sábado, dezembro 31, 2011

Olhem sempre para o lado luminoso da vida, não se preocupem: sejam felizes; brinquem; riam; beijem, beijem muito. E que tenham saúde e sorte. E que sejam muito felizes. São os meus votos para 2012!


Que o Sarkozy perca as eleições porque eu acho que isso vai ser o rastilho para que o as coisas mudem na Europa.

Que Portugal volte a ser um País com orgulho, soberano, lúcido. Que voltemos a ter esperança. Que os jovens não tenham que sair do País. Que os jovens tenham vontade de construir família e ter filhos.

Que haja trabalho, segurança, harmonia.

Que tenhamos saúde. Que sejamos bafejados pela sorte.

Que tenhamos possibilidade e vontade de ler, ler muito, desfrutar a beleza das palavras, que nos saibamos deleitar com todas as formas de arte, que deixemos que a música nos eleve até onde a felicidade é mais límpida.

Que tenhamos largo espaço para os afectos, que os saibamos receber e dar com a inocência das crianças.

E, quanto ao mais, é o que disse lá em cima. Vamos ver sempre o lado bom das coisas, vamos ter força para superar as dificuldades, não desistamos, lutemos para ser felizes. E vamos rir. Vamos rir muito.


Always look on the bright side of life pelos Monty Python


õõõõõ


O Ano Novo é altura de grandes orquestras. Cá está uma à maneira. Enjoy!


õõõõõ


Don't worry, be happy - Bobby Mcferrin diz-nos como é. Vamos fazer coro, está bem?


õõõõ



Mozart, Sechs Tänze e o aqui repetentíssimo coreógrafo checo Jirí Kylián - diversão, arte em estado puro!


õõõõõ


Beijos no cinema - para se inspirarem. Que tenham muitos beijos na vossa vida.

õõõõõ





Um abraço e tenham um belíssimo 2012, está bem?

 
[Como sabem sou polifónica... Por isso, convido-vos a ver os meus votos de Ano Novo num registo mais poético-soft no Ginjal e Lisboa, a love affair e, num registo mais minimalista, no Street Photo & Co.]

  

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Cao GuanJing, o das Três Gargantas, Passos Coelho, o do Cavalo de Tróia (或中國誰發現了一個橫跨小丑)


  

Espero que os meus queridos leitores já tenham ido aprender chinês e que percebam isto que agora vos vou dizer: 中國人已經在那裡前來住宿。勞拉女士的丈夫木馬看守政府里斯本是中國全面通過葡萄牙將會成為歐洲人。

Ainda não conseguem...? Mau. Daqui por pouco tempo, como vão conseguir sobreviver...? Bom, mas vá lá, eu dou uma ajuda: podem fazer copy paste daquela frase, ir ao tradutor do google e ver o que sai. Obterão este belo naco de texto: Povo chinês entrar lá e ficar. O marido de Laura é um governo interino cavalo não é só China cheio de Lisboa, através de Portugal, serão os europeus.

A esta hora já estarão a ficar assustados, pensando, 'mas a mulher passou-se...?'. Bem, acho que ainda não. O que se passa é que o tradutor do google (pelo menos nas traduções de chinês), é de gargalhada. De facto o que eu escrevi foi: Os chineses já cá estão e vieram para ficar. O marido da Dona Laura é o tratador do cavalo não de Tróia mas de Lisboa que está cheio de chineses que, através de Portugal, se transformarão em europeus.

Um amigo meu hoje disse esta frase lapidar que, com a devida autorização aqui transcrevo. Como se refere a pensamentos que os chineses andavam a ter, volto a escrever em chinês: 中國人去那裡一次,以在整個歐洲的需求日期幾個小丑打開了一條腿... ...直到他們發現。

Indo ao tradutor da Google, obterão: Povo chinês ir lá uma vez, até à data na demanda em toda a Europa, alguns palhaços para abrir uma perna ... ... até que encontraram".

Não vos disse que a frase era lapidar?


Bem, o que o meu amigo disse não foi bem aquilo. Foi: "Os chineses andavam há uma data de tempo à procura, por toda a Europa, de uns palhaços de perna aberta... até que descobriram."

Vem isto a propósito de quê...?



Vem a propósito de que os senhores das Três Gargantas (Cao GuanJing, respectivamente presidente, Lin Chuxue, vice-presidente executivo, e Zhang Dingming, director de marketing da Three Gorges) e mais o senhor da Câmara de Comércio Luso-Chinês, Dr. Ilídio Serôdio, já fizeram saber que o Estado Chinês, agora que já tem os 21,35% da EDP, está também interessado no sector bancário, para já no BCP, e que, quem sabe?, talvez também na GALP, talvez também a rede de distribuição de energia. E que os mercados angolano, brasileiro são interessantes para conquistar a partir de Portugal. E não, meus amigos, não estamos a falar de empresários, não senhor, estamos a falar da China enquanto Estado porque a Three Gorges é estatal e porque as outras empresas que por aí virão para comprar as empresas portuguesas são também empresas estatais.

As maiores e mais estratégicas empresas portuguesas nas mãos do regime chinês. Dá para acreditar numa coisa destas?!?!?!



E eu ouço isto e fico passada.


É certo que Portugal está de aflitos, endividado, tutorado, sem outra liderança que não a da troika e a de um bando de deslumbrados que não têm noção do que andam a fazer, mas há limites. Se algum chinês nos vier dizer, "你是在降壓同時,我們需要知道你可以脫下你的腳你的媽媽賣給我們為了一個目的,我們在這裡知道你的爸爸我們付出" - será que também íamos todos a correr vender a mãezinha e o paizinho? Ou será que aceitaríamos bem que os nosso filhos nos vendessem aos chineses...?

Para não terem o trabalho de traduzir, aqui vai com a ajuda da Google: "Você está em a bola, precisamos saber que você pode tirar os pés de barro: Sua mãe e vendido para nós com um propósito, estamos aqui para conhecer o seu pai, que também pagam" 'vocês estão a precisar tanto de dinheirinho e nós sabemos como é que vocês podem tirar o pé da lama: vendam-nos a vossa mãezinha e o vosso paizinho para um fim que a gente cá sabe, que a gente paga bem' - será que também íamos todos a correr vender a mãezinha e o paizinho? Ou será que aceitaríamos bem que os nosso filhos nos vendessem aos chineses...?

Lindo. Mas o que eu queria dizer na minha era: Se algum chinês nos vier dizer,

Pois... É que há limites. Há limites, meus amigos.

Só me ocorre uma palavra para classificar esta atitude do governo português (que estranhamente está a ser apoiada pelo Partido Socialista): miserável.


(o)(o)(o)(o)




No outro dia ouvi um representande da Três Gargantas dizer que os trabalhadores portugueses têm muito a aprender com os trabalhadores chineses. Até me arrepiei. Está a começar bem, isto.


???

(e ninguém trava o Relvas e o seu ajudante PPC...?)

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(Ainda um Post Scriptum: O que é que se terá passado hoje com o nosso pequeno Álvaro? A slot machine Cao GuanJing foi ter uma reunião com o ministro Álvaro Santos Pereira e não é que saíu de lá 10 (dez) minutos depois a rir que nem um perdido...? E quando lhe perguntaram porque é que a reunião durou tão pouco tempo, se não havia mais nada a dizer, Cao GuanJing riu ainda mais e não conseguiu dizer uma palavra. Será que o Alvarito estava com uma daquelas viroses que para aí anda que dão volta ao intestino e que não conseguiu aguentar mais que 10 minutos, teve que despachar o outro e ir a correr para o wc?)



Riam-se, riam-se.

 

quinta-feira, dezembro 29, 2011

"Call me 'bebe' " dizia Charles Rebozo a Nixon (o qual, segundo dizem as más línguas, era alcoólico, violento com a mulher e, vejam só, homossexual). Isto, a seguir a uma médica ladra, é demais para mim. Vou antes falar de cuidados de saúde, de longevidade, de bem estar.


Pois é, meus amigos, hoje foi um dia em beleza.


Parece que uma médica, dressed to kill (que é como quem diz: toda aperaltada e armada), atacou com gás pimenta a vendedora da ourivesaria do Centro Roma em Lisboa, tentou fugir com cerca de 7.400 € em jóias e ainda ofereceu resistência quando foi presa.

