sexta-feira, maio 24, 2013
Um alerta a quem interesse. Talvez as coisas se possam fazer... mas atenção: têm que ser bem feitas. Ora vejam o que se passou há dias em S. Paulo, Brasil. Marido chega a casa cedo demais. Na aflição, o amante foge para a janela, tenta fugir. O drama é que não é no rés do chão. Enquanto a mulher e o marido discutem noutra varanda, o amante tenta escapar, o velho número do lençol. Azar. Cá em baixo a populaça junta-se, filma, ri, chama cornudo ao marido, a maior paródia, chama os bombeiros e tudo. Enquanto isso, o amante, em cuecas, lá ganha coragem para saltar ... e vê-se filmado para todo o mundo. Lindo.
Annie Leibovitz, a Princesa da Fotografia nas Astúrias (...e muitos parabéns, porque ganhar o prémio Príncipe das Astúrias da Comunicação e Humanidades não é coisa pouca, não senhor...!!!)
Este é já o meu quarto post de hoje aqui no Um Jeito Manso. Dias férteis em assuntos. Por isso, se a seguir tiverem interesse em saber o que dois evadidos do Júlio vieram dizer sobre um IRC em rebajas é já a seguir. Depois temos os segredos da Casa e do Barracão do BB VIP e, finalmente, temos um adeus português a um amigo de Portugal.
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Meryl Streep, a versátil, by Annie Leibovitz |
Para quem aqui me costuma visitar, é sabida a minha paixão pela fotografia. Não apenas fotografo compulsivamente - são milhares, muitos milhares de fotografias - como devoro livros e livros de fotografia, não livros técnicos mas livros de autor, livros de fotógrafos.
Desde há muito que Annie Leibovitz é cá das minhas. Acompanho o seu trabalho, tenho os seus livros.
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Annie, uma mulher informal |
Se Gabriel Garcia Márquez vivia para a contar, Annie vive atrás da lente, ou seja, vê a vida através da lente da máquina fotográfica.
E as suas fotografias são sempre especiais: sejam glamourosas ou intimistas, há nelas sempre um touch of something, arte.
E as suas fotografias são sempre especiais: sejam glamourosas ou intimistas, há nelas sempre um touch of something, arte.
Aliás, para quem não conheça a sua obra, esse livro, Life through a lens, é um bom princípio. E é um belíssimo livro (e não apenas pelo conteúdo - também pela cuidada e requintada edição).
Pelo adiantado da hora, já passa das duas da manhã, não vou agora falar do seu percurso biográfico mas deixo apontado para sítios onde, quem queira perceber de quem se trata, pode ficar com uma ideia: aqui ou aqui, já para não dizer aqui, por exemplo.
Deixo-vos também com um pequeno vídeo, naturalmente muito superficial, apenas para despertar a vossa curiosidade para o trabalho fantástico desta grande fotógrafa (caso o não conheçam).
Pois bem, foi com muita alegria que soube esta quinta feira que Annie Leibovitz ganhou o Prémio Príncipe das Astúrias da Comunicação e das Humanidades. Grande escolha!
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Bom. Já sabem: abaixo deste há mais 3 posts. Já estou como os dois malucos de ontem com o IRC: promoções. Vocês entram para ver um post e recebem de brinde mais 3!!! Se quiserem claro... que isto aqui não se obriga ninguém, ora essa.
E, como se não chegasse, gostaria ainda de vos convidar a virem comigo até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje a poesia de Ricardo Gil Soeiro e uma visão de pura beleza que tive ao fim do dia, levaram-me rio acima, atrás do rasto do sol. E a seguir, por lá, há ainda a fulgurante música do Mali. Apareçam, está...?
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E desta é que me vou. Tenham, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira.
Chegou a hora do investimento...?! Só contaram para eles - para a dupla Gaspar-não-acerta-uma & Álvaro-o-rei-dos-Pastéis... Num dia, Passos Coelho diz que benefícios fiscais para as empresas só lá mais para daqui por uns anos. No dia seguinte aparecem estes maduros a dizer que o IRC pode baixar, já!!!, de 25% para 7.5%. E aparentemente isto é uma coisa de tipo promoção, só até ao fim do ano... Mas esta gente vive em que planeta, senhores??????
No post a seguir a este falo da nova Casa dos Segredos. Aliás, não: da casa do Big Brother. Aliás, não: do Conselho de Estado. Aliás, não: da casa da joana.
Depois, no post mais abaixo, envio um adeus português a Georges Moustaki.
Mas isso é a seguir a este. Aqui, agora, a conversa é outra.
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Não andava o Lobo Xavier a estudar há imensos meses a redução do IRC? Não andavam todos os outros a dizer que isso era bom mas que agora não pode ser...? Ainda na quarta feira ouvi o Passos-o-morto-por-se-ver-livre-disto a dizer que só daqui por uns anos.
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Álvaro-o-rei-dos-pastéis e o Gaspar-não-acerta-uma, aplaudindo-se um ao outro depois de terem fugido do Júlio |
Então qual a explicação para esta maluquice de hoje, de aparecerem aqueles dois artistas a fazer saldos do IRC?
Fiquei de boca aberta. Juro. Isto não é normal.
Eu explico como é que se passa um processo de investimento numa empresa.
Fazem-se estudos, vê-se se há mercado, analisam-se os custos (quer do investimento em si, quer dos custos de exploração dos anos seguintes). Analisa-se se há capitais próprios ou não. Vê-se qual o custo de ir pedir dinheiro emprestado. Fazem-se projecções para os anos de vida útil do investimento. Verifica-se se é rentável. Estuda-se o contexto: há estabilidade fiscal? Há estabilidade no mercado? Há perspectivas de crescimento? Etc. Etc. Etc.
Isso pode levar meses pois é necessário fazerem-se estudos, pré-projectos, consultas a fornecedores, etc, etc, etc.
Depois, se parecer rentável, e se se resolver ir em frente, há meses antes de pôr efectivamente em marcha. Encomendam-se ou fazem-se projectos, fazem-se novas consultas ao mercado, pedidos de licenciamento (se for caso disso, e geralmente é), project finance, negociações, etc. Pode levar mais do que um ano. No caso de projectos de alguma dimensão, leva de certeza.
Ou seja, pela cabeça de que alien é que passa que, só porque estamos em rebajas de IRC, alguém tem capacidade de investir assim de súbito como se isto fosse a mesma coisa que eu ir a passar por uma montra e ver uma blusinha por tuta e meia, olha deixa cá ver se me cabe, olha cabe e fica-me mesmo a matar, anda cá que és minha....?!
Se alguém vai investir no 2º semestre deste ano é porque já o ia fazer, é porque o projecto já estava em curso e, portanto, já tinha assumido que o ia fazer apesar do IRC ser o que era.
Estes doidos encartados ainda não perceberam que, para além da recessão cavada e prolongada, é esta aleatoriedade, esta doidice de fazerem coisas ao calhas, avulsamente, sem lógica, sem rumo, sem aviso prévio, inesperadamente, que faz os empresários estarem todos de pé atrás, incapazes de investir?
