quarta-feira, maio 31, 2023

Montenegro aceita candidaturas para o seu Governo sombrinha
(NB: não confundir com o governo da sobrinha)

 

Segundo fontes às vezes bem informadas, Montenegro, esse grande estadícula, para mostrar que está preparado para aquilo que apregoa -- que: está na hora! está na hora! -- já estará a montar a barraca.

Já terá: 

  • ministro para as conversas de comadres, 
  • ministro para a produção de bocas (aka sound bites), 
  • ministro para conceber casinhas unifamiliares com seis pisos, seis casas de banho, elevadores, e outros cómodos para pobrezinhos.
  • ministro para as relações achegadas, 
  • ministro para lançar cenas para as CPIs e depois transformá-las em circos, 
  • ministro para deglutir as indirectas do Marcelo, 
  • ministro para dar conta do saco de gatos que é o PSD.

Parece que montaram um gabinete de casting que está a bombar. Como está a dar em directo em todas as televisões e a malta gosta de aparecer, parece que há filas e filas. 

Abaixo a gravação de uma das entrevistas, desta vez para um ministério que até nem é muito original. Mas é natural que o Montenegro também o queira ter. Quando um ministério se revela fundamental,  todos os governos descalibrados os querem adoptar. Este, o ministério do andar disparatado, é indispensável. Governo que se preze e que se queira moderno e preparado para os desafios do futuro como será o governo abrilhantado pelo grande Montenegro, não poderia passar sem ele.

O vídeo está em inglês porque o Montenegro é todo pra frentex, transfronteiriço: aceita qualquer maluco. E disseram-lhe que o inglês, neste mundo do business, é como o esperanto e, vai daí, tudo se passa em british. Mas as palavras são quase escusadas face à relevância da atitude corporal.

Contudo, embora não seja o meu quadrante, diria eu que, dada a criticidade, seria bom que o Montenegro tivesse um ministro sénior nesta pasta. Alguém como o inefável Rangel, essa sumidade, ou o senador Vai-Estudar-ó-Relvas. Digo eu. Aliás, se os imaginarmos no lugar dos artistas aqui abaixo, veremos como estariam bem. O executivo que o Montenegro está já a ensaiar, com qualquer destes dois, ficaria coisa em bom.

Aconselho que vejam o vídeo até ao fim pois é muito educativo. 

De nada.

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Cientistas e pensadores de todo o mundo comparam-no ao risco nuclear e ao risco de pandemias que fogem ao controlo
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Quando são os próprios a lançar alertas mundiais sobre os reais riscos existenciais que a Inteligência Artificial comporta, de que é que os Governos de todo o Mundo estão à espera?

Risk of extinction by AI should be global priority, say experts

 Traduzo (via translator da Google) do Guardian:

Um grupo dos principais especialistas em tecnologia de todo o mundo alertou que a tecnologia de inteligência artificial deve ser considerada um risco social e priorizada na mesma categoria que as pandemias e as guerras nucleares.

A declaração, assinada por centenas de executivos e académicos, foi divulgada pelo Center for AI Safety na terça-feira numa altura em que aparecem crescentes preocupações com a regulamentação e os riscos que a tecnologia representa para a humanidade.

Photograph: S Decoret/Shutterstock
“Mitigar o risco de extinção a partir da IA deve ser uma prioridade global, juntamente com outros riscos em escala social, como pandemias e guerra nuclear”, afirmou o comunicado. Os signatários incluíram os executivos-chefes da DeepMind do Google, o responsável pelo desenvolvimento do ChatGPT OpenAI e a startup de IA Anthropic.

Líderes globais e especialistas do setor – como os líderes da OpenAI – pediram a regulamentação da tecnologia devido a temores existenciais de que ela poderia afetar significativamente os mercados de trabalho, prejudicar a saúde de milhões e transformar em arma a desinformação, a discriminação e a falsificação de identidade.

Este mês, o homem frequentemente apontado como o padrinho da IA – Geoffrey Hinton, também signatário – deixou o Google citando seu “risco existencial”. O risco foi ecoado e reconhecido pelo No. 10 na semana passada pela primeira vez – uma rápida mudança de abordagem dentro do governo que ocorreu dois meses após a publicação de um white paper de IA que os números da indústria alertaram que já está desatualizado.

Embora a carta publicada na terça-feira não seja a primeira, é potencialmente a mais impactante, dada a ampla gama de signatários e sua principal preocupação existencial, de acordo com Michael Osborne, professor de Machine Learning na Universidade de Oxford e cofundador da Mind. Foundry.

“É realmente notável que tantas pessoas tenham assinado esta carta”, disse ele. “Isso mostra que há uma percepção crescente entre aqueles que trabalham com IA de que os riscos existenciais são uma preocupação real”.

O potencial da IA para exacerbar os riscos existenciais existentes, como pandemias provocadas e corridas armamentistas militares, são preocupações que levaram Osborne a assinar a carta pública, juntamente com as novas ameaças existenciais da IA.

Os alertas para a necessidade de conter estas ameaças seguem-se ao sucesso do ChatGPT, lançado em novembro. O modelo de linguagem foi amplamente adotado por milhões de pessoas e avançou rapidamente além das previsões dos mais bem informados na indústria.

Osborne disse: “Como não entendemos muito bem a IA, existe a perspectiva de que ela possa desempenhar um papel como uma espécie de novo organismo concorrente no planeta, uma espécie de espécie invasora que foi criada por nós e que pode desempenhar um papel devastador na nossa sobrevivência como espécie”.

terça-feira, maio 30, 2023

E no fim de tudo Sócrates marca um golaço e resolve o jogo

 

Não sei como é quando tem que se lidar com um bando de surdos, com malta que não se aguenta, incontinente de todo, com gente descoordenada, com malucos que se atiram para a piscina sem saberem nadar, com outros que julgam ser capazes de subir às alturas mesmo não passando de umas galinhas, nem sei se os gregos antigos tinham melhores tácticas do que os Marx e Engels desta vida. Não sei mesmo. 

O que sei é que quem resolve o jogo é Sócrates. Marcou um senhor golo e arrumou com a confusão. 

Certinho, direitinho.

E o resto é conversa.

Desejo-vos um bom dia

Saúde. Bom humor. Paz.


segunda-feira, maio 29, 2023

Porque é que a simpática Ameca é tão assustadora?

 

Em certa medida Ameca e outros que tais já são mais inteligentes que nós. Talvez lhes falte ainda um pouco de inteligência emocional. Mas já não deve faltar muito para que nos apanhem e, depois, nos ultrapassem.

Dizem os criadores que se um dia as suas criações quiserem destruir a humanidade bastará desligá-los da corrente. 

Mas não é verdade pois estas máquinas podem tomar decisões que sejam dificilmente reversíveis.

E não estou a falar em cenários catastrofistas, cinéfilos. Falo apenas em pequenas ocorrências diariamente, um pouco por todo o mundo, não rastreáveis, não controladas.

Talvez a humanidade consiga adaptar-se e consiga conviver quase normalmente com as máquinas ou com as aplicações que recorrem a inteligência artificial. Mas estou céptica. Os riscos de que a coisa dê para o torto são imensos.

Não se pense que sou conservadora ou reaccionária. Não sou. Sou o oposto. Na que se refere a inovações, quando eu trabalhava era considerada aquilo a que se chama early adopter. Não receio ser cobaia, não receio ir à frente. Aquela pergunta que tanto ouvi aos meus pares: "Onde é que já usaram essa metodologia (ou tecnologia)?", a mim nunca me interessou.

Se acho que tem potencial, venha ela. Para a frente é que é caminho.

Já aqui o referi várias vezes: trabalhei durante alguns anos em modelos. Construir algoritmos era, para mim, do mais aliciante que existia à superfície da terra. Quando mais exigentes e impossíveis mais entusiasmantes eram para mim. Numa das vezes trabalhei directamente com um especialista em modelos matemáticos do Banco Mundial e aprendi muito, muito, com ele. 

