domingo, outubro 23, 2011

MÚSICA NO GINJAL - Canto Gregoriano (Victime Paschali Laudes)


Começa esta semana novo ciclo da minha Música no Ginjal, desta vez dedicada à música medieval. Abrimos com Canto Gregoriano que eu adoro. Tranquiliza-me, envolve-me, eleva-me.


Venha comigo até ali aos claustros do meu blogue Ginjal e Lisboa, a love affair, vamos sentar-nos num recanto, vamos olhar para dentro de nós, vamos deixar que a nossa alma se tranquilize e purifique. Venha.

A doçura do outono in heaven

 
Estou in heaven, o sítio do mundo onde mais gosto de estar. A casa está silenciosa, são quase 2 da manhã e ainda cheira levemente a uma torrada que há pouco torrou demais.

Parece que este domingo o tempo vai mudar mas no sábado ainda esteve calorzinho, um ar tépido, suave. Ainda consegui apanhar a luz da tarde. Era uma luz dourada e tudo estava luminoso, doce. Comi medronhos, vermelhos, doces, passei ao pé dos pinheiros que hoje estavam especialmente perfumados, passeei nestes meus tão familiares caminhos. Eu ia devagarinho, gosto de absorver bem, longamente, este ar, este aroma, gosto de sentir o ar na minha pele, gosto de ver cada pequena flor, agora estão douradas, quase secas, lindas, gosto de ver as árvores que vão crescendo, gosto de ver o sol através delas, gosto de ver como ondulam levemente com a aragem ligeira da tarde. E como vou devagar, de mansinho, os animais só dão pela minha presença quando estou ao pé deles. Um coelho passou mesmo junto a mim, viu-me e desatou a correr. Os pássaros levantam-se apenas à minha passagem e às vezes assustam-me porque se agitam e fazem um barulho imprevisto, um som orgânico, inesperado e então partem a voar, rápidos.

Fotografo estas cores, estas flores, estas árvores. Fotografo-as vezes sem conta mas não me canso. Esta é a minha casa, este é o meu pequeno mundo, é como se eu tivesse nascido de dentro desta terra.

Façam o favor de entrar, venham comigo, welcome to heaven.


Outubro é o mês do fogo e a vinha virgem, claro, está on fire

Vocês podem dizer que é um matagal com um eucalipto em fundo
mas, para mim, é a natureza em toda a sua pujante beleza


Vocês podem dizer que são umas florzecas banais e quase secas
mas, para mim, são qualquer coisa de fabulosamente etéreo, delicado


An heaven with a view
Vocês podem dizer que são pedras, meia dúzia de árvores, umas casitas ao longe
Para mim é melhor que a Toscânia, melhor que tudo o que há de bom

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Tenham um bom domingo, meus queridos Amigos.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Charlize Theron que adora Dior, Juliette Binoche e o poema da Lancôme, a mulher que se esconde de Guy Bourdin, o homem só de Robert Mapplethorpe e let's do it, (let's fall in love) ao som de Ella Fitzgerald

 
Longe do bulício, fechada em reuniões e agora longe de casa, num quarto de hotel, pouco sei do que hoje se passou. Não me apetece comentar mortes, é coisa que não consigo festejar, liguei a televisão e, quando vi as imagens numa Líbia em festa, mudei de canal.

Ouvi um pouco da Quadratura do Círculo, e embora goste de os ouvir, são inteligentes e lúcidos, não me apetece isso, são temas velhos, parece que hoje acho tudo isto já muito gasto.

Por isso, desculpem se tiverem a sensação de déjà vu mas é o que me apetece: filmes, glamour, moda, perfumes, moda, olhares que falam, fotografia, música - a beleza nas suas múltiplas formas.

Be happy, enjoy life.







by Guy Bourdin


Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

('Um amor' de Nuno Júdice in "A Partilha dos Mitos"

by Robert Mapplethorpe





Boa sexta feira!!!

     

quinta-feira, outubro 20, 2011

Jiri Kylian diverte-nos com Birth-Day, Maria Teresa Horta oferece-nos um Retrato de Senhora, coisa que Helmut Newton também fez com Monica Bellucci e, para terminar, Grace Kelly by Mika - e depois digam-me lá se não ficaram bem dispostos depois do que viram e ouviram?


Depois de ali em baixo ter desabafado a minha perplexidade perante o estrondoso tirar de tapete de Cavaco Silva a Passos Coelho, volto, tal como nos últimos dias, a sentir a irreprimível vontade de desopilar. Como os meus Caros lêem de cima para baixo e fazem muito bem, considerem este post como um amuse-bouche para o que se segue.

Ou seja, agora, aqui, isto é apenas para fazer boquinha, para estimular os sentidos.

Espero que aprovem, que gostem - eu gosto. É para me descontrair mas, também, para vos agradar que o faço.

Enjoyez!


                                                   (The Netherlands Dans Theater celebrates Jiri Kylian - fun, fun, fun, extraordinaire)


É espanto cego das sedas
senhoras
de odores profanos

Enquanto bordam
no pano
olham nos seios a beleza

É nova escrita
nos olhos
fiada nos tempos idos

Guardam no corpo o profano
senhoras
nos seus vestidos

É tempo incerto
nos dedos
cautelas de dar castigo

Enquanto guardam recato
senhoras
a seus maridos

É gozo só
que se esconde
à luz dobada da vela

Guardam perdidas o espanto
senhoras de odores profanos
cautelas de muita inveja


('Retrato de Senhora' de Maria Teresa Horta)


Monica Bellucci por Helmut Newton





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Não quero ser desmancha-prazeres mas, já agora, vão até ali abaixo para partilharem o meu espanto ... mas a seguir voltem aqui... está-se melhor aqui em cima, nestes aposentos de senhoras.
 
 

E agora Cavaco? E agora Passos Coelho? Com este OE 'já se ultrapassaram os limites do sacrifício, violaram-se os princípios da equidade fiscal e a austeridade, por si só, não resolve nada, é condição necessária mas não suficiente'. E depois disto...?


Cavaco hoje voltou a fazer das suas. Fiquei pasmada. Mas então o Passos Coelho não se articula com o Presidente antes de avançar com uma coisa destas? Não terá discutido o OE 2012 com Cavaco antes de avançar para a Assembleia da República?


