quando se quer mesmo, alguma coisa se consegue. Não é muito mas aqui vos deixo o que consegui. Não sei o nome da artista mas, seja quem for, daqui a felicito. A parede estava a ficar viva, alegre, feliz.

Que venham mais artistas de rua, mais jovens, mais velhos, quem quiser, e que encham as cidades de arte, de cor, de imagens inesperadas, de pássaros inventados, de bichos mágicos, de céus, de sóis, de luas, de montanhas alucinadas, de mares intrépidos, de marinheiros sonhadores, de palavras verdadeiras, de mulheres apaixonadas, de crianças felizes, de mundos afortunados, de tudo o que quiserem. Que as cidades ganhem uma vida insuspeita e que as pessoas saiam para a rua para verem as paredes e os muros e que depois dancem e riam, felizes, felizes, renascidas.



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domingo, agosto 23, 2015

Dismaland, o novo 'bemusement park' europeu - de Banksy with love. Ver para crer. E há mão portuguesa no Dismaland: a Wasted Rita está presente!!!!!!


Tenha eu, um dia, cabeça para organizar uma galeria dos 'mais que tudo' aqui no Um Jeito Manso e, certamente, Banksy fará parte dela. O que ele faz nunca me deixa indiferente: é truculento, carinhoso, atento, lúcido, destemido, irreverente, gosta do mundo, gosta das pessoas, gosta das crianças, é inflexível para com os desmandos do capitalismo selvagem... e tem um sentido de humor desarmante. E, sobretudo, é um espírito brilhante.

Desta vez superou-se. Os media andavam a anunciar que ele estava a tramar uma coisa em grande. Desta vez não era só graffiti, nem era só uma daquelas suas insólitas instalações, não era apenas uma pintura onde menos se esperava, não era apenas uma escultura provocadora. Não, desta vez era gozo à grande, desta vez ia gozar com a Disneyland mas, que nos preparássemos, que is ser mesmo à séria.

E cá está. Ver para crer.

O Dismaland situa-se em Inglaterra, mais propriamente em Weston-super-Mare, uma cidade perto de Bristol, a cidade natal de Banksy, e é descrito como ‘the UK’s most disappointing new visitor attraction!



O castelo Dismaland e a Pequena Sereia

Uma vista global que mostra melhor o aspecto deliberadamente decadente do parque


A abóbora/carruagem onde ia a Cinderela virou-se, a Cinderela morreu... e os paparazzis apareceram de imediato
(não há símbolos intocáveis ou tabus para Banksy - é que nem a princesa Diana escapou...)


Alguém aproveita a distração para fazer lasanha com a carne dos cavalos do carrocel


A baleia assassina sai de do local mais inesperado para fazer uma habilidade

Uma senhora é atacada por pássaros, no caso, gaivotas desencabrestadas


No lago, uma embarcação cheia de imigrantes negros

Uma visão mais geral do laguinho com barcos com imigrantes que são seguidos por patrulhas

Funcionária do Dismaland vende balões com o seguinte dizer 'Eu sou um imbecil'

Uma visão mais global para se ver o edifício com figuras e com a inscrição: Mediocre"

'Hey... Parece que há uma cena de sexo aqui dentro...'
- um graffiti típico de Banksy para que ninguém tenha dúvidas

Esquema geral do parque para que, quem lá queria ir, não perca pitada


E o Vídeo do Dismaland, o 'Bemusement park, com os cumprimentos de Banksy



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E, para terminar com um momento musical, a seguir a uma conversa entre Banksy e uns dos músicos que vão tocar ao parque,:


Banksy meets Run The Jewels

(a propósito da próxima actuação no Dismaland - a 4 de Setembro)


I like to ask artists this question: if you could choose only one, would you rather be thought of as a great artist or a nice person?

