Não resisti a escrever sobre a palhaçada do resgate do Chipre e sobre a muito apropriada resposta dos deputados cipriotas e não resisti, também, a escrever sobre estes primeiros dias de Bergoglio enquanto Francisco. Se estiverem para aí virados, é a seguir a este texto. Tinha que escrever. Afastada mas não completamente alienada.
Ou seja, começo este post já mais tarde do que devia e, portanto, vou ter que acelerar.
Férias curtinhas... nem férias eu lhes devia chamar. Mas, como sou uma simples de espírito que faz uma festa de qualquer pouca coisa, aproveito o tempo ao máximo e dou-me por feliz.
Dia muito frio, muito chuvoso. Não faz mal. A única maçada é que é mais difícil tirar fotografias com a chuva sempre a cair, é necessário estar a sempre a limpar a objectiva.
De resto, é muito bonito ver a paisagem envolvida por nuvens.
E, portanto, o passeio continuou.
Sendo tão curto o tempo, não deu para voltar aos lugares já antes, por mais que uma vez, visitados. Mas Belmonte era ainda desconhecido. Fica a meio caminho entre a Guarda e a Covilhã, passa-se sem entrar.
Mas hoje não. Fomos de propósito.
Uma vez mais, tudo muito bem arranjado.
O castelo bonito, cuidado. (A loja muito bem guarnecida e a senhora que lá está muito simpática, muito bonita).
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Os campos de Belmonte vistos de uma janela do castelo |
À volta toda a paisagem é verde mas envolta em neblina, em nuvens. A serra mal se vê. Ando pelos muros, subo e desço as escadas, espreito.
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As casas de Belmonte vistas através da abertura da cruz |
Está-se na zona da Judiaria. Transcrevo da wikipedia:
A comunidade de Belmonte abriga um importante facto da história judaica sefardita, relacionado com a resistência dos judeus à intolerância religiosa na Península Ibérica.
No século XVI, aquando da expulsão dos mouros da Península Ibérica, e da reconquista das terras espanholas e portuguesas pelos Reis católicos e por D. Manuel, foi instaurada uma lei que obrigava os judeus portugueses converterem-se ou a deixarem o país.
Muitos deles acabaram abandonando Portugal, por medo de represálias da Inquisição. Outros converteram-se ao cristianismo em termos oficiais, mantendo o seu culto e tradições culturais no âmbito familiar.
Um terceiro grupo de judeus, porém, tomou uma medida mais extrema. Vários decidiram isolar-se do mundo exterior, cortando o contacto com o resto do país e seguindo suas tradições à risca. Tais pessoas foram chamadas de "marranos", numa alusão à proibição ritual de comer carne de porco. Durante séculos os marranos de Belmonte mantiveram as suas tradições judaicas quase intactas, tornando-se um caso excepcional de comunidade criptojudaica. Somente nos anos 70 a comunidade estabeleceu contacto com os judeus de Israel e oficializou o judaísmo como sua religião.
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O motivo cruciforme |
As casas estão todas muito arranjadas, floridas, muito bonitas. Todas. Dá vontade pedir para entrar, pedir para nos mostrarem como são as casas por dentro, tão bonitas são por fora.
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Uma das várias casas da Judiaria de Belmonte - um prazer para a vista |
As ruas estreitas, íngremes, empedradas, as casas pequenas, muito juntas, vasos à porta, vasos à janela. Sinto-me indiscreta aproximando-me tanto, mas é tão bonito, penso que gostaria de partilhar com os meus Leitores.
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A casa da Família Silveira.
Uma gaiola, flores, cabacinhas, candeias, uns sapatinhos, chaves, sinos, tanto carinho em tudo. |
Depois fui ainda ver a Igreja Matriz.
Já vos contei. Tenho dificuldade em explicar mas não resisto a entrar nas igrejas. São lugares especiais. Ali se juntam as pessoas com fé, em comunhão. Muito do seu sentimento está ali no ar, quase palpável. E há as imagens perante as quais as pessoas agradecem, pedem. Imagens amadas, respeitadas. São, em muitas terras, o lugar mais importante.
Esta é muito simples. Mas muito bonita. Imagens muito próximas das pessoas terrenas, imagens com expressões carinhosas.