E como é que, ao fim de 3 ou 4 meses, as coisas já deslassaram desta forma entre Passos Coelho e Cavaco Silva para este puxar o tapete desta forma a Passos Coelho...?!

Mas é que lhe puxou o tapete de uma forma... de uma forma que o desautorizou dramaticamente.

Não apenas diz, e diz com ar de poucos amigos, incomodado mesmo, que o outro passou as marcas da decência ao sacrificar miseravelmente os pensionistas mais pobres, que violou o mais básico princípio da equidade fiscal (e acrescentou: qualquer um que tenha estudado economia, qualquer um que tenha lido os livros - numa chapelada ostensiva ao bando de pseudo-economistas que por ali anda armado em experts), como - mais importante! - acrescentou que a austeridade é necessária mas não suficiente, que tem que haver um estímulo à economia, ao emprego.

Resta saber o que fará agora Cavaco Silva. Depois desta hoje, não sei como vai ser. Cavaco não é flor que se cheire, em especial para quem não alinhe pela mesma bitola e, claramente, não vai à bola com Passos Coelho e entourage.

Com Sócrates, andou in love durante anos e só no segundo mandato é que as coisas azedaram, e aí foi o que se viu: Cavaco marimbou-se para a lealdade institucional, marimbou-se para as aparências, e, sem pejo, tirou o tapete e torpedeou sem dó nem piedade o então Primeiro Ministro.

Mas agora, com este, é já ao fim de 3 ou 4 meses. Com estas afirmações retumbantes, Cavaco envergonhou Passos Coelho na praça pública.


Faço ideia como, a esta hora, está o Miguel Relvas e o seu subordinado Pedrocas. Já devem estar a engendrar, com os criativos assessores da imagem e comunicação, a melhor forma de se saírem desta emboscada, ou seja, como se hão-de portar para não aparecerem em público com a cara pintada de preto.

Claro que a palavras de Cavaco Silva foram fuel em cima do fogo que já alastrava pela sociedade. Os partidos reagiram em brasa.


A impagável Ana Avoila já saíu à cena, dizendo, com aquele seu ar temível, que espera que estas palavras de Cavaco Silva não sejam apenas show off, que se espera que agora aja em conformidade. Os sindicatos estão ao rubro. Voltaram os tempos das greves gerais.

Cavaco Silva junta-se assim ao coro de indignação que alastra desde a Igreja aos jovens, aos velhos, aos empregados e desempregados, aos pensionistas, aos empresários (sim, os empresários andam passados com tudo isto, sim, os empresários que já tiveram reuniões com membros deste governo vêm de lá passados, sim, os empresários não se revêem em nada disto, believe me), aos gestores em geral, aos funcionários públicos e a todos os outros (eu não sou pensionista nem funcionária pública e tudo isto me dói como se o fosse), Cavaco Silva hoje cá, loud and clear, depois de em Florença já ter falado com inesperada lucidez, mostrou a todo o país que não está a gostar nem um bocadinho do rumo que isto está a levar.

Acabo agora de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa a dizer que depois destas palavras o Governo tem que corrigir o Orçamento. Por toda a Comunicação Social não se ouve uma só voz a defender estas medidas. Até o Professor Marcelo...

Juro que não estava à espera que isto acontecesse tão cedo.

Já aqui tenho dito, especialmente em resposta aos comentários em que me perguntam 'como se vai sair disto?', que a minha esperança é que o Governo, que é tão incompetente e impreparado, faça grossa asneira e que alguém (Cavaco Silva, nomeadamente) se veja forçado a agir.

Espero também que se crie uma onda de fundo qualquer que leve a uma qualquer mudança de rumo em toda a Europa.

Van Rompuy hoje veio dizer que a Europa tem que se virar urgentemente para a economia e para o emprego.


Fernando Henriques Cardoso num artigo publicado no El Pais e referido no Expresso chama a atenção para o facto de que medidas de austeridade sem relançamento da economia irão esmagar o país e que o caminho deve ser outro, deve ser renegociada a forma de pagar a dívida e que o esforço deve incidir também, e sobretudo, no combate à pobreza, no investimento, no emprego, no estímulo à economia. O exemplo do Brasil está aí para o demonstrar.

Christine Lagarde voltou hoje a levantar a voz e a dizer que a situação não está a melhorar, que os países pobres estão mais pobres, que os riscos de contágio não estão a ser controlados, que é preciso agir e rapidamente.

São muitas e avisadas as vozes que, de todos os quadrantes, apelam à mudança de estratégia, de rumo.

O que se está a fazer à Grécia é doloroso, é sangrar um povo.

E é isto que os meninos Passos Coelho, Relvas, Gaspar, Moedas se preparam para fazer cá.


O Álvaro, que anda paralisado, então, até dói, devia ser o ministro mais importante neste momento e não faz nada que se veja. Lá apareceu hoje, feito pequeno totó, baralhado, ensaiando falar duro mas apenas gaguejando, dizendo que têm que ocorrer despedimentos nos transportes. Pois, eu digo-lhe, menino Alvarito: claro que há gente a mais, claro que os transportes andam todos descoordanados, com meios a mais face às necessidades, claro que, se aumentar ainda mais o custo dos transportes, menos as pessoas andarão de transportes públicos e mais gente sobrará. Há caminhos assim, menino Alvarito, são as ditas espirais.

Mas, sobretudo, menino Alvarito, o que o menino tem que fazer é estudar - de forma sistémica e planificada - os transportes, estimulando o uso de transportes públicos, o que o menino tem que fazer é, enquanto faz isso, ir relançando a economia para que novas empresas absorvam as pessoas que sairem das empresas dos transportes, agir de forma articulada, coordenada, não avulsamente, e vendo apenas um dos lados da equação. Governar o País é isso: é ter tino, ter cabeça, é saber de números, é saber de sociologia, de demografia, de política, é ser culto, humanista, democrata, é ser inteligente, ter senbilidade e bom senso.

Agora digam-me: neste nosso governo, quantos ministros são assim? Um...?

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Bom, vamos ver o que os próximos dias nos reservam. Não fosse o drama das pessoas, isto até teria graça. Mas não tem. Isto é um drama.

 

MÚSICA NO GINJAL - Maria Ana Bobone no Fado da Sina

 
Há vozes límpidas, almas lusitanas, seres com emoção e atitude que transportam dentro de si o espírito do fado.

