quinta-feira, agosto 31, 2023

De penalti ou devagarinho?
[E, sobre os potenciais candidatos a Presidente da República, nada]

 

Sabe-me muito bem estar de férias sabendo que não vão acabar. Os meus colegas acreditavam que ia custar-me muito deixar de trabalhar. Diziam que não conseguiam ver-me 'aposentada', que isso era coisa que não encaixava na minha maneira de ser.

Pelo contrário, sempre me vi muito bem sem ter que aturar aquela pressão diária, sem ter reuniões, deslocações, visitas, apresentações, problemas para resolver, sem ter que andar a toque de caixa, com a agenda saturada, com telefonemas em contínuo, com mails a chover em permanência.

É muito bom ter pela frente uma página em branco e poder preenchê-la com o que me apetecer. Trabalhei ininterruptamente desde os vinte acabados de fazer até há poucos meses. Interrompi apenas quando tive os meus filhos, tendo trabalhado até às vésperas dos partos, e quando fiz a artroscopia aos joelhos e não podia andar. De resto, nunca estive de baixa. Férias, desde há muito que não conseguia gozá-las todas. Trabalhei de gosto, com empenho, com energia, com tudo o que tinha. Dei-me por inteiro e de livre vontade. Mas fi-lo sabendo que, quando chegasse a hora, fecharia a porta e fechada ficaria.

Animava-me a vontade de começar uma vida nova. O meu dia a dia continua a ser de trabalho e faço-o com a mesma vontade e energia, motivação e crença, com que, quando trabalhava, me entregava a novos projectos. 

Estive a ouvir, com muito interesse, a entrevista na RTP 3 a João Luís Barreto Guimarães. Quando ouço pessoas assim, que sabem usar a palavra para construir poesia ou prosa, fico sempre um pouco espantada. Passado bastante tempo sabem o que escreveram, sabem porque usaram uma ou outra palavra, dizem que releram, refizeram, recompuseram. São aplicados, estudiosos da sua obra, têm explicação para o que fizeram. Quase todos são assim. E são bem sucedidos.

Se calhar, por ser o oposto, nunca serei bem sucedida.

Ao ler a biografia de Nelson Rodrigues, fantástico livro de Ruy Castro, leio que ele escreveu uma das suas peças mais conhecidas, elogiadas e bem sucedidas em poucos dias. Sentava-se a escrever e era de rajada. Sem revisão. De penalti.

E partia para outra.

Senti-me um pouco animada pois eu a escrever sou assim. Escrevo de seguida, muito rapidamente. Por acaso, depois, no fim, revejo e revejo umas três ou quatro ou cinco vezes, mas é na lógica das gralhas ou do acerto da pontuação. E, uma vez escrito, está feito, não leio mais. É assunto arrumado.

Não sou de escrever poesia. Não é o meu registo. No entanto, há para aí uns dois meses, deu-me para isso. Escrevi. De seguida. Não sei a que ritmo. Não sei se foi um ou dois poemas por dia ou mais. Uma coisa muito estranha. Não sei explicar.

Agora, ou ouvir o João Luís Barreto Guimarães falar da sua poesia e de como lima, apara, cose, tritura, borda, penteia, escova, corta e etc., os seus poemas, resolvi abrir o ficheiro com esses meus poemas. É que fiquei curiosa. Iria encontrar erros, falhas, aberrações? Li três poemas e não consegui ler mais. É como se me atingissem em cheio. Senti-me comovida, quase como se me atirassem contra uma parede, quase sem espaço para respirar. Não sei porquê. Para já é como se não tivesse sido eu a escrever. Já não me lembrava mas, lendo, relembrei-me. As palavras são minhas, sim, recordo tê-las escrito. Mas é como se não tivesse sido exactamente eu a escrever. Se alguém que saiba ler poesia os lesse talvez eu ficasse com vontade de chorar. 

É muito estranho, bem sei.

Claro que, face a esta minha reacção, não me ocorreu reparar se estavam harmoniosos, limpos, devidamente aperaltados para verem a luz do dia. Fechei o ficheiro e não li mais. 

Escrevo estas coisas com absoluta franqueza e temo que me achem um pouco louca. Se calhar sou. Se calhar não um pouco... mas completamente. Mas sou eu e eu sou assim. 

E, por hoje, é isto. Não vou comentar sobre os putativos candidatos a PR que por aí andam a bandear-se contra um cenário pintado de cor de laranja. Não me assiste. Deu-lhes a coisa antes de tempo. Além disso, nenhum faz o meu género. Portanto, passo.

Espero é que se pense no que importa e não em tretas que só servem para encher as agendas mediáticas.

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Desejo-vos um dia feliz

Saúde. Boa sorte. Paz.

quarta-feira, agosto 30, 2023

Um heaven quase civilizado, uma caldeirada de cabeça de safio e, como quem não quer a coisa, conversa/conselhos de escritores

 

Nunca antes tínhamos procedido a tamanha devastação. Décadas a lutar contra isto. Dei o peito às balas por cada pé de alecrim, de rosmaninho, de orégãos. E agora cedi.

Os caminhos quase tinham desaparecido sob a espessa camada de caruma e folhagem seca que já tinha fixado terra. Os arbustos, com esta seca, estavam ressequidos, quase sem vida. E, embora o meu marido já tivesse subido muitas copas, com as árvores a desenvolverem-se, já se tornavam baixas e compactas demais.

Acresce que este homem que ele desencantou e que vem com mais dois é gente que vive de limpar terrenos. Têm máquinas e experiência. E zero contemplações perante as minhas fantasias. Avançam a direito, deixando atrás de si uma camada de resíduos triturados, que mal se notam.

E depois, como já referi, ao ver, não desgostei de todo. 

Este lugar é agora outra coisa. Nunca tinha visto a terra assim. Antes era só mato rasteiro e pedras. Depois árvores pequenas. Depois árvores maiorzinhas e os arbustos autóctones a desenvolverem-se. Agora, depois desta operação (ainda em curso), é diferente: árvores grandes e quase zero arbustos. Vão rebentar com força na Primavera, asseguram-me. Espero bem que sim.

Hoje um pinheiro que estava seco já foi abaixo. Amanhã deve ir um gigante e dois cedros mortos. Uma tristeza. Mas tão ou mais triste é ver as árvores mortas e de pé.

E vários pinheiros já têm a copa lá em cima. E vários caminhos reapareceram.

A entrada da gruta foi limpa. Parece maior.

Já não ando, aflita, atrás deles. Coração ao largo.

Enquanto este trabalho decorria no exterior, trabalhei de sol a sol, na minha labuta. Hoje o meu marido sugeriu-me uma outra colectânea. Nunca nisso tinha pensado e é capaz de ser boa ideia.

Hoje para o almoço fiz uma caldeirada que ficou muito saborosa. Não deveria chamar-se caldeirada pois só tinha um peixe mas, como fiz da mesma maneira, chamo-a assim à mesma. Andava a apetecer-me caldeirada mas, no outro dia, só conseguimos ir ao supermercado por volta das oito da noite. Por isso, já apanhámos pouca coisa a nível de peixe. Tinham peixe para caldeirada mas não gostei, pareceu-me uma indigência, umas postazinhas com aspecto vintage, mal encaradas. Mas tinham lá cabeça de safio. Trouxe duas e pedi para as abrirem ao meio. O sabor do safio é muito bom e a cabeça tem as espinhas próprias das cabeças de peixe mas não misturadas como é o caso das postas do rabo. Ou seja, para quem goste de dissecar cabeças de peixe (como é o meu caso), é muito bom.

Fiz assim:

Num tacho largo coloquei cebolas grandes em rodelas grossas. Depois tomate maduro aos bocados, uma boa camada dele. Depois bocados de pimento e um bom ramo de salsa aos bocados. Por cima, batatas às rodelas grossas. Por cima as quatro metades das cabeças de safio. Por cima um pouco de sal. Depois mais uma camada de tomate aos bocados, outra cebola gigante às rodelas, o resto da salsa, um pouco mais de pimento. Depois uns dentes de alho, umas folhas de louro e um pouco de alecrim. Reguei com azeite. 

Foi ao lume, no máximo, com o tacho tapado. Quando ferveu, coloquei no mínimo e deixei cozinhar, sempre tapado, até que as batatas ficaram macias.

Ficou bem saboroso. E deu para o almoço e para o jantar. 

