domingo, março 24, 2013

O extraordinário vestido de Joana Vasconcelos na abertura da sua Exposição no Palácio da Ajuda e a arte dos StoryTailors




Joana Vasconcelos e o seu fabuloso vestido na abertura da Exposição da Ajuda


Li que o vestido, feito em cetim e crochet, é uma criação dos StoryTailors e que é, ele próprio (vestido), uma das obras desta Exposição que não poderei deixar de ver.

Uma coisa é certa: esta Joana é uma mulher que não conhece barreiras, preconceitos, ou comichosices pequeninas. Faz o que quer sem querer saber de olhares de soslaio.

E outra coisa é também certa: estes rapazes dos StoryTailors (Luís Sanchez e João Branco) são muito talentosos e eu gostava de ter ocasião para vestir um vestidinho dos deles. Aqui fica a dica a quem de direito.

E aqui ficam duas sugestões para que 'quem de direito' saiba qual o género que aprecio.



Vestido StoryTailor adequado para eu ir passear no Chiado num dia de muito sol

ou



Vestido StoryTailor adequado para eu ir  assistir a um bailado numa noite de verão
(mas eu não faria esta pintura carregada nos olhos, colocaria apenas uma sombra muito suave e um rouge nos lábios e levaria o cabelo caído, solto, talvez com uma flor de lado)

Miguel Veiga fala destes tempos desalmados entregues a políticos de aviário; João Silvestre explica como uma austeridade para além do acordado com a troika fez desparecer 17,2 mil milhões de euros da economia; Daniel Bessa preocupa-se com a dívida pública que não pára de crescer, sem que os responsáveis políticos se preocupem com isso; e João Duque ironiza: que 'siga o enterro' com tudo a derrapar tão perigosamente... E, para a coisa não acabar mal, 'a pele que há em mim', cantada pela Márcia; e Rui Pires Cabral desfia um nocturno com aviões.



Miguel Veiga


Qual o motivo para rejeitar o candidato do seu partido?

Por ser um candidato do aparelho que só pode vingar, num partido como o PSD, que é livre e aberto, porque o aparelho o impôs, tal como impôs Passos Coelho. Quem fez Passos Coelho, primeiro-ministro?

Quem foi?

Uns tipos do piorio, que existem em Portugal. Um é Miguel Relvas, o outro é Marco António. Andaram durante um ano e meio a bater as distritais para angariar votos, a realidade é esta.

Quem está no poder, o PSD ou o aparelho?

O aparelho, quanto a isso não há dúvida. Encontram algum social-democrata no Governo? Nem um. Estes tipos não têm convicções. Simplesmente não têm uma ideia de convicções e, portanto, não têm uma ética da responsabilidade. Querem o poder pelo poder. Estão centralizados, incrustados e vivem num regime de sucessão eterna, quase dinástico, que se torna opressivo e do mais fechado que há. O regime é autofágico. Vão-se reproduzindo e é como um panzer. Levam tudo à frente. Este é um tempo crepuscular.


(Excerto da entrevista de Ana Soromenho e Valdemar Cruz a Miguel Veiga, advogado portuense, que ajudou a fundar o PPD e que, aos 77 anos, não desiste de uma rebeldia que o leva a ver o actual PSD como um partido de 'políticos de aviário' - Na Revista do Expresso deste sábado)


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Impacto das medidas de austeridade na economia dez 'desaparecer' 17,2 mil milhões de euros.

Governo aplica medidas de 23,8 mil milhões de euros entre 2011 e 2013 mas só consegue baixar o défice em 6,6 mil milhões de euros.

Governo foi além da troika mas nem assim impediu que metas tivessem de ser revistas duas vezes


(Tópicos do interessante artigo de João Silvestre no Expresso - Economia)


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Daniel Bessa


Alguns líderes políticos valorizam o défice público - para o que formulam diferentes trajectórias desejáveis. Outros valorizam a taxa de juro paga pela dívida pública, tanto na emissão como em mercado secundário.

Em minha opinião, sem querer desmerecer a importância destes objectivos, há, neste momento, um outro mais importante: o peso da dívida pública no PIB, que se aproxima dos 130%, para um limite aceitável da ordem dos 60%.

Pode o défice público estar a descer (menos que o desejável, em minha opinião). Pode até a taxa de juro da dívida pública estar momentaneamente controlada (muito por força da acção do BCE, em minha opinião).

A prazo um pouco mais longo, a solvabilidade do Estado português dependerá sempre do peso da sua dívida no PIB. E esta não pára de crescer, por várias razões, que se acumulam (défice público, inflação reduzida, decréscimo do PIB).

Preocupa-me sobremaneira que uma boa parte dos responsáveis políticos do meu país não se preocupem com esta questão - mostrando-se satisfeitos, por exemplo, sempre que alguém lhes autoriza um aumento do défice público.


(Excertos do artigo de Daniel Bessa no Expresso - Economia [e permito-me eu resmungar: é pena é que esteja a acordar para a realidade tão tarde; não viu que ia dar nisto enquanto andou a apoiar estes incompetentes?])


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João Duque


Vejamos um resumo de objectivos e resultados para a política orçamental e para o produto.

Para o défice orçamental previa-se 5,9% para 2011 e obteve-se um défice de 6,2%; Previa-se um défice de 4,5% para 2012 e observou 6,6%; (...)

Para o PIB, o memorando tinha implícita uma queda de -0,4% para 2012, observou-se uma queda de -3,2%; em 2011 previa-se um crescimento de 2,5% para 2013, agora estima-se uma quebra de -2,3% (...)

Sucesso?


(Excerto do artigo semanal de João Duque no Expresso - Economia [e resmungo eu de novo: e, sendo tão douto, presidente de uma das mais conceituadas Faculdades de Economia do País, porque é que só deu por isto tão tarde? Tão apoiante que era de Passos Coelho há uns tempos atrás...])


*

Temas desconsoladores? De desânimo? De desesperança? Pois são. As coisas estão mesmo muito preocupantes. A devastação está a atingir proporções das quais dificilmente escaparemos incólumes. Se isto não é travado o quanto antes, não sei o que vai ser deste País. O que vai ser de nós? Dos nossos filhos? Dos filhos dos nossos filhos?

Temos que impedir que isto continue. Não sei bem como mas o caminho que isto leva é de acelerada destruição em múltiplos quadrantes e razias desta monta têm que ser travadas, seja como for.