Entre outras coisas, usei o que na altura se designava por simulação. Modelos complexos que recorriam a probabilidades e a estatística, a geração de aleatoriedade, a funções matemáticas de toda a espécie, a computação. Modelos que simulavam a realidade, incluindo o afluxo de pessoas a determinados sítios consoante a hora do dia, o dia da semana ou o local, modelos que simulavam o trânsito, modelos que validavam quais os melhores cenários na resolução de determinadas questões.

Sei bem como é difícil ao ser humano questionar a escolha de um modelo (isto é, os seus outputs) quando o que está por trás são milhões de iterações, de cálculos, de validações, etc. Ou se acredita que está bem feito ou não se acredita. 

Claro que se pode (e deve!) fazer testes e submeter os modelos a baterias de ensaios. Mas não é o comum dos mortais, sem formação ou dedicação que o faz.

E o que me preocupa é ter-se a utilização de modelos bem mais complexos que os meus (pois agora não se fala de milhões mas de milhões n vezes exponenciados) à disposição de toda a gente sem sabermos se foram validados, testados, se são robustos e sérios, rigorosos, à prova de bala.

Num modelo complexo, eu, se quiser, se for danada para a brincadeira ou venal, consigo dar um toque nos algoritmos ou enxertar respostas que, em vez de resultarem de cálculos sérios, sejam o fruto de manipulações.

Imagine-se, por exemplo, que eu construo um modelo matemático ultra artilhado em que entrem todas as variáveis possíveis e em que eu queira validar qual a melhor localização para o novo aeroporto. Quero que tenha o menor investimento, que tenha o menor custo para os utentes face ao seu destino interno, que polua o menos possível, que não interfira com a fauna local, que se enquadre no plano de desenvolvimento territorial, que tenha menores custos de exploração, etc. Por dentro, para o modelo funcionar, geram-se bases de dados gigantes com custos, distâncias, padrões de deslocações turísticas, expectativas demográficas, etc, tudo o que for necessário. E, algures, no meio de toda aquela matemática, enxerto um comando que diz que, independentemente de qual fosse o resultado científico, o que ele iria apresentar como solução seria a zona de Vale do Pito (isto supondo que este era um locais em análise).

Quem é que das comissões de análise e dos grupos de estudo iria rever toda aquela matemática para perceber se o modelo não estava trambicado?

E isto é apenas um exemplo pequeno, ínfimo, meramente ilustrativo. A Inteligência Artificial é mais, muito, muito mais que isto, pois alia acesso a infinito conhecimento a uma velocidade e capacidade de processamento quase ilimitada e a uma disponibilidade quase absoluta.

Claro que num mundo ideal os cérebros que constroem estes modelos pertencem a gente boa, séria, resplandecendo de ética. E os utilizadores serão gente extraordinária, generosa, rigorosa, idónea, inteligente, não influenciável.

Mas não é esse o mundo em que vivemos.

Muitas vezes a Inteligência Artificial apresenta-se como uma aplicação como o ChatGPT, outras como aplicativos que geram imagens, músicas, programas que comandam máquinas. E depois há os robots humanóides. Aí a coisa é ainda mais inquietante. Os seus criadores andam agora empenhados em captar a génese algorítmica das emoções. Estão quase lá. Já o simulam, pelo menos. 

Claro que muito disto ainda está em versão experimental. Estão a aprender com os próprios erros.

Vou contar uma coisa que me aconteceu no outro dia. Pedi ao Chat GPT se sabia dizer-me se havia alguma estrofe de Os Lusíadas em que se fale de crianças. Pois bem. Instantaneamente, o 'fulano' disse-me que sim e mostrou a estrofe em causa. 

Não porque eu saiba Os Lusíadas de cor mas porque a minha mente está formatada para validar o que me é apresentado, peguei nessa estrofe e googlei-a. Nada. Várias tentativas, incluindo noutros motores de busca. Nada. Cheguei à conclusão que aquela estrofe não era do conhecimento do google e, portanto, provavelmente nem sequer existia nem nos Lusíadas nem em lado nenhum. Ou seja, aconteceu ao ChatGPT aquilo que se designa por alucinações. O 'fulano' inventou, ele próprio, uma estrofe. Mas inventou-a ao jeito das restantes dos Lusíadas e ainda se 'se deu ao luxo' de dissertar sobre ela. Se eu não tenho ido validar, acreditava e usava-a e depois ficava na net e qualquer dia alguém mais estava a copiá-la e, às tantas, já ninguém sabia dizer ao certo se sim ou não era genuinamente parte integrante de Os Lusíadas. E isto é um simples e inofensivo exemplo.

Transcrevo o meu diálogo com o Chat GPT para que possam apreciar:

UJM

Há alguma estrofe dos Lusíadas em que se fala de crianças?

ChatGPT

Sim, há uma estrofe nos Lusíadas, de Luís de Camões, onde se faz menção a crianças. No Canto VII, estrofe 37, Camões descreve a ilha de Moçambique e menciona as crianças africanas que viviam lá. Segue a estrofe:

     Mas aqueles meninos, que largados
     Estavam pelas praias, incitados
     Da curiosidade natural,
     Vendo as naus, que os mares têm navegados,
     Seu vão temor deixam, e co' o sinal
     Da nova gente, vão saltando a praia,
     E com infantil gosto, e brando riso,
     Os novos lusitanos vão vendo,
     Da cor do rosto seus corpos cobrindo.

Nesse trecho, Camões descreve como as crianças abandonam seu medo inicial e se aproximam dos marinheiros portugueses com curiosidade e alegria infantil, observando os novos visitantes e cobrindo seus corpos com a cor do rosto, referindo-se à cor da pele.

UJM

De certeza? Não encontro isso n' Os Lusíadas.

ChatGPT

Peço desculpas pelo equívoco. Verifiquei novamente e percebi que me enganei. Não há uma referência direta a crianças nos Lusíadas. Peço desculpas pela informação incorreta anteriormente fornecida.

Os Lusíadas são um poema épico que narra as viagens dos navegadores portugueses e sua jornada até as Índias. Embora Camões mencione vários aspectos geográficos, históricos e culturais, incluindo diferentes povos e costumes, não há uma menção específica a crianças ao longo da obra.

Lamento pelo erro e agradeço por trazer isso à minha atenção. Se você tiver outras perguntas ou precisar de informações adicionais, estou aqui para ajudar.

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What is AI and why are experts terrified about its future? | 60 Minutes Australia

This week, in a first for the program, Tom Steinfort interviews a robot. Ameca, as it likes to be called, is the most advanced lifelike robot in the world. A marvel of generative artificial intelligence, it’s curious, chatty and full of attitude.

As Steinfort discovers, this super machine really does have a mind of its own. But while having a normal conversation with it is undoubtedly exciting, it is also just as frightening. And that’s because creating technology that allows AI bots like Ameca to be smarter than us might just be the most stupid thing humans have ever done.


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Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Alegria. Paz. 

domingo, maio 28, 2023

Sugestão de alguns temas para o Exmo. Sr. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa trazer para reflexão junto da opinião pública

-- A palavra ao meu marido --


Quem segue a politica portuguesa pode ser levado a pensar que existe um conluio entre o Exmo Sr. Presidente da República Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e os órgãos de comunicação social.

Sua Excelência julgará ser absolutamente necessário ter uma presença constante nos media, seja por motivos relevantes ou não, e estes, por sua vez, publicam, comentam, recomentam e voltam a recomentar tudo o que o Sr. Presidente diz. Aliás, até lhes é proposto pelo Sr. Presidente que comentem o que ele não diz.

Embora, segundo me parece, a função presidencial requeira recato, bom senso e sentido de Estado deixo aqui alguns pontos que proponho o Sr. Presidente traga para a opinião pública.  Na realidade, a importância das questões que abaixo refiro para um regular funcionamento da nossa democracia -- sem pseudo dramas e dissoluções fantasma--, deveria merecer a atenção do Sr. Presidente e proporcionaria mais um enorme conjunto de notícias e comentários.