Estes doidos varridos - que começo a pensar que são inimputáveis de todo pois a sua maluquice está para além do que é normal - ainda não perceberam que é deles que os empresários têm medo como o diabo tem da cruz?
Oh, valham-nos todos os santinhos que isto até dá medo. E depois são doidos em tudo o que fazem. Uma rebaja que não é brincadeira nenhuma: por pouco não era uma borla absoluta.... Doidos, credo.
Nas empresas, digo-vos, ficamos aterrados com isto. E, de cada vez que um de nós tem uma reunião ou ouve, numa cena pública, um destes totós, vem de cabeça perdida: uns totós como não dá para acreditar...!
Tirem-nos deste filme por favor...!
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Se quiserem seguir para a Casa e para o Barracão para saber se o Zezé Camarinha se passa com a Fanny ou se o Marques Mendes comete mais alguma inconfidência, é descerem até ao post a seguir.
Temos uma nova e animada Casa do BB VIP. Para quê ver o Big Brother na TVI? Qual a graça de ver se há ou não namoro entre a Kelly e o Pedro? De ver se o Edmundo e a Raquel se vão acertar? De espreitar para ver como vão acabar as coisas entre o Zézé Camarinha e a Fanny? Para quê se conseguimos saber com todos os pormenores o que se passa na Casa (digo, Conselho de Estado) e no Barracão (digo Conselho de Ministros)???
No post a seguir a este recordo o Portugal feliz e florido de Georges Moustaki.
Aqui, neste, mostro porque são estes tempos presentes tão diferentes do que eram naquele longínquo Abril.
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A falta de qualidade que este PSD e este CDS trouxeram para a vida política nos últimos dois anos tem estado a minar os alicerces do regime. Não apenas tem destruído a confiança que os cidadãos tinham nas instituições de quem dependem – e que tinham a obrigação de ser incólumes face a todos os males – como vieram trazer um desrespeito pelas mais altas figuras de Estado que começa a ser assustador.
É sabido como a falta de respeito mina de forma fatal qualquer relacionamento, prenunciando o inexorável fim.
Já não falo do que se passa entre a população e os ministros porque esses, com a sua miserável actuação, se prestam a isso. Veja-se o conteúdo dos cartazes de todas as manifestações, vejam-se as capas dos jornais, vejam-se as redes sociais, veja-se o que toda a gente em todos os canais de televisão diz, ouça-se a população de todas as classes sociais – e perceber-se-á como, aos olhos de toda a população, o governo já não passa de um bando de zombies malfeitores que para aí anda, adiando o mais que certo fim muito pouco digno.
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Cavaco Silva, Dias Loureiro, Duarte Lima - a visão do blogue 'We have kaos in the Garden' relativamente ao Conselho de Estado |
Mas falo agora do Conselho de Estado. Sendo o órgão consultivo da mais alta figura de Estado, e sendo supostamente constituído pelos sábios da Nação, haveria de ser um órgão respeitado por todos.
Não é por nada mas o Conselho de Estado deveria estar vedado a criaturas conhecidas pelo gosto pela baixa política, intriga, leva e trás, ambição provinciana.
Mas adiante.
Tem lá gente honorável, culta, inteligente, patriótica, democrata - e esses mereceriam melhor fama do que aquela em que agora se estão a ver envolvidos.
Havia aquela coisa que se sabia - e toda a gente respeitava - de nenhum dos participantes vir cá para fora ‘bufar’ sobre o que lá se tinha passado. Isso era o garante de que, no segredo daquelas paredes, todos poderiam falar livremente, aconselhando em consciência o Presidente da República.
Acontece que este presidente da República não se dá ao respeito e acontece que este primeiro ministro tira qualquer um do sério.
E é assim que agora assistimos, perplexos, ao desfiar, com detalhe, do que lá se passou, do que um disse, do que o outro exigiu, do murro que o outro deu na mesa.
Ou seja, a bandalheira está instalada.
Note-se que, em abstracto, não me revejo na decisão de quem, não respeitando Cavaco Silva e não se revendo naquele indigente comunicado, resolveu repor a verdade dos factos através dos jornais. Mas a questão não é essa. O que faço notar é o pântano em que colectivamente nos estamos a afundar por estarmos num barco conduzido por tão fracas figuras. Com um Presidente que se desse ao respeito, situações destas nunca aconteceriam. Mas, também, com outro Presidente, um sujeito como Passos Coelho, depois de já ter feito o que tem vindo a fazer, também já não era Primeiro-Ministro há muito tempo.
Cavaco Silva e Passos Coelho são uma dupla na qual os Portugueses já não se revêem nem com molho de tomate. Toda a gente está a atingir um ponto de saturação que não sei no que isto pode dar. Deveriam ter o discernimento de sair pelo seu próprio pé. Não o tendo, assiste-se à mais absoluta degradação da vida política.
…
Face a isto, o que são as pequenas peripécias do Big Brother dos VIPs?
Onde há intriga, vinganças, traições, ciúmes, raivas, a sério, é no Palácio de Belém e, já agora, também no Conselho de Ministros.
Aliás até pergunto: uma vez que se sabe de tudo o que lá se passa, porque não instalar câmaras e microfones e transmitir na televisão?
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Se quiserem respirar um pouco do sonho de Abril na voz de um amigo de Portugal, é seguirem até ao post seguinte.
quinta-feira, maio 23, 2013
Morreu Georges Moustaki e de um Portugal entristecido, num Maio entristecido, lhe envio o meu adeus português
O tempo passa. Lembro-me bem do Portugal de Moustaki e do cheirinho a alecrim do Chico. Gostava de ver como a alegria portuguesa enchia de esperança os sonhadores de todo o mundo.
Agora a festa acabou, as musas parece terem abandonado o jardim, a esperança parece abandonar os rostos. E já não florescem mil flores encarnadas.
Mas um dia virá. E a canção Portugal de Georges Moustaki estará cá, entre nós, para nos lembrar, para nos fazer acreditar e lutar por um Portugal em que mil flores voltem a florir.
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal
Portugal, Georges Moustaki
Oh muse ma complice
Petite sœur d'exil
Tu as les cicatrices
D'un 21 avril
Mais ne sois pas sévère
Pour ceux qui t'ont déçue
De n'avoir rien pu faire
Ou de n'avoir jamais su
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
A fleuri au Portugal
On crucifie l'Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans l'oubli
Aux quatre coins du monde
Des frères ennemis
S'expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal
Pour tous les camarades
Pourchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les îles
Oh muse ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flamme
Qui éclaire l'avenir
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal
Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S'envole ta chanson
Car enfin le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal
Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C'est peut-être la fin
D'un empire colonial
Flirts, festas, festinhas, gatinhos, vestidinhos de crochet, sorrisos oblíquos, poesia, fotografia, mergulhos... e muita malícia. Are you free for breakfast? Sim...? Óptimo, venham daí comigo e com a Vanity Fair. Bailas? Bailias.
No post abaixo falo de coisas sérias e tristes e deixo um conselho em forma de canção aos nossos ministros que andam mortos por se verem livres de nós - mas que, desgraçadamente, não sabem que para tudo é preciso sabedoria, até para perceber quando é chegada a hora de partir.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra: é hora de folguedo! "E nós, meninas, bailaremos i".
