segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Призвать россиян свергнуть Путина и потребовать, чтобы Россия прекратила вторжение в Украину

 


русские! Выходите на улицы, свергните Путина, покончите с диктатурой олигархов, требуйте демократии в своей стране, требуйте вывода российских войск с Украины.

Избавьтесь от Путина. Буть свободен. Дружите с украинцами. Уважайте суверенитет других стран. Требуйте, чтобы Россия была демократической страной.

Иди на улицу! Покажите миру, что вы на стороне мира, свободы и уважения достоинства человеческой жизни.

Цивилизованный мир ничего не имеет против России. Чего не может терпеть цивилизованный мир, так это вторжения в Украину или путинской лжи и мифомании.

Желаем вам добра, русские, освободитесь. Покажите, что вы хорошие люди и что мир может гордиться вами.

Идите, русские, свергните Путина.



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Não sei se o Google traduziu bem o meu apelo ao Russos. Espero que dê para entender. 

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Народ України! Ми з тобою.
чинити опір. Боріться за свою свободу. підбадьоритися!

[Povo da Ucrânia! Estamos convosco. 
Resistam. Lutem pela vossa liberdade. Ânimo!]

http://www.wehelpukraine.org
ask@wehelpukraine.org

domingo, fevereiro 27, 2022

Não é a Ucrânia que tem que resistir e dar uma lição a Putin:
é todo o mundo civilizado que tem que se levantar e fazê-lo!

 

Não sou estratega da matéria, não sei de história o suficiente, não conheço de geopolítica senão o básico dos básicos.

Mas sei que o mundo inteiro -- o civilizado, pelo menos -- tem que barrar o caminho a Putin, fazê-lo engolir as mentiras e a ameaças, derrotá-lo de forma inequívoca e, de preferência, humilhante. 

Tão cedo nenhum outro maluco poderá ter veleidades de repetir a gracinha. A lição tem que ser forte, coesa e inequívoca. Não pode haver medo. 

Não há ditador que resista quando tem contra si o resto do mundo.

People from Azerbaijan, Georgia and other Indo-Europeans gather in solidarity against the Russian president, Vladimir Putin, in Times Square, New York City.

Contra Putin, o perigoso ditador
[E veja aqui um vídeo que inequivocamente evidencia a forma ditatorial como ele trata até os que lhe são próximos]
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Força, Ucrânia!

 

Quando um lunático está no poder e quando, ainda por cima, é um lunático com apetência imperialista e sem qualquer respeito pela dignidade de quem não se verga à sua vontade, quando está aos comandos de uma potência poderosa, armada até aos dentes, então, estamos perante uma situação deveras perigosa.

Para quem, como eu, achava que os tempos já não estão para malucos e que as guerras mais recentes teriam provado que já ninguém aceita tão absurdas e criminosas situações, o que está a passar-se é impensável. 

Vejo as imagens e fico chocada. Não vejo uma realidade longínqua. Vejo uma realidade próxima. Vejo tantas mães, iguais a todas as mães dos nossos pacíficos países, com os filhos ao colo, a despedirem-se dos maridos que ficam nas cidades a defender o país. Vejo estradas cheias, subterrâneos cheios. Gente como nós. Sobretudo mulheres, crianças... e alguns cães. Fugindo da guerra, e deixando maridos, pais, irmãos para trás, quem fica, tenta manter unido o núcleo familiar. 

Há pouco, um homem andava no meio de escombros e vidros partidos com o cão ao colo. Comovi-me. Quando, no meio de ameaças brutais, ainda subsiste a generosidade suficiente para continuar a proteger os animais de estimação a gente constata como é infinita a nossa capacidade de compaixão.

Enquanto isso, há um maluco à solta a determinar o assalto a um país, cause isso as mortes que causar.

Como pôde a realidade tornar-se um pesadelo assim?


Li a crónica de Miguel Sousa Tavares dizendo que isto poderia ter sido evitado. Segundo ele, dever-se-ia ter levado Putin a sério, dever-se-ia ter-lhe garantido que a Ucrânia não entraria para a Nato, que o país se manteria neutro.

Percebo o que diz. Mas quem poderia supor uma loucura destas? E devem os países formatar as suas decisões em função das ameaças de doidos?

Ouço mil explicações. 