O meu marido torrou umas fatias de pão e pusemo-las no fundo do prato.

Sobrou caldo e com ele poderia ter feito uma massinha. Não fiz porque me deu preguiça.

Entretanto, ao espreitar o youtube, alguns vídeos que vi de gosto. Interessantes. Não sei se para vocês também terá interesse mas, se encarar que isto aqui é também, de algum modo, uma espécie de diário, vou aqui colocá-los.

Salman Rushdie: The One Thing You Can't Teach about Writing

"Every exceptional writer has some very personal relationship with the English language." Salman Rushdie talks to Charlie Rose about what can -- and can't -- be taught about writing.


Salman Rushdie on Writing as a Process of Discovery

University Distinguished Professor Salman Rushdie participated in a class discussion of "The Moor's Last Sigh" led by Associate Professor of English Deepika Bahri with undergraduate students at Emory University on March 7, 2012. Here he discusses writing as partly a process of learning about the characters and allowing the book to shift and take on a life of its own.

Advice for aspiring writers | Ian McEwan

Ian McEwan gives three pieces of advice for developing writers


Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Alegria. Paz.

terça-feira, agosto 29, 2023

Rubiales: os seus genitais e o beijo a Hermoso (consentido ou sem sentido)
- Assédio ou não assédio, eis a questão -
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Continuo entregue a tarefas comezinhas tais como fazer máquinas de roupa, estendê-la ao sol e ao vento, apanhar brinquedo aqui, coisa acolá. E também a tentar organizar minimamente os meus escritos e isto é, para mim, o pior. Gosto de criar e detesto 'manter' (catalogar, etc).

Dentro do possível, o dia foi, pois, tranquilo. Tenho sempre muito que fazer e quando é criar a partir do nada é um empolgamento; quando é inventariar e arrumar é uma missão que executo com algum sacrifício. De qualquer forma, sou geneticamente esforçada e, por isso, se meto na cabeça fazer uma coisa, eu faço, goste ou não goste. E, além disso, ocupa-me enquanto a minha mente não se ilumina para me guiar no caminho certo.

Com estas ocupações, não sei como, o meu dia esteve sempre preenchido. 

Felizmente dormi como uma santa. Dormia mais. Acordei porque fui acordada e também já não eram horas para voltar a cair no sono. A seguir ao almoço e depois de mais uma leva de roupa estendida, deu-me uma pancada de sono mas se caí no limbo da sonolência por uns dez minutos foi muito.

Ainda aqui não disse nada sobre o beijo do Rubiales na jogadora Jeni Hermoso e não disse pois tenho alguns mixed feelings

Ao ver o beijo, não me senti chocada. Pareceu-me não apenas haver euforia da parte dele como uma grande cumplicidade entre ambos. Que pessoas que se dão muito bem (como ela, depois, disse que davam), num explosivo momento de alegria exuberante e de consagração daquilo que muito desejavam, se beijem momentaneamente na boca não me choca. O vídeo completo mostra um apertado abraço, ele com os pés no ar, ela também exuberante, naturalmente bastante feliz da vida.

Coisa diferente seria se eu tivesse percebido surpresa ou desagrado da parte dela ou se, a seguir, em vez de tê-la ouvido desculpá-lo, tivesse ouvido que não tinha percebido, aceitado ou desculpado aquele beijo. Mas não. Não apenas me pareceu, num momento de grande euforia, o corolário de uma amizade e cumplicidade anterior como, no momento, não a vi minimamente incomodada ou surpreendida com o que se tinha passado.

Já me chocou, confesso, uma imagem que mostraram em que ele, no palco, está na maior explosão de alegria, aos saltos, aos gritos, de braços no ar e, às tantas,  tanta a adrenalina, agarra os próprios genitais. Parece coisa de excesso de testosterona, de pico orgástico -- mas, convenhamos, bastante despropositado em público. Aí diria que me parece inaceitável que uma pessoa com a responsabilidade dele tenha uma tão inusitada falta de maneiras. Mas este é um segundo tema e, que eu saiba, não é o que tem estado em causa.

Isto do assédio e do consentimento tem que se lhe diga e tem que ser avaliado por quem tenha os pés no chão, os neurónios a funcionar e um módico de bom senso.

Claro que se houver casos em que comprovadamente ele molestou, moral ou sexualmente, jogadoras ou outras mulheres, ou se fez depender o trabalho delas de cederem aos seus apetites ou caprichos, se foi inconveniente e desagradável causando-lhes incómodo ou pressão, aí as coisas, em minha opinião, mudam de figura.

Agora se foi só aquilo do beijo penso que antes de o crucificarem, queimarem vivo e apedrejarem, deveriam voltar a ouvir a jogadora. Se ela mantiver que são amigos, cúmplices de sonho e ambição, se têm grande confiança e à vontade e que não há nada a dizer sobre o beijo, então, o beijo não me parece caso para o que está a acontecer. 

Num caso destes não se põe a questão do consentimento pois não se proporciona parar e pedir: 'Posso dar um beijo?'. É um pico de euforia e ou bem que ambos têm cumplicidade para que isso aconteça ou não. 

Quanto à forma como publicamente agarrou os fogosos genitais parece-me, essa sim, muito incomodativa. Não sei se é caso para o sacrificarem publicamente ou se é caso de lesa-majestade mas acho que é, isso sim, caso para severa admoestação.

Quanto a ele, independentemente de tudo, ao ver o sururu que estava a ser criado, e ao ver-se a agarrar os genitais, o que penso que teria sido inteligente teria sido demitir-se. Simplesmente. Pedir desculpa se, com a sua exuberância emocional, tinha incomodado alguém e demitir-se. Tinha evitado muito exagero, muito moralismo, muita falta de bom senso. Tinha evitado ser esmagado, devorado, desonrosamente derretido  na praça pública.

PS - Volto a dizer: digo isto apenas pelo que vi pois não o conheço nem faço ideia de como se comporta social, profissional ou sexualmente.

segunda-feira, agosto 28, 2023

Um domingo muito feliz
[E uma casa muito bonita e muito funcional, com belos objectos, e uns designers que transformam refugos em peças interessantes]

 

Se no sábado a casa estava meio cheia, este domingo chegou a metade restante. E, quando as duas metades se reúnem, a alegria imediatamente redobra. Aliás, qualquer deles fica numa impaciência enquanto os demais não chegam, como se estivessem num involuntário e infindável stand by.

E, portanto, mal se reuniram foi a festa do costume. 

Quando algumas pessoas se arreliam com o barulho que as crianças fazem e o atribuem a falta de educação penso que é porque não estão habituadas a verem, por dentro, a explosão de energia, de entusiasmo, a irreprimível vontade de falar, de rir, de brincar que acontece quando miúdos que se adoram estão juntos. Pode tentar-se que falem baixo e controlem a adrenalina e a alegria mas é escusado pois basta que um pregue uma partida para o outro reagir, para um outro ir ver o que se passa e tomar partido, para logo se envolverem em bulhas amigáveis ou risotas, retaliações, exclamações alto e bom som. E é isto em contínuo. 

Abrandam enquanto comem pois, felizmente, têm um apetite voraz e, quando se sentam, servem-se e focam-se na refeição. Abrandam também ao fim do dia quando lhes dá o sono. Tirando isso, é uma festa. 

Pode parecer ruído para quem está de fora. Mas, na realidade, é uma alegria e uma celebração do afecto e da partilha quando vistos por quem está por dentro.

Entretanto, eu andava à volta dos tachos desde que me tinha levantado, debatendo-me com a sua dimensão tentando ter a garantia de que, apesar de grandes, a confecção se opera a contento, quer nos sabores quer no tempo disponível.

Dia grande e feliz, pois.

É uma grande alegria vê-los juntos, todos sentindo que a casa e o lugar lhes pertence e que até parece que está impresso nos seus genes. Mesmo o mais novo está sempre a perguntar quando é que cá vem pois é aqui que mais gosta de estar. Creio que é o único que ainda não me perguntou o que é que acontecerá quando eu e o avô morrermos. Ainda só tem seis anos pelo que é natural que essa dúvida não lhe tenha ocorrido. Mas os restantes já mostraram a sua preocupação. Percebe-se que querem que este lugar especial permaneça na família mesmo depois de eu e o avô deixarmos de existir. 

