sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


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Desejo-vos um bom sábado

3 comentários:

Ccastanho disse...

Também sinto saudades de me meter no carro e disparar estrada fora sem rumo, sem hotel marcado, sem tempo a cumprir, desfrutar do que me atraía sem pressas, estando ao sabor do prazer de conhecer e desfrutar do desconhecido tanto no país ou fora dele. Sem dúvida que a idade modifica a gente. Hoje já não arriscava viajar sem planear a rota e hotel no poiso final da jornada diária.
Dantes dava mais gozo viajar na imprevisibilidade do desconhecido.
Saudades desses tempos, e como era gostoso passados dez ou quinze dias a ouvir língua estrangeira , e na proximidade da fronteira portuguesa, começar a
ouvir o português...era um alívio.



Ccastanho disse...

https://youtu.be/psXtaZ5cBLo?feature=shared

Ccastanho disse...

https://youtu.be/K0KOAgDlmk4?feature=shared