sexta-feira, setembro 30, 2011

Ó Senhores Deputados Miguel Tiago do PCP, Heloísa Apolónia dos Verdes, e outros, tenham lá em atenção o dress code quando vão para a Assembleia da República, ok? Claro que há coisas ainda piores, olá se há: alô, alô João Casanova de Almeida e Nuno Crato!


Já uma vez aqui apelei a que alguém lá na AR dê umas aulas aos nossos digníssimos representantes quando ocupam o seu lugar como deputados, umas aulinhas de etiqueta (incluindo as obrigatórias referências ao dress code). Alguém lhes deveria explicar que a Assembleia é uma nobre instituição, que estão ali para representar o Povo, que devem honrar a função e o local com um mínimo de boa apresentação. Não peço muito, reparem, apenas um mínimo.

O Miguel Tiago é um belo rapaz, lá isso é verdade. Mas será que isto é maneira de se apresentar na Assembleia da República? Aquilo é lá deputado que se apresente? Assim estaria bem para curtir a night no Bairro Alto, para ir dar uma passeata até à Festa do Avante, uma coisa nessa base.

Ok? Estamos conversados?

Miguel Tiago, a caminho do Bairro Alto?

Claro que não é só ele. A pouco verdejante Heloísa Apolónia tem dias em que parece que vai fazer jogging, se não mesmo fazer uma faxina das valentes lá em casa. Vejo-a no 'excitex' do costume, toda enervada - mas, então, como prestar atenção àquela verborreia toda, quando se olha para ela e a vemos naqueles preparos?

Heloísa Apolónia, a caminho do jogging?

Please, façam lá um esforcinho, está bem? Não que eu seja muito elitista, juro que não mas, ó Senhores Deputados, há mínimos.



Mas também reparei na figurinha do Senhor Secretário de Estado João Casanova de Almeida. Claro que é mesmo dele, não ajuda muito. Mas as gravatas, senhores. Aqueles nós sempre da largura quase do pescoço. Também não está com nada, vamos lá a mudar de gravatas e a aprender a fazer outro tipo de nós, certo?

João Casanova de Almeida, como levar a sério a cara de mau com uma gravata destas?

Mas quando se pensa que não se pode piorar, piora, ai se piora.


Depois disto dos prémios para os miúdos, como é que eu posso continuar a dar-lhe o benefício da dúvida?

É que ainda pior que tudo isso foi a maldade, o disparate, a tolice, o absurdo, a indignidade, o ridículo de Nuno Crato ao autorizar que os prémios para os melhores alunos do Secundário fossem, à última hora, anulados.

Shame on you, Nuno Crato, shame on you.

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[Mas, meus amigos, não desanimem com a falta de jeito - a todos os níveis - que estes nossos ilustres políticos demonstram... Nada disso, vamos lá mas é arejar essas ideias.

Desçam para saber uma fofoca do Karl Marx, depois rumem a sul para saber dos meus carrinhos de Cuba e, finalmente, terão a recompensa: Música no Ginjal]

Karl Marx, o filósofo que escreveu O Capital sem ter posto os pés numa fábrica


No outro dia já vos falei de Sylvia Nasar e de Alfred Marshall. Contei-vos que li uma entrevista na qual ela fala do seu novo livro que resulta da investigação que fez sobre o papel dos economistas na história económica dos países.

Uma coisa que ela descobriu e que a surpreendeu - e a mim também - tem a ver com Karl Marx. Trancrevo livremente, traduzindo enquanto leio.





"Ao contrário de Marshall, Marx nunca tinha visitado uma fábrica quando escreveu O Capital.

De facto, em toda a sua vida apenas visitou uma fábrica: uma pequena fábrica de porcelana quando esteve numas termas na Checoslováquia.

Apesar da sua reputação de ser um grande cronista da Revolução Industrial e dos seus malefícios, ele era mais como aqueles que, hoje, são essencialmente compiladores (ou agregadores) de notícias da web.

A pior coisa de Marx é que ele começou com uma resposta e depois montou uma série de factos que suportavam a sua teoria.

Ele era, de facto uma pessoa afastada da realidade. Vivia em Londres que era o centro do mundo económico e intelectual, pertíssimo dos maiores génios que viviam nessa altura – George Elliot, John Stuart Mill, Charles Dickens – todos obcecados com assuntos económicos e que conversavam e debatiam entre si. No entanto ele nunca se relacionou com eles.

Ele já tinha decidido que o capitalismo estava podre, estava condenado. E o mais surpreedente é que tinha concluído isso a partir do Livro da Revelação.

Marx obteve todos os seus conhecimentos de economia, e o esqueleto da sua narrativa, a partir de Friedrich Engels que foi seu co-autor, seu benfeitor financeiro, e anjo da guarda para todo o serviço, incluindo perfilhando em vez dele um filho ilegítimo. Engels conhecia a Bíblia de trás para a frente e o Livro da Revelação era o seu favorito. E aí estava tudo: o mundo separando-se em dois grandes exércitos, o conflito fundamental, etc. Foi possível seguir esse fio através da correspondência que trocaram e da sua escrita.

Na altura em que viveram, Alfred Marshal (1842-1924), economista, e Karl Marx (1818- 1883), filósofo, Marshall era muito reputado e Karl Marx muito pouco conhecido."

Curioso, não é?
 
 
PS: E, sobre as teorias marxistas, desça um pouco, siga para sul onde se fala de Cuba e dos carrinhos que o meu filho me trouxe de lá.

Isaltino Morais foi preso? Finalmente? Pois bem, já não tenho paciência para a Justiça em Portugal, prefiro falar da autorização da comercialização de veículos em Cuba


Se há coisa que me dá pena ver é a imagem dos carros velhos, a cair de podres, em Cuba. Claro que poderemos apelar ao nosso lado romântico, sentir a nostalgia dos primeiros carros americanos, modelos antigos, com mais de 50 anos. Mas se as pessoas só usam estes carros não é por opção: é apenas porque em Cuba estava, até agora, proibida a comercialização de veículos. Aos nossos olhos ocidentais e consumistas, isto é absurdo, ridículo.

Pois bem, Raul Castro, finalmente abriu mais esta porta. A partir de hoje os cubanos já podem trocar de carro. É o lento mas inexorável fim do regime.

Há cerca de dois anos, o meu filho foi passear para aquelas bandas e trouxe de lá algumas peças de artesanato. São peças simples com que os cubanos tentam aumentar o seu diminuto pecúlio.

Dessas peças, destaco dois carros feitos em papier mâché, muito ingénuos, muito coloridos. Imagino, naquelas casas pobres, sem electricidade, alguém a desfazer jornais velhos, a fazer uma pasta, a modelar com cuidado, a pintar. Com o valor pago pelo meu filho, alguém comprou algumas coisas, para nós irrelevantes, para eles essenciais.

Os carrinhos cubanos que o meu filho me trouxe de presente

Ainda bem, fico feliz por eles, devem ter ficado todos contentes, já podem ter um carro novo.


Nota 1: Quero lá eu saber se o Isaltino, depois de recursos mil, foi agora preso? Se amanhã, conforme o advogado espera, já está cá fora? Estes romances pífios da nossa justiça já chateiam.

Hoje vinha no carro a ouvir que o caso do empresário que há 11 anos deu ou quis dar um jeep a cada um dos colaboradores, está agora em julgamento; que o psiquiatra diz que ele não estava bom da cabeça e mais não sei o quê. Mas, ó senhores, 11 anos depois?! Mas que raio de justiça é esta? Vou-me embora e já venho.


Nota 2: Por favor, não se fiquem por aqui. Desçam um bocadinho mais para levantarem o bilhete para a Música no Ginjal.

quinta-feira, setembro 29, 2011

MÚSICA NO GINJAL: Svetlana Zakharova In The Middle Somewhat Elevated

Hoje no Ginjal encerra-se a primeira semana desta temporada, a semana da Dança. E é um fecho que deixa já saudades.

Svetlana Zakharova é uma bailarina que consegue inexcedíveis extensões dadas as sua notáveis faculdades físicas e a sua perícia técnica. O resultado é sublime. 