Não quero saber de conversas com laivos de desculpabilização. Não quero saber se nos Estados Unidos não são todos umas virgens, não quero saber se o regime ucraniano estava muito dependente das boas graças americanas ou o que for. O que sei é que um país é um país é um país. Um país não se invade.

Quem viva num país invadido deve defender-se com unhas e dentes e toda a gente deve apoiar quem lá vive e corajosamente se defende contra os invasores. 

Putin não gosta da União Europeia, não gosta dos Estados Unidos. Pior: Putin não gosta de democracia, não gosta de liberdade. E, por isso, eu não perdoo a Putin. O mundo inteiro civilizado não deve perdoar Putin.

Vejo que a Ucrânia está a distribuir armas à população e a apelar a que defendam o país. Não sei como pode defender-se um país com armas de mão e cocktails molotov contra a força bélica da Rússia... mas admiro a coragem de todos quantos não se importam de sacrificar a vida. Vejo entrevistas: toda a gente diz que vai defender o país. Comovo-me. 

Os abrigos estão cheios. Quem fica para defender o país sabe que pode não voltar a ver os que se abrigam. Mas estão determinados. Comovo-me.

Emociono-me ao ver estas imagens. Dou por mim com lágrimas nos olhos. Por várias vezes, ao longo da noite, os meus olhos encheram-se de lágrimas.

Custa-me perceber como é possível, nos dias de hoje, acontecer uma coisa destas. 

É impensável. 

Isto não poderia estar a acontecer. Isto não pode acontecer. 

Acredito que a Rússia não seja Putin. Tenho esperança que a Rússia apeie Putin. Gostava que fosse a Rússia a apear Putin.

Não quero saber de chavões ou de grandes conversas sobre motivos ancestrais, equilíbrios estratégicos, o que for. O que sei é que não pode haver justificação humana para o que está a passar-se. Quem decide invadir um país pela força das armas é um assassino. Mas o grave é que um assassino vulgar mata e supostamente fica saciado ou vingado. Mas se estamos em presença de um assassino que é um mitómano, um psicopata, e se tem as rédeas do poder na mão, o perigo é muito maior. Nem consigo imaginar até onde Putin pode ir.

Espero que alguém consiga pôr cobro a esta loucura. Espero que a solução nasça dentro da própria Rússia. Espero que a China dê uma ajuda.

Enquanto isso não acontece, só me resta esperar que a Ucrânia resista. Apesar das explosões, dos tanques, das tropas na rua, apesar do medo, apesar de tudo, espero que a Ucrânia resista.

A bravura dos ucranianos comove-me. O seu sofrimento também. A sua determinação também.

E só espero que todo o mundo civilizado apoie a Ucrânia. De todas as formas, em todos os lugares, até quando for necessário. Nas ruas, nas redes sociais, na comunicação social, onde quer que se possa influenciar os governos de todo o mundo a apoiar a Ucrânia e a apear Putin e toda a infame e infecta oligarquia que o apoia. 


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Putin
Para quem ainda tem alguma dúvida -- isto é um ditador

[Com sorte, Sergei Naryshkin terá a coragem, o engenho e a arte para reagir a uma humilhação destas]


You’ve all seen it now. The small, mean, vicious yet weirdly blank eyes. The stubby stabbing fingers that jab as he humiliates his underlings, making them shake with fear. The joy he takes in sadism. It’s almost comedy villain stuff. But cliches exist for a reason. And we need to stop kidding ourselves about Putin – and start taking steps to deal with him. (...)
Quem é Putin?


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Este é  o presidente da Ucrânia: 

era um comediante, aparentemente um populista pouco preparado para altos voos. 

Tem-se mostrado estranhamente corajoso, fazendo frente a Putin

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Voluntários chegam-se à frente para defender a independência da Ucrânia

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Uma mãe agradece a quem trouxe os seus filhos até si


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Imagens provenientes daqui e daqui

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Força, Ucrânia!

sábado, fevereiro 26, 2022

Ucrânia --> resistir (apesar do medo)
Resto do mundo civilizado --> unir esforços e apoiar a Ucrânia seja de que forma for

 

























Sem palavras. Mais cartoons aqui

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Força à Ucrânia e força a todos nós para que nos mantenhamos unidos no apoio à Ucrânia e nos esforços contra Putin.

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Rússia versus Mundo Civilizado
Uma questão de testosterona descontrolada...? Um mitómano à solta...?
Um bando de pré-humanos amestrados por um outro pré-humano...?
O quê...?