EL-P Interesting question. We all want recognition and validation to an extent for our art, but greatness as a trade for decency is a risky proposition. In my life I try to leave the people I encounter with the feeling that they have been respected and treated with warmth and appreciation. Being known as honorable is way more important to me. But being that my career is in the public and my personal relationships are ultimately private, I suppose, for the sake of the question, being considered a great artist publicly means a bit more than being considered a nice guy publicly. Although I like to think I am thought of in that way. Point being, I don’t get paid to be a nice guy, I just try to be one.
KM I don’t know what the hell the future brings. If I did, I would play the lotto and win the mega millions and buy toy cars, real muscle cars, sneakers and art. I cannot lie: as good as it feels to get my deserved props, the best part of reading social media after I meet folks is reading: “Mike was a nice guy”. I believe being honourable lasts longer than rapping good.



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Nota importantíssima

Em comentário, a Leitora Rosa Pinto deixou referência à participação da portuguesa Wasted Rita no Dismaland. Transcrevo as suas palavras com os meus agradecimentos e os meus parabéns à Ritíssima!


E parabéns para a Rita que participou neste projecto.

No Sol

Wasted Rita faz desenhos, ilustrações e escreve teorias sobre o que a rodeia.

Para a "Dismaland", Banksy escolheu cartazes antigos da portuguesa que dizem: "You're giving me massive diarrhea" ("Estás a dar-me diarreia maciça"), "Bankrupt is the new awesome" ("Bancarrota é a nova cena"), "I have no fucking idea what I am doing in this world" ("Não faço ideia o que estou a fazer neste mundo") e "The more I know people the more I love snakes" ("Quanto mais conheço as pessoas mais gosto de cobras").

Além disso, Rita irá replicar, na "Dismaland", a parede "Love Letters" ("Cartas de amor") que criou no Parque das Nações, em Lisboa, durante o festival SuperBockSuperRock, no passado mês de julho.


Entretanto, vi que também a Visão referiu o facto e aqui deixo o link

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo. 

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sábado, agosto 22, 2015

Ela diz que se alguém lhe manda um mail é como uma agressão. [Ela é Hélia Correia]


Escreve à mão ou no computador?

Embora pareça uma contradição com a imagem que as pessoas têm de mim, sou extremamente competente em informática. Resolvo 90% dos problemas que aparecem aqui em casa com o meu namorado e com amigos. Gosto muito de máquinas, desde que estejam paradas porque num carro não entro por implicar perigo para outros seres.

Olho de gato
(fotografia de Andrew Marttila)



Relaciona-se bem com a máquina?

Tenho uma relação muito autoritária e muito arrogante com elas, é uma coisa que está ali para eu mandar nela. 
Quanto a escrever, faço-o no computador já há muitos muitos anos. Preguiçosa como sou, faço um esforço tremendo para escrever qualquer coisa à mão. 
Se tenho de tomar uma nota , comida para a Emily [a gata], por exemplo, faço só o "C" [de comida] e o desenho do gato. Só que depois não sei o que escrevi.

St. Florian Monastery, Austria



E a investigação?

É na internet, porque é uma coisa fabulosa. Eu continuo a apreciar as grandes enciclopédias na Biblioteca Nacional mas agrada-me ter as bibliotecas do mundo todas ao alcance da mão. É uma coisa extraordinária e maravilhosa isso. 
O que não pratico e nem nunca farei, porque odeio e assusta-me, é a interacção das redes sociais. Ter o espaço invadido por não sei quantas pessoas. 
Já os e-mails endoidecem-me, tanto que mudo frequentemente de endereço e deixo tudo esquecido no anterior. Se alguém me manda um e-mail é como uma agressão. E não lhes respondo.

E o fim do livro tradicional por causa do livro digital...

Herb garden book sculpture
(Julija Nėjė)

Não me faz impressão porque o texto é o texto e o livro é um suporte que tem poucos séculos. Se o suporte vai mudar não me preocupa. O texto é o texto, esteja onde estiver. O livro tem o tempo do Gutenberg, é muito recente. Gostaria imenso de folhear livros de papiro ou de pele de carneiro. 
Principalmente, gosto do grande livro imaterial -- esse está a desaparecer --, o livro oral que é quase aquele sonho de Fahrenheit do Bradbury: ter um livro na cabeça. Os actores têm Shakespeare na cabeça. Não é impossível a pessoa ter livros na cabeça.
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Extracto da entrevista concedida por Hélia Correia a João Céu e Silva no Diário de Notícias de 20 de Agosto de 2015


[Hélia Correia recebeu o Prémio Camões 2015. Escritora e com um livro de poemas que é um dos livros de poesia da Língua Portuguesa (A Terceira Miséria), Hélia Correia é também uma mulher que exprime as suas opiniões políticas de forma desassombrada]

As fotografias que usei para ilustrar o texto foram obtidas no Bored Panda.