Será verdade?  Uma médica ladra?! O que se vai seguir? Um juiz desembargador apanhado a fazer carjacking?! Isto está bonito.

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Mas como se a coisa fosse pouca, acabei agora de ler que Richard Nixon, mas oh valham-me todos os anjinhos!, foi amante durante dezenas de anos de um banqueiro alegadamente mafioso, de seu nome Charles Rebozo, também chamado de Charles Bebe Rebozo (1912-1998). Falava-se de uma amizade suspeita, de que o outro era o confidente, um amigo íntimo e uma presença constante, mas associava-se essa intimidade a pagamentos por debaixo da mesa e coisa e tal mas, lê-se agora na biografia secreta de Nixon (Nixon's Darkest Secrets), o que se passava por debaixo da mesa era, afinal, coisa de outra envergadura.

Nixon e Bebe - nesta imagem, um casalinho em férias?

E que não apenas era homossexual, coisa que não tem mal nenhum, mas que o casamento com a Pat era só fachada, que ele a tratava mesmo mal e que, além disso, andava frequentemente alcoolizado e mais não sei o quê. Que coisa.

Será verdade? Nixon gay?! O que se vai seguir? A Angela Merkel ser amiga colorida de uma bombeira? E dar valentes tareias no Sarkozy...? Só faltava mesmo isso. Isto está a ficar animado.

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E já nem trago aqui a entrevista de Michael Spence, prémio Nobel de Economia, a dizer que o BCE tem que agir e que os líderes europeus não se devem admirar e devem preparar-se para a eventualidade de Portugal ou a Grécia quererem sair do euro - porque, a seguir aos casos anteriores, isto até pareceria uma notícia banal.

{-}


Face a estas notícias bizarras que podem causar alguma perturbação nas mentes mais sensíveis, quiçá até algum stress, vou voltar aos conselhos úteis, e até me vou repetir um pouco (já há tempos, aqui divulguei alguns destes aspectos - mas acho que é pertinente).

Como não tenho formação na área da saúde, socorro-me de publicações que se dedicam à divulgação de notícias ou conselhos relacionados com dietas ou exercícios dirigidos ao bem estar físico ou mental ou à prevenção de doenças. Nuns casos limito-me a traduzir de forma mais ou menos livre, noutros acrescento alguns pontos ou considerações pessoais.

Então, para ver se mantemos uma pele de bebé e se sentimos que temos uma vida inteirinha pela frente como o tem uma criança, vamos lá seguir estes 10 mandamentos:




1. Movimente-se. A inactividade está associada aos principais factores de risco da doença de Alzheimer. Faça uma caminhada diária. Está provado que uma caminhada diária previne o encolhimento do cérebro.

2. Não fume. Faz mal a tudo. Decida: ‘vou deixar de fumar’ e nunca mais toque num cigarro. Fiz isso há uma meia dúzia de anos e nunca mais fumei. Não precisei de adesivos, comprimidos, não precisei que me hipnotizassem, nada. Apenas tomei essa decisão e, a seguir, mantive-me firme quanto à decisão que tinha tomado.

3. Coma bananas. O potássio existente nas bananas reduz a pressão arterial e uma tensão controlada é boa para tudo, para a canalização, para a cabecinha, para tudo. Ou melhor, coma fruta. Faz bem a tudo. Os frutos vermelhos são poderosos anti-oxidantes; o alperce fz maravilhas à pele. A pera faz bem a tudo. A laranja e o kiwi  têm imensa vitamina C.

4. Adopte a dieta mediterrânica. Coma carne em pequenas quantidades (e evite as carnes vermelhas) e coma mais peixe do que come actualmente. Coma pão molhado em azeite, coma tomate (uma fatia de pão de Rio Maior, ligeiramente torrado, molhado em azeite e com tomate cru desfeito, é do melhor que há), sopas de legumes, beba um copinho de vinho tinto de quando em vez ou, de preferência, uma vez por dia. Coma legumes (couves, couve-flor, brócolos, são óptimos) e fruta com fartura (como acima referido). Coma uma fatiazinha de queijo, coma iogurte (que não sei se é particularmente mediterrânico mas que é óptimo para a saúde). Coma frutos secos (mas em quantidades muito moderadas). Evite gorduras de origem animal como banha, toucinho e, mesmo, manteiga. Na minha casa usa-se exclusivamente gordura de origem vegetal.

5. Durma. (Contra mim falo, que durmo tão pouco e que gostava tanto de ter tempo para fazer o que faço e, em cima disso, poder dormir no mínimo 8 horas por dia…) Dormir bem baixa o risco da diabetes de tipo 2, que é uma forma tramada da diabetes. Dormir sistematicamente pouco pode conduzir à depressão. E engorda, imaginem.

6. Ande na rua. Está provado que as pessoas que fazem exercício no exterior – em contraponto com as que andam no ginásio ou fazem exercício dentro de casa – têm menos depressões. A depressão como é sabido é um mal da nossa sociedade. As pessoas com depressão sentem-se infelizes, sentem-se doentes, desperdiçam a vida e, como se isso ainda fosse pouco, têm um maior risco de contrair Alzheimer. Tente apanhar sol todos os dias ou, pelo menos, sempre que puder. A vitamina D é indispensável e o sol uma fonte fantástica e económica. Eu, sempre que posso e esforço-me por poder todos os dias (mas nem sempre consigo), ao fim do dia, quando chego a casa, vou fazer uma caminhada de cerca de 40 a 50 minutos. Adoro. Fico como nova.

7. Estude, receba formação, ou qualquer outra coisa nessa base. Uma educação mais elevada está associada a menores taxas Alzheimer. Estimule o cérebro. Leia. Lance-se a si próprio(a) novos desafios, aprenda coisas novas, interesse-se por áreas que desconhece. O saber é uma extraordinária fonte de motivação.

8. Perca peso. (Mas como, senhores, como? Falando por mim: bem que eu queria mas sou tão gulosa…). Dietas ricas em calorias propiciam a longevidade. Tente suprimir os fritos regulares, molhos calóricos, bolos e doces com natas, com leite condensado, grandes pratadas de massas. Nunca coma até ficar com a sensação de barriga cheia. Gente que vive para além dos 100 anos é gente magra, que come pouco.

9. Evite o stress ou, se o não pode evitar, controle-o. Não é fácil? Ah pois não, mas é uma questão de disciplina (e de maneira de ser, claro). Para já, uma coisa é importante. Evite lidar com gente derrotista, que vê problemas em tudo, evite pessoas que são más-línguas, intriguistas, chatas, maçadora - tente dar-se preferencialmente com gente animada, optimista. Mas nem sempre se consegue, não é? Então, perante situações adversas,faça assim: aceite-as, sem drama. Já aconteceram pelo que boa noite, paciência. Mas, então, vamos dar a volta por cima. O que é que se pode fazer para contornar? E não haverá nisso um lado positivo? E não haverá maneira de a gente se rir com a situação? Nada, nadinha? Então procure um filme na internet com gente a rir e deixe-se contagiar. Ria. Ria. Ria. Faça aquilo a que se chama auto-injecção de humor.

10. Seja feliz. O poder da felicidade na saúde, na longevidade, na qualidade de vida, é surpreendente. Tente ser feliz. Aprenda a ser feliz. Veja imagens tranquilizadoras, imagens que acalmem, veja arte, ouça música. Pense em coisas de que goste, pense em jardins com grandes árvores, bancos de jardim com o chão coberto de belas folhas acobreadas, pense numa lareira acolhedora de onde se solte o aroma agradável do sobro ou do azinho a arder devagar, pense numa praia de águas límpidas e cheiro a algas, pense em caminhadas numa montanha de onde se avistem belas paisagens, pense em pessoas sorridentes, pense em palavras aconchegantes: carinho, paz, abraços, ternura, afecto, pense num sofá amplo e macio com almofadas fofas, mantinhas leves e quentinhas, pense em alguém que lhe estende a mão, que lhe sorri, pense no cheirinho doce dos bebés. Feche os olhos, ponha uma música que o leve, e deixe-se ficar a sonhar, sorria, voe, seja feliz.



!!!!!!