 

  • Não, Caro Leitor, não desvalorizo as guerras mais recentes
  • De facto, não desvalorizo nenhuma guerra. 
  • Não, não confundo nenhum episódio de guerra (como, por exemplo, os que referiu) com um vulgar fait divers. 
  • Não, não é como se não se passasse nada
  • E, sim, é uma vergonha, tudo isto é uma enorme vergonha para todos

Quando disse que a guerra é coisa datada, coisa fora de moda, estava a ser irónica. Simplesmente, acho as guerras uma manifestação de perturbação, de loucura, de estupidez, de atraso mental, de atraso civilizacional. 

Por muito que se fale em estratégia de longo prazo ou em ambição de refazer o império por parte de Putin o que eu vejo ali é uma coisa impensável à luz da civilização e do humanismo que me parece que deveriam caracterizar os tempos que vivemos.

Poderia dizer que acho que todos os que avançam para a guerra como Putin o tem feito mostram que são uns trogloditas, uns energúmenos, uns seres cavernícolas. Talvez assim fosse mais explícita. Mas, perante a imensidade da estupidez, temendo não ter palavras para falar da situação com a rudeza que me parece devida, apeteceu-me antes usar a ironia

Mas concordo: a ironia não será o registo certo. Talvez o desprezo. Talvez a estupefacção. Talvez a preocupação. Talvez a rejeição. 

Mas, Leitor, não tenho arte e engenho para tal. São muitos mixed feelings, todos no mesmo sentido e todos muito fortes. Não sei esculpir as palavras para que transmitam tudo isso na forma certa.

Um fulano que não respeita a soberania legítima, que não respeita fronteiras, que se marimba para o direito internacional, que se está nas tintas para as vidas que se vão sacrificar e para o abalo que vai causar em todo o mundo parece-me alguém que está doido ou que é estúpido. Poderia dizer é um ditador, um mitómano, um tresloucado, um estupor, um monstro, uma besta quadrada. Mas acho que não estaria a defini-lo bem.

Portanto, por ora, nada mais digo.

Acrescento apenas que quem defenda o que a Rússia está a fazer é por mim avaliado pela mesma bitola. Sem excepções e sem tirar nem pôr -- e sem qualquer vestígio de ironia. 


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Até já

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

A guerra excita bué o José Rodrigues dos Santos

 

A televisão está posicionada na RTP 1 e, antes de passar a uma reportagem em que uma voz masculina sotacada relata o que se passa lá pelas terras frias e enquanto Putin, agora vestido*, faz valer as suas razões, José Rodrigues dos Santos, de pé, quase salta de entusiasmo. Estando ele de perfil, verifico que, de facto, lhe falta metade da cabeça. Não tem a parte redonda de trás: cai a pique a partir do alto. Não sei se isso justifica este comportamento histriónico de cada vez que ouve os tambores a rufarem mas acho que deveria ser caso de estudo.

É que nem consegue disfarçar: aponta para o quadro em que se projectam fotografias que só ele percebe, gesticula, faz inflexões na voz, agita as mãos. Felizmente não se baba, senão seria ainda mais bizarro.

Entretanto, apareceu o Guterres a pronunciar-se sobre a situação e como estava a escrever só retive que ainda não melhorou o sotaque, continua a perecer um mexicano que aprendeu americano com alguns gringos guerrilheiros ou traficantes.

E agora aparece o trio de repórteres: o tal senhor que fala português com acentuado sotaque russo e que, para se agasalhar e ficar ainda mais giro, usa um gorro de pele de orelhas. Chama-se Evgueni Mouravitch e está mesmo fofinho, com narizinho encarnado e aquele gorrinho. Está também a Cândida Pinto que, mal lhe cheira a guerra, salta para a boca de cena. Sempre tranquila, deveria ensinar o José Rodrigues dos Santos a ter maneiras. Está bem penteadinha e bem arranjadinha e parece que não está com frio. Em Kiev a temperatura não deve estar má de todo. E agora o João Ricardo de Vasconcelos, em Washington, onde se vê que também não está frio. Também está calmo.

Neste momento está o ministro Cravinho a ser entrevistado. O ministro está tranquilo. Tem sempre aquelas olheiras que denunciam que ou tem insónias ou passa as noites na borga. Seja como for, acho que é um homem com pinta. E resiste bem às investidas do José Rodrigues dos Santos, não está nem aí para os delírios adolescentes do escritor de best sellers.

