terça-feira, novembro 20, 2012

O que tenho eu a dizer sobre a rabecada que o Relvas deu no Alberto da Ponte por este ter ousado defender dois canais de televisão? E o que digo por os hospitais da CGD, os HPP, irem parar às mãos dos brasileiros? E o que digo sobre o palavreado vazio do Gaspar acerca da sexta avaliação da troika? E sobre a conversa oca de Passos Coelho (que é igual à conversa oca do Paulo Portas)? Olhem, não digo nada. Apenas me pergunto: Catarina Portas e Marion Cotillard são gémeas separadas à nascença? (e, para quem não saiba a quem me refiro, aqui deixo a última quer como capa da Harper's Bazaar Dezembro 2012, quer como Lady Rouge quer, ainda como Lady Blue Shanghai, sempre pela Dior, e sempre pela lente de grandes fotógrafos; finalmente, como Piaf). E, para terminar 'a propos': Edit Piaff, a genuína, 'Non, je ne regrette rien'. Eu também não.


Não me apetece falar do Gaspar. Nem do Passos Coelho. Política de muito má qualidade. Muita incompetência. Muita, para além da conta. Verborreia oca. Não sabem do que falam, nem um nem outro. Cada um no seu estilo mas ambos perigosamente maus.

Não sei o que está Paulo Portas a fazer neste governo. A destruir o CDS? Só se for. Cada vez mais politiqueiro e inconsistente, inconsequente. Só conversa fiada. 

E o Relvas? Mau demais. O que andará ele agora a tramar? Ou limita-se a fazer aquilo em que é especialista: contactos? Aparece na televisão a dizer umas coisas e eu ouço aquela voz e vejo aquela cara e fico logo mal disposta. E já anda a dar rabecadas a Alberto da Ponte depois deste ter dito que só faz sentido um serviço público de televisão com dois canais. Havia de ter graça se este batesse com a porta. 

E hoje lá foram mais os HPP: os hospitais da CGD vão parar à mão mão de brasileiros. Tudo a desandar a grande velocidade.

E a troika a rever de novo em baixa as previsões de crescimento. 

Tudo tão desagradável.

Por isso, se me permitem, vou mudar de registo e passar para assuntos mais sofisticados; a saber: Catarina Portas e Marion Cotillard teriam sido separadas à nascença? Só pode!


Catarina Portas
Marion Cotillard




















Marion Cotillard
Catarina Portas



Parecidíssímas. Embora tenham nascido em anos diferentes e, creio, em países diferentes, são, certamente, gémeas univitelinas. Não quero lançar suspeições mas, olhando para elas, assoma-me ao espírito uma dúvida que não ouso aqui explicitar (mas, enfim, já que insistem, começa assim: Será que o Senhor Arquitecto Nuno Portas...?)


Entretanto, já agora, para quem não conheça muito bem a talentosa mana gémea da bela e não menos talentosa Catarina Portas, algumas evidências da graça de Marion, que, por estes dias, está a dar que falar no mundo da elegância e da sofisticação.


Mês de Dezembro de 2012, fotógrafo Ben Hassett - Marion Cotillard é capa da Harper's Bazaar UK-  e deslumbra





Annie Leibovitz fotografa Marion Cotillard para Lady Rouge, Dior.





David Lynch realiza, Steven Klein fotografa. Marion Cotillard em Lady Dior Blue Shanghai, ainda Galliano 
não se tinha portado mal.




Aqui Marion Cotillard é Edith Piaf, sob direcção de Olivier Dahan


*****

E, finalmente, porque nisto as palavras são como as cerejas, a imortal, eterna, frágil, imensa Edith Piaf
Non, je ne regrette rien


*

Claro que ainda vos vou convidar a continuarem na minha companhia por mais uns minutinhos. Hoje, no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, recordo locais onde não voltarei, levada pelas palavras de Luís Filipe Castro Mendes, Poeta e Embaixador. A música esta semana vai estar a cargo de Henry Purcell e vão ver e ouvir e o que escolhi para a estreia..., uma maravilha.

**

E nada mais que isto já vai mais que longo, não é? 
Mas não me vou embora sem antes vos desejar um belo dia. 
Contra a estupidez, incompetência e incultura: marchar, marchar. 
E viva a beleza, a boa disposição, a arte. 
E saúde e sorte para todos!


segunda-feira, novembro 19, 2012

VIACRUCIS, a Paixão de Cristo, no Palácio da Ajuda: Fernando Botero e as suas enormes criaturas visitam o Palácio e eu também. No piso de cima, Diogo Navarro mostra-nos 'Um olhar sobre o Palácio'. Uma visita que vale muito a pena. Mas vejam se não se perdem... porque, por ali, sinalização é coisa que também não existe...!


Jesus Cristo é um homem corpulento, entroncado, perna grossa, cabelo escorrido, nariz pequeno. Sua mãe, Maria, mostra de quem ele herdou aqueles traços, aquela carnadura. Agiganta-se quando pega no seu filho; todas as mães descobrem forças, em si, quando se trata de fazer o que quer que seja pelo seu filho. Judas usa relógio e anel, criatura de índole duvidosa, basta olhar. Os soldados que o pregam à cruz são muito pequenos, insignificantes criaturas de que não reza a história.

Falo da exposição de Fernando Botero patente no Palácio da Ajuda. Fernando Botero é colombiano, tem 80 anos e é pintor e escultor. Que me perdoem os mais eruditos mas, para quem não conheça o artista, resumo de uma forma simplista: a sua obra caracteriza-se essencialmente por representar gente gorda. 

Para além disso, deve ser dos pintores mais copiados. Há tempos, no sul de Espanha, numa zona frequentada essencialmente por gente com ferraris, bentleys e carros do género, a quantidade de falsos Boteros que ali vi à venda, cópias caríssimas, deixou-me perplexa. 

Botero veio agora a Portugal integrado na incursão comercial empreendida pelo presidente do seu país, que Cavaco Silva recebeu no dia da greve geral. Botero é um homem com muito 'boa pinta'. Vive agora em Paris com a sua terceira mulher.

Esta exposição, composta por óleos de grande dimensão (o que não podia ser de outra forma, dadas as dimensões, ou melhor, as proporções das figuras) e por aguarelas e desenhos, fica muito bem no espaço nobre do palácio da Ajuda mas é, ao mesmo tempo, inesperada. E traz, pelo que é, um toque de modernidade a este belo e tradicional Palácio.




Ao contrário do que acontece noutros países, aqui as exposições, mesmo quando são de conceituados artistas de reputação internacional, quase passam despercebidas.