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Are you free for breakfast? - Estão...? Estão, sim. Sei que sim. Venham daí! É tempo de nos despirmos (para já, de preconceitos), esquecer a crise, imaginar outros tempos e sorrir, dançar, seduzir, namorar. Ou fantasiar.
- Gato, gatinho... que malandrice é essa? Essa tua linguinha, oh safado gatinho...!
Bésame, bésame mucho
como si fuera ésta noche
la última vez
...
and make my all my dreams come true
la la la la.
Bésame, bésame mucho
como si fuera ésta noche
la última vez
...
and make my all my dreams come true
la la la la.
...
Ai noites ai noites
de sol a pino
A gente, de vez em quando, tem que dar um passo atrás, sossegar o espírito, arejar as plumas, sacudir os desânimos, respirar fundo, levantar a cabeça, deixar que novas palavras nos visitem, que novas ideias nos desafiem. Parar.
Depois, então, de alma lavada, coração leve, olhos bem despertos, músculos prontos para uma nova corrida, será tempo para os duros combates.
CÂNTICO MODERADO
Abraçou-o como às uvas
com todos os dentes
das mãos
Sessão fotográfica da Vanity Fair - "Are You Free For Breakfast", fotografia de Bruce Weber
Vamos, irmã, vamos folgar
nas margens do lago u eu vi andar
a las aves meu amigo.
Vamos carregadas de braços
lavrar as aves tardar nas aves
do meu amigo.
Vamos, irmã, vamos folgar
pingar com as aves
nós duas estreitas
para o amigo.
vamos carregadas de noites
acender as aves pousar as aves
boca a boca
no amigo
Sessão Fotográfica para a Vanity Fair de Fevereiro de 2013 com a vencedora dos Óscares deste ano, Jennifer Lawrence
Nessa noite grave dia nasceu, senhor.
Os dedos atrevendo-se aos dedos
artesanais como a erva.
Que repouse para sempre no tímpano dos seixos
o uivo desse sexo fulgente
porcelana do prado quebrando-se na boca
hábil e agre
como a carne magra
das papoilas.
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Os poemas são de Catarina Nunes de Almeida in Bailias.
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Se vos apetecer voltar à realidade, relembro que, no post abaixo, Charles Aznavour chega-se a nós para todos juntos enviarmos uma mensagem aos ministros - a eles ou, já agora, aos familiares (que andam tão activos) a quem os ministros ainda ouçam. Pode ser que, de uma forma ou de outra, a mensagem surta efeito junto de alguns.
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Permitam que vos convide ainda a continuarem na minha companhia. Hoje no Ginjal as minhas palavras foram atrás das que Hélia Correia dedicou a Vasco Graça Moura. Gostei de as escrever. A seguir há mais uma música maravilhosa do Mali, com o fantástico Bassekou Kouyate.
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Para os leitores, tão simpáticos, que me têm escrito a perguntar pela minha constipação e a quem, por escrever aqui e no Ginjal como se não houvesse amanhã, não tenho tempo de responder pessoalmente, agradeço do fundo do coração e digo: a danada transferiu-se para a garganta. Agora estou quase sem voz e aflita com dores de garganta. Já comecei a tomar um anti-inflamatório pelo que amanhã já devo estar fina. Pelo menos assim espero. É que isto nem é doença, é uma porcaria sem importância nenhuma, mas causa um mau estar que só visto...
E, por agora, é isto.
Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.
Descansem, riam, sejam felizes - se puderem e quiserem, claro...
quarta-feira, maio 22, 2013
Mensagem para todos os ministros que estão mortos por se verem livres disto. Para todos. Chamem-se eles Pedro Passos Coelho, Paulo Portas ou o que for. Mensagem também para todos os familiares e amigos que estão desejando que eles saiam para poderem fazer uma festa (na esperança que esses ministros ainda os ouçam...) - de Charles Aznavour, 'Il Faut Savoir' (que é como quem diz: é preciso saber)
Em mais um dia diabólico:
- em que o CES faz um relatório arrasador para o Governo que é aprovado por unanimidade (com excepção para os representantes do Governo que se abstiveram),
- em que pudemos observar a subserviência humilhante de Gaspar junto do seu patrono Schauble, mentindo descaradamente, a dizer que em Portugal o ajustamento está a correr bem,
- em que se sabe que a Dívida Pública ultrapassou os 127% e em que já é assumido que atingiu um volume impossível de pagar e que, pior, está a crescer descontroladamente,
- em que vêm a público (e todos os dias, de forma avulsa e atabalhoada, isto vai acontecendo) mais um agravamento de contribuições, desta vez para a ADSE e, uma vez mais, para os reformados do Estado, agora abrangendo os de mais baixos rendimentos,
- em que se sabe que o Conselho de Estado foi quase um golpe de estado,
- em que chovem vozes de pessoas dos próprios partidos que estão no governo a alertarem para os riscos brutais da espiral que se está já a auto-sustentar (o que é próprio das espirais recessivas),
- em que se ouve que em Viana de Castelo 40% dos clientes dos serviços municipalizados não consomem água, deixando toda a gente perplexa e preocupada,
- etc
- .........
percebe-se que Passos Coelho acha que, se se for embora, o belo trabalhinho que fez se perde...!
Ou seja, percebe-se que aquela criatura acha que está a fazer uma coisa de jeito e não quer deitar isso a perder...
Aterradora a falta de noção. Aterrador.
Em dois anos deu cabo da vida de muitos milhares de pessoas, arrasou empresas, vendeu empresas estratégicas para o estrangeiro, espatifou a economia, secou a liquidez da classe média, tudo mal, tudo, tudo, tudo mal, e, enquanto isso, desbaratou dinheiro em assessores, consultores, adjuntos, e outros amigos, que nada sabem, que nada fazem, e que custam muito dinheiro. Tudo na maior leviandade. Sem sensibilidade social, sem compaixão, sem inteligência emocional ou racional.
Uma pessoa inteligente tem noção das suas limitações e sabe que há sempre quem saiba mais e faça melhor do que ele. Um ignorante é o contrário: não tem noção da sua ignorância e acha-se o melhor.
Por isso, para Passos Coelho, para Paulo Portas - que face a TUDO o que se tem passado se mantém ainda ao lado de Passos Coelho -, e para todos os outros ministros ou para quem lhes consiga fazer chegar esta mensagem, aqui lhes deixo uma notável canção de Charles Aznavour.
Talvez alguns dos meus leitores não saibam francês. Por isso, em síntese, a letra da canção diz basicamente isto:
Para quem ainda queira sair pelo seu próprio pé: é preciso saber abandonar a mesa, é preciso saber retirar-se sem olhar para trás, sem fazer barulho. É preciso saber manter a face, sair mantendo a dignidade. É preciso saber sair.