Claro está que estou com sono (até porque, estupidamente, tive mais uma noite quase não dormida; toda a vida dormi o sono dos justos, como uma pedra; e, relaciono com a covid, parece que fiquei com o ciclo dos sonos alterados e, de vez em quando, tenho uma insónia total)... e só me ocorre é que ainda bem que esta segunda-feira já não é dia de trabalho para mim. 

O pior de tudo era quando chegava a domingo à noite a sentir que precisava de descansar e, no entanto, poucas horas depois já tinha que estar a levantar-me cedo, com despertador e, se a sorte não me estivesse benfazeja, até tinha logo uma malfadada reunião à primeira hora da manhã. Era o pior que me podia acontecer: uma reunião chata logo ao romper da manhã, numa segunda-feira. Um sofrimento para mim e um risco para os que tinham que me aturar... Felizmente, isso já era.

Na volta o Mujica tem mesmo razão: inteligente, inteligente era o mundo encontrar maneira de pormos os robots a trabalhar deixando para os humanos o descanso, o divertimento, a fruição da beleza, da arte, da boa vida. Isso é que era.

Mas enfim.

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O que tenho ainda a dizer é que o design, a inteligência funcional das coisas e das casas e o bom gosto são coisas a que sou muito sensível.

Acho estes dois vídeos são muito interessantes e, por isso, partilho-os convosco. Boas ideias são sempre bem vindas, não acham?

NTS: Wonderful Waste - How UK Designer Turns Waste into Stylish Furniture

Furniture/Interior/Product Designer Nina Tolstrup founded StudioMama in 2000 with partner Jack Mama, and over the past 20 years they’ve championed repurposing, repairing and upcycling with a playful and accessible approach to design. They’ve explored the potential for small footprint living in their 13m2 Cab office conversion, and the 40sqm London Townhouse, filling both with bursts of colour and upcycled furniture like their Re-Imagined chairs. Nina and Jack have created collections of animal sculpture from timber offcuts, chairs and lamps from pallets and even designed sustainable, transforming kitchen spaces for Ottolenghi.

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Inside an Art Lover's Eclectic European Interior Filled With Wonderful Objects | House Tour

Today we meet Joanna Delia inside her meticulously curated four-storey family home in Valletta, Malta. Joanna is obsessed with art, and her house is a fine-tuned reflection of who she is, and how she wants to spend her life in it.

The collaborative work of Joanna and a handful of European architects and designers, the interior and design of her house is “like a pencil” tall and thin, but full of character emanating from the eclectic selection of artworks she's collected, as well as the inspiring objects she’s acquired over the years. 

As we’ll explore each level of this project, prepare to be mesmerized by the fusion of aesthetics and functionality, as Joanna's keen eye for local art and design is evident in every corner, creating a harmonious space that reflects her passion for creativity. From the moment we enter the front door, we’re greeted by an impressive display of carefully selected artworks that set the tone for what lies ahead. 

Each floor boasts its own unique character and purpose, expertly tailored to suit the needs and interests of Joanna's family. Marvel at the art-filled bedrooms, thoughtfully designed to provide a serene retreat for relaxation and creativity. Throughout the tour, Joanna shares her inspirations, design beliefs, and favorite art pieces, providing invaluable insights for art enthusiasts and home décor aficionados alike.

Whether you're seeking ideas for small space living or simply appreciate the beauty of a well-curated home, this episode promises to ignite your imagination and leave you feeling inspired. 
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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Harmonia e afecto. Paz.

domingo, agosto 27, 2023

"Quem disse que o homem nasceu para trabalhar?", questiona Pepe Mujica

 

Problemas técnicos ultrapassados, eis que consigo aqui voltar. Dia preenchido, casa quase cheia, animação, apetite e boa disposição. E, sem contacto com o mundo exterior, ainda consegui estar reclinada ao sol a ler. Algum ventinho mas a temperatura amena, e sabe bem alguma frescura depois dos dias de queimação por que passámos.

Do mundo não me apetece comentar nada -- até porque quase nada sei -- e, de resto, o que posso dizer é que o terreno está quase desfigurado de tão 'limpa' que está a terra. É quando como quando a gente vê um homem a quem sempre conhecemos com barba e que, de repente, se apresenta escanhoado. Não parece o mesmo. Olha-se e sente-se que falta qualquer coisa. Não posso dizer que esteja mal até porque as árvores estão grandes e parece que até sobressarem mais. Mas falta toda aquela vegetação que cobria o chão. Volta a nascer, prometem-me. E só espero bem que sim. 

A verdade é que os caminhos -- que quase tinham desaparecido sob a caruma e da qual já germinava toda a espécie de erva  -- estão de novo à vista e isso não deixa de ter a sua beleza.

Ainda não está tudo limpo. Nos dias de muito calor os trabalhos foram suspensos. Ainda há muita limpeza a fazer e há árvores por desbastar. Mas muito já está feito. Agora já se pode passear por zonas que a natureza já nos tinha interditado e isso é também uma alegria.

No outro dia um dos homens junto de quem eu me lamuriava pela razia, dizia-me: 'Isto serve para quê?', referindo-se ao mato. 'Isto só serve é para os coelhos', concluía. Fiquei ainda mais triste e disse: 'Mas eu gosto de ter aqui coelhos...'. Talvez para me consolar. ele disse: 'Já quase que não os há...'. De facto, quase não os vejo mas creio que seja pela secura, está tudo tão seco...

Só espero é que, com isto, os esquilos não se assustem e não se vão para outras paragens -- até porque os pinheiros também têm que ser subidos (ou seja, a copa tem que começar mais acima). E os pinheiros são a sua casa preferida. Custa-me pensar que estamos a perturbá-los mas reconheço que tem que ser, a bem da segurança.

Mas, pronto, é isto. Pouco mais tenho a acrescentar.

Agora já foram todos dormir e eu vim aqui dar um arzinho de minha graça. 

E o que hoje tenho para partilhar é um interessante vídeo no qual Mujica diz coisas interessantes. Há sempre várias maneiras de ver as coisas e a aproximação dele é a optimista, quiçá até utópica. Ele pede para não lhe retirarem a utopia e eu acho que, na realidade, viveremos mais felizes se conseguirmos sonhar com um futuro feliz.

Mujica reflete sobre evolução humana e diz que celular não é o problema

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Desejo-vos uma bom dia de domingo

Saúde. Tranquilidade. Paz. 

sábado, agosto 26, 2023

Problemas técnicos

 

Por razões que, de momento, não consigo ultrapassar não vou conseguir escrever hoje. Limito-me a informar-vos destas minhas limitações que são, verdadeiramente, condicionantes..

Espero que amanhã isto esteja resolvido. Senão, no domingo. A ver. 

Desejo-vos um bom fim de semana.


sexta-feira, agosto 25, 2023

Dilemas de uma candidata a escritora

 

Creio que como todas as crianças, cheguei à entrada da adolescência com um grupo de amigas, colegas de turma e de partilha de confidências, companhia para passeios, idas a festas de anos, à praia e ao cinema.

Éramos umas cinco, sempre juntas. Dessas cinco, identificava-me mais com duas. 

Uma era divertidíssima, atrevida, brincalhona. Tínhamos ataques de riso que eram uma fonte de prazer. Não extraordinariamente bonita mas nunca reparei nisso pois ela era, sobretudo, a confidente, a companheira de todos os momentos, aquela com quem podia sempre falar de tudo, a voz da razão, a voz da paródia. Um mix perfeito.

A outra era muito bonita. Eu achava que ela era a mais bonita de todas. Era um pouco tímida. Enquanto eu e a outra chorávamos a rir, ela não. Ria mas não era exuberante nas suas manifestações. Eu tinha sempre meninos apaixonados por mim e brincava com isso e tenho ideia que ela também os tinha mas eram, mutuamente, menos intensos, muito menos exuberantes. Embora os levasse mais a sério que eu, que me lembre, nenhum foi tão maluco por ela como os que eram malucos por mim o eram (nem ela era tão maluca e intensa quanto eu o era).

Enquanto eu tinha quase que namoros a sério, ela não, eram mais coisas a atirar para o platónico e remoto. Uma vez perguntei àquele com quem eu, miúda, namoriscava apaixonadamente qual, na opinião dele, a razão para os rapazes não se apaixonarem muito por ela, sendo ela tão bonita.

Ele disse que era porque ela era assim... e imitou-a a andar. Não percebi. Ele disse que ela andava de cabeça baixa e sem mexer os braços. Que parecia que lhe faltava vida, disse. Achei uma parvoíce. Que razões mais absurdas. Ela uma querida, tão linda, e diz ele aquilo. Nem nunca eu tinha reparado em tal coisa.