 

E, por falar, em injecção de humor, injecte-se. Mal não faz. O filmezinho que aqui vos deixo contém imagens em que, uma parte, já aqui foi colocada anteriormente. Mas este é bem mais abrangente e, pelo menos a mim, dá-me imensa vontade de rir ver gente a rir. Divirtam-se. Riam-se de gosto. Estarão a melhorar e a prolongar a vossa vida.




Be happy!

quarta-feira, dezembro 28, 2011

História da mulher que, um dia, resolveu renascer

   

Num dia sentia-se animada, no seguinte já desanimava. Depois alguém lhe sorria e já parecia reviver mas, logo depois, se alguém se cruzava de semblante carregado, já voltava a sensação de rejeição, a tristeza.

Uma abraço quente, um beijo gostoso no rosto, um ombro aconchegante era tudo o que queria. Em vez disso tinha que cumprir tarefas entediantes, em casa ouvir queixumes, limpar baba, ajeitar mantas, repetir mil vezes a mesma frase, acordar com um medo abafado e opressivo de que na cama do quarto ao lado estivesse um ser morto. Uma angústia arrastada. Anos e anos disto.

Até que um dia acordou com uma disposição nova. Pensou ‘coração ao largo’. Pegou nas calças mas logo as atirou para o chão, determinada, ‘nada disto’. Escolheu uma saia, já nem sabia que saias tinha, nem sabia que saias se usavam. Pegou numa saia preta e, para si própria, pensou com uma vaga reminiscência de coqueterie, ‘com o preto nunca me comprometo’. Abriu a gaveta das blusas - ‘tudo desenxabido, credo’, pensou - escolheu uma azul clara, vestiu, achou-se desengraçada, parecia mais gorda, despiu-a, pegou numa estampada em tons de amarelo e laranja, decotada, nem sabe se alguma vez a vestiu, talvez numa encarnação anterior. Vestiu-a, achou-se estranha, era outra. Deixou ficar. Foi para o espelho. Soltou o cabelo, despenteou-se, o cabelo baço ganhou alguma vida. Pôs uma sombra muito ao de leve nas pálpebras, fez um risco discreto na parte de cima, pôs blush, esbateu – ‘nada de rosetas, credo’, pensou - , a caixinha das maquilhagens intacta, com ar de coisa do século passado. Pôs um brilho nos lábios, nem sabia se aquilo tinha prazo de validade, tomara que não lhe fizesse mal. Depois lembrou-se que deveria ter posto um perfume. Despiu a blusa e perfumou-se, uma amostra antiga, um dior do século passado mas, ainda assim, um cheirinho. Voltou a vestir-se. Viu-se ao espelho, remirou-se, gostou do que viu. Era outra, não ela. Escolheu uns brincos, umas bolinhas de ouro simples. Escolheu um fiozinho de ouro. Tirou a medalha que lhe dava um ar mais pesado. Assim, um pequeno fio em volta do pescoço, os brinquinhos, o decote, a blusa luminosa e alegre, os olhos mais radiosos, os lábios brilhantes, toda ela parecia ter renascido. Viu-se de lado, viu-se de costas espreitando pelo ombro, viu-se de frente, sorriu um pouco hesitante, ‘o que irão dizer…? Não será demais?’, pensou já quase arrependida. Mas avançou, não fosse mudar de ideias.

Vestiu um casaco – ‘tão pesadão, que horror, roupa de velha’, e parece que já se via com outros olhos -, compôs o conjunto com uma écharpe de seda colorida que em tempos alguém lhe tinha oferecido e perguntou à senhora que dava apoio - e a quem nem conseguia tratar como empregada, costumava dizer que era a sua ajudante - se poderia ficar até mais tarde porque não sabia a que horas chegava. Ao vê-la naqueles preparos, a empregada espantou-se, ‘Ora viva!’ e ela sorriu a medo, já com um sentimento de culpa, já sem saber que maluqueira lhe tinha dado.

A custo, lá saíu porta fora e, ao respirar o ar da rua, teve vontade de fugir dali para sempre, de fugir da vida de nervos, de medos, de culpas, de fugir até ao tempo em que ainda não tinha nascido. Mas foi apenas um instante. Pensou, ‘vou voltar, claro, mas agora vai ser tudo de outra maneira’, e tentou convencer-se de que iria ter forças.

No trabalho toda a gente ficou de olhos arregalados, ‘mas o que é isto…?!’ e viravam a cabeça à sua passagem. Ela já envergonhada, já arrependida. Tão habituada a que ninguém a visse, aquela curiosidade atrapalhava-a. Mas depois uma colega disse-lhe ‘ficas outra, mulher, devias andar sempre assim, pareces mais nova, até se vê que és bonita e vê se não te vais abaixo e se passas a arranjar-te assim todos os dias, devias era ir também ao cabeleireiro dar um jeito nesses cabelos’ e ela, tímida, insegura, ‘achas?’. ‘Claro que acho, vai à hora de almoço’.

E foi. Cortaram-lhe o cabelo com um corte moderno, fizeram-lhe nuances, e aceitou que pusessem o creme, e mais a máscara hidratante, e as massagens no couro cabeludo souberam-lhe tão bem, finalmente um toque humano.

À tarde regressou, um bocado atrasada, envergonhada, toda a gente banzada, ‘mas isso hoje, hem!?…temos festa, ou quê…?’ e ela sem saber o que responder.

A colega deu-lhe uma ajuda ‘mas vergonha de quê, mulher…?! Deves alguma coisa a alguém….? Ora essa! Levanta essa cabeça, desencolhe-te, baixa esses ombros, peito para a frente, vá…! E, olha, vê lá mas é com a tua empregada se ela pode ficar interna ou, pelo menos, se pode lá ficar também algumas noites. Tens que descontrair, mulher, tens que aliviar a carga que carregas nas costas, tens que viver a tua vida, mulher!’. Suspirou sem saber o que responder, sem saber o que fazer, sem saber como fazer, mas achou que, de facto, era por aí que tinha que ir.

Resolveu sair um pouco mais cedo, foi passear à beira do rio. Cruzou-se com muita gente, não fazia ideia que havia este movimento todo à tardinha. Depois foi para uma esplanada, devia ser a primeira vez que se sentava assim sozinha, numa esplanada junto ao rio. Tirou um livro da mala, começou a ler, pediu um chá. Olhava em volta, tanta gente feliz, uma criança na outra mesa olhou para ela e riu e ela retribuiu, fez adeus. A criança riu e fez-lhe também adeus. Sentiu-se mais leve.

Então, reparou que, na mesa em frente, estava um homem que a olhava. Atrapalhou-se, baixou o olhar mas já não conseguiu ler mais, desatenta, vontade de voltar a olhar, tímida, insegura, e já se sentia uma cinderela, e já sentia medo de se desiludir, e o coração já batia, uma parvoeira: o costume. Depois, como quem não quer a coisa, olhou em volta e o homem ainda a olhava. Disfarçou. Ele disfarçou também. Sentiu-se corar. ‘Que disparate, credo’, censurou-se.

Foi-se deixando ficar enquanto pensava, ‘amanhã venho outra vez’. Depois o homem levantou-se e foi-se embora, era um homem em que se sentia também o peso da solidão. Passado um bocado, pediu a conta e saiu também. ‘E agora, o que é que hei-de fazer?’, pensou. Resolveu ir ao cinema. Nem sabia se havia de comer qualquer coisa antes, não estava habituada a gerir a sua vida fora do ambiente trabalho-casa, sempre preocupada, sempre ansiosa. Agora queria libertar-se um pouco e nem sabia como. Telefonou para casa. Do outro lado, a ajudante descansou-a, ‘a senhora esteja descansadinha, por aqui as coisas estão bem, ou melhor, estão na forma do costume, distraia-se, se for preciso passo cá a noite’.

Respirou fundo, parada, sem saber o que fazer.

Depois resolveu ir até ao centro comercial para ver que filmes havia. Nada de especial mas, mesmo assim, comprou um bilhete para a sessão das 9, depois foi comer uma salada. No espelho da casa de banho, antes de entrar no cinema, quase nem se reconheceu. Deu-lhe vontade de rir. Que aventura. Quando entrou na sala de cinema, sentiu um arrepiozinho de emoção: há quanto tempo…! O cheirinho da sala, o escurinho, que saudades… Reparou que havia uns quantos mais assim, desirmanados, homens e mulheres. Sentiu-os como brothers in arms. Não era a única, afinal, não precisava de se sentir envergonhada como se tivesse nascido com defeito, como se ninguém a quisesse, quase como se fosse uma imprestável.