Il faut savoir encore sourire
Quand le meilleur s'est retiré
Et qu'il ne reste que le pire
Dans une vie bête à pleurer
Il faut savoir, coûte que coûte
Garder toute sa dignité
Et malgré ce qu'il nous en coûte
S'en aller sans se retourner
Face au destin qui nous désarme
Et devant le bonheur perdu
Il faut savoir cacher ses larmes
Mais moi, mon cœur, je n'ai pas su
Il faut savoir quitter la table
Lorsque l'amour est desservi
Sans s'accrocher l'air pitoyable
Mais partir sans faire de bruit
Il faut savoir cacher sa peine
Sous le masque de tous les jours
Et retenir les cris de haine
Qui sont les derniers mots d'amour
Il faut savoir rester de glace
Et taire un cœur qui meurt déjà
Il faut savoir garder la face
Mais moi, je t'aime trop
Mais moi, je ne peux pas
Il faut savoir mais moi
Je ne sais pas...
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Constança Cunha e Sá na TVI 24 diz, 'abismada', que 'não faz sentido que Gaspar vá à Alemanha exibir a sua triste figura' e recomenda que 'Portugal deixe de prestar vassalagem ao ministro das finanças alemão, Schauble'. Nem mais. Mas o gaspar-não-acerta-uma lá sabe o que anda a fazer...
Abaixo há mais dois posts no mesmo comprimento de onda. Um sobre o Poiares Verdinho e outro sobre o Rato Verdinho (de quem os bancos devem fazer gato sapato - mas isto sou eu a especular, é claro. Mas vocês vejam e tirem as vossas conclusões).
Aqui, agora, a conversa é sobre outro, um que de Verdinho não tem nada.
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O Gaspar-não-acerta-uma e o chefe |
Só soube da notícia pela Constança Cunha e Sá, só a essa hora é que consigo ver as notícias. Estava indignada, ela, (e bem vestida, bem maquilhada como sempre), com aquela verve que até a faz borbulhar. Antes via-a ir aos arames com Sócrates. Agora, com estes, só não a vejo partir para a violência física porque eles, prudentemente, nem se aproximam dela. E mereciam todas as que ela lhes desse.
Disse ela que esta atitude do ministro das Finanças levanta desconfianças em relação ao Governo.
«Quais são as informações que este Governo presta, no fundo, aos parceiros internacionais ou à troika, neste caso ao ministro alemão? Vítor Gaspar vai lá para dizer o quê? Para dizer que isto está a correr lindamente, que isto é um caso de sucesso?», questionou.
«Eu penso que isto é lamentável. Revela, por um lado, uma subserviência enorme do ministro das Finanças, do Governo português, perante o governo alemão. Porque não é ao Governo alemão, nem muito menos ao ministro das Finanças alemão, que compete avaliar ou deixar de avaliar o problema de ajustamento português», afirmou Constança Cunha e Sá, no espaço de análise nas «Notícias às 21:00».
Fui procurar e confirmei: o ministro das Finanças português vai discutir com o seu homólogo alemão a aplicação do programa de ajustamento nacional na próxima quarta-feira, em Berlim, durante um encontro bilateral.
De acordo com a Lusa, que cita fonte oficial do Ministério das Finanças, a reunião entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schauble está marcada para o meio-dia, devendo suceder-se um almoço e uma conferência de imprensa às 13:40, hora de Berlim.
E o que acho eu disto? Acho que isto é o carnaval do costume, um faz de conta que já chateia - mas, no fundo e sobretudo, também acho que é uma vassalagem humilhante.
Entre chegar e não chegar, ter uma reunião e almoçar, a coisa nem chega a duas horas. Ou seja, não é em duas horas que se trata de coisa nenhuma, ainda por cima com almoço pelo meio. O que ele lá vai fazer, tem razão a Constança, é picar o ponto, mostrar serviço, dizer que 'está tudo bem, um ou outro irrelevante dano colateral, nada de mais, uns velhinhos a estrebucharem, um ou outro ministro a fazer fitas mas já é costume, nada de mais'. Ou seja, vai mostrar-se à altura do lugarzinho que o tiozinho, o coronel, o Schauble, lhe há-de arranjar. No BCE, na Comissão Europeia, por aí, nesses sítios onde vão parar os incompetentes de alto gabarito.
Ainda agora, enquanto escrevo, vejo o cherne Durão, num inglês pestilento, perorando contra a evasão fiscal. Depois de lá estar há não sei quantos anos e de nada ter feito, gosta de fazer de conta que aterrou ali por acaso e fingir-se de indignado, como se não tivesse responsabilidade nenhuma sobre o lindo estado a que a Europa chegou.
Mas, voltando ao Gaspar: é nitidamente um ministro com uma agenda própria, num governo em roda livre. Vai vender o País à Alemanha. Imagino-o a dizer: Venham, já podem ir: os ordenados já estão baixos, já é fácil e barato despedir, a malta já está anestesiada, estão como os touros cujos joelhos tremem e fraquejam enquanto olham, indefesos, sem reacção, o ferro que os vai matar.
Enquanto isso, a Alemanha também diz que aceita jovens portugueses. Pudera. Portugal investiu neles, formou-os e, quando deveria poder rentabilizar o investimento e dar-lhes emprego, escorraça-os. Vão fazer descontos para o Estado alemão deixando o estado português cada vez mais depauperado.
Isto é de pôr qualquer um doente. Se calhar por isso é que estou como estou.
Razão tem Manuela Ferreira Leite (ouvi-a também agora): assim não vamos a lado nenhum e não nos vamos aguentar sozinhos. Ou alguém nos deita a mão, chamem-lhe um novo resgate ou outra coisa qualquer - ou o País vai ao fundo.
É que até o pai de Passos Coelho já lhe diz para ele se ir embora. Porque é que ele não dá ouvidos ao pai, senhores?!
É que até o pai de Passos Coelho já lhe diz para ele se ir embora. Porque é que ele não dá ouvidos ao pai, senhores?!
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Bom, já agora, não se fiquem por aqui. Como disse, abaixo há notícias sobre o Poiares que também até dó e, a seguir, uma visão assustadora que envolve o Moreira Rato, logo seguida do seu percurso profissional que justifica o que se vê.
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E, como se não bastasse, ainda vos convido a virem comigo até ao meu Ginjal e Lisboa. Hoje, pela mão de Armando Silva Carvalho, sou levada a um desfecho meio tétrico. Isto deve ser da gripe com que estou. Mas, a seguir, para animar, há, de novo, a maravilhosa música do Mali.
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E agora vou tomar o meu ben-u-ron e beber o meu chá quente para ver se me aguento. Não vou rever o que escrevi que já mal consigo abrir os olhos, de tal forma estou congestionada.
Desejo-vos uma bela quarta feira. Vem aí outra vez o calorzinho. Que bom.
Miguel Poiares Maduro. Maduro? Ná... A mim parece-me outro verdinho... Depois de levar tareia da Concertação Social - 'que aquela reunião não foi nada, que os do Governo não vão preparados, que aquilo até é embaraçoso, e que, ainda por cima, o ministro ao fim de uma hora se foi embora, etc, etc - veio desculpar-se, quase a fazer beicinho, voz de betinho, tatati, tatati, 'concetação', 'paceiros', patati, patati. Até dá dó.
Isto hoje está lindo, está. No post abaixo a coisa já não estava a correr muito bem. Agora aqui, aparece-me também este.