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Já agora, por falar nisso,



A Book trailer made by High School Students for their AP English Literature class. This is an interpretation of Ray Bradbury's "Fahrenheit 451"

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No post abaixo poderão ver dois vídeos que espelham os contrastes gritantes da realidade angolana. Imagens chocantes que retratam uma realidade chocante. E focam apenas uma parte do que lá se passa.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo fim-de-semana. 
Que descansem, que se divirtam, que estejam bem - é o que vos desejo.

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Angola: miséria, corrupção e luxo


Porque as imagens falam por si (e algumas são difíceis de ver), sem mais palavras deixo-vos com duas reportagens sobre Angola.

Não nos esqueçamos que de Angola provém capital que tem servido para comprar muitas empresas de Portugal (nomeadamente grande parte das empresas de comunicação social e pelo menos num grande clube de futebol) 


Angola: The World's Deadliest Place for Kids | Nicholas Kristof | The New York Times


Nicholas Kristof reports on the rampant corruption in oil-rich Angola, which is depriving children of education and contributing to the highest rate of child mortality in the world.





Exploring one of the world's most expensive cities-LUANDA




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sexta-feira, agosto 21, 2015

A felicidade é o prazer da existência, a existência como prazer. A felicidade é eminentemente política. José Gil dixit. [NB.: E que não se pense que isto da felicidade agora aqui é para compensar a infelicidade do pénis do post abaixo. Não tem nada a ver.]


Meus Caros, 
Se, no post abaixo, ficaram chocados com a minha história sobre o pénis que pediu aumento, terão agora, aqui, oportunidade de ver que não sou indecente a toda a hora (apenas de vez em quando).
Portanto, desviemo-nos dos pénis reivindicativos e entremos num outro comprimento de onda. Uma onda mais zen. Mas zen à maneira - nas palavras de quem sabe do que fala. Felicidade é o tema. O último reduto.






Paul Klee: " A imagem artística não possui nenhuma utilidade especial. O único objectivo que deve cumprir é o de nos tornar felizes"

A criança que entra no mar, sem ondas e com pé, atira com água, chapinha, grita e ri, ri ao sol -- é feliz. A felicidade não é um estado, psicológico ou outro, nem um sentimento ou uma emoção particular. É uma abertura total do corpo ao espaço, aos outros, ao cosmos. Não é um afecto mas uma disposição para viver todos os afectos da maneira mais intensa. Ela mesma tem a intensidade = 0. Por isso acolhe em si qualquer afecto com as intensidades mais variadas.

Há, no entanto, uma afinidade entre o plano da felicidade e o jorrar da alegria: a felicidade (= 0) favorece o máximo de alegria no tempo mais longo (= ∞, a eternidade). A alegria infiltra-se pela alma dentro e torna as emoções fortes e alegres. Mesmo as mais tristes doem sobre um fundo firme e consistente que a alegria forjou.

(...) Na felicidade não há lugar para a inveja, o rancor, o ressentimento ou a maldade. Estes afectos encolhem o corpo e a felicidade dilata-o. São paixões do 'eu' e na felicidade não há 'eu', apenas o acontecer da existência das coisas. A inveja, o ressentimento cobrem o mundo com um véu único e opaco e enfiam-no no eu, enquanto o jogo das cores, os saltos imprevisíveis da alegria tornam impossível o aprisionamento da vida, expandindo-a.

Porque a felicidade permite a maior intensificação dos afectos, o ser feliz é afectado por todo o tipo de emoções com a máxima vibração. A crueldade do mundo, o horror, o mal mais devastador são vividos com lucidez e compaixão extremas. Mas não o destroem, antes lhe dão forças para os combater: a felicidade, como que esquecida de si, torna-a mais densa, não é exactamente porque ela existe e está ameaçada que a barbárie nos afecta a todos?