Ela é um parte cavalo, parte pássaro, e, toda ela, uma fantástica mulher. Quando a música entra dentro de um corpo e circula mais forte que o sangue, aquilo a que assistimos é o momento especial que está hoje em cena nas Músicas no Ginjal. Svetlana actua a seguir à poesia de Sophia. Venham comigo, venham ver como ela diz em gestos a Andre Merkuriev 'Não somos nós dois mas um só mesmo'. Venham por favor.

O dia em Cavaco falou e não disse muito, em que Passos Coelho confessou que antes falou de mais, em que Durão Barroso, o cherne, subiu das profundezas e discursou apoteótico, em que um corretor disse que quem governa o mundo é a Goldman Sachs, em que os professores desfilaram nus, e ainda o meu ex-hamster Sebastião e outras coisas no dia de todos os prodígios


Pois é o que vos digo, meus amigos.

1. Chego a casa e só vejo resumos da entrevista de Cavaco Silva à Judite de Sousa (a quem a idade está a fazer francamente bem). Confesso-vos que não percebi onde é que ele quis chegar. Ora me pareceu um comentador como agora há aos milhares por todo o lado, ora me pareceu que estava a enviar mensagens para a troika, ora me pareceu que estava a tirar o tapete post mortem a Sócrates, coisa que não se faz.

Depois ouvi o comentador de Miguel Sousa Tavares e José Miguel Júdice e confirmaram que, tirando os capítulos em que falou como um professor de economia, o resto foi uma coisa não concretizada, uma coisa do tipo discurso contra os Açores que ninguém percebeu bem o que era aquilo.


2. A seguir vejo, na Assembleia da República, o nosso Pedrito Passos Coelho, que diz o que lhe vem à boca, a dar o dito por não dito sobre a Madeira, confessando que na vez anterior tinha falado de mais. Isto é apenas uma santa ingenuidade ou uma tontice inadequada a um primeiro ministro?


3. Agora estou a ver Alberto João a gabar-se da dívida, a dizer que se orgulha e que abençoada seja a dita.


Mas o dia hoje foi todo assim, cheio de coisas estranhas.


4. À hora de almoço, ia no carro, ligo a rádio e eis que ouço o impensável: um discurso inflamado, apaixonado, grandiloquente, palavras de vibrante tensão, um amor orgulhoso e declarado à Europa, e tudo num francês revolucionário, peito ao vento, mãos mobilizadoras, cabeça erguida. Distraio-me do trânsito, mais à frente abençoo um semáforo vermelho, ouço melhor, mas o que é isto?, parece-me a voz de Durão Barroso… mas os chernes não vibram assim. Levanto o som, apuro ou ouvido. Não precisa de lições, sabemos o que fazer, amamos a Europa, orgulhamo-nos de ser europeus (em francês inflamado). E eu de boca aberta.


É mesmo ele. Durão Barroso, o novo Pavarotti da política, o inflamado bardo, o novo GDECO, o revolucionário, é o sangue a saltar-lhe na veia tal como quando era da velha linha negra do MRPP.


Ele está de volta! O Obama que esconda a mobília que, quando o Durão está possuído assim desta inapelável maneira, é isso que ele costuma fazer: roubar a mobília de quem o aborrece. O camarada Arnaldo de Matos e a Ana Gomes bem nos contaram.

Mas os prodígios de hoje estavam longe de se ficaram por aqui. Passo os olhos pelas notícias e confirmo o meu receio do outro dia.


5. Esta coisa de as morgues não estarem equipadas com aqueles dispositivos que equipam agora uma up-to-date morgue na Turquia é coisa que nos deve preocupar. Vocês acham que estou com humor negro, ou que estou a ficar deprimida, a pensar em mortos e coisa assim. Nada, nada disso.

A questão é que li que, no Brasil, uma mulher de cerca de 60 anos estava morta, na morgue, dentro dum saco e que, sorte a dela, a filha teve que ir lá fazer o reconhecimento. E não é que - surprise! suprise! - a mãe ainda respirava. Lucky, lucky lady.


Não sei se se levantou e se foi pelo seu próprio pé. Sei é que foi para o hospital tratar-se, vivinha da costa.

Mas, quase aterrada, pergunto eu: e os outros? Aqueles que não estão ainda bem mortos e que, precipitadamente, alguém lhes atestou o óbito? E os que ressuscitam? Bolas, bolas, bolas, é que não quero nem imaginar. Acordam, friozinhos, se calhar sem muita força, e ninguém lhes acode, os vizinhos estão ainda piores, não ouvem nada, não dão alerta. E acabam por morrer mesmo, contrariados.

Em contrapartida, com os ditos sensores, alguém dava por isso e ia lá buscá-los. Além disso, se o morto ainda consegue andar, com aquele sistema de portas de abertura fácil, sai pelo seu próprio pé. É uma segurança.

Por acaso, no outro dia, à hora de almoço, vi um homem já com alguma idade, bem vestido mas com ar amarrotado, bengala, andar um pouco dificultado, cabelo branco e meio despenteado pelos ombros, barba branca um bocado comprida, hirsuta, tez ligeiramente amarela, e não tive dúvidas, até comentei, ‘olha, este teve sorte, conseguiu sair’.

«««»»»»  É que há enganos. Conto-vos um que aconteceu na minha casa.

Quando a minha filha era pequena, uns amigos nossos ofereceram-lhe um hamster dentro da respectiva gaiola, com a roda, tudo. Uma festa lá em casa. Os miúdos todos contentes. O hamster era uma alegria. Deram-lhe o nome de Sebastião. Davam-lhe de comer, ele afoitamente, ela mais a medo porque uma vez o Sebastião lhe deu uma dentada, faziam com que ele brincasse alegremente na roda, davam-lhe sementes, raçãozinha. Contudo, para limpar a gaiola tinha que ser o meu marido, que nós ficámos com medo de dentadas. E tinha que ser limpa todos os dias, porque o cheiro da urina era insuportável. O meu marido, aborrecido, ‘Sebastião para aqui, Sebastião para ali, tudo muito engraçado, mas quando toca a fazer o que ninguém gosta, sobra sempre para mim’.


Mas que podíamos nós fazer senão reconhecer o esforço e agradecer?

Até que um dia, tragédia. ‘Mãe, pai! O Sebastião morreu…!’ Lágrimas. Ela aflita, ele curioso. ‘E agora…?’. Lágrimas, ela. ‘Mãe, eu mexi-lhe e vi o Sebastião a esticar as pernas’. E eu, didáctica, ‘Chama-se esticar o pernil’. E lá estava o Sebastião, de olhos fechados, deitado de barriga para cima, perna aberta. O impudor da morte. Constatada a infeliz ocorrência, eu, maricas - ver animais mortos faz-me impressão - fui para longe. Pragmático, o meu marido ‘Agora o quê? Agora deita-se fora.‘. Isto um dia de semana à noite. Lágrimas, ‘Não, não se deita fora, coitadinho do Sebastião.’. Sugeriram um enterro, um momento de recolhimento, dignidade. Mas o meu marido, ‘Claro que se deita. Havíamos de ir agora de noite não sei para onde, às escuras? Num jardim público, íamos escavar num canteiro? estão malucos? Ou quê, ir para um pinhal às escuras, no meio da noite? Nem pensar’. E resoluto. ‘Não se preocupem, que eu trato do assunto’.

O prédio tinha conduta para o lixo e de noite o lixo era recolhido. E assim, enroladinho e fechadinho num saco, o Sebastião lá foi conduta abaixo. Lágrimas. Lágrimas.

Nesse fim de semana participámos o óbito aos padrinhos, isto é, aos amigos que tinham oferecido o Sebastião. Gritos, ‘Totós! Não está nada morto, está a hibernar, os hamsteres hibernam assim.’ E nós, cabisbaixos, ‘Não me digas! Credo… Coitado do Séba’ e as crianças petrificadas, ‘E agora…?’. Consternação. Pois, ‘Agora já não há nada a fazer…’.

Até hoje, ela não se conforma e a mim ainda me custa pensar no que fizemos. Precipitações nestas coisas dão disto.


Mas nestes dias de prodígios, não temos notícia só de um ou dois. Não senhor, Saltam, é às catadupas.