No fim, à saída, com as luzes, sentiu-se meio atarantada, precisava de ter por perto alguém a quem dar o braço. Mas não tinha, paciência. Pensou ‘e agora, a esta hora da noite, o que é que faço? Como é que vou para casa? Com tantos assaltos… e eu com estes ouros…’. Dirigiu-se ao segurança e perguntou se não havia táxis. O segurança tranquilizou-a. ‘Há, saia por aquela porta que há sempre ali algum, mas, senão, vamos ali ver o número de telefone e a senhora telefona e pede um que a venha aqui buscar’. Tranquilo o homem. Sentiu-se tranquila também. Afinal tudo tão fácil. Havia táxi. Gostou de ir de noite, assim, sozinha, soube-lhe bem o passeio, parecia que se estava a emancipar. Chegou a casa, a ajudante via televisão ‘Então, já veio? Escusava de estar preocupada. Olhe, ali o nosso bebé adormeceu ainda não eram 10, já dorme o soninho dos justos. Quer que eu fique cá? Só tem é que me arranjar um pijaminha’. Ficou.

Antes de se deitar espreitou o quarto onde uma pessoa de idade, ralos cabelos brancos na almofada, a respiração com a pieira do costume, dormia. Estava tudo bem. Sentiu-se como se estivesse de férias, menos esmagada pelo peso das circunstâncias. Adormeceu tranquila, quase como se estivesse feliz.

Quando se levantou já a ajudante andava levantada, ‘ já está a higienezinha feita, já comeu o Nestum, comeu tudo, estava até com fominha, já perguntou por si, vá-lhe ali dar um beijinho mas já está tudo tratadinho, pode ir descansadinha’, contente pela própria eficiência.

Respirou de alívio. Sentia que uma nova vida estava a começar. Escolheu a indumentária e resolveu ‘hoje, à hora do almoço, vou comprar roupa’.

Foi e logo lá trocou a que trazia pela nova. Olhou-se no espelho - verdadeiramente uma outra, um ar de mulher ainda apetecível, mais moderna, mais descontraída. Depois comprou sapatos, depois uma mala. Brand new, novinha em folha. À saída viu um contentor de recolha de roupas usadas. ‘Não é tarde, nem é cedo: vai tudo de abalada!’ e enfiou nele o saco com a anterior indumentária. Que sensação de limpeza, de novidade, de vida nova. Pensou, ‘vou sair ainda mais cedo, vou dar uma volta pelo rio e vou mais cedo para a esplanada e quem sabe…?’.

Aquele olhar do homem da véspera estava a causar-lhe impressões pelo corpo adentro, coisa que não sentia há mais de mil anos. Sensação gostosa. Uma emoção! Uma vida nova afinal ali tão ao alcance da sua mão. E resolveu 'amanhã vou comprar lingerie, uma coisa sexy' e, sorrindo, concluiu para si própria, 'we never know...' e sentiu uma inesperada malícia a esboçar-se no pensamento.

Rachel McAdams for Vogue by Mario Testino

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[O par David e Anna-Marie Holmes, do Canadá, executa um pas-de-deux ao som do Adagio de Albinoni. Norman McLaren dirigiu este pequeno filme em que, em câmara lenta, podemos observar a beleza absoluta dos movimentos aqui desenhados com uma precisão e rigor técnicos que nos deixam assombrados.]


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Um bom dia para vocês.
 

terça-feira, dezembro 27, 2011

Manuela Ferreira Leite, Olivier Blanchard, Mitch Guthman, Paul Krugman - vozes que se levantam contra a política da austeridade cega que conduz à recessão. E um belíssimo vento em bailado e uma pequenina luz em poesia.



Nunca atribuir à malícia o que pode perfeitamente ser explicado pela incompetência.

A frase, tão oportuna, é de Napoléon Bonaparte e abre o último post de Mitch Guthman, cuja leitura vivamente recomendo.  Aí pode ler-se, por exemplo, que os tecnocratas da classe política europeia são como o aprendiz de feiticeiro que joga com arrogância com as forças elementares que estão muito para além da sua compreensão e da sua capacidade de controlar.

E continua explicando como estes aprendizes que nos governam, de cada vez que, muito convictamnete tomam medidas, só estragam ainda mais. E, diz ele, fazem-no não por alguma particular malevolência mas apenas porque são incompetentes.

Neste texto, Mitch Guthman refere-se ainda ao post de Olivier Blanchard - director do Departamento de Estudos do FMI, artigo publicado no blogue do FMI, em que ele aponta 4 razões para que a Europa esteja na desgraceira que está (artigo intitulado 2011 in review: four hard truths cuja leitura, de novo, vivamente vos recomendo) - e termina referindo o artigo de Paul Krugman no qual este compara a cura de austeridade que alguns países europeus vêm seguindo como as mezinhas da idade média em que os doentes não morriam da doença mas morriam da cura.

Pelo meio, Guthman diz ainda que, ao ter-se entrado no ciclo viocioso da austeridade, recessão, austeridade, recessão, uma vez que os governantes ainda não perceberam que assim não recuperam a confiança dos investidores, será preciso correr rapidamente com eles.

Já por cá, este fim de semana, no suplemento de Economia do Expresso, Manuela Ferreira Leite que não se cansa de alertar para o gravíssimo disparate que é esta política, comparava o que se está a fazer com a atitude de quem, vendo que uma embarcação está a meter água, desata a aliviar carga, deitando tudo fora, ferramentas de reparação, mantimentos, tudo.


Como para falar com gente do calibre de Passos Coelho & C.ia. é preciso ser-se muito explícíto, de preferência fazendo um desenho porque estes recém licenciados percebem melhor com bonecos, Manuela Ferreira Leite conclui que, no fim da operação de resgate, a embarcação estará certamente muito mais leve mas que será, também imprestável. Ninguém mais poderá sobreviver a bordo de tão frágil e desprovida embarcação.

Mas volto ao, a todos os títulos extraordinário, texto de Olivier Blanchard que, inclusivamente tem chamada de primeira página no site do FMI.


Blanchard resume a quatro as razões para que, depois de tantas 'intervenções', a Europa esteja pior no final de 2011 do que no início.

Não vou resumir aqui o seu brilhante texto pois acho que deve ser lido na íntegra. Vou apenas apontar que, se ele não diz coisas espampanantemente novas, a verdade é que as sistematiza de uma forma que nos aparecem como inequivocamente cristalinas - e percebemos que os mercados estão a comandar o mundo, que a Europa está entregue a pessoas sem liderança que andam ao sabor dos acontecimentos, incapazes de traçar um caminho, incapazes de cumprir sequer o que vão alinhavando nas sucessivas cimeiras, que as percepções do mercado influenciam as taxas de juro, as quais fazem disparar a dívida, a qual, na ausência de medidas decentes, criam problemas de solvência, que as medidas de austeridade criam recessão, que com recessão não há capacidade para crescer, sem capacidade para crescer não há capacidade para pagar as dívidas.

Trancrevo um parágrafo para os preguiçosos ou cépticos que não queiram ler o texto todo: "I should be clear here. Substantial fiscal consolidation is needed, and debt levels must decrease. (...) It will take more than two decades to return to prudent levels of debt. There is a proverb that actually applies here too: “slow and steady wins the race.”

Claro que lendo textos assim, fico um pouco apreensiva porque uma coisa é lermos análises de gente inteligente, culta, capaz de elaborar raciocínios e outra muito diferente, dramática mesmo, é estarmos entregues a gente fraquinha, fraquinha, muito fraquinha, irremediavelmente fraquinha, desgraçadamente fraquinha. Mas, como tendo a ser optimista, penso também que textos destes são boas notícias. Quando Olivier Blanchard, o Director de Estudos do FMI, começa a falar assim em público, quando o Professor Paul Krugman, prémio Nobel de Economia de 2008, começam a bater-se fortemente contra esta política estúpida e suicidária, quando tantas vozes tecnicamente insuspeitas começam a demonstrar os danos irreversíveis que esta política está a causar, acho que poderemos ter alguma esperança. A mudança costuma começar assim.