A felicidade não resulta do somatório sábio de prazeres. Pelo contrário, ela dá valor aos prazeres, acrescentando ao sentir empírico e não empírico um prazer subtil, o prazer de existir. A felicidade transforma assim todo o prazer em prazer de existir: quando se é feliz, o mínimo prazer dos sentidos adquire a consistência aérea que emana do facto de simplesmente existir. A felicidade é o prazer da existência, a existência como prazer. Assim se funda estético-ontologicamente a felicidade.

Como abertura total do corpo ao espaço, às coisas e aos seres, a felicidade não define um estado de espírito fechado que isola o indivíduo na complacência de um prazer que é só dele. A felicidade abre o indivíduo aos outros, torna-o uma singularidade ligada a outras. É uma promessa de felicidade comum. Por isso a felicidade é eminentemente política.

(...) A alegria do devir.


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O texto é da autoria do filósofo José Gil e faz parte de 'Poderes da Pintura' da Relógio D'Água

As pinturas são, como é bom de ver, de Paul Klee.

A música é Once Upon A Time in The West   (Ennio Morricone) com Yo-Yo Ma

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Isto de uma coisa vir catalogada como inspiracional já me faz recuar à força toda mas, enfim, Kipling é Kipling chamem o que chamarem ao seu poema If, aqui lido por Tom O'Bedlam e, portanto, aqui o deixo porque senti muita vontade de o partilhar convosco.



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Leitor, em comentário, deixou-me referência da versão portuguesa dita por Villaret. Deixo-a aqui, com os meus agradecimentos

Se


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Relembro que abaixo há um post muito impróprio para donas de casa bem comportadas, avôzinhos beatinhos, betinhos de fatinho e gravata ou virgens por ideologia: o post abaixo é mesmo para gente que não se importa de passar por indecente (e estou com estes avisos todos apesar de ser uma brincadeirinha de crianças, mas, enfim, pelo sim, pelo não, acho melhor avisar).
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira, com boas notícias, alegrias, presentes, afectos, bolinhos bons, abracinhos fofos e tudo o que de bom vos apetecer. Be happy.

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O dia em que o pénis pediu um aumento


A pedido de uma pessoa que me disse que gostava que eu hoje colocasse aqui uma coisa divertida, aqui deixo uma história em língua inglesa que Leitor, a quem agradeço, me enviou dizendo-me que era um bocado forte mas que, enfim, em inglês sempre disfarçava.

Ora bem, acho que é divertida qb e que, em português é que a gente se entende.

Portanto, cá vai - e quem achar que isto é impróprio para conversa de salão que, pois então, me desculpe e passe à frente que, quando acabar isto, logo vejo sobre que tema mais adequado a meninas bem comportadas me hei-de debruçar.
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Cara Senhora Administradora,

Eu, o Pénis, venho por esta via solicitar um aumento no meu salário pelas seguintes razões:
  • Pratico trabalho físico
  • Trabalho a grande profundidade
  • Mergulho de cabeça em tudo o que me meto
  • Não folgo ao fim de semana nem nas férias
  • Trabalho num ambiente húmido
  • Trabalho num lugar escuro e pouco ventilado
  • Trabalho em altas temperaturas
  • O meu trabalho expõe-me a doenças contagiosas.
Sinceramente,

P. Nis
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Resposta da patroa do pénis

Caro Pénis,

Depois de analisar a sua solicitação e considerando aos argumentos que levantou, a administração rejeita o seu pedido com base nas seguintes razões:
  • Você não trabalha 8 horas de seguida
  • Você deixa-se dormir depois de breves períodos de trabalho
  • Nem sempre obedece às ordens da equipa de gestão. Não se mantém na área de trabalho que lhe foi destinada e é visto frequentemente visitando outros lugares
  •  Não toma a iniciativa - tem que ser pressionado e estimulado para começar a trabalhar
  • Deixa o seu lugar de trabalho bastante bagunçado no fim do seu turno
  • Nem sempre segue as regras de segurança como, por exemplo, usar vestuário de protecção
  • Pelo andar da carruagem, acho que vai querer reformar-se ainda antes de fazer 65 anos
  • Você é incapaz de fazer dois turnos de seguida
  •  Ás vezes abandona o local de trabalho antes de ter desempenhado a tarefa que era suposto
  • E, como se isto tudo não fosse suficiente, tem sido visto a entrar e a sair do local de trabalho transportando dois sacos de aspecto muito suspeito.
Sinceramente,