6. Na BBC, para perplexidade da entrevistadora e de quantos estavam no estúdio, um corretor, Alessio Rastani, declarou que crise é do melhor que há para eles, os corretores, os especuladores. Mais: que sonha todos os dias com a crise, que bom que é, tanto dinheirinho fácil que se ganha. Os da BBC de boca aberta, nem queriam acreditar, ‘querem lá ver que isto é para os apanhados…’. E o Alessio rematou, ‘Quem é que pensam que governa o mundo? É a Goldman Sachs!’.

Ou seja, uma má notícia para o Miguel Relvas e respectivos subordinados do governo que, coitados, pensavam que aquilo que andam a fazer há 100 dias é governar.


Muitos se têm interrogado: será que Alessio é mesmo corretor? Será algum cómico de serviço (Yes-Man)? Até ver, parece que é mesmo a sério, que é isto em que genuinamente acredita e até tem um blogue em que opina sobre estes e outros assuntos.


Pronto, já chega, dirão vocês.


7. Não, senhor: ainda há mais. Mas agora é um apelo ao Mário Nogueira, essa grande figura do professorado nacional. Na próxima vez que forem para a rua manifestar-se, como prova de solidariedade para com os colegas franceses, ‘professores de todo o mundo: uni-vos!’, acho que o dress code deve ser: 'underware, sff' ou 'lingerie, sff ' ou 'full naked, if you please'.

Professores manifestando-se contra as políticas francesas
Dizem que as austeridades estão a deixá-los assim, sem dinheirinho nem para a roupinha

Nunca fui a nenhuma manifestação mas a essa juro que vou assistir. É que tenho curiosidade em ver se o Mário Nogueira os tem no sítio. (Pardon my french)


Ainda tinha mais para desabafar mas, pronto, não vos maço mais. Tenham um bom dia, meus Amigos.

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Mas, meus Amigos, para que o dia seja ainda melhor, venham comigo até ao post abaixo para dali seguirmos até à
MÚSICA NO GINJAL
Hoje a convidada é Natalia Osipova, uma flying lady on fire.

MÚSICA NO GINJAL: hoje Natalia Osipova voa em Laurencia


Uma mulher ardente, forte, uma bela e enérgica ave que voa incendiando o ar à sua volta, atraindo para ela todas as atenções, todas as paixões. Laurencia, para ela, é um pretexto.


Venha comigo até ali, junto ao Tejo, onde o rio corre manso e o ar nos percorre em frescura: Natalia Osipova está na Música no Ginjal, logo a seguir a outra lady on fire, a Maria Teresa Horta. Vamos, está bem?
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quarta-feira, setembro 28, 2011

A principal causa da pobreza é a pobreza (assim diz Sylvia Nasar e assim pensava Alfred Marshall)

Em dia de canseira, e depois de já ter dado de beber aos outros blogues, estou com pouca energia para escrever muito.

Tendo estado a falar de uma fantástica Sylvie (no post abaixo e em Músicas no Ginjal), lembrei-me de partilhar convosco um pouco de uma entrevista que li no outro dia (a ver se tenho tempo de voltar a referir-me a ela, com o vagar que merece) não com uma Sylvie mas com uma Sylvia.


Sylvia Nasar, de 64 anos, além de jovial e bonita e de ter um sorriso bem disposto, é economista, investigou durante 4 anos com Wassily Leontiev, prémio Nobel, é autora da biografia, para além de ter vendido que nem pipocas e de ter recebido vários prémios, A Beautiful Mind: A Biography of John Forbes Nash, Jr., Winner of the Nobel Prize in Economics, que foi adaptado com sucesso a filme, e que contou com a brilhante interpretação de Russell Crowe, é actualmente professora universitária, responsável pela área de Business Journalism e escreve para a Fortune e para o New York Times.

Recentemente publicou um novo livro, Grand Pursuit: the story of economic genius.

A entrevista a que me refiro, foi feita por Rob Norton numa altura em que, sobre os economistas, toda a gente se interroga ‘se sabem tanto, porque não foram capazes de prever esta crise financeira?’.

No seu livro um dos aspectos em que incide tem a ver com a ligação das decisões de gestão ao desenvolvimento do país, em contraponto à ideia de que tem que ver com recursos naturais.

Sylvia exemplifica com o caso da Venezuela que tem das maiores reservas mundiais de petróleo e que em tempos já foi uma das mais prósperas nações da região e que agora, nos últimos doze anos, tem visto o seu nível de vida decrescer. Em contrapartida, o Chile, também um grande produtor de commodities e que apesar de ter problemas, detém um nível de vida consistentemente crescente desde 1970. Segundo ela, é a diferença entre um país em que o sector empresarial vai aumentando e a produtividade subindo, não descurando aspectos como a justiça e a redução da pobreza, e um que vive à beira do colapso.

Antes da Revolução Industrial a população não saía do mesmo sítio, não lia, não usava muta roupa, comia mal e morria cedo. Hoje isso acontece em algumas partes do planeta mas, na maioria, as diferenças são significativas.

E o que se conclui quando se analisam as curvas de progresso? Pois bem, conclui-se que não tem a ver com reservas de petróleo, com a dimensão da população ou do território, nem com a dimensão dos órgãos de estado (vidé, a este respeito, a comparação entre a Suécia e os Estados Unidos, que, neste aspecto, estão em polos opostos e que são ambas nações desenvolvidas).

O que é relevante é que exista um bom ambiente para o desenvolvimento estável e continuado de negócios.

Os negócios puxam pela produtividade e a produtividade permite ganhos no nível de vida.


Isto foi claramente entendido por Alfred Marshall (Londres, 1842 - Cambridge, 1924) que visitou muitas fábricas, falou com patrões e sindicalistas, observou métodos de tarbalho e percebeu que os países se desenvolvem quando as pessoas saem da pobreza.

Uma das coisas em que Marshall mais se focava (e talvez não por acaso tinha sido, em tempos, estudioso de ética), era na pobreza. Apoiava sindicatos, apoiava medidas contra a pobreza, apoiava a escola pública – e tudo isso era muito novo, na época.

Estava convencido de que as medidas contra a pobreza não afectariam os mecanismos de estímulo à produtividade, o que era uma coisa em que as pessoas acreditavam na altura. Algumas pessoas ainda pensam assim.


'A maior causa da pobreza é a pobreza', li.

E eu acredito nisto, profundamente. A pobreza gera pobreza. Permitir que as pessoas saiam da pobreza, não é só permitir que saibam o que é a dignidade, o orgulho, a motivação, o gosto pela vida, mas, neste contexto, é também permitir que consumam, que, consumindo, alimentem a economia, que façam descontos (em vez de consumirem subsídios), descontos com os quais se pode ter um estado social, equilibrado, sustentado, estado social este que ajudará a que ninguém viva na pobreza. Um ciclo virtuoso.

Não foi este o caminho seguido por Lula no Brasil? Na China? No fundo, pelos BRICs? Eliminando a pobreza (na medida do possível), promove-se o desenvolvimento.

E é este o caminho que eu acho que deveríamos seguir para desenvolver Portugal.



[Sigam agora, por favor, até ao post abaixo para verem a Sylvie francesa, bailarina]
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MÚSICA NO GINJAL - hoje Sylvie Guillem em D. Quixote

Hoje, no Ginjal, temos uma francesa especial.

Sylvie Guillem lança os movimentos no ar, sem tempo, sem peso. Forma uma estranha e magnífica geometria com os movimentos do seu corpo. Alonga-se e o seu corpo perde os limites. E a música, que percorre o seu corpo, desprende-se na ponta das suas mãos.


Convido-vos, meus Caros Leitores, a acompanharem-me neste prazer.  Sylvie pode ser vista logo a seguir ao poema do Emerenciano. Venham comigo.

terça-feira, setembro 27, 2011

Angela Merkel, a UE, o euro, os países incumpridores, a ameaça de perda de soberania - ... e que alternativas...?


Os meios de comunicação social noticiam hoje aquilo que estamos fartos de saber mas que nem ousamos balbuciar, quanto mais dizê-lo assim, loud and clear: Merkel defende a perda de soberania para os países que incumpram as regulamentações estipuladas.



Ultrapassou o défice? Portou-se mal? Não tem problema: alguém fará pelo país o que o país não conseguiu ou não quis fazer por si.