Portanto, num excitex descontrolado, só mesmo o José Rodrigues dos Santos. Um destes dias ainda ejacula em plena emissão. 


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* Estranho ver o Putin tão vestido porque me habituei a vê-lo armado em Rambo. É que -- e não é por nada -- acho que fica melhor em tronco nu, a exibir o físico, do que vestido e armado em maluco.





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E um dia feliz
Ânimo. Boa sorte. Bons encontros.

quarta-feira, fevereiro 23, 2022

A propósito desta guerra vou com o passo trocado na formatura a caminho do lança perfume e do banho de espuma

 



Sempre ouvi dizer mas nunca levei integralmente à letra que nunca se pode tomar nada como garantido. Pensava eu, na minha santa inocência, que idos estavam os tempos em que a Europa, os States, a Rússia e estados vizinhos viviam na instabilidade de um dia a coisa poder vir a dar para o torto. Para mim, coisas como guerras frias, cortinas de ferro, invasões, tomadas de posição nas fronteiras, exercícios militares ou envio de tropas eram coisas datadas, fora de moda. Para mim, era claro que jamais países civilizados voltariam a esses desagradáveis tempos de chumbo.

Sei que o petróleo é limitado, sei que a indústria do armamento tem a mão quente, sempre pronta a atear fogueiras para que a coisa pegue fogo e as fábricas tenham o que produzir. Mas, na minha ligeireza, pensava eu que a coisa haveria de se circunscrever aos territórios em que a população já se encontra esmagada ou foragida e em que a paisagem é, de há muito, cenário de destruição. 

Portanto, para dizer verdade, tenho vindo a ouvir esta ameaça de guerra como uma tesão do mijo dos que sempre beneficiam com estas histerias: a comunicação social e a indústria da guerra.

Mas eis que, ao ligar a televisão, vejo comentadores all over a comentar as macacadas do Putin. Às tantas, vejo-o a ele com ar de pero saloio, rosado, insuflado e, mais do que vintage, a dizer coisas que só poderão fazer sentido na cabeça de gente doente. Monty Python revisited. Desconfiada, resolvi contrastar com o Guardian. Tenho o Guardian em boa conta. Contudo, vejo que o Guardian também está a levar a macacada do Putin a sério. 

Enquanto escrevo, vejo tanques a andarem na neve e, desatenta, não sei se são coisas de agora ou imagens de arquivo. Mas fico a pensar se o meu optimismo de sempre não estará deslocado no actual contexto.

Custa-me a acreditar que o mundo, depois de dois anos de pandemia, se vá enfiar num conflito que cause ainda mais problemas à humanidade. Mas já não digo nada.

Mais autodestrutivos do que qualquer outra espécie, os homens andam a fazer de tudo para saírem de cena (não digo 'os homens e as mulheres' pois acho que, no que toca à estupidez autofágica, os homens dão 10 a 1 às mulheres -- lamento dizê-lo).

Contudo, não vou dizer mais nada: toda esta realidade me é estranha. Tenho a maior dificuldade em dizer o que quer que seja sobre isto pois, por um lado, ainda acredito que toda esta ficção se vai dissipar e, por outro, a ser verdade, prefiro alienar-me. A guerra é coisa que não me interessa. 



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Sou da paz, do riso, da brincadeira, da irreverência. Por isso, com vossa licença vou falar de outra coisa.

Desde os tempos da faculdade até os nossos filhos serem adolescentes, éramos um grupo de três casais que se encontrava quase todos os fins de semana. Depois um dos casais separou-se e a coisa começou a ficar um pouco estranha. Entretanto, juntaram-se mais dois casais. Não apenas nos encontrávamos no fim de semana como fazíamos passeios e picnics e, por vezes, à sexta ou sábado à noite, íamos fazer o circuito das discotecas da moda ali nas Docas, em Alcântara, na 24 de Julho. Dançávamos que era um gosto, um excesso (o meu marido não, nunca dançou, o meu marido limitava-se a esperar que eu me cansasse). Não sei como conseguíamos e porque gostávamos daquela loucura: mal nos podíamos mexer e o fumo e o barulho eram de destruir qualquer vestígio de saúde. Ficávamos cá por baixo. O Frágil nunca foi propriamente a nossa praia.