 

  • Será que o Sr. Presidente não deveria comentar a forma como funciona a Justiça em Portugal, nomeadamente as investigações do MP?

Não merecerá um comentário de V. Exª os tempos que demoram as investigações e a forma como as informações sujeitas a segredo de Justiça são passadas para os media? E acha bem que não se investigue como e por parte de quem são sucessivamente violados os segredos de Justiça dos diversos processos? 

O Sr. Presidente acha bem que a partir da informação que é indevidamente passada para os meios de comunicação social e da forma como estas a tratam, haja portugueses que são julgados e condenados na praça pública sendo inocentes (ou mesmo culpados)? 

O Sr. Presidente não deveria alertar para o contributo que esta atuação da Justiça dá para fomentar os populismos?

 

  • Será que o Sr. Presidente não deveria comentar a forma como funcionam as Comissões Parlamentares de Inquérito no Parlamento? 

Não merecerá um comentário do Sr. Presidente a forma como são feitas as inquirições nas CPI que mais parecem interrogatórios policiais destinadas a comprovar ideias pré-concebidas do que inquirições destinadas a saber a verdade dos factos que deveriam ser analisados? 

Não seria pedagógico alertar para a péssima imagem que estas CPIs passam para a opinião pública?

 

  • Será que o Sr. Presidente não deveria reflectir publicamente sobre a situação atual na comunicação social? 

Não merecerá um comentário ao Sr. Presidente o facto de os jornalistas raramente respeitarem a isenção que lhes é devida, as televisões estarem pejadas de comentaristas que mais não fazem do que seguirem agendas pré-definidas e às vezes muito pouco transparentes, e não haver critérios de idoneidade e isenção que presidam à divulgação das notícias?

Não estaremos perante situações que intoxicam a opinião pública e desvirtuam a democracia e portanto devem ser objeto de comentário do mais alto Magistrado da Nação?


  • Será que o Sr. Presidente não deveria ter deixado uma nota, ainda que subtil, sobre o discurso indecoroso do antigo Presidente Aníbal Cavaco Silva? 

Será que um anterior Presidente da República vir  a público, qual Trump fora de tempo,  exacerbar os ânimos, dividir o País entre bons e maus e extremar posições, não deveria merecer uma observação pedagógica do Sr. Presidente?


Exmo. Sr. Presidente Prof. Marcelo Rebelo de Sousa,

Seria muito útil para o País que, no tempo exigente que atravessamos, com uma guerra na Europa e uma radicalização entre as grandes potências, internamente pudessem ser garantidas as melhores condições para seguirmos em frente. 

Como não quero acreditar no que o Dr. José Miguel Júdice vem referindo sobre o Sr. Presidente, aqui lhe deixei alguns assuntos sobre os quais algumas reflexões sensatas serão bem vindas  e úteis. 

Tenho para mim que os principais motivos da presente instabilidade que se observa no nosso País são a forma como a Justiça se comporta, a falta de rigor da comunicação social e, lamento dizê-lo, a presente actuação de V. Exa., Sr. Presidente. 

Não tenho grande esperança de que o Sr. Presidente ainda esteja a tempo de emendar a mão mas deixo o meu modesto contributo para que V. Exa. possa ter mais algumas notícias nos media e para que eles tenham assuntos verdadeiramente relevantes de que se ocupar.

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NB: Como se pode ler no título deste post, o texto acima é da autoria do meu marido. 

Este sábado, enquanto fazíamos a nossa caminhada de fim de dia, eu ia falando no que tinha escrito na véspera e ele também ia a refilar com Marcelo Rebelo de Sousa, revoltado por o Presidente centrar toda a sua atenção em irrelevâncias 'caseiras' do funcionamento do Governo que não interessam para nada em vez de louvar o seu bom desempenho e, sobretudo, em vez de chamar a atenção para o que de muito grave acontece noutros sectores. 

E acrescentou: qualquer dia escrevo eu uma coisa. De imediato agarrei a oportunidade. Por isso, mal chegou a casa, foi sentar-se ao computador. E, passado um bocado, já eu estava a receber um mail dele com o texto que acima puderam ler (e com o qual, diga-se, concordo na íntegra).


sábado, maio 27, 2023

Alô, alô Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa!
Quem votou em si espera que exerça o seu mandato de uma forma muito diferente da que está a exercer agora.
Por favor, perceba bem o que está a acontecer no nosso País

 

Caro Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,

Nas legislativas votei no PS e votei consciente, racional e exigentemente. Face ao desempenho do Governo em funções continuo satisfeita e a considerar que o PS está a honrar os seus compromissos perante o eleitorado.

E tenho razões muito objectivas e inequívocas para o meu contentamento.

  • O reduzido défice
  • O baixo desemprego
  • A acentuada redução da dívida pública
  • O crescimento económico acima do previsto
  • A atenção dada a quem mais precisa
  • ......

Tudo vai no bom caminho. E vai comprovadamente. Não são 'bocas' nem suposições. Não. São dados concretos, estatísticos, reconhecidos.

Claro que nestas coisas da economia há sempre um tempo que medeia as acções e o seu efeito no terreno. É mesmo assim. Quem perceba um pouco destas coisas não terá dúvidas de que, com a conjugação destes factores, as melhorias junto da população vão começar a surgir a curto prazo. A boa gestão das contas públicas traduz-se em maior folga orçamental e isso terá reflexos directos nas condições de vida das pessoas.

Aliás, esses reflexos já estão a surgir.

Há muita gente que ainda está a sofrer os efeitos da crise internacional (custos dos combustíveis e da energia mais elevados, inflação e a consequente significativa subida das taxas de juro, etc) mas também há cada vez mais pessoas a viver despreocupadamente. 

Veja-se, por exemplo, a quantidade de concertos, a preços elevados, que existe em Portugal: esgota tudo, tudo. Vejam-se os restaurantes quer durante a semana quer ao fim de semana: cheios. Vejam-se os estádios de futebol: cheios. Etc.

Portanto, querer escamotear os indícios de que parte significativa da população vive cada vez melhor é cegueira ou cinismo.

E, não tenhamos dúvidas, com a muito expectável descida do IRS, mais dinheiro haverá em circulação, multiplicando o efeito benéfico de uma economia saudável.

E há cada vez mais empresas portuguesas a exportar produtos de valor acrescentado. Portugal é cada vez mais reconhecido como um parceiro fiável, detentor de fortes capacidades tecnológicas. E isso é daquelas coisas que tem um efeito multiplicador sustentável.

E, quanto ao turismo, os resultados não poderiam ser melhores. Já não é um turismo apenas de Verão ou apenas de praia, nomeadamente do Algarve. Não. Portugal tem, durante todo o ano e praticamente em todo o País, uma vasta oferta turística, desde a cultural, à gastronómica, à vinícola, à de montanha, à fluvial, etc.

O País está melhor organizado, melhor infraestruturado, modernizado. Toda a população beneficia de tudo isto.

Portugal é hoje considerado um dos países do mundo onde é bom viver e em que a democracia é vivida com qualidade.

Portanto, dizer que o Governo não está a governar bem é coisa de gente mal intencionada, gente mentecapta ou mal informada.

Que a direita mais trauliteira, de braço dado com a ala mais ignorante e mais estúpida da Comunicação Social ande a montar um circo inventando que o Governo não está a governar bem, não será de espantar. Mas que o Presidente da República pareça apadrinhar esta torpe campanha já parece mais complicado.

Veja-se este episódio do Galamba.

Um assessor do ministro tem comportamentos estranhos e o ministro demite-o. Nada de mais.