*

Para isto não acabar assim, neste tom desmoralizado, vou deixar-vos com uma canção de que gosto bastante, A pele que há em mim de Márcia






                                                                        para o Miguel Martins


Não estejas só. Tu também és
o que já foste e o que esperaste
vir a ser. A manhã que se aproxima

há-de passar, não importa. Para já,
os diligentes aviões de madrugada
sobrevoam o desenho das colinas

de Lisboa - e cá dentro, muito fundo,
numa redoma de música, os amigos
ainda bebem para esquecer

o futuro, que outro remédio
não têm, se a hora não se repete
e a vida é só esta espuma.


['Nocturno com aviões' de Rui Pires Cabral in Resumo, a poesia em 2011]

*

Este post saíu-me enorme (coisa que já não vos deve admirar, sabido que sou de muitas palavras) mas, ainda assim, muito gostaria que me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje há uma novidade muito especial, Adília Lopes. Sendo ela como é, desestabilizou-me por completo e, por isso, não se admirem com o que lá vão encontrar. Na música, temos a despedida de um grande intérprete, Nelson Freire interpretando Granados.
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*

E quero ainda desejar-vos um belo domingo. Domingo é dia de passear. Mesmo que chova, vamos para a rua ver o que há de belo à nossa volta, está bem?

sábado, março 23, 2013

Where will life take you? [Momentos numa noite de chuva] - (E duas campanhas da Louis Vuitton, incluindo a última, muito polémica, que coloca as modelos como prostitutas nas ruas de Paris; e 'ne me quitte pas')


Chove muito enquanto escrevo. É tarde, a noite vai avançada e parece que a invernia voltou de novo. Que tempos estes... 

Tempos de incerteza e insegurança. Quando nada é certo e quando nos sentimos à mercê de gente que não respeita princípios, valores, de quem não conhece a cultura, a história, de quem sentimos como fazendo parte de uma casta inferior, muito inferior, daquela casta de alpinistas sociais que subiram a troco de esquemas, de contactos, de tudo o que sempre desprezámos, o que fazer?

Direi: lutar. 

Mas nem sempre há energia para isso. Por vezes apetece simplesmente deixar que o tempo corra devagar. Ouvir música que contenha muito silêncio, ver imagens de grande tranquilidade. Deixar que uma paz muito grande percorra todo o nosso corpo. Devagar. Devagar.





E depois, outras alturas há em que a irritação toma conta de nós e apetece provocar, quebrar preconceitos, desafiar os dogmas.

Partir. Partir de quebrar, partir de ir. E seguir em frente. 

E rir.

Mas devagar. Sem pressa porque em todos os momentos há instantes de prazer. Se andamos com pressa não damos por eles. 

E perceber que poucas coisas são o que parecem. 

Há que ver para além do que nos é dado ver. 

E esconder o que não querermos que vejam de nós. E desvendar uma parte. Só uma parte. Deixar que adivinhem o resto. Um pouco de pele. Um olhar rapidamente desviado. Um sorriso encoberto.

Uma meia palavra.

E chega.





Na poesia sou livre
não preciso de acordo
livre no tema e na cor
na música, ritmo e tom

minhas palavras são livres
não servem qualquer senhor
conceito, sentença, noção

senhoras que saem de mim
só da minha solidão

se percam nos outros no mundo
nas pedras, rios e árvores
não precisam de voltar
pois jamais me encontrarão

|...|


Não me deixes, não me deixes, não me deixes, não me deixes



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Para onde me leva a vida?


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O primeiro filme foi realizado por Bruno Aveillan com música de G. Santaolalla e interpretação da modelo polaca Monika Krol, para a Louis Vuitton. 

O segundo foi filmado por James Lima para a revista inglesa "Love Magazine" e conta com a participação das modelos Cara Delevingne, Georgia May Jagger (filha do vocalista dos Rolling Stones), e Saskia de Brauw. Tem estado a causar grande polémica por apresentar as modelos como prostitutas de rua. Mostra a última colecção Louis Vuitton.

O último filme tem Maria Gadu a interpretar Ne me quitte pas de Jacques Brel.

O poema é 'Livre' de Manuel Paes e pode ser lido no livro Resumo, a poesia em 2012.


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Sintam o gostinho bom da liberdade, meus Caros Leitores, sintam o prazer dos breves instantes.

Desejo-vos um bom sábado.


sexta-feira, março 22, 2013

A moção de censura do PS, o Governo que, segundo o SOL, já admite a demissão, o regresso de Sócrates como comentador na RTP, as petições, as histerias, meio mundo a correr atrás do rabo, e, enquanto isso, o caso do Chipre a mostrar que estamos entregues a bandos de idiotas - cá e nas instâncias europeias, uma desgraça pegada


Hoje estava com vontade de escrever sobre outra coisa. Comecei por divulgar um excelente (e bem bonito) diseur declamando um poema de Alberto Caeiro (dois posts abaixo), depois expliquei a falta de tempo com que ando, que me leva a sacrificar uma coisa de que gosto tanto dado que não me é fisicamente possível sacrificar tantas horas de sono (post seguinte) e, quando me preparava para falar de uma coisa sobre a qual me apetecia escrever, vejo-me obrigada a ceder à força dos acontecimentos. 

A televisão está ligada aqui na sala e vejo o que se está a passar.


1. A Europa, tal como nos foi vendida, a provar que não passa de uma ficção entregue a gente que, não tendo lugar nos seus países, foi parar às diversas instâncias europeias. Salvo raras e muito meritórias excepções, vai para um lugar de responsabilidade nesta Europa quem era difícil de encaixar nas listas nacionais, ou quem merecia um upgrade de vencimento, ou quem devia estar um tempo afastado dos holofotes, ou quem não fez nada de jeito e esse é mesmo o perfil ideal.




Veja-se Vítor Constâncio. O que fez ele por cá? Esteve de olhos fechados enquanto o BPN e o BPP distribuiam prebendas por amigos, desviavam dinheiro para onde lhes dava jeito, aldrabavam contas. E não é que foi para vice-presidente do BCE? Alguém percebe isto? Eu não. 

Veja-se o Durão Barroso? O que fez ele por cá? Nada. Nada. E, no entanto, não está onde está?

E o que está ele a fazer lá, presidente da Comissão Europeia? Nada. A Europa a ferro e fogo e ele a fazer o quê? Que eu saiba, nada.

Como seria de esperar de nulidades assim, o resultado está à vista. Um mundo de burocratas à solta sem que uma gestão forte, estratégica, liderante, conduza aquele mastodôntico barco segundo um rumo certo e definida. Um disforme elefante branco a fingir que é um navio, andando por aí aos tombos, à deriva.