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Miguel Poiares Maduro, Adjunto, Verdinho e voz de Betinho (pergunta a minha inocência: era este artista que ia fazer a coordenação política do Governo?) |
Não estou a ser mázinha, não senhor - e não me venham pedir paninhos quentes que eu já não consigo ter paciência para com quem anda a destruir o País. Estou a dizer as coisas como elas são.
Se o Poiares Verdinho fosse professor lá em Florença eu não dizia nada, queria lá eu saber dele. Agora o que chateia é que é gente destas, que não faz a mínima, mas a mínima ideia do que é governar, que para aqui anda a dar cabo deste país.
Foi para uma reunião sem conteúdo, foi mal preparado, não quis falar do que os Parceiros queriam falar, ao fim de uma hora foi-se embora, e depois ainda vem armado em vítima, todo queixinhas com voz de betinho, como se quisesse dar uma lição de moral a quem anda nisto há séculos e tem carradas de capital de queixa...? Patético.
Foi para uma reunião sem conteúdo, foi mal preparado, não quis falar do que os Parceiros queriam falar, ao fim de uma hora foi-se embora, e depois ainda vem armado em vítima, todo queixinhas com voz de betinho, como se quisesse dar uma lição de moral a quem anda nisto há séculos e tem carradas de capital de queixa...? Patético.
Claro que, com esta atitude, não é respeitado pelos Parceiros nem pode ser. Se ele e os seus adjuntos vão para as reuniões com um inquérito que já antes tinham levado, sem mais nada, sem ter nada que acrescentar, confrangedoramente impreparados - numa altura em que urge pôr a economia a mexer, numa altura em que há tantos fundos parados à espera de serem utilizados, numa altura em que os Parceiros Sociais estão revoltados e querem medidas concretas e nada de paleio abstracto - como é que querem ser respeitado?
O que este verdinho está mesmo a precisar é de ser praxado pela Avoila. Pena é que ela ande por outras bandas.
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Se quiserem seguir para bingo, é descerem um pouco mais até ao post seguinte: Moreira Rato a nu. Muita luz se fez na minha ensombrada cabecinha.
terça-feira, maio 21, 2013
Moreira Rato, o Chicago Boy que foi posto como presidente do IGCP, ex-Lehman Brothers, ex-Goldman Sachs, para além de ter passado por sítios mal frequentados, é afinal um verdinho que dança miudinho face a uma simples pergunta de José Gomes Ferreira na SIC N. É este o génio que está a gerir a dívida pública portuguesa?!?!? Ok. Vou ali e já venho. Isto é de susto!
Ele são tantas que a gente, às tantas, já nem dá por elas. Havia um tal sujeito que parece que ganhava mais que os outros, coisa para cima de dez mil e tal euros por mês, mas que era muito experiente e tal - e a gente já nem arrebita as orelhas, deixa passar.
Até que um Leitor atento faz a gentileza de nos acordar: enviou-me o filme que abaixo vos mostro. E fez-se-me luz.
Confesso que fiquei admiradíssima. No mail, o Leitor falava em cabotino e eu, depois de ver o filme, respondi que me parece mais um totó.
Vocês verão e ajuizarão.
Estamos a falar, nem mais, da criatura que gere a dívida nacional, o tal que anda aí a fazer flores com ajuda de sindicatos bancários, assessorado por baixo e por cima, e que o que consegue é taxas de juro mais altas do que toda a gente, inclusive mais altas do que os dos empréstimos da troika. Um génio, portanto, como verão.
Hesito em mostrar-vos já a literatura que encontrei na net sobre a figurinha ou deixar-vos verem antes o génio em acção.
Vou mostrar já. E reparem que o José Gomes Ferreira não é nenhum ás, embora nisto, tal a indigência reinante que quem tem um olho é rei: é que o Gomes Ferreira não é génio nenhum da dívida pública, e, embora faça programas de economia, não é economista (e, aliás, já confessou que, quando estudante, não era sequer aluno de jeito a matemática). É jornalista, curso de Comunicação Social, nada de Finanças, Economia ou Gestão, sequer Contabilidade. Jornalista.
Apesar disto (... e se eu me irrito frequentemente com o populismo e a falta de sustentação do que ele diz...) vejam como, com umas simples perguntinhas, ele dá um baile, mas ó que baile, ao artista Moreira Rato. Sim, que é do Rato, do João Moreira, que estou a falar.
E anda o nosso dinheirinho - e todo o País - nas mãos de verdinhos destes. Eu se, na minha vida profissional, apanho um destes pela frente penso logo cá para mim 'Make my day...' pois sei que, não tarda, vou fazer dele o que quiser. Sem espinhas.
Coisinhos destes apanham-se à mão.
Valham-nos todos os santinhos, é o que vos digo.
Fui à net para tentar descobrir o Curriculum Vitae da criatura. É de pasmar.
Transcrevo do Dinheiro Vivo, parte da notícia relativa à ascenção do Chicago Boy - como os lambe-botas lhe chamam (juro: qualquer dia deixo de chamar botas aos cus) - ao cargo que ocupa:
João Moreira Rato, o homem escolhido por Vítor Gaspar para dirigir os destinos da emissão da dívida pública portuguesa e o regresso de Portugal aos mercados internacionais, era até agora editor executivo do Morgan Stanley. Quarta-feira foi um bom dia para os Moreira Rato. No dia em que João foi anunciado como presidente do IGCP, soube-se também que o seu irmão mais novo, Miguel – dono da consultora M Public Relations – tinha ganho a conta do Millennium bcp.
Doutorado pela Universidade de Chicago, o novo presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP), que em setembro completará 41 anos, passou pelo falido Lehman Brothers e pelo Goldman Sachs, o banco que coloca ex-funcionários nos lugares de topo que decidem o rumo da economia global - de tal forma que os concorrentes lhe dão a alcunha de Government Sachs.
Casado, dois filhos, João Moreira Rato saiu de Portugal em 1995 e vive em Londres desde 2000; foi também um dos três partners portugueses que lançou, em fevereiro de 2008, o Nau Capital, um hedge fund que tinha como objetivo chegar aos 500 milhões de euros em dois anos; a aventura terminou quatro anos depois, com a venda da totalidade do fundo ao Eurofin Capital.
Ou seja: experiência? Dois ou três anos em cada lugar?! Não é assim que se adquire experiência. Aliás basta olhar para ele, ver como dança miudinho face a uma simples perguntinha de um jornalista. O que ele andou foi a passarinhar por sítios que não se recomendam!
Resta saber perante quem é que ele responde (porque, ao vê-lo e ouvi-lo, fico muito apreensiva).
Resta saber perante quem é que ele responde (porque, ao vê-lo e ouvi-lo, fico muito apreensiva).
Quanto mais sei, mais me assusto. Juro.
Sobre o Conselho de Estado que ainda dura já lá vão sete horas - já devem estar a discutir o pós-euro ou o século XXII... só pode... - não há nada a dizer. Jorge Miranda, Guilherme de Oliveira Martins, Bagão Félix e toda a gente com dois dedos de testa já não vêem é a hora de estarmos no pós-Passos e pós-Cavaco. Por isso, dou a voz a Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem", e poema "Aos que virão depois de nós", e sobre "O analfabeto político" e "Nada é impossível de mudar". E, agora, vou tomar um comprimido para a constipação e enfiar-me na cama.