Ok. E por falar em esperança... falemos em ventos de esperança, falemos em ventos brancos, em leveza, em coisas magníficas. Voemos.

(E agora dirijo-me aos corações empedernidos, aos que acham que ballet é coisa de meninas, e dirijo-me também aos que acham que eu sou intolerante para com as patetices do grupinho do Pedrocas, Relvas, Gaspar, Moedas e Companhia, dirijo-me aos que costumam armar-se em mauzões ou malandrecos e que costumam mandar-me ler ou ver coisas de outras eras, e digo-vos: desta vez apenas me cingi às opiniões de pessoas tecnicamente reconhecidas pela sua competência, desde um Prémio Nobel, ao IMF Director of Research Department, passando por Manuela Ferreira Leite, ex ministra das Finaças e ex líder do PSD. Por isso, deixem-se de maus feitios e venham voar, ok? Vamos lá a arejar essas cabecinhas mal informadas, ou ultra-liberais, ou conservadoras, ok? Venham daí comigo, que eu vos perdoo.

Vá, não se zanguem, estou a brincar....

Meus amigos - vamos voar que tomara que estes meus ventos brancos sejam prenúncio de arejamento, de mudança. E são lindos, lindos.).




Marina Kanno and Giacomo Bevilaqua do Staatsballett Berlin, com música dos Radiohead


                                 Uma pequenina luz bruxuleante
                                 não na distância brilhando no extremo da estrada
                                 aqui no meio de nós e a multidão em volta
                                 une toute petite lumière
                                 just a little light
                                 una picolla... em todas as línguas do mundo
                                 uma pequena luz bruxuleante
                                 brilhando incerta mas brilhando
                                 aqui no meio de nós
                                 entre o bafo quente da multidão
                                 a ventania dos cerros e a brisa dos mares
                                 e o sopro azedo dos que a não vêem
                                 só a adivinham e raivosamente assopram.

                                 (Início do poema 'Uma pequenina luz' de Jorge de Sena)



Meus amigos, que a pequenina luz que eu começo a ver ao fundo deste túnel assombrado onde nos querem manter, seja vista por muito mais pessoas, que a pequenina luz cresça e que, em breve, nos ilumine a todos, brilhando no meio de nós.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Pablo Picasso, Mark Rothko - a indizível leveza da arte. (e Cry me a river).


"It took me four years to paint like Raphael, but a lifetime to paint like a child." Pablo Picasso


()

"When I was younger, art was a lonely thing", Mark Rothko




()

Cry me a river.




Tenham, meus amigos, uma boa semana.

sábado, dezembro 24, 2011

Um bom Natal a todos - e aqui vos deixo presentinhos para (quase) todos os gostos


Isto hoje pede uma musiquinha. So it is Christmas. Portanto, assim sendo, por favor, play it .
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Para (a ordem é aleatória e alguns dos nomes têm várias destinatárias):

a Leonor, a Helena, a Ana, a Margarida, a Maria, a Teresa, a Teté, a Tita, a Era uma Vez, a Ivone, a Rita, a Mariana, a Guida, a Isabel, a Rosa, a Alice, a Olinda, a Luísa, a Rosário, e para todas as outras cujo nome não enunciei ou cujo nome desconheço.

e também para (e a ordem é, de novo, aleatória e de novo há nomes que têm vários destinatários):

o João, o Carlos, o António, o Patrício, o Jorge, o Salvador, o Zé, o Francisco, o Henrique, o Pedro, o Eduardo, o Paulo, o José, o Daniel, o Luís, o Luiz, e para todos os outros cujo nome não referi ou cujo nome desconheço.


Meus queridos leitores,

Para as pessoas com família o Natal é uma festa muito feliz, tantas vezes a casa cheia com risos de crianças, com sorrisos dos mais velhos, uma festa com brinquedos pela casa toda, presentes que são afectos, uma mesa cheia de luz.

No entanto, para os que não têm família ou que têm uma família pequena e sem a alegria dos risos das crianças ou das piadas dos mais jovens, pode ser uma época algo triste.

É para todos vós estas minhas palavras - para os que chegam ao natal cansados de tantos preparativos mas que se consolam com a ternura e o aconchego dos afectos familiares, mas é, especialmente, para os que me estão a ler e que não vão ter um dia especialmente festivo. Para vocês, em particular, o meu carinho.

Quero desejar-vos a todos um dia feliz, independentemente de o passarem com mais ou menos companhia, quero enviar-vos o meu afecto, o meu sentido reconhecimento por me lerem, por me fazerem companhia. É para vocês que escrevo. Gostaria de vos oferecer o presente que vos faria feliz mas gosto de oferecer presentes personalizados, tenho dificuldade em escolher um único que seja especial para cada um de vocês. Por isso, deixo aqui uma série de embrulhinhos para que escolham, abram um ao acaso ou abram todos.

Um bom Natal e beijinhos para todos.

E agora vamos lá correr para a chaminé para escolherem o vosso presentinho.




1. Natal é nascimento. É isso que festejamos (mesmo que a data possa não ser exactamente esta... deixemo-nos de minudências e festejemos na mesma). O nascimento de uma criança é sempre uma alegria, é sempre uma fonte de esperança, é o caminho do futuro. Vejamos, portanto, o momento de um nascimento, coisa que para mim é um verdadeiro milagre.



2. A versão maluca de um nascimento (já sabem que eu gosto de coisas malucas, não me levem a mal):  Monty Python's Meaning of Life - ah o que eu me rio sempre que os vejo...



3. As grandes vozes nas músicas de Natal. Aqui temos The Mormon Tabernacle Choir e Audra McDonald a interpretarem Have Yourself a Merry Little Christmas.



4. Continuamos na grande música. Agora temos de novo The Mormon Tabernacle Choir mas interpretando, sob a direcção de Jerold Ottley, O Tannenbaum (O Christmas Tree que é como quem diz, Oh Árvore de Natal) .



5. Tempo para publicidade. As meninas da Victoria's Secret Adriana Lima e outras Anjinhas tentam cantar os Jingle Bells signed, desejando umas Festas Felizes e um bom Natal.



6. Continuamos na publicidade. Agora uma disparatada relativa a uma cerveja bem fresquinha. Sorry.



7. Tempo de coisas sérias, de novo. Agora a voz das mulheres. Maria Bethânia diz poesia, Poema do Menino Jesus, Alberto Caeiro. Como ela diz bem os poetas portugueses... Fernando Pessoa na voz de Bethânia soa tão bem...



8. De novo uma mulher. Sophia, como não podia deixar de ser. Sophia em casa, a voz de Sophia, Sophia lendo as suas palavras.



9. Natal é também, para mim, a história de uma mãe. A mãe que deu à luz numa gruta, em fuga, a mãe que sofreu pelo filho, que o viu arriscar-se, lutar pelos outros, ser perseguido, uma mãe que chorou aos pés da cruz em que o seu filho agonizava. Por isso aqui vos deixo duas imagens de mães vistas pela objectiva de Sebastião Salgado, mães que não desistem dos filhos apesar das duras penas que enfrentam para sobreviver.