E o que fazem estes burocratas, estes aprendizes de estadistas-de-faz-de-conta, entregues a si próprios? Porcaria, só porcaria.

Não sabem prever o impacto das medidas que tomam tal como não sabem avaliar o impacto das que não tomam. 

Juntaram a trouxe-mouxe países culturalmente muito diferentes, em estádios de desenvolvimento completamente diferentes, com políticas fiscais distintas, e, claro, o resultado está à vista: assimetrias perigosas, nacionalismos exacerbados, prepotências ignóbeis.

Vejo as ruas do Chipre e tudo aquilo não parece a Europa civilizada, pacífica, a que nos tínhamos habituado. Os bancos fechados, os russos como alternativa à UE, gente à pancada na rua. Uma vergonha, uma grande vergonha civilizacional.

A Grécia, a Espanha, a Itália, Chipre, Portugal - países em que a miséria alastra como uma nódoa humilhante. O mundo a andar para trás. Uma coisa impensável. Em dois ou três anos os países ficam de pantanas, devastados, depauperados, esvaídos.


2. Em Portugal, Cavaco Silva parece que finalmente está a acordar e começa a falar claro, manifestando que, na cabeça dele, este Governo 'já era'. Cavaco Silva já não disfarça a irritação que estes ignorantes lhe causam.

O Governo está totalmente isolado. Sem poder sair à rua, acossado, com os resultados a falarem por si, o Governo é a imagem do falhanço mais absoluto. Já ninguém acredita naquelas estúpidas medidas pois o trajecto seguido atirou-nos para dentro de um poço sem fundo, conduziu-nos a um cenário de negra devastação. Um desemprego que coloca toda uma sociedade e o futuro de várias gerações em perigo, um défice que é uma vergonha, uma dívida impossível de pagar, uma recessão descontrolada - este é o resultado da desgovernação do inteligente Passos Coelho e da sua clique de onde se destacam o Gaspar-não-acerta-uma e o Vai-estudar-ó-Relvas.




Face a isso, os patrões põem-se de acordo com os sindicatos para atacarem o Governo. E dentro dos próprios partidos do Governo já não há vozes decentes que defendam o que é indefensável. Aparentemente os próprios ministros já não acreditam em nada daquilo. O Sol diz que por aquelas bandas alguns já admitem a demissão.

Ou seja, na prática, o Governo já caíu, embora, com o autismo e burrice de alguns (escuso de referir nomes), nem tenham dado ainda por isso. 


3. O PCP e o BE já pediam a demissão do Governo há algum tempo e hoje foi a vez do PS sair da casca e anunciar que vai apresentar uma moção de censura ao Governo.




Com a conclusão do Tribunal Constitucional a aproximar-se e sem quaisquer condições para impor mais o que quer que seja, este Governo arrasta-se como um morto-vivo, um patético morto-vivo.

As moções de censura não conduzem à queda do Governo mas, depois da rua ter mostrado um estrondoso cartão encarnado e agora com todos os partidos da oposição a fazerem o mesmo, e com os Parceiros Sociais já impacientes perante tanta estupidez, Cavaco Silva não vai poder esperar muito mais tempo.


4. No meio disto soube-se hoje que a RTP contratou Sócrates como comentador. E o País, que tem verdadeiras razões para estar preocupado com coisas sérias, o que faz? Entra em histeria e desata a fazer petições.

Sócrates foi diabolizado por esta trupe de Passos Coelho e por bloggers avençados que manipularam completamente a opinião pública - e, dois anos decorridos, e vendo o que se passa, ainda há pessoas que pensam que foi ele que virou a Europa de pernas para o ar... Como é isto possível, senhores?

O primeiro mandato de Sócrates foi bastante razoável (o défice foi reduzido, o desemprego era baixo, havia algum crescimento). A seguir deu-se a crise financeira do Lehmans's e da Europa vieram ordens para se avançar com investimento público à farta para estancar a crise. Sócrates alinhou e, claro, alinhou à custa da dívida. Eis então que as agências de notação e demais especuladores resolvem atacar, como abutres, um pequeno País que se debatia e que precisava de ajuda.

E porque precisava Portugal de ajuda?

Porque, desde a integração europeia, Portugal foi conduzido (com a conivência dos vários governantes, com Cavaco à cabeça) à redução da sua actividade económica. A UE despejou dinheiro para acabar com a frota pesqueira, para acabar com a agricultura, para fechar fábricas, para fazer auto-estradas.

Numa crise como a que assolou o país em 2009, Portugal viu-se desprotegido, sem economia e rodeado de abutres.

Durante essa crise, naqueles dois últimos anos, Sócrates foi exemplar? Não. Aumentou o ordenado dos funcionários públicos quando era notório que o não deveria fazer. Alimentou falsas esperanças quando a situação já era de aflição. Mas fê-lo porque sabia que a alternativa era muito pior. E fê-lo porque tinha a garantia do apoio da Alemanha. Julgou que a UE o ia ajudar sem ter que se colocar nas mãos da troika. Lutou já sem apoios. Temia que a troika pusesse o país de joelhos e lutou mesmo sem ter a maioria na Assembleia e sabendo que o fariam apear (como fizeram). 

Diabolizar Sócrates é um disparate. O País está mal desde que começou a desfazer-se do seu tecido económico. O que sucedeu na recta final foi apenas a evidência disso.




Faz algum mal que a RTP o contrate como comentador? Claro que não. Sócrates é um cidadão livre. É natural que tente ganhar dinheiro. Presumo que não viva do ar. E, além disso, tem direito a dizer de sua justiça. 

Que vai causar embaraços ao PSD e ao próprio PS e que, numa altura em que as pessoas andam de cabeça perdida, se calhar nem vão ouvir o que ele tem para dizer, lá isso é verdade e, portanto, não sei se os seus comentários vão introduzir esclarecimento ou se vão incendiar ânimos que já andam descontrolados.

Mas fazer disso um caso nacional...? Que disparate.

Preocupemo-nos, isso sim, com uma Europa em decomposição e com o molho de brócolos em que estamos metidos. 

Quando à frente das organizações estava gente com visão, com força, com cultura, havia um caminho pela frente. Agora, com as organizações todas ensarilhadas e entregues a idiotas, o que vai ser de nós? 

Isso, sim, merece reflexão. E sangue frio. E cabeça fria. 