E a questão está nesse pequeno apontamento ('ou não quis') – porque uma coisa é um país ser governado por um bando de delinquentes ou incompetentes ou, mesmo, néscios da pior espécie e até poder ser boa ideia que alguém lhe deite a mão, e outra, bem diferente, é um país conscientemente optar por uma política diferente e, fazendo-o, arriscar-se a perder a soberania.

Há já algum tempo que venho temendo coisas destas.

A União Europeia é um exercício de vontade utópica e de wishful thinking. Ainda mais o é a união monetária. Aí, constatamos agora, foi aquela insustentável leveza do ser. Chegaram-se uns aos outros e, para ficarem mais quentinhos, ou mais parecidos, ou mais qualquer coisa, resolveram usar a mesma moeda. Mas a moeda é um instrumento estruturante num país. Ora, juntando-se países com culturas díspares, níveis de crescimento e produtividade díspares, mecanismos regulatórios díspares, base de partida díspar, tudo díspar, e todos a usarem a mesma moeda só podia mesmo dar nisto.


É a mesma coisa que colocar numa mesma corrida, com um único regulamento, a Jessica Augusto, a Rosa Mota, a Aurora Cunha, a Teresa Guilherme, a minha vizinha do 2º andar que tem 20 anos, eu própria e mais umas quantas escolhidas ao acaso (e isto mantendo o critério de serem todas mulheres, porque podia até incluir homens). O resultado está à vista. Uns derreados, de gatas a meio da prova, outros, um pouco mais à frente, a atirarem-se estendidos para o chão, e alguns ainda mais ou menos frescos.


Face a isto o que se faz?


  • 1 - Interrompe-se a corrida por manifestamente não existirem condições para a levar a cabo?
Interrompe-se…? Mas isso é assim? Depois deste esforço todo, interrompe-se? E o dinheiro que já se gastou com isto tudo, quem é que o paga? E quem suportará as despesas até que estejam todos em condições, se é que alguma vez o vão estar?, gritarão alguns.

  • 2 - Retiram-se (em maca) apenas os que ficaram exauridos pelo caminho e os outros prosseguem?
E o que acontece a esses? Quem lhes paga os tratamentos? Quem os mantêm e até quando?

  • 3 - Os mais fortes pegam nos mais fracos ao colo e prosseguem, sendo que, desta forma, os mais fracos deixam de contar e passam a ser meras excrescências dos mais fortes?
Mas não acontecerá que os mais fortes também não vão conseguir acabar a prova, pois, com outro ao colo, facilmente se irão também abaixo das canetas?


 
»»»»»  Eu não sei qual a melhor resposta - mas acho que é isto que se está a passar.


Alguma decisão se vai ter que tomar – e a curto prazo – sob risco de os mais fracos fenecerem pelo caminho, até que chegue uma resolução.


Mas e as claques…? Vão ficar sossegadas, caladas, nas bancadas a ver o que se está a passar?

Ou saltarão para a pista, tentando impedir soluções que não lhes agradem, pegando-se à tareia com a comissão organizadora, com as outras claques?


Ou os mais fortes colocarão os seus seguranças em campo para reprimirem desacatos?


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E nem me apetece continuar com mais figuras de estilo porque aquilo de que estou a falar não me parece que seja ficção, parece-me antes uma antevisão do que pode estar para acontecer.

… A menos que alguém, um visionário qualquer, um líder forte, convincente, agregador, se levante e trace uma linha de rumo que permita pegar em fortes e fracos e arranjar pistas e regulamentos próprios para cada um. Talvez seja isto aquilo a que Mário Soares chamava a necessária Refundação da Europa.


Mas mesmo que um milagre desses acontecesse, são coisas demoradas e a crise está já aí, brava, dolorosa e, como todos antevêem e o ministro Vitor Gaspar vem avisando, tende a agravar-se (cá - mas também na Grécia, em Espanha, em Itália, ...).

Por isso, apesar de ficarmos chocados e com razão com a ideia da Angela (…há fantasmas ainda demasiado vivos) tenhamos bem claro que o que ela preconiza é uma das vias (no meu exemplo ali em cima, é a hipótese 3). Há outras mas, não aparecendo por aí um Messias, não sei qual a melhor.

É um jogo, este, em que temo que não haja vencedores.

Aqui andamos, Caros Amigos Leitores, a correr - mas para onde? Atrás de que miragem andamos nós?


Por isso, meus Caros Amigos, uma vez mais daqui vos lanço um apelo: velinhas, velinhas a todos os santinhos, já. Sempre acesas.



[E agora, meus Caros, não quero que fiquem aborrecidos. Desçam um pouco para recolherem a vossa entrada na 'Música no Ginjal' que hoje há beleza superlativa e não há melhor para afastar tristezas do que a beleza, do que a música. Desçam, por favor]

MÚSICA NO GINJAL - Svetlana Lunkina em Quebra-Nozes

E agora, meus Queridos Leitores, para que desanuviem e lavem a vossa alma, peço-vos que me acompanhem até à 'Música no Ginjal' que hoje continua com a grande dança.

De uma graciosidade quase irreal, Svetlana Lunkina leva-nos para lá, onde nos libertamos das amarguras quotidianas, o território da impossível beleza.


Jovem, bela, leve, apenas um ligeiro toque, apenas um suave sopro.

Venham por favor vê-la. Está a seguir ao Pedro Tamen. Empurrem esta porta, por favor.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Onde Manuel António Pina, Prémio Camões, fala acerca da Madeira e do bicho esquisito e lampo que a governa para cima de 30 anos, o jardinesco Alberto João


Hoje tirei da estante, ao acaso, um livro. ' Por outras palavras & mais crónicas de jornal' de Manuel António Pina. Abri ao acaso e, por estas curiosas coincidências que às vezes acontecem, a crónica da página em que calhou tinha por título 'Uma aventura à Madeira', escrita em 2006.

Não vou trancrever tudo mas apenas alguns parágrafos e não apenas desta mas das 4 seguintes, cujos títulos são, 'A Madeira outra vez', 2006, 'Bananas & Neologismos', 2006, 'Refundação da Gramática', 2009, e 'Tolerantes, 'mas'' de 2009.


"A Weltanschauung de Jardim divide o Universo entre quem não lhe dá dinheiro para carnavais e futebóis (os 'mafiosos', os 'fariseus' e as 'mulas da cooperativa', como era Guterres em 1997) e os 'homens intelectualmente honestos' (como passou a ser o mesmo Guterres depois de, em 1999, ter pago 610 milhões de euros de dívidas da Região).

Sócrates e o ministro das Finanças pertencem à primeira categoria, por pretenderem pôr cobro ao forrobodó orçamental da Madeira (1.522 milhões sem tecto!), assim revelando 'falta de patriotismo'.

Por isso Jardim já requereu ao ainda há pouco 'Sr. Silva' que os demita e forme um 'Governo de unidade nacional'.

Além disso, apanhando a boleia do Hezbollah, declarou, dizem os jornais, 'guerra aberta' ao Orçamento de Estado.

Todos para os abrigos, e cuidado com a carteira!"



"A Madeira sob governo do PSD é um caso típico de 'síndroma do Casal Ventoso': só se fala dela pelas piores e mais grunhas razões.

Agora foi um tal Coito Pita, anunciando que o partido de Jardim não permite que ali se comemore o 25 de Abril. Segundo o PSD isso seria 'inoportuno'.

É uma boa razão. Já há 30 anos, a saída de Salgueiro Maia e companheiros dos quartéis para restaurarem a democracia foi 'inoportuna'. Infelizmente, o PSD então ainda não existia, se não Coito Pita logo teria denunciado a falta de sentido de oportunidade dos capitães."


"Mais tarde ou mais cedo a palavra 'jardinesco' entrará nos dicionários (como entrou, por exemplo, o substantivo 'burgesso', do nome do nadador inglês T.W. Burgess, que atravessou a nado a Mancha em 5 e 6 de Setembro de 1911 e não seria, pelos vistos, homem particularmente notável pela finura de espírito).

'Jardinesco', adj, Grosseiro; grotesco; ignorante; lampo; diz-se de pessoa que se comporta de forma arrogante e espalhafatosa.