10. Até parece mal, depois destas imagens, eu ir mostrar-vos uma coisa assim. Mas, vocês já sabem, gosto sempre de acabar com um sorriso nos lábios. Por isso, minhas amigas, vamos lá a prestar atenção. O modelo não é extraordinário mas é o que consegui arranjar. Mas, meus amigos (do sexo masculino), isto é também para vocês - vamos lá também prestar atenção, replicar os movimentos, ensaiar até saberem fazer o mesmo - para darem uma presentinho à maneira à vossa mulher, namorada, amiga colorida, concubina, whatever.... :)



E é isto meus amigos, espero que tenham encontrado alguma coisa ao vosso gosto e desejo que tenham uns dias tão felizes quanto possível. E divirtam-se.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

"Quando os jacarandás da praça florirem em todo o seu esplendor" - uma boa ideia, palavras de amigos, árvores em flor, uma cidade amada. Um livro em Torres Novas




Para o João Carlos Lopes, guardador de memórias em Torres Novas


E então sentámo-nos os quatro à volta da lareira, eu, Isabel, Afonso, Carlos; e eu disse ‘tinha estado um dia de névoa, a noite estava ainda assim, toda embrulhada, e os cavalos ouviam-se no empedrado’. Isabel continuou ‘estava frio, embrulhei-me numa capa de lã e fui à janela, os cavalos já lá iam, mas ainda vi o último que passava por debaixo das arcadas, parecia vir dos lados da praça, ia na direcção da ponte. Estava escuro, o cavalo, de tão escuro ao luar, quase parecia azul. Pareceu-me ver uma mulher, pela capa, pelos cabelos’ mas era vago o olhar de Isabel. Afonso recordou-se ‘nessa noite eu não conseguia dormir, andei de sala em sala, pegava e largava livros sem me conseguir fixar em nenhum, acendi a lareira, fumei, os gatos roçavam-se lá fora nas portas, tinha recebido uma carta muito estranha, deixou-me perturbado’. Carlos lembrou-se então ‘também eu tinha recebido uma carta misteriosa nesse dia, senti-me tentado, ou intimidado ou pior que isso’. Isabel segurou a mão de Carlos ‘não sabia, nunca me tinhas falado nisso’. Ele abraçou-a ‘foi há muito tempo, já nem me lembrava e, olha, já passou’.

Continuei ‘os cavalos andavam à volta da casa, tive medo de espreitar, os cavalos pareciam nervosos’. Afonso olha para baixo, esfrega as mãos ‘para que foste agora puxar esse assunto?’, e Isabel olha para mim, está incomodada, não lhe agrada o rumo da conversa.

Continuo ‘nesse dia, Isabel, toda a tarde escreveste, estavas nervosa, e depois, Isabel, não saías da janela. Quando te procurei no quarto, assustada com os cavalos à volta da casa, não te encontrei’.

Carlos, agita-se, olha Isabel e não consegue dizer nada.

Eu prossigo ‘depois os cavalos largaram em tropel, ouvi-os cada vez mais longe. Na manhã seguinte o sol tinha descoberto e ninguém mais falou no assunto, nem tu Isabel’.

Isabel, então, levanta-se e sai. Nenhum de nós diz nada. Carlos abre a janela e olha a noite escura. Afonso, hesitante, lento, levanta-se e diz apenas ‘está frio’ e, de longe, diz-me ‘há coisas que não fazem sentido’, e põe uma mão no ombro de Carlos.

Não voltámos a falar no assunto.

Uns anos depois, eu e Afonso descemos a avenida como tantas vezes o fazemos, era tardinha, quase noite, a cidade a recolher-se, fomos até à Praça, os jacarandás já começando a ganhar corpo. E então ouvimos o som de cavalos ‘que coisa mais estranha’, disse eu, ‘cavalos aqui?’ Estava uma temperatura agradável, quase ninguém na rua, e eis que passa um cavalo numa correria. ‘Parecia a Isabel, viste?… Será possível?’, espantei-me. ‘É natural’ disse Afonso e eu não percebi. A seguir passou outro cavalo, este sem ninguém, numa corrida inquieta, e inquieta também eu ‘que estranho, o que se passa?’. Afonso disse ‘não queiras saber. Olha a beleza destes jacarandás’. Já floridos, lilases e belos, uma cor suave, um doce e vago perfume no ar, talvez viesse dos jacarandás, talvez tivesse sido deixado por Isabel. Um gato contemplava-nos do muro, imóvel. E eu pensei ‘um dia, quando os jacarandás da praça florirem em todo o seu esplendor, sentar-nos-emos aqui e falaremos finalmente daquela noite’.




[Segundo me contou João Carlos Lopes, editor em Torres Novas, cidade muito bonita, muito estimada, foi pedido a uma série de amigos um texto, um pequeno conto, uma short story que deveria respeitar uma única condição, incluir a frase “quando os jacarandás da praça florirem em todo o seu esplendor”. Não sabiam uns dos outros e depois foi recolher o material, pedir a outra amiga que concretizasse o design já estabelecido. A coisa é mais ou menos explicada na introdução do livro que assim nasceu: no último arranjo da praça mais bonita de toda esta região, plantaram jacarandás a substituir as “mélias”. De ano para ano, a floração aumenta um bocadinho, mas eles são jovens, ao contrário de muitos espalhados pela cidade. Mas hão-de atingir o seu esplendor.

Assim mo explicou João Carlos Lopes.

Como reconhecimento pelo mérito da inovadora ideia e pela amabilidade, sem ter ainda lido nenhuma das histórias incluidas no livro, aqui deixo um pequeníssimo conto que respeita a condição de incluir a referida frase.]



[E, por falar na simpatia e generosidade dos leitores, peço-vos que desçam um pouco mais para verem, já aqui abaixo, notícia das imagens de NY enviadas pela Tita]

 

Notícias de Nova Iorque nesta época natalícia - imagens colhidas pela Tita


Convido-vos a ver um Naked Cowboy nas ruas de Nova Iorque ou os mais jeitosos rapazes de Michael Kors na esquina da NYSE - observados pela Tita que generosamente me enviou notícias de lá, autorizando-me a divulgá-las. Vinham estas fotografias a propósito do que aqui escrevi no outro dia sobre o bem que faz à saúde masculina contemplar seios femininos, deduzindo eu que as mulheres, para o mesmo efeito, deverão ver exemplares masculinos. Pela sua natureza, coloquei-as no meu Street Photo & Co.

Aqui coloco a fotografia que a Tita fez junto ao Memorial às vítimas do 11 de Setembro.



Trancrevo as suas palavras: "Estive no Ground Zero, agora chamado de novo World Trade Center. Está um espaço belíssimo e muito místico. Os 2 lagos que construíram, com dimensão igual à da base de cada torre, são impressionantes: o tamanho, o caudal de água, a forma possante de cair dessa água e o próprio ruído profundo das cataratas que deslizando vigorosamente em milhares de fios líquidos, são de uma forma quase etérea, atraídos, serenamente, para um buraco central... As 3000 mil pessoas, cujos nomes estão escritos nas bordas dessa piscina, estão ali bem presentes na sensação que, a cada um de nós, tudo aquilo transmite. Que bom e que merecido!"

Sortuda...!

E muito obrigada, Tita.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Portugal passa a democracia com falhas; Poul Thomsen quase implora a este governo saloio que não exagere no combate ao défice e que não mexa no que não deve. E eu, com tanta desgraça, recordo, saudosa, o candidato Manuel João Vieira.


Dias de chumbo, pesados, nada de bom é noticiado, só ameaças. Menos direitos, menos rendimentos, mais aumentos, menos férias, aumento das taxas moderadoras na saúde, aumento das filas de espera para cirurgias, cortes, cortes, cortes, piores condições em tudo, uma razia no País, um ataque aos portugueses.

Isto no dia em que a UE prevê uma perda de 6% no poder de compra dos portugueses, e os da troika falam como se governassem o país, querem que os médicos atendam mais doentes, que se reduza ainda mais nos gastos da saúde, que se corte mais na educação, e que se faça isto, e aquilo e aqueloutro.

Portugal, um país rendido, um protectorado, um país tornado servil, submisso, amedontrado. Um fraco rei faz fraca a forte gente.

Vejo também nas notícias o Seguro com aquele ar de bom menino, mal disfarçando como se sente importante por o amigo Passos Coelho ter querido falar com ele. E os jornalistas, em matilha, microfone espetado, 'sobre que falaram?', e ele importante, que 'tem uma regra de ouro', que não diz nada e os jornalistas, 'mas falaram sobre quê?' e ele, sorrisinho sonso, que não, que não diz, que não diz, a boca em biquinho, 'não insistam, que já sabem que não digo'. Grande momento televisivo.

Como se fosse importante... Juntam-se duas fracas figuras, dois amigos, ex-jotas, formados na arte de bem falar e nada dizer, nenhum dos dois com a estaleca necessária para enfrentar as adversidades que aí estão - e alguém acredita que tenham dito alguma coisa que valha a pena...? Poupem-me.

