terça-feira, fevereiro 22, 2022

Bernie e o buraco negro que se formou à sua volta

 

Bernie Madoff, uma das mais gradas figuras do sistema financeiro mundial, morreu em Abril de 2021, aos 82 anos, na prisão, onde estava desde 2008. 

Uma das maiores fraudes do mundo moderno, o homem exemplar que pugnava pela transparência no mundo dos negócios, Madoff era apenas um vigarista inteligente a quem o esquema de Ponzi fugiu das mãos, deixando milhares de vítimas espalhadas por todo o mundo. 

Em paralelo era um filantropo, o que compunha ainda melhor o figurino de cidadão perfeito e que demonstrava como é frequente a hipocrisia andar a par e passo com a ganância e a falta de escrúpulos.

Bernie era pai de Mark Madoff que se suicidou em 2010 no apartamento onde foram encontrados, felizmente bem, o filho de 2 anos e o cão. Era também pai de Andrew Madoff que morreu em 2014 com cancro.

Bernie era irmão de Sondra Wiener que era casada com Marvin Wiener. Ambos foram agora encontrados mortos, suspeitando-se que houve homicídio seguido de suicídio. Também tinham perdido a casa e a fortuna, vítimas do esquema fraudulento de Bernie.

Para já, sobrevivem a Bernie seis netos -- a quem ele tinha proibido de entrar na luxuosa mansão em que vivia com receio que os miúdos danificassem alguma coisa -- e Ruth Madoff, a viúva, que tem 80 anos e vive com a primeira mulher do falecido filho Mark.

Moral da história? 

Penso que é difícil encontrar moral nesta história. 

Mas lembrei-me de uma passagem do livro que acabei de ler da Joan Didion na qual o marido, a propósito de uma situação complicada, disse quase a despropósito, quase como se quisesse dizer uma palavra de conforto: 'No fim tudo se equilibra'. Didion pensou que ele tinha querido dizer que uma pessoa que passa por uma sucessão de maus bocados um dia será compensada, vivendo bons momentos. Mas ele disse que não era isso que tinha querido dizer.

Tenho pensado nisso: de uma forma perversa (porque as vítimas não têm culpa de ser vítimas, especialmente as vítimas inocentes), Madoff viu-se sem filhos e agora já não está cá para ver mas perdeu também a irmã e o cunhado. Tanta ganância para quê? Pessoas assim como ele devem achar que são eternas. Constroem grandes fortunas como se fossem desfrutar delas para todo o sempre e como se os filhos também vivessem para sempre para se gozarem delas. 

No fim, quando tudo se desmorona, a fortuna e a família, fica o quê?

Mark, que se suicidou, já antes tinha falhado uma outra tentativa, tendo nessa vez deixado a seguinte nota dirigida ao pai: “Now you know how you have destroyed the lives of your sons by your life of deceit. Fuck you.”

Andrew, que morreu quatro anos depois do irmão, disse uma vez sobre o pai: “He’s killed Mark quickly. And he’s killing me slowly."


Poder-se-ia encontrar aqui um paralelismo com a história de Rendeiro, com a de Salgado, com as dos senhores da guerra, com a história de tanta gente. Mas não vale a pena. No fim, tudo é patético.

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Desejo-vos um dia feliz
Força. Boa sorte. Boa energia. Esperança

1 comentário:

  1. Uma história triste. A única moral é que a mentira nunca nos leva a lugar nenhum. Ele construiu um castelo de areia em que, infelizmente, todos afundaram juntos.

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