Acabei o livro do outro dia. O Lobo das Estepes. Sem surpresa assisti à reaprendizagem, à descoberta, ao delírio, ao efeito de estilhaço que o calor tem sobre o gelo. Os lobos transportam o mistério das noites, os enigmas da loucura, as indiziveis falhas que se abrem nas ruas escusas. Quando levados para a luz do dia, podem, num primeiro momento, parecer dóceis cães dispostos a todas as aprendizagens mas logo, logo, um uivo se soltará do seu coração e o apelo do negrume lhes toldará a visão.
Tenho agora aqui à minha volta alguns outros. Hesito.
O calor arrasta-me para a indolência mas o cansaço traz-me impaciência. Parece que só a escrita muito rara me prende a atenção. Falem-me da sensação de passar devagar a mão pela madeira para sentir o seu veio, falem-me de sonhos ou de memórias, falem-me com o coração nas mãos e elegância nos gestos, falem-me com a simplicidade das pessoas boas e aí talvez eu me deixe ficar, feliz, a ler, sossegada, com vontade de mais. Ou poemas com palavras normais, despidos de afectação. Tragam-me poemas que me soem como subtis melodias, toadas que me lembrem os mares do sul ou os gritos das gaivotas, abraços tristes ou sombras desenhadas, paisagens desconhecidas, lamentos, cantares de amor. Poemas assim eu quero.
O calor arrasta-me para a indolência mas o cansaço traz-me impaciência. Parece que só a escrita muito rara me prende a atenção. Falem-me da sensação de passar devagar a mão pela madeira para sentir o seu veio, falem-me de sonhos ou de memórias, falem-me com o coração nas mãos e elegância nos gestos, falem-me com a simplicidade das pessoas boas e aí talvez eu me deixe ficar, feliz, a ler, sossegada, com vontade de mais. Ou poemas com palavras normais, despidos de afectação. Tragam-me poemas que me soem como subtis melodias, toadas que me lembrem os mares do sul ou os gritos das gaivotas, abraços tristes ou sombras desenhadas, paisagens desconhecidas, lamentos, cantares de amor. Poemas assim eu quero.
Da actualidade nacional agora dei em fugir. Causa-me uma insuportável náusea tudo o que vem da gente do anterior governo -- o Passos Coelho, o Moedas, o ex-doutor Relvas, todos esses. Causa-me, por exemplo, uma grande náusea o que aquela mulherzinha diz (refiro-me à maria luís albuquerque, tudo escrito com letra pequena), sempre pouco séria, pouco digna, sempre sem um pingo de vergonha. Causa-me também um desconforto muito grande a história daquele Diogo Gaspar que era director do Museu da Presidência, que foi condecorado duas vezes e de quem se suspeitam coisas terríveis. Leio essas notícias e fico agastada, tenho vontade de me manter higienicamente ao largo.
Depois as notícias de Bruxelas, aquilo do défice, as ameaças feitas por senhorzecos. Dá vontade de os mandar dar banho ao cão, pentear macacos. Quem é essa gente para se dar ares desta abusadora maneira, senhores?
E aquele rafeiro do Schäuble, sempre a ladrar? Não há pachorra. Só com desprezo. Não acho que se lhe deva dar palco. Gente assim deve ser ignorada, mancha os dias, mancha o nosso sossego.
E aquele rafeiro do Schäuble, sempre a ladrar? Não há pachorra. Só com desprezo. Não acho que se lhe deva dar palco. Gente assim deve ser ignorada, mancha os dias, mancha o nosso sossego.
Não tenho paciência, francamente não tenho.
Por isso fotografo flores, veleiros, gatos, leio romances ou poesia, faço testes de personalidade que de científico pouco ou nada têm mas que me descansam o espírito, escrevo sobre devaneios, invento histórias, passeio pela beira do rio, pela rebentação das ondas, ouço música. Por vezes recebo mails em que me pedem para falar sobre isto ou aquilo, política, crises bancárias, coisas assim. Gostaria de conseguir mas não consigo.
Enquanto este calor ou esta canseira não me passarem, devo continuar neste registo. Nada a fazer. Na volta já entrei foi na silly season.
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A primeira fotografia mostra veleiros no Tejo vistos através de umas espigas e as duas últimas mostram a praia, maravilhosa, nestes dias de calor.
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E, portanto, a quem entrou agora, aconselho que se deixe deslizar até ao post seguinte onde há mais um teste de personalidade, este com base científica e à base de cores. Como habitualmente, a bem da total transparência, revelo o resultado do meu teste.
E há ainda texto novo no meu Ginjal. Ide que é coisa cada vez mais rara.
2 comentários:
A propósito destas tais inutilidades políticas que aqui menciona, eu chamar-lhes-ia obscenidades, como o cabotino sentado do Schaulber, a M.L.Albuquerque, o Barroso, Passos, etc e outro lixo do mesmo género, vale a pena ver e ouvir a extraordinária conversa entre Noam Chomsky e Yanis Varoufakis sobre o que o que está a passar na Europa, nesta EU degradada de valores e solidariedade. Está no You Tube, mas o Blogue Aventar passa um belo trecho resumido sobre o mesmo.
(Quanto aos que alimentam a ridícula esperança de um novo referendo sobre o Brexit, hoje mesmo um sondagem reiterava o voto para a saída do RU da UE).
Que belo Domingo se pôs, sem vento, só piorando para o fim da tarde!
Dizem-me uns amigos que apesar do calor valia a pena uma ida este fim-de-semana até Castelo Branco para a 5ª Bienal do Azeite. Bom, fica para a próxima. Uma cidade que está muito bonita e bem cuidada.
P-Rufino
Acho muito bem, não fale que não merecem palavra ou pensamento. Mas o Andreas Scholl...esse sim, que o pode postar vezes sem conta que nunca o bom que há nele se acaba.
E depois fotografou aquelas flores azuis que parecem cardos e encontro no meu caminho para a praia. E nem precisava tanto, que o Andreas já a mim bastaria:)
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