Entretanto, como se já não bastassem as agências de notação sempre a morderem-nos as canelas, cãezinhos raivosos e irritantes, autênticas bichas de rabiar, eis que hoje a Economist Intelligence Unit do The Economist vem dizer que Portugal passou de democracia plena a democracia com falhas. Nem mais. Quando ouvi isto até engoli em seco. E porque somos agora uma democracia com falhas? Pois... erosão da soberania e da responsabilidade democrática. E o relatório chama ainda a atenção para o facto de que em alguns países já não são os governos eleitos que definem as políticas, mas sim os credores internacionais, como o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Pois...

Mais humilhações...? Ah pois houve.

Poul Thomsen, líder da troika, assustado com o fundamentalismo da troika-saloia formada por Passos Coelho, Vítor Gaspar e Carlos Moedas, veio dizer que o dinheiro das pensões dos bancários não devia ser usado para pagar facturas, que em época de crise cavada se poderão ajustar os objectivos do défice, que, se não se atingirem os valores previstos, paciência, que as coisas não se podem fazer às cegas.

Ao que chegámos, senhores.

E mais...? Ah pois houve.

Mas olhem, meus amigos, já estou farta de falar desta gentinha e, por isso, por hoje, vou aqui recordar um candidato que, neste momento, talvez tivesse o meu voto.

E, portanto, daqui lanço um apelo: volta Manuel João que estás perdoado, vem salvar este País!

(Meus amigos de ouvidinhos sensíveis: ponham, por favor, uns auriculares para não ficarem chocados com alguma expressão mais poética porque já sabem que o Manel João é danadinho para versejar. Ouçamo-lo num empolgante discurso, há uns anos atrás)





Divirtam-se, meus amigos, divirtam-se. E, olhem, força aí, não se deixem deprimir.

A palavra aos Homens que se fazem ouvir: Manuel António Pina, Dominique Strauss-Kahn. E as duras palavras contra a emigração do Comissário Europeu László Andor. Fernando Pessoa diz que a Europa jaz. E os Filhos da Nação estão ansiosos por saber se a cruz é salvação!

 
Há pessoas inteligentes, cujas palavras bebo com curiosidade, alguma avidez e algum carinho (porque me enternecem as pessoas inteligentes e honestas). José Medeiros Ferreira e Manuel António Pina, por exemplo. Eduardo Lourenço, claro. Adriano Moreira, por exemplo. Mário Soares, também, claro.

Gente que não precisa de se pôr de bicos dos pés.

Escreveu ontem no Jornal de Negócios o nosso Prémio Camões:

É hoje claro para quem observa, sem palas ideológicas, a situação portuguesa que nunca conseguiremos pagar a dívida nas condições usurárias que nos foram impostas, as quais, gerando recessão e bloqueando o crescimento da economia, constituem o principal obstáculo a esse pagamento, forçando sempre a novas e sucessivas "ajudas", numa espiral de endividamento cujos resultados estão à vista na Grécia

Também gostei de ouvir Dominique Strauss Kahn agora quando se deslocou à China falando da falta de lideranças na Europa, referindo que nem sequer a Merkel e o Sarkozy se entendem. Era um europeísta convicto, que se deixou escorregar com a rasteira que lhe pregaram. Era  e é um líder que impõe a sua presença. Tomara que se dissipem algumas nuvens negras que pairam sobre ele para que o possamos ainda ter na política activa.





Pelo contrário temos, neste momento, o País entregue a um grupinho que mete medo a qualquer um. Passos Coelho, Relvas, Gaspar, Moedas. Não falo do enigmático Álvaro nem da jovem e inimputável Cristas porque nem há material para se falar, são inexistentes.

Hoje (ou melhor, ontem, que já é quarta-feira) viémos a saber que o défice vai ser muito mais baixo do que era suposto. A obrigatoriedade apontava para 5,9% e vá lá saber-se porque carga de água, o Governo deitou mão ao fundo de pensões dos bancários, deitou mão a metade dos subsídios de Natal de toda a gente, e puxou o défice para 4% ou menos. Além do mais, vai usar dinheiro da verba que os bancários, coitados, andaram a amealhar durante uma vida de trabalho para pagar facturas correntes. Tudo coisas do além, de arrepiar até os mais insensíveis.

As pessoas asfixiadas, o número de desempregados a subir, a mandarem as pessoas borda fora (jovens, professores e quem mais se sinta mal, xô daqui para fora), a anunciarem que vão esfolar vivos os desempregados, que vão aumentar ainda mais os transportes... e isto para baixar o défice mais do que está acordado. Dá para entender um disparate destes?

Fazem-me lembrar uma raça que me enerva, a dos marrõzinhos burros, daqueles palermas sempre de dedo no ar, engraxadores de professores, gente que me dá ânsias, lambe botas.

O que é que têm na cabeça?

E a darem cabo da população toda... Passos Coelho diz que as pensões de reforma vão ser metade do que são hoje e, com o descaminho que dão às coisas, às empresas, a tudo, e com a falta de respeito e de humanidade que revelam, não me admira nada.

Medeiros Ferreira há pouco no programa da Constança Cunha e Sá na TVI24 dizia que esta sanha do Governo é para no ano das eleições desatarem a gastar dinheiro à maluca, a esbanjar à fartazana. Será? Mas a questão é que até lá espatifam com o País todo, dão cabo da população inteira, destroem irerversivelmente o futuro do País.

O Comissário Europeu dos Assuntos Sociais, László Andor, hoje, a propósito do desemprego e da emigração, já veio dizer que é errado e que deve ser combatida com quanta força houver, a tendência de os europeus emigrarem. Explica por a + b e faz o desenho para os que não vão lá de outro modo:

Alguns jovens já estão a deixar a Europa para encontrar trabalho em países como os Estados Unidos e o Canadá, Austrália ou o Brasil, Angola e mesmo Moçambique, dependendo da sua língua. E esta tendência não pode continuar. Não apenas arriscamos perder uma geração inteira mas também há um custo financeiro.

Será que Passos Coelho ouviu? Será que percebeu?

Parodiava hoje o Bruno Nogueira que esta vontade de despacharem para longe os professores deve ser coisa de quem só conseguiu acabar o curso aos 38 anos. Só pode...

Gente inculta, impreparada é um problema quando alcança lugares de poder. .... Medo....!


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                                 A Europa jaz, posta nos cotovelos:
                                 de Oriente a Ocidente jaz, fitando,
                                 e toldam-lhe românticos cabelos
                                 olhos gregos, lembrando.

                                 O cotovelo esquerdo é recuado;
                                 o direito é em ângulo disposto.
                                 Aquele diz Itália onde é pousado;
                                 este diz Inglaterra onde, afastado,
                                 a mão sustenta, em que se apoia o rosto.

                                 Fita, com olhar esfíngico e fatal,
                                 o Ocidente, futuro do passado.

                                 O rosto com que fita é Portugal.


                                 ('O dos Castelos' de Fernando Pessoa in Mensagem)
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Ai estes são os filhos da nação/ adultos para sempre/ ansiosos por saber/ se a cruz é salvação

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Meus amigos, não estou particularmente bem disposta hoje. Tudo isto me preocupa. Sei que não há mal que sempre dure (mas até lá...). Mas, olhem, divirtam-se vocês, está bem? E contem-me coisas boas para ver se me animam, ok?
 

terça-feira, dezembro 20, 2011

Devem os melhores emigrar? O tanas! Portugal tem que acolher os portugueses e não mandá-los embora. Passos Coelho, Miguel Relvas, Carlos Abreu Amorim não estão à altura do que se esperaria de governantes.


Hoje foi o Relvas. Com aquele seu ar de velha sabida, com um sorrisinho de quem tem alguma na manga, veio corroborar a afirmação de Passos Coelho - que quem não tem trabalho cá que emigre, que Portugal tem um longo historial na emigração e que até é uma boa coisa termos gente capaz lá fora.

Felizmente ouvi-o na televisão e não ao vivo, felizmente estava bem longe de mim. Respirar o mesmo ar que ele far-me-ia ter, certamente, um rash cutâneo (no mínimo!).

Passo a explicar os nervos que isto me dá:

1. É um facto que há professores a mais, tanto mais que a demografia está numa perigosa recta descendente, havendo cada vez menos crianças. Há professores a mais, advogados a mais, jornalistas a mais e um montão de gente das mais diversas profissões a mais. O desemprego está a aumentar e está a ferir dramaticamente as camadas mais habilitadas da população. É um facto.