Do nome de um político madeirense do séc. XX e princípios do séc. XXI, será, ao lado de expressões como 'bastardos' e 'filhos da puta', a mais estimável contribuição de Alberto João Jardim para o enriquecimento da língua pátria."


"Parece que Alberto João Jardim esteve no Clube dos Pensadores em Gaia, a pensar em voz alta perante uma selecta e pensativa assistência sobre a 'Refundação da República'.

Sou dos que sempre pensaram, ao arrepio de muitos, que Jardim pensa, e o acontecimento veio confirmar as minhas suspeitas.

Infelizmente não pude testemunhar o fenómeno, mas a coisa prometia: 'o tema Refundação da República é algo interessante e tem haver, [vírgula] que é preciso dar a volta a este país' e Jardim 'vai referir-se a temáticas nacionais', pois 'a Madeira é um exemplo paradigmático de que é possível fazer coisas e, [vírgula] interessantes' "


"Às vezes pergunto-me se não gastarei cera de mais com Alberto João Jardim. Tento justificar-me com o facto de o meu interesse por ele ser meramente científico. Com efeito, observando Jardim sinto-me um como um biólogo debruçado sobre uma lamela de bicheza esquisita, possuído por uma curiosidade levemente divertida e não isenta de ternura."


Observação minha: Duvido que hoje, nas actuais circunstâncias, Manuel António Pina ainda usasse a expressão 'levemente divertida e não isenta de ternura' para se referir à forma como olha o Chefe do Governo Regional da Madeira. Eu, se me pudesse apropriar da frase, substituiria a parte final por 'possuida por uma imapciência já mal contida e não isenta de alguma fúria'




Manuel António Pina tem quase 68 anos , nasceu no Sabugal , formou-se em Direito e é escritor e jonalista. Em 2011 foi-lhe atribuído o Prémio Camões.

E, para terminar este post, e para manifestar o cansaço que todo este tema já nos causa a mim e a todos (como é possível que um sujeito como o Alberto João que desafia a lei, que desafia o decoro, se mantenha há tantos anos no poder?), permitam-me que aqui vos deixe o final do poema Farewell happy fields:

          É tarde. Ainda há um momento
          me apetecia conversar, agora estou outra vez tão cansado!
          Reparaste como o Outono este ano veio por outro lado,
          como se fosse pelo lado de dentro?


(de Manuel António Pina in 'Poesia, saudade da Prosa - uma antologia pessoal')

«»


PS: E agora, meus Caros, desçam um pouco mais que tenho um anúncio e um convite para vos fazer. Vamos?

MÚSICA NO GINJAL - Polina Semionova no Lago dos Cisnes abre a nova temporada


Esta semana dou início a uma alteração no meu blogue Ginjal e Lisboa, a love affair. Até aqui, intercalava os posts que continham um poema de um autor português, uma fotografia minha e um pequeno texto meu inspirado no poema, com um post de música portuguesa ou em língua portuguesa.

Estava, contudo, a sentir-me limitada na escolha e com vontade de mudar, mas a música não é área em que me mova com confiança.

Como por um destes dias o meu Caro Leitor -pirata-vermelho- me deixou aqui um comentário com uma sugestão que me agradou, e apercebendo-me que se trata de alguém que ama e conhece a música, desafiei-o. Quereria ajudar-me na selecção de músicas para o meu blogue?

Pois, depois de acertados alguns aspectos, eis que essa colaboração toma forma.

Não poderíamos começar de melhor forma: esta semana temos dança. 


Abrimos com o pas de deux Cisne Negro, de O Lago dos Cisnes, maravilhosamente interpretado por dois talentosos jovens, Polina Semionova e Friedemann Vogel.

Queiram, pois, por favor, deslocar-se até ali, mas vão com o coração aberto e a mente livre. Vamos voar.


domingo, setembro 25, 2011

Mas aquilo da Casa dos Segredos 2 é verdade ou é a brincar...? Estou agora a ver e não consigo perceber.


Uma chama-se Cleide, outra Fanny, outra Delphine, outra Cátia, outra Nádia; eles têm nomes mais civis mas estão tatuados de alto abaixo, falam de forma esquisita, e só dizem coisas do além. Agora um disse 'para mim, perder é matar-me', outro tinha dito que era Jesus e os outros choravam à volta dele, mesmo os mais calmeirões, um, louro, chorava baba e ranho e dizia que o que o outro dizia mexia com ele por dentro.


Depois há uma que parece a madona with the big bubbies e pronúncia do norte que anda de candeias às avessas com um qualquer porque ele se anda a atirar às outras, depois parece que andam todos agarrados uns aos outros, e têm um aspecto que parece que saíram nem digo de onde.


Neste momento há uma que chora e diz que 'sou assim, senão ext'riorizo, arrebento'. Outra, fula, 'diz que para ela, os outros estão mortos e enterrados' e é tanta coisa do género, que nem consigo aqui transmitir.

Será que isto é brincadeira do tipo 'O último a sair'? Ou é mesmo a sério?

Mas, depois de ver isto, percebo o que o Bruno Nogueira dizia no outro dia, que a gente, só de ver, corre o risco de apanhar herpes.

sábado, setembro 24, 2011

Luísa Barbosa e Bo Derek, gémeas separadas à nascença?


Luísa Barbosa, do 5 para a Meia Noite, a gémea monozigótica de Bo Derek
(embora, como não é raro, tenham nascido com um pequeno desfasamento)

Bo Derek, aqui Nota 10 e ainda no século passado: a gémea mais velha de Luísa Barbosa

Kate Moss, la Parisienne pour YSL

Não conheço mas presumo que cheire bem (refiro-me ao perfume). Mas não é pela publicidade até porque eu sou mais Chanel - e antes isso (enquanto posso) do que eu ser mais bolos. Mas Kate Moss neste filme faz pendant com a voz quente da Buika e, além disso, meus amigos, saudemos o início do Outono, a estação mais doce do ano. Vamos lá até Paris que, nesta altura do ano, é um charme.

Enjoyez!

Buika interpreta 'En Mi Piel'

Para uma noite de sexta-feira que entra pelo outono dentro, deixem que vos convide a deixarem-se envolver pela voz quente de Buika.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Bento Red Shoes: os alemães estão doidos, os fotógrafos não o largam. Uma verdadeira pop star.


Estão a fazer sensação. Os media andam doidos. Toda a gente quer ver. Juro. Não são Louboutins: são ainda melhores. Os outros só têm a sola encarnada e estes são todos, todinhos.


Dá para acreditar? Não são lindos? Onde arranjará ele sapatos tão fashion? Os alemães andam passados com isto. Acho que vai virar moda, mesmo. Nem sei se não tente arranjar já uns para o sector masculino da minha família. Iam adorar, oh oh.


Acham que é conversa minha? Que isto são manipulações que a esta hora da noite me deu para fazer? Então vejam lá.



Sob o signo da celeuma e sob muitos protestos (ah, a mancha larvar e sórdida da pedofilia), Ratzinger foi à Alemanha para apelar ao perdão, para lembrar as virtudes da religião e, como todo o filho que volta ao seu torrão natal, fez questão de mostrar que progrediu na vida e caprichou na toilette, nomeadamente nos sapatos.

Mas eu que sou opiniosa, e que dou opiniões a torto e a direito, daqui envio o meu conselho a Bento XVI: não quererá usar algo mais discreto, uns sapatinhos brancos apenas com um apontamento encarnado? Por exemplo, este modelito:


Estes nem são muito altos, são fresquinhos, parecem-me muito apropriados. Não são mais apropriados? Ou será que o Bento Red Shoes vai achar muito desmaiados, muito sem gracinha nenhuma?


PS: E do rouge sigam para o bleu. Desçam, por favor, ali está-se bem.