Até que um dia, no último ano de liceu, ela se modificou radicalmente. Parecia querer entregar-se aos rapazes. As más línguas diriam que se tornou oferecida. Muito oferecida. Mas eu achava que era qualquer coisa de estranho que estava a passar-se, qualquer coisa que eu não conseguia perceber. Parecia ávida de emoções, parecia que queria sentir-se amada, parecia que havia nela uma urgência e uma imprevidência que me assustavam, uma carência descompensada. E, naquele estado, começou a andar com uns muito impróprios para consumo, em especial um deles.

Todos a avisávamos mas ela estava cega e surda, não ouvia ninguém. Parecia que, de repente, tinha perdido a timidez e a insegurança e um atrevimento e uma malícia que ninguém lhe conhecia tinham tomado conta dela.

Viveu com esse e, claro, não correu bem.

Depois entrou, creio, numa espiral. 

Uma tremenda sede de amor, uma atracção por situações que, a olho nu, se viam que só podiam correr mal. Isto dito por ela.

Ao fim de todos estes anos continua carente. Ingénua, amorosa, bonita, uma simpatia. E solitária e carente.

Tenho muita vontade de escrever sobre ela pois gostava de perceber o que se passou no seu íntimo para se ter modificado tanto e para, com tanto que tem tentado e tanto que o deseja, continuar à espera de um amor. Creio que idealiza de mais, que espera de mais, creio que mostra de mais o quão vulnerável é. Mas não sei.

Falei-lhe nisto, de escrever sobre ela. Entusiasmou-se. Como sempre, dá-se toda. Contar-me-á tudo. Eu é que hesito. E se falho? E se sou crua de mais? E se ela, depois, não gostar de ser ver retratada? 

No fundo, no fundo, a verdade é que gostava mesmo de poder ajudá-la, gostava que a minha amiga fosse feliz, se sentisse realizada. 

E temo que, pôr-me a escrever sobre ela -- ainda por cima um livro que pode nem chegar a ver a luz do dia -- não ajude, pelo contrário, possa desajudar.

Hesito, pois. Ganho tempo. Talvez queira ganhar distanciamento. Talvez precise de me mover para um plano de abstração em que não seja sobre ela que falo mas, sim, sobre alguém inventado a partir da amizade que sinto por ela.

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Afecto. Paz.

quinta-feira, agosto 24, 2023

Suruba...? Saltar de paraquedas nua? .... What...?
E o que escrever na lápide....?

 

Mais um dia de festa e de convívio que começou cedo e acabou tarde e teve de tudo, de bom, pelo meio. Dia pleno e feliz. Todos alegres, a mesa cheia, conversa boa. 

O bolo era uma delícia e, num ápice, praticamente se foi.

Por estes dias claro que não tenho tempo para nada. Soube que, no infernal jogo do lá vai um, muito praticado pelos lados do Kremlin, desta vez parece que foram dez, entre os quais o tal que desafiava Putin e os seus comparsas. Desde que a coisa começou a descarrilar a gente percebeu que era uma questão de tempo ou de método. Cairia de uma varanda? Apareceria intoxicado? 

Deu mais trabalho, tiveram que atirar um aviãozinho ao chão.

Um a um vão caindo. Assim se desintegram os impérios de pés de barro que vivem a toque de caixa de malucos.

Mas, sinceramente, o sono que tenho é muito e a incapacidade física para domar argumentos ou disciplinar dedos ao teclar é total.

Portanto, fico-me pelo vídeo em que três sumidades recordam e dissertam sobre coisas importantes.

Paolla Oliveira, Pedro Bial e Suzana Vieira no BAR! | Que História É Essa, Porchat? | GNT



E tenham um dia feliz

Saúde. Boa sorte. Paz.

quarta-feira, agosto 23, 2023

Trabalhos esforçados, terra tristemente seca.
E, para lavar a vista, uma casa numa terra junto ao rio.

 

Desde que me lembro, mal dou por mim e, nem sei bem como, estou cheia de trabalho. Caia-me em cima, atraía, pediam-me, via-me compelida a, não tinha como dizer que não. Agora a conversa é outra. Agora é trabalho engendrado por mim. Meti na cabeça fazer uma coisa e não dou mãos a medir. Tem sido o dia todo, dia após dia, noite adentro. Intervalo para o essencial e para os compromissos e obrigações familiares e domésticas mas, mal consigo, aí estou eu atirada à minha empreitada.

Não sei no que vai dar, e seria, para mim, muito decepcionante se não desse em nada. Conhecendo-me como me conheço, vou lutar. Vou lutar tentando encontrar uma porta aberta nem que para isso tenha que percorrer mil estradas, subir mil degraus, voltar atrás mil vezes para encontrar outros caminhos, bater mil vezes a mil portas. . Vou lutar e, se o faço, é porque tenho esperança de conseguir chegar a bom porto. 

Talvez houvesse formas mais fáceis de lá chegar mas quero ir pela via complicada. E não é por ser masoquista, é por ser a via que me agrada, a via que me faz sentido. 

E, nos trabalhos esforçados em que ando, tenho descoberto coisas de que me tinha esquecido, tenho tido muitas surpresas. Tem sido muito interessante. Gostava de um dia poder partilhar convosco tudo o que ando a fazer e tenho esperança que um dia isso venha a acontecer. 

Entretanto, temos estado, in heaven, a limpar o terreno. Sempre muito a contragosto, sempre com pena de cortar um pé de alecrim que seja, sempre a achar que estou a fazer atentados contra a natureza... mas, tanta a secura da terra, tanta a míngua de água e a tristeza de ressecamento em que está tudo que me rendi. Claro que agora tivemos que interromper pois com tanto calor não se podem usar máquinas. Mas a terra está outra, irreconhecível. Todos me dizem para não estar tão desgostosa pois em vindo a primavera tudo há-de rebentar e tudo há-de ficar outra vez verdinho. Tomara. Tenho imenso medo que os orégãos, o rosmaninho, o alecrim, a sálvia, o tomilho e tudo o mais desista de ressuscitar. Mas reconheço que um campo cheio de vegetação tão tristemente ressecada era um perigo. Tínhamos cortado o máximo mas o meu máximo não é o que os entendidos consideram seguro. 

Não chove, não há humidade. As próprias árvores se ressentem. Um cedro gigante morreu. Outro mais pequeno também. Vejo os outros com as pontas secas. Dói-me o coração olhar para eles e não poder fazer nada. 

A falta de chuva e estes calores extremos são um perigo e eu só espero que estejam na forja projectos a sério, ousados, marcantes, para contrariar minimamente o desastre que avança a passos largos sobre nós.

Estive a ver o vídeo abaixo e ver aquela água, aquela vegetação verdejante, encanta-me. Quem tem a sorte de viver em lugares mágicos assim, saberá a sorte que tem?

In Residence: Mattia Bonetti

Paris-based artist and designer Mattia Bonetti's waterfront retreat by Lake Lugano in southern Switzerland.

Bonetti’s furniture, lighting and objects can be found in the collections of the Centre Pompidou in Paris, the Cooper-Hewitt National Design Museum in New York, and the Victoria & Albert Museum in London, among others. Most recently, Bonetti presented a selection of new works in London through his gallery of more than thirty years, David Gill. 


Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Bons ares. Tranquilidade. Paz. 

terça-feira, agosto 22, 2023

No escritório de Agustina

 

Gostando tanto de cuscar as casas dos outros, naturalmente gosto ainda mais da casa dos escritores. Aliás, tenho um livro muito bonito, com fotografias, sobre a casa de vários escritores.

Ainda tenho aquela coisa mítica... ah e tal... os escritores... os hábitos, como é, onde estão, como fazem...

E, na volta, uns são assim e outros são assado e sobre uns há coisas para mostrar e sobre outros não há nada porque escrevem no computador, em qualquer lado, sem rotinas ou casa arrumada que se possa mostrar.

Seja como for, apareceu-me o vídeo abaixo e estive a ver de gosto depois de ter visto uma entrevista longa com a própria Agustina.

Estive também a ver uns sobre e com o Luíz Pacheco. A vida desgraçada que levou... Talentoso mas um caso perdido a nível da vida pessoal. E, no entanto, como tantas vezes acontece com quem tem vidas desventuradas e amalucadas, ele próprio virou um extraordinário personagem. E foi ele, através, sobretudo, dos seus diários, que lhe desenhou o enredo.