Mas, então, o ex-assessor desenvolve um conjunto de acções ainda mais estranhas e condenáveis tais como:

- Depois de demitido vai, a correr, fora de horas, ao local onde já não trabalha

- Vai buscar um computador que não lhe pertence e que contém informação sensível

- Quando as funcionárias tentam impedir o roubo, agride-as

Face a isto, que deve ser investigado, a que é que a ala direita, populista e arruaceira, de braço dado com os pseudo-jornalistas e comentadores-a-metro, presta atenção? Pasme-se. Em vez de condenarem veementemente a actuação do ex-assessor, não senhor, desataram a querer incriminar, nem se percebe de quê, o ministro e as pessoas do Gabinete. É vergonhoso. 

Ora, porque é que o Presidente da República se cola a esta gente (que parece estar do lado de quem age à margem do que é razoável e legítimo) e não de quem tenta defender a informação sensível do ministério?

Acontece que o dito ex-assessor acabou mesmo por levar o computador para casa, tendo ficado com ele, ao que parece durante umas horas. A ser verdade, o que é que ele fez? Apagou documentos? Apagou correspondência? Eliminou provas de alguma coisa? O quê? E porque o fez?

Isto parece-me potencialmente grave. Ora alguém se mostra preocupado com isto que, de facto, tem que ser escalpelizado com rigor? Não vejo. E também não vejo o Presidente da República a dizer palavra que seja sobre isto.

Parecer-me ia lógico e necessário que o Presidente Rebelo de Sousa, perante o que se passou. dissesse o seguinte:

- Um ex-assessor, depois de demitido, foi buscar um computador que era propriedade do Estado e que continha informação sensível

- O ex-assessor fez mal. Ninguém se pode apropriar de bens alheios e isso é tanto mais grave quando se trate de um equipamento que poderia conter informação classificada e sensível

- As pessoas do Ministério tomaram as devidas providências, nomeadamente comunicaram o evento, e bem, às entidades competentes.

- Face a isso, nada mais há a comentar a não ser que se deve investigar tudo o que se passou (não esquecendo o insólito comportamento do ex-assessor bem como o que se passou com o computador quando esteve abusivamente nas mãos).

E mais nada, mesmo mais nada. Não é andar a deixar indirectas, a fazer saber que queria que se demitisse o ministro (a que propósito, senhores?), não é agora andar a alimentar a confusão frisando datas que só alimentam conversas da treta nas televisões, não é andar a dar a entender que está ali para fazer a vida negra ao Governo.

Se o Senhor, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, é Presidente da República, a mim também o deve. 

Mas se acho que não desperdicei o meu voto quando votei no PS, tenho pensado muitas vezes que se calhar o desperdicei quando votei em si. E, a continuar como tem sido nos últimos tempos, estou convencida que não sou só eu. Muito mais gente critica, e muito, a sua actuação. 

Não é isso que esperávamos de si nem é isso que se espera de um bom Presidente da República.

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NB: Estas rosas são do meu jardim e ilustram o que é o meu sentir socialista.

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Um bom sábado

Saúde. Discernimento. Serenidade. Bom senso. Paz.

sexta-feira, maio 26, 2023

Escrever.
[E, se é para ouvir papagaios, então escolho eu um que seja divertido e bem estruturado]

 



Agora que deixei de trabalhar, arranjei trabalhos com datas apertadas que me trazem ainda mais ocupada que nunca. 

No outro dia resolvi que haveria de concorrer a um outro concurso literário. Mas o prazo era tão curto que admiti não conseguir. 

Mas tentar não custa.

Como me acontece, aparece um nome ou duas ou três palavras. E vou atrás. Assim foi agora. Mas cheguei a um ponto em que não sabia o que acontecia a seguir. Tal como na vida real em que nos deparamos com situações em que não sabemos o que decidir pois não temos como saber quais as consequências, assim quando estou com personagens e não sei para que lado as hei-de levar pois não sei qual o seguimento que resultará de cada hipótese. Mas também não é bem isso, pois não me ponho a equacionar hipóteses. Fico é sem saber o que vai acontecer. 

Por isso, com essas hesitações que estavam a imobilizar-me, julguei mesmo que não ia conseguir. Ia para a cama, sem saber que volta dar ao assunto para prosseguir com fluência e graça.

Mas depois a coisa engrenou. Por fim aconteceu que simpatizei de tal forma com aqueles personagens que só estava bem era a escrever de manhã à noite sobre eles. Era como se estivesse na companhia deles. E era gente bem disposta. E eu ria com eles. Por vezes estava a escrever e a rir de gosto. 

Com isto escrevi a história em cerca de três semanas. Depois de rever e rever, pedi ao meu marido para ler.

Começou por não querer, dizendo-me que muitas vezes também me pede coisas e eu não faço. Como já aqui tenho contado, a 'cena' dele são os livros de história, política, geografia económica ou política. Não tem paciência para romances.

Bem. 

Pedinchei e pedinchei e lá começou. No primeiro dia, quando me levantei já tinha lido cinquenta páginas e disse que sim, estava a gostar. Nesse dia não leu mais. Mas no dia seguinte, quando me levantei, estranhei-o. Tinha um sorriso de orelha a orelha. Tinha lido as outras cerca de cento e poucas mais, ou seja, tinha acabado o livro e, segundo me disse, tinha achado graça, havia lá coisas bastante divertidas. Contou-me a que o tinha feito rir mais e, ao dizê-lo, ria à gargalhada, coisa quase inédita nele. Depois disse-me para eu mandar para os filhos e que, se eu não mandasse, mandava ele. Disse-lhe que não ia mandar e esteve ali a teimar comigo até que se convenceu. Se o livro algum dia vir a luz do dia, vê-lo-ão. Mas achei graça ele querer partilhar o livro com os filhos.

Perguntei-lhe o que tinha achado para além de achar divertido. Disse que tinha gostado e que acha que eu o envie. Mas disse-me o mesmo que disse sobre o primeiro: "Gosto, acho bom, mas não sei se é livro para ganhar um concurso pois acho que esses tipos gostam de outro tipo de coisas". Fiquei contente, claro, pois se há público exigente para livros, em especial para romances, é ele. Não tem paciência para historietas e muito menos tem para exercícios de estilo vazios de conteúdo. Portanto, vou enviar.

Isto de me candidatar a prémios tem a vantagem de se encaixar no tipo de trabalho que eu tinha, que passava muito por atingir objectivos exigentes muitas vezes em prazos impossíveis. Posso não ganhar nada mas isso para mim não é problema pois, a seguir, passarei para a fase de tentar arranjar uma editora que me aceite e, aí, já tenho produto acabado para entregar.

E, entretanto, já me meti noutra. Isto mobiliza-me e motiva-me fortemente.

Claro que, pelo meio, tenho que conciliar com as coisas da casa, com as caminhadas, com a hidroginástica, com a família e com outros afazeres. Mas, mal me apanho com disponibilidade, atiro-me logo à escrita. 

E passa-se uma coisa que acho fantástica. No primeiro que escrevi este ano passam-se coisas que agora constato que são de uma actualidade estonteante. Vejo ocorrerem coisas que parece estarem ali descritas. E gostava de continuar a escrever sobre a personagem principal. Dava-me pano para mangas. Pano, pano para mangas. Não sei como se gere esta situação, de a gente ter inventado pessoas que parece que ganharam vida e que querem continuar vivas.

E agora sobre esta que me fez rir e que fez o meu marido também rir de gosto (para além de o pôr a andar pela casa a declamar os Lusíadas -- não sei se já contei que ele sabe de cor não apenas parte dos Lusíadas como vários outros poemas de vários poetas. Um fenómeno), passo a vida a lembrar-me de coisas que a personagem principal poderia dizer. Há pouco, estava um qualquer papagaio na televisão a dizer uma chachada qualquer e usou uma certa palavra. Lembrei-me logo de que 'ela' iria usar mal aquela palavra e já me ria da reacção dos outros.  E, mais uma vez, estava capaz de continuar a escrever histórias com a turminha que entrou neste 'romance'. Acho que podia escrever pelo menos mais dois ou três livros pois a história tem por onde continuar e diversificar. E custa-me imenso pensar que vou ter que deixar 'morrer' este grupo de gente tão simpática e tão bem disposta...