V. Gina



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Alerta

A canção que se segue, o Pito Mau do Quim Barreiros, parece-me uma canção inocente, bucólica, retratando a vida no campo. Mas, seja como for, aqui deixo o alerta: talvez seja prudente passarem à frente não vá eu ter percebido mal a coisa e, afinal, isto não ser sobre piu-pius e produtos hortícolas..

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Até já.

quinta-feira, agosto 20, 2015

Revelados dados pessoais de muitos milhões de infiéis ou putativos infiéis - os clientes do site Ashley Madison devem estar em palpos de aranha. Curiosidade: dos muitos milhões de clientes cerca de 95% são homens. Será que aquilo é um site de frustrados ou de gays? Pergunto.


Anunciam os media um pouco por todo o lado que uns hackers malandros revelaram dados de 38 milhões de clientes do site de infidelidade Ashley Madison cujo lema é: "Life is short. Have an affairou em português: "A vida é curta. Tenha um caso".® e que se anuncia como sendo o líder mundial de encontros discretos para pessoas casadas.


De entre os dados roubados contam-se os nomes, moradas, números de telefone e de cartões de crédito e os detalhes das transacções - para que não fique margem para dúvidas. Bonito serviço.
Ashley Madison, 100% Secure - uma ova. 
Isto das internets não é mesmo um lugar seguro. Safados dos hackers que gostam de andar a espreitar as camas alheias.

Imagino o nervoso miudinho de muito boa gente um bocado por todo o mundo, já que os sites nacionais proliferam como cogumelos por tudo o que é canto e esquina.

Em Portugal há mais de 100.000 clientes registados, sendo que a maioria é do norte do País - coisa que não espanta já que é sabido que, a Norte, do que se ouve falar, há mais propensão para boites, bares de alterne e frutarias.

Agora, em tudo isto, há uma coisa que me surpreende: leio que 90 a 95% dos clientes são homens. 

Faço uma conta simples e fico perplexa. 

Pergunta a minha ignorância: mas cada mulher é infiel ao mesmo tempo com uma média de 9 a 18 homens?

Ou os homens andam naquilo a ver se pescam alguma coisa e a maior parte não tem sorte nenhuma? Uma coisa na base da infidelidade platónica... será?
Não sei como é que o dito site funciona mas admito que haja chats à laia de preliminares e, às tantas, aquela homenzada toda inscreve-se, andam para ali todos a armar-se em bons, engatatões das dúzias, exibem verbalmente os seus dotes e não passam disso, só uma faz de conta.
Ou, então, é outra coisa: as mulheres que se inscrevem naquilo vão dispostas a tirar a barriga de misérias, não vão para trelélés e não descansam enquanto não traem à séria, cada mês é com um. Uma coisa é certa: com uma desproporção destas, é mais que certo que aqui é que se verifica mesmo aquilo de serem as mulheres a escolher. Na volta, tanta é a oferta masculina, que as mulheres até podem fazer castings.

Ou, então, aquilo é mas é um site de machões, bem casados - e que ainda não saíram do armário, que vão para ali trair as mulheres uns com os outros.

Enfim. Mistério. Seja como for, os seus dados foram pirateados e agora por aí andam, sem dono. Medo....

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Uma dúvida: os encontros promovidos através do Ashley Madison terão a mesma carga romântica e dramática que os encontros do casal amoroso abaixo cantado?



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Permitam que, a propósito do Dia da Fotografia (19 de Agosto), vos convide a descerem até ao post a seguir onde se dá palco a quatro pessoas que vivem a vida através da lente.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta-feira muito feliz, serena.


quarta-feira, agosto 19, 2015

Não é a perfeição: é o momento, é a emoção. Fotografia. Quatro fotógrafos.