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Música para animar, se faz favor

Grandes intérpretes




Hush Little Baby

Violoncelo: Yo-Yo Ma
Voz: Bobby McFerrin
Violino: Mark o'Connor
Contrabaixo: Edgar Meyer



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Como acima referi, este é o meu terceiro post de hoje aqui no UJM (não tenho emenda, senhores...) pelo que, se estiverem para isso, é irem por aí abaixo para os verem a todos.

E, no Ginjal, hoje também matei saudades. Um novo Poeta fez a sua entrada por lá, José Carlos Soares, e uma entrada em grande. E levou-me pela mão até à beira do rio onde desfiei saudades. Na música continuamos com Nelson Freire, um magistral intérprete, desta vez jogando em casa, interpretando uma Bachiana brasileira de Villas-Lobos. Muito gostaria de vos ver por lá.

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E é tudo. Tenham, meus Caros leitores, uma bela sexta feira apesar deste tempo. 

E que a serenidade não vos abandone. 

Eu, os meus queridos Leitores, os comentários e a minha terrível falta de tempo








Muito agradeço a compreensão e o carinho dos meus Leitores que, através de comentário ou mails, me têm dito que não esteja tão preocupada em responder a cada um e que trate mas é de pôr o sono em dia. Muito obrigada.

Penso que este é o período mais difícil para mim pois não apenas ando com muito trabalho, não conseguindo sair a horas, como as duas sessões de fisioterapia de duas horas e meia cada feitas semanalmente em horário pós-laboral, mais os dias em que passo por cada dos meus filhos, fazem com que chegue a casa tão tarde que não consigo manter o ritmo de alimentar diariamente os dois blogues e, ainda,  responder individualmente a cada comentário. Quem aqui me segue sabe como gosto, mas gosto mesmo, de conversar com cada um dos meus Leitores que faz a gentileza de escrever a sua opinião. Agradecer os roteiro de passeios e dizer que dentro de pouco tempo seguirei todos os conselhos, partilhar o gosto pela natureza e pelas palavras, desejar as melhoras da mãe que está de cama, agradecer muito, muito o poema e dizer que já o coloquei em cima, agradecer o carinho de todas as palavras, agradecer a quem diz que aqui vem todos os dias para ler o que escrevo, agradecer a quem está tão longe, do lado de lá do oceano e, vendo as minhas fotografias, volta a sentir vontade de vir passear em Portugal, agradecer mil vezes, mil vezes a todos - sabem como é, para mim, um prazer a que dificilmente me furto.

Mas não consigo. É certo que, se fosse mais comedida, escreveria menos e o tempo talvez já me desse para tudo. Mas cada um é como é e eu sou assim, imoderada. Começo a escrever e parece que me deixo ir, perco a noção dos limites. E, quando dou por mim, já escrevi um lençol e já são desoras.

Conto acabar a fisioterapia lá para meados de Maio. Devia ter começado logo após a cirurgia mas isto de médicos tem que se lhe diga. O cirurgião achou que corria riscos se esforçasse e que devia era fazer contenção de esforços até estar bem. Mas, como nunca mais estava em condições, fui a outro médico que me disse que o meu problema já estava a ser era de perda de massa muscular pelo que devia era fazer fisioterapia o mais rapidamente possível. E, de facto, comecei a melhorar a olhos vistos com a fisioterapia mas, como comecei alguns meses depois da cirurgia, tarde demais, agora a recuperação é mais lenta. Já estou quase bem (e as caminhadas que já faço comprovam-no) mas ainda não estou bem: pegar em coisas pesadas ainda é complicado, estar sentada muitas horas de seguida também não é fácil e, portanto, ainda tenho para mais um ou dois meses.

Depois, volto a ter um horário normal e aí já vou poder ter tempo para poder conversar de forma mais pessoal com cada um.

Apetece-me continuar aqui a desculpar-me mas acho que já perceberam que o faço contrariada e com muita pena.

Mas leio tudo, leio sempre com atenção e muita estima, isso podem estar descansados, pelo que vou gostar de ler o que têm para partilhar comigo e com os outros Leitores. Que não seja por eu não vos responder que vão deixar de escrever, sim?




Um grande abraço a todos.

quinta-feira, março 21, 2013

Quando vier a Primavera. Pedro Lamares diz Alberto Caeiro



O que é a felicidade? (perguntas sem resposta sobre 'o meu caso' no dia a seguir ao Dia da Felicidade e um poema a propósito de Maria Teresa Horta no Dia da Poesia)





Ontem começou a Primavera e eu estava distraída. Tinha para mim que a Primavera começava a 21. Ou andava distraída ou isto mudou. Não interessa, o que interessa é que já estamos na Primavera e que o sol vem aí.  Tempo, pois, de desentristecer.

Foi também o primeiro Dia da Felicidade. Já disse aqui muitas vezes: não vou nessa dos dias de. Parece coisa artificial, motivo para estimular o comércio quando passa a época dos saldos: dia da Mulher, dia do Pai, dia dos Namorados. 

No entanto, de quando em vez lá abro uma excepção para deixar uma referência, quase que desculpando-me por ceder à agenda e alinhar com a maioria que tece loas ao dia de.

Mas hoje é diferente. Tantas vezes já aqui falei de felicidade e tantas vezes já vos desejei dias felizes que pareceria acto de serôdia rebeldia não falar aqui hoje disso.



Quando for grande quero ser feliz - Pintura numa rua da Covilhã

Eu também: quero ser feliz amanhã, depois de amanhã e todos os dias que vierem 


Poderia falar em abstracto, teorizar sobre o conceito, mas estou a escrever à pressa, não tenho tempo para abstracções. Por isso, se me permitem, falarei de mim. Não o faço por narcisismo mas porque é o caso que conheço de mais perto. Na escola de gestão AESE usa-se o chamado 'método do caso', ou seja, parte-se de um caso para se perceber o que está bem, o que está mal. Por isso, façam de conta que vou usar o método do caso, sendo que o case study aqui sou eu.

Quem aqui me costuma acompanhar sabe que não sou do género de felicidade instantânaea. Nunca envio power points com fotografias inspiradoras e frases irrefutáveis, céuzinhos muito azulinhos, florzinhas aos cachos, estrelinhas quando a noite cai, pensamentos a fazer de conta que são profundos, anjinhos pendurados ou esvoaçantes (e não é que não goste de cada uma das coisas de per se mas, tudo junto, fica uma coisa que me parece infantil, naïf, se não mesmo pirosa – e que não me levem a mal os que apreciam o estilo (gostos não se discutem, não é?)).  Nem sou de livros de auto-ajuda, não tenho nenhum, se vejo uma senhora radiosa sobre fundo azulinho a dizer coisas como Como ser feliz em três tempos, passo à frente a grande velocidade. Nada disso faz o meu género.