No outro dia quando vim da hidroginástica contei ao meu marido que as minhas parceiras contam as suas coisas, duas gostam muito de cuidar da respectiva horta, outra fala de jardinagem e de caminhadas, outra fala de passeios que faz. O meu marido, com aquele ar neutro que esconde muita gozação, disse: "Porque é que não lhes dizes que tu escreves livros?" Desatei-me a rir. Claro que não. Ficariam, certamente, a olhar para mim com espanto, a julgar que não bato bem da bola.

E, se calhar, não bato mesmo.

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As fotografias foram feitas aqui, no meu espaço de escrita. A mesa onde escrevo, as estantes que me rodeiam.

Lucy interpreta 'The Nearness of You', de Hoagy Carmichael 

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E, por falar em papagaios, aqui abaixo um que vale a pena ouvir. Mil vezes mais estruturado do que os chornalecas e a maior parte dos comentadeiros que, unidos, quais arruaceiros, esquecidos que, em democracia há regras e que o voto dos eleitores tem que ser respeitado, estão a tentar tudo por tudo para deitar abaixo o governo.

Uma família adopta um papagaio. E agora ele fala sem parar


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Um dia bom
Saúde. Ânimo. Paz.

quinta-feira, maio 25, 2023

Uma considerável esperança na erradicação do cancro

 

À medida que a esperança de vida vai aumentando maiores as probabilidades de que algum desenvolvimento celular descarrile.

Provavelmente toda a gente tem na família alguém que tem ou teve cancro ou em que o próprio o tem ou já teve. 

Na hidroginástica, uma das minhas companheiras teve cancro na mama e ostenta com orgulho a sua mama amputada que, entretanto, sofreu uma intervenção plástica. Dizia ela no outro dia, no balneário, que acha que quase toda a gente que vive até tarde tem grandes probabilidades de ter cancro mesmo que muitos o tenham sem o saberem. Claro que, quando ela disse isso, todas ficámos em silêncio. Eu senti-me encolher por dentro. Tive vontade de dizer: "Porra, vire essa boca para lá...". Mão não disse nada até porque provavelmente está certa.

No meu caso, já tive dois familiares próximos do lado do meu marido que morreram de cancro, sendo que num dos casos a grande quantidade de tabaco que consumiu durante toda a vida o pré-anunciaria. Do meu lado, tive um tio directo que também morreu do mesmo, embora nunca tivesse sido fumador, a minha tia por afinidade, mulher dele, também morreu de cancro, noutro sítio do corpo. E a minha mãe também o teve embora (noc-noc-noc, três vezes na madeira) tenha ficado bem. Na minha família alargada, a que veio pelo lado conjugal dos meus filhos, mais dois casos, um felizmente ultrapassado (noc-noc-noc, outra vez na madeira) e outro controlado. E a pessoa com quem mais directamente trabalhei nos últimos anos está a passar pelo calvário dos tratamentos depois de uma recidiva e de uma metastização.

Ninguém pode, pois, achar que é uma realidade que lhe é distante.

No outro dia, quando fui a uma consulta de rotina, estive numa sala de espera ao pé da ala de oncologia. Como estive bastante tempo à espera de ser chamada, ia vendo as pessoas que entravam ou que saíam. Todas as idades. 

Embora cada vez mais os cancros sejam tratáveis, saber que se tem um continua a ser uma daquelas notícias que ninguém quer receber pois, numa primeira reacção, é como se fosse uma sentença de morte.

Desde que me lembro de ser gente que tenho ideia que, de vez em quando, surgia uma notícia de que uma nova investigação parecia ser promissora no tratamento do cancro. Mas embora os progressos sejam notáveis, parece que o milagre ainda não aconteceu.

Contudo, de forma muito consistente, têm agora vindo a lume notícias muito animadoras. Dá ideia que não são apenas ideias e projectos mas já realidades. E, quando começa a haver experiência e historial clínico, penso que é caso para nos animarmos.

Tomara. Tomara. Tomara. E que a investigação receba sempre todos os apoios possíveis. 

A breakthrough in eradicating cancer | Eric Tran | TEDxPortland

--  Com legendagem em português   --

O Dr. Eric Tran e sua incrível equipe são pioneiros na imunoterapia contra o cancro - uma "primeira vez global" nos esforços de redução de tumores. O trabalho que está sendo feito usa uma infusão de 16 bilhões de células T reprogramadas para atingir as células cancerígenas e removê-las do corpo. Isso mostra que o nosso sistema imunológico é capaz de curar o cancro avançado. Embora o cancro seja formidável, nós também somos. Você achará esta palestra inspiradora e esclarecedora, pois encorajamos nossos esforços para erradicar esta doença.

Eric fez parte de uma experiência histórica de mais de 7.000 participantes numa experiência a 10 anos. 


Um dia bom
Saúde. Esperança. Paz.


quarta-feira, maio 24, 2023

Fake, fake, fake, fake
- ou apenas o novo real...?

 









Há muito tempo que falo dos imensos riscos da Inteligência Artificial, e tantas vezes já falei disso que sei que me torno repetitiva. Os benefícios são igualmente imensos e, por isso, o recurso a ela serão permanentes e crescentes.

O problema é que, enquanto era coisa apenas ao alcance de uns happy few, havia sério risco mas, enfim, relativamente possível de intervir.

Neste momento já não é possível. A tecnologia tornou-se ubíqua, está ao alcance de meio mundo, tem preços acessíveis e as comunicações distribuem-na por todo o lado. Aquilo a que antes uns quantos, poucos, especialistas tinham acesso agora estão ao dispor, for free. À borla, na ponta dos dedos.

Qualquer um pode obter imagens antes inexistentes, poesia ou prosa a pedido, aconselhamento médico, desambiguação sobre diferentes formas de expressão, explicação sobre a impermeabilização natural das telhas cerâmicas portuguesas, sobre o que se quiser seja de que natureza for. 

Há pouco tempo fui a uma consulta de rotina e estive a falar com a médica sobre o ChatGPT. Contou-me que ainda no outro dia um colega lhe tinha enviado uma opinião sobre um tema médico multidisciplinar, Ela debateu essa opinião com outros colegas. Depois, veio a saber que a opinião tinha sido gerada pelo ChatGPT. E, diz ela, era uma opinião bem fundamentada e que lhes deu muitas pistas.

E já temos algoritmos que assentam na inteligência artificial a interpretar exames médicos complexos e em que o olho humano poderia não detectar a génese de alterações que, no futuro, podem vir a gerar tumores. E isso é extraordinário pois um algoritmo que recorra a ferramentas de inteligência artificial consegue num instante comparar as imagens de um exame com milhões de outras imagens e detectar quando alguma coisa se afasta do padrão de normalidade. Mas deixará de ser bom se houver algum erro na construção do algoritmo e falhar redondamente no diagnóstico sem que nenhum humano faça a validação,  deixando escapar o erro.

Nas empresas já temos as máquinas a aprenderem sozinhas (machine learning) e já as temos a preverem possíveis avarias futuras através da conjugação de factores que elas próprias medem como temperatura, pressão, trepidação, etc. E podem apenas dar alarmes e os humanos que os interpretem e ajam em conformidade ou podem elas sozinhas ajustar parâmetros e/ou fazer parar a máquina. E tudo isto é fantástico. Mas apenas o é enquanto houver humanos que saibam tanto quanto as máquinas, que conheçam bem a lógica dos algoritmos e saibam detectar se alguma coisa de estranho estiver a acontecer. Mas passará a ser um problema dos grandes quando houver fraco conhecimento, desleixo ou falta de inteligência por parte de quem conduz um parque de equipamentos desse tipo.

E nas plataformas mais banais (Google, Bing, YouTube, Facebook, Instagram, etc) tudo funciona 'à base' de algoritmos que detectam, registam e processam o que nos interessa, aquilo em que mais nos detemos, aquilo que vemos até ao fim ou não, etc. E, com base nisso, seleccionam o que consideram que nos vai agradar.