Não há sinalização nem para a exposição, nem sequer para o Palácio. Apesar de conhecermos bem o local, porque não fomos pelo caminho habitual, acabámos por ir parar à parte de cima do palácio, uma zona de habitação social, um bairro de lata, várias barracas, acampamentos ciganos, uma zona algo imprevista naquele local. De volta à rua de baixo, para a apanhar o acesso ao palácio, parecíamos estar numa daquelas zonas periféricas, muito periféricas, bem afastadas da civilização. Por exemplo, uma mulher lavava roupa dentro de um alguidar na beira da estrada.

E nem uma indicação, nem uma seta, uma tabuleta, 'Palácio da Ajuda', 'Exposição ViaCrucis de Botero', etc - nada!

Mas, claro, lá demos com a estrada de acesso.

Cá fora pouca gente, lá dentro também. Dá-me muita pena ver como, por cá, as pessoas se deixam ficar ensimesmadas, fechadas em casa, com pouca vontade de ir descobrir o que por cá ainda vai aparecendo.




O que vos mostro não segue a ordem correcta. Para mim, neste contexto, a ordem correcta é secundária dado que apenas estou a mostrar uma pequena parte das obras que compõem a Viacrucis.

Botero não pretende ser fiel ao tempo, ao lugar, à história tal como nos é contada, à fisionomia que nos habituámos a imaginar. Botero faz a sua própria representação, trazendo a figura de Cristo para dentro do nosso tempo mas, ao mesmo tempo, carregando a candura de representações quase infantilizadas. Assim é, se pensarmos bem, a fé: uma misto de imaginação e de crença.

O Cristo de Botero não é, pois, um ser santificado, abstracto. Pelo contrário, o que se vê é um ser humano, não idealizado, tocado pela história que o trouxe até aos nossos dias.




Agentes da autoridade carregando num pobre que avança, em castigo, pelas ruas; mulheres assustadas que espreitam atrás das portas e um Cristo infeliz e sofredor que, avança, humilhado, pelas ruas.


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Cristo é um homem corpulento e ingénuo, como tantas vezes o são os homens corpulentos. Judas é um espertalhão, na verdade um crápula, os soldados estão ali apenas para cumprir ordens, os amigos assistem passivos como tantas vezes fazem os amigos perante uma ameaça que os deixa a eles de fora e aquele que executa a ordem e a quem Judas dá o sinal, é uma criatura pequena, um homem mesquinho, insignificante.

E, depois, há as mulheres.




Jesus Cristo em sofrimento. E as mulheres que o amam e protegem, sempre presentes. Mulheres fortes e ele, tão grande, tão frágil.




Maria, sua mãe sofredora, lábios caídos, lágrimas nos olhos, amparando o filho moribundo, o filho morto, o filho tão amado agora inerte, sangrando, lábios exangues.




Maria de olhos vermelhos de tanto chorar, lágrimas grossas, rosto todo ele num esgar de sofrimento. Maria, mãe de Jesus, Maria já sem esperança.

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Depois, já que lá estávamos, passámos ao Palácio em si. Há já algum tempo que não ia lá. É uma pena que locais tão belos, com tanta história, não fervilhem de gente. O que leva as nossas pessoas a não visitarem museus, palácios? Não sei.

Não é o preço porque ao domingo, até às 14 horas, a visita ao Palácio é gratuita. A visita à exposição de Botero, apesar de estar dentro do Palácio, não é gratuita: custa 5 € por pessoa; mas o que é isso quando comparado com o preço de um bilhete de cinema ou de um hamburguer no Mcdonald?

Para maiores de 65 anos é sempre gratuito.




As várias salas estão muito bem conservadas e, em cada uma, há uma placa caracterizando, de forma muito clara e apelativa, a finalidade da sala à data da vida, no Palácio, de D. Maria Pia e D. Luís I. 



Dá gosto visitar este palácio e imaginar o que era a vida real naqueles aposentos, os momentos de leitura e de música, com o rei a cantar, os convidados. E os quadros, e os candelabros, e os espelhos, e os sofás, e as louças, a mesa posta. Tudo muito cuidado, tudo bem apresentado, bem explicado.

Pena que o site seja tão pobrezinho. Pena que, pro bono, não se reúna um grupo de voluntários que faça um website à altura do belo Palácio da Ajuda.

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Uma palavra ainda para a interessante exposição, 'Um olhar sobre o Palácio', do jovem Diogo Navarro, no piso de cima do palácio. Um olhar desempoeirado, um olhar de quem mostra respeito mas que, depois, sacode o pó do tempo e faz o que lhe apetece. Ou seja, respeitador mas moderno.




Plástico, acrílico, tintas, dourados, vários formatos, vários suportes, tela, cartão. 




Ao todo deveríamos ser umas sete ou oito pessoas. E, no entanto, não apenas pelo que está exposto, como pela nobreza e beleza do local, deveriam lá estar muitas pessoas, quase a acotevelar-se como se vê noutros países.




Não vos maço mais. Insisto apenas, uma vez mais, que vale a pena: esta é mais uma visita que muito vivamente vos sugiro. É um passeio agradável. A seguir, dali poderão descer até Belém, comer uns pastelitos quentinhos, com canela, espreitar para ver se vêm a D. Maria e o Professor Aníbal nos jardins do Palácio de Belém (esta parte eu não fiz, claro, mas, enfim, há gostos para tudo) e, depois, passar para o lado de lá, e ir passear à beira Tejo.

Se forem, depois me dirão de vossa justiça.

***

E, por hoje, nada mais. Apenas desejar-vos uma boa semana a começar já por esta segunda feira. Saúde e divertimento para vós e para os que vos são queridos.

domingo, novembro 18, 2012

Eu, a minha querida cãzinha e os cães em geral; Lisboa, a Bela avistada do Ginjal - e o gato preto que hoje, inesperadamente, me veio abraçar


Já falei nisto em comentários, por mail, mas nunca aqui e ainda não é hoje que vou falar como um dia falarei. Agora ainda não consigo. Tive uma cadela, que eu nunca referia como cadela mas como cãzinha, que nos acompanhou durante treze anos. Era a nossa menina querida, a nossa companhia, a nossa grande e incondicional amiga.

Antes eu tinha medo de cães. Era capaz de mudar de passeio se via um cão. Mas cá em casa todos queriam um cão e um dia vi-a, ainda bebé, dois meses cor de mel, brincalhona, uma gracinha. Não resisti. Depois tornámo-nos quase inseparáveis. Eu abraçava-a, enchia-a de beijinhos e ela a mim. Fez-se grande, forte. Era uma boxer. Passei a não ter medo de cães, nenhum medo. Agora faço festas mesmo a cães que não conheço, e os cães chegam-se, dão ao rabo, reconhecem-me como amiga.