Muitas vezes, ao fim de semana, na casa de uns e outros, enquanto se ultimava o almoço, punha-se a música bem alto e todos cantávamos a plenos pulmões, dançando na maior alegria. Em certa altura, a Rita Lee era presença assídua. A sua irreverência amalucada merecia, como é bom de ver, o nosso melhor agrado. Uma das canções que cantávamos de gosto era o Banho de Espuma. Ou o Lança-Perfume

Pelo Natal, ao passar na livraria, vi a sua autobiografia e, ao espreitar os seus interiores, logo me pareceu que seria o tipo de livro que a minha filha ia apreciar.

E assim foi. Gostou. Falou-me do vocabulário criativo e bem disposto, falou-me do sentido de humor que revestia a memória de Rita Lee. Achou que eu também gostaria de ler. E, assim sendo, trouxe-o. E eu, mal acabado O ano do pensamento mágico, logo saltei para ele.

E que agradabilíssima surpresa. A fala é corrida, solta, desempoeirada, cheio de riso, palavras boas, sonoras, graciosas. As recordações são afáveis, generosas, abraçadas à vida. Ainda só vou na página 45 mas já estou agarradinha. 

Agora ando rigorosa, à hora de almoço obrigando-me a tempo para a leitura. A temperatura boa ajuda, está-se bem. À porta, ao sol, de calças piratas, justas e pelo joelho, blusa de alças, boné com grande pala para poder enfrentar o sol que disputa a leitura, ali estou eu, consolando-me das agruras, totalmente entregue ao prazer de um bom livro.

Quando estiver para aí virada, transcreverei alguns pequenos excertos para que V. lhe possam tomar o gosto.

Mas, para já, aqui fica um cheirinho dela, da Rita Lee, essa ganda maluca.






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As fotografias que aqui usei provêm do Street Photographers

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Desejo-vos uma feliz quarta-feira
Tudo a bombar. Sempre a abrir.

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Bernie e o buraco negro que se formou à sua volta

 

Bernie Madoff, uma das mais gradas figuras do sistema financeiro mundial, morreu em Abril de 2021, aos 82 anos, na prisão, onde estava desde 2008. 

Uma das maiores fraudes do mundo moderno, o homem exemplar que pugnava pela transparência no mundo dos negócios, Madoff era apenas um vigarista inteligente a quem o esquema de Ponzi fugiu das mãos, deixando milhares de vítimas espalhadas por todo o mundo. 

Em paralelo era um filantropo, o que compunha ainda melhor o figurino de cidadão perfeito e que demonstrava como é frequente a hipocrisia andar a par e passo com a ganância e a falta de escrúpulos.

Bernie era pai de Mark Madoff que se suicidou em 2010 no apartamento onde foram encontrados, felizmente bem, o filho de 2 anos e o cão. Era também pai de Andrew Madoff que morreu em 2014 com cancro.

Bernie era irmão de Sondra Wiener que era casada com Marvin Wiener. Ambos foram agora encontrados mortos, suspeitando-se que houve homicídio seguido de suicídio. Também tinham perdido a casa e a fortuna, vítimas do esquema fraudulento de Bernie.

Para já, sobrevivem a Bernie seis netos -- a quem ele tinha proibido de entrar na luxuosa mansão em que vivia com receio que os miúdos danificassem alguma coisa -- e Ruth Madoff, a viúva, que tem 80 anos e vive com a primeira mulher do falecido filho Mark.

Moral da história? 

Penso que é difícil encontrar moral nesta história. 

Mas lembrei-me de uma passagem do livro que acabei de ler da Joan Didion na qual o marido, a propósito de uma situação complicada, disse quase a despropósito, quase como se quisesse dizer uma palavra de conforto: 'No fim tudo se equilibra'. Didion pensou que ele tinha querido dizer que uma pessoa que passa por uma sucessão de maus bocados um dia será compensada, vivendo bons momentos. Mas ele disse que não era isso que tinha querido dizer.

Tenho pensado nisso: de uma forma perversa (porque as vítimas não têm culpa de ser vítimas, especialmente as vítimas inocentes), Madoff viu-se sem filhos e agora já não está cá para ver mas perdeu também a irmã e o cunhado. Tanta ganância para quê? Pessoas assim como ele devem achar que são eternas. Constroem grandes fortunas como se fossem desfrutar delas para todo o sempre e como se os filhos também vivessem para sempre para se gozarem delas. 

No fim, quando tudo se desmorona, a fortuna e a família, fica o quê?