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Na Igreja Matriz de Belmonte, Nossa Senhora, S. José, e o Filho - um casal levando o filho pela mão |
Mas, quando chegámos a Belmonte, o que eu queria era ir ver a Pietá, era sobretudo por ela que ali estava.
Procurei a Capela de Nossa Senhora da Piedade na Igreja de S. Tiago mas, porque não estávamos bem a ver onde seria e como chovia, para abreviar, resolvi indagar, entrando numa loja.
Perguntei. Mas, para minha surpresa, não perceberam o que eu dizia, 'Pietá??!'. Fez-me lembrar a história que contei no post mais abaixo em que uma aluna nunca tinha ouvido a palavra bondade. Assim eram as pessoas daquela loja. 'Pietá?! Pia? Uma pia com água benta? É isso?'. Deu-me vontade de rir e a senhora riu-se também, 'Não é nada disso, não?'. Ri-me, que não, que não era uma pia. Elas olhavam umas para as outras, 'Pietá?... Não...'. Expliquei o que era, na igreja de S. Tiago. Com pouca convicção lá disseram que se calhar era lá para cima, ao pé do castelo.
No entanto, quando chegámos eram 12:35 e, azar dos cabrais, a igreja fecha às 12:30. E é isto. Nestas coisas é que se vê bem como somos um país que não está virado para o turismo, muito menos para o turismo cultural.
Felizmente ainda apanhámos o castelo aberto mas, quando saímos, estava a senhora simpática a fechar o castelo. Logo a seguir chegou um grupo numeroso que, tal como nós, estava a dar com o nariz na igreja de S. Tiago e, pior, também no castelo. Ficaram incomodados, claro. Muito mau, isto. Falta de gente, provavelmente mas, nestas coisas, há que dar voltas à cabeça, arranjar maneira de manter os monumentos abertos o maior número de horas que for possível.
Mas, enfim, não sou pessoa de me dar por vencida e, por isso, se não a pude ver em tamanho normal, paciência, fica para a próxima.
E, entretanto, já a tenho aqui na minha mão em tamanho mais manuseável (passe o pleonasmo).
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A Pietá de Belmonte aqui numa pequeno quadrado de louça artesanal, um íman |
Na Praça da República uma loja muito agradável, A Prensa, com objectos regionais e artesanais, consolou-me. A dona, uma mulher jovem muito bonita e muito simpática, a braços com os dois filhos, irrequietos, de férias, tem muito bom gosto, tem ali peças de qualidade, coisas de decoração, vestuário, doces.
Ali adquiri brinquedos para os meus meninos, daqueles de madeira pintada, uma roda que se empurra fazendo barulho, um trapezista, um puzzle à antiga, daqueles de cubos e um ursinho de peluche. E trouxe ainda doce artesanal e mel e um bolo de ovos. E, claro, a pequena peça com a Pietá que coloquei sobre uma almofada para vos mostrar.
Depois, como gosto muito de pequenos presépios, trouxe também um que achei muito bonito. Tem na base, escavado no barro, o nome de quem o fez: Dias (pelo menos é o que parece).
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O meu pequeno presépio adquirido n'A Prensa, feito por um artista, Dias
(Como as imagens são em branco, reflectem a luz e, na fotografia, aparecem pouco nítidas) |
Depois saímos de Belmonte que o programa de festas assim o exigia.
Amanhã a ver se continuo a mostrar este bocadinho do nosso belo País. Espero não estar a ser muito maçadora mas gosto tanto da minha terra que gostaria que todos gostassem também, que os portugueses amassem o seu país, passeassem por ele, o divulgassem, visitassem o património cultural e conhecessem as suas belezas naturais.
PS: E, claro, o meu Muito Obrigada à Leitora Antonieta que me sugeriu este belo passeio.
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Tarde, tarde. Como vos tinha dito, por estes dias não consigo fazer esticar muito o tempo. Não apenas não consigo responder aos vossos comentários como nem consigo, sequer, hoje colocar nada no meu Ginjal.
E não vou conseguir reler o que escrevi. Relevem as gralhas, sim? Mas, por favor, se forem escabrosas, avisem-me, está bem?
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Relembro que, abaixo, poderão ver mais dois posts que escrevi agora, antes deste (por isso é que fiquei sem tempo para o resto...).
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E, portanto, por aqui me fico. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta feira muito boa. Saúde, alegria e afecto é o que hoje vos desejo.