Passei a gostar muito de cães. Depois da nossa amiguinha se ter ido, faz já algum tempo, nunca mais voltámos a colocar a hipótese de ter outro cão. Não temos condições para poder dar a vida ao ar livre de que necessitam e, sobretudo, não queremos voltar a passar pelo grande desgosto que tivemos.

De gatos nunca gostei no sentido em que se gosta de um cão. Sempre vi os gatos como bichos pouco afectuosos, bichos livres, bichos que podemos observar, que podemos gostar de ver mas que nunca se afeiçoarão a nós como um cão.

Além disso, sempre pensei nos gatos como bichos temperamentais, que se eriçam, que ficam assanhados, perigosos.

Quando o meu filho era solteiro, em casa da namorada havia um gato e ele contava-me que o gato, que era terrível, às vezes se atirava a ele, era traiçoeiro, imprevistamente saltava-lhe para cima, ameaçador. Eu ficava aterrorizada, imaginava o susto, tinha medo que o gato lhe fizesse mal. 

Como é sabido, gosto de passear à beira do rio e, frequentemente passeio no Ginjal, local muito frequentado por gatos.

E sabem como gosto de os ver, animais livres que por ali andam, sem dono, vagueando pelas ruínas, pelas rochas da beira de água, pelos muros, pelas árvores, olhando o rio, pensativos. São lindos, têm uns olhos fantásticos. Por vezes fogem mas, outras, deixam-se estar. Eu aproximo-me e eles deixam-se estar, deixam-se fotografar, tolerantes, superiores. 

Hoje o tempo estava mau, um pouco chuvoso, vento, frio. Com o tempo assim, passear por ali não é fácil. Mas estes dias à beira Tejo são, para mim, uma tentação. O Ginjal quase deserto, apenas um único pescador, nenhuns turistas, nada de namorados. Um local mágico à disposição do meu olhar. 

Farto-me de fotografar. Milhares de fotografias já eu fiz por aquelas paragens. 

À ida para lá, na direcção do jardim, cruzei-me com o  gato preto que já tantas vezes fotografei. Seduz-me este gato.




Lá ia ele, negro, lustroso, belo e indiferente à magnífica cidade do outro lado do rio. Lisboa, vista dali, é lindíssima.




O colorido das casas, a forma como se sobrepõem à nossa vista, acompanhando a elevação das colinas, a forma como o sol ilumina esta cidade, tudo me encanta em Lisboa, a Bela.

O céu tapava-se e chovia, outras vezes descobria e iluminava partes da cidade como se, naquele bocado, estivesse bom tempo. Mais além, já se envolvia em névoa. 




E depois um arco-íris veio enfeitar de cor a zona, já de si colorida, dos contentores. 

Fico presa a esta beleza. Respirar a maresia, estar no meio da névoa, num espaço quase deserto, que sensação tão boa de liberdade.

No silêncio elevou-se, então, uma gaivota soltando grandes gritos de liberdade enquanto voava, branca, fantástica, sobre o rio.




E eu ali a fotografar, tão feliz por poder desfrutar toda esta beleza. Lisboa quase difusa, envolta em neblina, os veleiros difusos na paisagem, e a gaivota voando e gritando sobre as águas.

Depois, um pouco mais à frente, o céu limpava-se e o azul de Santa Apolónia, com o véu da Vasco da Gama por detrás, misturavam-se e a imagem, ali, era de uma harmonia suave. Tão bonita, Lisboa, tão bonita.




E eu, encantada. E eu absorta a fotografar. E, então, senti que alguma coisa se colava às minhas pernas. Um corpo macio e quente enrolava-se nas minhas pernas.

Não me assustei. Olhei para baixo, com cuidado, não queria eu causar nenhum susto, não queria estragar o momento.

Era o gato preto. Veio encostar-se a mim. Encostava-se nas minhas pernas. Abraçava-me.

Fiquei até um pouco comovida. Falei com ele, bichinho, bichinho.

Depois queria vir comigo, miava, chamava-me.




E eu, bichinho, não posso ficar contigo, bichinho, não te posso levar... mas ele vinha atrás a chamar-me. 

Adoçou-me o coração, que contente fiquei, que surpresa tão boa, quem havia de dizer?, sempre tão indiferente e hoje veio abraçar-se assim. A ver se para a próxima vez lhe levo comida. Cativou-me. Como diria a raposa de Saint Exupéry, agora fiquei responsável por ele. Claro que, sei também, depois corro o risco de um dia vir a chorar por ele. Mas, até lá, não vou pensar nisso.

Depois, já de longe, fiquei a vê-lo. Desistiu de esperar que eu voltasse atrás e entrou no seu reino mágico, entrando pela parede adentro.




A esta hora deve estar a dormir. Será que os gatos, afinal, também reconhecem as pessoas? Será que este gosta de mim? Será que também se afeiçoam? Também são capazes de demonstrar afecto? 

*

E, daqui, eu, gata branca numa noite escura, dedico este bailado ao meu amigo vadio, o gato preto do Ginjal: Victoria, the White Cat, Feathery Wings.




*

Tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo. 
Desejo-vos também que saibam, a cada momento, procurar a beleza.

sábado, novembro 17, 2012

Toda a gente sabe que os homens são brutos, que deixam camas por fazer e coisas por dizer; mas os maridos das outras não: os maridos das outras são o arquétipo da perfeição, o pináculo da criação. (Brad Pitt anuncia o Chanel Nº5, exemplificando assim o que Miguel Araújo tão bem canta)


Nota: Para ler sobre política, crise, economia, sobre as ridículas propostas apresentadas pelos deputados da maioria para melhorarem o OE 2013, etc, etc, é no post abaixo, a seguir a este. Aqui, neste, a matéria diz respeito aos maridos das outras.