Mark, que se suicidou, já antes tinha falhado uma outra tentativa, tendo nessa vez deixado a seguinte nota dirigida ao pai: “Now you know how you have destroyed the lives of your sons by your life of deceit. Fuck you.”

Andrew, que morreu quatro anos depois do irmão, disse uma vez sobre o pai: “He’s killed Mark quickly. And he’s killing me slowly."


Poder-se-ia encontrar aqui um paralelismo com a história de Rendeiro, com a de Salgado, com as dos senhores da guerra, com a história de tanta gente. Mas não vale a pena. No fim, tudo é patético.

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Desejo-vos um dia feliz
Força. Boa sorte. Boa energia. Esperança

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

20 coisas que eu sempre

 



1 - Eu sempre gostei de canja, de iscas, de peixe cozido, de sopa de tomate, de peixe frito com arroz de tomate, de ovos mexidos de tomatada, de choco cozido com tinta, de cozido à portuguesa, de arroz doce, de tortas de azeitão e de mil outras coisas. Ou seja, reformulando, eu sempre fui um bom garfo.

2 - Eu sempre gostei de praia embora cada vez mais só goste de praia para lá caminhar e para olhar o mar, não para ficar deitada numa toalha.

3 - Eu sempre gostei de ler e sempre gostei de escrever

4 - Eu sempre acreditei mais na minha intuição do que na minha capacidade de racionalização (por isso acho um certo desperdício de tempo planear com muito detalhe algumas das minhas coisas -- prefiro esperar que no momento, consoante as circunstâncias, me ocorra espontaneamente como melhor agir)

5 - Eu sempre gostei de fazer trabalhos manuais (tricot, crochet, tapetes de arraiolos, varrer, lavar a louça, passar a ferro, cozinhar, etc)

6 - Eu sempre fui mais de descobrir e experimentar coisas novas do que de me ater a rotinas. E sempre gostei mais de produzir do que de manter.

7 - Eu sempre gostei de conviver com pessoas inteligentes mesmo que não concorde com elas

8 - Eu sempre gostei de rir e de estar com pessoas com sentido de humor

9 - Eu sempre gostei de namorar

10 - Eu sempre gostei de homens interessantes, em especial se forem bonitos

11 - Eu sempre gostei de passear, em especial de carro

12 - Eu sempre gostei de casas e de as decorar. E de estar em casa.

13 - Eu sempre apreciei os momentos só meus de sossego, silêncio e total liberdade de movimentos

14 - Eu sempre tive aversão a gente chata, maledicente, egocêntrica, engraxadora, muito faladora, parva, burra, beata, apertadinha ou que não se enxerga

15 - Eu sempre me interessei por política e sempre achei que acima de tudo tem que estar a liberdade, a democracia, o conhecimento, o desenvolvimento e a perspectiva humanista.

16 - Eu sempre fui destemida (embora seja uma maricas do pior que há em questões de saúde ou de risco, seja de que natureza for, com a família mais chegada)

17 - Eu sempre gostei de mandar embora aquilo de que mais goste seja de formar equipas, lançar-lhes desafios, delegar responsabilidades para as quais não estejam habituados, ajudá-los a superarem-se

18 - Eu sempre tive muita dificuldade em acatar ordens de quem não sabe o que faz ou tem vistas curtas ou pensa mais nos seus próprios interesses do que nos interesses da organização

19 - Eu sempre me esqueci dos aniversários de toda a gente (excepto da família mais próxima - marido, filhos, nora e genro, netos, pais)

20 - Eu sempre acho que vamos sair desta (seja qual for 'esta' -- excepto se for a morte mas, até aqui, por vezes acho que é o descanso que a pessoa merecia ou a melhor maneira de se evitar sofrimentos maiores) tal como sempre acho que não há mal que sempre dure.


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Estes 20 sempres vêm na sequência dos 20 nuncas de ontem. De notar que foi o que ia vindo à cabeça à medida que ia escrevendo. Se puxasse mais pela cabeça talvez aparecessem mais 20 de cada e, se calhar, com mais propriedade do que estes. Mas, não faz mal, fica para a próxima. 
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As fotografias foram feitas este domingo na praia e fazem-se acompanhar de Sofiane Pamart que interpreta Medellín 

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Desejo-vos uma boa semana a começar por esta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Boa disposição. 

domingo, fevereiro 20, 2022

20 coisas que eu nunca

 



1 - Eu nunca entrei num Starbucks e, a bem dizer, nem sei bem o que lá se vende. Café em balde? Café com cenas? Não sei. Não me interessa.