Ou seja, aquilo que vemos é apenas uma ínfima parte do que há para ver (e isso seria sempre pois o que há para ver é quase infinito) mas é o que os algoritmos 'pensam' que nos vai agradar. Ou seja, sem darmos por isso, julgando que estamos a ser livres, estamos, à partida, já bastante condicionados.

Claro que podemos não nos cingir a isso. Podemos fazer pesquisas. Mas o que acontece é que os algoritmos, ao mostrarem-nos aquilo que já 'sabem' que é do nosso agrado e em que têm uma sucessão também quase infinita de coisas para nos mostrar, deixam-nos saciados, sem espaço para irmos, à aventura, pesquisar outras coisas.

Esta questão já foi usada em política, via Cambridge Analýtica para condicionar os eleitores britãnicos levando-os a votarem no Brexit sem saberem o que isso significava. Os riscos de manipulação são ilimitados e nem sempre fáceis de detectar.

Já no outro dia foi notícia a atribuição do prémio Sony, um dos maiores prémios internacionais de fotografia, a uma fotografia lindíssima que mostrava duas mulheres. Como se sabe, de facto aquelas mulheres não existem e aquela fotografia não resultou do registo de uma imagem. Foi totalmente construída por um algoritmo de inteligência artificial dedicado à geração de imagens.

As fotografias que acima mostro (Putin, Merkel e Obama, Macron e Trump) também não existem. São imagens falsas. Foram geradas pela aplicação Midjourney. Podem ser vistas mais em Médecine, climat, droit : l'IA va-t-elle causer notre perte ou nous sauver ?

Também a música lá em cima não foi composta ou interpretada por humanos mas sim obra de inteligência artificial.

Este é um tema que deveria mobilizar a opinião pública mundial criando-se grupos de estudo, comissões parlamentares ou o que for que estudem como regulamentar a utilização da Inteligência Artificial por forma a garantir o seu uso dentro das balizas do rigor, da segurança, do respeito pela humanidade e da ética.

Em vez de andarmos a criar pides de aviário ou a intoxicar a opinião pública com tretas cujo interesse numa escala de 1 a 10 é 0 (sim, abaixo da escala, abaixo de cão), deveríamos prestar atenção a um dos temas mais sérios da actualidade.

A propósito, a opinião de Harari.

AI and the future of humanity | Yuval Noah Harari at the Frontiers Forum

In this keynote and Q&A, Yuval Noah Harari summarizes and speculates on 'AI and the future of humanity'. There are a number of questions related to this discussion, including: "In what ways will AI affect how we shape culture? What threat is posed to humanity when AI masters human intimacy? Is AI the end of human history? Will ordinary individuals be able to produce powerful AI tools of their own? How do we regulate AI?"

The event is was organized and produced by the Frontiers Forum, dedicated to connecting global communities across science, policy, and society to accelerate global science related initiatives.

It was produced and filmed with support from Impact, on April 29, 2023, in Montreux, Switzerland



terça-feira, maio 23, 2023

Acho que o melhor antídoto contra o veneno do Cavaco, contra o intragável sorrisinho do pupilo Montenegro e contra a mediocridade dos deputados que gostam de se armar em pides na CPI da TAP seria pô-los em sessões com a Rossy de Palma

 

Ver o Cavaco, mal ressuscitado, a sair à cena para se mostrar ainda pior do que quando estava vivo*, ainda mais ressabiado, com a boca muito aberta e muito seca, a mostrar que ainda não conseguiu curar-se do mau feitio, só me faz pensar que aquele ali não tem cura e que está cada vez pior -- e que pouco mais há a dizer sobre isso. Não merece. Não vale a pena. Não aproveita a ninguém. Há pessoas que envelhecem mal. Imagine-se o quão mal quando a base de partida já é má, má, má de si.

Em vez de comentarmos as azias dele, penso que o melhor antídoto seria armarmos-lhe uma armadilha em que ele se visse sozinho com a extraordinária Rossy de Palma. Até lá podíamos deixar também a sua Dona Maria. A Rossy haveria de ir ao rubro com o bafiento e ressabiado casal. O que ela haveria de inventar para os tirar do sério. Se os chornalecas** lá pusessem câmaras e fizessem directos, digo-vos: o país parava. Acho que nos iríamos rebolar a rir.

Também me parece que se deveria enviar a mesma Rossy de Palma à CPI da TAP. Uma vez que cabe lá tudo o que é cão e gato mesmo que nada tenha a ver com a TAP e já se atingiu um tal grau de ridículo, seria mesmo interessante vê-la no lugar onde se têm sentado as vítimas dos deputados e apreciarmos como, perante ela, se comportariam as fracas figuras que têm andado a exibir a sua absoluta e irremediável mediocridade. Aposto que ela os deixaria em fanicos e as audiências iriam bombar. 

 Só para se perceber a pinta da menina e se imaginar nas cenas que acima referi, ei-la aqui a mostrar o que tem na malinha de mão.

Inside Rossy de Palma's Christian Louboutin Bag | In The Bag


(*) Metaforicamente falando, claro

(**) Há pouco vi uma garota armada em jornalista a fazer uma entrevista. Fazia boquinhas, sentenciava que o governo tem feito muitos erros, mostrava que estava a salivar por sangue. Se eu lá estivesse, pedia-lhe que fundamentasse o que estava a dizer e enunciasse os erros a que se referia. Sempre queria ver as baboseiras que dali iriam sair. Uma miudagem, uns papagaios, gentinha que não sabe do que fala, gentinha que mastiga o que outros mastigaram. Não há nenhuma entidade que zele pela qualidade e pela isenção e objectividade dos jornalistas? Que raio de miséria é esta em que a nossa comunicação social está atascada?

segunda-feira, maio 22, 2023

Bora todos numa de Miyawaki...?

 


Uma vez mais, passa das duas quando começo a escrever. O dia começou mal. Quando fui tirar o bacalhau do congelador para fazer cozido com todos para o almoço, senti logo que estava meio mole. Apalpei os sacos vizinhos e tudo na mesma. Fui logo dar a notícia ao meu marido.

Não tinha faltado a luz porque a central dá aviso e não tinha dado. Como tínhamos estado uns dias fora, não sabíamos mais do que o que estava à nossa frente: nem quando nem porquê.

Como o frigorífico é digital, ele pensou desligá-lo da tomada e voltar a ligá-lo. Sentiu a ficha quente e viu que estava com cores de hematoma. Quando ligou, o painel desatou num pisca pisca muito descontrolado. 

Pensou que a tomada, por dentro, vá lá saber porquê, tinha tido um escaldão. 

Ligou-o, então, com extensão numa outra tomada e aparentemente ficou bom.

Mas, obviamente, tivemos que esvaziar. Descongelar e voltar a congelar não está com nada. 

Alguns sacos que estavam a meio da descongelação aproveitei. Fiz vários tachos de comida. 

O resto, tudo para o lixo. Uma dor de alma.

Mas aquilo da lei de Murphy -- que quando é para dar para o torto, dá mesmo para o torto, --esteve a pleno.

Mais coisas que, dado o adiantado da hora, nem vale a pena enunciar.

Para ajudar à festa, resolvi reler a última 'obra' que já tinha dado como relida. De noite tinha ficado com umas dúvidas. De dia, resolvi mudar uns aspectos e, para evitar contradições, rever de novo, coisa que só agora acabei.

Pelo meio fui vendo os comentários daqui que agradeço e com os quais, fossem outras as circunstâncias, faria uma festa. 

E agora, pouco tendo a acrescentar, deixo-vos apenas com um tema que me interessa. Li, a meio do dia, numa escapadinha, aos desagradáveis afazeres, um artigo que chamou a minha atenção: 

Primeira floresta Miyawaki do Algarve pode ajudar a combater a seca

A primeira Floresta Miyawaki do Algarve está a crescer no concelho de Silves com 18 espécies vegetais nativas da região que garantem um equilíbrio da biodiversidade e menor utilização de água. (...)