Brad Pitt, um marido de outra, seguramente um pináculo da criação
(ainda por cima aparece-nos aqui a anunciar o Nº 5)



Toda a gente sabe que os homens são brutos
Que deixam camas por fazer
E coisas por dizer
Muito pouco astutos, muito pouco astutos

Toda a gente sabe que os homens são brutos
Toda a gente sabe que os homens são feios
Deixam conversas por acabar
E roupa por apanhar
Vêm com rodeios, vêm com rodeios
Toda a gente sabe que os homens são feios

Mas os maridos das outras não,
Porque os maridos das outras são
O arquétipo da perfeição
O pináculo da criação
Dóceis criaturas
De outra espécie qualquer
Que servem para fazer felizes
As amigas da mulher
Tudo o que os homens não
(Tudo o que os homens não)
Os maridos das outras são

Toda a gente sabe que os homens são lixo
Gostam de músicas que ninguém gosta
Nunca deixam a mesa posta
Abaixo de bicho, abaixo de bicho
Toda a gente sabe que os homens são lixo

Toda a gente sabe que os homens são animais
Que cheiram muito a vinho
E nunca sabem o caminho
Na na na na na, na na na na na
Toda a gente sabe que os homens são animais

Mas os maridos das outras não,
Porque os maridos das outras são
O arquétipo da perfeição
O pináculo da criação
Dóceis criaturas
De outra espécie qualquer
Que servem para fazer felizes
As amigas da mulher
Tudo o que os homens não
(Tudo o que os homens não)
Os maridos das outras são



Miguel Araújo, ex- Azeitonas, aqui fazendo-se acompanhar por um ukelele

*

Os deputados do PSD e CDS deixam-me furiosa por andarmos a trabalhar para que grande parte do que ganhamos nos seja subtraído para o Estado, quando, ainda por cima, o Estado está na mão de gente tão incompetente e cobarde. Para além disso, o tempo está tresloucado, nem percebo bem que é isto que se passa, vejo as imagens no Algarve e fico perplexa, que coisa mais horrível, que pena me dá ver como tudo aquilo ficou, coitadas das pessoas, casas e carros estragados, uma coisa inaudita. Depois, lá fora, as coisas não estão melhores: Israel está de dedo no gatilho, a tensão aumenta e não se espera nada de bom.

E, perante este lindo panorama, eu até me sinto palerma por não me apetecer falar em nada disso e querer apenas desejar-vos um bom fim de semana. Mas é mesmo isso que vou fazer: desejar-vos uns dias muito bem vividos. Usemos bem cada minuto que nos é dado. Peace and Love, meus amigos!

/\

Sobre o trabalhinho que os deputados andaram a fazer de conta que faziam e sobre outras trapalhadas, é já aqui em baixo.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Os deputados da maioria chocaram, chocaram e, ao fim de muitos dias, e com algum aparato, apareceram a dar explicações frouxas e nós constatamos que, afinal, não nasceu nenhum pinto. A sobretaxa fica em 3.5% e aumentam a sobretaxa em mais 2.5% para quem ganha mais de 250.000€ por ano. O que é isto? Nada. Nada. Nada. Incompetência? Cobardia? Estupidez? Quem quiser que escolha. Vão arrasar o país. Isto no dia em que se soube que cerca de 1.500 criaturas nomeadas pelo Governo receberam o subsídio de férias numa altura em que o mesmo foi sonegado a todos os trabalhadores da Administração Pública. Iniquidade? Pouca vergonha? Desrespeito pelos portugueses? Quem quiser que escolha. Sobre o OE 2013, diz Nicolau Santos: Para o precipício! Em frente, marche!


A palavra a Nicolau Santos, hoje no Expresso online,


Nicolau Santos, keynesiano, graças a Deus



O aumento brutal de impostos contemplado no Orçamento do Estado para 2013 será o xeque-mate à esperança da recuperação da economia portuguesa por muitos anos.

Milhares de empresas serão lançadas na falência, o desemprego vai continuar a sua escalada, milhões de cidadãos deixarão de pagar ao fisco por falta de capacidade - e, contradição das contradições, a dívida externa será cada vez mais difícil de pagar e o défice orçamental continuará longissimo dos objetivos fixados.

Não acredita? Segundo dados da CMA DataVision, o risco de incumprimento da dívida nacional num horizonte de cinco anos continua a subir desde 19 de outubro e Portugal conserva o 5.º lugar no "clube" dos 10 países com mais alto risco de bancarrota.

A agência Bloomberg já coloca em causa a própria análise sobre a sustentabilidade da dívida portuguesa realizada pelo Fundo Monetário Internacional na 5ª revisão regular do plano de ajustamento.

O agravamento do contexto externo, com a entrada oficial em recessão da zona euro no terceiro trimestre deste ano, também não abre perspetivas optimistas. E os mercados da dívida sinalizam cada vez mais que a sua perspetiva sobre o futuro da economia portuguesa e do próprio ajustamento é tudo menos otimista.

Ninguém acredita que a recessão fique apenas em 1% no próximo ano, base no qual está construído o OE/2013. E do FMI às Nações Unidas, passando pela União Europeia, adensam-se as dúvidas e as críticas a um ajustamento em 2013 que virá em 80% do aumento dos impostos.

Mas perante tudo isto, o que faz o Governo e o ministro das Finanças em particular? Como o sargento que confia cegamente no que está a fazer, manda os soldados continuar a marchar, apesar de ser evidente o precipício no qual todos vão cair.

Devem-se manter todos os cortes na despesa e ir mais além, onde for possível. Mas, por favor, deixem a economia respirar! Não aumentem a carga fiscal sobre os contribuintes individuais e coletivos! 

O Orçamento do Estado para 2013 é, do ponto de vista fiscal, o precipício em que vão morrer milhões de contribuintes. Por isso, só há uma maneira de parar esta carnificina: é não aprovando o OE/2013. Porque depois da sua aprovação, não haverá recuo e a mortandade de empresas e contribuintes será uma realidade, que tornará o país por longos anos num cemitério da esperança de qualquer vida digna neste retângulo à beira-mar plantado.     


Sobre uma carpete de Arraiolos feita por mim, os meus últimos livros. Aqui refiro em particular Kafkiana de Agustina Bessa-Luís com prefácio do marido, Alberto Luís.


Quem não esteja para ler sobre os meus últimos livros, pode descer mais um pouco e ir já até ao meu post seguinte onde vos falo de um sonho do além e vos falo das últimas de Passos Coelho, Gaspar e Cavaco e, ainda, de uma teoria da conspiração que por aí corre envolvendo Rui Rio, quiçá Rui Moreira e, ainda, o já referido Presidente.

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Fui à procura de um livro sugerido por uma Leitora, Botas do sargento, um livro de contos de Vasco Graça Moura com imagens de Paula Rego. Não havia mas não estava esgotado pelo que o encomendei. De caminho, passei outra vez pelos escaparates. É uma tentação. Quando conseguirei eu ler todos os livros que vou comprando?

Ainda no outro dia, tinha comprado uns quantos, até vos mostrei. Depois fui atrás do último do José Riço Direitinho, o Breviário das Más Inclinações, conforme sugestão de uma certa Leitora Fantástica e acabei trazendo, para além desse, também Contos Escolhidos de Carson McCullers, numa tradução de Ana Teresa Pereira, Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho e o Ruben A., Uma biografia, de Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz.