Agustina está nos antípodas do Pacheco. Atinada, organizada, uma vida familiar e social estável, bem definidas. Tinha uma base sólida sobre a qual erigir a sua obra. Pacheco, pelo contrário, sem alicerces, sem estrutura de sustentação, teve uma vida familiar, social e literária caóticas.

No caso de Agustina gosto de ver a filha, Mónica Baldaque, falar das coisas da mãe. Não há veneração. Há pragmatismo e admiração. E isso soa agradável.

Foi neste escritório que Agustina Bessa-Luís escreveu a maioria das suas obras, marcando de forma indelével o panorama literário português do século XX. Mónica Baldaque conduz-nos numa visita guiada às memórias guardadas nos objectos da mãe, ainda expostos como no tempo em que Agustina vivia na casa da Rua do Gólgota, no centro do Porto.


Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Tranquilidade. Paz.

segunda-feira, agosto 21, 2023

O silêncio em casa é a chave para uma vida tranquila...?






Tive que ir a um centro comercial e, se enquanto trabalhava, ia frequentemente a livrarias, a restaurantes, ou fazer compras num dos grandes de Lisboa, agora só vou quando o rei faz anos, à pressa, muito dirigida.

O parque de estacionamento cheio, as escadas rolantes cheias, os corredores cheios, a música, o ruído... já tudo me perturba um bocado.

Outra coisa que me faz impressão é ver a quantidade de pessoas que anda com phones. Em vez de estarem atentas e disponíveis para o que as cercam, isolam-se numa cápsula sonora. Se calhar, é a forma de não serem molestadas pelo ruído ambiente mas parece-me um pouco estranho, anti-natural.

Seja como for, o que me agrada, cada vez mais, é o silêncio. Não precisa de ser silêncio sepulcral. Se ouvir passarinhos, é ainda melhor.

No campo, também gosto de ouvir um cão a ladrar ao longe ou um sino a tocar de quando em quando. Ou, nas tardes quentes, o canto à desgarrada das cigarras.

No outro dia, in heaven, estava muito calor e dormimos com a janela aberta. Estava calor e vento. E o som do vento na copa das árvores parecia o som do mar, o permanente ondular e bater das ondas. Muito bom. Não era silêncio mas era uma companhia, uma toada embaladora.

Também, creio que há três anos, deu-me uma veneta e a casa desfez-se, quase na íntegra, de móveis, mesas, cadeiras, rodapés, janelas escuras. Tudo virou branco ou perto disso. Pintámos móveis, cobri de cobertas brancas (ou marfim) os sofás de cor. A casa mudou da noite para o dia. É agora ainda mais luminosa, mais serena, mais aberta à tranquilidade.

Leio agora que parece que está na moda a casa silenciosa. De vez em quando são lançadas como novidades espectaculares coisas banais, naturais. E meio mundo vai atrás, como se a pólvora voltasse a ser descoberta. 

Se calhar é assim mesmo, a bolinha azul que por aí anda a boiar no imenso espaço sideral não pode estar sempre a reinventar-se: às tantas, convencida de que ninguém prestou atenção às vezes anteriores, lança para o ar modas requentadas.

É o caso desta de que agora dou conta. Notícia grande

Vou ver, toda cheia de vontade de novidades. Mas não passa do que sempre foi para quem disso gostava -- coisas simples, espaço para o silêncio e para os pensamentos demorados. 

The rise of ‘house hushing’: is it the key to a tranquil life?

Por exemplo, um excerto (transcrevo, com tradução google):

O som do silêncio: seis maneiras de ajudar a criar uma casa mais silenciosa

1. Textura

Traga serenidade aos espaços com diferentes texturas. Pele de carneiro, ráfia, lã, veludo, cordão grosso e bouclé trazem sensação de aconchego e segurança. Elementos naturais, como pedra e madeira, se conectam ao ar livre.

2. Cor

Neutros quentes trarão sentimentos de paz. Uma única paleta em toda a casa induz calma e fluidez. Conecte-se com a natureza com tons de verde – reduz a ansiedade e aumenta a sensação de tranquilidade.

3. Forma

Em vez de cantos rígidos, superfícies e móveis angulares privilegie as formas arredondadas mais suaves.

4. Hush busters

Os utensílios de cozinha são um grupo turbulento. Use o banco de dados gratuito da Quiet Mark de produtos domésticos certificados pela Noise Abatement Society para selecionar o menos barulhento entre eles.

5. Espaço

Dê uma casa a cada objeto e recicle os objetos que você não precisa mais ou nunca usa.

6. Pisos

Adicione forro sob o piso de madeira e tapetes por cima. Se está a renovar, aproveite para rebocar as paredes para as tornar mais resistentes ao som.

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The Reality of SLOW LIVING | MINIMALISM


Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Tranquilidade. Paz.

domingo, agosto 20, 2023

A beleza do impermanente, do imperfeito, do rústico, do melancólico

 

Às vezes penso que, se um dia destes der de caras com um daqueles meus antigos colegas de trabalho que eram cheios de prosa, todos certezas e teorias, cheios de objectivos e medidas para aferir a sua prossecução, não sei se vou conseguir manter um daqueles diálogos que antes conseguia (embora com um certo esforço) sustentar.

Não é que eu, nessa altura, não incentivasse a ambição, o foco, a assertividade, o ímpeto em conseguir chegar à frente antes dos outros. Incentivava. O mundo das empresas em contexto de concorrência feroz assim o exige. Sobrevivem as empresas que se aguentam na luta da selva, feita para a sobrevivência dos mais ágeis, dos mais fortes, dos mais hábeis.

Mas nunca fui de colocar isso acima de tudo e, muito menos, de ter uma conversa quase exclusivamente moldada por isso. Pelo contrário, sempre tentei deixar espaço à alegria, ao improviso, ao diferente, ao erro e ao desafio.

Mas agora que estou fora desse mundo, estou em pleno processo de descompressão. Sempre me senti muito próxima da simplicidade, da natureza, sempre estive muito consciente da minha efemeridade, sempre me senti agradecida. Mas agora isso acentua-se de dia para dia. E toda eu me inclino para a aceitação da diferença, da beleza espontânea -- mesmo que pouco convencional --, da generosidade dos gestos de compreensão.

O algoritmo do Youtube, fino que nem um alho, esperto que só ele, adivinha-me o estado de espírito e alimenta-me as entranhas espirituais com vídeos que me agradam, inspiram, ensinam.

O meu dia foi um dia feliz, tal como o de ontem. Ter a casa cheia de risos, cantares, alegrias, poder estar na conversa com aqueles de que gosto, tudo isso me enche de felicidade.

No outro dia, alguém escreveu aqui um comentário (que não publiquei pois quem o escreveu esticou-se para além do razoável) em que, entre outras coisas, me criticava por eu ser como sou. Dizia que eu cultivo este estado de espírito 'feliz' e ignoro o que é mau e desagradável. Não é verdade pois frequentemente aqui falo do que me desagrada. Mas é verdade que a minha natureza é esta: valorizo as coisas boas, agradeço-as, cultivo-as com carinho. E tento não me deixar afogar na depressão das más notícias e das desgraças. Quem quiser viver delas, cultivá-las à exaustão, deve procurar o Correio da Manhã e não o Um Jeito Manso

Ao contrário das pessoas que passam a vida a dizer mal de colegas, chefes, vizinhos, familiares, etc, eu não tenho paciência para isso. E nem é uma questão de paciência, é mesmo que as ignoro. E ignoro-as até involuntariamente. Não quer dizer que seja completamente insensível à maldade. Não sou. Se alguém me faz alguma que é mesmo má, deliberadamente má, repetidamente má, aí eu afasto-me, viro costas, apago da minha existência. Não quer dizer que o assunto fique completamente morto e enterrado pois, se me fizerem reviver o assunto, lembrá-lo-ei com a mesma agastura e a mesma certeza de que não tem volta. Mas, mal a conversa acabe, ponho nova pedra sobre o assunto. E bola para a frente.

Quero é ter espaço na minha mente e na minha vida para descobrir coisas e pessoas boas, inesperadas, pacíficas, felizes.

Hoje apareceu-me isto. 

What is Wabi Sabi?

