Sabe-me muito bem estar de férias sabendo que não vão acabar. Os meus colegas acreditavam que ia custar-me muito deixar de trabalhar. Diziam que não conseguiam ver-me 'aposentada', que isso era coisa que não encaixava na minha maneira de ser.
Pelo contrário, sempre me vi muito bem sem ter que aturar aquela pressão diária, sem ter reuniões, deslocações, visitas, apresentações, problemas para resolver, sem ter que andar a toque de caixa, com a agenda saturada, com telefonemas em contínuo, com mails a chover em permanência.
É muito bom ter pela frente uma página em branco e poder preenchê-la com o que me apetecer. Trabalhei ininterruptamente desde os vinte acabados de fazer até há poucos meses. Interrompi apenas quando tive os meus filhos, tendo trabalhado até às vésperas dos partos, e quando fiz a artroscopia aos joelhos e não podia andar. De resto, nunca estive de baixa. Férias, desde há muito que não conseguia gozá-las todas. Trabalhei de gosto, com empenho, com energia, com tudo o que tinha. Dei-me por inteiro e de livre vontade. Mas fi-lo sabendo que, quando chegasse a hora, fecharia a porta e fechada ficaria.
Animava-me a vontade de começar uma vida nova. O meu dia a dia continua a ser de trabalho e faço-o com a mesma vontade e energia, motivação e crença, com que, quando trabalhava, me entregava a novos projectos.
Estive a ouvir, com muito interesse, a entrevista na RTP 3 a João Luís Barreto Guimarães. Quando ouço pessoas assim, que sabem usar a palavra para construir poesia ou prosa, fico sempre um pouco espantada. Passado bastante tempo sabem o que escreveram, sabem porque usaram uma ou outra palavra, dizem que releram, refizeram, recompuseram. São aplicados, estudiosos da sua obra, têm explicação para o que fizeram. Quase todos são assim. E são bem sucedidos.
Se calhar, por ser o oposto, nunca serei bem sucedida.
Ao ler a biografia de Nelson Rodrigues, fantástico livro de Ruy Castro, leio que ele escreveu uma das suas peças mais conhecidas, elogiadas e bem sucedidas em poucos dias. Sentava-se a escrever e era de rajada. Sem revisão. De penalti.
E partia para outra.
Senti-me um pouco animada pois eu a escrever sou assim. Escrevo de seguida, muito rapidamente. Por acaso, depois, no fim, revejo e revejo umas três ou quatro ou cinco vezes, mas é na lógica das gralhas ou do acerto da pontuação. E, uma vez escrito, está feito, não leio mais. É assunto arrumado.
Não sou de escrever poesia. Não é o meu registo. No entanto, há para aí uns dois meses, deu-me para isso. Escrevi. De seguida. Não sei a que ritmo. Não sei se foi um ou dois poemas por dia ou mais. Uma coisa muito estranha. Não sei explicar.
Agora, ou ouvir o João Luís Barreto Guimarães falar da sua poesia e de como lima, apara, cose, tritura, borda, penteia, escova, corta e etc., os seus poemas, resolvi abrir o ficheiro com esses meus poemas. É que fiquei curiosa. Iria encontrar erros, falhas, aberrações? Li três poemas e não consegui ler mais. É como se me atingissem em cheio. Senti-me comovida, quase como se me atirassem contra uma parede, quase sem espaço para respirar. Não sei porquê. Para já é como se não tivesse sido eu a escrever. Já não me lembrava mas, lendo, relembrei-me. As palavras são minhas, sim, recordo tê-las escrito. Mas é como se não tivesse sido exactamente eu a escrever. Se alguém que saiba ler poesia os lesse talvez eu ficasse com vontade de chorar.
É muito estranho, bem sei.
Claro que, face a esta minha reacção, não me ocorreu reparar se estavam harmoniosos, limpos, devidamente aperaltados para verem a luz do dia. Fechei o ficheiro e não li mais.
Escrevo estas coisas com absoluta franqueza e temo que me achem um pouco louca. Se calhar sou. Se calhar não um pouco... mas completamente. Mas sou eu e eu sou assim.
E, por hoje, é isto. Não vou comentar sobre os putativos candidatos a PR que por aí andam a bandear-se contra um cenário pintado de cor de laranja. Não me assiste. Deu-lhes a coisa antes de tempo. Além disso, nenhum faz o meu género. Portanto, passo.
Espero é que se pense no que importa e não em tretas que só servem para encher as agendas mediáticas.
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Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Boa sorte. Paz.
Felicidades para as férias que não vão acabar!
ResponderEliminarSeria de publicá-los, aos poemas. Já que despertou a curiosidade…
ResponderEliminarOlá Anónim@ das férias,
ResponderEliminarObrigada pelos votos de felicidades para as férias grandes. Tão bom saber que estou de férias e que elas não vão acabar... No entanto, não é exatamente assim pois arranjo sempre maneira de trabalhar e faço-o com afinco. Mas, enfim, faço o que quero e não tenho quem me coloque a toda a hora contra a parede querendo que eu arranje soluções para os problemas que nascem debaixo dos pés. E levanto-me sem ter a semana carregada de reuniões de manhã à noite... E isso é um alívio incrível!
Obrigada. Dias felizes também para si.
Olá Anónim@ dos poemas,
ResponderEliminarNão posso fazê-lo pois, inconsciente como sou (teenager inconsciente até mais não... 😂) peguei neles e enviei para um concurso literário. Nem imagino como reagirão ao lerem aquilo...
Mas mesmo que não fosse isso, não sei se teria coragem de aqui os colocar. Tenho escrito aqui de tudo mas, vá lá saber porquê, parece que não conseguiria vencer o pudor de aqui me expor daquela forma. E não é que escreva sobre mim. Na maior parte deles, não é sobre mim que falo. Mas parece que é coisa muito cá minha, ideias muito decantadas. Não sei. É uma coisa estranha.
Não leve a mal.
Dias felizes para si.