Gosto imenso de biografias, correspondências, diários.

Hoje, foi outra vez a mesma coisa, uma incapacidade de resistir a uma tentação que é forte demais. Trouxe o 2º volume da Poesia Completa de Vasco Graça Moura, o Kafkiana de Agustina Bessa-Luís e o Próximo Outono de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, um diário. E, ainda, a última Ler que já comecei a digerir (digo 'digerir' para não repetir a palavra 'ler') na fisioterapia. Mas hoje não foi um bom dia para leituras. O gabinete em que eu estava enquanto me aplicavam os ultra-sons e as ondas-curtas estava à meia luz e eu ali, deitada, sossegada, parte do tempo a levar uma massagem... Pois, estão a ver, não é? um sono... por pouco não adormeci. Por isso, hoje não progredi muito na leitura.

A ver se não volto à livraria nos próximos tempos. O que me alivia a consciência é pensar que mais vale comprar já carradas de livros - mesmo que nem tão cedo os consiga ler - do que esperar para o ano que vem e o dinheiro me ir todo para o Gaspar-não-acerta-uma. Assim como assim, mais vale ficar já com os livros.




Desta vez, na instalação que fiz para a fotografia, não usei écharpes. Comecei por escolher duas, e agora estão aqui ao meu lado deixando um cheirinho a Nº 5 na sala. Mas acabei por optar por colocar os livros em cima de uma carpete de Arraiolos que aqui tenho, feita por mim, claro, um modelo original do século XVII, com 1,70 m de largura por 2,5 m de comprimento. Esta é a da águia bicéfala, cujo original está no Museu das Artes Decorativas em Paris.

Mas o que queria era dizer-vos que o livro da Agustina, Kafkiana, me enterneceu. Tem a abrir uma 'Advertência à presente edição' de Alberto Luís, o marido de Agustina.

E como há pouco gostei de ler o que ele escreveu... Objectivo mas de uma ternura implícita que me tocou, tanto mais quanto se sabe o cuidado que ele sempre pôs na revisão dos originais da mulher, das brigas que tinham, ele querendo que ela limasse as incongruências e ela sem paciência para esses pormenores.

(E só estou a escrever no passado porque é sabido que Agustina já não escreve.)

Transcrevo apenas um parágrafo desta advertência.

Um menu souvenir que Agustina guarda deste encontro memorável de Kafka com os actores é a fotografia que eu lhe tirei nos princípios de 1974, entregue à leitura dum livro do futuro Prémio Nobel Isac Bashevis singer, Um amigo de Kafka, onde um velho actor da trupe nómada lhe conta, nos primeiros anos trinta, a história da paixão de Kafka pela bela Tchissik.

Afinal vou transcrever também os dois últimos parágrafos:

Assim, não estamos impedidos de remeter as reflexões fragmentárias, quer de Kafka, quer de Agustina, para o Aggadah talmúdico, no seu livre questionamento do estado do homem no mundo.

Eis como interpreto o pensamento que se encontra suspenso nos textos de Agustina, à excepção do último, um passeio por Praga - gesto de verdadeira comunhão dela com o humor demoníaco de Kafka.


Promete, este livro. A ver se o consigo ler no fim de semana.


*

A música é de Jean-Philippe Rameau que esta semana tem estado presente no Ginjal, e o que ouvimos aqui, Chaconne, faz parte de Les Indes Gallantes. A interpretação está a cargo de William Christie e de Les Arts Florissants e é um prazer.

*

Já agora, porque não convidar-vos de novo a um passeio até à beira do rio? No meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, as minhas palavras elevam-se sobre as águas acompanhando os que pensam viver para sempre, ao som da lira de Vasco Graça Moura. A música, como vos disse, é de Rameau e tenho gostado tanto que acho que vai haver prolongamento.

*

E já chega, não é? Já escrevi outra vez como se não houvesse amanhã, credo. 

Desejo-vos um belo dia. Saúde e alegria é o que vos desejo.

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Tal como se refere nos Comentários abaixo, aqui coloco, depois de devidamente autorizada pela Leitora Antonieta, imagens de livros seus que vêm a propósito do que acima se escreveu. Também estão sobre uma carpete de Arraiolos.







Obrigada!

quinta-feira, novembro 15, 2012

Passos Coelho diz que Portugal é um caso de sucesso, que estamos no bom caminho, que alcançámos em ano e meio o que se esperaria alcançar apenas em seis anos (a sério que ele disse isto!). Mas Cavaco Silva, que agora voltou a aparecer, diz que a situação é insustentável, pior do que ele esperava e que a Europa vai ter que nos ajudar. Gaspar, por seu lado, diz que as previsões são para falhar e que não anda aqui para ver se acerta ou se não acerta, tem mais que fazer. Ou seja, para o Gaspar, o que for soará (e que se lixem as pessoas, coisa que não faz parte dos modelos dele). Mas, se me permitem, deixem que vos conte um sonho que tive. E, a seguir, desenvolvo uma teoria da conspiração de que se ouve falar por aí. Rui Rio e Rui Moreira constituiriam a dupla de Ruis com a qual Cavaco Silva estaria a contar.



A noite passada tive um sonho do além. Não me lembro já de como era ele fisicamente pelo que não sei se sonhei com alguém muito conhecido ou com algum desconhecido. Por isso, vou referir-me a ele como 'sujeito'.

Sonhei que um certo sujeito ouviu dizer que é de bom tom ter dentes brancos e resistentes. Com espírito de bom aluno, perguntou numa arredondada e pouco precisa forma de expressão: para pôr uma coisa branca como poderei eu, em tempo, conseguir? Alguém, não sabendo bem a que se referia ele, disse-lhe como é. Uma pinguinha de lixívia mas coisa muito pouca, dissolvida em água. A outros perguntou: para no corpo humano tornar uma coisa mais dura como poderemos nós, em tempo, conseguir? Quem ouviu, espantou-se com a desabrida pergunta e, entredentes, referiu umas pílulas azuis. Mas um assessor de imagem atalhou que não era nada disso, ora essa, senão ainda falavam que o sujeito estava com cabelo fraco e que a fraqueza já tinha alastrado a outras partes do corpo.  Responderam-lhe então que, se a zona corporal era outra, talvez o assunto se resolvesse com cálcio. Mas, desgraça das desgraças, a pessoa em causa tinha alguns défices de conhecimento, pelo que perguntou: na natureza, ou, até, no reino animal, vegetal ou, mesmo, mineral, ou, até, em qualquer outra localidade, onde poderei eu o cálcio encontrar? Alguém lhe falou em cascas de ovo ou pedras da calçada, das de calcário (não das de granito, explicaram-lhe).