Também não sou o oposto disto - pensamentos profundos, alta erudição, decomposição do conceito em parcelas de modo a que nenhuma faça já sentido, ou amargura, desconfiança acerca de quem quer que seja que tenha um ar bem disposto, achando que todo o riso é postiço ou pouco inteligente ou pouco exigente. Não sou nada disso.

Para mim, deve agir-se perante a felicidade como se age em relação a alguma coisa de que se gosta mesmo que, na altura, pensemos que não precisamos dela. Pensemos assim, não preciso agora mas um dia vou precisar. Eu, portanto, o que faço é que, se gosto, mesmo que não ande à procura naquele momento, tento agarrá-la. Consumismo? Não. Pragmatismo. Sei que me vai ser útil, sei que gosto e que, um dia, vou dar graças por não ter deixado passar a ocasião.

É que o oposto disso é o que acontece com mais frequência. Uma coisa assim como quando queremos uma coisa supostamente normal mas que, quando se precisa, nunca há. Acontece isso quando o meu marido quer comprar umas calças cinzentas escuras do mais comum possível, daquelas que, por exemplo, se usam com blaser azul escuro. Ou não há no número dele, ou o tecido faz risquinhas ou tem brilho ou tem uma textura esquisita, ou têm pinças, ou têm uns pespontos estranhos. Normais, nada. Corremos tudo e não há.



Casa de pedra na encosta da Serra da Estrela, na descida para Manteigas

Uma beleza muito pura, uma paz absoluta


Quer-se uma coisa, parece uma coisa normal, e não a encontramos. 

Por isso, eu jogo por antecipação. Por exemplo, pelo natal ou pelos anos da minha filha, muitas vezes ofereço-lhe coisas para as quais ela fica a olhar de lado. Um casaquinho com brilhantes, uma blusinha extravagante, um cinto imprevisto, coisas assim. Mas eu sei que em algum momento ela vai gostar de se ver com aquilo. E assim é. Por vezes precisa de toilettes e lá está tudo à espera dela, mesmo a propósito, mesmo a calhar, faz um vistão.

Conversa fútil? Talvez. Mas é um modo de estar na vida. É que sou assim com tudo na vida.

Sem carga do passado, sem preconceitos, toda eu disponível  para o que aparecer. Claro que, nisto, nunca há ‘nada’ ou ‘tudo’. Claro que há sempre um pouco de passado ou de preconceito – mas, em mim, são mínimos. Não me interessa o passado, não me agarro a ele. Nem me interessam as restrições, os medos, as vergonhas. Sou quase como uma criança, sempre disponível para aceitar o que o acaso me vai colocando pela frente. Por isso, me encanto com tudo como se fosse a primeira vez, por isso agarro as inesperadas oportunidades.



A beleza da Serra da Estrela, a pureza da neve, a pureza do ar, a leveza da neve sobre a robustez do granito,
 um lago muito suave



Também não tento controlar as reacções dos outros, não me prendo com a maneira de ser dos que me rodeiam, que sejam como são (desde que não chateiem), não ando a controlar os actos alheios, não gosto de me maçar com aquilo que não controlo.

Tenho colegas que vivem obcecados com o ‘que se passa’, com o que os outros dizem ou fazem ou com o que vai acontecer ou com o que acontece aos outros. Eu não. Nada.

No grupo onde trabalho somos avaliados uma vez por ano. Pois até hoje nunca soube, nem nunca quis saber, quanto é que os outros tiveram na sua avaliação. Estou-me nas tintas. Procurar arrelias? Nem pensar! Em contrapartida, vejo colegas atormentados, sentindo-se injustiçados por saberem que fulano ou sicrano, que acham que não merece, teve uma pontuação superior à deles. Detesto essas conversas por mil razões (e até porque, assim, sem querer, sempre vou ficando a saber uma ou outra pontuação, coisa que prefiro nunca saber). Uma vez um colega meu desfez-se em lágrimas por ter sabido que tinha tido a avaliação mais baixa de todo o grupo de gestão. Um homem do mais bem disposto que há, folgazão, namoradeiro, bon vivant e em lágrimas por não perceber como o tinham avaliado pior que a um outro colega nosso que ele achava um zero à esquerda. Não estou a inventar, juro. Isto aconteceu mesmo no silêncio do gabinete dele, comigo especada à sua frente sem saber o que lhe dizer. Achava aquela conversa e aquela reacção disparatadas, escusadas, ridículas.



Numa Igreja em Manteigas, vitral com varanda de madeira à frente

A paz do recolhimento, a luz, a cor, a imagem sacra, o silêncio


Eu não me comparo com os outros, fico contente com o que tenho. Já sou avaliada há anos e garanto-vos que é coisa que não me aquece nem arrefece. Ou seja, fico na boa. Sem ter termo de comparação, admito que tive a avaliação justa.

Também aqui na blogosfera dou por vezes com situações que me parecem completamente descabeladas: há pessoas que escrevem comentários desagradabilíssimos ou posts agressivos ou de censura para com outras pessoas. Eu própria já fui vítima disso. Não compreendo. O que leva uma pessoa a armar-se em censora e resolver incomodar os outros que estão quietos no seu canto? Ou o que leva alguns bloggers a armarem-se em arautos da moral e dos bons costumes? Dou um exemplo: o que leva alguns a desencadearem verdadeiras ofensivas, invectivando quem resolve escrever de forma anónima ou sob pseudónimo?  Que diferença lhes faz? Certamente, a seu tempo, teriam sido censores de Fernando Pessoa ou de Rómulo de Carvalho ou de Adolfo Rocha.

Pessoas assim, que implicam com os outros, que embirram por dá cá aquela palha, que transformam os outros em adversários, são pessoas que causam mau ambiente à sua volta, pessoas quezilentas que desperdiçam o seu tempo com irrelevâncias, geralmente pessoas mesquinhas, incapazes de ser felizes. 