É o caso desta jovem do seu tempo, bonita, com uma bela presença, Maria Ana Bobone.


Hoje David Mourão-Ferreira traz um poema inscrito sobre o rio e, logo a seguir, Maria Ana Bobone chama por nós. Venha.

quarta-feira, outubro 19, 2011

Prêt à Porter and The Performers, Pedro Tamen no seu Teatro às Escuras, as mulheres fotografadas por Guy Bourdin e os Ojos Verdes de Buika - c'est la joie de vivre, mes amis.

 
Depois de ter escrito mais um texto deprimente sobre o OE 2012 e sobre o Memorando da Troika (post abaixo) tenho que lavar a alma. Por isso, para minha higiene mental e emocional, aqui vos deixo mais um pequeno exercício de papier mâché (obrigada pelo cognome, Margarida).

Assim sendo, meus Amigos, queiram entrar e assitir a esta selecção de coisas de que gosto. Enjoy!



                                  Nascemos vindos do escuro
                                  e ora de repente aqui voltámos
                                  ao escuro onde de novo nos fazemos.
                                  E assim se faz fértil o negro nada
                                  pelo qual perpassamos para o dia
                                  de não ser preciso procurar
                                  a mão ignorada que estendemos
                                  e estreitaríamos se fosse dado vê-la
                                  aos olhos que um dia bem abertos
                                  os hão-de ver totais e acordados.


                                 (Pedro Tamen in Um teatro às escuras)




Fotografia de Guy Bourdin
 



Be happy!

terça-feira, outubro 18, 2011

O OE 2012 traduz o que foi acordado com a Troika? Não, nem pouco mais ou menos. O OE 2012 vai resolver os problemas do País? Não, pelo contrário, vai agravá-los. O OE 2012 é uma arma de destruição maciça de Portugal.


O PS, o PSD e o CDS assinaram o Memorando de Entendimento com a Troika e devem cumpri-lo.


Li o documento. Falei aqui disso na altura. É um documento de operacionalização de um conjunto de medidas de racionalização em vários sectores nacionais. São medidas para conter a despesa na saúde ou na educação, para resolver processos judiciais pendentes, para conter admissões na administração pública, congelar ordenados na administração pública, racionalizar as transferências para a Administração Local e Regional e monitorizar a aplicação de verbas, aumentar o IVA sobre tabaco e sobre veículos importados, rever os contratos com as parcerias público-privadas, etc. Coisas razoáveis, necessárias, sensatas. Claro que também lá aparece o lado nefasto da coisa que é a necessidade de realizar cash a curto prazo, recorrendo, para tal, às privatizações.

Mas o documento da troika é um plano de acções, calendarizado, simples aquilo a que qualquer gestor está habituado quando tem que pôr a casa em ordem.

Li-o e achei natural que, se vão emprestar dinheiro, imponham como condição que excessos e malformações sejam controlados para garantir que não são sorvedouros de dinheiro.

Mas o Memorando de Entendimento com a Troika é só isso. Não é um programa de governo, não é um plano para gerir o país, para relançar a economia, é apenas uma garantia de que o dinheiro recebido não será desperdiçado.

Se você for ao banco pedir dinheiro e lhe exigirem uma garantia isso é natural. Ora, se você prestar ao banco uma garantia, fica (pacoviamente) à espera que seja o banco a vir também gerir a sua vida em todos os capítulos? Claro que não.

O que o Memorando tem de francamente mau é que implica um ajustamento a 3 anos - o que é impossível. Várias vozes se têm levantado e bem. Manuela Ferreira Leite é uma dessas vozes. No mínimo deveria passar para 5 anos, idealmente para mais que isso, talvez 7. Também começou com uma taxa de juro demasiado alto e que, posteriormente, foi ajustada.

Ora o que se passa com este nosso Governo, tão destituído, é que não apenas se limitam a agarrar-se ao documento da Troika para tudo e mais alguma coisa, como o adulterarm exacerbando todas as medidas restritivas.


Onde a Troika diz congelar salários, eles vão à catanada e rapam 20%, onde se diz para subir o IVA em bens supérfluos, eles vão e aumentam a electricidade, o gás, e sei lá que mais.

Mas pior que isso: ignoram a economia, ignoram as pessoas.

Medidas restritivas são necessárias (tal como estavam definidas no documento da Troika - não com o incremento do Gaspar) e é indispensável reequilibrar as contas. A demografia não permite alimentar tanto Estado, nem pagar tantos subsídios e pensões a tanta gente, durante tanto tempo.

É pois necessário criar emprego, criar emprego não estatal, redefinir os esquemas de apoio social. É indispensável que se faça isso, mas de forma inteligente, gradual - para que o estado social possa sobreviver, sem que o país não vá ao tapete em três tempos.

Mas isso faz-se criando emprego, injectando recursos na economia, estudando de forma integrada e planeada o desenvolvimento do país e as políticas do território.

Injecta-se de um lado para que se possa ir desmobilizando do outro lado, sem sofrimento.

O que não se faz, não se pode fazer, é o que este Governo anda a fazer que é cortar a eito, destruir a economia e a dignidade de todos quantos tiverem a infelicidade de cair no desemprego e na pobreza, sem criar qualquer alternativa, qualquer.


Este caminho é suicida e estúpido pois, além de tudo o mais, leva ao sucessivo incumprimento orçamental pelo lado da receita - como se está a ver. Com este garrote, não apenas a fuga fiscal vai voltar (e é compreensível, é a luta pela sobrevivência), como cada vez haverá menos pessoas a descontar porque vão caindo no desemprego, e porque as empresas vão cair no prejuízo, não conseguindo também pagar impostos.

Isto é difícil de perceber?

Eu acho que não.

Mas aqui temos este Gaspar, autista, insensível ao medo, insensível às pérfidas consequências, insensível a tudo, maquinal, consultor quadrado, consultor da área das finanças, ignorante de economia, ignorante da vida.

Aqui temos o incoerente, inconsistente, Pedro Passos Coelho com ar de quem sofre com isto tudo a fazer tudo mal, tudo, tudo, tudo ao contrário do que apregoou na oposição, na campanha eleitoral, tudo ao contrário do que o país precisa.