2 - Eu nunca bebi um whiskey. Já aflorei... mas beber, beber, não. Não gosto do sabor.

3 - Eu nunca bebi uma coca-cola. Também já aflorei mas não gostei. Nem percebo qual o propósito daquilo. Para o meu gosto é uma coisa que não presta.

4 - Eu nunca consegui ver um jogo de futebol com atenção do princípio ao fim

5 - Eu nunca vi um espectáculo de stand up nem ao vivo nem na televisão

6 - Eu nunca joguei a dinheiro seja no casino seja entre amigos seja onde for

7 - Eu nunca tive vontade de fazer vida na política

8 - Eu nunca consegui aprender a letra de uma canção do princípio ao fim

9 - Eu nunca consegui ter um autor (um único) preferido

10 - Eu nunca tive vontade de me casar pela igreja

11 - Eu nunca experimentei droga nem sequer fumei erva

12 - Eu nunca me deixei hipnotizar

13 - Eu nunca tive nenhum guru

14 - Eu nunca comi perninhas de rã

15 - Eu nunca tive paciência para aprender a jogar xadrez

16 - Eu nunca consegui fazer uma festa a um gato (mas não me importo de meter a mão dentro da boca de um cão)

17 - Eu nunca tive vontade ou paciência para tentar ler o Asterix ou o Tintim

18 - Eu nunca vi o Matrix 

19 - Eu nunca vou conseguir ter paciência para a Cristina Ferreira, para a Clara Ferreira Alves ou para a Catarina Martins (no fundo, acho que estão bem umas para as outras)

20 - Eu nunca percebi como é que o Nuno Rogeiro desencanta aquelas informações e aquelas fotografias que mostra para evidenciar que tem provas do que diz


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Fotografias feitas este sábado ao som de uma máquina de escrever muito musical

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Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, fevereiro 19, 2022

Escrever sem filtros

 

Não vou falar muito do meu dia. Deve ser uma seca para quem me lê, é sempre mais do mesmo. Por isso, limitar-me-ei a dizer muito pouca coisa. 

Tinha uma reunião manhã cedo e, de véspera, tinha-me queixado disso. Esta mania de marcarem reuniões de madrugada. Como não quero dizer que me deito às quinhentas, não tenho pretexto para dizer que à hora a que gostam de fazer reuniões estou eu ainda na melhor parte dos meus sonhos.

De facto, estava ainda a dormir, a sonhar que estava numa casa com uma parede azul-verde-turquesa-esmeralda e que estava a escolher objectos curiosos para a decorar. Lembro-me de uma caixa muito bonita com uma tampa de vidro e eu estava a colocar colares lá dentro e ia pendurar a caixa como objecto decorativo, ao alto, a tampa de vidro a parecer uma portinha que deixava ver a colorida pedraria dos colares. O tecto era branco e tinha a meio um florão estucado com um candelabro de Murano pendurado. Nisto, ouvi o meu marido a perguntar-me: 'Mas não tens uma reunião agora?' Levantei-me de um salto. Ele até disse: 'Calma! Não precisas de te levantar assim...' Pensei que me tinha esquecido de pôr o despertador. Afinal não. Devia já estar tão a dormir que o pus para uma hora depois. Por isso, tive cerca de quinze minutos para me preparar para me apresentar fresca, arranjada e desejavelmente assertiva na reunião. 

Portanto, começou assim o meu dia... e seguiu sempre a abrir.

Mas a seguir à hora de almoço peguei no livro e fui lá para fora, para o sol. Só que não havia sol. E o dog em vez de se deitar a dormir ao sol, talvez pela ausência do mesmo, resolveu pôr-se de pé a puxar por mim, a pôr a pata peluda em cima do livro, a esburacar-me as mangas. Fui buscar-lhe um ossinho a ver se se entretinha a roê-lo mas, qual quê, andou a atirá-lo, a saltar-lhe em cima, a escondê-lo e, pelo meio, punha-se de pé para me puxar o cabelo, para me descalçar as meias ou simplesmente para me moer a paciência. O meu marido critica-me: 'Não te impões... Bate-lhe'. Então, de vez em quando, dou-lhe uma tapa. Ele salta e volta ao mesmo ainda mais animado, até parece que a rir. O meu marido diz: 'Isso é que é bater? Para ele isso é uma brincadeira.'. Mas claro que não sou capaz de lhe bater com mais força. A coisa geralmente acalma-se quando o meu marido lhe dá um daqueles seus violentos gritos. Aí abana-se todo, como se para se sacudir (eu acho que é para fazer reset), e vai fazer outra coisa. Mas, muitas vezes, apenas faz um intervalo pois rapidamente volta ao mesmo. Até se cansar.