Árvores ao longe, ao entardecer, a serra ao fundo - na Covilhã

Uma beleza suave, etérea, quase a invenção de um pintor


Claro que o que estou a dizer não é extrapolável para os domínios da indignação ou do exercício da cidadania responsável. Se acho que o meu país está a ser governado por gente incapaz, por gente que nos anda a dar cabo da vida, aí protesto e protesto veementemente. Mas faço-o justamente porque acho que eu e todos os meus concidadãos temos direito a uma vida feliz e digna e, para defender isso, lutarei como souber e puder sem que nada me detenha.

Mas, de resto, deixo encantar-me por coisas simples. Uma palavra simpática, um sorriso, um gesto. A beleza do sorriso das crianças. A beleza das flores, dos livros, da música, de uma boa comida, de um bom vinho, de uma bela paisagem. Agarro as pequenas coisas que me aparecem mesmo quando as não espero. Não complico. Gosto de ver os outros felizes. Sinto-me bem junto de quem está bem.

E não me preocupo antes de tempo. Não faço dramas. E, se à minha volta tenho gente cheia de medo do que vai acontecer, pergunto: 'o que é o pior que pode acontecer?'. Depois de pensar, geralmente chega-se à conclusão que o pior que pode acontecer é uma coisa de nada. Rimo-nos e descontraímos.

Não sei definir o que é a felicidade mas sei o que é sentir-me feliz. Se a cada momento que estou feliz tivesse que dizer a razão de ser desse meu estado, sentir-me-ia talvez ridícula porque os motivos são, a maior parte das vezes, insignificantes. Mas é na ausência de significado que tantas vezes reside a poesia da vida, não é?



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As fotografias que escolhi mostram instantes que achei belos e durante os quais me senti feliz.

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E, porque hoje é Dia da Poesia (...mais um dia de...), eis a Felicidade segundo Maria Teresa Horta:



Retomo estes anos
nos teus braços
diariamente calma e segura

os dias caminhando passo a passo
prendem-me aos teus braços
com ternura

E o prazer mais louco
de te ter
aquele mais sedento de ser tua

Dos beijos que me deixas
num doer
e devagar no corpo se insinuam


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FELICIDADE! Tudo aquilo que espalhámos
que vemos, que sentimos à nossa volta.
Coisas, objectos, sinais do que somos,
do que fomos, do que vivemos
do que queremos ter perante nós.
Testemunhos inertes de nós mesmos,
dos lugares que visitámos no tempo.
Rostos, rastos, restos, rumores
que queremos guardar
nossa memória visível,
no espaço que, dia a dia,
peça a peça, vamos construindo.
O nosso canto, o nosso muro,
a elaboração paciente de nós mesmos,
onde diariamente nos revemos,
onde sempre somos vida e morte
fonte inesgotável do nosso continuar.



[Joaquim Castilho]


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Continuo sem conseguir tempo para responder aos comentários e aos mails. Só consegui sentar-me aqui já passava das onze da noite e, com isto de escolher fotografias, reduzi-las, etc, e de conseguir desencantar músicas compatíveis com o blogue (cada vez mais, as que escolho só estão disponíveis para serem ouvidas no youtube), perco um tempo infinito. Também não consegui tempo para colocar nada no meu Ginjal. Já é tardíssimo e há pouco, ao dar uma volta pela internet para saber das novidades, li que que dormir menos que o necessário faz um mal danado à saúde, retira anos de vida e torna as pessoas mais propensas a ataques cardíacos. Razão tem a minha filha que me diz que passe a ser mais bissexta, isto é que não faça tudo o que faço todos os dias. Se calhar, vou mesmo ter que optar, ou deixar de responder aos comentários, ou um dia responder aos comentários e não fazer mais nada e no outro escrever aqui, e noutro dia diferente no Ginjal. Com muita pena minha, tenho que pensar nisso. 

Outra das coisas é escrever menos... Ponho-me a escrever e saem-me estes testamentos, credo. Não hei-de acabar de manhã?! Além disso, este já é o segundo post. Aqui abaixo poderão ver a 'reportagem' do percurso descendente das minhas férias gigantes.

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E, por hoje, nada mais a não ser desejar-vos uma bela quinta feira e que sejam muito felizes; ou melhor, que sintam, muitas vezes pequenos instantes de felicidade e que procurem a poesia que há à vossa volta.


Fim do passeio à Serra da Estrela. Covilhã e Castelo Branco. Um passeio muito bonito que recomendo a todos os meus Leitores


Férias...? Pois é... foram-se. 

Uns diazinhos apenas, curtinhos, não mais que uma escapadela. Saborosos mas tão curtinhos. Não importa. Não dá para mais, não dá. Aproveita-se cada minutinho e quando for possível lá gozaremos mais uns dois ou três dias. Como dizia uma vez um homem de idade que namorava uma mulher bem mais nova, 'o que é bom, pouco basta'. Pois, pode ser. Ou, como costuma dizer a minha mãe, 'até onde chega não é curto'. 

De volta à realidade, aqui estou apenas para dar conta da vinda. 

De manhã, ainda assim, mais uma caminhada. Temos este hábito e não há férias que o interrompam. Quando a caminhada é também passeio, tanto melhor.



Edifício antigo reflectido num espelho de água (Covilhã)


Depois, paragem em Castelo Branco. É uma cidade que não recordava tão grande. Entrámos por um lado e eu queria ir a um jardim do extremo oposto. Tivémos, pois, que atravessar a cidade. Uma cidade sóbria, movimentada, casas bonitas.

Queria ir ver o Parque Urbano mas fiz confusão e pensei que se chamasse Parque Municipal. Vi no smartphone a morada e, portanto... foi ao Parque Municipal que fomos parar.

Claro que mal lá cheguei percebi logo que me tinha enganado no nome mas depois de termos atravessado a cidade e com o GPS meio baralhado a mandar-nos sair na 2ª saída da rotunda em sítios onde não havia qualquer rotunda e outras que tais, não deu para abusar da sorte. 

Mas também não faz mal. Das vezes em que por ali tinha andado acho que me tinha ficado pelo Jardim do Paço. Não me lembro de alguma vez ter visitado o Parque Municipal e vale bem a pena. Não é grande mas é muito bonito.



A cidade que se eleva sobre o Jardim do Paço do outro lado da rua até ao castelo,
vista a partir do plano de água dentro do Jardim Municipal


O Jardim tem muita água, fontanário, repuxos, tanques, muito bonito mesmo. Um jardim onde deve ser muito agradável estar. Eu, que gosto tanto de jardins, espanto-me sempre quando vejo o pouco uso que as pessoas dão aos jardins, ao contrário do que acontece noutras cidades europeias em que os jardins são pólos de vida.