A quem protesta contra o roubo, a insensatez, a incongruência, a incompetência, o empobrecimento, há quem chame indelicado. E o que se deve dizer dos que, com a sua insensatez, incongruência e incompetência, roubam todo um povo?
"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem", escreveu Bertold Brecht.
Sob o olhar admirado de uma gaivota, à beira do Tejo, árvore arrancada a uma margem e arrastada por um rio embravecido Ou seria a árvore que estava numa margem que comprimia o rio? |
À hora a que escrevo ainda dura o Conselho de Estado. Já sabemos que José Mourinho vai sair do Real Madrid, as televisões encheram-nos a casa com directos, oh que coisa tão importante!, mas se o incompetente que nos desGoverna sai, isso aí, não, que isso desestabiliza o País. Já ninguém acredita na capacidade desta gente - mas dar-lhes um pontapé no rabo, isso, está quieto.
Imagino que a esta hora reine a confusão em Belém, com o brilhante Cavaco a querer consensualizar o inconciliável... não agora... mas para o pós-troika. Agora, pode a cova estar a ser cavada à força toda, e meio país já lá com os pés enfiados, que é deixá-los continuar... que o importante agora é discutir o que se vai passar depois do verão do ano que vem. Do além!
Jorge Miranda, esse etéreo ser que geralmente apenas se pronuncia sobre a constituição, hoje saíu-se com esta: que está terrivelmente preocupado porque estamos sem Governo, sem Presidente da República, sem Banca, sem Economia, sem Jovens. Concordo.
Guilherme de Oliveira Martins diz basicamente o mesmo, que esta austeridade está a destruir o País já que austeridade só pode ser levada a cabo em ambiente de desenvolvimento. Claro. E acrescenta que "A disciplina tem sempre de se fazer num horizonte de justiça distributiva, articulando eficiência com equidade". Obviamente.
Bagão Félix, como todos sabem, pede a plenos pulmões a saída de Gaspar pois diz que este errou demasiado e que o seu papel está esgotado. Claro.
Podia continuar citando vozes insuspeitas. Mas ia ficar aqui até amanhã de manhã. Ou melhor, até ao pós-troika.
No meio do coro generalizado que pede o afastamento deste desGoverno que está a destruir o País de forma dramática, continuam a aparecer as 'bocas' dos ministros através dos jornais.
Pasme-se: no meio da barafunda sobre os cortes de 11% nas pensões, sobre a taxa dita TSU dos reformados que sim, talvez, só se for preciso, e mais o que por aí anda, eis que aparece Paulo Portas a lançar outro cenário para a mesa: O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, defende que a fixação de um tecto para as pensões actuais deve ser discutida em concertação social, considerando-a uma boa alternativa para o Governo ganhar margem orçamental e para procurar melhores consensos sociais e políticos, avança hoje o SOL.
A pensão máxima seria de 5.030 euros, diz ele.
Não contesto nem deixo de contestar esta ideia, mas contesto a forma, o momento, a forma leviana como se fala de uma coisa destas. Assim, pelos jornais, são bocas e contra-bocas sobre um assunto que exigiria contenção, que é tecnicamente complexo, que se mede através do recurso a técnicas actuariais, a projecções demográficas. Assim, são achas para a fogueira, nada mais - e mostra a mais absoluta descoordenação. Uma vergonha. Se ele acha isto, seria dentro do Governo que o deveria defender e não na praça pública. Quando a confusão já está generalizada, que espera ele conseguir em lançar mais cartas para cima da mesa? Aumentar a balbúrdia? Não percebe que já ninguém sabe a quantas anda?
E ainda não perceberam que isto se dirige a gente? A gente de carne e osso, quero eu dizer... A gente que anda aflita sem saber se vai ter dinheiro para fazer frente às despesas... Ainda não perceberam?
Que impressão que isto me faz.
Mas vou deixar-vos com dois poemas de Brecht. Estou constipada ou engripada ou lá o que isto é, sinto-me doente, meio febril, com dores de garganta, um pingo constante. Estou toda encasacada como se estivesse no inverno - eu que sou uma encalorada. Não sei se foi do frio que apanhei nestes dias, se foi dos babies a tossirem-me para cima, se é de outra coisa qualquer, mas tanto faz. Tenho que ir tomar um ben-u-ron de 1mg, beber um chá quente e enfiar-me na cama que amanhã me espera um dia dos valentes.
E estar aqui a escrever para desanimar ainda mais quem me lê e já anda preocupado, também me chateia. Mas vocês desculpem-me: estou preocupada com isto. Um país ser governado por um fulano que não sabe nada de nada, que nem sequer sabe ser líder, é uma desgraça. E, sendo como é, podia ter arranjado uma equipa boa e apoiar-se neles. Mas não, encostou-se a um fulano esquisitíssimo e que nem contas simples sabe fazer. Claro que poderíamos ter no presidente da república uma válvula de escape, mas não, é o contrário: não atina, anda desfasado, acobardado ou lá o que é. Outra desgraça.
Não é que eu tenha perdido a esperança. Não perdi. Mas é que não perdi mesmo. A Igreja também não esteve tanto tempo tolhida, manietada, com a sua prática virada do avesso, e, de repente, não aconteceu isto de ter aparecido um Papa que é uma lufada de ar fresco? E por cá? Não é também uma lufada de ar fresco a vinda de D. Manuel Clemente para Patriarca de Lisboa?
Então? Porque não há-de de repente, sem que a gente perceba como, aparecer alguém decente, uma solução capaz para tudo isto?
Eu acredito nisso. E farei tudo o que estiver ao meu alcance para o conseguirmos. Acima de tudo não nos podemos demitir das nossas responsabilidades - porque nós temos a responsabilidade de escolher bem, de exigir justiça, de lutar contra a destruição das nossas vidas e do nosso País.
Mas, então, fiquemos com estas belas interpretações de Bertold Brecht [Cia. do Porão (Núcleo 33 de teatro da Fundação das Artes de São Caetano do Sul) para apresentação do espectáculo A Padaria].
Léia Nogueira diz:
Bertolt Brecht - Aos que virão depois de nós
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses,
Quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
Já está então inacessível aos amigos
Que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
Pagar o mal com o bem,
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
II
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
Deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
III
Vocês, que vão emergir das ondas
Em que nós perecemos, pensem,
Quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios
De que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados!
Quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
Faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
Que queríamos preparar o caminho para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o homem seja amigo do homem,
Pensem em nós
Com um pouco de compreensão.
Renata Vasquez diz:
Bertold Brecht - O analfabeto político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
Bertold Brecht - Nada é impossível de Mudar
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
**
Hoje, no meu Ginjal e Lisboa, a love affair, tenho uma interpretação fabulosa de Bassekou Kouyate e, antes disso, três poemas cantados pel'A Naifa: um de José Luís Peixoto, outro de Adília Lopes, e outro de Eduardo Pitta. Vale a visita, acho eu. Assim, doente como me sinto, não me dá para outros voos. Mas, reparo eu agora, no mesmo post consegui incluir dois ódios de estimação da Ana Cristina Leonardo. Isto se ela também não tiver também uma aversãozita à Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, aka Adília Lopes...