E aqui temos também aquele tonto do Miguel Frasquilho, ex-grande defensor da descida de impostos como forma de libertar recursos para a economia, agora beatamente a louvar a violenta carga fiscal sobre famílias e empresas, a louvar o infame corte de rendimentos.

Não pode ser. Não sabem o que andam a fazer. São limitados, demasiado limitados para poderem ser deixados a governar o país.

A nossa vida é demasiado importante para ser deixada nas mãos de gente tão destituída.


Os idosos do meu País não merecem isto, senhores...


Os jovens e crianças do meu País não merecem isto, valha-nos Deus.

   

MÚSICA NO GINJAL - Ana Sofia Varela interpreta Cinta Vermelha


Não é tango, mas é fado de fazer ciúmes, fado de orgulho no seu homem, fado castiço na voz trinada de Ana Sofia Varela.


Depois da Mãe Índia de Luís Filipe de Castro Mendes, vamos à tourada pela mão da Ana Sofia que ofereceu uma cinta vermelha ao seu homem. Ela diz que leva travessas vermelhas, argolas nas orelhas, que quer estar provocante. Vamos lá ver isso.

  

Evidentia, Fotografia e Sylvie Guillem, Apenas um Corpo e Eugénio de Andrade, Ave Mundi e Rodrigo Leão - a necessária beleza nestes dias de chumbo




Apenas um corpo

Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.

Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.

Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.

Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.

Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.

(Eugénio de Andrade)  

Auto retrato de Sylvie Guillem





Tenham um bom dia, meus Caros Leitores.


MÚSICA NO GINJAL: Teresa Tarouca em Cai chuva do céu cinzento


Já vos contei que que esta semana o meu Ginjal está transformado numa castiça Casa de Fados?

Não, acho que não. Então informo agora. Ontem tivémos Vicente da Câmara e hoje, meus amigos, a bela Teresa Tarouca com a sua voz de límpida saudade.



É já ali, na beira do rio, entre aquele belo casario - temos Eugénio de Andrade num belíssimo nocturno a duas vozes e, logo depois, noblesse oblige, far-se-á silêncio. Será hora de cerimonial, irá cantar-se o fado.

 

segunda-feira, outubro 17, 2011

A sociedade actual, a mediocridade que tomou conta de tudo, a nossa passividade, o movimento dos indignados e um caminho que temos que ir fazendo, caminhando


Eu tive a sorte de ainda ter conhecido gente competente nos lugares certos. Por isso tenho um padrão. Tenho também a sorte de conhecer ainda alguns (raros) casos desses.

Haver gente competente, preparada, capacitada, nos lugares que ocupa não é ficção nem é utopia.

A coisa começou, por cá, a descambar quando a política e a governação (governação em sentido geral: nas autarquias, nas empresas, etc) começaram a ser ocupadas por gente impreparada mas empossada ('empowered') como se estivesse preparada para tal.


Tal como no cinema se passou da arte, para o entretenimento e depois para a alienação, para a banalidade pintada de efeitos especiais, perseguições, gente atirada pela janela, música lamecha a impelir ao xarope emocional; tal como na literatura se passou da arte, da inteligência, do laborioso entretecer de palavras para palavras alinhadas em sound bites, para as historietas de vampiros, de anjinhos, de romances de meia tigela, embrulhados em tule com pintinhas brilhantes, para a profusão de vulgaridades básicas de auto-ajuda; tal como na música se passou da arte pura, elevada e trabalhada com esmero e inspiração para a banalidade monocórdica ou para a balada infantilizada ou para a foleirada mais bacoca, mais pimba; também na política a coisa desandou, também nas empresas a coisa desandou, por todo o lado a coisa desandou.

Como uma maionese que talha, tudo na nossa sociedade parece ter talhado. Mas a gente finge que não dá por nada. Deslassou? Juntam-se natas ou farinha que a coisa disfarça. E assim andamos, a ser governados por uma gente que é uma espécie de qualquer coisa, um remedeio, um molho deslassado, ou de pacote, a fingir que é a sério.

Na política, os grandes políticos ou morreram ou, os que ainda vivem, estão cansados, afastados. Ou então estão-se nas tintas para aturar esta maralha. Quem é que, com dois dedos de testa, se presta a ter que participar em debates com gente da 3ª divisão (a falta que agora me fazem os conhecimentos de futebol... aqueles clubes de subúrbio, a liga dos piores, como se chama a essa divisão)?

Eu às vezes penso: 'estou para aqui a invectivar... porque não me chego à frente, porque não me meto para aí num partido qualquer e vou à luta...?'.

Mas recuo logo. Alguma vez...? Ter que andar em reuniões de partido, à noite, a ter conversas parvas com gente desqualificada? Imagino os disparates que lá se dizem. Gente oportunista, ignorante, estúpida, só a ver como se safa. Ter que ir a comícios, ter que andar a participar em arruadas, em parvoíces...? Mas nem arrastada.



(Não estou a falar de cor. Conheço um ou outro caso que os meus amigos ficariam de cabelos em pé se soubessem, ao pormenor, a gentalha que por aí anda na política)

Mas vamos supor que, por magia, conseguia fazer um bypass a essas maçadas e me via directamente como deputada ou coisa do género. Imagino-me eu a ter que discutir com um Relvas desta vida? Mas nem pensar. Seria um atentado a mim própria. Só de olhar para a cara dele... aquele ar de comadre sabida, aquele sorrisinho matreiro de quem sabe os segredinhos todos (pudera, maçon, amigo de espiões). Não. Mas é que nem pensar.

Acredito que alguns dos que me estão a ler pensem, 'olhem-me para esta, pedante, elitista, a achar-se melhor que os outros'. Seja. Se calhar sou. Mas cada um junta-se ao grupo onde se sente melhor e eu, meus Caros, não me sentiria nada bem no meio desta troupe que por aí agora anda.

(Há excepções, claro que há. Há pessoas dignas, capazes. Claro que sim. Mas geralmente a essas não as vemos em lugares de destaque, vemo-las a um canto, ou em lugares decorativos, pouco aproveitadas para o valor que têm, torpedeadas pela tropa fandanga, tendencialmente marginalizadas pelo grupo em que se inserem. Mas sei que há excepções. Quando falo, falo em termos gerais, sabendo que é injusto para as dignas excepções)

A questão é esta: falando em termos gerais, estamos no ground zero da política.

E nas empresas, na economia real, como estamos? Na mesma.