[Hoje estava com a ideia de vos falar do crash das bolsas (por cá, o afundanço foi da ordem dos 5%, uma desgraça, uma ruína), do abanão que todo o sistema financeiro está a sofrer cá e por todo o lado, das medidas americanas a fazerem uma corrente de ar danado por todo o mundo, do desequilíbrio tectónico a que estamos a assistir com as placas financeiras a (des)ajeitarem-se, com as assimetrias sociais a acentuarem-se, os ricos na América a verem a sua riqueza a crescer a dois dígitos enquanto les autres cada vez mais pobres, a recessão a avançar, com a Europa a parecer desintegrar-se, todos reféns uns dos outros, uma união de faz de conta, da criancice que é esta governação (cá, na Europa, por todo o lado) - mas olhem, cheguei tarde a casa, e, ao pôr-me agora aqui a escrever, não me puxou para as coisas desagradáveis. Se os meus amigos não gostam dos meus nonsenses (... mas isto dos sapatinhos encarnados do Papa estarem a fazer uma sensação é mesmo verdade, ouviram?) não me levem a mal mas, sabem, tem dias que só me apetece rir disto tudo e fazer de conta que temos razão para estarmos na boa. Sou uma alienada, é o que é.]

[E agora, que já estava a acabar, lembrei-me de outra coisa do além que vi nas notícias: então não é que, numa morgue nova na Turquia, vão instalar uns sensores electrónicos para que, quando os mortos acordarem, toque um alarme? E puseram uns fechos fáceis de abrir por dentro, para quando os mortos quiserem sair, não darem com uma porta que só abre do lado de fora - e ouçam: acham que estou a passar-me? que isto é invenção minha? Não: é verdade mesmo. O que significa que hoje, sem estes sensores e sem estas portas de abertura fácil, os mortos quando acordam não conseguem sair, nem ninguém dá por eles e não lhes resta outra solução senão morrer de vez. Triste. Espero bem que por cá adoptem esta tecnologia. Ai, minha vida...]


E não vos empato mais, vão lá então mergulhar no azul, it's Chanel time.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Sobre os insubstituíveis, sobre si, sobre a vida breve, sobre o tempo que foge


Depois de ter acabado de escrever sobre Júlio Resende que, tal como todos os artistas, era maioritariamente constituido por células imortais e que, por isso, para sempre viverá entre nós, pensei naqueles outros que, tal como eu e talvez você, não somos artistas. Somos simples mortais.

Pensei nas nossas agruras diárias, nas nossas angústias e expectativas, nas nossas ilusões e desilusões. É em mim e em si que agora estou a pensar e é sobre nós que agora vou escrever.

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Você, meu caro leitor, minha cara leitora, acha que vê as coisas melhor que os outros. Você acha os outros todos uns medíocres. Você, se mandasse, mudava tanta coisa. O seu trabalho, você fá-lo melhor que qualquer outro. Você acha que é importante, e acha que não lhe dão o devido valor, você acha que, no dia em que desaparecer, os outros vão notar a diferença, quem sabe até se o mundo não parará.

Ou então, não é isso, é o contrário. Você atravessa a sua vida, desperdiçando o pouco tempo de plateau que lhe foi reservado, com angústias, ansiedades, saudades, antipatias, invejas ou ciúmes, desconfianças. Você vive na ilusão de que um dia lhe darão valor, aparecerá a sua alma gémea, que um dia tudo vai mudar para melhor.

Pois, não sei.

Eu, pelo menos, não acho nada disso.

Acho que o que lá vai, lá vai. Acho que o que importa é aqui e agora. Acho que se quero, é melhor que seja já.

E tenho para mim que fazem falta os que aqui estão porque tenho visto que mal uma pessoa imprescindível vira costas mais ninguém precisa dela.

Não guardo ressentimentos, não desconfio, não espero milagres. Nada disso. O que quero é que aqui e agora seja bom e que não se faça nada que magoe os outros ou que comprometa a qualidade do futuro.

()()()()()()

Estou a escrever isto e estou a lembrar-me de duas pessoas imprescindíveis com quem tive relações pessoais e de trabalho.


O primeiro é um homem ambicioso, voluntarista. Nunca se detinha a pensar nos outros porque queria acima de tudo, ele próprio, chegar lá, sempre mais, sempre mais alto. Tive muitos antagonismos com ele. Não concordava com algumas posições que ele tomava e uma vez, quando ficámos sozinhos no gabinete dele, depois de termos estado reunidos com uma outra pessoa, cheguei a dizer-lhe que à minha frente ele não voltava a falar assim com ninguém. Zangas sérias as que tivemos. Era o protótipo do quero, posso e mando e à bruta. Com o tempo e com alguns revezes profissionais, foi ficando mais moderado, e acabámos a dar-nos bem. Era agora administrador numa multinacional. Com os filhos criados, tinha tempo para, a seguir ao trabalho e ao fim de semana, se dedicar aos desportos de que era adepto. É uma pessoa alta, com um físico jovem e invejável, ninguém lhe dava a idade que tem, perto dos 60, e a própria imagem física contribuía para impor autoridade e respeito. Pela sua maneira de ser, era um bocado centralizador, ainda um bocado prepotente, insubstituível, absolutamente seguro de si próprio. Um homem realizado e vigoroso e ainda vagamente temido pelos colaboradores.

Aqui há algum tempo vi na televisão a notícia de que um homem vinha do trabalho, estacionou o carro junto ao passeio à porta de casa, num bairro de Lisboa, e foi assaltado. O ladrão, que estaca encapuzado, tinha-lhe roubado o computador e fugido. E, como ele deve ter oferecido alguma resistência, deu-lhe dois tiros na cabeça.

Este homem forte, seguro, enérgico, voluntarista, ficou estendido no passeio a esvair-se em sangue.

Para minha estupefacção, soube no dia seguinte que o homem da notícia era ele. Podia ter morrido porque as balas ficaram alojadas na cabeça, algumas veias e artérias destruídas, perdeu muito sangue, uma desgraça. Esteve em coma, foi operado, manteve-se em coma, prognóstico absolutamente reservado. Vai morrer, preparem-se. Ou se sobreviver, ficará como morto.

Mas, forte como é, sobreviveu, recuperou a consciência, a lucidez. Está numa clínica a reaprender tudo, as coisas mais simples.

Na empresa tudo continuou normalmente, não se perdeu uma venda, não se aumentou um custo, não se perdeu um papel.


Um outro, também uma relação profissional, esta mais forte, grande empatia, admiração mútua, total confiança. Um líder. Um homem de visão, de estratégia, um empreendedor.

Por onde passou, deixou marca. E foram vários os sítios por onde passou, desde governos até à administração de grandes empresas, tudo sempre transformado em caso de sucesso, espaço cativo nos media, nas visitas oficiais. Insubstituível. Ultimamente um caso extraordinário de achievment, um exemplo a seguir. Planos para o futuro, mil. Expansão, diversificação, consolidação. Sempre a mil e assim é que se sentia bem. Com mil compromissos uns em cima de outros, viagens consecutivas e sempre fresco, sempre a saber de tudo, sempre com tempo para tudo, para uma graça, para conversar. Uma cabeça, uma energia, uma coisa que custava a acreditar. E também uma figura a nível físico, enxuto, ágil, alto, uma disposição que transparecia em todo o corpo.

Um dia chamam-no e dizem. Gostámos muito, não podia ser melhor, mas a partir do mês que vem já não contamos consigo.

Toda a gente pregada ao chão, Como? Porquê? O que aconteceu? Como é que é possível? Todos e ele próprio também, pregado ao chão. Mas não tinha acontecido nada. Apenas que, face a um rearranjo de portfolio, houve uma reestruturação noutra empresa, era necessário arranjar um lugar para outro, o que deixava um outro disponível para o qual era preciso arranjar poiso, e, mudanças em cadeia, acabou nele, dado que até já estava na idade, então adeus, bye-bye, gostámos muito deste bocadinho, foi óptimo, nunca lhe poderemos agradecer o seu excelente trabalho. Simples. Nada demais. É a vida.

E o homem fantástico, aquele que tinha mil compromissos durante 24 horas por dia, 7 dias por semana, de repente, sem aviso prévio e sem que nada o fizesse esperar, viu-se, assim, de repente, sem nada que fazer. Desapareceram as reuniões aqui, ali e acolá, o jet lag, os telefonemas, os jornalistas, as mil solicitações. Desapareceu tudo.

Claro que ficou vazio, atónito, sem chão, sem horizontes.

A empresa continuou a laborar normalmente, agora sob a orientação do novo presidente.

ooooooooooooo


É assim, meus Caros, a vida é injusta. Ah pois é. Mas nós temos que estar preparados para isso.