Determinado e voluntarista, o sujeito em causa pensou que, em vez de fazer o tratamento com vagar, mais valia era despachar logo o assunto de uma vez. E, então, todos os dias, passou a beber, de penalti, um copo de lixívia pura e, ao passar por uma rua empedrada, à socapa, arrancava uma pedra, mandava britá-la e engolia as pequenas pedras como se fossem comprimidos.

Claro que a coisa não correu bem mas, no meu sonho, esse tal sujeito diz assim, estou no caminho certo mas os resultados não são os esperados. Ou melhor, o que vocês precisam de saber é que os resultados são os que esperávamos, embora não sejam tão bons quanto gostávamos. Por isso, vou ter que reforçar o tratamento, vou ter que o fazer também mais rapidamente: dois copos de lixívia de cada vez e pedras de manhã, ao almoço e ao jantar. Os meus dentes serão os mais fortes e brancos da Europa, um case study. Só devia ter os dentes tão brancos e tão fortes ao fim de seis anos e afinal, ao fim de ano e meio, estou como me vêem, numa forma invejável, os dois dentes quase transparentes e rijos que dá gosto.

No meu sonho, quem o via - esgalgado, esquelético, boca queimada, em ferida, já só com dois ou três dentes, vergado de dores pelas pedras que se acumulam nos rins, na bexiga, na vesícula, e em tudo o que é sítio - dizia que o homem estava nas últimas.

No meu sonho as pessoas tentavam explicar-lhe que de nada valem os dois dentes brancos (que acabarão por cair) se o resto estiver a cair de podre. Mas ele não percebia isso. No meu sonho o sujeito era burro, burro, burro, não tinha compreensão para coisa nenhuma.

O que vale é que era apenas um sonho. Na vida real não há, certamente, burros destes.

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Criatura que descobri na net, identidade não reconhecida
(a fonte da fotografia também é não identificada)

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Hoje também ouvi na rádio Cavaco a dizer que no princípio de 2010 já tinha feito um aviso, já tinha alertado, e que, portanto, não viessem agora dizer que não avisou.

Boa! Se há dois anos avisou, então já podemos estar descansados.

Mas disse também que a coisa aqui está preta, que a situação é insustentável, explosiva, que tem que haver políticas de crescimento e que a Europa tem que ter compreensão pelas agruras pelas quais estamos a passar. Menos mal ter dito isso. Vamos ver é se, uma vez mais, não são palavras sem quaisquer consequências.

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Mudo agora de registo para falar mais a sério e para reflectir um pouco sobre o período sabático ao qual Cavaco se tem remetido. Tenho ouvido as mais variadas explicações, algumas bem desagradáveis.

Mas também pode acontecer que esteja, de facto, a preparar uma alternativa. Soa que pode ser isso.


Cavaco Silva e Rui Rio
Será que, em breve, vamos ter notícias desta amizade?



Soa que pode estar a preparar-se para lançar o Rui Rio como primeiro ministro de um governo que substitua este, já que Passos Coelho tem manifestado total incapacidade para o cargo e que já não há, nem nos parceiros sociais, nem nos outros partidos, nem sequer nos da própria coligação, PSD incluído, quem o apoie. Soa que Rui Moreira, muito crítico também deste Governo, pode estar a preparar-se para se candidatar ao Porto. Se assim for, derrotará facilmente Luís Filipe Menezes. Sendo assim, Rui Rio teria caminho livre para aceitar um desafio que está à sua altura. Com um perfil de bom gestor, seguindo uma linha de social democracia normal (leia-se: defende o País, tem noções concretas do que é a economia e de como as finanças e a economia se influenciam mutuamente, defende o Estado Social e preocupa-se com as pessoas), Rui Rio teria boas probabilidades de ser aceite pelos partidos da coligação. Como se sabe, António José Seguro já disse que não aceitaria um Governo ‘presidencial’ e é também sabido que o PS não está desejando ir já para o Governo. Assim, sendo um Governo formado por figuras da maioria eleita, e sendo encabeçado por pessoas competentes, sérias e bem formadas, talvez a coisa passasse sem grande ruído e talvez este estado agonizante em que o país se encontra pudesse ser revertido.

*

Não me despeço já porque me estava a apetecer ainda  transcrever um pequeno excerto (não digo o que é...!).

Em princípio até já! - e digo 'em princípio' porque ainda tenho os comentários para responder e não sei se chego ao fim ainda acordada.

O processo de escrita, a criatividade, a disciplina, a solidão - a palavra ao escritor Ian McEwan. (E, já agora, Expiação - filme baseado numa obra sua)



Ian McEwan, escritor, inglês, nascido em 1948


Há uma passagem no livro Sábado que mostra o protagonista a trabalhar num estado a que os psicólogos chamariam ‘em fluxo’. Como consegue isso no seu trabalho?

Acontece apenas ocasionalmente e é acidental. Todas as barreiras caem, fico fora de mim próprio, preso no momento, e todo o sentido de tempo, até de emoção, desaparece. Geralmente tem a ver com o confrontar-me com alguma coisa de difícil, com a resolução de problemas. Fora outras situações mais óbvias, como o sexo ou fazer ski, penso que esta é uma das mais potentes formas de satisfação. Não tem a ver com o sentimento de posse ou de ser rico ou bem sucedido. Tem a ver com conseguir-se ser-se totalmente absorvido por qualquer coisa que nos interessa e nos desafia.

Como é o que o seu processo de escrita se inicia?

Tenho um grande caderno em cima da minha secretária no qual rabisco. A minha noção de começar uma novela tem a ver com sentir que há qualquer coisa a arreliar-me, ou várias coisas ao mesmo tempo.
(...)
Precisamos de silêncio e daquela divagação mental da qual as coisas nascem. Os caracteres vêm na nossa direcção como através de uma névoa. Algumas frases têm que ser desembrulhadas. Às vezes escrevo um parágrafo de abertura que sei que nunca completarei, mas saber isso liberta-me. Por isso eu engano-me a mim mesmo escrevendo mais. Nunca sinto que estou a escolher um assunto. Simplesmente tenho estas coisas na parte de trás da minha mente para as quais tenho que olhar e então, subitamente, atiro-me a isso: como que andando à deriva, fui dar com um trabalho que me vai levar dois ou três anos. Fico sempre encantado com isso.

Li, no entanto, que você é bastante disciplinado e preciso enquanto progride no trabalho.