Se quem forma equipa não é grande espingarda, só vai querer rodear-se de fisgas. As fisgas, por seu lado, só querem ver-se rodeadas de pedras e das pedras aos pedregulhos com olhos é um instante.


Reparemos que, ao contrário do que se possa pensar, poucos capitalistas de verdade existem no País.

Depois do 25 de Abril houve vários que quiseram recuperar as suas empresas (que tinham sido nacionalizadas) ou resolveram investir de raiz, ou formar novas empresas - mas ninguém, ou quase ninguém, tinha dinheiro, pelo que entraram em cena os outros grandes protagonistas nesta nossa história - os bancos.

Quem anda nestas vidas sabe bem o que se ensina nas faculdades - alavancagem, alavancagem, alavancagem. Qualquer Insead, qualquer Católica, qualquer Lisbon MBA, ensina que para se criar valor para o accionista o que se deve fazer é alavancar financeiramente através de crédito bancário e não arriscar capitais próprios. A própria política fiscal o incentiva.

Ou seja, com o crédito barato e os bancos com uma política comercial agressiva, as empresas endividaram-se até ao tutano. Reforçar o papel accionista? Financiamento bancário. Investir? Financiamento bancário. Garantias? As acções, por exemplo.

E agora? agora as acções valem népias e os bancos, sem dinheiro, aflitos, querem o dinheiro de volta. Claro que as empresas não o têm. Com o mercado como está, quem é que tem dinheiro? Accionam-se as garantias? Como? Não valem nada!

Ou seja, os bancos estão, agora eles também, aflitos. Como estão aflitos, também não têm para emprestar.

Mas nas empresas também ninguém viu que a trajectória era suicida?

Não. Nas empresas a gestão é, quantas vezes?, entregue a consultores, assessores, miudagem que sai das universidades, imberbe e inexperiente, para ir ditar regras nas empresas. A gestão transformada em power points.


Ou, se não é isso, está entregue a gabarolas, gente convencida que tem o rei na barriga, que recebe prémios milionários, que se entretém a mudar de logótipos, de estacionário, que vive do culto da imagem e pouco mais.

E a gente que pague estas fantasias

Claro que no meio empresarial, tal como na política, tal como em todo o lado, há excepções, claro que sim, honrosas execpções, gente de valor, que investe, que se preocupa com os colaboradores, que trabalha, que vai à luta. Mas são isso mesmo, honrosas excepções.

Na política, na economia, nas finanças, na cultura (Cultura? É que nem um Ministério da Cultura há... A dupla Relvas & Moedas deve ter achado que não se justifica), a indigência intelectual, moral, cívica campeia.

Teremos que sair disto mas não vejo bem como.


Os movimentos de indignação são, por ora, demasiado informes para que, deles, possa sair uma alternativa. Mas, talvez, neste grande movimento global de indignação se comece um dia destes a esboçar qualquer coisa.

Por agora, mantenhamo-nos atentos, exigentes, lutadores. Cientes de que pactuámos durante demasiado tempo com a medicridade, com a alarvidade, a boçalidade. Cientes de que já vimos a que é que isto conduz. Cientes de que só com gente inteligente, preparada, experiente, motivada, culta, se pode governar o que quer que seja.

Um fraco rei faz fraca a forte gente, é coisa sabida há séculos.

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Ou seja, pessoalmente ainda não sei como saímos desta mas, para já, uma coisa eu sei. Sou:



E isto talvez seja o princípio de um caminho.

domingo, outubro 16, 2011

Pedro Marques Lopes na TSF confessa-se aldrabado por Passos Coelho. Martim Avillez Figueiredo no Expresso diz que as medidas do OE 2012 são loucura e um disparate. Nicolau Santos sente uma raiva a nascer-lhe nos dentes. Eu limito-me a perguntar: quem é, na actualidade, o maior mentiroso? Ou o maior incompetente?

1. Hoje vinha no carro a ouvir Pedro Marques Lopes - na era socrática, grande atancante da política socialista, grande atacante da pretensa falta de verdade de Sócrates e grande defensor de Passos Coelho - agora, chocado, audivelmente revoltado, a confessar-se 'pessoalmente aldrabado por Passos Coelho' que, num curtíssimo espaço de tempo, fazia o oposto do que tinha prometido, desdezia-se a cada dia, prometia num dia o que fazia ao contrário no dia seguinte.


Nisto apenas me surpreende como é que uma pessoa com a capacidade de análise de Pedro Marques Lopes se deixou enganar por tão fraca figura. Passos Coelho é do mais leviano, mais influenciável, mais inconsistente, mais incoerente que tenho visto na política nacional.

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2. Palavras de Martim Avillez Figueiredo, anteriormente apoiante do PSD e de Passos Coelho, em particular, no artigo do Expresso a que chamou 'Loucura' e que diz na introdução que 'um velho filósofo ajuda a perceber como o discurso de Passos Coelho é um absurdo no país em que vivemos': 'Robert Nozick comparava os impostos a trabalo forçado, dizendo que eram uma forma de confiscar o que pertence aos trabaladores. O Governo foi mais longe: aumenta impostos e obriga a trabalhar de borla. Nozick, que morreu em 2002, diria com inteira razão: que enorme disparate'.

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3. Nicolau Santos, escreve num notável artigo do Expresso: 'Eu direi que V. Exa. faz o que disse que não faria, faz mais do que deveria e faz sempre contra os mesmos. (...) Milhares de pessoas serão lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o investimento vai evaporar-se e, dentro de dois anos, dir-nos-ão que não atingimos os resultados porque não aplicámos a receita na íntegra. Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes'
 
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4. A (in)consistência de Passos Coelho numa breve resenha:
 
 
a). [Artigo do Passos Coelho no Wall Street Journal em Março sobre PEC4]


'A nosso ver, o último pacote de austeridade não iria potenciar o crescimento mas impor sacrifícios inaceitáveis aos membros mais vulneráveis da sociedade.'


b). [Compilação aparentemente efectuada por Fernanda Câncio mas que pode já ser vista em numerosos locais a partir de afirmações da Conta de Twitter de Passos Coelho, entre 6 de Março de 2010 e 1 de Junho deste anoiniciada a 6 de Março de 2010.  O que ele dizia, pois, antes de estar no governo]

"Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução.”

“Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias.”

“O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando.”

“Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas.”

“Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português.”