2. É um facto que, com o trabalho a rarefazer-se, cada um que se veja nesta dramática situação equacionará a melhor forma de sobreviver e quantos, quantos, fazem as malas, dizem adeus à família e vão para outro país...! Mas cada um é livre de fazer o que quer, especialmente quando estão em causa necessidades primárias e é, pois, mais que legítimo que partam.




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A. É um facto também - e agora vou fazer uma analogia - que numa família, ao ver o desemprego a bater à porta e o dinheiro a escassear, alguns pais olham para os seus filhos e dizem «que cada um se faça à vida, vão para a rua, peçam esmola, roubem, façam o que quiserem'. Mas outros pais há, felizmente a maioria que, nas mesmas circunstâncias, pedem ajuda, reaquacionam a sua vida, viram-se do avesso, mas nunca deixam de se sentir responsáveis pelos filhos que têm a seu cargo.


Governar é idêntico, é ser responsável por gerir o presente e o futuro de um país - não de cada pessoa em particular, não de cada grupo de pessoas, mas de toda a gente em geral. Ora um Governo sacudir a água do capote, dizer que cada um vá à vida, que vão morrer longe, é desumano, irresponsável, é inaceitável.


B. É um facto também que Portugal tem um gravíssimo problema de desequilíbrio económico e financeiro - há cada vez mais pessoas a receberem subsídios e pensões (porque há mais pessoas no desemprego, porque as pessoas vivem mais anos) e cada vez menos pessoas a descontarem. A linha demográfica deveria sofrer uma inflexão, fomentando fortemente a natalidade. Outra forma seria estimular a imigração pois é gente que entra no país e começa logo a fazer descontos, a pagar impostos. Ora emigrar nesta altura é fazer o reverso. Demograficamente é um disparate. São pessoas em cuja educação o País investiu e que vão usar os seus conhecimentos noutro país, pagar impostos noutro país. Que seja o Governo a estimulá-lo é de uma ignorância e incompetência que assusta.


C. É claro que não havendo emprego cá, as pessoas não estariam a pagar impostos. Claro. Mas mandá-las embora é fazer disparate em cima de disparate.


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E agora, depois destes considerandos, a ver se chuto à baliza:


Remate nº 1 - Um país desenvolve-se com população qualificada. Professores, advogados, jornalistas (e já nem falo de engenheiros, economistas, etc) são pessoas qualificadas que podem ajudar a desenvolver o país. Pode acontecer que não haja, de momento, lugar para eles na sua exacta profissão. Contudo, sendo gente com habilitações superiores, podem certamente ser muito úteis mesmo fazendo outras coisas. Cabe ao Governo traçar linhas estruturais e desenvolver políticas que as incentivem. Se o Governo perceber isto poderá começar a dirigir as suas políticas estrangeiras no sentido de atrair investimento para criar, por exemplo, empresas de Shared Services de multinacionais. Este tipo de empresas tem como objecto fazer a gestão administrativa das empresas (área financeira, área jurídica, área de informática, etc), empregando, portanto, mão de obra qualificada nas áreas financeiras, jurídicas, informáticas, etc, e gente que saiba falar línguas. Grande parte das grandes empresas mundiais tem a sua gestão espalhada por empresas deste tipo em vários países (Irlanda é um local prevalente). Portugal tem todas as condições para ser um destino privilegiado para a instalação deste tipo de empresas. Ex-professores, advogados, gente formada em comunicação social, relações internacionais, gestores, etc, é gente perfeitamente qualificada para trabalhar nestas empresas.




Empresas de manutenção e desenvolvimento de software são outra hipótese. Empresas multinacionais de informática têm recorrido muito à Índia mas a coisa não tem corrido bem. Há questões linguísticas, questões culturais, grandes diferenças horárias. Portugal seria excelente para isso.

E poderia dar mais exemplos.

Portugal tem uma população que é early adopter nas novas tecnologias, o que revela a sua enorme plasticidade na rápida assimilação de novas ferramentas de trabalho; Portugal tem uma população que na maioria sabe mais que uma língua e que rapidamente percebe outras línguas ou dialectos; Portugal tem um excelente clima e uma geografia que agrada a outros povos; Portugal tem boas estradas, bons acessos, boas comunicações; Portugal tem um povo afável e hospitaleiro e tem uma cultura de tolerância. Portugal tem todas as condições para atrair investimento de qualidade do tipo que referi.

É assim que o Governo deveria pensar. O Governo deveria pensar que, ao fazer o contrário, dizendo para pessoas qualificadas se irem embora, está a condenar o país ao definhamento, está a alijar responsabilidades, está a desviar impostos para outros países, está a rejeitar pessoas que se deveriam sentir acarinhadas, está, em suma, a agir miseravelmente.


Remate nº2 - Poderia dizer-se que este Governo e este Primeiro Ministro, em particular, mais o Relvas e outros que tais, estão apenas a constatar o óbvio, a ser francos, a não dourar a pílula e que isso é que se quer: quem nos dê más notícias todos os dias.  Talvez haja quem ache que os portugueses andaram a viver à tripa forra e que é bom que agora lhes tirem o pão, o chão, lhes dêem estaladas na cara se necessário for.

Errado, erradíssimo.

Quem viveu à tripa forra e fez mal a este país não foram as pessoas que agora estão a ser incentivadas a sair do país,
  • [Abro aqui um parêntesis: sempre me revoltei contra o Sindicato dos Professores. A luta que Mário Nogueira e que tais travaram, de uma forma conservadora, egoísta, corporativa, fez muito mal à classe. Mas uma coisa é o Sindicato dos Professores e outra é agora cada um dos que está desempregado]
quem faz mal ao país mas mal a sério foram os especuladores financeiros agindo impunemente (como ainda hoje o fazem), foram os que formaram grandes fortunas sem terem que trabalhar, quem se endividou avidamente para apostar em acções, em empresas, deixando depois enormes vebras incobráveis nos bancos, foram os corruptos, os incompetentes e gananciosos, quem fez mal foi também o sector financeiro que assentou a sua estratégia comercial na concessão ad hoc de crédito a quem nitidamente nunca poderia pagar - e, portanto, estou a falar de oportunistas de toda a espécie que, ao longo de décadas, na ânsia do enriquecimento rápido e fácil,  na ânsia de oferendas e prebendas de toda a espécie, deixaram que a economia fosse destruída e as finanças desequilibradas.

Ou seja, não foi o Zé Povinho, individualmente, que causou isto para que agora seja ele a pagar de todas as maneiras que à Merkel, ao Passos Coelho, Moedas, Relvas, Gaspar, ocorra.

Há quem tenha fortemente arreigado um sentimento de culpa e que, a cada desgraça, ache logo que há culpa que lhe assista e que, portanto, há que expiar essa culpa. Ora não é assim. Qual culpa, qual carapuça. Que paguem os culpados, não as vítimas.

O que há que fazer é repensar a política toda, há que se ser exigente (onde é que se viu pessoas como um Passos Coelho, um Relvas, um Álvaro, uma Cristas e outros que tais serem ministros? E ainda por cima numa altura destas em que se exigia gente competente, experiente...), há que ser ambicioso quanto ao futuro do País, há que apelar ao sentido de inovação e empreendedorismo, há que cativar os melhores - e não escorraçá-los como cães sarnentos!

.&. !!!  .&.

Por isso, alguém me faz um favor? Se alguém os conhece, podem dizer-lhes que me recuso a ouvi-los em mais conversas destas? Se não há lugar para todos, que vão eles, xô, xô...!




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Ah, que até estou cansada de tanto escrever...

E, então, agora vou-me embora acabando assim...?

Ná... Já passa da 1 e meia da manhã, já estou com sono (coisa habitual...) mas ainda vou ali ver se descubro uma coisinha boa. Já venho.

Ok, cá está. Mudança de ares.

A bela e de fortíssima presença em palco Ute Lemper interpretando dois clássicos da música francesa. Bora lá. La vie en rose é tudo o que eu desejo e sim, é verdade, je ne regrette rien.





Enjoyez!

 

(PS: Se encontrarem letras trocadas, coladas às palavras indevidas, etc, relevem, que eu estou com sono, não tenho paciência para ainda ir reler, ok?)