Uma vez metido ao caminho, um dia bom é um dia se se situar entre 700 e 1.000 palavras. Acho que é importante na criatividade perceber o valor da hesitação, para não estar à pressa, para poder voltar atrás e fazer uma pausa – não porque esteja bloqueado, não porque não saiba o que fazer, mas apenas para deixar que as coisas se enriqueçam por si. Os momentos em que me afasto do que estou a fazer são frequentemente os momentos em que penso que sei exactamente o que fazer, mas não confio completamente nisso. Por isso, antes de me atirar de cabeça, eu resisto. Depois volto atrás.(...)

Disse que gosta de solidão.

Não preciso disso massivamente; apenas preciso durante o dia. Christopher Hitchens disse-me uma vez que a felicidade é escrever todo o dia sabendo que, ao fim do dia, se vai estar na companhia de um amigo. Eu penso isso. Se, das nove da manhã até às sete da tarde, o dia estiver inteiramente por minha conta, e a seguir for tomar um duche e, a seguir, for ter uma conversa estimulante acompanhada por comida e um bom vinho, estarei a cavalgar uma das maravilhosas ondas da civilização.

Como é que sabe que um livro está acabado?

Às vezes entrego-o ao meu editor e digo ‘Este é o penúltimo rascunho. Se tiveres algumas anotações, envia-mas’. E também o mostro à minha mulher e talvez a um ou dois amigos e depois ouço o que eles tiverem a dizer. Uma boa nota para edição é aquela que eu reconheço instantaneamente como correcta, como se fosse algo em que eu tinha pensado desde o início. Se alguém me diz alguma coisa que requer que eu agonize em volta disso, no fim acabo por perceber que devia deixar como estava.

...


A sua vida dava um filme, já para não dizer vários livros
(a começar pela descoberta, há 10 anos atrás,
de que tinha um meio irmão que desconhecia,
um irmão dado para adopção durante a Segunda Grande Guerra)


'Ian McEwan diz que se tornou escritor sendo um leitor. Os seus pais, que deixaram ambos a escola aos 14 anos, insistiam em visitas familiares todas as semanas à livraria enquanto ele foi criança e enviaram-no para um internato, onde ele descobriu Iris Murdoch e Graham Green.'

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A entrevista é de Alison Beard e está publicada na Harvard Business Review de Novembro, revista esta que, já agora, para a informação ser mais completa, tem como tema de capa ‘Change faster – How to build adaptive genius in your organization', por John P. Kotter.

A tradução da entrevista é minha e devo confessar que, desta vez, não me foi nada fácil: palavras pouco óbvias, de difícil tradução mantendo a integridade do raciocínio. Por isso, se algumas coisas não vos soarem muito bem, saibam que a mim também não.


(PS: Uma entrevista a um escritor numa revista de Gestão...?! Mas então os gestores não se interessam apenas por números...? - interrogar-se-ão, certamente, alguns fundamentalistas das letras)

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Como gosto de ouvir os escritores de viva voz, fui à procura e encontrei várias entrevistas. Esta aborda, sensivelmente, o mesmo assunto mas dá gosto ouvi-lo, tem um sorriso muito agradável e tem charme e, sobretudo, tem aquele sotaque so british, so sexy.




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Para quem não conhece os seus livros - e agora em Setembro saíu um, o Mel de que aqui vos mostrei a capa e um cheirinho no outro dia - deixo-vos o trailer de um filme muito bom, o Atonement, traduzido em Portugal para Expiação.

Gosto muito da escrita de Ian McEwan (se é que isso interessa a alguém).




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Este já é o meu segundo post publicado agora, aqui no UJM. Mais abaixo poderão ler um 'escrito' sobre a Greve Geral, sobre a violência, sobre Passos Coelho (o putativo homem Sicasal) e, ainda, sobre o fantástico PR Cavaco Silva que, de vez em quando aparece, aparentemente, com o único intuito de nos confundir. Deslizem um pouco mais que já o encontram.

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Vou ainda evidenciar um pouco mais do meu grande descaramento, convidando-vos a virem comigo até ali ao Ginjal e Lisboa, a love affair, o meu outro blogue. Hoje a conversa é de gataria e as minhas palavras deslizam felinamente em volta de um belo poema de Vasco Graça Moura. A música continua a ser de Rameau e escolhi uma peça pouco comum.

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E, com isto, já é quinta feira. Anda a passar tão depressa, o tempo, não anda?

Um dia muito bem passado é o que vos desejo. E divirtam-se, está bem?

quarta-feira, novembro 14, 2012

Em dia de Greve Geral, Lisboa aproxima-se de Atenas. A violência começa a não se conseguir conter. Passos Coelho, fingindo que é um homem Sicasal, aparece a dizer que quem trabalha é corajoso (ah pois é! Trabalhar para aquecer num país em saldo é mesmo coisa para corajosos). E Cavaco Silva faz uma aparição muito estranha dizendo que respeita a greve mas que está a trabalhar para se aproximar da Colômbia.


Breaking News


Passos Coelho: se for parar ao desemprego,
duvido que o patrão da Sicasal o queira empregar.
Para fazer o quê? Não sabe fazer nada. Só bolos.
Mas na Sicasal é mais chouriços.


No dia em que se sabe que, em Portugal, o risco de bancarrota sobe para mais de 42%, no dia em que a taxa de desemprego em Portugal sobe para 15,8% no terceiro trimestre, no dia em que se soube que a economia portuguesa acentua contracção no terceiro trimestre, etc, etc, olhamos para as imagens na televisão e vemos um País que começa a dar mostras de saturação.

A CGTP tem na sua estrutura mecanismos de segurança que impedem que, nas suas acções de rua, haja violência. Por esse motivo, a CGTP é um indispensável aliado dos governos pois canaliza o descontentamento dos trabalhadores para acções pacíficas, controladas e preparadas em conjunto com as forças policiais (e só um governo constituído por gente pouco informada é que não sabe isso e não trata com respeito esta forte organização sindical).

O pior é quando o descontentamento começa a saltar fora do controlo. Foi o que aconteceu hoje ao fim da tarde, mal acabou a manifestação organizada pela CGTP. 



Em frente da escadaria da Assembleia da República,
supostamente a casa dos representantes do Povo


Tenha sido ou não despoletada por agentes à paisana como se ouviu referir, por provocadores' ou seja por quem for, é uma amostra do que começa a fermentar. Há uma raiva, uma raiva muito justificada, pois o pior que pode acontecer num país é deixar de haver esperança no futuro. Um País que expulsa os seus jovens, maltrata os mais velhos, retira a segurança e a confiança dos cidadãos no Estado, destrói a classe média e atira para a miséria grande parte da população, é um País infeliz, um país que gera revolta e violência.