**
E, desejando sinceramente que, entre mortos e vivos, escape algum, vou esperar pela manhã de amanhã para saber das brilhantes conclusões do Conselho de Estado.
Tenham, meus Caros Leitores, uma bela terça feira!
segunda-feira, maio 20, 2013
O que devemos fazer quando tudo arde?
No post abaixo falo da irrelevância das pessoas à medida que nos distanciamos delas. Falo e demonstro-o através de uma fotografia.
Mas isso é no post a seguir. Aqui, neste, interrogo-me. Podia fazê-lo em silêncio. Mas, ainda assim, interrogo-me em voz muito baixa.
Mas isso é no post a seguir. Aqui, neste, interrogo-me. Podia fazê-lo em silêncio. Mas, ainda assim, interrogo-me em voz muito baixa.
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Que farei quando tudo arde? pergunta o escritor. Que faremos? Ou melhor, o que deveremos fazer?
Se desanimamos, o caminho fica livre para aqueles para quem não passamos de um empecilho ou da crua demonstração da sua ignorância. Se deixamos de acreditar, fica tudo tão mais fácil para quem prefere caminhar sobre um chão de cinzas. Se lutamos sem saber a favor de quê, podemos vir a sofrer desilusões ou podemos ser manipulados. Que fazer então? Que fazer quando tudo arde?
Somos frágeis. Estamos indefesos. Uma rede de homens sem rosto, sem ética, sem moral, inimputáveis, cerca-nos. O medo paralisa-nos, a dúvida tolhe-nos.
Pelas nossas casas adentro chegam vozes de pretensos sábios. Conheço pessoalmente alguns. Sei bem que são umas nulidades, nada fazem, apenas falam. Dizem uma coisa ou o contrário. Sempre sérios, até displicentes, como se falassem altruisticamente, do alto da sua sabedoria. Mas fazem opinião. Quem não os conheça é facilmente levado a acreditar nas suas palavras artificiais.
Depois há outros, igualmente umas nulidades. Não estudaram, nunca trabalharam, formaram-se na escola do paleio barato, do ardil, do jogo, da esperteza, das palavras vazias de sentido e de humanidade.
Há ainda outros, os que não conhecem a vida, nem a História nem as pequenas histórias de pessoas concretas. São os que vivem entre as paredes das universidades, fazendo papers, lendo papers, académicos experimentalistas. Incultos, ambiciosos, frios.
E há os que veiculam todas estas vozes, veículos passivos. Ou vendidos.
E há os que veiculam todas estas vozes, veículos passivos. Ou vendidos.
São essas vozes que entram pelas casas, que manipulam a opinião das indefesas pessoas. Que as assustam, as calam, as desanimam.
E há os poucos que têm de facto o poder. São poucos. Estão na trilateral, nos grandes bancos: é a alta finança. São, de facto, poucos. Mas rodeiam-se de gente que facilmente se deixa domesticar - uns por ganância, outros por servilismo, outros por mimetismo. Apoiam governantes, escolhem-nos. Fantoches úteis. Depois, quando deixam de servir, largam-nos, tornam-se um peso inútil.
O que a população sofre não interessa. De facto, não interessa.
Mas só agem assim porque encontram pela frente gente vencida, rendida. Uma imensa multidão sem força, sem vontade, sem ânimo.
Agem assim porque não sentem, de facto, qualquer resistência, porque as casas vão ficando pobres, vazias. Porque as casas vão sendo invadidas pelo medo, pela vergonha, pela pobreza, pela insegurança.
As casas estão a ser tomadas pela destruição. O edifício que pensávamos ser sólido, o edifício da democracia, do estado social, parece ser, afinal, um edifício frágil, no qual a erosão exerceu irremediável corrosão.
Como chegámos aqui?
Desde há algum tempo deixei de ser capaz de ler os livros de António Lobo Antunes. Mas hoje é de títulos de livros dele que me lembro, como se fossem premonitórios, como se houvesse alguma maldição a pairar sobre nós:
Conhecimento do Inferno
Auto dos Danados
Exortação aos Crocodilos
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura
Que farei quando tudo arde?
O Arquipélago da Insónia
Comissão das Lágrimas
Mas só agem assim porque encontram pela frente gente vencida, rendida. Uma imensa multidão sem força, sem vontade, sem ânimo.
Agem assim porque não sentem, de facto, qualquer resistência, porque as casas vão ficando pobres, vazias. Porque as casas vão sendo invadidas pelo medo, pela vergonha, pela pobreza, pela insegurança.
As casas estão a ser tomadas pela destruição. O edifício que pensávamos ser sólido, o edifício da democracia, do estado social, parece ser, afinal, um edifício frágil, no qual a erosão exerceu irremediável corrosão.
Como chegámos aqui?
Desde há algum tempo deixei de ser capaz de ler os livros de António Lobo Antunes. Mas hoje é de títulos de livros dele que me lembro, como se fossem premonitórios, como se houvesse alguma maldição a pairar sobre nós:
Conhecimento do Inferno
Auto dos Danados
Exortação aos Crocodilos
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura
Que farei quando tudo arde?
O Arquipélago da Insónia
Comissão das Lágrimas
Um mundo de inferno, tomado pelos danados, dominado por insaciáveis crocodilos, e nós perdidos numa noite escura, o mundo que amavámos a arder, e nós aqui andando vergados como uns condenados, perdidos em ilhas e caminhando insones, em lágrimas.
Como foi isto possível?
Como nos tornámos irrelevantes figurinhas?
Como nos deixámos transformar em pequenos objectos dóceis, que se deixam dobrar, vergar, dominar, manipular?
Como foi isto possível?
Como nos tornámos irrelevantes figurinhas?
Como nos deixámos transformar em pequenos objectos dóceis, que se deixam dobrar, vergar, dominar, manipular?
Não sei. Aos poucos, fomo-nos rendendo, fomo-nos tornando dóceis, rasteiros, facilmente pisáveis, quase invisíveis.
No entanto, ainda me forço a acreditar que nos podemos voltar a erguer. Talvez um dia, em breve, nos ergamos, nos unamos, e juntos, de pé, caminhemos e expulsemos das nossas vidas todas as sinistras criaturas que, em má hora, deixámos entrar nas nossas vidas, destruindo o mundo em que acreditávamos.
Acredito nisso, forço-me a acreditar.
E olho, como exemplo, os inteligentes seres que se mantêm livres, indomados, certamente felizes.
No entanto, ainda me forço a acreditar que nos podemos voltar a erguer. Talvez um dia, em breve, nos ergamos, nos unamos, e juntos, de pé, caminhemos e expulsemos das nossas vidas todas as sinistras criaturas que, em má hora, deixámos entrar nas nossas vidas, destruindo o mundo em que acreditávamos.
Acredito nisso, forço-me a acreditar.
E olho, como exemplo, os inteligentes seres que se mantêm livres, indomados, certamente felizes.
***
A música é Tabula Rasa, I, de Arvo Pärt, interpretada por Adele Anthony e Gil Shaham, no violino, Erik Risberg, no piano, com a Gothenburg Symphony Orchestra. A imagem que ilustra o vídeo é uma pintura de Vieira da Silva.