“A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento.”

“A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos.”

“Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota”

“O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento.”

“Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”


[Relembro: o que acabaram de ler são afirmações de Passos Coelho]

Nota minha: Entretanto, o grande cavalo de batalha da campanha eleitoral e que serviu para fustigar o PS que era contra, a descida da TSU, já foi deixada cair (e bem! porque era o maior disparate de que haveria memória - mas foi durante meses a fio enunciada pelo PSD e por Passos Coelho como a panaceia para aumentar a produtividade). É isto a consistência do nosso primeiro-ministro.


c). [Afirmações de Pedro Passos Coelho, no encerramento do fórum de discussão "Mais Sociedade", no Centro de Congressos de Lisboa]

'Nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos: Não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro'


d). Em Março afirmava que o País tinha o compromisso dele em como não cortava salários nem aumentava impostos sobre rendimentos.



e) f) g) h)....... Poderia estar aqui o resto da noite a transcrever afirmações de passos Coelho em que dizia uma coisa e fazia o oposto no dia seguinte. Não sei se mente, se se esquece, se não tem tempo *, se não sabe o que diz, se não domina a língua portuguesa, não sei.


* Na 5ª feira, na conferência de imprensa, fez o anúncio formal das medidas do Orçamento 2012, em que deu um tiro no Bispo D. Manuel Martins (tal como ele referiu no dia seguinte) e em todos quantos o ouviram. No dia seguinte na Assembleia anunciou mais um agravamento para as empresas, dizendo que no dia anterior não tinha tido tempo. Não teve tempo?! Não teve tempo de quê?...... ......Nem consigo comentar uma afirmação tão imatura, tão disparatada.

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Passos Coelho teve o tempo que quis para se preparar quando estava na oposição, tece acesso a toda a informação, por via da análise feita pela Troika teve acesso a todos os números. Teve quem quis para lhe preparar o programa eleitoral e o programa de governo. Nada justifica os erros graves que vem cometendo a cada dia que passa, sem perceber que os disparates que faz conduzem a mais e mais disparates (arrastando, a uma velocidade vertiginosa, o país para o precipício)

Passos Coelho derrubou o governo Sócrates por causa do PEC 4 e, desde que tomou posse já lançou medidas, novas medidas avulsas lançadas de mês a mês, que deixam o PEC 4 lá bem para trás, mas muito para trás, em austeridade, penosidade social, desumanidade, maldade. Pior que isso, está a deixar o País à beira de uma situação sem retorno, destruindo a economia, desfazendo-se de empresas estratégicas, deixando-nos impiedosamente na pobreza e no desepero.




Duvido que chegue, duvido que sirva para alguma coisa, mas assim como assim, vamos lá, meus amigos, a acender muitas velas, muitas, muitas, muitas, muitas, muitas, muitas, muitas.



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sexta-feira, outubro 14, 2011

Orçamento 2012 - Passos Coelho anuncia que o Governo anda a cavar a ruína, a pobreza, o desemprego do País, anuncia que estamos perto de ser a nova Grécia


A.  A população vai empobrecer. O desemprego vai aumentar brutalmente. Os preços vão subir (com o IVA a aumentar), o consumo vai cair, as lojas vão fechar, o desemprego vai aumentar de novo. Com tudo isto, o consumo vai cair. Caindo o consumo, começa a prescindir-se disto, daquilo, do outro, e o desemprego vai aumentar. Os impostos vão diminuir porque os ordenados vão baixar, os impostos vão diminuir porque há menos gente a trabalhar, os impostos das empresas vão diminuir porque os prejuízos vão aumentar. O desequilíbrio das contas públicas vai aumentar porque a receita vai baixar porque há menos onde ir buscar impostos, porque há mais gente desempregada e mais subsídios de desemprego a pagar. E como as contas vão desquilibrar-se, a cada três meses, os impostos vão aumentar. Aos funcionários públicos e aos trabalhadores das empresas públicas já cortaram uma fatia do ordenado, daqui por um mês vão cortar meio subsídio de Natal, para o ano cortam o subsídio de natal e o de férias, e nós todos cada vez mais pobres, o desemprego a aumentar, as despesas médicas a aumentarem porque vai ser caro ir ao hospital, porque este governo só vai parar quando estivermos quase desempregados, humilhados, pobres, sem presente, sem futuro.

B.  Enquanto isso, os lucros obtidos através das especulações bolsistas escapam a esta voragem espoliadora; as empresas instaladas em offshores, não pagam impostos e escapam ilesas.

C.  E as nossas empresas como estão? Aflitas. Os mercados encolhem, os clientes não compram, não pagam. Os bancos querem que as empresas paguem os empréstimos (e as empresas estão atulhadas em dívida porque esse era o modelo seguido, com a banca a empurrar crédito, a oferecer linhas e linhas de crédito barato) e as empresas agora não têm como pagar, as empresas precisam de apoio bancário para fazerem face a estes apertos de tesouraria e os bancos não emprestam, não têm para emprestar. E os ordenados em atraso começam a acontecer. Mesmo os que estão empregados, começam a andar com a corda na garganta. E o consumo a cair, e as empresas sem terem a quem vender os seus produtos.

Se alguma empresa quiser investir (mas quem é que quer?), não tem capital próprio para isso e os bancos também não têm para emprestar.

D.  E obras públicas que compensem esta desgraça, este deserto? Zero. Tudo parado.


E.  Desde que este Governo tomou posse, que é que aconteceu para que sucessivamente nos caiam em cima novas medidas gravosas e desumanas como estas?

O que aconteceu foi o buraco da Madeira, sim, mas é, sobretudo, o buraco da recessão a acentuar-se. É a voragem recessiva, o ciclo vicioso de que já aqui várias vezes falei. O buraco negro que nos engole.

É isto que está a acontecer na Grécia. Quanto mais sacrifícios, quanto mais desemprego, quanto mais dor, quanto mais sofrimento, mais a crise se adensa.