São pequenos passos, pequenos nadas. 

Eu que plantei a minha pequena floresta e que posso testemunhar como toda a paisagem mudou, como tudo ali nasce e cresce e como os animais dali fazem a sua casa (pois se até esquilos já lá vivem), sou muito sensível à necessidade de todos estarmos conscientes que temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para travarmos a desertificação da nossa terra.

O vídeo abaixo é muito simples e está traduzido (para brasileiro). Mas dá para perceber.

O que são as 'microflorestas' que estão surgindo no mundo

Milhões de árvores estão sendo plantadas em todo o mundo na tentativa de combater as mudanças climáticas. Mas vários grupos ambientais também estão plantando "microflorestas" urbanas — do tamanho de uma quadra de tênis.

Neste vídeo, você vai conhecer uma floresta minúscula na Holanda.

A técnica de plantio usada, chamada "Miyawaki", vem do Japão — e o primeiro passo é preparar o solo com nutrientes e um mix de árvores nativas. Em poucos anos, cresce uma floresta rica e densa.

Mas será que há pontos negativos? E será que florestas tão pequenas realmente ajudam na luta contra o aquecimento global? Assista e entenda.


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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira
Saúde. Boas vibes. Paz.

domingo, maio 21, 2023

Isto que se vive em Portugal é o quê?
Está a chegar a hora dos golpistas? Uma tentativa de remake da Quinta dos Animais quando os porcos tomam conta do poder?
Pergunto.

 

O Governo está a governar e a governar bem. Todos os indicadores são óptimos (e os indicadores são dados objectivos, não dependem de opiniões), do melhor da Europa, e a qualidade de vida da maioria das pessoas é a prova disso. Quem votou no PS (a maioria dos votantes, lembre-se) está contente com a actuação do Governo.

E, no entanto,

1 - Na Assembleia da República, um conjunto de deputados passa o tempo a fazer perguntas idiotas de forma que parece pidesca sobre temas ridículos, irrelevantes, a pessoas que se limitaram a fazer o que deviam e, em contrapartida, a dar placo a gente que se marimba para a democracia, para a vontade de quem votou e para quem tem dois dedos de testa, e apenas está ali com o firme propósito de fazer de tudo para deitar o Governo abaixo

2 - A comunicação social -- tomada de assalto por pseudo-jornalistas e avençados a metro, resolve apresentar-se como um conjunto de conspiradores que, marimbando-se para a isenção e objectividade e mostrando iliteracia democrática e uma confrangedora falta de capacidades cognitivas-- apenas quer minar e destruir o Governo

3 - O PSD, a IL, o Chega e o BE (*), mostrando que não respeitam a democracia nem a inteligência dos portugueses e aproveitando-se do palco que a comunicação social lhes proporciona, apenas contribuem para o aumento do populismo e das forças mais retrógradas e anti-democráticas do País.

4 - Cavaco Silva, que saiu da Presidência pela porta baixa, sem o respeito ou a simpatia dos portugueses, e que de vez em quando abre a boca para dizer coisas que o envergonham e envergonham quem o ouve (aquilo da vergonha alheia, sabem?), voltou a sair à cena para fazer coro com as gentes mais primárias, mais justiceiras e acéfalas do país.

5 - Marcelo Rebelo de Sousa que deveria ter um papel de equilíbrio e que deveria fazer uma intervenção no sentido de repor a normalidade, 

  • censurando os deputados que se armam em agentes inquisidores e que apenas questionam sobre anormalidades, 
  • censurando a falta de objectividade e isenção da comunicação social e
  • censurando os partidos da oposição mais acéfala e retrógrada que, em vez de contribuir para a melhoria das propostas do Governo e de querer melhorar a qualidade da democracia, se entretêm em números circenses e/ou justiceiros, 
  • e que deveria mostrar-se como o garante do respeito do voto dos portugueses (que deram a maioria ao PS), como garante do bom funcionamento das instituições e como garante da tranquilidade governativa

 -- parece que prefere portar-se como acicatador dos ânimos populares.

Mas uma coisa é certa e é bom que Marcelo o perceba: se ceder aos apelos populistas, primários e anti-democráticos, PS terá uma maioria ainda mais absoluta

Não tenho dúvidas de que todos os democratas deste País andam agoniados, revoltados e inquietos com o espectáculo que a comunicação social de braço dado com o PSD, IL, Chega e BE e, tudo isto aparentemente com o beneplácito do PR, anda a dar.

Por isso, vos digo: penso que o está a passar-se em Portugal é grave e preocupante.


(*) Não tenho assistido de perto a toda a pouca vergonha a que se vem assistindo mas tenho ideia que, honra seja feita, o PCP se tem portado civilizadamente.

sábado, maio 20, 2023

Hoje não há CPIs.
Hoje o tema é a fofura do Koko e a graça e doçura de Robin.

 

Passa das duas da manhã e estive a trabalhar até agora. Tive um dia daqueles. Desde fazer máquinas de roupa e estendê-la ao sol e ao vento, limpar pó, varrer e sei lá mais o quê, até fazer a revisão (espero que final) a mais uma "obra". Um dia falarei sobre isso. 

Por isso, não vi televisão, não vi notícias. Nada.

Tinha ideia de aqui escrever uma ficção desenvolvida segundo a metodologia científica da validação de hipóteses. Primeiro enunciar as ditas hipóteses (por exemplo: suponhamos que o computador continha provas de que passava informação para um certo partido; suponhamos que continha provas de que passava informação para uns certos jornalistas; suponhamos que continha provas de que passava informações para umas certas empresas; etc). Depois identificar os meios de prova a usar na validação de cada hipótese. Depois tal e tal. 

Também tinha pensado ficcionar que eu própria já tive contactos com o SIS. Ou relatar, ficcionadamente claro, casos em que o SIS teve intervenção, e ainda bem, depois de algumas situações banais para uns, terem suscitado  atenção a outros.

Tudo ficcionado.

Mas, juro, já não consigo. É muito tarde.

Este sábado também vou entregar-me à faxina pelo que não sei se durante o dia consigo vir aqui quer agradecer os comentários quer desenvolver algumas ficções (que, obviamente, nada têm a ver com as mediatices e cavalices que por aí pululam).

Entretanto, à falta de melhor, viro-me para animais decentes e fofos. Vejam, por favor, porque é delicioso.

Koko's Tribute to Robin Williams

Robin Williams met Koko in 2001.   It was a very cheerful encounter for both, and Koko has treasured it to this day.  When Koko learned of Robin's passing (on Aug. 11, 2014) she became very sad.  We hope this video will lift her spirits and remind everyone of the profound gift of joy that Robin Williams brought to our world.


Bom sábado
Saúde. Bom trabalho ou bom descanso. Paz.

sexta-feira, maio 19, 2023

Comissão da Palhaçada e das Infantilidades (CPI) dedicada às horas exactas a que o Galamba ligou às pessoas (quaisquer pessoas)

 

Vínhamos no carro a ouvir a inenarrável inquisição a João Galamba. As perguntas e o tom em que são feitas são do domínio do inqualificável.

Gente daquelas, ao prestar-se ao papel de fazer perguntas daquelas, pueris, ridículas, num tom ora justiceiro ora circense (em especial no capítulo dos palhaços), repetindo-as vezes sem conta, repetindo-as até à agonia, sobre assuntos acessórios e apatetados que em nada contribuem para o que quer que seja para além de alimentarem a fauna que invadiu os meios de comunicação social revelam como a nossa democracia ainda é frágil e longe, em muitos casos, de ser civilizada.

Quando o que estaria em causa, naquela anedota que é a CPI, seria perceber a qualidade da gestão e do controlo praticado na TAP, há criaturas que questionam o ministro sobre as horas a que ligou para este ou para aquele, sobre o que disse ou deixou de dizer, ou seja, não sobre o tema da dita Comissão mas sobre a reacção do staff ministerial face a um acesso que, pela descrição, quase parece ou desesperado ou psicótico, de um exonerado, ao que parece emocionalmente perturbado.

