quarta-feira, agosto 23, 2023

Trabalhos esforçados, terra tristemente seca.
E, para lavar a vista, uma casa numa terra junto ao rio.

 

Desde que me lembro, mal dou por mim e, nem sei bem como, estou cheia de trabalho. Caia-me em cima, atraía, pediam-me, via-me compelida a, não tinha como dizer que não. Agora a conversa é outra. Agora é trabalho engendrado por mim. Meti na cabeça fazer uma coisa e não dou mãos a medir. Tem sido o dia todo, dia após dia, noite adentro. Intervalo para o essencial e para os compromissos e obrigações familiares e domésticas mas, mal consigo, aí estou eu atirada à minha empreitada.

Não sei no que vai dar, e seria, para mim, muito decepcionante se não desse em nada. Conhecendo-me como me conheço, vou lutar. Vou lutar tentando encontrar uma porta aberta nem que para isso tenha que percorrer mil estradas, subir mil degraus, voltar atrás mil vezes para encontrar outros caminhos, bater mil vezes a mil portas. . Vou lutar e, se o faço, é porque tenho esperança de conseguir chegar a bom porto. 

Talvez houvesse formas mais fáceis de lá chegar mas quero ir pela via complicada. E não é por ser masoquista, é por ser a via que me agrada, a via que me faz sentido. 

E, nos trabalhos esforçados em que ando, tenho descoberto coisas de que me tinha esquecido, tenho tido muitas surpresas. Tem sido muito interessante. Gostava de um dia poder partilhar convosco tudo o que ando a fazer e tenho esperança que um dia isso venha a acontecer. 

Entretanto, temos estado, in heaven, a limpar o terreno. Sempre muito a contragosto, sempre com pena de cortar um pé de alecrim que seja, sempre a achar que estou a fazer atentados contra a natureza... mas, tanta a secura da terra, tanta a míngua de água e a tristeza de ressecamento em que está tudo que me rendi. Claro que agora tivemos que interromper pois com tanto calor não se podem usar máquinas. Mas a terra está outra, irreconhecível. Todos me dizem para não estar tão desgostosa pois em vindo a primavera tudo há-de rebentar e tudo há-de ficar outra vez verdinho. Tomara. Tenho imenso medo que os orégãos, o rosmaninho, o alecrim, a sálvia, o tomilho e tudo o mais desista de ressuscitar. Mas reconheço que um campo cheio de vegetação tão tristemente ressecada era um perigo. Tínhamos cortado o máximo mas o meu máximo não é o que os entendidos consideram seguro. 

Não chove, não há humidade. As próprias árvores se ressentem. Um cedro gigante morreu. Outro mais pequeno também. Vejo os outros com as pontas secas. Dói-me o coração olhar para eles e não poder fazer nada. 

A falta de chuva e estes calores extremos são um perigo e eu só espero que estejam na forja projectos a sério, ousados, marcantes, para contrariar minimamente o desastre que avança a passos largos sobre nós.

Estive a ver o vídeo abaixo e ver aquela água, aquela vegetação verdejante, encanta-me. Quem tem a sorte de viver em lugares mágicos assim, saberá a sorte que tem?

In Residence: Mattia Bonetti

Paris-based artist and designer Mattia Bonetti's waterfront retreat by Lake Lugano in southern Switzerland.

Bonetti’s furniture, lighting and objects can be found in the collections of the Centre Pompidou in Paris, the Cooper-Hewitt National Design Museum in New York, and the Victoria & Albert Museum in London, among others. Most recently, Bonetti presented a selection of new works in London through his gallery of more than thirty years, David Gill. 


Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Bons ares. Tranquilidade. Paz. 

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