F.  O drama disto tudo é que anos e anos e anos de uma trajectória errada (e começou com Cavaco Silva que, como primeiro ministro, incentivou o fecho de indústria, o abandono de campos agrícolas e a destruição da frota pesqueira) que foi seguida por todos os governos desde a adesão à ex CEE, conduziram ao estado em que estamos. Pouco produzimos, importamos quase tudo, exportamos pouco, o tecido empresarial é diminuto. Estamos manietados, sem dinheiro, e a ser conduzidos por um bando maioritariamente formado por gente inexperiente, impreparada, que nunca geriu coisa nenhuma, que não tem cultura histórica, que apenas sabe o que vem nos livros (o Álvaro ou a jovem Cristas, por exemplo), as teorias (Vitor Gaspar, por exemplo), a baixa política (Miguel Relvas, por exemplo). E o CDS o que faz no meio disto? O que diz? É que isto é o oposto do que Paulo Portas sempre defendeu e sempre o tive por quem defendia as suas convicções. Estará ele confortável com o rumo que está a ser seguido?

G.  Outra coisa. De cada vez que uma empresa nacional é comprada por um Grupo estrangeiro o que se segue é que a gestão nacional é esvaziada. Os escritórios passam para o país de origem do dito grupo, o desemprego nacional aumenta, as compras são feitas no exterior aos fornecedores do grupo. A autonomia nacional é reduzida, o desemprego aumenta, as importações aumentam. Sei do que falo.

Privatizar as nossas empresas que, para além de estratégicas são rentáveis, é um erro estratégico, é uma perda gravíssima da autonomia nacional, é uma perda de riqueza, é uma estupidez, é um disparate irreversível. Até me dói falar nisto. Como é possível pensar que vão passar a patacos as Águas dePortugal, os CTT, como? Ninguém trava esta gente?!


H.  Entretanto, por toda a Europa o cenário é de acelerado definhamento. Até a Alemanha, o motor do desenvolvimento europeu, está a aterrar perigosamente. A Itália já num sufoco. A Espanha com um desemprego que já passa os 21%. É uma trajectória, toda ela, desastrosa.

Angela Merkel e Sarkozy brincam aos casalinhos perante a passividade amedrontada dos restantes. Durão Barroso de vez em quando arreganha o dente, ladra, ladra, mas depois recolhe à casota e nada acontece.

I.  A banca em geral está descapitalizada, cheia de lixo, as garantias eram acções que valem coisa nenhuma e a Europa não consegue arranjar uma solução. Estudam, marcam reuniões, marcam novas reuniões, e nada acontece.

J.  E a solução só pode passar por uma forte aceleração da economia - exactamente o contrário do que nos está a ser imposto.


L.  Por cá, onde é que já vai o Programa da Troika? Passos Coelho e Vitor Gaspar querem fazer mais do que a troika definiu. A Troika resolve cortar 10, eles cortam 100. Querem ser o aluno marrão, o que faz os trabalhinhos todos e ainda mais do que os que nmandam e não percebem, oh valha-me Deus que eles não percebem mesmo, que estão a arrasar o País.

Hoje Santana Lopes, eterna fénix renascida,  com insaciável sede de protagonismo, apareceu a dizer que nunca, nos tempos mais recentes, a lusa nação passou por semelhante ultraje, que isto da troika é de um estranho opacismo e que isto é a rendição do país, que é inaceitável - e tem razão. Ouvi também Jorge Miranda, o constitucionalista, falar da falta de enquadramento constitucional para esta situação em que vivemos, em que um orgão ad.hoc dita mandamentos e vigia o seu cumprimento, sem que sequer os ditos mandamentos tenham sido aprovados na Assembleia da República, que isto viola o direito nacional e o europeu. Mas a gente já nem reage a isto. Já perdemos a soberania, já deixamos que um grupo de técnicos dite o modus vivendi do país e não reagimos, parece que estamos hipnotizados, já aceitamos tudo, aceitamos quase acefalamente.

K.  E depois, estupidamente, Passos Coelho e companhia vêm divulgar que se estão a preparar para enfrentar tumultos. Quase como se estivessem a desafiar as pessoas a irem para a rua armar confusão. O que é que esta gente afinal quer? Lutas fraticidas nas ruas? Valha-me Deus. Nunca se viu tamanho amadorismo, tamanha incapacidade para lidar com situações destas. Tudo o que fazem só serve para agravar tudo ainda mais.


I.  Acho que temos que começar a manifestar a nossa indignação antes que caiamos na desgraça grega. Acho que temos que nos fazer ouvir antes que seja tarde demais. Não podemos chegar ao ponto em que aquela pobre gente está, andando pelas ruas, sem trabalho, sem esperança, desesperada.

Hoje não consigo adiantar mais nada. Estou demasiado revoltada e preocupada. Não foi isto que eu quis para os meus filhos, para os filhos dos meus filhos, não foi este o futuro para o qual eu já tanto trabalhei e que agora vejo que está a ser esventrado.



PS: Para quem não me conheça, para quem nunca aqui tenha lido o que escrevo: não, não sou uma esquerdista, não, para a AR nunca votei no Bloco de Esquerda nem no PCP, nem no MRPP, nada disso. Nada do que escrevo tem a ver com costelas revolucionárias do tempo da adolescência (que nunca as tive), nada disso. Tudo o que escrevo agora e escrevi antes resulta da minha análise dos factos, dos meus conhecimentos da matéria, das minhas profundas convicções humanistas e democráticas.

quinta-feira, outubro 13, 2011

MÚSICA NO GINJAL: Benny Goodman Orchestra em One o'Clock Jump

Oh meus amigos, que maus tempos se avizinham, parece que cada vez piores, sem vermos fim ao vista. Quero animar-se mas agora estou um bocado abalada, talvez daqui a pouco me anime. Valha-nos a alegria bem disposta, a coreografia da orquestra de Benny Goodman, vala-nos o jazz.


Vamos espairecer ali para a beira do rio, venha até ao meu 'clube' onde a música é sempre boa.

Começamos com Ruy Belo e, logo a seguir, sente-se - mas prepare-se para se ir levantando conforme o maestro vá apontando. Eles já lá estão à nossa espera e hoje é especial, hoje despedimo-nos do jazz. Vamos?

Durão Barroso e Cavaco Silva, os novos Dupond e Dupond: ei-los que, à uma, resolvem desancar no par de jarras Merkel e Sarkozy. (E a minha opinião sobre as tretas da TSU e da lei laboral. E o que eu sei sobre empresas. READ MY LIPS)




O José Manuel Barroso, uma vez mais, saíu das profundezas. O cherne está a vir à superfície, voz inflamada, revolucionário, sem medo. Grande intervenção de novo. Deu forte e feio na Angela e no Nicolas, o glorioso par de jarras que resolveu fazer de conta que manda na Europa: para quê andar a inventar novos orgãos de governação quando já há os necessários? Vamos mas é lá a fazer o trabalho de casa, vamos mas é lá ver se nos entendemos.