Gosto disto

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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Bom coração. Simplicidade. Paz.

sábado, agosto 19, 2023

As mamas das mulheres são assustadoras?
Os seios desnudos de Eva Amaral incomodam alguém...?

 

Já não faço topless em público. De resto, apenas o fazia em praias com muito pouca gente. Gostava, isso sim, era de, nessas praias, nadar nua. Mas isso, acho eu, ninguém via.

No campo, no verão, quando estamos só os dois, ando frequentemente nua. Tenho um lado muito naturista e um outro muito reservado. Ou seja, acho que, na verdade, tenho alma de bicho do mato. Deveria poder viver num recanto do mundo onde essencialmente só houvesse bicho para não correr o risco de ser olhada. Os bichos não olham, só aceitam.

Ainda não contei: no outro dia o meu marido viu um esquilo grande e um esquilo mais pequeno. Não sabe se seria macho e fêmea ou mamãe e seu filhote. Diz que subiram pelo tronco de um cedro, perto dele, na maior descontração. Acho isto extraordinário. 

Roem pinhas como se não houvesse amanhã. Deve ser um exército deles pois é impossível que só dois fossem capazes de tamanho estrago. 

Continuo a deixar, à sombra, uma banheira de bebé cheia de água para poderem refrescar-se. Espero que apreciem.

No outro dia, quando lá chegámos já havia pequenos seres a nadar dentro dessa água. A natureza, a vida, tudo isto são acasos extraordinários. Milagres, propriamente ditos.

Despejei a água para pôr água fresca mas fiquei a pensar no que sairia dali se deixasse aqueles seres desenvolverem-se à vontade. Na volta, um dia chegava lá e dava com carpas gigantes. Ou com rãs.

Mas estou a falar como se estivesse in heaven e não estou. Estivemos fora mas hoje, depois de almoço, regressámos à civilização. O pessoal já cá estava. Tivemos uma festa de anos atrasada pois a aniversariante, no dia dos anos, estava fora.  

Estivemos juntos, festejámos. Tão bom. 

Por aqui não há esquilos. Mas há gatos. Agora, de vez em quando, aparece um gato completamente branco. Até no parapeito, do lado de fora, já se pôs com os meninos todos do lado de dentro. Ficaram um bocado intrigados.

Hoje de noite, depois de termos jantado (lá fora, no terraço) e, creio, já depois dos parabéns a você, a fera pôs-se acocorada a olhar fixamente para algo que estaria atrás de um vaso grande. Quando isso acontece é bicho. O bicho fica paralisado e ele, porque os bichos se põem onde ele não os alcança facilmente, fica à espera de um movimento em falso para lhes saltar em cima.

Mas a coisa levantou voo. Todos atrás. A coisa entrou em casa. Todos atrás, pessoas e cão. Um alarido, palpites, que se abrissem todas as janelas, que se acendessem todas as luzes, que se afastassem alguns móveis. Uns saltavam, outros corriam. Para as crianças, é o delírio. 

Quem viu achou que era um morcego pequeno.

Tudo à procura, o meu filho de chinelo na mão e eu não queria que ele matasse o morcego e cada um a dizer sua coisa, as opiniões divididas.

Até que um quadro se mexeu. Concluíram que a coisa estava lá atrás. O meu marido tirou o quadro, a coisa tombou e o meu filhou deu-lhe uma sapatada.

Era um grande insecto, não sei qual. Bonito. Tamanho gigante. Não era gafanhoto, era bem maior. Um tom entre o platinado e o leve esverdeado, brilhante. Foi apanhado com um papel.

Se fosse um morcego seria estranho. Imagino que não se soubesse bem o que fazer com ele.

Bem. Isto para dizer que os animais estão bem é a viver em liberdade na natureza.

E depois há isto: parece que isso faz sentido para todos os animais mas, vá lá saber-se porquê, parece que se acha subversivo as mulheres andarem de mamas ao léu. 

Cresci com essa condicionante. Logicamente não me daria jeito andar por aí em tronco nu. Uso é cada vez menos soutien. Não há pachorra para andar condicionada. Só quando não quero que se perceba e receie que fique uma situação constrangedora é que o ponho.

Mas acho uma burrice, uma ignorância, uma estupidez os movimentos moralistas, as plataformas moralistas armadas em censoras de coisas inócuas e tudo o que tresanda a atraso de vida que impede as mulheres, que o desejem, de, em determinados contextos, terem o peito à vista.

Num espectáculo em Espanha, a cantora desnudou-se e actuou assim. E eu, para dizer verdade, acho que, se ela o quis fazer 8e ela explicou as suas razões) e se sentiu bem, pois não fez ela senão bem.

‘I don’t know why our boobs are so frightening’: why musicians in Spain are going topless as a radical gesture


Eva Amaral se desnuda en Sonorama por la libertad de las mujeres: "Nadie puede arrebatarnos la dignidad"

"Somos demasiados, y no podrán pasar...", entonaba la noche del sábado Eva Amaral sobre el escenario y a pecho descubierto. Un gesto que revolucionó al festival Sonorama Ribera, donde el duo aragonés Amaral echó mano de su carácter más reivindicativo. El concierto que debía conmemorar sus bodas de plata con la música, 25 años transcurridos desde que vio la luz su primer disco, con el que compartían nombre, se transformó en un clamor por la dignidad y la fortaleza de las mujeres.

In the middle of her performance at the Sonorama festival in the northern Spanish town of Aranda de Duero on Saturday, Eva Amaral was about to lead her band Amaral into her song Revolución when she took off her red sequin top and threw it on the floor.

“This is for Rocío, for Rigoberta, for Zahara, for Miren, for Bebe, for all of us,” she said, listing the names of fellow artists before uncovering her breasts. “Because no one can take away the dignity of our nakedness. The dignity of our fragility, of our strength. Because there are too many of us.” In a concert marking the Spanish band’s 25-year career, going topless was a way of defending women’s dignity and freedom to go nude, and “a very important moment”, Amaral later told El País. 
But it was also a show of solidarity with a growing number of Spanish artists who are resorting to nudity to defend women’s rights, and have been censored or attacked as a result.
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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Alegria, Paz.  

sexta-feira, agosto 18, 2023

Olha para mim, toda peace and love, derretida a ver a decoração de uma casa alugada
[Com um Post Scriptum -- à atenção do PS, do Presidente Marcelo, do PSD e de todos -- relativo à redução de impostos]

 

Mais um dia tranquilo. Não é que não tenha feito nada. Fiz, por acaso até fiz. Mas, tenho que ser sincera: não foi muito. O meu ritmozinho por estes dias situa-se lá bem no finzinho da escala dos diminutivos. E, confesso: gosto, sabe-me bem, estou capaz de me habituar. 

Antes, por estas alturas, em dias assim de dolce far niente, a minha cabeça começava a fervilhar de vontade de, no regresso, no trabalho, dar uma volta àquilo tudo, avançar com ideias disruptivas, e, em casa, me atirar a limpezas, a remodelações, a mudanças na decoração, nem sei. Agora não. Agora tenho é vontade de que não me apareça nenhum contratempo que venha interromper a paz e a quietude que me é tão benfazeja.

Tirando a limpeza de fundo ao terreno, com subida de copas e outras coisas afins, não tenho nada em perspectiva, nada, nem sequer almofadas novas. Os livros estão bem onde estão, os bibelots foram tão bem colocados (pela minha filha, quando nos mudámos) que não quero que mudem de sítio, os vasos estão bem com o que estão. 

Quase nem me reconheço, dizendo isto. 

Estamos quase a entrar numa nova saison e eu aqui, quieta, sem turbulências, sem querer revirar a casa e o meu mundo. Longe vai o tempo em que me deliciava ao ter novos projectos mesmo que fossem trabalhos horríveis, mesmo que fosse mudar para empresas complicadas, mudar de local de trabalho e, até, como aconteceu há três anos, mudar de casa. Agora sou esta tranquilona que aqui vedes. Peace and love da cabeça aos pés.

Tirando umas pesquisas para uma coisa de amigos, o computador/net serve-me, sobretudo, para espreitar alguns vídeos, sobretudo daquilo que já sabem (arquitectura, jardinagem, decoração). Acho que, quando os vejo, é também como se estivesse a meditar, cabecinha vazia, apenas focada no que vejo, ignorando tudo o que me cerca.

