segunda-feira, setembro 26, 2011

Onde Manuel António Pina, Prémio Camões, fala acerca da Madeira e do bicho esquisito e lampo que a governa para cima de 30 anos, o jardinesco Alberto João


Hoje tirei da estante, ao acaso, um livro. ' Por outras palavras & mais crónicas de jornal' de Manuel António Pina. Abri ao acaso e, por estas curiosas coincidências que às vezes acontecem, a crónica da página em que calhou tinha por título 'Uma aventura à Madeira', escrita em 2006.

Não vou trancrever tudo mas apenas alguns parágrafos e não apenas desta mas das 4 seguintes, cujos títulos são, 'A Madeira outra vez', 2006, 'Bananas & Neologismos', 2006, 'Refundação da Gramática', 2009, e 'Tolerantes, 'mas'' de 2009.


"A Weltanschauung de Jardim divide o Universo entre quem não lhe dá dinheiro para carnavais e futebóis (os 'mafiosos', os 'fariseus' e as 'mulas da cooperativa', como era Guterres em 1997) e os 'homens intelectualmente honestos' (como passou a ser o mesmo Guterres depois de, em 1999, ter pago 610 milhões de euros de dívidas da Região).

Sócrates e o ministro das Finanças pertencem à primeira categoria, por pretenderem pôr cobro ao forrobodó orçamental da Madeira (1.522 milhões sem tecto!), assim revelando 'falta de patriotismo'.

Por isso Jardim já requereu ao ainda há pouco 'Sr. Silva' que os demita e forme um 'Governo de unidade nacional'.

Além disso, apanhando a boleia do Hezbollah, declarou, dizem os jornais, 'guerra aberta' ao Orçamento de Estado.

Todos para os abrigos, e cuidado com a carteira!"



"A Madeira sob governo do PSD é um caso típico de 'síndroma do Casal Ventoso': só se fala dela pelas piores e mais grunhas razões.

Agora foi um tal Coito Pita, anunciando que o partido de Jardim não permite que ali se comemore o 25 de Abril. Segundo o PSD isso seria 'inoportuno'.

É uma boa razão. Já há 30 anos, a saída de Salgueiro Maia e companheiros dos quartéis para restaurarem a democracia foi 'inoportuna'. Infelizmente, o PSD então ainda não existia, se não Coito Pita logo teria denunciado a falta de sentido de oportunidade dos capitães."


"Mais tarde ou mais cedo a palavra 'jardinesco' entrará nos dicionários (como entrou, por exemplo, o substantivo 'burgesso', do nome do nadador inglês T.W. Burgess, que atravessou a nado a Mancha em 5 e 6 de Setembro de 1911 e não seria, pelos vistos, homem particularmente notável pela finura de espírito).

'Jardinesco', adj, Grosseiro; grotesco; ignorante; lampo; diz-se de pessoa que se comporta de forma arrogante e espalhafatosa.

Do nome de um político madeirense do séc. XX e princípios do séc. XXI, será, ao lado de expressões como 'bastardos' e 'filhos da puta', a mais estimável contribuição de Alberto João Jardim para o enriquecimento da língua pátria."


"Parece que Alberto João Jardim esteve no Clube dos Pensadores em Gaia, a pensar em voz alta perante uma selecta e pensativa assistência sobre a 'Refundação da República'.

Sou dos que sempre pensaram, ao arrepio de muitos, que Jardim pensa, e o acontecimento veio confirmar as minhas suspeitas.

Infelizmente não pude testemunhar o fenómeno, mas a coisa prometia: 'o tema Refundação da República é algo interessante e tem haver, [vírgula] que é preciso dar a volta a este país' e Jardim 'vai referir-se a temáticas nacionais', pois 'a Madeira é um exemplo paradigmático de que é possível fazer coisas e, [vírgula] interessantes' "


"Às vezes pergunto-me se não gastarei cera de mais com Alberto João Jardim. Tento justificar-me com o facto de o meu interesse por ele ser meramente científico. Com efeito, observando Jardim sinto-me um como um biólogo debruçado sobre uma lamela de bicheza esquisita, possuído por uma curiosidade levemente divertida e não isenta de ternura."


Observação minha: Duvido que hoje, nas actuais circunstâncias, Manuel António Pina ainda usasse a expressão 'levemente divertida e não isenta de ternura' para se referir à forma como olha o Chefe do Governo Regional da Madeira. Eu, se me pudesse apropriar da frase, substituiria a parte final por 'possuida por uma imapciência já mal contida e não isenta de alguma fúria'




Manuel António Pina tem quase 68 anos , nasceu no Sabugal , formou-se em Direito e é escritor e jonalista. Em 2011 foi-lhe atribuído o Prémio Camões.

E, para terminar este post, e para manifestar o cansaço que todo este tema já nos causa a mim e a todos (como é possível que um sujeito como o Alberto João que desafia a lei, que desafia o decoro, se mantenha há tantos anos no poder?), permitam-me que aqui vos deixe o final do poema Farewell happy fields:

          É tarde. Ainda há um momento
          me apetecia conversar, agora estou outra vez tão cansado!
          Reparaste como o Outono este ano veio por outro lado,
          como se fosse pelo lado de dentro?


(de Manuel António Pina in 'Poesia, saudade da Prosa - uma antologia pessoal')

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PS: E agora, meus Caros, desçam um pouco mais que tenho um anúncio e um convite para vos fazer. Vamos?

2 comentários:

  1. Porque é que insiste em propagandear um chic'esperto abrutalhado e perigoso?

    A sua denúncia não denuncia.

    Talvez desabafe e ajude a suportar a indignação
    mas
    em lugar público como este,
    promove, mais do que apeia.

    O alarve ou vai preso ou vai acontecer o que é habitual, por ordem de e beneficiando quem detem o poder moderno - 'os alarves do dinheiro'.
    (embora haja também 'os do dinheiro' que não serão tão alarves...)

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  2. Insisto, Pirata, embora também já farta, porque está a decorrer a campanha eleitoral e provavelmente este homem que há anos vem mostrando, alto e bom som, que goza com isto tudo, que desobedece, provoca, desafia, desacata, vai voltar a ganhar.

    E eu acho isso uma coisa trágica porque demonstra que as pessoas são manipuláveis, mesmo quando são usadas à descarada para perpetuar no poder uma pessoa que já deu provas suficientes de que é incapaz para qualquer cargo público.

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