Duas das fotografias foram feitas este domingo no Ginjal e a do meio na Casa da Cerca (não registei o nome do autor da pintura e não consegui obter essa informação no site).
***
Relembro que, abaixo, continuo o meu lamento. Caso queiram fazer-me companhia, é descerem até ao post seguinte.
No meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, levada pelas palavras de Maria Rosário Pedreira, entro num templo e, atrás de mim, entra alguém que, dizendo o meu nome, quase me faz morrer de amor. Sou uma sentimental. A música é uma vez mais uma maravilha. Descobri há pouco tempo a música do Mali e fiquei fascinada.
***
E quero desejar-vos uma semana muito boa a começar já por esta segunda feira. Saúde e felicidades!
domingo, maio 19, 2013
A importância das pessoas vai diminuindo à medida que nos distanciamos delas
Afastam-se. Cada vez mais afastados. De casa para os gabinetes, dos gabinetes para outros gabinetes, fechados em viaturas que avançam de vidros fechados, a alta velocidade, cercadas por outras viaturas, e sempre rodeados por anónimos seguranças. Longe das pessoas. Cada vez mais longe. As pessoas protestam, mesmo que protestem cantando ou rindo. As pessoas incomodam, só servem para incomodar. Por isso eles se afastam das pessoas. Por isso eles se isolam. Nos gabinetes discutindo números, ouvindo falar sobre modelos, percentagens, rácios. Casas decimais. 18,9% ou 19,0%. Nem são sequer já números: apenas rácios, cálculos, fórmulas.
Para eles, as casas decimais não são pessoas. As pessoas são uma abstração longínqua. Não são desempregados, gente cuja dignidade definha. Não é gente fraca, submissa, com medo. Não são velhos envergonhados. Não são velhos dependentes, assustados. Não é gente doente, sem dinheiro para se tratar. Não são jovens sem esperança no futuro. Não. Há muito que, para eles, as pessoas perderam o rosto. São casas decimais ou já nem isso. São erros numa folha de cálculo.
E depois as palavras destituídas do seu mais puro sentido. As palavras não são a expressão de pensamentos ou sentimentos genuínos: pelo contrário, são artifícios, são nebulosas poluídas, armas na mão de gente sem moral. São palavras sem real significado, vazias, completamente vazias, palavras distantes das pessoas.
As pessoas há muito deixaram de interessar para os que delas se afastam.
As pessoas não existem. São sombras que habitam casas tristes. São pontos imprecisos e irrelevantes na paisagem. São nada.
Homem à beira Tejo |
Cortes de 4% nos ordenados da função pública e 11% nas pensões antes de 2005? Onde é que está o mal? Cá para mim, o mal não está nas meninas bailarinas mas sim no público que é idiota ou, então, isto é do veneno da raça ou das chagas de carácter social, sei lá...!
Os funcionários públicos vão levar com mais um corte? E então? Deviam era estar contentes por ainda receberem ordenado.
E os pensionistas do Estado também vão levar mais um corte? Coisa pouca, para aí mais uns 10 ou 11%? Ora! Comprem menos remédios ou gastem menos dinheiro em fraldas... Temos lá nós, os não reformados, que andar a sustentar extravagâncias. Vão trabalhar!
E que mal tem que a história da taxa do Portas fosse mesmo só uma cortina de fumo para disfarçar o chumbo grosso que se prepara? Nenhum. É uma táctica usual, ora essa.
E vá lá, não sejam picuinhas, que mal tem que uma vez mais o desGoverno ande a divulgar medidas a conta gotas, pelos jornais? Que mal tem isso?
Tanto protesto até já chateia. Para que é que vocês, ó pobrezinhos, desempregados, reformados, doentes e acamados, andam tão refilões? Então não vêem que os vossos protestos são tão maçadores....?
Vamos mas é todos comer e calar, certo? Ser meninos lindos, caladinhos, fazer de conta que não percebemos nada e irmos ficando cada vez mais pobrezinhos, mas um pobrezinhos bem educadinhos, se faz favor.
E olhem lá: quanto àquilo da administradora do Banif, banco intervencionado, quase 100% nas mãos do Estado, ter ganho quase um milhão de euros, vamos também ficar de boca caladinha, está bem? Afinal, que mal tem que a D. Conceição Leal até se ande a rir com esta crisezeca...? Então porque não haveria a Sãozinha do Banif, que foi responsável pelas operações no Brasil (ruinosas, por acaso), receber um prémio de gestão de mais de meio milhão de euros? Vá, não sejam invejosos...
Austeridadezinha é que é bom, sermos todos cada vez mais pobrezinhos também é bonito e está tudo bem e malcriados são os que protestam. Entendidos?! Vamos lá a andar contentinhos com isto tudo, certo? Parem de protestar, não gosto nada de gente indelicada. Gente com mau feitio, senhores! Faz favor de se deixarem morrer com delicadeza.
Vocês acham que os senhores do desGoverno não sabem o que andam a fazer e ficam para aí todos incomodados. Não sei porquê. Acham que eles batem com a cabeça na parede uma e outra e outra vez e não aprendem e ficam todos revoltados porque é a vossa vida que está em causa. Mas, ó meus Amigos, que interesse é que tem a vossa vida? Vá lá, caiam na real, não se achem importantes... Além disso, o que vocês mostram, com a vossa tristeza e indignação, é que não têm sentido de humor. Quem é que vos disse que aquilo a que estamos a assistir não é um filme cómico? Eu inclino-me para isso.
Vocês acham que os senhores do desGoverno não sabem o que andam a fazer e ficam para aí todos incomodados. Não sei porquê. Acham que eles batem com a cabeça na parede uma e outra e outra vez e não aprendem e ficam todos revoltados porque é a vossa vida que está em causa. Mas, ó meus Amigos, que interesse é que tem a vossa vida? Vá lá, caiam na real, não se achem importantes... Além disso, o que vocês mostram, com a vossa tristeza e indignação, é que não têm sentido de humor. Quem é que vos disse que aquilo a que estamos a assistir não é um filme cómico? Eu inclino-me para isso.
Até porque eu, cá por mim - vocês conhecem-me, sou toda sorrisos e gracinhas, falo sempre com o meu jeito manso - não sou nada de refilices. Querem cortar? Cortem à vontade. Um braço? Querem cortar-me um braço, é isso? Está bem e levem também o outro. Sou toda peace and love.
Além do mais, eu cá até nem gosto nada de política. E números...? Zero. Sou um zero. Não percebo nadica. Acho que ainda sei menos que a nódoa do Gaspar. Atenção que não estou a chamar nódoa ao Gaspar, estava mesmo a referir-me a uma nódoa que ele tem na cabeça, dentro da cabeça. Desculpem-me, enganei-me, queria dizer que ele tem uma nódoa nas cuecas. Ai desculpem, nas cuecas não, que ele é todo prá frentex, não usa roupa interior, consta que anda sempre sem cuecas. Como andava sempre com elas na mão, agora já desistiu. Bem, mas isso também não interessa.
Vamos mas é ver gente inteligente e engraçada que é o melhor que fazemos.
***
E tenham, meus Caros Leitores, um domingo vivido na maior das boas disposições!
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