E é bem bonito. Se a mim isto me agrada mas não me dá vontade de ir a correr fazer coisas assim, pode ser que também gostem de ver. É bem bonito o que aqui se vê. Pensa-se que uma casa alugada pode ser uma coisa transitória, que nem vale a pena personalizar... não é? Errado. Veja-se o que a Sophie Ashby fez com a casa que alugou.

Our Designer of the Year Sophie Ashby on decorating her rented Georgian house | Design Notes

Assim que a pandemia atingiu, Sophie Ashby e seu marido, o estilista Charlie Casely-Hayford, mudaram-se para uma casa do início do século 19 em Spitalfields. Era um aluguer - uma oportunidade de aproveitar mais espaço do que eles tinham no seu pequeno apartamento no oeste de Londres e um paliativo antes de comprar uma casa própria. Em vez de ser frustrante como designer de interiores - na verdade, o atual Designer de interiores do ano da House & Garden - e restrito pelas limitações do que você pode fazer para alugar um imóvel.

“Na verdade, achei muito libertador”, diz ela. “Não precisei me preocupar com nenhuma estrutura arquitetónica do edifício. Já estava bonito, então pude entrar e preenchê-lo com coisas bonitas.'

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PS: Peço reforma fiscal a nível de IRS, sim, reforma a sério, redução substancial de taxas, de todas, mas que isso seja compensado com o que circula incógnito na economia paralela. Ou seja, que não se sacrifique o défice, logicamente que muito menos não se sacrifique a redução da dívida: que se vá buscar -- mas buscar a sério -- aos que deviam pagar e não pagam impostos. Pelo fim da economia paralela!

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Um dia feliz
Saúde. Boa disposição e tranquilidade. Paz.

quinta-feira, agosto 17, 2023

Tranquila e silenciosa contemplação

 

Dias de férias. Não tem havido horários, rotinas ou compromissos. 

Tenho tratado de algumas coisas, tenho organizado outras (porque isto com o computador nas mãos consegue tratar-se de muita coisa), mas, de modo geral, durmo até à hora em que acordo espontaneamente, almoço às horas que calha, faço o que me dá na realíssima gana. Chego a não saber qual o dia do mês ou da semana em que estou e, geralmente, também não sei que horas são.

O cão também anda à vontade, não há horas para passeios. Sai e entra quando quer.

Não vejo um noticiário de seguida há vários dias (melhor: há várias semanas). Se espreito as notícias, nada desperta a minha atenção. Passo de raspão, desinteressadamente. 

[Ou melhor, dito de outra maneira, mais verdadeira: as que despertam a minha atenção têm a ver com desgraças de dimensão quase apocalíptica, muito para além do que a minha limitada dimensão humana consegue abarcar]. 

Tenho lido, ouvido música, visto vídeos. Isto para além de caminhar em silêncio ou fazer uma coisa que descobri e que tenho achado o máximo: deito-me à superfície da água, braços e pernas abertas e deixo-me estar a flutuar, a olhar o céu, sem pensar em nada. Quando interrompo, tenho que me deixar estar um bocado, devagar, para que os fluidos voltem a circular dentro de mim pois parece que toda eu fico em stand by enquanto estou naquilo. Pressuponho que seja a isso que se chame meditar.

O meu marido perguntou-me porque é que também não faço férias no blog. Não soube responder. Parece que, em boa verdade, ainda estou a aprender a ter férias-férias, parece que ainda não consigo, bem, desligar-me completamente de tudo. Claro que desligar-me mesmo é uma forma de dizer pois continuo a falar duas vezes por dia com a minha mãe e uma vez com cada filho. Mas isso não conta. Há cordões umbilicais que pulsam em qualquer circunstância.

Mas, no que se refere ao blog, de facto, este mês o número de visualizações tem sido consideravelmente reduzido face ao que costuma ser nos outros meses, tem dias que nem chega bem às mil e quinhentas visualizações. Mas, ainda assim, são quase mil e quinhentas as vezes que aqui vêm Leitores ver o que escrevi. Várias pessoas me escrevem a dizer que, mesmo que nem sempre concordando comigo, têm em mim uma companhia e que não passam sem vir ler o que escrevi. Embora não saiba dizer com rigor as razões que me impedem de aqui fazer férias, creio que a principal tem a ver com o respeito -- e estima -- por quem está aí, desse lado, a acompanhar-me.

Mas, claro, estando nesta onda zen, desligada do mundo, não tenho nada de especial para dizer... 

A ver se amanhã consigo que o meu marido me sugira alguma coisa ou se, durante o dia, penso nalguma coisa que possa ter alguma ponta por onde se lhe pegue.

Sorry.

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A fotografia da autoria de Julian Elliott e que fui buscar ao Guardian, chama-se "Quiet Contemplation" e mostra: A Vietnamese woman sits in the front room of her house looking towards the window light, quietly contemplating her afternoon.

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Dias descansados e felizes. Paz.

quarta-feira, agosto 16, 2023

Alô, alô António Costa!!!
Vamos falar de fuga ao fisco?

 

Há tempos ouvi que há apenas 20.000 agregados familiares com rendimentos colectáveis anuais superiores a 80.000€. Agregados. Não pessoas individuais. Agregados. 

Não é preciso pensar muito para perceber que isto não pode corresponder, nem de longe nem de perto, à realidade.

Se em vez de 20.000 me dissessem que eram 100.000 os agregados com rendimentos superiores a 80.000€/ano eu ainda teria dúvidas. 

Basta ver quem, colectado em Portugal, possui casas de valores elevados (e são muitas, muitas, muitas) para perceber que, seja para comprá-las a pronto, seja para pagar altas prestações, tem que se ter, a nível de agregado, rendimentos muito superiores a 80.000/ano.

Se as casas ou os carros de valor elevado (e que também são mais que muitos!) estão em nome de empresas e não dos próprios, se há muitas empresas que são apenas uma habilidade para lá colocar os custos e fugir ao fisco, isso deveria ser analisado.

E se muitos contribuintes com profissões liberais também fazem a habilidade de não declarar rendimentos isso não seria fácil de rastrear? 

Ou quantos, exercendo profissões por conta de outrem (professores, médicos, advogados, etc, etc) depois acumulam com outra actividade remunerada e não declarada (explicações, consultas, pareceres, etc.)?

E quantos comerciantes não fogem ao fisco em parte da sua actividade? É vê-los a passarem um talão de caixa e, apenas quando se pede factura, é que a passam, geralmente depois de confirmarem 'Ah quer factura...? Ok...'.

E se muitos senhorios não declaram as rendas, isso também não deveria ser visto à lupa? 

Faz sentido que haja tanta, tanta, tanta, tanta gente a fugir ao fisco e tão poucos a pagar tanto?

De notar que conheço profissionais de profissões em que há tremenda escassez de recursos que, estando reformados, poderiam continuar a trabalhar ou trabalhar mais do que os 2 dias que ainda trabalham pois dizem que não vale a pena, seria apenas trabalhar para o Fisco.

Não apenas o Autoridade Tributária deveria cair a pés juntos em cima de quem foge ao fisco como deveria baixar a carga fiscal. Não faz sentido que se feche os olhos à economia paralela penalizando os que não querem ou não podem fugir ao fisco.

Faz sentido serem taxados como muito ricos pessoas que mais não são do que classe média?

Porque não se deixam de demagogias e não baixam todo o IRS (em todos, todos, todos os actuais escalões), criando um ou dois escalões novos para quem ganha acima de 150.000€ e 250.000€/ano, esses sim a pagar o que hoje pagam os que ganham acima dos 80.000€? 

E porque não se baixa consideravelmente os rendimentos resultantes das rendas de aluguer de casas, para dissuadir os senhorios de fugir ao fisco? Mas não é baixar 2 ou 3 pontos percentuais. É baixar no mínimo uns 10%. A ver se os fogos arrendados não disparavam...

Parece que, neste tema do fisco, anda meio mundo a fazer de conta, a ceder ao facilitismo. Acho que está na hora de encarar as coisas com realismo.

Só assim se pode ter uma actuação honesta e responsável, só assim se pode levar Portugal para um patamar de decência fiscal, e, ao mesmo tempo, tirar o tapete aos populistas.

terça-feira, agosto 15, 2023

Por favor, não traga roupa

 

Passo a vida a falar de casas e a referir como, em minha opinião, o respectivo ambiente pode transmitir boa ou má disposição, ou como acho que pode inspirar ou atrofiar quem lá vive.