Recordemo-nos, a propósito, deste poema de Brecht:

A propósito da notícia da doença de um poderoso estadista
Se este homem insubstituível franze o sobrolho
Dois reinos periclitam
Se este homem insubstituível morre
O mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho
Se este homem insbubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
Não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.

oooooooo




Moral da história: meus amigos, vivam bem cada momento.

Não fiquem atormentados a pensar no que vos aconteceu, na injustiça que vos fizeram, porque isso são pensamentos que só servem para vos tirar a alegria de viver; nem vos iludais a pensar que amanhã é que vai ser bom porque sabemos lá se vai haver amanhã; nem se achem muito importantes, nem muito poderosos porque o poder e o prestígio são efémeros, porque 'todo o prestígio do mundo não vale uma noite de amor'.

Sejam bons, felizes, ajam de acordo com a vossa consciência, concedam-se o direito a ser felizes, procurem a felicidade, perdoem, sorriam, apreciem a vida, não hesitem, não temam.


E olhem, eu não sou nada, mas nadinha mesmo de andar a bater com a mão no peito, nem caridosa, nem beata, nada, nadinha, nem sou daquele género de andar etérea tipo peace and love, com livrinhos de auto ajuda e essas tretas que só servem para dar de ganhar dinheiro a quem as faz. Nada disso.

Mas penso isto, e até à data, não me tenho dado mal. Ou seja, por favor não se julguem eternos, não se julguem melhores que os outros, não se sintam vítimas, não se sintam devedores, nem credores, não se sintam medrosos, não se sintam cerceados pela opinião dos outros,não se sintam inseguros, mas também não se sintam impunes, não se sintam presos à monotonia de uma vida entediada. Façam o que vos apetece, arrisquem, vão à procura, estejam disponíveis, apreciem, ofereçam, recebam. Sorriam, riam. Divirtam-se. aproveitem a vida. Mas agora, já.


Be happy.


Um desenho simples, de cores suaves, tentativamente Julio Resende alike, para lhe dizer, meu amigo, minha amiga: nunca é tarde.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Júlio Resende, a suavidade das suas cores, a leveza das suas figuras


Tenho aqui ao meu lado dois pequenos quadros com coloridos suaves, infantis. Pequenas manchas, pessoas entre flores, uma mulher com um livro no regaço, um homem sentado ao longe, talvez, noutro uma mulher reclinada num quarto florido, num jardim, não sei. Manchas de cor, de ingenuidade, de um mundo puro.

Fotografei-os para vos mostrar mas o programa de edição de fotografia hoje não funciona, vá lá saber porquê.

Queria mostrar-vos para vos dizer que Júlio Resende está aqui comigo e aqui continuará. Os artistas estão onde estão as suas obras, vivem para sempre, estão entre quem ama as suas obras.

Por isso, vou à internet buscar uma imagem porque quero cores perto de mim quando falo dele.


Cores, sorrisos, flores, movimentos subtis, leveza, transparência, aragens suaves, luz, inocência: para sempre entre nós a gentileza da obra de Júlio Resende.

Elina Garanča interpreta Carmen (The Met Opera 2010-11 Season)

O Pirata-Vermelho hoje apareceu-me com a mesma senhora mas agora em versão morena. Avisou-me ele que Elina hoje estava danada para a brincadeira, toda dada a habilidades. Fiquei curiosa. E de facto, olhem que não é fácil cantar desta maneira e manter o corpo em insinuante movimento. É obra.

Vejam. Ouçam.

O buraco da Madeira, a entrevista de Passos Coelho a Vítor Gonçalves da RTP1 na qual tirou, e bem, o tapete ao Alberto João, rocks in heaven e o dia em que eu ia deitando a minha casa abaixo


Como é que se esconde um buraco negro do tamanhão do que se tem vindo a descobrir na Madeira? Inquietante. Quanto ao que se passa no Instituto do Desporto ainda não percebi. Falam sem conseguir usar uma linguagem precisa. Se se trata de facturas ainda não pagas, isso é o banal, não tem qualquer mal. Raras são as facturas que são pagas de imediato. Mas, do que percebi estão contabilizadas. Se for outra omissão, facturas escondidas na gaveta, será grave (embora coisa de ínfima dimensão).

Porque grave é a omissão, dado que provoca distorção de números, porque parece que isto é terra sem rei nem roque, uns mediterrânicos trafulhas, uma chafarica que nem contabilidade organizada tem - e é a vergonha em que isso nos deixa.

Quanto à entrevista de Passos Coelho, devo dizer que acho que esteve melhor do que eu estava à espera.

Claro e firme ao demarcar-se de Alberto João Jardim (que já reagiu, azedo), claro a responder às perguntas. Pena que o entrevistador fosse fracote. Mas enfim, lá foi perguntando e Passos Coelho, afável e directo, lá foi respondendo.

Por exemplo, gostei de ver a prudência pragmática com que abordou o assunto TSU.

A ver vamos.

Mas acho que esteve fraco quando assumiu que as despesas a cortar são as que Sócrates já tinha inscrito no orçamento de 2011 e que já vinha cumprindo. Não foi apenas para fazer o que Sócrates estava a fazer que ele foi eleito.

Também que esteve bastante fraco, débil mesmo, quando parece que não tem vontade própria e que se está a limitar a executar ou a divergir pontualmente da troika, não revelando quaisquer medidas integradas e concretas para relançar a economia que deveria ser, no momento, a grande preocupação (com a economia a definhar, a execução fiscal tenderá a enfraquecer e, de novo, mais uma dose de impostos - e o ciclo acelerará a caminho do zero, como já aqui o referi).

Teve também o que terá sido um deslize, ao deixar transparecer que estão em marcha negociações para renegociar a dívida, provavelmente pedindo um novo empréstimo. Não foi boa ideia dizer já isso. Os ditos mercados devem estar já com as orelhas a arder e vamos lá a ver se não vem aí mais um sobressalto.

Mas estamos a 3 meses do início e, abstraindo-me do que referi, surpreendeu-me pela positiva.

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De resto, estamos a viver uma situação deveras preocupante em que todos os dias caminhamos um pouco mais no sentido do empobrecimento, quando, pelo contrário, os povos deveriam caminhar sempre no sentido do desenvolvimento.

A situação mais que eminente de bancarrota da Grécia, provavelmente escamoteada através de um 'incumprimento controlado', a instabilidade financeira em toda a Europa, a fragilidade do euro, as condições impostas pelos chineses para 'ajudar', os avanços imparáveis dos angolanos e brasileiros, qualquer dia a tomarem conta disto tudo – tudo coisas que me incomodam e contra as quais me sinto espectadora impotente.

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Por isso, hoje não vou falar nisso para não me ia deitar aborrecida. Hoje vou falar de outra coisa. Vou falar-vos da minha casa, de que tanto gosto, o sítio do mundo onde melhor me sinto.

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No outro dia, ao ler a Marguerite Yourcenar referir que se podia sentir amizade por pedras, falei das muitas pedras que, in heaven, habitam o local e por quem sinto verdadeiro amor.

Já uma vez aqui o referi: o terreno foi, em tempos, uma pequena pedreira de onde era enviada pedra para as calçadas de Lisboa.


Por isso, nalguns locais a pedra está descarnada, à vista, noutros está coberta por uma fina camada de terra onde dificilmente medra qualquer coisa. Que, após anos de persistência, algumas árvores tenham vingado (depois de muitas, muitas, terem perecido) é quase milagre. Um senhor lá da aldeia uma vez, referindo-se àquela terra, dizia ‘Ah terra ingrata’. Eu sou incapaz de lhe chamar alguma coisa que soe a depreciativo pelo que direi que é, isso sim, uma terra que é preciso amar apesar das suas características. Está, em geral, absolutamente seca pois toda a água que lá cai infiltra-se imediatamente rocha abaixo e, passado pouco tempo, nem vestígio de gota de água.

Quando se quer cavar para plantar qualquer coisa só saem pedras e, frequentemente, são pedras tão grandes que se tem que desistir de ali tentar abrir algum buraco.

Por isso, o que lá nasce espontaneamente é mato bravio e das duas vezes que lá se meteu uma máquina a desbastá-lo e a alisar uma parte do terreno, a máquina, ao meter a pá ao chão para arrancar arbustos maiores, arrancou grandes pedras.