Ler um livro, conversar, namorar ou simplesmente estar - aqui deve ser um lugar ideal


E, depois, vim encontrar aqui um recanto que me fez lembrar Barragán, o repuxo entre muros coloridos. Mas não. Era-me familiar mas só depois vi porquê.



Tanque e repuxo no Jardim de Castelo Branco - Azulejos de Cargaleiro


É uma presença inesperada neste jardim mas uma presença muito bem enquadrada, um lugar inspirado, feliz.


É, pois, uma obra relativamente recente como se pode ver pela assinatura:
Cargaleiro - 2003


No painel lateral, um poema de João Roiz de Castel-Branco (e os senhores especializados na matéria me dirão se está correcto 'tã' tristes quando todos os outros são 'tam'):



Senhora, partem tão tristes


Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d' esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.



Edifício da Misericórdia (se não estou em erro)


E, assim, voltei. Não parti triste porque não era caso para tanto e porque lá voltarei muitas mais vezes. 

O País é lindo e vê-se tão pouca gente na rua. As pessoas ficam em casa, não saem. E passear é tão bom. Porque se deixam ficar fechadas em casa? Porque não vêm ver as flores, as árvores, o céu, porque não vêm  usar o que a natureza nos dá e ver o belo património que temos? Porque não vêm ler para a rua, conversar com outras pessoas? As ruas são bonitas, os jardins são tranquilos, espaços de paz. Porque não estão cheios de gente?

Não sei.


Agora aqui estou, de regresso ao trânsito, à confusão das grandes cidades, à minha mesa pejada de livros. Mas, apesar da curta duração destas mini-mini-férias, vim carregada de fotografias, de natureza, de ar muito puro e ainda trago nas mãos e no olhar a pureza da neve.



A Serra da Estrela junto à Torre

*

(A ver se ainda escrevo aqui acabo uma coisa que há pouco deixei a meio sobre a felicidade)


quarta-feira, março 20, 2013

Por terras de Belmonte. A Judiaria, a Igreja Matriz, o Castelo, a loja A Prensa e a Pia... Pia...? Pietá...?... (... apenas um pequeno episódio)


Não resisti a escrever sobre a palhaçada do resgate do Chipre e sobre a muito apropriada resposta dos deputados cipriotas e não resisti, também, a escrever sobre estes primeiros dias de Bergoglio enquanto Francisco. Se estiverem para aí virados, é a seguir a este texto. Tinha que escrever. Afastada mas não completamente alienada. 

Ou seja, começo este post já mais tarde do que devia e, portanto, vou ter que acelerar.

Férias curtinhas... nem férias eu lhes devia chamar. Mas, como sou uma simples de espírito que faz uma festa de qualquer pouca coisa, aproveito o tempo ao máximo e dou-me por feliz.

Dia muito frio, muito chuvoso. Não faz mal. A única maçada é que é mais difícil tirar fotografias com a chuva  sempre a cair, é necessário estar a sempre a limpar a objectiva.

De resto, é muito bonito ver a paisagem envolvida por nuvens.

E, portanto, o passeio continuou.

Sendo tão curto o tempo, não deu para voltar aos lugares já antes, por mais que uma vez, visitados. Mas Belmonte era ainda desconhecido. Fica a meio caminho entre a Guarda e a Covilhã, passa-se sem entrar.

Mas hoje não. Fomos de propósito.

Uma vez mais, tudo muito bem arranjado.

O castelo bonito, cuidado. (A loja muito bem guarnecida e a senhora que lá está muito simpática, muito bonita).



Os campos de Belmonte vistos de uma janela do castelo


À volta toda a paisagem é verde mas envolta em neblina, em nuvens. A serra mal se vê. Ando pelos muros, subo e desço as escadas, espreito.



As casas de Belmonte vistas através da abertura da cruz


Está-se na zona da Judiaria. Transcrevo da wikipedia: 

A comunidade de Belmonte abriga um importante facto da história judaica sefardita, relacionado com a resistência dos judeus à intolerância religiosa na Península Ibérica.

No século XVI, aquando da expulsão dos mouros da Península Ibérica, e da reconquista das terras espanholas e portuguesas pelos Reis católicos e por D. Manuel, foi instaurada uma lei que obrigava os judeus portugueses converterem-se ou a deixarem o país.

Muitos deles acabaram abandonando Portugal, por medo de represálias da Inquisição. Outros converteram-se ao cristianismo em termos oficiais, mantendo o seu culto e tradições culturais no âmbito familiar.

Um terceiro grupo de judeus, porém, tomou uma medida mais extrema. Vários decidiram isolar-se do mundo exterior, cortando o contacto com o resto do país e seguindo suas tradições à risca. Tais pessoas foram chamadas de "marranos", numa alusão à proibição ritual de comer carne de porco. Durante séculos os marranos de Belmonte mantiveram as suas tradições judaicas quase intactas, tornando-se um caso excepcional de comunidade criptojudaica. Somente nos anos 70 a comunidade estabeleceu contacto com os judeus de Israel e oficializou o judaísmo como sua religião.



O motivo cruciforme


As casas estão todas muito arranjadas, floridas, muito bonitas. Todas. Dá vontade pedir para entrar, pedir para nos mostrarem como são as casas por dentro, tão bonitas são por fora.



Uma das várias casas da Judiaria de Belmonte - um prazer para a vista


As ruas estreitas, íngremes, empedradas, as casas pequenas, muito juntas, vasos à porta, vasos à janela. Sinto-me indiscreta aproximando-me tanto, mas é tão bonito, penso que gostaria de partilhar com os meus Leitores.



A casa da Família Silveira.
Uma gaiola, flores, cabacinhas, candeias, uns sapatinhos, chaves, sinos, tanto carinho em tudo.


Depois fui ainda ver a Igreja Matriz. 

Já vos contei. Tenho dificuldade em explicar mas não resisto a entrar nas igrejas. São lugares especiais. Ali se juntam as pessoas com fé, em comunhão. Muito do seu sentimento está ali no ar, quase palpável. E há as imagens perante as quais as pessoas agradecem, pedem. Imagens amadas, respeitadas. São, em muitas terras, o lugar mais importante.

Esta é muito simples. Mas muito bonita. Imagens muito próximas das pessoas terrenas, imagens com expressões carinhosas.



Na Igreja Matriz de Belmonte, Nossa Senhora, S. José, e o Filho - um casal levando o filho pela mão 


Mas, quando chegámos a Belmonte, o que eu queria era ir ver a Pietá, era sobretudo por ela que ali estava. 