Tribo Zo'e do Pará brasileiro no Projeto Gênesis de Sebastião Salgado





Annie Leibovitz: Life Through a Lens





Richard Sidey | Expedition Photography







INFINITY AWARDS RECIPIENT - MARIO TESTINO 



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Apenas como exemplo.


Mais um contributo do Um Jeito Manso para os cartazes das Legislativas 2015. Para a Coltura, Treinadores bem falantes ao poder!. PàF, PàF, PàF!


Não sei não. Quem são as maria-amélias que andam a gastar dinheiro em cartazes que não convencem ninguém? Quem é que pensam que influenciam com cartazes tão sem gracinha nenhuma? 

E olhem lá: julgarão os PàFs que alguém vai votar neles depois de andarem anos e anos a fazer porcaria? Nem pó. 

A gente vê aquelas caras (e vimo-las todas no Pontal) -- um tem cara de joker mal arraçado, outro tem cara de cão com pulgas (e que por aí ainda anda sem coleira), outra anda armada em boazona da coxa grossa, outra com uma carinha sempre franzindo o narizinho a ver se a gente a imagina de pom-pom no rabo, outro espanejando e soltando frescuras, outro todo contente com a própria burrice encartada, etc -- e pensa: mas esta gente não se enxerga? 

(Alguém com dois dedos de testa votará naquelas avantesmas...? 
Claro que não.)

Ora bem.

Conhecida marketeer que sou, deixem-me ajudar-vos, meus queridos PàFs: vamos lá mudar de linha de rumo. Vamos apostar na coltura, nas louras inteligentes, nos machões intelectuais, nos doutores do jet set. -- a ver como o panorama político se anima logo e toda a gente vai a correr votar em vós, meus fofos PàFs.

Nos três posts abaixo já divulguei outros tantos cartazes: um virado para a economia, outro para a justiça e outro para o twitter. Faltava o da cultura - digo: coltura. É este que aqui, agora, vos trago.

A coisa, neste domínio, tem andado mal amanhada, mal representada. No governo do láparo, a cultura não é ministério nem nada. Ainda por cima, foram arranjar um miró que não tem ar de gente nem de quem se sabe dar ao respeito. 

Por isso, mudemos o paradigma da coisa: a malta quer é coltura para o povo - qual museus e óperas ou quadros que ninguém percebe...? Bora mas é contratar um treinador de sucesso, um tipo com pinta de malandro, com penteado à maneira, com chiclete a ensarilhar-se-lhe na conversa, com um vocabulário de deixar de gatas muito intelectual da mula russa, e com uma gramática capaz de fazer muito dótor das artes e bagatelas dar mortais encarpados à rectaguarda.

Dirão os cépticozinhos do costume: mas ó jeitosa, onde é que os PàFs têm guita para contratar esse em quem está a pensar?
Responder-vos-ei: fácil, meus Caros, arranjamos uma troika de patrocinadores. Por exemplo, e isto é só um exemplo, atenção: Um, o marido daquela senhora das mamas grandes, o de Mendes; dois, o padrinho do menino Mendes que ofereceu uma ilha grega aos papás, CR7 de seu nome; e, três, o da voz de copofónico carvalho que tem dinheiro a jorrar-lhe do intestino (isto para usar uma região anatómica próxima da que ao próprio ocorre quando quer ser original). 
E bola para a frente!




Nota: Se a pessoa representada neste cartaz não gostar de ser ver associada à propaganda eleitoral pafiana, é só dizer-me que logo o deslargarei daqui. Usei imagens disponíveis numa conceituada base de dados que, presumo eu, terá acautelado a questão dos direitos de imagem e o escambau.

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Para verem os outros cartazes da autoria da reputada empresa de imagem e consultoria política Um Jeito Manso é só irem de escorrega aí pelo blog abaixo.

E já sabem: caso queiram contratar-me para vos tornar vencedores, é só dizerem (por exemplo: se algum de vós quiser disputar as próximas presidenciais e quiser ter a certeza que vai mesmo suceder ao Cavaco, é só dizer-me que tratarei de uma campanha ganhadora e limpinha, sem polémicas nem caganitas de cagarras nem nada)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma dia muito feliz, tranquilo, cheio de esperança e boa disposição.

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