E o que mais me incomoda é que, perante o infindável festival de disparates, parece que não há ali um adulto que dê um murro na mesa e diga, alto e bom som (e façam o favor de perdoar o meu francês): "Bardamerda para isto. Já chega de palhaçada. Ou são capazes de se interessar sobre o tema da Comissão ou, se não, andor, desapareçam daqui e é já. Vão dar banho ao cão e não ponham cá mais os pés. Chiça."?

E, se calhar ainda temos que nos dar por felizes por, até ver, apenas um caso destes ter acontecido. Imagine-se que o dito Fred da Bike tinha um primo que resolvia lavar a honra da família Pinheiro e invadia o ministério e pichava as paredes de alto a baixo. Será que o próximo a ir à CPI era o primo pichador para explicar porque o tinha feito e, a seguir, exigiam que lá fosse outra vez o Galamba, a Chefe de Gabinete e o Segurança de serviço para serem confrontados com as afirmações dele? Ou, se descobrirem que um cão mijou na parede do ministério, vão chamar o cão à CPI e depois, outra vez, o Galamba para se explicar porque permitiu a mija do cão ou a que horas é que ligou para alguém a dizer que andava um cão a mijar nas esquinas? Se calhar vão.

Não há pachorra.

É que, no meio disto, em vez de louvarem o ministro que tentou livrar-se de um fulano que, pela descrição e pelo pouco que vi, parece um complicado de primeira, ou louvarem as funcionárias que tentaram que ele não fanasse o computador, parece que está tudo é a favor do dito exonerado...

Parece que está tudo maluco.

Se não nos pomos a pau, é um ápice enquanto esta gentalha adepta da justiça popular e que emprenha pelos ouvidos volte aos tempos do apedrejamento e das fogueiras. 

Pedem a cabeça de Galamba porquê? Juro que ainda não percebi. 

E não me venham com essa coisa do SIS porque só revelam uma burrice sem tamanho.

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Mas, ao ver uns excertos do dito exonerado Frederico e ao ouvir um pouco das declarações da Chefe de Gabinete (que nunca tinha visto mas de quem fiquei com uma boa impressão pois pareceu-me ponderada, calma, sóbria, segura, bem articulada) e hoje ao ouvir um pouco das explicações do Galamba, lembrei-me de uma que trabalhou comigo por mais de vinte anos.

Essa, de quem vou falar, sempre foi uma pessoa com as suas idiossincrasias. Mas quem as não tem? Trabalhava que nem uma moura, vivia para o trabalho, fazia de tudo para ser útil para os colegas. Por vezes, naquela sua preocupação de agradar e de fazer tudo o que podia, quase chegava a parecer servil ou, outras vezes, a comprometer o rigor que se impunha, pois quase fazia o trabalho dos outros, tornando nebulosa a delimitação de responsabilidades por ficar diluída e causar situações ambíguas.

Nunca a achei especialmente inteligente mas esforçava-se tanto, entregava-se tanto que, de certa forma, isso compensava algumas limitações. Aliás, quem não lidava de muito perto com ela nem se apercebia disso pois o que se via é que, se necessário fosse, trabalhava até de madrugada e, quando as pessoas chegavam de manhã, já ela lá estava.

Sempre tentei que não o fizesse e pedisse ajuda. Várias vezes me aborreci pois não queria que pessoas que trabalhavam comigo seguissem regimes tão absurdos. Mas ela recusava-se a ter ajuda. Ficava melindrada como se eu estivesse a questionar as suas capacidades.

Até que um dia começaram a surgir situações algo estranhas. Detectavam-se, aqui e ali, situações erradas. Claro que ela nunca assumia. Segundo ela, eram sempre os outros que interferiam e misteriosamente boicotavam o trabalho dela, eram documentos que, segundo ela, desapareciam, eram suspeitas que ela levantava sobre terceiros. Nunca era ela. E quando se tentava averiguar se, de facto, alguém andava a interferir ou a boicotar o trabalho dela, nunca se conseguia apurar nada pois tudo era envolto numa sucessão de histórias de contornos dúbios, inexactos, voláteis. E, por várias vezes, quando se tentava reconstituir o que tinha acontecido, as provas desapareciam. Ou eram ficheiros que desapareciam ou arquivos apagados ou o telemóvel que ela dizia que achava que lhe andavam a mexer. Sempre tudo inexplicável.

O ambiente entre a equipa andava de cortar à faca. Ninguém queria sequer aproximar-se dela pois toda a gente sabia que, tarde ou cedo, ela levantaria qualquer suspeita. No meio disto, ela vitimizava-se e contava histórias mirabolantes. E, quando viu que junto de mim isso não colhia, começou a minar tudo à sua volta.

Contava a meio mundo a mártir que era, que tudo fazia pela empresa, e que o esforço, em vez de ser agradecido, era ignorado. E que os colegas andavam a tentar destruir a reputação dela e que eu, em vez de a defender, dava era ouvidos aos outros.

Por diversas vezes a aconselhei a ter acompanhamento psicológico, que a empresa suportaria os custos e que ninguém precisaria de saber. De todas as vezes reagiu mal, algumas até de forma agressiva e, por fim, já ameaçadora. Perguntava-me, violentamente, se eu estava a chamar-lhe maluca e ameaçava que as coisas não ficariam assim. Outras vezes punha-se a olhar fixamente para mim e era capaz de fazê-lo durante longos minutos com ar francamente assustador.

A par disto, tinha toda a espécie de comportamentos incompreensíveis. Ficava até às tantas a imprimir coisas. Ninguém fazia ideia do que pudesse ser. Quando eu a chamava e perguntava o que tanto andava a imprimir e a fotocopiar dizia-me que eram manuais pois os dela tinham desaparecido e não conseguia ver no computador, tinha que ter tudo em papel. Tive que lhe dizer que ou me mostrava exactamente o que andava a imprimir compulsivamente ou eu daria ordem de interditar o uso da impressora fora do horário normal.

Uma vez tive eu que ficar a trabalhar até tarde. Estava sozinha naquela ala do escritório, creio que deveriam ser umas nove ou dez da noite. Por economia, as luzes apagavam-se automaticamente a partir das oito, a menos que fosse detectada presença. Portanto a luz do meu gabinete estava acesa mas o resto estava mergulhado em breu. Eis senão quando as luzes se acendem e a vejo vir na minha direcção. Confesso que me assustei. Entra-me no gabinete com um sorriso pérfido e diz: "Não se assuste que não lhe vou fazer mal..."

Quando lhe perguntei o que estava a fazer ali, disse uma parvoíce qualquer que vi que era mentira. E foi-se embora.

No dia seguinte tratei de resolver o assunto. Não tinha dúvidas que ela estava perturbada e que a coisa estava a ir de mal a pior. Equacionámos qual a forma mais pacífica e menos traumatizante para ela. Acabámos por lhe arranjar uma função em que ela não pudesse fazer estragos nem perturbar o trabalho dos outros.

Aceitou mal, fez ameaças, chantageou, vitimizou-se. Mas foi assim que ficou. Não voltei atrás.

Claro que muita gente que não conhecia a verdade dos factos -- e eu própria dei instruções para que as equipas não divulgassem os comportamentos anómalos dela, sobretudo para a proteger -- ficou a achar que eu fui uma megera afastando uma técnica tão extraordinária e não a defendendo das maldades de que foi vítima. 

Mas é assim, muitas vezes não somos compreendidos. Fiz o que achei que devia fazer e pobto final.

Agora o que seria ridículo seria que, por ter na minha equipa uma pessoa que, às tantas, surtou, eu fosse penalizada por isso. Ou que, perante todas as evidências dos erros que ela cometeu ou das perturbações que ela causou, em vez de me darem ouvidos a mim ou a toda a equipa que testemunhou o comportamento dela, acreditassem era nas maluqueiras dela.

Mas, enfim, as coisas são o que são. Muitas vezes, uma tragédia.