Mas, no meio, consegui ler mais um bom bocado do livro O ano do pensamento mágico. Não tarda estou a acabá-lo. É um livro muito tocante, muito sincero. A fragilidade de Joan, viúva, exposta de uma forma muito inocente, é verdadeiramente tocante. 

Já o falei: há no que ela diz muito do que a mim também me faz muita impressão -- a transição de um estado para o outro é coisa de um instante, de um acaso. Está-se bem e, no instante seguinte, já não se está. Ela interroga-se: e se, naquele dia, em vez daquilo, eu tivesse feito outra coisa? Joan percorre, de memória, todos os passos dados em conjunto, todas as palavras trocadas, tenta ver no computador dele as últimas palavras que escreveu. Tenta encontrar vestígios do que estava para vir, receia ter estado desatenta perante sinais que eram óbvios, tenta perceber se ele antevia, de alguma forma, que a sua vida estava prestes a extinguir-se. Percebo-a muito bem. Joan sente que, se de alguma forma conseguir desvendar o mistério, talvez consiga entrar melhor no mundo vazio, sem John. Tenta encontrar alguma racionalidade num mundo que, sem ele, lhe parece irracional. E, de uma forma muito íntima, muito ilógica, Joan deseja que o que aconteceu possa ser revertido. Um milagre da ciência ou qualquer outra coisa, não importa qual.

Enquanto tentava recuperar-se da perda do marido, a filha estava gravemente doente. O que Joan sofreu, o desgaste físico e psicológico a que esteve sujeita foram brutais. Perdeu imenso peso, ficou uma frágil pluma. 

Mas, ao contrário do que poderia pensar-se, não é um livro de autocomiseração. Escrito de forma seca, despojada, não há ali uma só lamechice. É uma escrita sem filtros. Quase parece uma escrita sem edição. As mãos escavando a mente e a alma.

Encontro também ali uma ideia que me é familiar. No meio da maior desgraça, eu dou por mim a tentar encontrar o lado positivo da coisa. Não há uma única situação em que isso não aconteça. Muitas vezes, interiormente condeno-me por dar por mim a tentar descobrir o lado positivo de uma coisa que é má de uma ponta a outra. Mas é involuntário. Apesar de ser uma coisa que nasce espontaneamente em qualquer ocasião, a verdade é que me ajuda a suportar os maus momentos e, ao mesmo tempo, ajuda-me a tentar ajudar os que estão inconsoláveis pelo que aconteceu.

Mas isto, a leitura, foi à hora de almoço.

A tarde foi bas (= business as usual). 

Mas conseguimos acabá-la um pouco mais cedo. Fomos caminhar e ainda era de dia. Ver os dias a crescerem traz-me alegria. Antes, ainda fui fotografar as magnólias que, prenunciando a primavera, já estão em flor. É uma árvore de um fantástico simbolismo: dá flor quando está despida. E se são belas e simples as suas flores. Emociono-me com as flores deste jardim que herdei, que uma mulher, antes de mim, imaginou, plantou, cuidou. Sei como é deixar para trás uma casa mas não imagino o que seja deixar para trás um jardim. Espero nunca ter que deixar.

Depois fomos ao supermercado. Depois à pet shop e dali ao restaurante buscar o jantar. Felizmente havia dinheiro nas duas carteiras pois o multibanco estava em baixo. 

Jantámos tarde, claro, mas, embora para aqui esteja como sempre estou (com sono), acho que foi um dia bom e, como estamos a entrar no fim-de-semana, sinto-me como se estivesse a entrar em férias. Contento-me com pouco e sinto-me agradecida com tudo. 

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Joan Didion's nephew reflects on her legacy and inspirations: 'Life was her material'


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Fotografias de Zara Carpenter na companhia de Emőke Baráth, Philippe Jaroussky, Artaserse – Handel: Lotario, HWV 26: "Scherza in mar la navicella"

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Desejo-vos um sábado agradável
Paz de espírito. Beleza. Afecto. Alegria.