Procurei a Capela de Nossa Senhora da Piedade na Igreja de S. Tiago mas, porque não estávamos bem a ver onde seria e como chovia, para abreviar, resolvi indagar, entrando numa loja. 

Perguntei. Mas, para minha surpresa, não perceberam o que eu dizia, 'Pietá??!'. Fez-me lembrar a história que contei no post mais abaixo em que uma aluna nunca tinha ouvido a palavra bondade. Assim eram as pessoas daquela loja. 'Pietá?! Pia? Uma pia com água benta? É isso?'. Deu-me vontade de rir e a senhora riu-se também, 'Não é nada disso, não?'. Ri-me, que não, que não era uma pia. Elas olhavam umas para as outras, 'Pietá?... Não...'. Expliquei o que era, na igreja de S. Tiago. Com pouca convicção lá disseram que se calhar era lá para cima, ao pé do castelo. 

No entanto, quando chegámos eram 12:35 e, azar dos cabrais, a igreja fecha às 12:30. E é isto. Nestas coisas é que se vê bem como somos um país que não está virado para o turismo, muito menos para o turismo cultural. 

Felizmente ainda apanhámos o castelo aberto mas, quando saímos, estava a senhora simpática a fechar o castelo. Logo a seguir chegou um grupo numeroso que, tal como nós, estava a dar com o nariz na igreja de S. Tiago e, pior, também no castelo. Ficaram incomodados, claro. Muito mau, isto. Falta de gente, provavelmente mas, nestas coisas, há que dar voltas à cabeça, arranjar maneira de manter os monumentos abertos o maior número de horas que for possível.

Mas, enfim, não sou pessoa de me dar por vencida e, por isso, se não a pude ver em tamanho normal, paciência, fica para a próxima.

E, entretanto, já a tenho aqui na minha mão em tamanho mais manuseável (passe o pleonasmo).



A Pietá de Belmonte aqui numa pequeno quadrado de louça artesanal, um íman


Na Praça da República uma loja muito agradável, A Prensa, com objectos regionais e artesanais, consolou-me. A dona, uma mulher jovem muito bonita e muito simpática, a braços com os dois filhos, irrequietos, de férias, tem muito bom gosto, tem ali peças de qualidade, coisas de decoração, vestuário, doces.

Ali adquiri brinquedos para os meus meninos, daqueles de madeira pintada, uma roda que se empurra fazendo barulho, um trapezista, um puzzle à antiga, daqueles de cubos e um ursinho de peluche. E trouxe ainda doce artesanal e mel e um bolo de ovos. E, claro, a pequena peça com a Pietá que coloquei sobre uma almofada para vos mostrar.

Depois, como gosto muito de pequenos presépios, trouxe também um que achei muito bonito. Tem na base, escavado no barro, o nome de quem o fez: Dias (pelo menos é o que parece).



O meu pequeno presépio adquirido n'A Prensa, feito por um artista, Dias
(Como as imagens são em branco, reflectem a luz e, na fotografia, aparecem pouco nítidas)


Depois saímos de Belmonte que o programa de festas assim o exigia. 

Amanhã a ver se continuo a mostrar este bocadinho do nosso belo País. Espero não estar a ser muito maçadora mas gosto tanto da minha terra que gostaria que todos gostassem também, que os portugueses amassem o seu país, passeassem por ele, o divulgassem, visitassem o património cultural e conhecessem as suas belezas naturais.


PS: E, claro, o meu Muito Obrigada à  Leitora Antonieta que me sugeriu este belo passeio. 

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Tarde, tarde. Como vos tinha dito, por estes dias não consigo fazer esticar muito o tempo. Não apenas não consigo responder aos vossos comentários como nem consigo, sequer, hoje colocar nada no meu Ginjal.

E não vou conseguir reler o que escrevi. Relevem as gralhas, sim? Mas, por favor, se forem escabrosas, avisem-me, está bem?

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Relembro que, abaixo, poderão ver mais dois posts que escrevi agora, antes deste (por isso é que fiquei sem tempo para o resto...).


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E, portanto, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta feira muito boa. Saúde, alegria e afecto é o que hoje vos desejo.


terça-feira, março 19, 2013

Papa Francisco, a simpatia e simplicidade de um homem normal



Papa Francisco I, um belo começo


Ouvi no carro e agora vi um pouco à noite. Dá gosto. Eu que não sou de igrejas, muito menos de beatices e que sou ignorante em termos de encíclicas sou de me guiar pela minha intuição. Gosto das coisas simples, das palavras que se percebem, dos gestos que revelam o que vai no coração, dos olhares que cativam. 

É isso que sinto neste Papa. Não fala de conceitos abstractos. Fala de coisas que me são muito caras. Ontem acabei o que escrevi desejando aos meus leitores que tivessem um dia muito feliz, se possível rodeados de beleza e bondade. A bondade é algo que me é caro. Talvez por isso, tenha gostado tanto de ouvir o Papa Francisco falar em bondade, em ternura.

Há algum tempo, numa acção de voluntariado numa escola situada numa das zonas mais carenciadas e problemáticas do País, pedi aos alunos que falassem da bondade. Riram-se, não tinham nada a dizer, era algo que não lhes dizia nada. Uma aluna, mais extrovertida, perguntou bem alto 'Bondade?! O que quer isso dizer?'. Eu nem queria acreditar. A jovem devia ter uns 18 anos e pronunciava a palavra separando as sílabas, como se nunca tivesse sequer ouvido a palavra: 'Bon-da-de...?! Bon-da-de?? Nunca ouvi.'

Lá me esforcei por explicar, pedi exemplos de bondade, tentei que percebessem como é importante sermos boas pessoas, pessoas generosas, não fazermos mal, gostarmos de fazer bem, de fazer o bem, de tentarmos fazer os outros felizes.

Não me prestaram muita atenção. Mas reparei que um ou outro me ouviam com algum espanto e isso já me animou.

Voltando a Bergoglio. São sinais: Francisco, o novo Papa usa sapatos normais, o crucifixo é de prata, o anel de prata dourada, aproxima-se das pessoas, sorri com um sorriso que parece ser franco, fala dos pobres, diz que o poder está em servir os outros, diz que devemos preservar a natureza. Coisas assim. Pouca erudição. Mas muita humanidade. Estou a gostar.

Acho que o mundo estava a precisar que o chefe da Igreja Católica fosse um homem assim.


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(Abaixo um post sobre o Chipre)