Lembrei-me então de dispor essas pedras de diferentes maneiras: umas como bancos, outras formaram uma mesa,


outras como belas esculturas naturais.  


Em dois locais lembrei-me de as colocar como bancos dispostos em círculo. Nunca nos sentamos lá mas eu tenho o hábito de, de vez em quando, me colocar no centro de um deles (o outro círculo tem uma pequena árvore ao meio) e, dali, olhar o céu.


Curiosamente alguns anos depois de se ter feito esta ‘instalação’, li que o feng shui identifica que isso se torna um local particularmente auspicioso, um local quase mágico onde convergem as forças do universo, um local que transmite força a quem está no seu interior. E eu acho que sim.

Quando, há muitos anos, adquirimos esta casa no meio do mato, a casa já tinha a configuração que tem hoje. Um núcleo constituído por uma pequena construção muito antiga (secular, dizem) e, encostado, um ‘acrescento’. A parede interior desta parte mais recente é a parede exterior da parte antiga. Ora, essa dita parede tem para cima de um metro e meio de largura.

Como eu tinha falta de estantes (problema recorrente na minha vida) e como também tinha falta de espaço para as colocar, tive uma ideia luminosa: no corredor, escavar uma parte da dita parede e embutir umas prateleiras, transformando em estante a cavidade assim aberta. Bastaria cerca de 40 centímetros de profundidade.

O meu marido não achou nada bem não apenas porque era pó, sujidade e maçada de obras dentro de casa mas, sobretudo, porque a construção é antiga, não se sabia se era inócuo escavar. Mas eu, nestas coisas, sou persistente, maçadora mesmo, e tanto insisti que ele acabou por condescender, embora muito contrariado. Chamámos um pedreiro lá da aldeia. Estranhamente o senhor também se mostrou desconfortável dizendo não saber o que se ia encontrar na parede.

Eu não percebia tanta hesitação. A parede tem uma espessura tal que mesmo retirando-lhe, numa pequena extensão, uma dentada de 40 cm, ficaria ainda com mais de 1 metro de fundura. Qual o problema?

Mas o pedreiro coçava a cabeça e o meu marido já queria desistir. Cedi parcialmente, fazer-se-ia então uma coisa pequena, em vez da larga estante que eu tinha imaginado, quase ao longo de todo o corredor, apenas duas aberturas de 80cm de comprimento por cerca de 2 metros de altura e os tais 40 cm de profundidade, separadas também por 80 cm de parede, como se fossem duas estantes ao alto, inseridas na parede.

Deixámos a chave com o senhor e ele faria o trabalho durante a semana. Depois colocar-se-iam lá dentro prateleiras de madeira e umas portas de madeira com vidrinhos para minimizar a entrada de pó.

A semana passou.

Quando lá chegámos na sexta-feira seguinte, à noite, ia-me dando uma coisa.

À porta da casa estavam umas pedras monstruosas que dificilmente adivinhávamos de onde tinham aparecido.

Sem percebermos o que era aquilo, entrámos em casa. Um cheiro a humidade pouco usual. Uns cartões no chão até ao corredor. As ditas cavidades já lá estavam e já estavam cimentadas, embora ainda em tosco. Grandes tábuas escoravam as paredes assim revestidas, apoiando-se nas paredes contrárias do corredor e no chão.

O meu marido, contrariado, já me recriminava, ‘coisas que tu arranjas; mas se não levasses a tua avante, não descansavas’.

No dia seguinte logo de manhãzinha, apareceu o pedreiro. Ainda preocupado, dizia, ‘Sabem lá o que foi isto aqui. As paredes são todas feitas destes grandes pedregulhos, uns por cima dos outros. Não foi possível tirar só os 40 cm que os senhores queriam, para sair tinham que sair as pedras inteiras. Ficou aqui um buraco que nem queiram saber. O que a gente aqui penou. E o pior foi para conseguir tirar as pedras pela porta. Teve que se tirar a porta, teve que se chegar aqui à porta um carro com guincho, teve que se montar aqui umas alavancas para as conseguir pôr a jeito e passar uns cabos e foi mesmo à justa que se conseguiram tirar cá para fora sem ter que partir a parede que dá para fora. Estava a ver que eu e os meus ajudantes não dávamos conta disto. E agora já enchemos o buraco e está todo escorado para suster as pedras que se apoiavam nas que saíram’.

O meu marido olhava-me recriminador e eu assustada. A medo perguntei, ‘mas há risco de a casa se desmanchar toda…?’. O senhor disse-me que o medo deles ao retirar aquelas grandes pedras era que acontecesse uma desgraça dessas e que fizeram com muito cuidado, partindo dos lados para terem pontos de apoio para escorarem antes de as retirar, que fizeram esse trabalho com o credo na boca.

Isto já aconteceu há mais de 10 anos e está tudo bem, nenhuma desgraça aconteceu mas, quando penso nisto, ainda sinto um susto, o medo que a casa se tivesse desmoronado. É que vocês não estão a ver o tamanho das pedras que de lá saíram.

Colocava-se depois a questão: então e agora o que é que se faz a estas pedras?

O meu marido, sentido prático, atalhou logo, ‘é carregá-las daqui para fora, aí para um sítio qualquer, onde não estorvem a passagem’.

Mas eu, claro, que ‘nem pensar’. Pensei logo que era uma pena não lhes dar um aproveitamento condigno e, então, imaginei colocá-las num recanto das traseiras, onde existe um muro e umas azinheiras e fazer uma espécie de jardim zen. Colocava gravilha no chão e poder-se-ia ir para lá meditar.

Nova crise. ‘Jardim zen?! Só parvoíces! Sempre quero ver quantas vezes vais para lá meditar. Levam-se mas é lá para baixo e acabou-se.’

E eu que não, que não, perdíamos o rumo a essas pedras (e o meu marido ‘E então? Qual é o problema? Não são iguais às outras todas? Não inventes mais chatices! E só gastar dinheiro para nada’) e eu na minha, que jardim zen é que era mesmo bom.

Só que o dito local onde eu imaginava o jardim zen é do outro lado da casa, num recanto muito complicado. Ter-se-ia que levar as pedras por fora e entrar por um portão lateral e era difícil chegar com a camioneta onde eu queria.

Os meus filhos nisto eram relativamente neutros, mas pendiam mais para o lado do pai, parecia-lhes mais razoável, e também se assustavam com os sarilhos que estas manobras sempre envolviam. Máquinas para içar as pedras, pedras para cima do estrado de uma camioneta, máquina para desiçar – mas isso tinha que ser feito de qualquer maneira, excepto a última operação, se fosse apenas despejar ‘à balda’ (‘tinha que ser feito de qualquer maneira, dizes tu, porque se não nos tivesses metido nesta complicação toda, só para fazer 2 estantes que eram dispensáveis, a esta hora não andávamos aqui metidos nesta trapalhada de nos vermos livres de pedregulhos do tamanho de uma casa’, remoía o meu marido)

Mas depois de muita luta, lá consegui levar a minha adiante. Pois bem. Na semana seguinte já lá tinha o meu jardim zen e já lá tinha também o senhor a explicar como tinham todos suado as estopinhas para conseguir fazer o pretendido. O meu marido abanava a cabeça, censurava-me, censurava-se por ter alinhado numa aventura daquelas, todos achavam uma excentricidade incompreensível. Os pedreiros então, gente do cammpo, que nunca tinham ouvido falar no tal de jardim zen.

O meu marido voltou à carga: ‘Depois disto tudo eu sempre quero ver quantas vezes te vou lá ver a meditar’.


Passados mais de 10 anos, continua com essa conversa. Ainda não engoliu a ideia. ‘... Jardim zen…!’ ou então, provocador, gozão, 'então, não vais meditar para o jardim zen...?'

Pois... Mas eu não sou data a meditações, o que é que hei-de fazer?

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PS: De qualquer forma, para vos ajudar a vocês a meditar, sugiro que me acompanhem até à sala abaixo, vamos ouvir a loura 'Elina de Riga', vão já fechando os olhos para ouvirem melhor e, descendo um pouco mais, a seguir vamos até onde se fala e vê chocolate. Nham, nham.... Bon apetit.