O senhor Comissário europeu, o Grande Revolucionário Durão Barroso, Dupond 1


Andou lá pelas funduras, caladão, sem ninguém dar por ele. Víamos a Angela e o Nicolas, beijinhos e abraços, a porem e disporem, e ele nada. Felizmente, parece que acordou. Agora que o vento sopra forte e o desastre está iminiente, eis que, finalmente, dá o ar de sua graça e põe a boca no trombone. Confirma-se, então: old MRPP is back. Temos homem! Temos Durão!




Mas eis que do outro lado, onde os ventos também sopram desabridos, lhe responde o mano Dupond 2, o novo revolucionário Aníbal. Eis que de Itália nos chegam notícias de Cavaco desancando no casal maravilha, o dito par de jarras, a que chama um auto nomeado directório franco-germânico, negando-lhes autoridade para o teatro que andam a encenar, apelando às políticas de relançamento de economia e o escambau.


Depois de ter pintado a manta com o Sócrates, ou melhor, depois de ter tirado o tapete ao Sócrates (que a crise internacional não era desculpa, que não se podiam pedir mais sacrifícios, que era bom que a malta toda viesse para a rua indignar-se e etc e tal) eis que, num passe de mágica, vira o bico ao prego e agora é a economia internacional, é a política europeia, é isto e mais aquilo. O dito por não dito - coisa, aliás, pouco inédita no personagem.

Mas, enfim, hoje estou boazinha, por agora vou relevar. (Relevo mas não esqueço... Porque é pena que tenha sido tão desleal para o anterior primeiro ministro, pena que adapte a conversa às circunstâncias, pena que eu olhe para ele e, por tantas que tem feito, já tenha muita dificuldade em fiar-me )


Adiante. Ontem, o espírito de Florença desceu por ele abaixo e pudemos ver Cavaco a apontar os erros, a apontar o caminho certo, a apontar o dedo aos desmandos e aos dois prentensiosos, a definir o primado da economia sobre o das finanças (ou em paralelo com as finanças) como o único caminho para que o remédio para a crise não se torne socialmenete insuportável. Reconheço que falou muito bem. Falou grosso, falou bem.

Vamos mas é lá a ver se alguém o ouve.

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George Soros, António Vitorino e outros influentes também andam a dardejar (vidé carta apelo que lançaram), e pode ser que se comece a criar uma onda de fundo que não deixe o cherne voltar à fundura, que arraste o par de jarras para onde não empatem, que esta gente toda caia na real, que se portem como gente civilizada e evoluída, que regulamentem os mercados, que acordem da dormência em que caíram, que se virem para as pessoas - e que isto se concerte.

Gosta da ribalta este casalinho que está a brincar aos governantes
e que acha que manda em nós todos

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O que é imperioso é que se relance a economia. Com uma economia forte poderão fazer-se ajustamentos financeiros, cortar 'gorduras', reestruturar e tudo isso que tem que ser feito. Agora se invertemos a ordem dos factores, como tem estado a ser feito, para poupar na ração da mula, que é cara, vai-se reduzindo, reduzindo, cada vez poupando mais na ração. Até que um dia a mula morre. Oh... que pouca sorte.... agora que estavamos a poupar tanto, é que a sacana da mula foi morrer. E agora? Quem é que nos leva? Quem é que carrega com as coisas? E agora? Raios partam a mula que se lembrou de morrer, filha da mãe.

Pois, a primeira a cair de fome e sede foi a mula do inglês, depois foram os gregos, a seguir seremos nós.

Não pode ser.

É essencial criar riqueza.

Olhemos para nós. Fui ao Ikea comprar uma coisa - quase tudo importado. Vou a um centro comercial - quase tudo importado. Não pode ser.

Temos que voltar a fazer coisas: fazer talheres, fazer tachos, fazer pratos, fazer atoalhados, fazer mobílias, fazer navios, fazer máquinas, fazer fábricas, cultivar, pescar, criar peixes, investigar, fazer malas, sapatos, fazer filmes, fazer livros, fazer, fazer, fazer para não importar, fazer para exportar. Produzir.

Esquecer as chachadas das consultorias da treta e back to basis.

As palavras de ordem deveriam ser: trabalhar, produzir, arranjar clientes, mercados. Evitar burocracias, olhar para os custos, incrementar as margens. Ser inovador, ser arrojado.

Nota: Já agora, outra vez e please read my lips:

  • Reduzir a TSU é muito errado (compromete seriamente o futuro das nossas reformas) e não acrescenta competividade que se veja às empresas. Não é por aí!  
  • Mexer na lei laboral é treta. A actual serve e mais que serve para as necessidades, não é impecilho para coisa nenhuma. Senhores governantes deixem-se de perder tempo com fantasias.

O que é necessário é competência na gestão das empresas! Comprar bem, vender bem, produzir bem, apostar na motivação dos colaboradores. Gerir bem são as palavras que interessam - palavras de quem trabalha em empresas desde o século passado e que conhece os mercados nacional e estrangeiro. Acreditem em mim, sei do que falo.

Se a economia animar, se for criado emprego, se aumentarem as exportações e se reduzirem as importações, as coisas equilibram-se. E pode, então, cortar-se na despesa do estado, reconduzir emprego do Estado para a economia. Evitaremos a recessão e equilibraremos as contas.

Ouçam a Lagarde, oução a Dilma. Por favor. Estamos na rota errada, vamos estampar-nos. Temos que ir noutro sentido. E não apenas nós - a Europa toda. Temos que ter futuro. Não podemos empobrecer à toa, não podemos dar cabo do nosso futuro, não podemos destroçar as hipóteses de futuro dos nossos filhos. Não podemos arruinar o nosso país. Não podemos!



Temos que descobrir dentro de nós a força, a motivação, a esperança, a persistência para redesenhar o futuro, para o fazer renascer mesmo onde pareça já quase impossível descobri-lo.

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[E agora que já me ouviu clamar alto e bom som, vamos acalmar os ânimos. Desçamos pois até ao post abaixo.]