Dias de férias. Não tem havido horários, rotinas ou compromissos.
Tenho tratado de algumas coisas, tenho organizado outras (porque isto com o computador nas mãos consegue tratar-se de muita coisa), mas, de modo geral, durmo até à hora em que acordo espontaneamente, almoço às horas que calha, faço o que me dá na realíssima gana. Chego a não saber qual o dia do mês ou da semana em que estou e, geralmente, também não sei que horas são.
O cão também anda à vontade, não há horas para passeios. Sai e entra quando quer.
Não vejo um noticiário de seguida há vários dias (melhor: há várias semanas). Se espreito as notícias, nada desperta a minha atenção. Passo de raspão, desinteressadamente.
[Ou melhor, dito de outra maneira, mais verdadeira: as que despertam a minha atenção têm a ver com desgraças de dimensão quase apocalíptica, muito para além do que a minha limitada dimensão humana consegue abarcar].
Tenho lido, ouvido música, visto vídeos. Isto para além de caminhar em silêncio ou fazer uma coisa que descobri e que tenho achado o máximo: deito-me à superfície da água, braços e pernas abertas e deixo-me estar a flutuar, a olhar o céu, sem pensar em nada. Quando interrompo, tenho que me deixar estar um bocado, devagar, para que os fluidos voltem a circular dentro de mim pois parece que toda eu fico em stand by enquanto estou naquilo. Pressuponho que seja a isso que se chame meditar.
O meu marido perguntou-me porque é que também não faço férias no blog. Não soube responder. Parece que, em boa verdade, ainda estou a aprender a ter férias-férias, parece que ainda não consigo, bem, desligar-me completamente de tudo. Claro que desligar-me mesmo é uma forma de dizer pois continuo a falar duas vezes por dia com a minha mãe e uma vez com cada filho. Mas isso não conta. Há cordões umbilicais que pulsam em qualquer circunstância.
Mas, no que se refere ao blog, de facto, este mês o número de visualizações tem sido consideravelmente reduzido face ao que costuma ser nos outros meses, tem dias que nem chega bem às mil e quinhentas visualizações. Mas, ainda assim, são quase mil e quinhentas as vezes que aqui vêm Leitores ver o que escrevi. Várias pessoas me escrevem a dizer que, mesmo que nem sempre concordando comigo, têm em mim uma companhia e que não passam sem vir ler o que escrevi. Embora não saiba dizer com rigor as razões que me impedem de aqui fazer férias, creio que a principal tem a ver com o respeito -- e estima -- por quem está aí, desse lado, a acompanhar-me.
Mas, claro, estando nesta onda zen, desligada do mundo, não tenho nada de especial para dizer...
A ver se amanhã consigo que o meu marido me sugira alguma coisa ou se, durante o dia, penso nalguma coisa que possa ter alguma ponta por onde se lhe pegue.
Sorry.
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A fotografia da autoria de Julian Elliott e que fui buscar ao Guardian, chama-se "Quiet Contemplation" e mostra: A Vietnamese woman sits in the front room of her house looking towards the window light, quietly contemplating her afternoon.
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Desejo-vos um bom dia
Saúde. Dias descansados e felizes. Paz.
:Viva, UJM.
ResponderEliminarTambém sou dos que diariamente, por vicio, ou curiosidade de encontrar um bom artigo que habitualmente costuma brindar o pessoal. Desde que me reformei, as férias têm outro paladar, por vezes até, um bocado insossas. Mas o que me leva a comentar hoje, foi uma situação que se me deparou, e à qual reagi de modo estranho, e pouco compatível, com a minha disponibilidade em aceitar tudo o que é diferente da minha cultura ou filosofia de vida.
Ao dobrar uma esquina para ir ao supermercado, cruzo-me com uma jovem vestida de "Hábito religioso preto"( podia ser de outra cor, não interessa) com cabeça e cara toda tapada, e apenas de olhos a descoberto, para "burca", só faltava tapar os olhos. Curiosamente, a minha reação instantânea, foi de incómodo, porque não gostei de cruzar com uma pessoa e não poder ver a fisionomia, o que me transportou para imagens de regimes talibãs . De imediato, questionei se uma democracia não devia proibir ocultação da cara? Quanto ao hábito religioso, nada tenho contra, as freiras, também o usam, e tudo bem . Agora, tapar a cara, é compatível num regime democrático aberto a todos os credos e filosofias politicas ? É pá, há coisas que não abro mão delas, e sobretudo, na defesa da cultura onde me eduquei e com a qual me sinto bem.
Evidentemente, que, por uma questão de principio de educação, sempre defendi o que era diferente na plena liberdade de existir, ainda que, por vezes, eu esteja a léguas desses comportamentos. Agora, há coisas que me são difíceis de aceitar. E esta de me cruzar com uma pessoa que não lhe vejo o rosto... Inquieta-me socialmente e me transporta para regimes que deviam ser banidas de vez em qualquer sociedade libertando as pessoas vitimas do ultraje talibã.