A casa de que aqui hoje falo é uma casa que acolheu gente das artes, das palavras, gente que amava as tertúlias e o amor livre.

Não é a uma casa qualquer. 

Há um artigo delicioso no Guardian sobre esta casa especial e sobre como o mundo da moda e do design se apaixonaram por esta casa.

Vou transpor parte do artigo, traduzido via translator.

Kate Moss fotografada em Charleston House para a Vogue britânica
 por: Mert Alas & Marcus Piggott  

‘A casa canta com cor e com vida’: como o mundo da moda se apaixonou por Charleston, a casa de campo do cenário de Bloomsbury

De Virginia Woolf e seu círculo às fotos da Vogue de Kate Moss, a casa de campo não convencional de Sussex conquistou a imaginação ao longo das décadas

A casa mais elegante da Inglaterra não fica numa rua elegante de Londres ou num vilarejo de Cotswolds com caixas de chocolate, mas no final de uma estrada rural longa, estreita e muitas vezes enlameada numa dobra de Sussex Downs. No interior, não há um único armário de cocktails de meados do século, chuveiro de efeito chuva ou sofá de design italiano. Em vez disso, Charleston é uma casa de fazenda de pedra robusta do século 17, misturada com rosas, janelas de águas-furtadas saindo de uma encosta de azulejos desgastados.

O layout é semelhante a uma 'coelheira' labiríntica em vez de um plano aberto, os pisos com tábuas desiguais. Como acontece com as casas de campo que foram construídas para proteger do frio, as janelas são pequenas, a luz um pouco sombria. Mas cada quarto é decorado à mão, com detalhes vertiginosos - diamantes pintados com esponja em painéis de madeira, uma natureza morta de malvas-rosa e papoilas numa porta de madeira, figuras nuas de cada lado de uma lareira incrustada de azulejos coloridos - para que a casa cante com cor e com vida.

O mundo da moda está tão apaixonado por Charleston agora quanto o cenário de Bloomsbury estava desde o momento em 1916, quando Virginia Woolf tropeçou na casa e escreveu à sua irmã, Vanessa Bell, que “tem um jardim encantador, com um lago e frutas árvores e vegetais, tudo agora bastante selvagem, mas tu podes torná-lo adorável”.

Bell, o pintor Duncan Grant e um emaranhado de família, amantes e amigos fizeram da casa o seu lar e estúdio por seis décadas; após a morte de Grant em 1978, ela foi aberta ao público em 1986. 

Em Paris, em junho passado, uma maquete da casa foi construída como cenário para um desfile de moda masculina da Dior, que incluía estampas tiradas de pinturas de Duncan Grant. 

Um ano antes, Kate Moss foi fotografada para a Vogue britânica num dos sofás desbotados da casa, usando apenas um par de botas de salto alto Fendi couture, toda bordada com pérolas e lantejoulas, e o próprio chapéu de palha de Bell. 

No próximo mês, o novo espaço da galeria de Charleston na vizinha Lewes apresentará Bring No Clothes: Bloomsbury and Fashion, com curadoria de Charlie Porter, a primeira grande exposição a explorar a influência de Bloomsbury no estilo.

O visual Charleston espalhou-se da passarela para as nossas casas. A vibração ingênua que é a característica mais distintiva dos interiores de Charleston está, agora, empilhada nas lojas de utensílios domésticos de rua. Pratos e tigelas pintados com cores vivas emprestam a alegre boemia da cerâmica de Duncan Grant. Tapetes têm bordas recortadas, copos de água são pintados com redemoinhos, candelabros feitos de torres de bobinas. Os aventais com padrão limão da La DoubleJ e as joaninhas em bandejas de folhas da Bordallo Pinheiro dão vida ao espírito informal e comunitário de uma casa onde a mesa de jantar, as cadeiras e as lareiras foram todas pintadas com carinho. Ella Joel, compradora de utensílios domésticos da Matches, está vendo clientes ligados à moda atraídos por jogos americanos de vime rústicos coloridos da Cabana, pratos com coração da Summerill & Bishop e pratos pintados da Ginori 1735.

A ironia de Charleston estar na moda é que a família Bloomsbury – que “vivia em quadrados, pintava em círculos e amava em triângulos”, como disse Dorothy Parker – tinha pouco tempo para a moda. Bring No Clothes, o título da próxima exposição e o livro de Porter que a acompanha, leva o nome de uma instrução que Virginia Woolf deu aos hóspedes da casa. (“Por favor, não traga roupas: vivemos em um estado de extrema simplicidade”, ela escreveu a TS Eliot, convidando-o a ficar em 1920.) 

The Bloomsbury group’s Frances Partridge, Quentin and Julian Bell, Duncan Grant, Clive Bell, Beatrice Mayor, Roger Fry and Raymond Mortimer in the garden. Photograph: /The Charleston Trust

Mas a instrução nada mais é do que uma declaração de moda. O desdém pelos códigos de dress code, a auto-expressão irreverente de pintar diretamente em lareiras e batentes de portas e o famoso berço de gato não convencional de relacionamentos entre Vanessa Bell, Duncan Grant e o amante de Grant, David Garnett, tudo floresce da mesma raiz de pensamento livre. Estar num dos quartos exuberantemente pintados de Charleston é sentir o quanto os habitantes amavam e celebravam o mundo das ideias; para ser revigorado por sua robusta interrogação da tradição. E há algo de muito moderno na maneira como os Charlestonians refizeram sua casa à sua própria imagem, pintando diretamente em guarda-roupas e cabeceiras sem limites entre arte e vida. A casa é, de certa forma, uma gigante – e gloriosamente não filtrada – selfie do grupo Bloomsbury.

.... (artigo completo aqui

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Muito interessante o vídeo abaixo

(Tem legendagem em português)

Exploring Charleston House: An Expression of Early 20th-Century Art 

| Houses with History

House & Garden presents Houses with History from Charleston House. Join Lucy Hammond Giles, Associate Director at Sibyl Colefax & John Fowler, as we tour Charleston House, once home to artists Vanessa Bell and Duncan Grant.

Vanessa and Duncan saw no particular distinction between art and interior design, and  treated the house as a canvas, painting practically every wall and piece of furniture in their own distinctive styles. As a result, the house is not only a significant piece of art history, but a landmark in the history of interior decoration. Watch the full video, as Lucy provides her unique perspective as a decorator whilst we explore this historic house.


Desejo-vos um dia feliz

Saúde. Ideias desempoeiradas. Paz.

segunda-feira, agosto 14, 2023

Os mistérios de Banksy

 

Faz já há algum tempo que aqui não falava de Banksy esse fantástico artista. Não é apenas o seu sentido de oportunidade, a simplicidade e, ao mesmo tempo, a acutilância das suas obras, a coragem de as efectuar tantas vezes em locais arriscados, o sentido poético que tantas vezes imprime aos seus trabalhos -- é também a forma como exige que o seu trabalho seja apreciado independentemente de quem o concebe e executa.

O vídeo abaixo fala disso. Está legendado.

The mysteries of Banksy

Montar a primeira exposição autorizada em 14 anos de obras do artista de rua anónimo Banksy exigiu um planeamento extenso e a elaboração de uma história para esconder sua verdadeira identidade até que ela fosse inaugurada, sem aviso prévio, em Glasgow neste verão. O correspondente Seth Doane explora a arte e os mistérios do mundo de Banksy, incluindo a contínua especulação sobre a verdadeira identidade do artista, um segredo guardado a sete chaves por décadas.


Cultivar flores extravagantes em vasos

 


Adoro jardins mas não tenho a disponibilidade e a persistência para me ocupar diligentemente deles. Cuido de uns quantos vasos e de uns dois ou três pequenos canteiros mas, mesmo assim, pouco mais do que o básico.

Mas gosto de ver os jardins dos outros, os parques, as zonas floridas. E gosto de ver vídeos sobre jardins e jardineiros. Fico com vontade de ter a disciplina para todos os dias me dedicar a podar, dispor, aparar.

Este jovem, tão novinho, parece ter verdadeiro gosto por flores, por bem combinar as cores, os movimentos.

Grow Flamboyant Flowers in Containers with Arthur Parkinson

Com a sua capacidade incomparável de cultivar jardins lindos e profundamente coloridos em canteiros elevados e floreiras, Arthur Parkinson tornou-se rapidamente conhecido como a estrela em ascensão do mundo da jardinagem no Reino Unido.


Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Paz.