Mas Passos Coelho não percebe isso. A sua capacidade de assimilação dos factos é muito limitada tal como se tem constatado. Por isso, se não é rapidamente demitido, é de temer o pior.

Quanto à capacidade de intervenção de Cavaco Silva, estamos conversados.

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Uma palavra sobre a Greve Geral. A greve é um direito e penaliza quem a faz.  Para trabalhadores com salários baixos, perder um dia de salário é uma perda importante. É preciso coragem e abnegação para abdicar dos seus rendimentos para protestar, tentando conseguir alguma melhoria nas suas condições ou tentando demonstrar o seu descontentamento.

Por isso é preciso respeitar quem a faz.

Dito isto, quero dizer-vos que não fiz greve. Sou um bocado purista e, como tal, entendo que a greve é uma manifestação de desagrado face à entidade patronal - numa greve tenta penalizar-se o patrão por não atender às necessidades e aspirações dos seus empregados. Ora eu não tenho razões para protestar contra o meu patrão. Já o mesmo não se aplicaria se o meu patrão fosse o Estado.

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E, com isto, para já encerro o expediente e vou jantar. Mais logo, voltarei com outros temas (acho eu). Até já.

De novo aqui, no Um Jeito Manso, Tamara de Lempicka, uma pintora nascida polaca com uma expressão de virgem depravada, com um rosto deslumbrante no seu descaramento total (a palavra a Gina Picart que sobre ela escreveu em 'O príncipe dos Lírios')


No verão de 1924 conheci em Nice Tamara de Lempicka, uma pintora polaca na moda entre a aristocracia de Paris. 



Tamara Lempicka (1890 - 1980)


Eu tinha chegado de Cuba há uma semana e naquela manhã tomava um aperitivo com Colette num café da costa, debaixo de um desses toldos às riscas que protegem os turistas do sol mediterrânico.



Colette (1873 - 1954)


Enquanto bebíamos, coscuvilhávamos e entretínhamo-nos a observar as pequenas figuras dos veraneantes que se deslocavam languidamente pelo Passeio dos Ingleses. Reconhecemos Cocteau e Radiguet pelos seus andares de bailarina e as condessas de Polignac e Noailles pelos seus chapéus ridículos. 

(...)

Uma mulher aproximou-se da nossa mesa. Chamavam a atenção a sua face nórdica de maçãs-do-rosto altas e os seus olhos cor de jacinto, com uma expressão de virgem depravada. Um rosto deslumbrante no seu descaramento total e, no entanto, ameaçado por esse peculiar matiz de lonjura que se adivinha precocemente naquelas pessoas a quem o futuro reserva a demência. Vestia calças e casaca pretas, camisa branca e um leve cachecol de seda sem nó sobre a lapela. Parecia-se a George Sand e supus que, tal como outras mulheres a quem Colette já me tinha apresentado, esta também teria sido sua amante. Beijou Colette nos lábios com naturalidade e de seguida sentou-se entre nós. Cruzou as pernas e com um gesto graciosamente masculino fez sinal ao empregado.

(...)

Contemplei-a dissimuladamente, fascinada pelo seu ar soberbo e impúdico ao mesmo tempo. Uma rajada de vento agitou o seu cabelo de um loiro muito pálido, com esse tom acinzentado que Dante atribui às asas dos anjos. Ela susteve o meu olhar com aprumo, e percebi, escondida no fundo das suas pupilas, essa espécie de preia-mar sub-reptícia que flui quase sempre de todos os que desfrutam de mais de um sexo.


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Este é o início do conto 'O príncipe dos lírios', pertencente ao livro 'Óleo sobre Tela' da autoria de Gina Picart, escritora cubana de 56 anos, formada em arte, filologia e jornalismo. 



Gina Picart, aqui sem óculos


Este conto recebeu a Menção Honrosa do Prémio Ibero-Americano de Conto Júlio Cortázar. 

Talvez volte a ele  pois tem que se lhe diga. Além do mais, como deverão estar lembrados (os que me lêem e têm memória de elefante), Tamara de Lempicka é outra das pintoras cuja vida dava um filme.


Este não é o meu único post do dia. Há pouco já escrevi um desabafo que pressupõe que visualizem alguma mímica da minha parte (ou deverei dizer expressão gestual?). Por isso, aqui a seguir, um pouco mais abaixo, lá o encontrarão. 


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E, como habitualmente, ainda quero convidar-vos a deixarem-se ir na minha conversa, vindo comigo até ao meu Ginjal. Hoje o tema é a fina haste da melancolia, tal como a ela se referiu Eugénio de Andrade. Para espantar melancolias, temos uma animada música de Rameau.

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E, por hoje, já chega. Tenham, meus caros Leitores, uma bela quarta feira!

terça-feira, novembro 13, 2012

O défice anunciado ontem (ontem!) pelo inteligente Passos Coelho, revisto em alta há um mês e acordado com a troika, também já não vai ser atingido. O Gaspar não acerta uma! Passos Coelho nem consegue acompanhar a sucessão de derrapagens! O Banco de Portugal revê as estimativas todas para pior. Carlos Costa já nem consegue disfarçar o que se está a passar. Uma desgraça permanente. Mais défice, mais recessão, mais desemprego, mais dívida. É preciso esperar mais para perceber? Quem é que é tão lento e tão limitado que ainda não percebeu o disparate que é a política que está a ser seguida? Bolas para tanta estupidez!


Já nem sei que dizer mais. Ouço na televisão todos, toda a gente, mesmo os que antes se deixaram enganar (como Rui Moreira), a dizerem, passados, que não dá para acreditar no que se está a passar. Passos Coelho, face aos resultados que hoje foram conhecidos, em Bruxelas continuou a dizer que a austeridade é o único caminho. 

Dizem os sindicatos, dizem as entidades patronais (numa convergência de opiniões nunca antes vista), diz o FMI, diz toda a gente com dois dedos de cabeça (já não se pede muito mais), diz toda a gente que esta porcaria de medidas está a aumentar a dívida, a destruir a economia, a arrasar os sistemas de protecção social, a comprometer talvez irreversivelmente o fundo de pensões, a afugentar os portugueses e até os imigrantes, a aumentar o desemprego e a pobreza, a causar a diminuição da natalidade, a destruir e a vender a retalho o país - e o Primeiro Ministro ainda não percebeu. Ainda não percebeu! Ainda não percebeu! Ainda nem sequer viu que aquele Gaspar não acerta uma. Ainda nem isso ele viu! Dá para acreditar numa coisa destas?!

Olhem, já nem sei o que dizer...